Governo Federal Dilma Vana Rousseff Presidente Ministério

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Gurjão Carneiro, Fernanda Freitas; UEPB / Coordenadoria Institucional
de Programas Especiais/Secretaria de Educação a Distância._Campina
Grande: EDUEPB, 2012.
204 p.: il.
1. Língua Portuguesa. 2. Gramática e Linguística. I. Título. II. FREITAS,
Fernanda. III. UEPB / Coordenadoria Institucional de Programas Especiais.
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Cléa Gurjão Carneiro
Fernanda Freitas
Língua Portuguesa III
Campina Grande-PB
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Sumário
I Unidade
O artigo: um estudo da abordagem gramatical e linguística.......................7
II Unidade
O numeral no contexto gramatical e linguístico.............................................39
III Unidade
Pronomes: um estudo da referenciação em língua portuguesa.................67
IV Unidade
Os pronomes pessoais:
um estudo da abordagem gramatical e linguística......................................99
V Unidade
Pronomes II: Classificação tradicional dos pronomes................................137
VI Unidade
Pronomes III: outras possibilidades de classificação dos pronomes......155
VII Unidade
Advérbios: classificação tradicional dos advérbios....................................171
VIII Unidade
Advérbios II: outras possibilidades de classificação....................................187
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Unidade I
I UNIDADE
O artigo: um estudo da
abordagem gramatical
e linguística
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Considerações Iniciais
“Está DEFINIDO: entre os produtos da boca, o beijo é O melhor ARTIGO.”
(LIMA, 1994, p. 45)
Depois da nossa excursão pelo estudo das palavras, da
estrutura das palavras, do léxico, das classes de palavras:
substantivo e adjetivo na disciplina Língua Portuguesa II, é
necessário que estudemos o artigo para que possamos melhor entender os efeitos de sentido na perspectiva gramatical
e linguística que estão associados aos usos, a partir de sua
classificação em definidos e indefinidos.
Vamos penetrar nas nuances dessa classe de palavra
dando ênfase à perspectiva semântica, morfológica e sintática. Isto porque, os tipos de artigo definido e indefinido
apresentam uma estreita relação com o substantivo, determinando-o.
Percebemos essa interação ao lermos o fragmento do
poema de Lima (1994) na segunda estrofe: “o beijo é O
melhor ARTIGO” deparamo-nos com os vocábulos grafados
em letras maiúsculas com o intuito de chamar a atenção do
leitor através da relação entre “o” artigo e a palavra “artigo”, ressaltando- como definido em letra maiúscula também. Esse trocadilho entre a classe gramatical e o campo
semântico da palavra definido, relaciona-o à característica
semântica do artigo, uma vez que o artigo definido torna
mais específico o substantivo por ele modificado.
Desse modo, como estudiosos da linguagem, aproveitamos para convidá-lo a refletir acerca do artigo na perspectiva gramatical e linguística. Para isso, lembre-se de que a
aprendizagem deste conteúdo vai exigir que você continue
realizando todas as atividades e que estabeleça relações
de interação com seus colegas, os tutores e os professores,
para tirar dúvidas e buscar os esclarecimentos necessários.
Não vamos estudar UMA classe de palavra, mas A classe de
palavra.
Bons estudos!!!!
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Objetivos
No final desta unidade você deverá:
• Caracterizar os artigos a partir de uma perspectiva semântica,
morfológica e sintática.
• Estabelecer a distinção entre artigo definido e indefinido em variados contextos de língua e de gêneros textuais e discursivos.
• Estudar os efeitos de sentido associados aos usos dos artigos
definidos e indefinidos.
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Primeiras palavras...
Considerando a fala na tira abaixo, a interação entre Snoopy e
Charlie Brown é pautada na utilização dos termos “o” e “um”. Vamos
procurar entender os efeitos de sentido produzidos pelos falantes. Para
isso, leia a tirinha abaixo:
(1)
Na tira de Snoopy, o efeito de sentido é construído a partir da utilização de dois termos distintos para determinar o substantivo cachorro:
um ou o. Ao empregarmos um, o substantivo apresenta um caráter
mais genérico e indefinido, identificando a espécie (animal - cachorro)
a que pertence um ser vivo. Dessa forma, os artigos indefinidos generalizam os substantivos que modificam.
Em contrapartida, o O evidencia uma modificação no sentido do
que é dito, uma vez que se sugere que o ser identificado é único dentre
todos os outros da mesma espécie. Em vista disso, definimos como “o
cachorro”, Snoopy em que se apresenta como um beagle especial entre todos os cães da raça beagle.
Essa tira nos remete a uma frase eu ainda sou O cara... proferida
pelo jogador Romário em uma vídeo charge postada após ganhar o
título de artilheiro do campeonato brasileiro de futebol 2005. Assistamos à vídeo charge:
(2)
Caros alunos, segue o link a fim de que
assistam à vídeo charge, será necessário
pesquisá-lo via internet. Em seguida, baixar
o arquivo para assisti-lo.
1
http://www.youtube.com/watch?v=cOsep1cx1A8&feature=player_
detailpage#t=0)1
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Na frase de Romário, o artigo torna específico o substantivo cara,
demonstrando uma distinção diante de todos os seres humanos em
relação de superioridade de Romário.
Esse valor de determinação do artigo definido o foi enfatizado dado
o objetivo de chamar a atenção para a excelência de determinado ser
(o jogador Romário), para o seu caráter único e singular no universo
dos seres da mesma espécie (ser humano).
Desse modo, a distinção entre definido e indefinido, como ilustrado
pela tira de Snoopy e a frase de Romário, é de natureza semântica.
Estudaremos as três perspectivas de análise propostas para essa classe
de palavras.
Dificilmente podemos (ou poderemos algum dia)
indicar o marco de tempo exato a partir do qual os
fatos de língua tornam-se interessantes temas aos
cientistas da linguagem humana.
(MOLLICA e ALIPIO, 2006, p.124)
Artigo:
conceito, caracterização e
critérios de classificação
Neste tópico, explanamos acerca do conceito de artigo definido e
indefinido a partir da sua caracterização. Em seguida, evidenciamos os
critérios de classificação do artigo. Para isso, elegemos como norte a
perspectiva gramatical e a linguística.
Conceito
O artigo originou-se do Latim Vulgar a partir do demonstrativo ille/
illa a fim de sanar a perda da declinação dos nomes e satisfazer a uma
necessidade eufônica. (MATTOS E SILVA, 1993).
Segundo Cunha & Cintra (2001) o artigo é conceituado como a
classe de palavras responsável pela determinação e indeterminação do
substantivo. Isto porque, precede o substantivo, acompanhando-o em
gênero e número e determinando-o de forma particular ou de modo
genérico, conforme classificação a seguir:
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Quadro 1:
Classificação
Artigo
Flexão
definido
indefinido
Gênero
masculino
feminino
singular
plural
Número
Corroborando com o conceito gramatical, Dubois et al (2006, p.72)
define artigo como uma subcategoria de determinantes, constituintes
obrigatórios do sintagma nominal. Podem ter o traço de determinação
ou indeterminação.
Abaurre e Pontara (2006) definem artigo como a palavra variável
em gênero e número que se antepõe aos substantivos, determinandoos. Essa determinação operada pelo artigo pode ser definida ou indefinida, verificada nos versos de Carlos Drummond de Andrade abaixo:
(3)
Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
De Alguma poesia (1930)
As palavras em destaque são artigos: “um” (indefinido) e “as” (definido). Podemos dizer que na segunda estrofe a presença dos três artigos
acompanhando os substantivos homem, cachorro e burro ressaltam em
cada substantivo uma impressão vaga e indefinida. Entretanto, observe
que no caso do artigo as, que acompanha a palavra janelas, temos
definida que as janelas representam de fato, as pessoas que espiam e
olham: as janelas olham. Assim, podemos afirmar que essa função do
artigo é extremamente importante para melhor entendermos o texto em
que tais elementos aparecem.
Em vista disso, o artigo definido determina claramente um nome.
Enquanto, o artigo indefinido transmite um aspecto vago. De um modo
geral, o artigo definido funciona como anafórico, ou seja, faz remissão
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a informação que precede no texto, desempenhando papel textual, que
vai além de sua função gramatical. Por outro lado, o artigo indefinido
funciona como catafórico, isto é, remete a informação que vem depois.
Ressaltamos que a compreensão do artigo como elemento de coesão referencial que, geralmente, é anafórico, quando é definido e,
catafórico, quando é indefinido. Segundo Neves (2000), o artigo indefinido tem, frequentemente, um uso não-referencial, aplicando-se a
todo e qualquer membro da classe, grupo ou tipo que é escrito pelo
sintagma, constituindo uma generalização.
A classe dos artigos indefinidos é representada unicamente pelo
elemento um e suas flexões. Este é empregado antes de substantivos
quando não se deseja apontar ou indicar a pessoa ou coisa a que se
faz referência, nem na situação, nem no texto.
Sendo assim, o sintagma nominal com o artigo indefinido apresenta
um ser simplesmente por referência à classe a qual pertence; em outras
palavras, é evidenciado como elemento de uma classe (cf. ROCHA
LIMA,1973 ; CUNHA e CINTRA, 2001 ; NEVES, 2000).
Koch (2003) exemplifica essa assertiva a partir do enunciado: “Depois de algum tempo, aproximou-se de nós um desconhecido trajado
de modo estranho. O desconhecido tirou do bolso o palato um pequeno embrulho”.
No enunciado acima, percebemos que o artigo indefinido acompanha o substantivo quando este indica uma entidade que é vista como
informação nova no texto e que o artigo definido é usado quando a
entidade é vista como informação dada, conhecida. Travaglia (1996)
assevera que um referente introduzido por um artigo indefinido só pode
ser retomado por um artigo definido.
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
Ademais, o artigo pode substantivar qualquer palavra ou expressão
a que se antepõem, independentemente da classe gramatical a que
pertençam, conhecido na gramática normativa de Derivação imprópria, conforme exemplo abaixo:
(4)
“O evoluir da situação faz-nos pensar que o correr
de manhã é ótimo para o purificar dos pulmões e o
exercitar dos músculos. Por outro lado, o almoçar a
tempo e horas funciona também como o ajudar de
uma digestão bem feita. O ignorar estas normas de
saúde leva-nos, com certeza, ao envelhecer da pele
e ao enfraquecer do corpo, em geral.
O continuar a ouvir e a ler português assim é o refletir cabal do nosso nível cultural e da nossa originalidade como povo, nação e cultura”. (CASCAIS,
2006)2
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Disponível em http://espumadamente.
blogspot.com/2006/05/substantivao-doverbo-ou-estupidez-no.html.
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No exemplo (4), constatamos que o artigo O substantivou os verbos
(evoluir, correr, purificar, exercitar, almoçar, ajudar, ignorar, envelhecer,
enfraquecer, continuar e refletir). Tal fenômeno segundo Fiorin (2007)
existe, em Língua portuguesa, um mecanismo de criação lexical em que
se observa a redução de um morfema.
Desse modo, o conceito e a classificação do artigo são evidenciados, tradicionalmente, a partir dos aspectos teóricos da determinação,
uma vez que um nome é considerado como definido ou indefinido em
função do artigo que o acompanha.
Critérios de classificação do artigo
Considerando os estudos da linguagem que afirmam que as classes de palavras ou categorias lexicais podem ser definidas por critérios
semânticos, sintáticos e morfológicos. Conforme ilustrado no quadro
abaixo:
Quadro 2
Classe/ critério
Funcional ou sintático (função ou papel na oração)
Mórfico (caracterização da
estrutura da palavra)
Semântico (modo de
significação)
ARTIGO
Palavra que funciona
como termo determinante do núcleo de uma
expressão.
Palavra formada unicamente por morfema gramatical (palavra variável
em gênero e número).
Palavra que define ou
indefine o substantivo a
que se refere (definido,
indefinido).
Perini (2006) ressalta que as classes de palavras estão no âmago
da descrição gramatical e estamos muito habituados a partir delas para
pensar os fenômenos da língua. Essas classes remontam desde a antiguidade, uma vez que havia a preocupação com os estudos das classes
de palavras a partir de uma fragmentação em nome, verbo e partícula,
proposta do Aristóteles, pautada na lógica filosófica. Isto porque, as
classes são objetos de grande complexidade e se adéquam ao contexto
histórico, social e econômico.
Conforme Dias (2005) há atualmente duas tendências no tratamento de classes de palavras em livros didáticos. Alguns livros, de linha
conservadora, especificam a temática das classes de palavras, mesmo
que associada ao estudo de um texto. Outros, de linha inovadora, não
especificam os tópicos relativos às classes gramaticais.
Diante disso, faz-se necessário o estudo de todos esses critérios ou
traços visto que funcionam como pistas ou instruções de sentido. Para
isso, Macambira (2003) apresenta as características dos três critérios:
O primeiro é critério semântico que é apresentado ao estabelecermos tipos de significação, não sendo suficiente para abarcar todas as
nuances do artigo, como pertencente às classes de palavras, embora
seja o predominante nas gramaticais tradicionais.
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Em seguida, o critério morfológico entendido como a atribuição
de palavras a diferentes classes, a partir das categorias gramaticais
apresentadas bem como as características de variação de forma que se
mostrem em conjunção com tais categorias. Por fim, o critério sintático
ou funcional em que são atribuídas palavras às classes tendo em vista
propriedades distribucionais e funcionais.
Nesse sentido, o conceito de artigo contempla os três critérios, conforme evidencia Pinilla (2007, p. 172) o artigo é a palavra que antecede o substantivo (critério funcional) e indica o seu gênero e número
(critério morfológico), individualizando-o ou generalizando-o (critério
semântico).
Diante do conceito de artigo, percebemos a conjunção desses critérios em virtude do conceito abarcar todos eles, uma vez que o artigo,
na perspectiva semântica, indica se o ser ou conceito nomeado pelo
substantivo está sendo tomado de forma geral ou específica, se ele é
apresentado pela primeira ver no discurso ou se está sendo retomado.
Essa perspectiva considera o artigo palavra acessória com valor de particularizador ou generalizador do substantivo.
Quanto à perspectiva sintática a o artigo defini-se por sua relação
com o substantivo no eixo das combinações, pertencendo ao sintagma
nominal, localizando-se como especificador do núcleo do sintagma
Ressaltamos que essa perspectiva considera o artigo um elemento
de estrutura da frase, recebendo o nome de determinante, ratificado
pela bate papo no Chat educacional3 a seguir:
(5)
15:37:20 PA4 Achei muito bom também o fato dos itens previamente elencados na nossaagenda, terem sido enfocados. Acho que os nossos objetivos foram alcançados.
15:37:29 PA2... ou seja, estaríamos mediando a discussão.
15:38:22 P1 Bem, acho que a forma como a PAM moderou foi muito
boa...
Corpus da Dissertação de mestrado de
Dissertação intitulada “O gênero chat
educacional em ambientes de ensino a
distância” apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Lingüística – PROLING,
da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
em 2008, disponível em < http://www.
cchla.ufpb.br/proling/pdf/dissertacoes/
jackeline_m_de_a_aragao.pdf>. Acessado
em 12 de fevereiro de 2011
3
15:39:43 PA4 Uma outra coisa: temos que ter em mente que o gênero
chat não é uma aula expositiva; sendo assim o centro não deve
ser o professor. Deve haver, como foi nesse evento, uma troca de
informações.
15:39:54 P1 Por outro lado, não sei o que vocês combinaram entre si: por
exemplo, se algum de vocês notou que ficou alguma pergunta
em aberto, ou que não foi respondida, não seria válida ajudar
ao moderador?
15:40:33 PA5 Acho que PAM foi bem sim e as alunas também. No final,
estavam mais à vontade.
15:40:49 PAM Ficamos c/ essa dúvida, mas tivemos como referencial os
chats que participamos.
15:41:13 PA5 Pensei nessa alternativa, inclusive telefonei para o pessoal
para saber o que achavam.
15:41:26 PA2 Estamos reunidas no CEFET-PB.
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Vale salientar que nas variedades de prestígio, o artigo sempre concorda em gênero e número com o substantivo a que se refere. No
entanto, em outras variedades em que essa concordância não é observada, é o artigo que apresenta as informações sobre o número singular
ou plural dos substantivos.
Por fim, temos o critério morfológico em que o artigo apresenta
morfemas gramaticais que podem ser flexionados em gênero e número
e podem sofrer contração e combinações, confirmadas no quadro a
seguir:
Quadro 3:
Preposições
a
de
em
por(per)4
A forma latina da preposição “per” permanece ao unirmos os artigos, porque não
perderam o “e” entre as consoantes, no decorrer da sua evolução ortográfica.
Artigos definidos
o
a
os
as
5
ao
à
aos
às
do
da
dos
das
no
na
nos
nas
pelo pela pelos pelas
Artigos indefinidos
um
uma
Uns umas
dum duma duns dumas
num numa nuns numas
-
4
Essas combinações não devem ser utilizadas quando a preposição
que antecede o artigo está relacionada com o verbo de uma oração
seguinte e não com o substantivo determinado pelo artigo, conforme
trecho da entrevista abaixo com o reitor da USP:
(6)
Quando unimos a preposição “a” com o
artigo “a”, representamos essa fusão com
à (a craseado) que será objeto de estudo
mais adiante.
5
E1: Os professores estão inertes diante das mobilizações realizadas pelos funcionários da universidade?
E2:. Os professores estão fazendo o que podem
para garantir o direito dos alunos continuarem na
universidade (padrão culto - Os professores estão
fazendo o que podem para garantir o direito de os
alunos continuarem na universidade
(Fonte: Disponível em <http://www.usp.br/
imprensa/?cat=4&paged=4 > Acessado em 14
de janeiro de 2011).
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
Desse modo, os artigos constituem recursos linguísticos que a língua dispõe para que o falante/ ouvinte constitua seus textos a fim de
produzir o(s) efeito(s) de sentido(s) que pretende(m) que seja(m) percebido (s) pelos ouvinte/leitor e o que afeta essa percepção na interação
comunicativa.
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Caracterização e emprego
O artigo é caracterizado como a palavra variável em gênero e número que precede o substantivo, determinando-o de modo preciso ou
vago, indicando-lhe o gênero e o número.
Bechara (2009) afirma que o artigo definido se antepõe a substantivos, com reduzido valor semântico demonstrativo e com função precípua de ajunto desses substantivos. Em contrapartida, o artigo indefinido
é conceituado a partir da indeterminação, consideremos o quadro explicativo de caracterização do artigo:
Quadro 4:
Tipo de artigo
Função
Referência a um instrumento específico.
A apontada ou a única no local.
Pessoas conhecidas
do falante.
Empregado para indicar a espécie inteira;
isto é, usa-se o singular com referência
à pluralidade dos seres.
Um dentre os vários
da orquestra.
Não é particularizado.
Uma representante
da espécie.
Uma das diversas
existentes no local.
Não é particularizado.
Definido
Indefinido
Exemplo
O violino está desafinado.
A lâmpada queimou.
Falei com os meninos.
O homem é mortal.
[= todos os homens].
Um violino está desafinado.
Aproximação.
Vimos uma estrela no
telescópio.
Uma lâmpada queimou.
Falei com um menino.
Vale salientar que o uso do artigo é dependente do conjunto de
circunstâncias, linguísticas ou não, que cercam a produção do enunciado”. (NEVES, 2000, p.391). Confirmada na análise do comentário
de Xande no blog a seguir:
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(7)
blog letras e artes
O espaço para a arte e literatura
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Você pode acessar esse livro através do link
http://www.easy-share.com/1907652649/Moderna-Gramatica-Portuguesa-Evanildo-Bechara.
pdf
Download, gramática de Evanildo Bechara, moderna gramática portuguesa
Mais uma gramática aqui no blog, a gramática de Evanildo Bechara serve como referencia teórica para qualquer estudante da língua.
