Estratificação de risco e metas lipídicas para prevenção e tratamento da aterosclerose A clara associação entre os fatores de risco e a aterosclerose norteou a elaboração de algoritmos para a estratificação do risco cardiovascular, e os ensaios clínicos randomizados forneceram a base de evidências para a utilização dos hipolipemiantes na prevenção primária e secundária da doença cardiovascular e em muitas outras situações clínicas, de acordo com as estimativas de risco. Situações especiais tais como os transplantados, idosos, portadores da síndrome da imunodeficiência adquirida e outras condições em que a aterosclerose seja uma condição comumente associada, devem ter seu risco avaliado de maneira semelhante, e o tratamento instituído, levando-se em conta o risco/ benefício do tratamento e os fármacos mais adequados para cada situação. Francisco Antonio Helfenstein Fonseca Professor Afiliado Livre-Docente da Disciplina de Cardiologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP Editor-Chefe: The International Journal of Atherosclerosis www.ijathero.com Setor de Lípides, Aterosclerose e Biologia Vascular Endereço para correspondência Rua Pedro de Toledo 276, Vila Clementino, São Paulo, CEP 04039-030 Tel: (55-11) 50848777 Fax: (55-11) 55750052 E-mail: [email protected] Resumo do artigo O conhecimento da abordagem diagnóstica e terapêutica das dislipidemias é de fundamental importância não apenas para o cardiologista, visto que as dislipidemias são achados freqüentes em sua forma isolada ou associada a outros distúrbios metabólicos (tireoideanos, hepáticos, renais ou associados ao diabete melito), em conseqüência do emprego de medicamentos como diuréticos, beta-bloqueadores, imunossupressores, antiretrovirais, corticosteróides e ainda nas formas genéticas. As dislipidemias podem ter sua expressão fenotípica na infância, ou mais tardiamente, desencadeadas pelo estilo de vida inapropriado, especialmente sedentarismo, dieta inadequada, resistência à insulina e outros fatores relacionados ao estilo de vida. Podem ou não apresentar sinais clínicos característicos, e associar-se a complicações como doença aterosclerótica ou pancreatite. A abordagem desses pacientes deve visar mudanças do estilo de vida e o emprego de tratamento medicamentoso, por tempo prolongado, em geral ao longo da vida. As indicações para o uso de fármacos hipolipemiantes e as metas a serem atingidas estão bem definidas por diretrizes. O uso de hipolipemiantes requer o conhecimento de suas características farmacodinâmicas e farmacocinéticas, perfil de segurança e eventos adversos, interações com outros fármacos e presença de co-morbidades. 34 Revista Factores de Risco, Nº13 ABR-JUN 2009 Pág. 34-43 PARTE II - Tratamento farmacológico Tabela VI Estatinas disponíveis, doses recomendadas e redução % de LDL-C alcançada Estatinas Nos últimos anos as estatinas surgiram como a mais importante e promissora classe de hipolipemiantes. Por meio da inibição da HMG-CoA redutase, esses fármacos restringem uma etapa limitante na síntese de colesterol, que leva a maior expressão dos receptores de LDL na membrana celular, e consequentemente a uma redução nas LDLs aterogênicas. Além disso, podem também diminuir a produção endógena do VLDL, reduzindo os níveis de triglicerídeos e apolipoproteína B. São as drogas mais potentes para o tratamento da hipercolesterolemia e podem ser empregadas na dislipidemia mista quando a elevação dos triglicerídeos for apenas moderada. A escolha do fármaco e dose deve levar em conta o risco calculado do paciente e as metas de LDL-C. A Tabela VI apresenta as estatinas disponíveis no mercado, suas apresentações e potência na redução do LDL-C, além de ações sobre as demais frações lipídicas. Deve-se iniciar um tratamento com estatinas visando o alcance das metas, ou pelo menos uma redução de 30-40% dos valores de LDL-C. Em pacientes de alto risco e naqueles com aterosclerose manifesta em quem as metas são mais rigorosas, deve-se reduzir em pelo menos 50% os níveis de LDL-C, caso não Fármaco Lovastatina Sinvastatina Pravastatina Fluvastatina Atorvastatina Doses recomendadas 10-80 mg 20-80 mg 20-40 mg 20-80 mg 10-80 mg Redução de LDL-C 21-41% 27-42% 20-33% 15-37% 37-55% Rosuvastatina 10-40 mg 43-55% A ocorrência de rabdomiólise foi descrita de forma muito rara, em geral associada com drogas que modificam suas características farmacocinéticas, como o uso concomitante de imunossupressores, antifúngicos, macrolídeos, fibratos, ácido nicotínico, bloqueadores dos canais de cálcio, inibidores de protease, inibidores da transcriptase reversa e outros fármacos que possam interferir na metabolização hepática no microssomo. A segurança no manuseio farmacológico das dislipidemias é um aspecto de importância crucial. Uma revisão do New Drug Applications (NDAs) e do US Food and Drug Administration (FDA) foi realizada para todas as estatinas, avaliando-se a incidência de eventos adversos dessa “As estatinas disponíveis no mercado promovem reduções de LDL-C de até 55-60% em monoterapia, permitindo quando usadas em doses adequadas, o controle da dislipidemia e o alcance de metas na maioria dos pacientes.” se obtenha o alcance das metas. As estatinas disponíveis no mercado promovem reduções de LDL-C de até 55-60% em monoterapia, permitindo quando usadas em doses adequadas, o controle da dislipidemia e o alcance de metas na maioria dos pacientes1. Entretanto, em pacientes de alto risco com níveis elevados de colesterol, ou nas dislipidemias graves, como na hipercolesterolemia familiar, associações de fármacos podem ser necessárias. A revisão sistemática dos ensaios clínicos com estatinas mostrou que nas doses utilizadas há redução de colesterol total de 17-35% e de LDL-colesterol de 24-49%. classe de fármacos e dando suporte aos benefícios das estatinas em relação aos possíveis riscos associados ao tratamento, incluindo efeitos associados ao fígado, músculos e rins. Embora possam ocorrer elevações das transaminases hepáticas de maneira dose-dependente, uma correlação definitiva entre a terapia com estatinas e hepatotoxicidade não foi confirmada pelos dados do NDAs. Miopatia induzida por estatinas é um evento relativamente raro (1 em 1.000 pacientes) e a rabdomiólise é ainda mais rara (1 em 10.000 pacientes). A cerivastatina, fármaco retirado do mercado, foi a primeira a apresentar uma clara 35 Estratificação de risco e metas lipídicas para prevenção e tratamento da aterosclerose. relação dose-resposta com miopatia e um limiar a partir do qual a miotoxicidade aumentava significantemente. Uma revisão sistemática de estudos de coorte, ensaios clínicos randomizados, notificações voluntárias às autoridades regulatórias americanas e dados publicados de eventos adversos, mostrou que para as estatinas, exceto para a cerivastatina, a incidência de rabdomiólise foi de 3,4 (1,6 a 6,5) por 100.000 indivíduos tratados-ano, uma estimativa que tem base também em dados de 20 ensaios clínicos randomizados. Rabdomiólise fatal ocorreu em 10% dos pacientes. Proteinúria é um efeito de classe, dose-dependente e transitório, cujo mecanismo deve-se a um efeito farmacológico no túbulo renal proximal. Não há clara evidência de nefrotoxicidade com estatinas, pois não há declínio da função renal ou na filtração glomerular documentados. Assim, as estatinas atualmente disponíveis possuem uma relação risco-benefício favorável com respeito aos rins, músculos e fígado. “Miopatia induzida por estatinas é um evento relativamente raro (1 em 1.000 pacientes) e a rabdomiólise é ainda mais rara (1 em 10.000 pacientes).” Inibidores da absorção intestinal de colesterol Ezetimiba é o primeiro fármaco de uma nova classe de inibidores seletivos da absorção do colesterol, podendo representar uma nova opção no tratamento farmacológico das dislipidemias7. A ezetimiba pertence a uma classe de compostos que atuam no intestino com ação específica no bloqueio da absorção do colesterol intestinal. O alvo terapêutico desse fármaco é uma proteína que atua no transporte intestinal do colesterol, denominada NPC1L1, que é homóloga à proteína causadora da doença de Niemann-Pick C. A biotransformação da ezetimiba ocorre via conjugação com ácido glicurônico e o glicuronato de ezetimiba é aparentemente mais ativo no bloqueio da absorção intestinal do colesterol. A ezetimiba e seu metabólito glicuronato são absorvidos no intestino via circulação enterohepática, recirculam e são excretados por via hepatobiliar. Não há evidências de acúmulo de ezetimiba 36 em nenhum órgão, nem de efeitos biológicos diretos, exceto no intestino, sendo considerados fármacos não sistêmicos. A meia-vida estimada da ezetimiba é de 22 horas, sendo administrada uma vez ao dia, podendo ser tomada à noite, antes de dormir. A ezetimiba bloqueia a absorção intestinal de colesterol em mais de 50% tanto em animais como em humanos, sem efeitos sobre a absorção de triglicérides da dieta, vitaminas lipossolúveis ou de outros fármacos. Embora esse composto bloqueie a absorção intestinal de colesterol e aumente a excreção de esteróis neutros é descrito em animais um aumento compensatório da síntese hepática de colesterol devido à maior excreção biliar. Em estudos em humanos, a biodisponibilidade e a farmacocinética de outros fármacos comumente utilizados não foram afetadas pela co-administração da ezetimiba, já que esta não interage ou é metabolizada pela via do citocromo P450. A co-administração de fármacos que sofram glicuronidação pode resultar na maior exposição à ezetimiba, como descrito para a ciclosporina. Cerca de 10% a 15% da ezetimiba são excretados na urina e o restante nas fezes. Em modelos experimentais de aterosclerose utilizando camundongos deficientes em Apo E, a ezetimiba promoveu uma significante redução de placas ateroscleróticas