Fonte: http://i.s8.com.br/images/books/
cover/img3/44323_4.jpg
Postado por thiago_dancer às 11:20
Marcadores: download, e-book, evanildo bechara, gramática,
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1 comentários:
Xande disse...
Olá... gostaria de saber pq a gramática que está disponibilizada na internet tem menos páginas do que o livro normal? Um
professor me disse essa gramática interessante por isso é interessante que ela esteja completa.
Neste comentário, os artigos sublinhados apresentam ideia de determinação (a – artigo definido) em que se refere à gramática de Evanildo Bechara com a função de informar o receptor que um indivíduo
específico está sendo referido (a gramática de Bechara). Isto porque, o
artigo assume o papel de pronome demonstrativo e a presença deste é
determinada pela intenção do falante bem como pela maneira como o
usuário da língua pretende comunicar uma dada experiência.
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Quanto à indeterminação do artigo um presente no comentário em
estudo, percebemos este artigo se refere a qualquer professor. A indeterminação do artigo localizado anteposto ao substantivo indica um ser
que deve ser tomado apenas como representante de uma espécie, e
sobre o qual não se havia ainda feito referência, produzindo um efeito
de sentido genérico, conforme a tira abaixo:
(8)
QUINO. Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 115.
Um ponto relevante é a posição do artigo que, segundo Perini
(2010) está relacionada aos elementos pré- nucleares (predeterminante
e determinante). Para isso, exemplifica a partir dos elementos que são
explicitados sempre antes do núcleo como todos:
(9) Todos os crocodilos gostam de frango.
No exemplo acima, temos um predeterminante todos que ocorre
antes do determinante O, contrariando a assertiva que o determinante é
o primeiro elemento do sintagma nominal. Isto porque, Sandalo (2006)
afirma que a morfologia, especificamente, as classes de palavras, é o
maior ponto de controvérsia no estudo de linguagem.
Nesse sentido, percebemos que o determinante apresenta uma liberdade de movimentação na oração e que suas restrições são de caráter semântico.
Outra análise interessante que se pode fazer a respeito dos artigos
é o ato de os mesmos poderem atuar na figuração do sentido de certos
substantivos, por exemplo:
Praça
A praça
Poderíamos completar a primeira expressão com a seguinte frase
O praça chegou ao quartel
No entanto, essa mesma frase não serviria para a segunda expressão, pois a mera troca do artigo O para o artigo A modifica o sentido
da expressão. Assim, a praça chegou atrasada seria uma frase impossível em língua portuguesa. Uma vez que a combinação (substantivo +
artigo) sofreria flexão de gênero, conforme exemplo a seguir:
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O praça (soldado)
A praça (logradouro público)
Em relação ao emprego dos artigos, seguiremos as regras de uso
elencadas por Bechara (2009) e seguidas por outros gramáticos da
Língua Portuguesa e por autores de manuais didáticos como Piacentini
(2006).
Emprego do artigo
O artigo pode ser usado junto a um nome de pessoa quando existe
familiaridade. Mas em algumas regiões do Brasil dispensa-se o artigo
sistematicamente diante do nome da pessoa.
• (A) Graça pediu que você ligasse para ela.
Os nomes próprios de pessoas (famosas ou não), quando usados
por inteiro, não precisam do artigo.
• João Figueiredo pediu para ser esquecido.
Usamos o artigo com nomes próprios geográficos, nomes de países
e de alguns Estados brasileiros (o Paraná, o Rio de Janeiro, a Bahia, o
Rio Grande do Sul, o Espírito Santo etc.)
• Gostaria de descer o Amazonas até os Andes.
Nomes de cidades geralmente prescindem de artigo. Há exceções: o
Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto. Quanto a Recife, é facultativo o uso.
• Visitarei (o) Recife nos próximos dias.
Nomes de cidades passam a admitir o artigo desde que acompanhados de qualificação (“dos meus sonhos”, neste caso).
• Finalmente visitarei a Ouro Preto dos meus sonhos.
Dir-se-ia o imperador se D. Pedro II tivesse sido o único e não um
imperador do Brasil.
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• D. Pedro II, imperador do Brasil, dava longos passeios pelos jardins do Palácio.
Não se usa artigo antes de pronomes pessoais e de tratamento.
• Sua Alteza casou com Dona Teresa Cristina. / Espero não ter
interrompido V. Exa.
Dentre as expressões de tratamento, senhor, senhora e senhorita
são as únicas que admitem artigo, mas não quando vocativo, ou seja,
quando nos dirigimos à própria pessoa.
• Falei com a srta. Ana, sua secretária, antes de vir procurá-la,
senhora deputada.
Geralmente usamos o artigo indefinido antes de numerais que exprimem aproximação.
• Caruaru fica a uns 120 quilômetros do Recife. • Ricardo deve pesar uns 100 quilos.
Os adjetivos São, Santo e Santa, quando acompanhados de nome
próprio, não admitem artigo, assim como Nosso Senhor e Nossa Senhora.
• Santo Antônio é seu padroeiro e confidente.
O artigo é omitido antes da palavra casa quando designa residência, lar. Mas não quando particularizada ou usada na acepção de
prédio, estabelecimento.
• Voltou para casa mais tarde do que de hábito./ Voltou para a casa
dos pais depois da separação.
Omite-se o artigo junto ao vocábulo terra quando em oposição a
bordo, mar.
• Finalmente estou em terra – já não aguentava o enjoo do navio.
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Costuma-se omitir o artigo com a palavra palácio quando designa
a residência ou o local de despacho de um chefe de governo.
• Esteve em palácio, por convocação do senhor Governador.
O artigo é usado nas expressões de peso e medida com o sentido
de “cada”.
• Pagou Cz$ 40,00 o quilo da maçã. / Custa mil o metro.
Usa-se o artigo com as estações do ano, exceto quando elas vêm
precedidas de ‘de’, significando próprio de, como em “Gosto do sol de
inverno”.
• O inverno brasileiro é moderado.
É indiferente o emprego do artigo antes de possessivos acompanhados de substantivos.
• Aquele carro que acharam é (o) meu.
Em função substantiva (isto é, no lugar do substantivo), o possessivo tem um sentido quando acompanhado de artigo (o meu carro = o
único que possuo), e outro sentido sem o artigo (“é meu” denota uma
simples idéia de posse).
• (O) meu carro custou a pegar, hoje de manhã.
Dispensa o artigo o pronome possessivo usado em expressões com
o valor de “alguns”.
• Quem não tem suas dificuldades?
Quando o possessivo faz parte de um vocativo, não admite o artigo.
• Vem cá, meu amor.
O artigo é omitido com o possessivo em certas expressões feitas:
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em nosso poder, a seu bel-prazer, por minha vontade, cada um a seu
turno, a meu modo, em meu nome, a seu pedido etc.
• Dou em meu poder seu ofício de 15 de setembro.
Omite-se o artigo antes de palavras de sentido geral, indeterminado.
• Sal, pimenta e açúcar devem ser usados em quantidades moderadas.
Não se usa o artigo antes de substantivos abstratos, em expressões
que não contêm nenhuma determinação.
• Você tem razão em não dar confiança ao rapaz, pois ele só disse
mentiras.
Normalmente se repete o artigo para evitar ambiguidade, pois sem
ele os dois substantivos podem designar o mesmo ser. Não seria o caso
abaixo, porque não se casa com irmão, mas fica diferente agora: Admiro o meu irmão e amigo (uma pessoa). Admiro o meu irmão e o meu
amigo (duas pessoas).
• Apresentou-se na festa com o marido e o irmão.
Desse modo, o artigo exerce função primordial no contexto gramatical, linguístico e pragmático uma vez que as propriedades do artigo
de determinação e indeterminação apresentam interferência no processo de significação do texto.
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Atividade I
1) Observe as capas da revista Veja:
Capa 01
Capa 02
Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-7Gio_pWnMJY/
TbtOjEPTG4I/AAAAAAAAAD8/Z6uk2BKCGpk/
s1600/Capa+Veja+n%25C2%25BA+2214.png
Fonte: http://silviolobo.com.br/7/images/2011.
Marco/capa-veja-realengo-380.jpg
a)Nas capas da revista Veja, há artigo definido? Qual o efeito de sentido que ele
provoca na compreensão do texto nas duas capas?
b) Depois de observar as palavras que acompanham os artigos (a) e (o),
podemos considerar que os artigos só acompanham substantivos?
2) Leia a tira a seguir:
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
a) Na tira, há o emprego dos artigos destacados em referência ao personagem
Mafalda, a utilização do artigo uma apresenta definição ou indefinição?
Comente.
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b) No quarto quadrinho, o artigo destacado foi utilizado com função coesiva?
Justifique
c) Explique como o uso dos artigos destacados, no contexto da tira, contribuiu
para produzir o efeito de humor.
3) Considerando o poema a seguir:
O medo
Tenho medo de um não.
O refletir é sempre bom.
O querer é poder.
O sim é tudo na vida.
Ela tem um quê de sublime.
O não – posso dos indolentes.
É difícil dizer um não.
O você é quem sabe é dizer um não.
O “Amai-vos uns ao outros’ é algo que deveríamos pensar mais.
Coisa difícil é dizer um não.
http://falabonito.wordpress.com/2006/08/30/21/
Explique o processo de substantivação através do artigos definidos e indefinidos
presente no gêneros textual lido.
O que dizem os linguistas?
Para compreender é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive,
com quem convive, que experiência tem, em que
trabalha, que desejos alimenta, como assume os
dramas da vida e da morte e que esperanças o
animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação. Sendo assim, fica evidente que cada
leitor é co-autor. Porque cada um lê e relê com os
olhos que tem. Porque compreende e interpreta a
partir do mundo que habita. (BOFF, 1997)6.
Com as pesquisas crescentes na área de linguística, ascenderam-se
as instigações em se estudar as classes de palavras em todas as suas
manifestações em gêneros textuais orais e escritos. Isto porque, o traLíngua Portuguesa III
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Leonardo BOFF em a Águia e a Galinha
(1997) usa essa metáfora espacial para
conceituar a noção de leitura.
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tamento gramatical, por tradição histórica, sempre enfocou a língua
como um código de dimensão restrita, descartando sua função social e
o seu poder argumentativo nos processos de interação comunicativa.
Nesse sentido, uma classe de palavra que merece destaque é o artigo que, segundo Infante (2001) tem recebido nos compêndios gramaticais uma abordagem reducionista, nos quais seu papel morfológico e
sintático não o distingue essencialmente dos outros elementos também
considerados como determinantes. Assim como o seu papel semântico
não é diferenciado de outros itens gramaticais que com ele compartilham da mesma função dentro da língua.
Ademais, tradicionalmente, Bechara ( 2009) e Rocha Lima (2002)
consideram um “nome” como definido ou não definido em função do
artigo que o acompanha. Por isso, o artigo definido estaria funcionando como uma marca para indicar “determinação”.
No entanto, estudos linguísticos desconstroem essa perspectiva devido o artigo definido nem sempre ocorre em contextos definidos, como
no exemplo clássico “O homem é um ser mortal” em que o substantivo
antecedido pelo artigo não representa um ser humano específico, definido mas uma classe como um todo, sendo, portanto, genérico.
É importante que o professor tenha acesso ao contexto linguístico
em virtude do estudo do artigo se encontrar presente desde as séries
iniciais e perdurar no ensino fundamental e médio nas aulas de língua
portuguesa. Alencar (2006) ressalta que a partir de consultas a programas escolares e a livros didáticos, percebeu-se que esta classe de
palavra se restringe a um conhecimento de nomenclatura apenas.
Faz-se necessário ressaltar que os gramáticos tradicionais não comungam em relação às regras acerca do emprego do artigo e as orientações quanto ao uso, às vezes, apresentam-se de material superficial
e aleatório.
Em vista disso, é interessante observarmos que o tratamento dado
ao artigo, pela gramática, está atrelado ao substantivo, inclusive sua
classificação depende da forma de designação do ser como definido
e indefinido.
No que atine à função do artigo definido no sintagma, Neves
(2000) e Bechara (2009) declaram que ela pode ser interpretada sob
dois aspectos diferentes, ou seja, o da presença ou ausência e o da
substantivação.
Assim, o artigo pode funcionar como determinante do núcleo nominal através de sua carga semântica de determinação, quase sempre
particularizando um indivíduo de uma espécie e, por outro turno, também antecede itens lexicais, sintagmas e enunciados, promovendo o
processo de substantivação, segundo o exemplo a seguir:
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( 13)
Além disso, tem se constatado que “o uso dos artigos definido e indefinido não se encaixa na definição de artigo encontrada nas gramáticas” (LIMA, 2006, p. 134). Embora a maioria dos gramáticos de língua
portuguesa reconheça que há variação em relação a este fenômeno,
não apresentarem regras categóricas que a justifique.
Um exemplo dessa dialética é explanado por Cintra e Cunha (2001,
p. 223) que sendo por definição individualizante, o nome próprio deveria dispensar o artigo. É consenso, também, entre os linguistas, que
o uso do artigo diante de nomes próprios e possessivos é facultativo,
não chegando a se constituir forma estigmatizada o emprego de uma
ou outra construção do tipo:
(14) João terminou seu trabalho.
(15) O João terminou o seu trabalho.
Todavia, a despeito dessa aparente aceitação uniforme que circunda o entendimento do artigo diante de nomes próprios e possessivos,
não se verificam abordagens que especifiquem satisfatoriamente as razões da presença ou ausência do artigo nesses contextos.
No entanto, por razões diversas, esta norma lógica nem sempre
fosse observada e, hoje, há um grande número de nomes próprios que
exigem obrigatoriamente o acompanhamento do artigo definido.
Neves (2000) declara que o artigo definido é utilizado antes de antropônimos (nomes próprios) referentes a pessoas conhecidas ou famosas, mormente, no registro coloquial. A autora reconhece, ainda, que
este é um uso relacionado ao costume regional, familiar ou pessoal, o
que, para ela, explica o fato de haver ocorrências de antropônimos sem
o artigo em língua portuguesa. Para ilustrar essa discussão temos um
enunciado publicado nas frases da semana:
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(16)
“Aos dez anos eu queria ser músico de blues,
não o Hugh Laurie, ator “
Hugh Laurie, ator, protagonista da série House.
Fonte: Disponível em http://www.ronaud.com/frases-pensamentoscitacoes-de/hugh-laurie Acessado em 17 de janeiro de 2011.
Fonte Imagem: http://4.bp.blogspot.com/_uQON8gpxHPo/
TEjdDEcZZpI/AAAAAAAAAJw/cfu4mlfH37M/s1600/Hugh-Laurie.jpg
Nesse sentido, os gramáticos apresentam uma exceção ao uso do
artigo diante de nome próprio de personalidades da mídia, política e
outros se houver um elemento de qualificação, como no exemplo acima “ator”, deverá ser acompanhado de artigo definido.
Essa exceção segundo Neves (2000, p. 391) é explicada pelo uso
da língua em virtude da presença do artigo ser determinada pela intenção do falante, bem como pela maneira como o usuário da língua
pretende comunicar uma dada experiência. Para a autora, “o uso do
artigo é, pois, extremamente dependente do conjunto de circunstâncias, linguísticas ou não, que cercam a produção do enunciado”.
Por se tratar de um fenômeno variável, Callou et al., 2000 tratam o
artigo a partir da questão de sua ausência/presença diante de possessivos e nomes próprios, estudando esse caso de variação morfossintática, desconsiderando a dicotomia (oposição) determinação/indeterminação proposta pelos gramáticos.
A esse respeito Alencar (2006) confirma essa abordagem linguística
que considera o entendimento do artigo diante de nomes próprios e
possessivos através da ausência e da presença do artigo nesses contextos. É necessário que se priorize o contexto na caracterização dos artigos, visto que no caso do artigo definido, a interpretação se processa
por uma retomada regular ao contexto (KOCH e ELIAS, 2009). Para
essas autoras, o falante identifica o objeto de que fala, objeto que o
ouvinte também conhece (ou fica a conhecer).
A outra abordagem paradoxal de acordo Costa (2002) está relacionada aos autores tradicionais que abordam a questão do artigo
diante de possessivos, afirmando que é facultativo o uso do artigo. No
entanto, a tira abaixo não ratifica essa regra:
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Neste exemplo, verificamos através do contexto que o artigo definido apresentado antes do pronome possessivo sinaliza para o leitor
que alguém estaria com os chinelos de Hagar. A regra da utilização do
artigo definido antes do pronome possessivo dependerá do contexto e
da intencionalidade do produtor do texto.
Destarte, observamos que não há, entre os gramáticos de língua
portuguesa, em relação ao estabelecimento de regras para o uso/nãouso do artigo definido a interferência do contexto diante do emprego
de pronomes possessivos e nomes próprios. Conforme esboça Alves
(2008, p. 22), o próprio conceito de artigo “é algo que intriga os estudiosos da linguagem, principalmente no que concerne às dicotomias
determinação/ indeterminação.
Defendemos o posicionamento que a gramática e os livros didáticos devem ultrapassar a perspectiva tradicional de língua para oferecer ao aluno uma visão ampla do fenômeno gramatical. Certamente
conceitos de artigo, como referência, empregados no estudo do artigo,
alcançariam um maior nível de abstração e aprofundamento em um
livro de linguística.
Isto porque, é necessário que haja uma maior aproximação entre
o trabalho entre as classes gramaticais na sala de aula e os principais
estudos sobre classes de palavras já realizados no país. Como Dias
(2006, p. 137) exemplifica a necessidade dos alunos refletirem acerca
da língua e da linguagem a partir uma atividade em que o professor
deve utilizar o texto como experimento em um laboratório – Tomemos
um texto básico e retiremos os artigos. Comparemos com o texto original. Verifiquemos se ainda é possível entender o texto básico.
Para ilustrar essa assertiva, Travaglia (2003, p. 46) propõe a desmistificação do ensino de língua através da separação entre gramática
e texto a partir da descrição de uma aula:
Tratando dos chamados artigos, podemos discutir com os alunos:
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1) A existência de um tipo de recurso na língua que
alguns chamam de artigo e outros de pronome e
outros ainda vêem como um morfema marcador
de gênero e número;
2) Que há dois tipos de artigo: o definido e o indefinido;
3) Que tipos de instrução de sentido esse recurso,
isolado pela teoria como um tipo de unidade da
língua (classe de palavra),pode trazer para o texto;
No final de um estudo sobre o chamado artigo nosso aluno pode
saber:
1) dizer o que é um artigo;
2) dizer qual a classificação dos artigos;
3) listar os artigos;
4) classificar os artigos;
5) identificar artigos em sequencias linguísticas;
6) discutir se o artigo é uma classe de palavras à
parte ou um tipo de pronome, inclusive apresentando argumentos como, por exemplo, o fato de
que, na sequencia linguística, não se pode usar
essa unidade da língua junto com alguns tipos de
pronomes ( demonstrativos e indefinidos), mas pode-se usá-la com outros tipos de pronomes como
os possessivos.
Sendo assim, as abordagens gramaticais necessitam se integrarem
às abordagens linguísticas a fim de que possamos estudar os fenômenos gramaticais a partir do uso da linguagem, contextualizado e que o
aluno perceba a funcionalidade do uso do artigo definido e indefinido
para o processo de significação do texto.
Atividade II
1) Leia os textos abaixo:
Texto 01
Fonte: Disponível em <http://www.google.com.br/search?q=IMAGENS+DE+PROPAGANDAS&hl=pt>Acessado> em
14 de janeiro de 2011.
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Texto 02
Cotidiano
Chico Buarque
Todo dia ela faz tudo sempre igual:
Me sacode às seis horas da manhã,
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.
Todo dia ela diz que é pr’eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher.