em aortas, em comparação aos animais controle. No entanto, os dados disponíveis até o momento com base em estudos em humanos são limitados em seus benefícios na aterosclerose. A ezetimiba é aprovada pelo Food and Drug Administration (FDA) americano tanto em monoterapia, como em combinação com as estatinas. Em monoterapia, reduz os níveis de LDL-C em cerca de 18%, além de promover aumento de HDL-C e redução de tri­ glicérides de menor magnitude. É mais efetiva nos indivíduos hiperabsorvedores de colesterol do que nos hipoabsorvedores, que também são os mais e menos responsivos às dietas, respectivamente. Um indivíduo normal absorve cerca de 55% do colesterol ingerido. A redução do pool de colesterol absorvido (oriundo da dieta e o secretado pelo sistema hepatobiliar) resulta em uma diminuição do pool de colesterol para o fígado, o que resulta no aumento da expressão (upregulation) dos receptores de LDL e conseqüente diminuição de seus níveis séricos. A ezetimiba está aprovada para o tratamento da hipercolesterolemia isolada, ou combinada. Nas crianças com formas graves de hipercolesterolemia o seu uso é recomendado a partir dos 10 anos de idade. Em estudos controlados por placebo, a combinação Revista Factores de Risco, Nº13 ABR-JUN 2009 Pág. 34-43 Sequestrantes de ácidos biliares As resinas de troca iônica são fármacos não absorvíveis que interagem com os sais biliares e colesterol, o que diminui sua absorção entero-hepática. Em conseqüência, ocorre maior excreção fecal de ácidos biliares e a sua oferta ao fígado diminui, o que induz maior atividade da enzima 7α-hidroxilase e aumento da transformação de colesterol em ácidos biliares. Adicionalmente, a diminuição do colesterol intracelular resulta no aumento da expressão de receptores B-E nos hepatócitos e na maior atividade da HMG-CoA redutase, com aumento da síntese hepática de colesterol. O efeito final é o resultado do balanço entre a aceleração da síntese do colesterol e de seu catabolismo (pelo bloqueio da via enterohepática de reabsorção de ácidos biliares e colesterol). Em decorrência da maior aceleração dessa via metabólica, há maior síntese hepática de VLDL, o que explicaria o eventual aumento discreto da trigliceridemia nesses pacientes. Pode ocorrer maior síntese de apolipoproteína A1 e discreta elevação do HDLcolesterol. A colestiramina, nas doses 16g-24g/dia, reduz de ezetimiba 10 mg e uma dose inicial de qualquer uma das estatinas resultou em redução de LDL-colesterol equivalente à obtida com a dose máxima da estatina isolada. A base para esse efeito sinergístico parece ser a maior remoção (clearance) das partículas de LDL pelo fígado. Este efeito é observado com a sinvastatina, atorvastatina, lovastatina, pravastatina e rosuvastatina e acrescenta 21% a 23% à redução do LDL-colesterol obtida com a estatina isolada, sem os potenciais, embora raros, efeitos adversos relacionados às altas doses das estatinas. Embora a associação da ezetimiba às estatinas promova efeitos pleiotrópicos, tais como redução da proteína C reativa e melhora da função endotelial, a ezetimiba isolada não mostrou tais efeitos pleiotrópicos, quando estudada comparativamente. A ezetimiba é segura e efetiva em homens e mulheres, em idosos, tanto em monoterapia, quanto combinada, sendo uma opção complementar para o tratamento da hipercolesterolemia familiar homozigótica, tanto em adultos como em população pediátrica. “A combinação de fármacos hipolipemiantes é prática aceite em hipercolesterolemias graves, distúrbios lipídicos mistos e de difícil controlo e em pacientes que requerem terapias mais agressivas para o alcance de metas.” o LDL-colesterol (15%-30%) e no estudo Lipid Research Clinics diminuiu o risco de infarto do miocárdio em 19%. São recomendadas para o tratamento da hiper­co­ lesterolemia familiar em crianças e mulheres em idade fértil sem controle contraceptivo e em gestantes. Outras indicações incluem formas graves de hipercolesterolemia, em associação com estatinas. Em alguns países apenas a colestiramina é disponível, na forma de grânulos, em envelopes contendo 4 g. Deve ser ingerida diluída em líquidos. A posologia inicial é de 4 a 8 g em duas tomadas diárias, podendo-se atingir até 24 g/dia. Acima de 16g/ dia o fármaco é mal tolerado, principalmente em idosos. Para melhorar o paladar aconselha-se dissolver o conteúdo do envelope em suco de fruta e ingerir a solução junto às refeições, de modo fracionado. A apresentação na forma light pode melhorar sua tolerância, mas contém 16,8 mg de fenilalanina por dose de 5 g, o que restringe seu uso em portadores de fenilcetonúria. Com interrupção do uso da resina a colesterolemia retorna aos valores basais, uma vez que o ciclo enterohepático é restabelecido. A ezetimiba foi aprovada pelo FDA também para o tratamento da sitosterolemia, uma rara doença genética em que os esteróis de plantas e de moluscos se acumulam em indivíduos portadores desse distúrbio, levando a um quadro clínico com apresentação semelhante à hipercolesterolemia familiar. O indivíduo afetado não tem a capacidade de prevenir o acúmulo de fitosteróis, que normalmente têm sua concentração baixa ou indetectável no plasma, graças a um mecanismo de efluxo desses compostos, dependente do sistema de transportadores ABC G5/G8. Na rara deficiência desses transportadores, causa da sitosterolemia, a ezetimiba 10 mg/dia promoveu uma queda progressiva nos níveis plasmáticos muito elevados dos fitosteróis. A ezetimiba também reduz a fitosterolemia em indivíduos normais. Poucos estudos propuseram que os fitosteróis plasmáticos possam ser marcadores do risco cardiovascular. Não existem evidências, até o momento, de benefícios da redução na fitosterolemia na aterosclerose, mas esse pode ser um aspecto interessante desse fármaco, além da redução do colesterol. 37 Estratificação de risco e metas lipídicas para prevenção e tratamento da aterosclerose. A colestiramina é indicada em casos de hiperco­ lesterolemia discreta ou moderada, consequente a causas ambientais ou genéticas (caráter heterozigótico). Pode ser administrada a pacientes de qualquer idade, ressalvando que os idosos a toleram com maior dificuldade devido aos efeitos colaterais. Entretanto, é o único fármaco permitido para crianças antes dos 10 anos de idade e que apresentam hipercolesterolemia resistente às medidas de restrição alimentar. Ácido nicotínico Possuem ações muito favorá¬veis no perfil lipídico, com redução da síntese de VLDL e da apo¬lipoproteína B, aumento da HDL-C e ainda redução do LDL-C. Alguns estudos também sugerem diminuição nos níveis da Lp (a). O ácido nicotínico diminui o LDL-C de 5%-25%, aumenta o HDL-C 15%-35% e diminui os TG 20%-50%. Nos hepatócitos, o ácido nicotínico reduz a mobilização intracelular de ácidos graxos, reduzindo por conseqüência a síntese e o acoplamento dos triglicérides à apo B-100. Como resultado, as lipoproteínas com apo B-100, VLDL e LDL, não constituídas adequadamente, são degradadas antes de sua liberação para o plasma. Em outras palavras, o ácido nicotínico aumenta a degradação intracelular hepática das lipoproteínas VLDL e LDL, reduzindo assim a concentração plasmática do LDL-C e VLDL-C. Naturalmente, este mesmo efeito contribui para a redução dos níveis plasmáticos de triglicérides. Novos mecanismos de ação da niacina foram pro­ postos, como a inibição direta e seletiva da diacilglicerol aciltransferase 2 hepática, mas não da diacilglicerol acil­ transferase 1, inibindo a síntese hepática de triglicérides e a secreção de VLDL. Recentemente, a identificação e caracterização de um receptor de membrana para o ácido nicotínico, o HM74, explica a inibição aguda da lipólise em adipócitos pela niacina, mas seu papel na redução dos triglicérides ainda é incerto. A niacina tem propriedades antioxidantes, antiinflamatórias e parece ativar fatores de transcrição nucleares, como os PPAR gama, além de promover benefícios na aterosclerose independentes da redução lipídica. Atualmente, o ácido nicotínico é considerado como a droga que possui o mais intenso efeito de elevar o HDL-C podendo atingir uma elevação de 48% em associação com fibratos. Nos últimos anos, foi obtida uma preparação de liberação intermediária que propiciou importante atenuação tanto do rubor facial como da hepatotoxicidade. Este medicamento deve ser administrado na dose inicial de 250 ou 500 mg, à noite, sendo os aumentos graduais a cada quatro semanas, sempre de 250 mg, até se atingir 38 a dose de 1000 a 2000 mg. O rubor facial (relacionado ao aumento de prostaglandinas), efeito colateral mais freqüente, pode ser minimizado pela ingestão prévia de 100 mg de ácido acetilsalicílico uma hora antes de sua administração. O ácido nicotínico pode ser associado com outros hipolipemiantes, como as estatinas, sendo capaz de propiciar importante melhora global do perfil lipídico. Nesta dose, o ácido nicotínico parece atenuar o risco de desfechos clínicos, especialmente em pacientes portadores de síndrome metabólica, sem causar elevação de glicemia ou hemoglobina glicada de importância clínica. No estudo de prevenção secundária Coronary Drug Project, houve diminuição de 27% nos eventos coronarianos. Inibidor de prostaglandina responsável pelos efeitos adversos da niacina está sendo associado à niacina e têm mostrado redução parcial do rubor e prurido em estudos fase III. Fibratos São drogas indicadas, principalmente, no trata­ mento das hipertrigliceridemias endógenas, da disbeta­ lipoproteinemia, e de algumas das hiperlipidemias mistas (IIb e hiperlipidemia familiar combinada), quando os níveis de LDL-C forem superiores a 500 mg/dL. Mais recentemente, demonstrou-se a validade do uso de fibrato em pacientes com níveis baixos de HDL-C (<40 mg/dL), mesmo com níveis considerados normais de colesterol total ou