Diz que está me esperando pr’o jantar
E me beija com a boca de café.
Todo dia eu só penso em poder parar;
Meio-dia eu só penso em dizer não,
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão...
Fonte: disponivel em http://letras.terra.com.br/chicobuarque/82001/ Acessado em 14 de janeiro de 2011.
Fonte Imagem: http://www.agaragem.com/biblioteca/
concertos_rep/28/chico_buarque4.jpg
Considerando os enunciados “Toda a linha mais perto de você!” (texto 1) e
“Todo dia ela faz tudo sempre igual” (texto 2), explique a distinção evidenciada
entre os enunciados a partir da inserção do artigo ao primeiro enunciado.
2) O uso do artigo definido diante de nomes próprios e pronomes possessivos
tem sido discutido na perspectiva linguística em virtude de estudos com
gêneros orais, vejamos esse trecho do chat educacional7:
15:37:20 PA4 Vocês não tem noção do trabalho que tenho
tido para ler tanta coisa, não sou mais a Cleide.
15:37:29 PA2... eu também, já pensei em desistir, mas sou a
Isadora, professora de língua portuguesa.
15:38:22 P1 acho que vocês estão se esquecendo da nossa
real discussão, as nossas atividades que serão entregues amanhã.
Corpus da Dissertação de mestrado de
Dissertação intitulada “O gênero chat
educacional em ambientes de ensino a
distância” apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Lingüística – PROLING,
da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
em 2008, disponível em < http://www.
cchla.ufpb.br/proling/pdf/dissertacoes/
jackeline_m_de_a_aragao.pdf>. Acessado
em 12 de fevereiro de 2011
7
a) A partir dos artigos destacados, produza um comentário acerca da
perpesctiva linguística que explica o uso desses artigos diante de nomes
próprios e pronomes possessivos.
b)A ocorrência do artigo definido antes de nomes próprios não é utilizada por
algumas comunidades linguisticas, no entanto, outras utilizam. Observando os
enunciados de PA4 e PA2, podemos afirmar que eles provocam o mesmo efeito
de sentido?
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responder as atividades!
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3)Abaurre e Pontara (2006) afirmam que existe o artigo de notoriedade com a
função de realce do ser. É um recurso muito utilizado na propaganda a fim de
apresentar produtos como melhores de sua categoria. Explique esta
ocorrência no anúncio abaixo:
Fonte: Disponivel em: http://navegandonaeducacao.blogspot.com/2009/07/artigosdefinidos-e-indefinidos.html Acessado em 17 de janeiro de 2011.
4) Segundo Infante (2001) o estudo do artigo pela gramática tradicional
apresenta reducionismos que são evidenciados a partir de exercícios em
manuais didáticos. A atividade a seguir apresenta uma proposta de estudo do
artigo dirigida a alunos do 5º ano do ensino fundamental. Analise essa proposta
a partir da perspectiva lingüística e caso haja necessidade de reformulações,
sugira-as.
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Leituras recomendadas
Para acessar
http://www.revistalingua.com.br
Site da revista Língua Portuguesa, que possibilita o
acesso aos artigos publicados na versão impressa da
publicação. Merecem destaque os artigos em que a
professora Maria de Moura Neves discute diferentes
aspectos da gramática do português, fazendo importantes considerações sobre o modo como são descritos pela gramática normativa e o uso efetivo que dele fazem os falantes.
http://www.portugues.com.br/gramatica/morfologia/artigos.html
O site da Português.com apresenta informações sobre o emprego
do artigo em nuances gramaticais e linguísticas, proporcionado ao
visitante virtual uma viagem pela nossa e seus aspectos mais significativos.
Para ler
CÂMARA Jr, Mattoso. Dicionário de linguística
e gramática. Petrópolis: Vozes, 1984.
Nessa obra, Mattoso Câmara apresenta
definição interessante acerca do conceito
de artigo que podem auxiliar na compreensão das perspectivas: semânticas, sintática e morfológica.
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Resumo
Os artigos definidos e indefinidos apresentam particularidades
quanto à perspectiva gramatical da determinação e indeterminação. O
artigo definido indica um ser dentro da mesma espécie, podendo indicar um ser já conhecido do leitor ouvinte, seja porque já foi mencionado anteriormente no texto, seja porque dele se supõe um conhecimento
prévio por parte de quem lê ou ouve o texto. Nesse contexto, atribui-se ao ser um sentido preciso, particularizando-o. Em contrapartida,
o artigo indefinido indica um ser que deve ser tomado apenas como
representante de uma espécie, e sobre o qual não se havia ainda feito
referência. Em vista disso, o artigo definido é considerado elemento de
coesão por retomar ou antecipar outro elemento do texto. Além disso,
os critérios de classificação estão presentes no conceito de artigo, explicitado no conceito de artigo que contempla os três critérios. Evidencia
Pinilla (2007, p. 172) através do conceito de artigo como a palavra
que antecede o substantivo (critério funcional) e indica o seu gênero e
número (critério morfológico), individualizando-o ou generalizando-o
(critério semântico). Quanta à perspectiva linguística é desmistificada
a percepção de reconhecimento do artigo definido e indefinido pelo
critério da determinação/indeterminação. Os linguístas asseveram que
vigora o critério do uso a partir do processo de interação entre os falantes. Desse modo, faz-se necessária uma mudança no contexto de
ensino do artigo uma vez que prioriza a forma, desconsiderando o contexto de uso da língua.
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Autoavaliação
Para avaliar seu desempenho como aluno (a) desta unidade, vamos produzir
um comentário acerca do processo de determinação e indeterminação dos
artigos destacados no texto abaixo, a partir das discussões gramaticais
e linguísticas apresentadas nesta unidade. Este texto foi produzido pela
Doutoranda do Programa de Pós Graduação de Letras da UEPB em Literatura e
Interculturalidade, Divanira Arcoverde.
Em seguida, avalie sua análise: leia-a e observe se foram contempladas as
reflexões estudadas nesta unidade.
Construindo sonhos
Esta semana refleti comigo mesma acerca do que havia lido
no livro “Nunca desista dos seus sonhos”, de Augusto Cury. Diz ele
que “se você tiver grandes sonhos, seus desafios produzirão oportunidades e seus medos produzirão coragem”. Foi o que aconteceu
comigo.
Incentivada por amigas verdadeiras, decidi-me a concorrer a
uma vaga no Doutorado em Literatura e Interculturalidade do Departamento de Letras da UEPB. Movida pela paixão aos estudos e a
vontade férrea de tornar-me uma pesquisadora de fato e de direito,
enfrentei mais este desafio em minha vida.
Só havia, então, uma possibilidade de conseguir tal intento.
Entregar-me decididamente aos estudos para o enfrentamento das
três fases eliminatórias da seleção (Prova Escrita, Projeto e Entrevista) e, ainda de quebra, a proficiência em Língua Estrangeira.
Sabia por antecipação dos obstáculos que teria de transpor, tendo
em vista que estaria concorrendo com pessoas, talvez, com mais
condições que eu e por enveredar em uma área que não era a que
eu trabalhava há muitos anos. No entanto, pensei comigo mesma,
que sem enfrentar riscos, não vamos a lugar algum. Muitas vezes,
é preciso derrubar “os monstros imaginários” que se alojam em
nossas mentes e dilaceram nossos sonhos.
Assim o fiz. Abracei esse sonho, empoderei-me desse objetivo e fui
à luta. Felizes dos que encontram a coragem para lutar e tornam os
seus sonhos em realidade, “aprendendo a ser líderes de si mesmo”.
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Mergulhei tenazmente no meu propósito de vida. Louvo a Deus
pela vitória! Irei reconstruir uma trajetória, em cujo hiato, nunca
deixei que os vazios não fossem preenchidos ou que a inércia tomasse conta de mim. Sempre vislumbrei auroras e toquei sinfonias
que pudessem delinear novos horizontes.
Hoje, tenho a certeza, de que a cada dia que se vive, um sol iluminado ressurge e seus raios reenergizam os que acreditam em um porvir
venturoso que pode resgatar o prazer de viver e o sentido da vida.
Tenho plena convicção dos percalços e responsabilidades que
me aguardam. Entretanto, sei da minha garra, da vontade de vencer e a grande Fé em Deus, que nunca me faltou. Sei também,
que a vida é uma maratona, cujo percurso devemos nos arriscar a
percorrer. E diante das incertezas e contingências, olhar para frente
e dar sempre um passo a mais é o que se deve fazer.
Nesse sentido, como sempre digo, Deus e o tempo são os senhores de todas as coisas. O tempo passa de todo jeito. Quer façamos ou não alguma atividade. Assim, os caminhos existem para
ser trilhados, as pedras do caminho para ser retiradas, as barreiras
para ser transpostas e os castelos para ser construídos.
Fonte: disponível em http://divaniraarcoverde.blogspot.com/2011/04/ Acessado em 15 de maio de 2011
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Referências
ABAURRE, Maria Luiza e PONTARA, Marcela. Gramática: análise e
construção do sentido. São Paulo: Moderna, 2006.
ALENCAR, Patrícia Vargas. Direcionalidade da aquisição do artigo definido
frente a N próprio em contexto de input variável. 2006. Tese de Doutorado
em Lingüística – UFRJ, Faculdade de Letras, 2006.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2009.
CALLOU, Dinah; SILVA, Giselle M. O. O uso do artigo definido
em contextos específicos. In: HORA, Demerval da (org.) Diversidade
linguística no Brasil. João Pessoa: Idéia, 1997.
CALLOU, Dinah et al. A variação no Português do Brasil: O uso do artigo
definido diante de antropônimo. Faculdade de Letras da UFRJ, Série
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II UNIDADE
Unidade II
O NUMERAL NO CONTEXTO
GRAMATICAL E LINGUÍSTICO
O numeral no contexto
gramatical e linguístico
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Apresentação
Nesta unidade, estudaremos o numeral, dando continuidade ao estudo das classes de palavras. Vamos estudá-lo em
suas nuances gramaticais e linguísticas fundamentais para o
ensino contemporâneo de Língua Portuguesa.
Para isso, inicialmente, o numeral será conceituado e caracterizado a partir da perspectiva mórfica, funcional e semântica em uma abordagem reflexiva de língua. Em seguida, classificaremos e evidenciaremos os seus usos em uma
perspectiva linguística através da realização de um estudo
comparativo entre o vocábulo um como artigo indefinido
e como numeral, a fim de esclarecermos a distinção entre
eles e a função do numeral como articulador textual e como
recurso expressivo.
Em vista disso, a compreensão deste assunto decorrerá
das discussões que vivenciamos na unidade anterior a respeito do artigo indefinido. Assim, será importante que você
revise as especificidades do artigo.
Lembre-se de que para uma melhor assimilação de nossos estudos será preciso que você realize todas as atividades
propostas e tire dúvidas quando necessário com os nossos
tutores.
Estaremos aqui professores, tutores e seus colegas para
ajudá-los.
Bons estudos!
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Objetivos
Ao final desta unidade, esperamos que você:
• Entenda a abordagem gramatical e linguística do numeral.
• Distinga o um artigo indefinido e o um numeral.
• Tenha uma visão de como os numerais determinam a produção
de sentidos nos gêneros textuais.
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Para iniciar
nossa conversa...
O homem numeral
O homem numeral
fazia dos números palavras
e numerava tudo o que fazia...
O homem numeral
virou um número
no ato final...
(Fonte: disponível em: <http://poemasdejaimeleitao.blogspot.
com/2009/04/o-homem-numeral.html> Acessado em 17 de
abril de 2011)
O numeral é considerado uma classe de palavra que não apresenta conteúdo lexical, ou seja, não remete isoladamente a nenhum
outro elemento existente fora da língua. No entanto, essa classe de
palavra expressa noções gramaticais importantes para a compreensão
dos enunciados como a de coesão textual, recurso expressivo, quantificação e singularidade.
Tendo em vista que os numerais expressam quantidade exata de
pessoas ou coisas ou lugares que elas ocupam numa determinada sequência, podem ser cardinais, ordinais, multiplicativos e fracionários.
Leia o anúncio a seguir:
(In: CEREJA e MAGALHÃES, 2005, p. 102)
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Neste anúncio, o produto promovido pelo anunciante é um cartão
de crédito tipo Platinum existente no exterior que oferece ao usuário
vantagens como seguro de saúde e pontos acumulados que valem passagem área.
No enunciado principal, o anunciante faz um jogo de oposições
entre as palavras um e único, de um lado, e a palavra dois, de outro.
O um é um artigo indefinido porque o texto permite inferir que outros
bancos já trabalharam com o cartão de credito tipo platinum. Logo, o
platinum Unibanco será um entre outros.
Além disso, percebemos a utilização do numeral cardinal dois e do
ordinal primeiro, evidenciando a intencionalidade do autor do texto
ao empregá-los. O numeral cardinal dois acompanha um substantivo
“cartões” que fica subentendido, propiciando ao leitor uma indagação: são dois o quê? A partir desse questionamento o leitor se torna
mais atento a essa dualidade, ocasionada pelas expressões um cartão
e dois cartões.
Desse modo, essa interação entre leitor e texto através dos numerais no texto publicitário evidencia o texto como unidade de sentido,
levando-nos para uma reflexão gramatical e linguística do numeral.
Aspectos gramaticais do numeral:
conceito e as perspectivas de
classificação
Bechara (2009, p. 203) conceitua numeral como a palavra de função quantificadora que denota valor definido. Esta classe de palavra
pertence aos elementos pré- nucleares, que são divididos em predeterminante, determinantes e quantificadores e outros.
O numeral se insere nos quantificadores que modificam o substantivo, determinando-os a sua quantidade em números, múltiplos ou
fração, ou mesmo a sua ordem em uma determinada sequência. Os
quantificadores se localizam nos enunciado após o determinante como
no exemplo a seguir:
(1) Esses
dois (numeral)
Determinante
Quantificador
rapazes são meus filhos.
Essa ordenação poderá sofrer variações por razões semânticas,
dada a impossibilidade de alguns enunciados como muitos quatro, deiLíngua Portuguesa III
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xando essa ordenação meio indefinida, fazendo necessários estudos a
respeito desse elemento predeterminante.
Isto porque, o quantificador restringe a referência do nome com
informação relacionada com número, quantidade ou parte do referente do nome, independentemente da sua definitude. Vejamos os exemplos:
(2) A empresa continua a ter dez funcionários.
(3) A empresa continua a ter os dez funcionários.
No exemplo (2), a quantidade de funcionários se mantém. Em (3),
sabemos que a quantidade de funcionários se mantém e o determinante especifica, além disso, que se trata dos mesmos funcionários definidos anteriormente.
Nesse sentido, Perini (2010, p. 262) evidencia que os numerais
cardinais têm afinidades com os quantificadores e apresentam propriedades gramaticais distintas. Estes ocorrem antes do núcleo quando
indicam quantidade como em Os cinco capítulos devem ser lidos até
amanhã. No entanto, quando pospostos, os numerais cardinais indicam ordem e os substituem como forma de contornar a complicação
extrema do sistema de ordinais do português padrão, ilustrado pelo
exemplo: O capítulo cinco deve ser lido até terça-feira.
Nestes exemplos, o cardinal equivale ao numeral ordinal, empregada para evitar o uso do cardinal com números mais altos, utiliza-se O
capítulo quarenta e quatro em vez de o quadragésimo quarto capítulo.
Em contrapartida, os ordinais funcionam como nomes e ocorrem
após os quantificadores (mas sempre antes do núcleo), conforme exemplo:
(4) Os muitos segundo colocados.
Outro ponto relevante é a flexão de gênero em que os numerais
são invariáveis, exceção de um (uma), dois (duas) e ambos (ambas), os
formados por um (vinte e um/ vinte e uma) e as centenas acima de cem
(duzentos/ duzentas, novecentos/ novecentas).
Bechara (2009) e Cunha e Cintra (2001) asseveram que a tradição
gramatical tem posto ambos como numeral dual, como subcategoria
de número (singular/plural), por sempre aludir a dois seres concretos
já mencionados no discurso. Ressaltamos, também, como pronome por
retomar termos ditos anteriormente (anáfora) nos enunciados.
Para esclarecer melhor esse processo de substituição, Koch (2007)
afirma que, no caso de retomada, tem-se uma anáfora: a) Paulo e José
são excelentes advogados. Eles se formaram na academia do Largo de
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São Francisco. (anáfora) e, no caso de sucessão, uma catáfora: b) Realizará todos os seus sonhos, menos este: o de entrar para a Academia
(catáfora) .
Outro vocábulo que, em algumas expressões, pode funcionar como
numeral é todo, visto que expressões como todos os dois dias, todas as
três semanas, etc, podem ser empregadas com o valor de dois em dois
dias ou a cada dois dias, de três em três semanas (BECHARA, 2009).
Diante do exposto, faz- se necessário estudarmos os critérios de
classificação do numeral tendo em vista que algumas classes de palavras apresentam definições centradas em um critério (semântico) em
detrimento dos outros (funcional e mórfico).
Câmara Júnior (1970) ressalta a relação entre os nomes numerais
e a arte de contar leva a que, na língua escrita, usem-se os algarismos
em vez das palavras correspondentes entre os numerais. Como ocorre
na linguagem publicitária, ilustrado no exemplo abaixo:
(5)
Fonte: http://www.baurupaineis.com.br/cases/bombril.gif
Ademais, Câmara Júnior (1970) apresenta como tarefa da gramática descritiva a distribuição dos vocábulos formais de uma língua em
classes fundamentais e classifica-os a partir de critérios: critério semântico (o que eles significam do ponto de vista do universo biossocial que
se incorpora na língua); o critério formal ou mórfico (que se baseia nas
propriedades da forma gramatical) e o critério funcional ( que diz respeito ao papel que cabe). Vejamos a classificação do numeral:
Quadro 1:
Classe/ critério
NUMERAL
Funcional (funMórfico
ção ou papel na
(caracterização da
oração)
estrutura da palavra)
Palavra que funPalavra formada
ciona como esunicamente por
pecificador desse morfema gramanúcleo (numeral: tical (palavra varisubstantivo, adje- ável em gênero e
tivo).
número).
Semântico (modo de
significação)
Palavra que indica a
quantidade dos seres,
sua ordenação ou
proporção (cardinal,
ordinal, múltiplos, fracionário, coletivo).
(Fonte: PINILLA, 2007, p. 172)
O quadro apresenta a proposta de classificação do conceito de
numeral a partir dos critérios (funcional, mórfico e semântico). No entanto, as gramáticas escolares e teóricas e os livros didáticos contemLíngua Portuguesa III
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plam apenas a perspectiva semântica, conceituando o numeral como a
palavra que dá idéia de número.
Esta perspectiva em relação ao numeral ressalta a propriedade de
indicar um valor definido. No contexto da gramática normativa, as palavras que indicam frações ou quantidades múltiplas, número de ordem
de determinado ser ou coisa em uma série. Embora tenham comportamento muito semelhante ao de outras classes de palavras, também são
considerados numerais.
Quanto à perspectiva funcional os numerais podem exercer duas funções no interior do sintagma nominal. A primeira de núcleo do sintagma
nominal, como os substantivos. A segunda de modificador ou especificador,
como os adjetivos. Observe os elementos destacados na notícia abaixo:
(6)
Disponível em: < http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=4876>. Acessado em 19
de abril de 2011.
Em o triplo de pessoas, percebemos “triplo” como especificador do
substantivo e, em O primeiro aluno, o vocábulo “ primeiro” é o núcleo
do sintagma nominal.
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Por fim, temos a perspectiva mórfica que concebe, em sua maioria,
os numerais como palavras invariáveis, embora, afirme que eles designam valores definidos, um é a forma singular e as demais (dois, três,
etc..) são plurais. Quanto ao gênero variam um – uma, dois – duas e as
centenas a partir de duzentos (duzentas, trezentas, etc). Os vocábulos
milhão e bilhão variam apenas em número.