LDL-C63, para pacientes em prevenção secundária da DAC, especialmente em pacientes com diabete melito ou síndrome metabólica. Estas drogas estimulam o receptor nuclear PPAR-alfa (peroxisome proliferator activated receptor) determinando múltiplas ações no metabolismo lipídico, como aumento da expressão de apo AI e AII, redução de apo CIII, aumento da lipase lipoprotéica, entre outras ações. Desta forma aumentam a depuração de lipoproteínas ricas em triglicérides e favorecem o transporte reverso do colesterol, observando-se redução de VLDL-C e aumento do HDL-C63. Os principais fibratos dispo¬níveis em nosso meio estão listados na Tabela VII. Tabela VII Fibratos disponíveis no mercado Medicamento Bezafibrato Bezafibrato retard Ciprofibrato Etofibrato Fenofibrato Fenofibrato micronizado Genfibrozila Genfibrozila retard Dose (mg) 400-600 400 100 500 250 200 600-1200 900 Revista Factores de Risco, Nº13 ABR-JUN 2009 Pág. 34-43 Ácidos graxos ômega-3 Estes ácidos graxos poliinsaturados diminuem a produção de VLDL, reduzindo predominantemente os níveis de triglicerídeos e também modificam o metabolismo das prostaglandinas, levando a formação de produtos com ação antiinfiamatória e de menor potencial pró-trombótico. Além disso, melhoram a função endotelial e possuem ação antiarrítmica. Os ácidos graxos ômega-3 obtidos a partir do óleo de peixe (ácidos eico-sapentaenóico e docosa-hexaenóico) existem em cápsulas contendo 30% de seu conteúdo destes ácidos graxos. Desta forma, a principal limitação ao seu uso é a necessidade de grande número de cápsulas para a obtenção do efeito redutor de triglicerídeos, sendo em geral empregado em associação a outro fármaco como o fibrato em hipertrigliceridemias graves, ou ainda em associação a estatina em dislipidemia mista. Recentemente, foram sugeridos benefícios dos ácidos graxos ômega-3 na prevenção secundária da doença arterial coronariana. Apresentado na forma de cápsulas com 1000 mg de óleo de peixe, a dose recomendada é de pelo menos 3 g por dia. de certos fármacos, como fibratos, eritromicina, itra­ conazol, e imunossupressores, como ciclosporina, pode aumentar os níveis sanguíneos das estatinas e também a probabilidade de miopatia. Mais de 33% das mortes por rabdomiólise, que levaram à retirada da cerivastatina do mercado, ocorreram quando aquele fármaco foi associado à genfibrozila. Excluindo-se a cerivastatina, as taxas de rabdomiólise são baixas e comparáveis às observadas com as demais estatinas (atorvastatina, pravastatina, sinvastatina), com uma incidência de 0,44 casos por 10.000 pacientes tratados ao ano. Considerando-se o grande risco de doenças cardiovasculares – só nos Estados Unidos 700.000 indivíduos terão um evento cardiovascular em 2007 e cerca de 500.000 um evento recorrente; além disso, uma em cada cinco mortes em 2002 foi por doença arterial coronariana –, o potencial das estatinas em proteger pacientes da doença aterosclerótica parece, de longe, mais importante do que os riscos dos eventos adversos mais graves. “...a genfibrozila, por inibir a excreção biliar e a glicuronização das estatinas, quando administrada concomitantemente à rosuvastatina, lovastatina e sinvastatina, aumenta o risco de miopatia e de rabdomiólise.” Segurança no Tratamento com Hipolipemiantes Com o objetivo de esclarecer aspectos relativos à segurança das estatinas, a National Lipid Association (NLA), dos Estados Unidos, formou uma força-tarefa para avaliar os dados disponíveis sobre os efeitos das estatinas nos músculos, rins, fígado e cérebro. Com relação aos potenciais efeitos musculares, deve-se ter em mente as seguintes definições: a mialgia caracteriza-se por dor, fadiga muscular ou ainda câimbras, na ausência de elevações de creatinoquinase (CK). Nessa situação, é necessária uma redução de dose e even­ tualmente até a administração da estatina em apenas alguns dias da semana, geralmente combinada com um inibidor da absorção de colesterol, de forma a atingir os níveis-alvo de LDL-C, embora com alguma perda de efeitos pleiotrópicos pela falta do uso diário da estatina. A miopatia é definida como qualquer doença dos músculos, e, na miosite, além dos sintomas musculares, existe elevação dos níveis de CK. A rabdomiólise é definida na presença de sintomas musculares com marcante elevação de CK, em geral acima de 10 vezes o limite superior da normalidade, ou acima de 10.000 U/L, com concomitante elevação da creatinina, presença de urina escura e mioglobinúria, podendo levar à morte por alterações secundárias à insuficiência renal. A incidência de miotoxicidade se eleva com o aumento da dose das estatinas. O uso simultâneo A elevação de CK >10 vezes o limite superior da normalidade (LSN) é preocupante, embora somente traduza relevância clínica quando acompanhada de alteração da função renal. Há pacientes esportistas, maratonistas, que podem exibir elevações apreciáveis das enzimas musculares sem nenhum prejuízo da função renal. As elevações discretas a moderadas de CK não parecem constituir contra-indicação ao uso de estatinas se não houver aumento concomitante da creatinina. Entretanto, para elevações mais expressivas, com CK >7 vezes o LSN, deve-se monitorar e reduzir a dose ou suspender a medicação, especialmente quando se reconhece uma 39 Estratificação de risco e metas lipídicas para prevenção e tratamento da aterosclerose. situação clínica nova, como uma recente associação de medicamentos de potencial interação farmacocinética. Deve-se ter em conta que existem muitas outras con­ dições clínicas que levam à rabdomiólise e que não são dependentes de estatinas ou de outros hipolipemiantes, como os quadros sépticos, imobilizações, alterações vasculares, entre outras. A combinação de fármacos hipolipemiantes é prática aceita em hipercolesterolemias graves, distúrbios lipídicos mistos e de difícil controle e em pacientes que requerem terapias mais agressivas para o alcance de metas. Estudos clínicos demonstraram que a combinação de estatinas e ácidos graxos ômega-3, estatinas e seqüestrantes de ácidos biliares, estatinas e ezetimiba, ou mesmo estatinas e ácido nicotínico não mostrou um aumento na incidência de efeitos tóxicos musculares. Entretanto, algumas associações, como a de uma estatina com um fibrato, podem acarretar maior risco de toxicidade muscular, o que ocorreu com a cerivastatina e a genfibrozila. A genfibrozila sofre glicuronização, o que interfere no metabolismo das estatinas, e essa interferência parece ser maior com a cerivastatina. Após a retirada do mercado da cerivastatina, devido à ocorrência de casos fatais de rabdomiólise, considerável atenção foi dada aos hipolipemiantes, sobretudo da classe das estatinas. Felizmente, a experiência com todas as demais estatinas aprovadas para comercialização foi bastante distinta da ocorrida com a cerivastatina, e hoje o risco de ocorrência de um caso fatal de rabdomiólise nos EUA é de apenas 0,15 por milhão de pacientes tratados, considerando-se o registro de todos os casos ocorridos naquele país desde o início da comercialização das estatinas ainda no fim da década de 80 até o momento e de todas as estatinas disponíveis. Verificou-se que a maior potência das estatinas na redução do LDL-colesterol não determina maior ocorrência de efeitos musculares, mas as doses mais elevadas de cada estatina de maneira uniforme acrescentam pequeno risco de aumento em sua ocorrência. As estatinas e o bloqueio da HMG-CoA redutase impedem a produção de pirofosfato de farnesila (FPP), um intermediário na produção de ubiquinona, ou coenzima Q10, um esteróide isoprenóide que participa do transporte de elétrons durante a fosforilação oxidativa que ocorre nas mitocôndrias de mamíferos. Os níveis séricos de ubiquinona se reduzem durante o tratamento com estatinas pois a ubiquinona é transportada na partícula LDL. Não existe correlação entre os níveis séricos e musculares de ubiquinona, sugerindo mecanismos regulatórios distintos de ubiquinona nos músculos e no sangue. Não está claro, no entanto, se os níveis intramusculares reduzidos de ubiquinona sejam causados pela perda do volume mitocondrial, ou se aqueles são a causa da disfunção mitocondrial. Assim, o risco de efeitos musculares graves, e nisso também se incluem as neuropatias e outros eventos adversos com as estatinas, é muito raro, e os especialistas também não consideram necessária a monitorização das enzimas musculares para pacientes assintomáticos ou que não pertençam aos subgrupos de risco, listados na Tabela VIII. Tabela VIII Subgrupos de pacientes com maior potencial para eventos adversos Idosos Pequena estatura Hipotireoidismo Mulheres Terapia imunossupressora concomitante Terapia anti-retroviral concomitante Uso de antibióticos (especialmente macrolídeos) Uso de antifúngicos sistêmicos Outros medicamentos com potencial de interações farmacocinéticas Insuficiência renal crônica Hepatopatia Hipolipemiantes associados De modo geral, o risco de toxicidade relacionado ao uso dos inibidores da HMG-CoA redutase aumenta significativamente com a adição de fármacos com potencial interação farmacocinética. O mecanismo para a maioria das interações envolve o sistema do citocromo P-450, onde muitos fármacos podem interagir. É difícil predizer a probabilidade de interação de fármacos num determinado indivíduo, pois existem particularidades na sensibilidade individual a aumentos dos níveis das estatinas. A sinvastatina e a lovastatina são particularmente sensíveis aos efeitos inibitórios de outros fármacos no citocromo P-450 (CYP3A4). O metabolismo da atorvastatina é menos afetado pela inibição dessa isoenzima. Relatos de caso, pesquisas pós-comercialização das estatinas e dados de ensaios clínicos demonstram os efeitos dos inibidores do CYP3A4 nos níveis das estatinas. Além disso, a genfibrozila, por