Cumpre salientar os cardinais, fracionários e os múltiplos podem
sofrer também flexão de número e gênero, embora seja pouco frequente como (terceiros, vigésima, dose dupla, dois terços, entre outros).
Outra característica relevante dos numeras ordinais e cardinais é de
recurso de coesão textual. Ilustrado pelo comunicado a seguir:
(7)
COMUNICADO Nº 048 - CGRH/DRHTI/SGAGU, DE 20 DE MAIO DE 2010.
Aos Membros das Carreiras Jurídicas da Advocacia-Geral da União.
Assunto: DESCONTO DE DIAS NÃO TRABALHADOS POR
MOTIVO DE GREVE
Comunico que, em face das informações prestadas por meio
de Boletim Mensal de Frequência, elaborado pelas diversas Unidades da AGU, nas quais estão em exercício os membros das carreiras jurídicas desta Instituição, bem como, para atender a recomendação constante do Ofício nº 140/SRH/MP, de 14 de maio
de 2008, da Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão. Estes dias foram objeto de
descontos na folha de pagamento de maio corrente,os dias não
trabalhados, a partir de 9 de abril último, em razão da paralisação
dos serviços de advocacia-pública. Ressalte-se que foram encaminhados dois comunicados anteriores, alertando para o corte do
ponto: o primeiro endereçado para os funcionários deste órgão e o
segundo direcionado ao setor de Recursos Humanos.
JOÃO HENRIQUE MESIANO PRACIANO
Diretor de Recursos Humanos
Fonte: disponível em:<http://www.advocaciapublica.com.br/site/index.php?option=com_content&task=view&i
d=275&Itemid=1>Acessado em 17 de abril de 2010
Os termos destacados primeiro e segundo retomam um termo expresso anteriormente (anáfora) comunicado, substituindo-o como núcleo do sintagma nominal. De acordo com Koch (2007) essa substituição ocorre quando um componente é retomado ou precedido por uma
pro-forma (elemento gramatical representante de uma categoria como,
por exemplo, o nome; caracteriza-se por baixa densidade semântica:
apresenta as marcas do que substitui).
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Quanto aos critérios de classificação do numeral Câmara Júnior
(1970) afirma que não devemos observar o critério semântico isoladamente visto que o sentido não é um conceito independente. Este se
encontra relacionado à forma, ou seja, o critério semântico ( relativo à
significação) e o critério mórfico (relativo às propriedades formais) se
associam de maneira muito estreita, pois a palavra é uma unidade de
forma e sentido.
Em vista disso, o autor supracitado ressalta que o critério mórfico
parece ser o fundamento primário para a classificação dos vocábulos
formais em português. Esta posição é justificada pelo estudioso ao ressaltar que o critério semântico do conceito numeral isolado não daria
conta de evidenciar a característica de quantificador sendo necessários
os outros critérios (funcional e mórfico).
Dessa forma, constatamos a necessidade de mudanças em virtude
das gramáticas e dos manuais didáticos por ora se centrarem, ora mesclarem esses critérios. Sendo assim, relevante a definição do numeral
utilizar os três critérios, que conjugados, possibilitam um ensino produtivo da Língua Portuguesa vinculado à organização do numeral na
leitura e na produção textual.
Tipos e emprego
do numeral
Os numerais são palavras variáveis que especificam ou modificam
o substantivo ou o substituem como núcleo do sintagma nominal. Indicam quantidade numérica ou a ordem que seres e noções ocupam em
uma sequência (ABAURRE, 2008).
Estes são classificados pelas gramáticas normativas e manuais didáticos em: ordinais, cardinais, multiplicativos, fracionários e coletivos.
Sendo usual a classificação a seguir:
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Quadro 2
Fonte: disponível em: http://diegodg3.blogspot.com/2010/03/modulo1-aula-2-adjetivos-artigos.html
Acessado em 17 de abril
Ordinais
Os ordinais são os numerais que indicam a ordem dos seres em
uma sequência. Bechara (2009) afirma que estes têm pouca frequência
na língua comum, exceto, os casos consagrados pela tradição, e, em
geral, até o número dez ( 4º andar, 2º pavimento, 3ª seção, 5º lugar,
100º aniversário da Fundação).
Todavia, no estilo administrativo e em outras variedades do estilo
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oficial, ocorrem com mais frequência. Estes são empregados da seguinte forma: até o décimo, quando se usam também os algarismos
romanos (estes vão além do décimo). A partir do décimo1, os cardinais
correspondentes. Vejamos o emprego dos numerais cardinais:
Os numerais a seguir apresentam mais de
uma forma: undécimo ou décimo primeiro;
duodécimo ou décimo segundo; catorze ou
quatorze; septuagésimo ou setuagésimo;
septingentésimo ou setingentésimo; nongentésimo ou noningentésimo.
1
a) Na designação de capítulo de livros, séculos, papas e reis usam-se:
Quadro 3:
De 11 em diante – cardinais
Capítulo III (capítulo Capítulo XXII
Capítulo de livros
terceiro)
(Capítulo vinte e dois)
Cronologia dos sécuSéculo XXI
Século V (quinto)
los
(vinte e um)
João Paulo II
Papas
Bento XVI (dezesseis)
(segundo)
João XXIII
Reis
Pedro I (primeiro)
(vinte e três)
REGRA
De 1 a 10 – ordinais
b) Se o numeral estiver anteposto ao substantivo, lemos sempre como
ordinal.
A empresa participou do XI Congresso de Informática.
(décimo primeiro)
c) referindo-se ao primeiro dia do mês, prefere-se o numeral ordinal.
Primeiro de maio é um dia importante para a classe operária.
Cardinais
Os numerais cardinais são aqueles que utilizam os números naturais
para a contagem de objetos, ou até designam a abstração das quantidades: os números em si mesmos. Valem por adjetivos ou substantivos.
Este tipo de numeral é empregado nas seguintes situações:
a) Na indicação de horas e em expressões designativas da idade de
alguém.
É uma hora.
Castro Alves faleceu aos 24 anos.
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b) Na designação de dos dias do mês; se mencionado o substantivo dia
antes do algarismo, fica no singular.
No dia 2 de dezembro nasceu D. Pedro II.
Vale salientar que para se referir ao dia que inicia cada mês, podemos utilizar tanto o cardinal como o ordinal.
No dia primeiro de janeiro nasceu-lhe o segundo filho.
No dia um de janeiro nasceu-lhe o segundo filho.
c) Nos endereços de casas e referências às páginas usam-se os cardinais.
Leiam a página 22 (vinte e dois) do livro de História.
Você rasgou a página 35 (trinta e cinco) do meu livro.
O número da minha casa é 99 (noventa e nove).
Multiplicativos
Os multiplicativos são numerais que indicam aumento proporcional, por meio de múltiplos da quantidade tomada por base. Os mais
usados segundo Bechara (2009) são: duplo ou dobro, triplo ou tríplice, quádruplo, quíntuplo, sêxtuplo, sétuplo, óctuplo, nônuplo, decuplo,
cêntuplo. Conforme exemplo abaixo:
(8)
Fonte: http://i.s8.com.br/images/baby/cover/img9/21356559_4.jpg
O exemplo acima evidencia o numeral multiplicativo tripla em que
percebemos que o produto (fralda de bebês) apresenta uma proteção
três vezes mais que as outras fraldas dado o tempo por 10 (dez) horas.
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Fracionários
Estes numerais indicam diminuição proporcional, por meio de frações da quantidade tomada como base. Conforme exemplo:
Gostaria de ter pelo menos um quinto dos CDs que você tem em casa.
Coletivos
Os numerais coletivos são aquelas palavras que designam uma
quantidade específica de um conjunto de seres ou objetos. São termos
variáveis em número e invariáveis em gênero.
Exemplos: dúzia(s), milheiro(s), milhar(es), dezena(s), centena(s),
par(es), década(s), grosa(s). Podem ter adjuntos introduzidos por preposição para indicar especie. Conforme exemplo abaixo com o vocábulo
metade do preço.
(9)
( Disponível em: http://www.siteclassificados.com/ Acessado em 17 de abril de 2011).
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Atividade I
1) Segundo Bechara (2009) os numerais são palavras de função quantificadora
que denotam valor definido. Como se justifica o numeral como núcleo do
sintagma nominal (Meu primeiro amor), como o substantivo, no gênero textual
abaixo:
Fonte:http://3.p.blogspot.com/_Ci-LydR772Q/S_0Ld8tYKII/
AAAAAAAAAwk/nei3U4iODIM/ s1600/meu+primeiro+amor.jpg
2) Leia o texto a seguir:
[...] Os dados assustaram os pesquisadores: quase todas as amostras datando
de 1990 a 2005 mostravam sinais fortes de redução de calcificação: uma taxa
média de 1,44% de redução ao ano.
Cauteloso, o grupo evita culpar diretamente o aquecimento global pelo fenômeno, mas aponta que dois efeitos causados pelo acúmulo de gases-estufa na
atmosfera são sua causa mais provável: o aumento da temperatura média da
superfície do mar verificado na região, especialmente nas últimas décadas, e a
acidificação progressiva do oceano, causada pelo excesso de CO2 no ar.
Há evidências de que em anos muito quentes os corais sofram um “choque
térmico” e parem de crescer.
O segundo efeito foi descoberto mais recentemente, e os cientistas ainda não
têm uma ideia clara do estrago que ele já está fazendo nos recifes de coral
mundo afora. O mar absorve 42% do gás carbônico produzido por atividades
humanas.
Em contato com a água, o CO2 vira ácido carbônico, o que deixa a água do
mar mais ácida. A acidificação, por sua vez, dissolve a aragonita, privando os
corais e outros seres da matéria-prima de suas carapaças.
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dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
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O problema é preocupante por duas razões. Primeiro, porque os recifes de
coral são as zonas mais biodiversas da Terra e geram uma economia anual de
mais de US$ 30 bilhões em recursos pesqueiros. Segundo, porque as carapaças
de calcário de seres marinhos são uma forma de sequestrar para sempre o gás
carbônico. Se esse sequestro se interrompe, o mundo pode ficar ainda mais
quente no futuro.
(ANGELO, Cláudio. Co2 faz coral australiano parar decrescer. Folha de São Paulo. 2 de jan, 2009.
Disponível em < http://www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/ult10007u485343.shtml >
Acessado em 14 de Janeiro de 2011).
Considerando o posicionamento de Abaurre (2008) acerca do aspecto coesivo
dos numerais que contribuem para a clareza e coesão do texto, antecipando ou
retomando elementos em sequencia e evitando repetições. Há três ocorrências
em que os numerais são usados como recursos coesivos. Identifique em que
parágrafos isso ocorre e explique a função coesiva de cada numeral.
3) Leia o comentário do blog “Hoje eu vou assim”:
Simone Soares disse...
Ana,
Já disse milhões de vezes... Mas não custa repetir..AMO seu blog!!
Os looks são sempre muito criativos!! Adorooo!!
bjaum
Fevereirol 27, 2011
(Disponível em: <http://hojevouassimoff.blogspot.com/2011/04/reinventar.html> Acessado em 17 de abril
de 2011).
(Disponível em: <http://celebridades.uol.com.br/frases> Acessado em 17 de janeiro de 2011).
O termo grifado é classificado como numeral cardinal pela gramática
normativa. Tal classificação está correta? Explique sua resposta a partir do
efeito de sentido ocasionado pelo emprego do numeral.
4) Considerando as pesrpectivas de conceito do numeral (semântica, funcional
e mórfica), analise a proposta de atividade abaixo no contexto do ensinoaprendizagem de Língua Portuguesa.
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
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(ABAURRE, Maria Luiza e PONTARA, Marcela. Gramática: análise e construção do sentido. In: Numeral. São
Paulo: Moderna, 2006, p. 261).
Numeral: um estudo
na visão linguística
Os estudos acerca do numeral são reducionistas, priorizando, apenas o cunho gramatical e não estudam os fenômenos linguísticos de
maneira aprofundada como os do âmbito da sociolinguística variacionista, (PINILLA, 2007, p.181). Isto porque, é comum encontramos nas
gramáticas normativas alguns problemas quanto à definição e classificação das classes de palavras, dificultando ou mesmo limitando a
descrição da variedade do Português, cujos falantes não se baseiam em
regras ou definições estáticas de livros.
Tal fenômeno linguístico é verificado no estudo do numeral em
manuais didáticos do ensino fundamental e médio, cuja classificação
considera apenas o critério semântico, desconsiderando as muitas funções que esta classe de palavra assume em gêneros textuais orais e
escritos.
Entendemos que as gramáticas escolares devem simplificar a linguagem para facilitar o ensino. No entanto, percebemos que essa simplificação em demasia, ocasiona danos ao processo ensino – aprendiLíngua Portuguesa III
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zagem em virtude não expor a língua em sua complexidade.
Bechara (2009) ressalta que seria mais coerente incluir os ordinais,
multiplicativos e fracionários, conforme se apresentem no discurso, no
grupo dos substantivos (dobro, metade, etc) ou dos adjetivos (duplo,
primeiro, etc), como já fizemos com último, penúltimo, anterior, derradeiro entre outros.
Vale ressaltar que o autor supracitado não considera como numerais ordinais, multiplicativos e fracionários, no entanto, insere-os no
capítulo acerca do Numeral. O autor sugere que a classificação fosse
realizada do ponto de vista material, dividindo-os em numerais simples
(cardinais), compostos (indicam adição, ligados pela conjunção e – vinte e dois ) e os justapostos (multiplicativos).
Os cardinais funcionam como adjuntos, como os pronomes adjetivos e adjetivos, e podem substantivar-se, se os seres forem precedidos
de artigos ou de outro determinativo. Estes numerais, em alguns casos,
são utilizados para indicar número indeterminado, conforme os numerais destacados nas frases da semana abaixo:
(10)
“Quero um minuto da atenção de
vocês para falar, façam silêncio“
Luana Piovani, atriz, ao se pronunciar a respeito da agressão sofrida
por Dado Dolabella.
“Para acabar com essa repercussão
negativa, conto o fato em dois minutos “
Viviane Sarahyba, publicitária, exesposa de Dado Dolabella, ao se
pronunciar a respeito da agressão
sofrida por Dado Dolabella.
(Disponível em: <http://celebridades.uol.com.br/frases> Acessado em 17 de janeiro de 2011).
Nos exemplos acima, verificamos a indeterminação dos numerais
um (alguns poucos minutos) e dois (poucas palavras) que apresentam
sentido figurado. Por isso, Travaglia (2003) salienta a importância de
se estudar o caráter funcional do numeral dada as especificidades da
língua. Isto se faz necessário em vista do ensino preparar o aluno para
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o desenvolvimento das competências e habilidades linguísticas.
Cumpre salientar a distinção entre um numeral e um artigo indefinido que segundo Neves (2000), o artigo indefinido tem, frequentemente, um uso não-referencial, aplicando-se a todo e qualquer membro da
classe, grupo ou tipo que é descrito pelo sintagma, constituindo uma
generalização, como em:
(11) Eu adoro tomar um refrigerante bem geladinho assim no verão, sabe?
Em vista disso, ratificamos a ideia de que o sintagma como artigo
indefinido, em princípio, é generalizante, não fazendo referência a um
objeto que seja o único em sua classe. Por definição, o artigo indefinido
afirma a indeterminação do ser em relação à sua classe, não afirmando assim sua singularidade – embora ela exista. O numeral afirma a
singularidade do ser, ou a qualidade de único – embora a indeterminação possa existir.
Segundo Neves (2000), do ponto de vista da quantidade, isso significa que, no caso do artigo indefinido, fala-se de “pelo menos um”,
enquanto, no caso do numeral, fala-se de “exatamente um”. Analisemos o exemplo abaixo:
(12)
Percebemos na tira a ironia, a partir de uma sutil diferença entre o
artigo “um” e o numeral “um”, uma vez que no primeiro quadrinho, os
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insetos se referem ao passarinho, utilizando o vocábulo um em oposição vocábulo dois dito pelo passarinho, predator de insetos.
Ressalte-se que não há a presença da indeterminação com o emprego do um, característica basilar do artigo indefinido de acordo com
a gramática normativa. Essa distinção entre um artigo e um numeral,
em linhas gerais, pode realizar a partir da relação de indeterminação
do artigo indefinido e da relação de singularidade do numeral.
Essa relação de singularidade é evidenciada pelas palavras “dois” e
“um” que são quantificadoras em que assumem a função de numeral,
explicitando a oposição entre um passarinho e dois insetos.
(13)
Apesar disso, em muitos enunciados, tal diferença é neutralizada;
pois fica difícil concluirmos se o que está no primeiro plano é um ou
outro valor. Como em (14):
(14) Pelo menos metade de uma parede de sua sala é coberta com livros
sobre futebol.
Em (14), podemos interpretar o sintagma “uma parede” como sendo apenas uma parede e não duas; ou, ainda sendo uma parede qualquer e não uma parede indeterminada. (LIMA-SILVA, 2004).
Dias (2005) ressalta a necessidade de se trabalhar em sala de aula
todas as nuances do numeral tendo em vista as orientações reflexivas
acerca dessa classe de palavra, ultrapassando o processo de didatização na busca de um equilíbrio, a fim de encontrarmos o papel da
gramática na compreensão do complexo fenômeno da linguagem.
Desse modo, o estudo das classes de palavra numeral carece de
pesquisas no campo gramatical e linguístico, visto que o aluno, como
usuário competente da língua, que sabe usar de maneira adequada o
número possível de recursos dessa língua em relação ao numeral. Interligando a língua em aspectos textuais e gramaticais como duas faces
de uma mesma moeda.
dica. utilize o bloco
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Atividade II
1) Leia a piada:
“A professora do Bocão está corrigindo o dever de casa. Aí,
balança a cabeça, olha para o Bocão e diz:
– Não sei como uma pessoa só, consegue cometer tantos erros.
E o Bocão explica:
– Não foi uma pessoa só, professora. Papai me ajudou.”
(ZIRALDO, Alves Pinto. Rolando de rir. O livro das gargalhadas do Menino Maluquinho. São Paulo:
Melhoramentos, 2001. p. 20)
Explique como os usos do vocábulo uma destacados, no contexto da tira,
contribuem para produzir o efeito de humor.
2) Considerando a afirmação de Lima-Silva (2004) entre a distinção entre
um numeral e um artigo indefinido em muitos enunciados, tal diferença é
neutralizada; pois fica difícil concluir-se se o que está no primeiro plano é um ou
outro valor. Este fenômeno linguístico ocorre na capa da revista Veja abaixo?
Justifique sua resposta.
Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-691dWARBkWY/TXoItmLbyLI/AAAAAAAAA9Q/uH2QXYfIWm8/s1600/capa380.jpg
3) Segundo Câmara Júnior (1970) é comum na linguagem escrita a substituição
dos algarismos por palavras. Este fenômeno linguístico na linguagem
publicitária e cinematográfica é utilizado com o objetivo de apresentar qual
efeito de sentido? Explique a partir do anúncio publicitário e da capa do filme
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dica. utilize o bloco
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“Última parada 174” abaixo:
Fonte: http://1.bp.blogspot.com/_pU8LdZz7POw/TBUTiIx11WI/AAAAAAAAADo/VibF_wyI3Hk/s1600/
marabraz_um_real.jpg
Fonte: http://www.cinepop.com.br/cartazes/ultimaparada174.jpg
4) Leia a notícia a seguir:
Batman Completa 70 Anos!
No ano de seu septuagésimo, o personagem
Batman está em nova roupagem e com um inimigo surge para ameaçar a paz da cidade: o Coringa (Heath Ledger), que inicia uma série de ataques
e ameaça Rachel Dawes (Maggie Gylenhaal)...
Fonte: disponível em: http://alexandrehistoria.blogspot.com/2009/07/batman-completa-70-anos.html>
Acessado em 17 de abril de 2011).
dica. utilize o bloco
O emprego do numeral septuagésimo está adequado de acordo com a gramática
tradicional? Justifique a sua resposta.
de anotações para
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Fonte: http://img34.imageshack.us/
img34/6977/numero23poster02.jpg
Concluindo nossa
conversa...
O estudo dos numerais é fundamental para o melhor conhecimento
das classes de palavras e de seu sentido em português. Estes contribuem para a clareza e coesão do texto, antecipando ou retomando
elemento em sequência e evitando repetições desnecessárias.
O seu conhecimento permite ao usuário da língua desempenhar
uma importante função argumentativa. Na próxima unidade, vamos estudar os Pronomes, que é considerado também um recurso de coesivo
em língua portuguesa.
Leituras recomendadas
Para Assistir
A história de um simplório pai de família Walter
Sparrow ganha um livro
de presente de sua esposa. Chamada “O Número
23”, a obra relata a terrível
obsessão de um homem
com o 23 e como isso começa a dominar a sua vida.
O mais estranho é que diversas passagens do livro reproduzem fielmente
detalhes da vida de Walter – e ele começa a perceber o número 23 em seu
passado e também em seu presente. Tão paranóico quanto o personagem
da história, ele descobre que o livro termina com uma morte brutal.
Para ler
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 17.ed. São Paulo: Contexto, 2002.
Neste livro, a autora identifica os mecanismos de coesão constitutivos do texto e examina, a partir deles,
as classes de palavras, ressaltando os numerais como articuladores textuais e de
sentenças, os conectivos, os processos
de ordenação e de retomada do tema,
os tempos verbais, entre outros fenômenos. Língua Portuguesa III
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Para navegar
http://www.revistalingua.com.br
Site da revista língua portuguesa, que possibilita o
acesso aos artigos publicados na versão impressa
da publicação. Maria Helena de Moura Neves, entre outros gramáticos e linguistas, discutem diferentes aspectos de gramática do português, como o numeral, fazendo
importantes considerações sobre o modo como são descritos pela
gramática normativa e o uso efetivo que deles fazem os falantes.
Resumo
Os numerais são palavras variáveis que indicam a quantidade de
elementos ou a sua ordem de sucessão. A proposta de classificação
do conceito de numeral se processa a partir dos critérios (funcional,
mórfico e semântico). No entanto, as gramáticas escolares e teóricas e
os livros didáticos contemplam apenas a perspectiva semântica, conceituando o numeral como a palavra que dá idéia de número. Este se
subdivide, segundo Bechara (2009) em: cardinal - é o numeral usado
para nomear os algarismos e para designar as quantidades; ordinais indicam a ordem dos seres em uma sequência; multiplicativos - indicam
aumento proporcional, por meio de múltiplos da quantidade tomada
por base; fracionários - ressaltam diminuição proporcional, por meio
de frações da quantidade tomada como base. Por fim, os coletivos
que designam uma quantidade específica de um conjunto de seres ou
objetos.
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Autoavaliação
Como vimos nesta aula, os numerais desempenham um papel fundamental na
produção dos sentidos em nossa língua. Eles podem, também, ser explorados
de modo criativo nos gêneros textuais orais e escritos no contexto pedagógico.
Em vista disso, sugerimos que analise essas questões propostas,
respectivamente na prova do ENADE – 2009, no tópico formação geral, e na
avaliação do vestibular da UEPB de 2007, a partir da perspectiva gramatical e
lingüística do numeral.
dica. utilize o bloco
(Fonte: disponível em <http://enade2009.inep.gov.br/> Acessado em 17 de abril de 2011).
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2ª QUESTÃO
60 NUM BAR.
70 SAIR
100 PAGAR;
A polícia diz:
20 BUSCAR
Esta é uma mensagem que se lê, com freqüência, em vidros de
párabrisa de automóveis. Assinale a alternativa correta.
a) Ela não se constitui como texto, pois nada significa: há números ao lado de expressões da língua portuguesa sem qualquer
relação.
b) Trata-se de um texto verbal coerente, que se manifesta através
de números e palavras, os quais, na escrita, provocam estranheza, mas, lidos, cumprem sua função comunicativa.
c) Constitui-se como um texto não-verbal, escrito, com signos lexicais e numéricos, mas sem qualquer aceitação, devido à ambigüidade de sentido.
d) Não se constitui como texto, pois o jogo arbitrário de números
e palavras a transforma num código sem acesso interpretativo.
e) Trata-se de um texto verbal, escrito, com sentido, porém agramatical, pois não usa veiculadores de ligação para estabelecer
coesão e coerência.
(Fonte: disponível em <http://www.comvest.uepb.edu.br/concursos/vestibulares/vest2007/poring.
pdf> Acessado em 17 de abril de 2011).
“A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao
seu tamanho original.”
(Albert Einstein)
dica. utilize o bloco
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Referências
ABAURRE, Maria Luiza. Português, contexto, interlocução e sentido. São
Paulo: Moderna, 2008.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2009.
DIAS, Luiz Francisco. O estudo das classes de palavras: problemas
e alternativas de abordagem. In: BEZERRA, Maria Auxiliadora e
DIONISIO, Ângela. O livro didático de Português: múltiplos olhares.
3.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
CÂMARA JÚNIOR, Joaquim M. Estrutura da língua portuguesa.
Petrópolis: Vozes, 1970.
CEREJA, Roberto, e MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português:
linguagens. 2.ed. São Paulo: Atual, 2005.
CINTRA, Luís F. Lindley; CUNHA, Celso. Nova gramática do português
contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
KOCH, Ingedore. G. Villaça. O texto e a construção dos sentidos. 9. ed.
São Paulo: Cortez, 2007.
LIMA-SILVA, Lidia. “Um, numeral ou artigo? estudo em Semântica
Formal. In: Seminário do GEL - Grupo de Estudos Lingüísticos do Estado de
São Paulo, Campinas. Caderno de Resumos, 2004.
NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de Usos do Português. São
Paulo: Editora UNESP, 2000.
PERINI, Mário A. Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Parábola
editorial, 2010.
PINILLA, Maria Aparecida. Classes de palavras. In: VIEIRA, Silvia e
BRANDÃO, Silvia (Orgs.). Ensino de Gramática: descrição e uso. São
Paulo: Contexto, 2007, p. 171 – 185.
TRAVAGLIA, Luiz C. Gramática: ensino plural. São Paulo: Cortez, 2003.
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III UNIDADE
Unidade III
PRONOMES: UM ESTUDO
DA REFERENCIAÇÃO EM
LÍNGUA PORTUGUESA
Pronomes: um estudo
da referenciação em
língua portuguesa
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Apresentação
Nesta unidade, estudaremos o processo de referenciação
através do pronome que exerce função nominal, seja para
substituir um substantivo, seja para acompanhá-lo (determinando o seu significado). Quando ocupa o espaço normalmente destinado para substantivos (substituindo-o), faz,
indicando a pessoa (se é 1º, 2º ou 3º pessoa), o número (se
é singular ou plural) e o gênero (masculino ou feminino) da
pessoa do discurso.
Quando apenas acompanha o substantivo, o pronome
modifica, de alguma forma, a relação da pessoa do discurso
com o substantivo que acompanha. Vamos dar continuidade
ao estudo das palavras. Estudando-as em suas seis categorias de classificação.
Para isso, observaremos que os pronomes podem substituir um substantivo, representando-o, assim, temos um
pronome substantivo (Ele prestou socorro). Quando o pronome acompanha um substantivo, determinando-o, temos
pronome adjetivo (Aquele rapaz é belo). Desse modo, fazse necessário estudarmos também a partir das perspectivas
mórfica, semântica e funcional.
Como nas demais aulas, apresentaremos a abordagem
teórica e a linguística da classe de palavra que estudaremos
através de atividades que possam envolvê-lo (a) como um
(a) efetivo (a) usuário (a) da língua.
Lembre-se de que para uma melhor compreensão de
nossos estudos é preciso que você realize todas as atividades
propostas e tire dúvidas quando necessário.
Estamos aqui professores, tutores e seus colegas para
ajudá-los.
Bons estudos!
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Objetivos
Ao final desta unidade, esperamos que você:
• Entenda como se estruturam e se caracterizam os pronomes.
• Empregue os pronomes como elementos coesivos responsáveis
pela reativação do referente em um gênero textual a partir de
uma visão gramatical e linguística.
• Reconheça os efeitos de sentido apresentados pelos pronomes
a partir de uma perspectiva gramatical e linguística.
• Observe os aspectos semânticos discursivos relacionados ao
pronome em situações de interação verbal.
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Para iniciar nossa
conversa...
Amizade poesia1
Disponível em: amizadepoesia.wordpress.
com/doce-mundo-da-internet. Acesso em
22/04/11.
1
Existe uma fatia mínima, mas grandiosa na internet ,
a fatia dos que jorram alma em letras ,
uma fatia dos que choram entre letras,
abraçam o monitor, pedem ajuda….
Sorriem!
Aplaudem aos gestos de doçura,
amizade e conseguem continuar…
Acreditam, não importa rima ou métrica,
eles são emoção,as vezes lenço,
poesia lenitivo, ou poesia que impulsiona,
que levanta e faz nos sentir menos
sozinhos em alguns momentos.
Uma pequena fatia,luminosa,mergulhada
na imensidão da internet!
Leia a tirinha abaixo:
Observe que na tira do Garfield, aparece uma estrutura considerada inadequada pela gramática normativa, embora comum na linguagem coloquial: Eles já não fabricam ela ( comida para gato) mais
fedida e repulsiva.
Como a função sintática a ser exercida pelo pronome, nesse caso, é
de objeto direito do verbo fabricar. A gramática normativa recomenda
o uso de formas oblíquas dos pronomes pessoais (Eles já não a fabricam mais tão fedida e repulsiva).
Nesse sentido, observa-se que o pronome oblíquo está mais restrito
à língua formal nesse contexto. Na fala, especificamente em registro
mais coloquial, a forma do pronome pessoal é mais frequente.
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Em vista disso, percebemos que a função do pronome na língua é
identificar os participantes da interlocução (1ª e 2ª pessoas discursivas)
e os seres, eventos ou situações aos quais o discurso faz referência (3ª
pessoa discursiva).
Os estudos realizados no Brasil, pelos sociolinguistas, ainda não
dão conta de apresentar um perfil da comunidade de fala brasileira
no contexto do estudo do pronome, conforme aponta Mattos e Silva
(2002, p. 305):
Poderia propor que hoje no português brasileiro
se configura não apenas uma diglossia, mas um
continuum dialetal que tem nos extremos as variedades ou dialetos simplificados que são em geral,
a expressão de falantes não urbanos e não escolarizados e no extremo oposto a variedade culta
expressa sobretudo na escrita
que persegue o
normativismo tradicional.
Um exemplo para entender melhor o que ocorre na fala do português brasileiro é o uso do pronome pessoal em detrimento dos pronomes oblíquos. Nessa variação convive o paradigma pronominal ditado
pela norma padrão prescrita pela Gramática Tradicional e o paradigma criado pelo uso linguístico (MATTOS e SILVA, 2002, p 306).
Dessa forma, é relevante que o professor de língua portuguesa ultrapasse atitudes tradicionalistas. Ao discutir em sala de aula, o primeiro passo do professor não será procurar imediatamente os “erros”,
direcionar toda a sua atenção para a localização e erradicação do que
está “incorreto”. Conforme defende Bagno (1999, p 121): “Em vez de
reproduzir uma doutrina gramatical falha e ultrapassada, (...) o professor deverá refletir (...) com bases nos pressupostos mais criteriosos da
ciência linguística moderna”.
Conceito e critérios de
classificação dos pronomes
Os pronomes são definidos, no âmbito da Morfologia, como unidades de expressão que designam os seres sem dar-lhes nomes e tampouco qualidade, na medida em que apenas indicam as três pessoas
do discurso: a que fala = 1ª pessoa; a com quem se fala = 2ª pessoa
e a pessoa ou coisa de que se fala = 3ª.
Monteiro (2002) afirma que o pronome tem a função de substituir
o nome, em um texto, a fim de se evitar a repetição de uma mesma
palavra, além de esclarecer que, por esse motivo, a classe de palavras
com tal função recebeu o nome de pronome (pro: em lugar de; nome:
nome).
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Ademais, essa característica de substituto do nome, atribuída ao
pronome segundo Neves (2000) ocorre devido ao traço básico de definição a natureza substitutiva dessa classe de palavras, examinada especialmente na organização frasal. Colocada, porém, a base do exame
na instância do discurso e em relação com a coesão textual, releva,
inicialmente, a natureza referencial de um grupo de subclasses da classe tradicionalmente considerada como dos pronomes.
Essa ideia de substituição não se aplica, entretanto, a toda classe
de pronomes, sendo restrita a alguns deles. Formas pronominais que se
caracterizam como determinantes, particularmente os possessivos, não
podem substituir um nome. Ressalte-se o fato da substituição não ser
necessariamente do nome, mas de todo o sintagma nominal.
Nessa perspectiva, os pronomes são concebidos como classe de palavras destituída de conteúdo semântico, na medida em que designam,
sem nomear, quando tomadas de forma isolada; mas elas se revestem
dessa carga de conteúdo, quando empregadas pelo exercício da fala:
tempo em que se remete ao modelo de situação e ao contexto de conhecimentos enciclopédicos arquivados na memória semântica dos usuários,
ou seja, são os elementos pronominais que se fazem signos da dimensão
lexical da língua, em situação de uso (BECHARA, 2009).
O autor supracitado reformula a concepção de pessoa pelo ponto
de vista de Benveniste (1989), diferenciando aquelas que participam
efetivamente do jogo da interlocução, mediada por atividades de fala
(1ª e 2ª) e aquela/aquilo de que se fala (3ª pessoa). Qualifica a terceira pessoa como indeterminada, na medida em que ela apenas aponta
para a outra “pessoa” ou “coisa” de que se fala, mas não participa do
jogo da enunciação como pessoa propriamente dita.
Para esse gramático, a terceira pessoa se institui e se faz representar no discurso pela flexão verbal. Em nota de rodapé, ele aponta para
o fato de se poder fazer uso da segunda pessoa no fluxo das atividades
de fala, quer oral ou escrita, de modo impessoalizado.
Nesse sentido, a noção de pessoa remete à situação linguística,
à enunciação, ao intercâmbio verbal, que pressupõe duas pessoas: o
locutor (o eu) e o interlocutor (o tu). A dita terceira pessoa está fora
do eixo dialógico, caracteriza-se como a “não pessoa” (BENVENISTE,
1989) em oposição às verdadeiras pessoas do discurso ( quem fala, eu,
versus quem ouve, tu). A não – pessoa é o próprio objeto da enunciação, o enunciado.
Quanto à classificação, os pronomes podem ser: pessoais, possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos e relativos. Esses tipos
de pronome indicam, respectivamente, as pessoas do discurso; a posse
em referência às pessoas do discurso; a posição, o lugar ou a identidade dos seres em relação às pessoas do discurso; a terceira pessoa
quando tem sentido vago ou exprime quantidade indeterminada; a interrogativa e se referem de modo impreciso à 3ª pessoa (normalmente
são os pronomes indefinidos que, quem, qual e quanto que se empregam nas perguntas); os elementos que se referem a um termo anterior
chamado antecedente.
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Cumpre salientar que os pronomes desempenham “funções equivalentes às exercidas pelos elementos nominais” (CUNHA, 2001, p. 268)
e, segundo Infante (2001), servem para representar um substantivo ou
para acompanhá-lo, determinando-lhe a extensão do significado.
No primeiro caso, os pronomes exercem a função de um substantivo e recebem o nome de pronomes substantivos: “Lembranças a todos
os teus” (CUNHA, 2001, p.268); no segundo caso, são chamados de
pronomes adjetivos porque modificam o substantivo que acompanham:
“Teus olhos são dois desejos” (CUNHA, 2001, p.268). Os pronomes
substantivos aparecem isolados na frase, e os pronomes adjetivos são
empregados junto de um substantivo.
Bechara (2009) ressalta que há pronomes que são exclusivamente substantivos (absolutos) ou adjetivos (adjuntos), enquanto há outros
que podem aparecer as duas funções, como nos exemplos de Cunha
(1980, p.199): Meu livro é este; este livro é meu. O possessivo meu,
no primeiro exemplo, exerce a função de adjetivo e no segundo de
substantivo. O possessivo este, também exerce ambas as funções: substantivo na primeira frase e adjetivo na segunda.
Neves (2000) ressalta que a função do pronome pode ser de substantivo ou adjetivo. Quando o pronome substitui um substantivo na
frase, denomina-o de pronome substantivo. Quando o pronome acompanha um substantivo, determinando o seu significado, denomina-o de
pronome adjetivo. Analisemos essa frase da semana:
(1)
“Ela não entende nada de dinheiro. Por
isso, entreguei seu destino nas mãos de
Deus.” (risos)
Juliana Paes, atriz, ao se pronunciar a
respeito do salão inaugurado em que sua
mãe é a gerente.
(Fonte: Disponível em: <http://celebridades.uol.com.br/frases> Acessado em 17 de janeiro de 2011)
O enunciado acima apresenta dois pronomes ela e seu. O primeiro é um pronome pessoal reto da 3° pessoa Ela, nessa frase, poderia
ser qualquer pessoa, como por exemplo: Maria não entende nada de
dinheiro. Nesse caso, não seria um pronome, mas sim um substantivo
próprio (Maria), a exercer a função de núcleo do sujeito.
Em contrapartida, o segundo pronome, classificado como o pronome possessivo masculino da 3° pessoa seu acompanha o substantivo
destino, determinando-o, pois não é o meu destino, ou o destino de
qualquer outra pessoa, é o seu destino. Nesse caso, o pronome se
assemelha a um adjetivo, concordando em número e gênero com o
substantivo que acompanha.
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Nesse sentido, Câmara Júnior (1970, p.178) considera o papel que
cabe ao vocábulo na sentença e explica que:
Há a função de substantivo, que é a do nome ou
pronome tratado como centro de uma expressão,
ou termo determinado... E há a função de adjetivo,
em que o nome ou pronome é o termo determinante
e modifica um nome substantivo ou tratado como
determinado. .... Um terceiro conceito tradicional,
de natureza funcional também é o advérbio. Trata-se de um nome, ou pronome, que serve de determinante a um verbo: fala eloquentemente, fala aqui.
Em vista disso, os pronomes pessoais serão sempre pronomes
substantivos, pois sempre se pode substituí-los por um substantivo, ou
representá-lo, e vice e versa; os demais pronomes são, normalmente,
pronomes adjetivos, mas podem assumir a forma substantiva dependendo do caso, como por exemplo:
(2) Aqueles são os inimigos
Neste exemplo, aqueles exerce a função substantiva, podendo até
mesmo ser substituído por um substantivo, como por exemplo: Os alemães são os inimigos. Portanto, pronome substantivo.
Os pronomes pessoais de 1ª e 2ª pessoas (exofóricos), conforme
Koch (2001), são formas referenciais presas a elementos situacionais,
como no exemplo:
(3)
(Fonte: Disponível em: <http://www.blogintellectus.com.br/historia/ index.php/2011/05/o-mec-e-opreconceito-linguistico/. Acessado em 20 de maio de 2011).
No início do texto acima, o pronome eu só pode ser identificado
exaforicamente, o referente do pronome pessoal é situacional, está fora
do texto, remete à identidade do autor do texto, do autor Eduardo Monty.