inibir a excreção biliar e a glicuronização das estatinas, 40 Revista Factores de Risco, Nº13 ABR-JUN 2009 Pág. 34-43 sinvastatina não se associaram a aumento significativo de enzimas hepáticas comparado com placebo. As evidências sugerem que o aumento de transaminases com o uso de estatinas esteja mais relacionado à estatina em si, em suas maiores doses, e com o nível sanguíneo da estatina, o que também se associa às interações farmacológicas. As estatinas podem ser prescritas a pacientes com esteatose hepática não alcoólica e etilistas em grau leve a moderado (1-2 doses por dia) e não são contra-indicadas em hepatopatias crônicas e na cirrose compensada. Em pacientes que usam anticoagulantes orais e apresentam elevação de transaminases devido ao uso concomitante de estatinas, não há evidência de que estas afetem a resposta à terapia anticoagulante. Sendo assim, não se recomenda modificação na dose da estatina. Existem poucos relatos isolados de pacientes que apresentaram hepatite colestática, hepatite autoimune e cirrose. Em uma avaliação de 23.000 pacientes tratados com estatinas que tiveram ALT testada, observou-se uma incidência de 0,3% de elevações enzimáticas >10 vezes o limite superior da normalidade, sendo que em apenas um quarto dos pacientes atribuíram-se aquelas alterações ao uso de estatinas. A quase totalidade desses pacientes utilizava associações de fármacos com potencial interação com estatinas, e os restantes apresentavam comorbidades, tais como doenças cardiovasculares, diabetes ou ambos. Essas alterações são em geral reversíveis com a suspensão do fármaco, e até podem desaparecer com a continuidade do tratamento. Entretanto, quando uma doença hepática é diagnos­ ticada em um paciente que recebe estatina, deve-se proceder a uma avaliação médica sistemática e completa para tentar estabelecer uma etiologia. Se uma relação causal com a terapia com estatina não puder ser excluída, não se recomenda a reintrodução do tratamento, e outras estratégias hipolipemiantes devem ser consideradas. Na presença de disfunção hepática significativa, como quando existe hepatomegalia, icterícia, elevação de bilirrubina direta e alterações do tempo de protrombina, o uso de estatinas deve ser descontinuado. Em outras condições, como na insuficiência renal, a dislipidemia pode e deve ser tratada, mas nesta situação devem ser preferidos os fármacos de eliminação hepática (a maioria das estatinas) ou a utilização de resinas. De acordo com o painel de nefrologistas do National Lipid Association (NLA) americano, as estatinas não causam falência renal aguda nem insuficiência renal na ausência de rabdomiólise ou miopatia grave. As estatinas não afetam a filtração glomerular, não provocam hematúria e podem ser usadas em pacientes portadores de doença renal quando administrada concomitantemente à rosuvastatina, lovastatina e sinvastatina, aumenta o risco de miopatia e de rabdomiólise. Até recentemente as estatinas não eram indicadas se os valores de transaminases (ALT/AST) fossem superiores a 3 vezes o limite superior da normalidade. De acordo com o comitê de especialistas em hepatologia do National Lipid Association (NLA), as estatinas podem ser usadas nessas situações, pois apresentam baixo risco de potenciais efeitos adversos hepáticos. As elevações de enzimas hepáticas podem ocorrer em um pequeno percentual de pacientes sob terapia com estatinas, não havendo evidências de que esses fármacos possam provocar efeitos tóxicos graves para o fígado. Com base na análise dos especialistas do NLA as estatinas atualmente disponíveis possuem um bom perfil de tolerabilidade com baixo potencial de eventos adversos sérios. De fato, embora seja recomendada a obtenção de valores basais de enzimas hepáticas (especialmente ALT) antes da introdução de hipolipemiantes, bem como o monitoramento dos efeitos da terapia hipolipemiante sobre as mesmas, a experiência acumulada ao longo de anos de terapia com estatinas tem fornecido a base para novas orientações. Assim, na ausência de sintomas ou de antecedentes prévios de hepatopatia, alguns especialistas não indicam o monitoramento rotineiro das enzimas hepáticas. Devido à incerteza da relevância clínica das elevações leves e moderadas de enzimas hepáticas em pacientes tratados com estatinas, e também porque o teste laboratorial não é preditivo de hepatotoxicidade futura, tem-se sugerido seu uso independentemente de uma monitorização tão rigorosa, exceto em pacientes que usam medicações concomitantes de potencial interação farmacocinética, naqueles com co-morbidades ou sob risco. Nos demais, as dosagens rotineiras devem ser reconsideradas, pois as evidências sugerem que os testes laboratoriais podem não ser tão necessários. Além disso, embora não seja recomendado o seu uso na presença de ALT superior a três vezes o limite superior da normalidade (LSN), esses mesmos especialistas não