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Os pronomes de 3ª pessoa (endofóricos) são livres, pois têm função
“pronominal propriamente dita” (KOCH, 2001, p.33). De acordo com
Benveniste (1995), eles possuem a qualidade de substitutos e, portanto,
são desprovidos de sentido por si só; somente a especificação de seu
referente pode esclarecer sua função comunicativa. É o caso observado
por Koch (2001) em relação a estes pronomes em função anafórica:
(4)
• O juiz 1 condenou o réu 2 a dez anos de prisão. Ele 1 achou
essa pena condizente com as circunstâncias do crime.
• O juiz 1 condenou o réu 2 a dez anos de prisão. Ele 2 não se
• conforma com o rigor da pena.
Fonte: Koch (2001, p.37).
Nos dois exemplos, o contexto estabelecido pelos elementos linguísticos é que esclarece a relação de remissão. No primeiro, o contexto nos leva a perceber que o juiz (e não o réu) poderia crer que a pena
é condizente e, no segundo, somente o réu se relaciona com o ato de
inconformidade com o rigor da pena.
Quanto ao conceito de pronome os critérios de classificação do
pronome, percebe-se a relação destes com a referenciação. Conforme
quadro abaixo:
Quadro 1
Classe/ critério
PRONOME
Funcional (função ou papel
na oração)
Palavra que substitui
o núcleo ou funciona
como termo determinante do núcleo de uma
expressão
Mórfico (caracterização da
estrutura da palavra)
Semântico (modo de
significação)
Palavra formada unicamente por morfema
gramatical.
Palavra que serve para
designar as pessoas ou
coisas, indicando-as (
não nomeia as pessoas
ou coisas nem as qualidades, ações, estados,
quantidades etc). Pronomes: pessoais, possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos
e relativos.
Fonte: PINILLA (2007, p. 178)
Percebemos a partir do quadro acima que do ponto de vista semântico, os pronomes são caracterizados porque indicam dêixis (apontar
para), isto é, estão habilitados como verdadeiros gestos verbais, como
indicadores, determinados ou indeterminados, ou de uma dêixis contextual a um elemento inserido no contexto, como os pronomes relativos (NEVES, 2000). Isto porque, a dêixis poderá ser anafórica se apontar para um elemento já enunciado ou concebido, ou catafórica, se o
elemento ainda não for enunciado ou não está presente no discurso.
Ressalte-se que a dêixis envolve a 3º pessoa do discurso só que de maneira negativa, em relação ao eu e o tu, que tem localização definida.
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Por seu critério dêitico, os pronomes mostram o ser no espaço (critério semântico) e apresentam categorias de pessoa gramatical, de casos
e a existência de gênero neutro. Essas três noções são expressas lexicalmente e não por meio de flexões (critério mórfico).
Com base nesses argumentos, Câmara Júnior (1989, p.69) propõe
a divisão das classes de palavras em nomes, verbos e pronomes, propondo um novo tipo de classificação para pronomes, trabalhando com
os critérios morfo-semântico e funcional. Ao conceituar pronome como
a palavra que substitui ou acompanha um substantivo (nome – critério
funcional) em relação às pessoas do discurso ( critério morfossemântico). O critério morfosemântico no qual duas classificações (morfológica e semântica) estão intimamente ligadas, pois uma palavra é uma
unidade de forma e sentido (o sentido ou significado de um vocábulo
só é definido com o auxílio do conceito formal ou significante).
Pinilla (2007, p. 108) evidencia que os nomes têm essencialmente,
no plano semântico, um caráter representativo ou simbólico, ao passo
que os pronomes se caracterizam como formas indicativas que situam
os seres ou/coisas no mundo biossocial.
Outro ponto relevante são os pronomes pessoais do caso oblíquo,
porque entre gramática normativa e o uso popular é possível verificar
dificuldades e caminhos para o ensino e aprendizagem desse tópico
gramatical numa concepção descritiva e produtiva de ensino. É necessário fazer referência especialmente aos pronomes pessoais do caso
reto, pois eles assumem em muitos casos, tanto na oralidade quanto na
escrita informal, o lugar dos oblíquos, sendo este um dos fatores que
dificulta a aprendizagem da norma padrão de uso dos pronomes oblíquos. É ainda um fato bastante comum no português brasileiro a estratégia de apagamento do pronome pessoal oblíquo, resultando num
vazio na posição de objeto.
Para Neves (2000), os equívocos de uma classificação tradicional
são verificados ao se observar apenas os pronomes classificados pelas
gramáticas, não concebendo o uso da língua como você. Se morfologicamente o pronome é a palavra variável que substitui ou acompanha
um substantivo (nome), em relação às pessoas do discurso. ”Essas pessoas do discurso também podem ser chamadas de pessoas gramaticais
e são três a 1ª pessoa (quem fala – eu, nós), a 2ª pessoa (com quem
fala – tu, vós) e a 3 pessoa (de quem se fala – ele, eles, ela, elas).
Para comprovar a heterogeneidade dos critérios de classificação,
Said Ali (1964, p. 61) conceitua pronome como “a palavra que denota o ente ou a ele se refere, considerando-o apenas como pessoa do
discurso. Pessoa do discurso se chama o indivíduo que fala, o indivíduo com quem se fala e a pessoa ou cousa que se fala”. Essa é uma
classificação baseada no critério semântico, visto que o autor apenas
aponta o valor ou significado do pronome. Em contrapartida, Cunha
(2001) apresenta somente uma classificação sintática, pois apenas são
demonstradas as funções que os pronomes podem exercer dependendo da oração em que estão.
Outra importante característica do português brasileiro é a utilização
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do pronome você (definido pela gramática normativa como pronome de
tratamento) como pronome pessoal reto e também em alguns casos como
pronome oblíquo, que será estudado na próxima unidade. Constatamos a
sua utilização na linguagem publicitária, vejamos anuncio abaixo:
(5)
(Fonte: disponível em: <http://www.netvasco.com.br/news/noticias15/65708.shtml > Acessado em 20 de
maio de 2011).
Considerando o exemplo acima, percebemos que textos publicitários exploram o emprego do você, em detrimento do tu, por desejarem
atingir um público amplo, revelando-se assim a aceitação de seu caráter suprarregional e a intimidade que o brasileiro de diferentes classes
sociais e culturais tem com o pronome: é por meio do você que se vende um produto por todo o território nacional. Além disso, a publicidade
utiliza aspectos do nosso caráter, revelados pelo estudo, a fim de tornar
seus intentos bem sucedidos.
Outra situação de discrepância entre o que apregoa a gramática
normativa e o que se usa diariamente no português do Brasil é a presença de sintagmas nominais como a galera, a gente, o pessoal, a turma,
empregados como pronome pessoal reto e oblíquo para as 1º e 3º
pessoas do plural (LOPES-ROSSI-2006).
Desse modo, o conceito de pronome e os critérios de classificação
apontam para a identificação de diferentes pontos de vista pelos quais
os pronomes têm sido tratados por nossa gramática tradicional
contemporânea. Isto porque, podemos considerar que os padrões
científicos no campo da ciência são incorporados a essa gramática
tradicional, por meio de uma transposição didática que implica a recontextualização de heranças da tradição e, por isso, não rompe com
as mesmas. Percebemos uma ampliação dos estudos acerca dos pronomes em gêneros escritos e orais.
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Tipos de pronome
Ao tratar-se de pronomes tem-se a definição inicial e gramatical
de elementos que retomam substantivos. Tais elementos dividem-se em
grupos de acordo com a função que empenham em um texto. Conforme quadro a seguir:
Quadro 2
Pronomes Pessoais
Designam as pessoas do discurso.
Eu comprei um carro.
Pronomes Possessivos
Atribuem um substantivo a uma
pessoa do discurso.
O meu carro é novo.
Pronomes Demonstrativos
Situam um substantivo em relação
às pessoas do discurso.
Aquele é o meu carro.
Pronomes Indefinidos
Indeterminam um substantivo.
Ninguém viu o carro.
Pronomes Interrogativos
Indicam o elemento sobre o qual s
deseja obter uma informação.
Quem comprou um carro?
Pronomes Relativos
Substituem os antecede.
Este é o carro que comprei.
Verificamos facilmente que todos esses elementos grifados são fóricos, isto é, apontam para uma recuperação da informação seja na situação, seja no texto. Segundo Neves (2000) Uma primeira especificação
nos diz que segundo:
a) os pessoais e os possessivos constituem itens de referência pessoal: eu, vocês, nosso;
b) os pronomes demonstrativos e os artigos definidos, por sua vez
(tradicionalmente vistos como classes desvinculadas), fazem uma
referência demonstrativa: ou de exófora ou de endófora (anáfora e
catáfora): os, a, essa;
c) os pronomes indefinidos do tipo de outro, finalmente, fazem referência comparativa.
Nesse sentido, as gramáticas e os manuais didáticos não divergem
quanto aos tipos de pronomes, empregaremos a classificação de Bechara (2009):
Pronomes pessoais
Os pronomes pessoais substituem os nomes e indicam as pessoas
do discurso. Os pronomes pessoais dividem-se em: retos e oblíquos.
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Pronomes pessoais retos e oblíquos
Quadro 3
PESSOAS DO DISCURSO
RETOS
OBLÍQUOS
1ª pessoa singular
Eu
Me, mim, comigo.
2ª pessoa do singular
Tu
Te, ti, contigo.
3ª pessoa do singular
Ele/ela
O, a, lhe, se, si, consigo.
1ª pessoa do plural
Nós
Nos, conosco.
2ª pessoa do plural
Vós
Vos, convosco.
3ª pessoa do plural
Eles/elas
Os, as, lhes, se, si, consigo.
Classificamos os pronomes em retos ou oblíquos de acordo com a
função que exercem na oração. Os pronomes do caso reto funcionam
como sujeito da oração (Eles acordaram cedo para viajar). Enquanto,
os pronomes oblíquos funcionam como complemento e se dividem em:
átonos que não são precedidos por preposição (Os professores nos
orientaram corretamente) e os tônicos que são precedidos por preposição (Ele deu um excelente livro a mim) e tônicos.
Pronomes pessoais de tratamento
Os pronomes de tratamento são aqueles que indicam um trato cortês ou informal, sempre concordam com o verbo na terceira pessoa.
Quadro 4
PRONOME
ABREVIATURA
USADO PARA
Você
V.
Tratamento familiar
Senhor (a)
Sr. Sra.
No tratamento respeitoso às
pessoas que se mantém um certo
distanciamento.
Vossa Senhoria
V.S.ª
Pessoas de cerimônia,
principalmente em
correspondências comerciais.
Vossa Excelência
V.Ex.ª
Altas autoridades: presidentes da
República, senadores, deputados.
Vossa Eminência
V.Em.ª
Cardeais
Vossa Alteza
V.A.
Príncipes e duques
Vossa Santidade
V.S
O Papa
Vossa Majestade
V.M.
Reis e rainhas
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Pronomes possessivos
São aqueles que se referem às pessoas gramaticais e dão a idéia de
posse (Não abra a minha pasta).
Quadro 5
PESSOA DO DISCURSO
PRONOME POSSESSIVO
1ª pessoa singular
Meu, minha, meus, minhas.
2ª pessoa singular
Teu, tua, teus, tuas.
3ª pessoa singular
Seu, sua, seus, suas.
1ª pessoa plural
Nosso, nossa, nossos, nossas.
2ª pessoa plural
Vosso, vossa, vossos, vossas.
3ª pessoa plural
Seu, sua, suas, suas.
Perini (2010, p. 305) afirma que há momentos em que os pronomes possessivos não exprimem a idéia de posse, mas indica respeito
(Meu senhor permita-me ajudá-lo), aproximação (Estamos orgulhosos
por seus cinquenta anos) intimidade (Escutávamos emocionados nosso
Caetano Veloso).
Pronomes demonstrativos
São aqueles que indicam o lugar, a posição que um ser ocupa em
relação às pessoas do discurso.
Quadro 6
variáveis
Este, esta,
estes, estas.
PRONOMES
DEMONSTRATIVOS
Esse, essa,
esses, essas.
Aquele,
aquela,
aqueles,
aquelas.
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Invariáveis
Posição no
espaço
Posição no
tempo:
Isto
Esta indica
que a caneta
(está próxima
da pessoa que
fala).
Esta semana
comprei meu
carro. (Esta
se refere
à semana
presente,
atual).
Isso
Esse carro
não é o teu?
(Esse indica
que o carro
está próximo
da pessoa que
ouve).
Esse mês
batemos
nossas metas.
(Esse se refere
a um passado
próximo).
Aquilo
Aquele livro
não pode ficar
lá na mesa.
Aquele indica
que o livro
está distante
da pessoa
que fala e da
pessoa que
ouve.
Aquele mês foi
péssimo para
o comércio.
(Aquele se
refere a um
passado mais
distante).
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Pronomes relativos
São os que relacionam uma oração a um substantivo que representa. Também se classificam em variáveis: o(a) qual, os(as) quais,
quanto(s), quanta(s), cujo(s), cuja(s) e invariáveis: que, quem, onde.
(6) O perdão de todos, o qual agradeço, é importante pra mim.
Quadro 7
Variáveis
Invariáveis
o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos,
cujas, quanto, quanta, quantos, quantas
que
quem
onde
Pronomes indefinidos
Pronome indefinido é aquele que se refere à terceira pessoa do
discurso de modo impreciso, indeterminado, genérico. Este pode ser
variável e invariável. Em muitas situações, temos não um pronome indefinido, mas um grupo de palavras com o valor de um pronome indefinido. São as locuções pronominais indefinidas: Quem quer que, cada
qual, todo aquele, seja quem for, qualquer um entre outras. Verifiquemos o
pronome todos no anúncio abaixo:
(7)
(Fonte: disponível: <http://tabuleiropublicitario.blogspot.com/2010_04_01_archive.html> Acessado em 20 de
maio de 2011).
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Quadro 8
Pronomes interrogativos
São aqueles usados na formulação de perguntas diretas ou indiretas, referindo-se à 3° pessoa do discurso. Os principais pronomes interrogativos são: invariáveis: quem, que e variáveis: qual, quais, quanto, quantos, quanta, quantas. Como no exemplo - Qual é seu nome?
Desse modo, os pronomes podem ser classificados de acordo com
o contexto no qual estão inseridos, ou seja, não é necessário estudar
ou ensinar apenas a nomenclatura gramatical, mas também perceber
a necessidade dessa teoria dentro do texto. Um dos grandes problemas
atuais que assustam alunos e professores é a produção de textos, pois
nos livros didáticos e na escola o que se aprende são as nomenclaturas
e classificações dos pronomes através de frases isoladas, sendo que
a maioria das necessidades dos estudantes é saber aplicar e utilizar a
teoria vista em seus textos.
Atividade I
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
1) Leia a proposta de aula acerca do ensino do pronome:
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dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
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a) Responda às questões postadas na proposta acima. Em seguida, analise
a proposta, evidenciando o seu caráter positivo e negativo desta, tendo como
referência a eficiência quando ao ensino/ aprendizagem do pronome.
b) A proposta de ensino do pronome contempla os três critérios de classificação
do conceito de pronome proposto por Pinilla? (2007, p.197) Fundamente a sua
resposta.
2) Observe os textos abaixo:
TEXTO 1
(Fonte: disponível em <http://chargesprotestantes.blogspot.com/> Acessado em 20 de maio de 2011).
TEXTO 2
dica. utilize o bloco
a) Explique a crítica presente nos dois textos acima.
de anotações para
responder as atividades!
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b) Os pronomes têm a função de substituir o nome, em um texto, a fim de se
evitar a repetição de uma mesma palavra. (MONTEIRO, 2002, p. 234). Nessa
perspectiva, o pronome relativo é definido como os pronomes que relaciona
uma oração a um substantivo que representa. Podemos afirmar que a palavra
que presente nos dois textos pode ser classificado como um pronome relativo?
Justifique a sua resposta.
c) Considerando que uma das principais características do pronome é a sua
função dêitica, explique o que é retomado pelo pronome que na tira e comente
o recurso dêitico empregado nessa retomada. Fundamente a sua resposta.
c) Perini (2010, p. 305) afirma que há momentos em que os pronomes
possessivos não exprimem a idéia de posse, mas indica respeito, aproximação,
intimidade. Podemos considerar que o pronome possessivo nossa utilizado
nos dois primeiros quadrinhos da tira de Malfada apresentam ideia de posse?
Comente a sua resposta.
3) Assista ao vídeo abaixo, pesquisando no endereço eletrônico abaixo:
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=aC3u_hxa4JQ&feature=related
a) Após a apresentação do vídeo, qual é o papel dos pronomes em um texto?
b) De acordo com Koch (2001, p. 89) Coesão textual se relaciona com o modo
como os componentes do universo textual conectam-se numa relação de
dependência para a formação de urna sequência linear. Em outras palavras,
a coesão diz respeito aos processos de sequencialização que asseguram
urna ligação linguística entre os elementos da superfície textual. Por que os
pronomes são considerados recursos coesivos?
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Abordagem linguística do
pronome: um estudo da
referenciação no contexto
escolar
A abordagem do ensino de gramática, especificamente, o pronome, ainda está pautada no ensino de regras da norma culta, uma vez
que as aulas que versam acerca dos pronomes através de explanações
teóricas do professor e a aplicação do conteúdo em exercícios de complete as lacunas ou de colocação pronominal.
Se o ensino do pronome fosse realizado com base em sua função
textual, para que o aluno aprendesse tanto as regras gramaticais como
a relação dos pronomes dentro de uma estrutura com sentido, talvez
a aprendizagem fosse obtida com mais sucesso. No momento em que
se trabalha com o texto, é possível que o aluno realize a retomada de
outros elementos e idéias dentro da estrutura textual.
Nesse sentido, discutimos a possibilidade de estudar conteúdos gramaticais como os pronomes a partir de gêneros textuais e discursivos,
tornando-se uma alternativa interessante à medida que sinaliza para
os alunos que estes conteúdos gramaticais abordados na escola têm
funcionalidades específicas, dependendo do gênero em que aparecem.
Dias (2005, p. 128) ressalta que a lingua(gem) é uma atividade de
produção de significação realizada por interlocutores em interação. A
partir desta interação, estudos linguísticos realizados por meio desta
perspectiva visam explicitar as operações linguístico-textual-discursivas
responsáveis por gerar significação veiculada pela língua(gem), que
condensa, cristaliza e reflete as práticas sociais dos enunciadores/interlocutores no contexto dos pronomes.
Frente às constatações de que os pronomes estão inseridos nos diálogos, na fala dos brasileiros, Fernandes (2009) observa a possibilidade de ressignificar seus conteúdos, ou seja, sugere que o pronome de
tratamento passe a ser discutido como pronome pessoal, por exemplo,
como você. Explicitado no exemplo a seguir:
(8)
(Fonte: SILVA, Gislaine. Os traços prosódicos a partir da escrita digital no gênero Orkut. In: Anais da XV
Semana de Letras da UEPB. Campina Grande: Realize, 2010).
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Diante do exposto, o estudo de gramática deveria partir de uma
concepção descritiva e produtiva para depois chegar a uma concepção
normativa prescritiva, ou seja, propiciar uma reflexão por parte do aluno acerca das variações existentes na língua. Estimulá-lo a observar as
opções possíveis e as implicações sociais do uso de uma ou de outra
possibilidade do emprego do pronome e os efeitos de sentido ocasionados por estas escolhas.
Koch (2004, p 64) afirma que ao produzir um gênero textual ou discursivo, o aluno seleciona as palavras, estruturas, regras e outros. Esse
processo se coaduna com a função referencial dos pronomes em que
o estudante produz seu texto utilizando a coesão textual conceituada
por Koch (2001) como a ligação, a conexão entre as palavras de um
texto, por meio de elementos formais, que assinalam o vínculo entre os
seus componentes, sendo estabelecida por meio de diversos elementos
linguísticos.
Dentre esses elementos, os pronomes assumem grande relevância,
principalmente, pelo fato de ser por meio deles que se faz a retomada
do referente, isto é, aquilo a que o texto se refere. Todos os tipos de
pronomes podem funcionar como recurso de referência a termos ou
expressões anteriormente empregados. Conforme quadro a seguir:
Quadro 9
Pessoal
REFERÊNCIA
Demonstrativa
eu
este, esse
meu
aquele
Comparativa
outro
Uma dessas diferentes estratégias de referenciação textual é o uso
de pronomes, que foi sempre descrita pela linguística como “pronominalização” (KOCH, 2008). Essa classe de palavra exerce fundamentalmente a função de referenciação por meio de palavras fóricas2 que
indicam os participantes da interlocução e da remissão textual. Os participantes da interlocução englobam o falante e o ouvinte, ou seja, 1ª
e 2ª pessoas do discurso e, portanto, são exofóricas.
Lat. fero, gr. phéro: levar, trazer (NEVES,
2000, p.389).
2
Nessa perspectiva, os elementos de remissão textual são de terceira
pessoa, são endofóricos, são responsáveis pela ligação entre os elementos do texto e não resgatam nem o falante nem o ouvinte, por isso
podem ser chamados de não-pessoa, segundo Neves (2000) e Bechara
(2004).
A característica fórica dos pronomes é o indicador de dêixis (o
apontar para), isto é, os pronomes “estão habilitados, como verdadeiros gestos verbais, como indicadores, determinados ou indeterminados,
ou de uma dêixis contextual a um elemento inserido no contexto” (BECHARA, 2009, p.162).
O trabalho de Mondada e Dubois ([1995] 2003) é considerado,
pelos estudiosos brasileiros que pesquisam a referenciação, um dos
estudos pioneiros sobre a matéria. Nesse trabalho, as autoras contraLíngua Portuguesa III
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põem, a uma visão da língua como representação fiel da realidade
(sendo língua e realidade instâncias estanques e estáveis), uma outra
visão: a de que os elementos linguísticos e os elementos mundanos são
inerentemente instáveis e só passam a adquirir significação a partir de
interações discursivas.
A proposta das autoras sedimenta uma posição disseminada em vários estudos lingüísticos de orientação sociocognitivista, de que os usos
linguísticos revelam não a realidade, mas sim uma percepção do real.
Isto quer dizer que a experiência que os sujeitos têm do real sofre obrigatoriamente elaborações e reelaborações cognitivas por parte desses
sujeitos, que explicitam essas (re)elaborações por parte da linguagem.
Em suma, a visão de Mondada e Dubois a respeito da instabilidade
constitutiva das entidades da língua e do mundo aponta que uma mesma “realidade” pode ser expressa sob diversas maneiras, dependentes
de vários fatores (intencionalidade, consideração da aceitabilidade,
momento sócio-histórico etc.).
Ressalte-se que o estudo da referenciação, que aborda, dentre outras questões, como objetos-de-discurso são construídos e recategorizados em um texto. Considerando-o como unidade básica de manifestação da linguagem, uma vez que o homem se comunica através
de textos. Além disso, existem diversos fenômenos linguísticos que só
podem ser explicados no interior do mesmo.
Koch (2004), ao estudar a referenciação, explicita sua concordância com Mondada e Dubois, abonando destaque ao fato de que a
categorização deve ser entendida como um problema de decisão que
se coloca aos atores sociais, no sentido de que a questão não é avaliar
a adequação de um rótulo correto, mas descrever os procedimentos
linguísticos e cognitivos por meio dos quais os atores sociais constroem
os referentes.
De acordo com este contexto, concordamos com Koch (2004) ao
ressaltar que a referência deve ser entendida como aquilo que designamos, representamos e sugerimos quando usamos um termo ou criamos
uma situação discursiva referencial com essa finalidade, uma vez que,
“a referência diz respeito, sobretudo, às operações efetuadas pelos sujeitos à medida que o discurso se desenvolve.” (p. 58)
E, neste sentido, são as reflexões da autora supracitada que nos
dão respaldo: os processos de referenciação são escolhas do sujeito
em função de um querer-dizer. Os objetos-de-discurso não se confundem com a realidade extralinguística, mas (re)constroem-na no próprio
processo de interação. Desta forma, interpretamos e construímos nossos mundos por meio da interação com o entorno histórico e sócio-cultural. (p.61), visto que a discursivação ou textualização do mundo,
por intermédio da língua(gem), se dá a partir de uma (re)construção
interativa do próprio real.
Essas mudanças são percebidas através da utilização de diferentes
expressões referenciais (e estratégias de referenciação) para um mesmo
referente, como se pode perceber pelo exemplo a seguir:
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(9)
(2) Após a partida e nos dias seguintes a ela, a comissão técnica do Brasil divulgou o que ocorrera com
o Fenômeno. Logo após o almoço que antecedeu a
decisão o jogador voltou para seu quarto, onde minutos depois teve uma convulsão. Quase todos seus
companheiros viram a forte cena de Ronaldo se contorcendo e muitos ficaram claramente abatidos.
(Fonte: disponível em: <http://gazeta esportiva. net> Acessado em 20
de maio de 2011).
No excerto acima, um mesmo objeto-de-discurso (ancorado no
objeto-do-mundo, que é o jogador Ronaldo) apresenta-se sob formas
diferentes (diz-se que ele sofre recategorizações). Inicialmente, opta-se
por utilizar o “apelido” do jogador, que dá uma idéia da sua competência profissional excepcional em relação a seus pares. Em seguida,
põe-se em destaque apenas o estatuto profissional do objeto-de-discurso; ao final, o objeto é referido pelo seu nome próprio. Portanto,
um mesmo objeto-de-discurso passou por três formas referenciais, que
modificaram seu status ao longo do texto.
Para analisar essa soma progressiva, Koch (2002) aborda três estratégias de referenciação que possibilitam as relações sequenciais por
meio das quais se procede à categorização ou recategorização discursiva dos referentes, são elas:
1) Uso de pronomes ou elipse (pronome nulo)
2) Uso de expressões nominais definidas
3) Uso de expressões nominais indefinidas
Na explicitação da primeira estratégia, a referenciação por meio de
pronomes, Koch e Elias(2009) afirmam que o pronome eles pode remeter a indivíduos não diretamente inferíveis no texto. Segundo ela, esse
pronome pode retomar a construção de uma classe de indivíduos como
uma totalidade de membros humanos ou restringir essa classe a um determinado grupo ou indivíduo pelo processo de recuperação do conjunto
construído num contexto específico proposto implicitamente no co-texto.
Na segunda estratégia, a autora diz que as expressões ou formas
nominais definidas são constituídas por um determinante (definido ou
demonstrativo), seguido de um nome. Como explicitado a seguir:
• As descrições definidas – caracterizam-se por uma seleção de
propriedades relacionadas a um referente. Nessa estratégia, o
autor/locutor do gênero apresenta características ou traços do
referente para ativar os conhecimentos partilhados com o leitor/
interlocutor.
• As nominalizações – são efetuadas por uma expressão linguística
composta por substantivo-predicativo. Essa forma de nominalização atribui um referente ou objeto-discurso a um conjunto de
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informações expressas no texto que, anteriormente, não possuíam tal estatuto, assinalando simultaneamente uma mudança de
nível e uma condensação da informação.
• As anáforas indiretas – trata-se de uma configuração discursiva
em que se tem uma expressão anafórica sem antecedente literal
explícito, cuja ocorrência pessupõe uma informação implícita,
que pode ser reconstruída, por inferência, a partir do c-texto
precedente, isto é, são formas nominais que se encontram em
dependência interpretativa de determinadas expressões da estrutura em desenvolvimento
Quanto à terceira estratégia, expressões ou formas nominais indefinidas, Koch (2002) ressalta que são expressões cuja característica principal é de introduzir novos referentes no desenvolvimento textual. No
entanto, apesar de se tratar de um recurso pouco estudado na literatura
sobre referenciação, ele pode ocorrer com função anafórica, quando o
referente principal vai sendo construído, primeiro, por um conjunto de
descrições indefinidas e somente depois por descrições definidas.
Desse modo, faz-se necessário o aprimoramento dos estudos linguísticos da referenciação através de pesquisas de como ensinar a gramática da língua materna a partir da perspectiva linguística associada
à perspectiva gramatical. Isto porque, o estudo dos pronomes tem um
papel fundamental na construção do conhecimento de leitura e da produção textual pelo aluno.
Atividade II
Leia a vídeo charge a seguir:
Vídeo charge - Usando os plurais
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
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Fonte: disponível em: <http://charges.uol.com.br/2011/06/01/cotidiano-usando-os-plural> acessado em:
01/05/2011
a) Considerando que pronomes são palavras que substituem ou acompanham
um nome, comente esse processo de substituição a partir dos pronomes
encontrado na vídeo charge.
b) Qual o efeito de sentido (humor) produzido pela tira? Os pronomes
empregados influenciam na configuração da comicidade (engraçado)?
c) Explique o processo de referenciação a partir dos pronomes encontrados na
vídeo charge.
2) Leia o texto abaixo:
PRONOMES
Antes de apresentar o Carlinhos para a turma, Carolina pediu:
— Me faz um favor ?
— O quê ?
— Você não vai ficar chateado ?
— O que é ?
— Não fala tão certo.
— Como assim ?
— Você fala certo demais. Fica meio esquisito.
— Por quê ?
— É que a turma repara. Sei lá, parece...
— Soberba ?
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dica. utilize o bloco
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— Olha aí, “soberba”. Se você falar “soberba”, ninguém vai saber
o que é. Não fala “soberba”. Nem “todavia”. Nem “outrossim”. E cuidado com os pronomes.
— Os pronomes? Não posso usá-los corretamente ?
— Está vendo ? Usar eles. Usar eles !
O Carlinhos ficou tão chateado que, junto com a turma, não falou
nem certo nem errado. Não falou nada.
Até comentaram:
— Ó, Carol, teu namorado é mudo ?
— Ele ia dizer “Não, é que, falando, sentir-me-ia vexado”, mas se
conteve a tempo. Depois, quando estavam
sozinhos, a Carolina agradeceu, com aquela voz que ele gostava.
— Comigo você pode botar os pronomes onde quiser, Carlinhos.
Aquela voz de cobertura de caramelo.
L. F. Veríssimo – Zero Hora
Fonte: <http://profekarina.wordpress.com/2011/02/20/pronomes-de-luis-fernando-verissimo-textohumoristico-sobre-variedade-linguistica/>. Acessado em 20 de maio de 2011.
Os pronomes têm a função de substituir o nome, em um texto, a fim de se evitar
a repetição de uma mesma palavra. (Monteiro, 2002, p. 234). Em gêneros
orais, essa substituição se processa da mesma forma que em gêneros textuais
escritos? Justifique a sua resposta a partir da perspectiva gramatical e da
perspectiva linguística.
3) Observe o texto abaixo:
Fonte: disponível em: <http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://
www.fotosdecasamentos.com.br/wp-content/uploads/2011/05/convite-decasamento- > Acessado em 20 de maio de 2011.
Considerando o convite de casamento acima e a relação dêitica dos pronomes
pessoais, explique o emprego do pronome destacado no enunciado “ Finalmente
eles decidiram: o casamento vai sair!
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4) Observe uma aula acerca do estudo do pronome relativo:
O que o aluno poderá aprender com esta aula
• Reconhecer os pronomes relativos e seus efeitos de sentido;
• usar com propriedade os pronome relativos;
• resolver exercícios envolvendo esses pronomes;
• produzir um texto utilizando corretamente os pronomes relativos.
Duração das atividades
3 aulas de 50 minutos
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno
• Reconhecer pronomes relativos;
• saber que o texto fica melhor quando se evitam repetições desnecessárias;
• demonstrar habilidades básicas de leitura.
Estratégias e recursos da aula
• Discussão em grupo;
• utilização do Laboratório de Informática.
AULA 1
ATIVIDADE 1
O professor deverá exibir no quadro o poema Quadrilha de Carlos Drummond
de Andrade ou entregá-lo xerocopiado:
QUADRILHA
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Fonte: Reunião. 10. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980. p. 191.
1- Após a leitura do texto, o professor deverá explorar oralmente a compreensão
do texto. Em seguida, deverá perguntar aos alunos quem reconhece, no texto, algum pronome relativo. Se os alunos reconhecerem o que como pronome, perguntar
se eles sabem qual a função desse pronome. Na sequência, o professor deverá
levar os alunos ao laboratório de informática e pedir que pesquisem sobre outros
pronomes relativos – emprego e função. Ainda no laboratório, o professor deverá
solicitar aos alunos que registrem a pesquisa em um editor de texto.
(Fonte: disponível em : <http://www.brasilescola.com/gramatica/pronome-relativo.htm> Acessado em
20 de maio de 2011).
Analise a proposta acima a partir da perspectiva linguística da referenciação,
evidenciando os aspectos positivos e negativos, tendo como referência a
eficiência quando ao processo ensino/aprendizagem.
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
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Leituras recomendadas
Para ler
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 17.ed. São Paulo: Contexto, 2002.
Neste livro, a autora identifica os mecanismos de coesão constitutivos do texto
e examina, a partir deles, as classes de
palavras, ressaltando os numerais como
articuladores textuais e de sentenças, os
conectivos, os processos de ordenação
e de retomada do tema, os tempos verbais, entre outros fenômenos. Para navegar
http://www.revistalingua.com.br
Site da revista língua portuguesa, que possibilita o acesso aos artigos
publicados na versão impressa da publicação. Gramaticos e linguistas discutem diferentes aspectos dos pronomes em que apresentam
relevantes considerações sobre o modo como são descritos pela gramática normativa e o uso efetivo que deles fazem os falantes.
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Resumo
São formas sem substância, isto porque
apresentam apenas, ou em primeiro lugar,
um significado categorial, sem representar
nenhuma matéria extralingüística ( BECHARA 2009, p. 112).
3
Pronomes são palavras que exercem função nominal, seja para substituir um substantivo, seja para acompanhá-lo (determinando o seu significado). Bechara (2009) define o pronome como a classe de palavras categoremáticas3 que reúne unidades em número limitado, e refere-se a um
significado léxico pela situação ou por palavras do contexto. Essa referência
é feita a um objeto substantivo considerando-o apenas como pessoa localizada no discurso. As pessoas do discurso (ou pessoas gramaticais) são
classificadas em três: a que fala (1ª pessoa, o falante), a com quem se fala
(2ª pessoa, o ouvinte) e a pessoa de quem se fala em relação aos participantes do ato comunicativo (3ª pessoa-indeterminada). Quando ocupa o
espaço normalmente destinado para substantivos (substituindo-o), o faz
indicando a pessoa (se é 1º, 2º ou 3º pessoa), o número (se é singular
ou plural) e o gênero (masculino ou feminino) da pessoa do discurso.
Quando apenas acompanha o substantivo, o pronome modifica, de
alguma forma, a relação da pessoa do discurso com o substantivo que
acompanha. A função do pronome pode ser de substantivo ou adjetivo.
Quando o pronome substitui um substantivo na frase, denomina-o de
pronome substantivo. Quando o pronome acompanha um substantivo,
determinando o seu significado, denomina-o de pronome adjetivo. Os
pronomes podem ser classificados em seis tipos pesssoais que apontam
para algum participante da situação da fala: eu, tu, ele, eles, nós, mim,
comigo, você, vossa excelência, etc. Podendo ser retos, oblíquos ou de
tratamento; possessivos - indicam a quem pertence algo, transmitem
a idéia de posse; demonstrativoa que determinam o sujeito no espaço
ou no tempo; relativos se referem a termos já expressos anteriormente,
relativando seus significados; interrogativos são usados na construção
de perguntas, transmitem a ideia de dúvida; indefinidos preenchem um
espaço numa frase deixando imprecisa uma pessoa, uma coisa ou um
lugar, que representam. Desse modo, o pronome exerce fundamentalmente a função de referenciação por meio de palavras fóricas que
indicam os participantes da interlocução e da remissão textual.
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Autoavaliação
Como vimos nesta aula, os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso
(ou pessoas gramaticais) que são três: - 1ª pessoa (quem fala): eu (singular),
nós (plural); - 2ª pessoa (com quem se fala): tu (singular), vós (plural); - 3ª
pessoa (de quem se fala ou não-pessoa): ele (a) (singular), eles (as) (plural).
Estes desempenham um papel fundamental na produção dos sentidos em nossa
língua. Eles podem, também, ser explorados como elemento de referenciação
das palavras no gêneros textuais orais e escritos.
Em vista disso, sugerimos que analise a proposta a partir da perspectiva
gramatical e linguística do pronome pessoa.
dica. utilize o bloco
Fonte: CORREA, Maria Helena e LUFT, Pedro Celso. A palavra é sua. São Paulo: Scipione, 2000.
de anotações para
responder as atividades!
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Referências
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2009.
BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. São
Paulo: Edições Loyola, 1999.
BENVENISTE, Émile. Problemas de Lingüística Geral II. Tradução de
Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, 1989.
CÂMARA JÚNIOR, Joaquim M. Estrutura da língua portuguesa.
Petrópolis: Vozes, 1970.
_______. A classificação dos vocábulos formais. In: A estrutura da
língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1977, p.67-70.
CUNHA. Celso. Gramática do Português Contemporâneo. 8.ed. Rio de
Janeiro: Padrão, 1980.
_______ Nova gramática do português contemporâneo. 3. ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
DIAS, Luiz Francisco. O estudo das classes de palavras: problemas
e alternativas de abordagem. In: BEZERRA, Maria Auxiliadora e
DIONISIO, Ângela. O livro didático de Português: múltiplos olhares.
3.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
FERNANDES, Elaine, C. P. Você como pronome de segunda pessoa no
Brasil: motivações e percursos histórico, literário e gramatical. 2009.
Dissertação de Mestrado. PUC - SP, 2009.
INFANTE, Ulisses. Curso de gramática aplicada aos textos. 6.ed. São
Paulo: Scipione, 2001.
LOPES-ROSSI, Maria Aparecida Garcia Lopes Rossi. Pronomes oblíquos
o português do Brasil: gramática normativa e variações de uso. Taubaté:
Universidade de Taubaté, 2006.
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 14.ed. São Paulo: Contexto,
2001.
_______. Desvendando os segredos do texto. Cortez, 2002.
_______. Introdução à linguística textual. São Paulo: Martins Fontes,
2004.
_______. As tramas do texto. Riod e Janeiro: Lucerna, 2008.
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MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia. Variação, mudança e norma. In:
Linguística da Norma. BAGNO, Marcos (Org). São Paulo: Loyola, 2002.
MONDADA, L.; DUBOIS, D. Construção dos objetos de discurso e
categorização: uma abordagem dos processos de referenciação.
Tradução: Mônica Magalhães Cavalcante. In: CAVALCANTE, M.
M.; RODRIGUES, B. B.; CIULLA, A. (org.). Referenciação. São Paulo:
Contexto, 2003. p. 17-52.
MONTEIRO, José Lemos. Morfologia portuguesa. Campinas: Pontes,
2002.
PERINI, Mário A. Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Parábola
editorial, 2010.
SAID ALI, M. Gramática secundária e gramática histórica da língua
portuguesa. 3.ed. Brasília: Universidade de Brasília, 1964.
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IV UNIDADE
Unidade IV
OS PRONOMES PESSOAIS:
UM ESTUDO DA ABORDAGEM
GRAMATICAL E LINGUÍSTICA
Os pronomes pessoais:
um estudo da abordagem
gramatical e linguística
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Apresentação
Nesta unidade, você continuará estudando as classes de
palavras, especificamente, os pronomes pessoais, que são
considerados uma estratégia de designação referencial, veiculando vários referentes dentro de uma prática discursiva e
são empregados em situações em que predomina a pessoa
do discurso determinada.