consideram uma real contra-indicação a prescrição de estatinas para quem essa classe de medicamentos esteja indicada. A justificativa é de que não há evidência de que esses medicamentos provoquem hepatopatias graves ou que esses pequenos aumentos das enzimas possam ocasionar doença hepática de relevância clínica. Tem-se sugerido que as elevações das enzimas hepáticas com as estatinas possam ocorrer com maior freqüência com o emprego de altas doses desses fármacos. No entanto, a meta-análise de 13 estudos com 49.275 participantes demonstrou que doses baixas e moderadas de pravastatina, lovastatina e 41 Estratificação de risco e metas lipídicas para prevenção e tratamento da aterosclerose. Fibratos São em geral bem tolerados, mas podem produzir dores musculares, miosite e raramente rabdomiólise. Além de aumento nas aminotransferases hepáticas e na creatinofosfoquinase, mais raramente estas drogas podem provocar leucopenia. Podem ainda potencializar a acção de anticoagulantes. Como no caso das estatinas, os efeitos adversos tendem a ocorrer nas primeiras semanas de tratamento e desaparecem com a suspensão ou redução da posologia. crônica, ou mesmo naqueles em hemodiálise. Estudos em pacientes portadores de doença renal crônica, com o objetivo de avaliar a redução de eventos cardiovasculares e a menor progressão da doença renal, são necessários. Recentemente, evidenciou-se que o tratamento com estatinas promovia proteinúria tubular.. Este é um efeito de classe, que não havia sido reconhecido anteriormente, é transitório, não progride para insuficiência renal e seu mecanismo parece ser decorrente de um efeito farmacológico na função do túbulo renal proximal, que é dose-dependente e reversível com a redução da dose. De acordo com o painel de neurologistas do NLA, os dados de eventos adversos não suportam uma associação entre o uso de estatinas e a ocorrência de neuropatia periférica ou de distúrbios cognitivos. Alguns relatos de caso em que esses eventos ocorreram sugerem mais uma reação idiossincrásica. Além disso, as definições desses eventos são em geral imprecisas, o que requer melhor padronização. Nas depressões e nos acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos, dados de estudos clínicos não corroboram a associação do uso de estatinas com o maior risco desses eventos, devendo o uso das estatinas ser avaliado no contexto global. Resinas Os principais efeitos colaterais da colestiramina relacionam-se ao aparelho digestivo, por interferir na motilidade intestinal. São observados obstipação intestinal, náuseas, meteorismo e dores abdominais. Raramente, pode ocorrer obstrução intestinal e acidose hiperclorêmica em idosos e crianças, respectivamente. Estes fármacos também podem reduzir a absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e de ácido fólico, e de outras drogas como digital, tiroxina, anticoagulantes, fibratos e probucol. Assim, qualquer medicamento deve ser ingerido uma hora antes ou quatro horas depois da administração de colestiramina. Com o uso prolongado, pode ocorrer hipoprotrombinemia por deficiência de vitamina K, prevenida ou revertida pela administração oral ou parenteral dessa vitamina. Suplementação de vitaminas em crianças, ou eventualmente a adultos, é aconselhável. Entre os efeitos bioquímicos, citam-se discreto aumento dos triglicérides e eventual elevação das atividades de fosfatase alcalina e aminotransferases (ALT e AST). Seu uso deve ser evitado se houver hipertrigliceridemia. Ezetimiba De modo geral não foram descritos eventos adversos significativos com o uso da ezetimiba, mas foi descrito um caso de angioedema e dois de miopatia com elevações discretas de creatina quinase (<4 vezes o limite superior da normalidade), sendo que todos esses eventos foram revertidos com a descontinuidade do fármaco. O perfil de efeitos adversos tanto em monoterapia, como em combinação com estatinas é bastante favorável e em estudos clínicos controlados não houve relato de eventos adversos significativos. Francisco Antonio Helfenstein Fonseca Referências Ácido nicotínico Os efeitos adversos associados ao uso do ácido nicotínico nas preparações mais antigas (de liberação imediata) são frequentes, provocando rubor facial, prurido, eritema, arritmias, dores abdominais e náuseas. Além disso, são descritas elevações de aminotransferases, da uricemia e hiperglicemia e, mais raramente, formas graves de hepatites (especialmente com as preparações de liberação prolongada). Com as preparações de liberação intermediária o rubor facial observado pode ser reduzido com o uso noturno do fármaco precedido pela administração de ácido acetil salicílico uma hora antes da niacina com menor risco de hepatotoxicidade. Wilson PW, D’Agostino RB, Levy D, et al. Prediction of coronary heart disease using risk factor categories. Circulation 1998;97:1837-47. 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