Conforme, estudamos na unidade anterior os pronomes
situam as pessoas do discurso, indicando elementos textuais
e situacionais. No texto, atuam como mecanismos coesivos
de anáfora (retomada de um referente) e catáfora (antecipação de um referente). Ao apontar para elementos situacionais, têm função dêitica e contribuem para a contextualização das ações.
Nessa perspectiva, os pronomes pessoais são aqueles
que indicam uma das três pessoas do discurso: quem fala,
com quem se fala e de quem se fala. Sendo dividido em:
pronomes pessoais do caso reto que desempenham a função sintática de sujeito da oração e os pronomes pessoais
do caso oblíquos que desempenham a função sintática de
complemento verbal (objeto direto ou indireto), complemento nominal, agente da passiva, adjunto adverbial, adjunto
adnominal ou sujeito acusativo (sujeito de oração reduzida).
Os pronomes pessoais do caso oblíquo se subdividem em
dois tipos: os átonos, que não são antecedidos por preposição, e os tônicos, precedidos por preposição.
Em vista disso, estudaremos a perspectiva gramatical e a
linguística dos pronomes pessoais a partir de gramáticas teóricas, manuais didáticos e o contexto de uso dos pronomes
pessoais pelos interlocutores. Ressalte-se que os pronomes
pessoais têm um comportamento gramatical peculiar e pre 100
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cisam ser investigados separadamente, o que faremos nesta
unidade.
Dessa forma, é importante que você continue atento e
interagindo com o material (lembre-se de que ele foi preparado especialmente para você), buscando as relações necessárias para o atendimento do conteúdo.
Objetivos
Ao final desta unidade, esperamos que você:
• Entenda como se estruturam e se caracterizam os pronomes pessoais através de uma visão gramatical e
linguística.
• Reconheça os pronomes pessoais a partir da reflexão
sobre seu uso.
• Relacione os pronomes pessoais aos seus referentes
textuais e extra-textuais.
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Para iniciar nossa
conversa...
Sinfonia dos pronomes
Às vezes estou eu
Outras… com ele ou elas.
Ficamos nós. O tempo passa…Canso-me!
Quero o retornar a ficar só.
Como uma estrela solitária sem galáxia.
Aprendi a ser só.
Canso dos nós
Enfim…outros se cansam de mim....
Ao rever as amizades,
A felicidade me invade!
Ele!. Elas!, nós, vós. Eles!
Ele e eu…
Encontros, desencontros, reencontros,
Até a voltar a ser só.
QUERER SER SÓ!
(SAUDO, 2008)1
Fonte: disponível em: < http://www.medicinageriatrica.com.br/2008/07/28/poemas-de-dalva-saudo-sinfonia-dos-pronomes/ > Acessado em 19 de abril de 2011.
1
Leia a tira abaixo:
Considerando a tira acima percebemos que o uso dos pronomes
pessoais do caso reto (eu e ele) e do caso oblíquo (te e me) apresentam
as pessoas do discurso e desempenham função sintática. Estas pessoas condicionam o sistema de pronomes abordado em português por
Câmara (1970) que define o pronome a partir da função básica de
indicar a noção de pessoa. O autor caracteriza para os pronomes eu/
nós (primeira pessoa – a que fala) e tu/vós (segunda pessoa- com quem
se fala), a função de falantes/ouvintes e a todas as que ficam fora desse
eixo de falante/ouvinte caracteriza como a terceira pessoa – de quem
se fala: ele/eles/ela/elas.
No primeiro quadrinho, Jon emprega o pronome eu, que corresponde à primeira pessoa do discurso, quem fala e desempenha a fun-
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ção sintática de sujeito. Para referir-se ao gato, com quem se fala, Jon
usa a segunda pessoa na forma te.
Garfield, por sua vez, emprega o pronome me ao falar de si mesmo. Por fim, o gato utiliza a forma pronominal ele, apontando para a
terceira pessoa discursiva, ou seja, sobre quem se fala. Nesse momento, dirige-se ao leitor.
Faz-se necessário esclarecermos que a terceira pessoa não se refere
a um dos protagonistas do discurso, pois que não é falante /ouvinte,
não participa do ato comunicativo. Benveniste ([1960] 1996, p. 227),
ao discutir a natureza dos pronomes contesta a noção de “pessoa”,
pois essa noção só é possível para eu/tu e não para ele. A terceira
pessoa representa o membro não marcado na correlação de pessoa
e dessa forma torna-se uma “não-pessoa”. A terceira pessoa está inserida no conteúdo da fala e não do ato discursivo como no caso do
terceiro quadrinho em que o pronome ele remete ao leitor.
Desse modo, os pronomes pessoais variam na forma que assumem,
dependendo da função sintática que exercem na oração e da acentuação que apresentam no desempenho de tal função.
Pronomes pessoais:
uma discussão gramatical
Pronomes
Tu realidade
Eu absurdo,
Eu falante
Tu mudo,
Eu inspiração
Tu estudo,
Eu nada
Tu tudo,
Eu sensatez
Tu absurdo,
Tu fluidez
Eu canudo,
Tu lança
Eu escudo
Eu reentrância
Tu pontudo,
Eu luta
Tu sortudo,
Eu nunca!
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Tu, contudo...
E “nós”?
Apenas humanos nós
da corda que liga tudo...
( a linguagem )
(ANA LYRA)
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.
php?storyid=131749
Os pronomes pessoais da língua portuguesa no Brasil têm sofrido
alterações funcionais sinalizadas pelas pesquisas sobre o uso do português brasileiro no contexto histórico. É o que indica Câmara Júnior
(2005) ao afirmar que na língua coloquial do Brasil, diferentemente da
língua escrita, o uso dos pronomes pessoais de 3ª pessoa em função
acusativa está obsoleta.
Isto porque, a origem das formas da 3ª pessoa que se prendem ao
demonstrativo latino ille (aquele). Ele e ela originam-se do nominativo
ĭlle e ĭlla (aquele, aquela). O(s) e a(s) provêm do acusativo latino ĭlle e
suas formas ĭllum, ĭllam, ĭllos e ĭllas – aquele, aquela, aqueles e aquelas (CÂMARA JÚNIOR, 1970). Os demonstrativos exercem, em latim,
todas as funções sintáticas.
Nessa perspectiva, o sistema de pronomes abordado em português
por Câmara (1970) se define a partir da função básica de indicar a noção de pessoa. O autor caracteriza para os pronomes eu/nós (primeira
pessoa) e tu/vós segunda pessoa), a função de falantes/ouvintes e a
todas as que ficam fora desse eixo de falante/ouvinte caracteriza como a
terceira pessoa: ele/eles/ela/elas. Segundo essa definição que o pronome de terceira pessoa não se refere a um dos protagonistas do discurso,
pois que não é falante /ouvinte, não participa do ato comunicativo.
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso (ou pessoas
gramaticais) que são três:
• 1ª pessoa (quem fala): eu (singular), nós (plural);
• 2ª pessoa (com quem se fala): tu (singular), vós (plural);
• 3ª pessoa (de quem se fala ou não-pessoa): ele (a) (singular),
eles (as) (plural).
Essa definição é oriunda da perspectiva apontada por Oliveira
(2000 [1936], p. 103) ao afirmar que os pronomes pessoais são vocábulos que assumem declinações casuais (eu-me, mi; tu-te, ti; ele/ela
– se,si) em substituição ao nome na língua portuguesa.
Como nos exemplos de Said Ali (1964, p.61): “Eu passeio; nós
lemos; tu trabalhas; vós escreveis; ele ou ela dorme; eles ou elas descansam”. Os pronomes pessoais sujeitos do singular e do plural podem
não ser explicitados em uma frase, porque o sujeito é identificado pela
desinência verbal. Outra construção linguística é chamada de elipse,
como nos exemplos de Said Ali (1964, p. 218): “Assistiremos hoje ao
espetáculo; Escreveste-me que não chegarias este mês; fui às corridas
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e notei tua falta.”
Nesse sentido, Bechara (2009, p. 164) afirma que os pronomes
pessoais designam as duas pessoas do discurso e a não pessoa (não
eu, não tu), consideradas, pela tradição, a 3ª pessoa. As formas retas funcionam como sujeito e os pronomes oblíquos funcionam como
complemento e podem apresentar-se em forma átona ou tônica. Ao
contrário das formas átonas, as tônicas são sempre acentuadas.
Em contrapartida, inicialmente, Perini (1985 apud Travaglia, 2003,
p. 93) classificou os pronomes pessoais do caso reto de acordo com
o seu comportamento sintático, sendo denominado de substantivo 2
conjuntamente com os pronomes demonstrativos. Essa assertiva foi reformulada pelo autor ao asseverar que os pronomes pessoais são os
itens eu, você, tu, ele (ela), nós, vocês, eles (elas), além do se. Algumas
dessas palavras têm formas oblíquas, isto é, formas usadas quando o
item está em determinada função sintática.
Assim, dizemos eu cheguei, mas a Eliana me chamou; as formas eu
e me são consideradas variantes do mesmo pronome; eu se denomina
forma reta e me forma oblíqua. (PERINI, 2010, p. 115). Ratificado com o
emprego do eu e ele nos posicionamentos da charge interativa a seguir:
( 1)
Ressaltemos a abordagem apresentada por Lopes (2007, p. 107),
ao afirmar que os pronomes pessoais, ao contrário dos nomes, não podem ser antecedidos por determinantes e funcionam, em geral, como
núcleos isolados no sintagma nominal. Como nos exemplos: “A menina
falou”, mas “a ela falou” ou “o eu falei” seriam agramaticais.
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Lexias são conjuntos de palavras que pela
frequência e pelo uso, tendem a ser utilizadas em bloco pelo falante. (DUBOIS ET AL.
2006, p. 361)
2
Nessa perspectiva, os pronomes pessoais admitem um determinante
posposto, que se restringe a adjetivos (mesmo e próprio) e numerais: “
Eu mesma fiz isso, nós mesmos fizemos tal coisa, nós três fomos ao cinema”. Outro ponto relevante é a diferença estabelecida entre as formas de
primeira pessoa e segunda pessoa no singular e no plural. Lopes (2007)
evidencia a restrição quanto aos determinantes nas formas de singular
(eu,tu/você) é bem maior que as formas plurais. Nessas últimas, é possível a determinação com numerais (nós três, vocês quatros) e com lexias2
do tipo três de nós. Com formas no singular, só é possível a modificação
pelos adjetivos mesmo e própria (eu mesma, eu própria).
Um ponto controverso pela teoria gramatical a respeito dos pronomes pessoais refere-se a terceira pessoa considerada não falante /ouvinte, por não participa do ato comunicativo. Benveniste ([1960] 1996)
considera a terceira pessoa representante de um membro não marcado
na correlação de pessoa e dessa forma torna-se uma “não-pessoa”.
Em vista disso, a terceira pessoa está inserida no conteúdo da fala e
não do ato discursivo, embora seja empregada em contextos de língua
formal e jornalísticos, conforme exemplo abaixo:
( 2)
Fontes: http://www.messa.com.br/eric/ecode/uploaded_images/
capa380-775694-796625.jpg
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As pessoas gramaticais indicadas pelos pronomes sujeitos classificam-se como formas retas do pronome pessoal e, quanto à função,
exercem o papel de sujeito ou de predicativo do sujeito, como no
exemplo: Eu não sou ele (BECHARA, 2009, p.173). Para cada forma
reta, corresponde uma forma oblíqua que funciona como complemento
ou objeto (direto ou indireto). Na forma oblíqua, há também a distinção
quanto à acentuação que classifica os pronomes pessoais em formas
tônicas ou átonas. As formas tônicas, ao contrário das átonas, estão
atreladas ao uso de preposição.
• Pronome oblíquo de 1ª pessoa átono:
Um dia ele me surpreendeu lendo um livro.
• Pronome oblíquo de 1ª pessoa tônico:
Frederico Paciência ainda riu para mim, não pude rir.
Fonte: Infante (2001, p.199).
Diante do exposto, percebemos que não há divergências significativas quanto ao elenco dos pronomes pessoais sujeitos e os pronomes
oblíquos no que concerne a sua forma de apresentação. Os gramáticos
caracterizam os pronomes pessoais como indicadores universais das
três pessoas do discurso: quem fala, com quem se fala/ que se fala,
admitindo formas no singular com correspondente no plural. Em síntese
o quadro é o seguinte:
Quadro 1 – Formas dos pronomes pessoais em língua portuguesa
Fonte: ABAURRE, Maria Luiza e PONTARA, Marcela. Pronomes. In: Gramática: análise e construção do
sentido. São Paulo: Moderna, 2006, p. 235).
Resgatando o quadro acima, a função direta é desempenhada pelo
pronome de terceira pessoa nas formas dos oblíquos o, a, os, as, como
nos exemplos de próclises (quando o pronome átono está em posição
anteposta ao verbo), conforme os exemplos apresentados por
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Cunha e Cintra (1985, p.270):
( 3)
Não o ver para mim é um suplício.
Nunca a encontraremos em casa.
João ainda não fez anos; ele os faz hoje.
Eles as trouxeram comigo.
Os pronomes átonos são chamados de clíticos por não possuírem
autonomia fonética e sempre se unirem ao verbo para adquiri-la. Segundo Said Ali (1964, p.204), as formas pronominais átonas se encostam ao verbo, “sendo pronunciadas como se com o verbo constituíssem
um vocábulo só”. Assim, as formas são postas depois do verbo (enclíticas) e dependem da terminação do mesmo verbo. Logo: - se a forma
verbal terminar em vogal ou ditongo oral, se empregam o, a, os, as:
louvou-as, louvei-os, louvava-a, louvou-as (CUNHA, 1985, p. 270);
quando associados a verbos terminados em –r, -s ou –z, os pronomes o,
a, os, as assumem as formas lo, la, los, las: mandaram prendê-lo; ajudemo-la; fê-los entrar (CEGALLA, 2005, p.151); quando associados a
verbos terminados em ditongo nasal (-am, -em, -ão, -õe), os pronomes
o, a, os, as tomam as formas no, na, nos, nas: trazem-no; ajudavam-na; dão-nos de graça; põe-no aqui (CEGALLA, 2005, p.151).
A função indireta é exercida pelos pronomes oblíquos de terceira pessoa nas formas dos clíticos lhe e lhes que levam a marca de número, mas
não a de gênero do referente. De acordo com Macambira (1997, p.139),
a função indireta de lhe e lhes é corretamente empregada quando podem
ser substituídos por substantivos masculinos precedidos de ao ou aos:
( 4 )
Isto lhe pertence = isto pertence ao professor.
Dou-lhes um conselho = dou um conselho aos professores.
Em vista disso, os pronomes oblíquos átonos e tônicos podem ser
empregados com função direta ou indireta e segundo Perini (2010,
p. 115) são considerados um bicho-papão tradicional da gramática
do português. No entanto, seu posicionamento na oração é bastante
simples. Conforme verificado no emprego do pronome oblíquo mim na
tira a seguir:
(5 )
(Fonte: disponível em: < http://tiras-snoopy.blogspot.com/2006_09_01_archive.html> Acessado em 19 de abril de 2009).
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A função direta ocorre quando substituídos por um substantivo masculino precedido de o ou os; a função indireta quando substituídos
por substantivo masculino precedido de ao ou aos conforme quadro
ilustrativo abaixo:
Quadro 2
OBJETO DIRETO
OBJETO INDIRETO
Ele me viu= ele viu o professor.
Ela me ofereceu a casa= ela ofereceu a casa ao
vizinho.
Eu te admiro= eu admiro o colega.
Eu te prometo um prêmio= eu prometo um prêmio
ao aluno.
Ele nos espera= ele espera os amigos.
Você nos pertence= você pertence ao povo.
Ela vos odeia= ela odeia o senhor ou os senhores.
O caso vos interessa= o caso interessa ao senhor.
Você se corta= você corta o menino.
Ele se atribuiu qualidades excepcionais= ele atribuiu
qualidades excepcionais ao colega.
Vocês se ferem= vocês ferem os meninos.
Fonte: Macambira (1997, p.141).
Quanto às formas não-reflexivas me, te, lhe podem unir-se ao pronome átono o e representar ambas as funções sintáticas: a de objetivada direta e a de objetivada indireta. Como no exemplo:
(6)
O gerente do Banco era seu amigo: se Robertoni fosse candidato à
compra da fazenda, ele lho teria dito!
Fonte: Neves (2000, p. 466).
Normalmente, com exceção de o, a, os, as, lhe, lhes, os pronomes
oblíquos podem ser reflexivos. Os Oblíquos reflexivos representam a
mesma pessoa ou a mesma coisa que o sujeito do verbo. Como nos
exemplos:
( 7)
Alexandre só pensa em si.
O operário feriu-se ao subir no muro.
Tu não te enxergas?
Eu me machuquei na escada.
Nós nos perfilamos corretamente.
A mãe trouxe as crianças consigo.
Fonte: Cegalla (2005, p.151)
Jordão (2007) assevera que se percebe o uso das formas ele(s) e
ela(s) em função objetiva é reflexo de uma reformulação do sistema
pronominal no Brasil; essas formas tornaram-se semelhantes aos nomes e aos demonstrativos do ponto de vista sintático e mantiveram-se
invariáveis independentemente da função sintática. Além dessas mudanças, Câmara Júnior. (2004) ressalta que como resultado da equivalência entre tu e você, você tem como forma complementar átona:
te. Monteiro (2002) reforça que vós e as suas formas correspondentes
praticamente desapareceram da língua portuguesa do Brasil.
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Nesse sentido, infere-se que o uso cotidiano dos pronomes pessoais
não segue as características normativas da língua portuguesa (CASTILHO, 1996, p. 9). Isto porque, você (pronome de tratamento) substitui
o tu, e que esse último sobrevive na região de Porto Alegre com ocorrências do tu não só como 2ª pessoa, mas também como 3ª pessoa
do verbo.
Por fim, seguem quadros explicativos das funções sintáticas dos pronomes pessoais:
Quadro
PRONOMES PESSOAIS
FUNÇÃO SINTÁTICA
PRONOMES PESSOAIS DO CASO RETO
SUJEITO: Eu queria que ele fosse embora.
PREDICATIVO DO SUJEITO: O ator será ele.
VOCATIVOS (somente os pronomes tu e vós): Ó
vós, que sois a minha esperança de salvação!
Quadro
(Fonte: disponível em:< http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=10811> Acessado
em 19 de abril de 2011).
O emprego dos
pronomes pessoais
Considerando a convergência das normas de emprego dos pronomes pessoais, baseamo-nos em Bechara (2009), os manuais didáticos
do ensino fundamental e médio e de sites da internet (http://www.algosobre.com.br/portugues/pronomes-pessoais.html), apresentamos a seguir:
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Usos dos Pronomes Pessoais
Eu, tu / Mim, ti
Eu e tu exercem a função sintática de sujeito. Mim e ti exercem a
função sintática de complemento verbal ou nominal, agente da passiva
ou adjunto adverbial e sempre são precedidos de preposição.
Ex.
• Trouxeram aquela encomenda para mim.
• Era para eu conversar com o diretor, mas não houve condições.
Agora, observe a oração Sei que não será fácil para mim conseguir
o empréstimo. O pronome mim NÃO é sujeito do verbo conseguir,
como à primeira vista possa parecer. Analisando mais detalhadamente,
teremos o seguinte:
O sujeito do verbo ser é a oração conseguir o empréstimo, pois
que não será fácil? resposta: conseguir o empréstimo, portanto há uma
oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de infinitivo, que é a
oração que funciona como sujeito, tendo o verbo no infinitivo.
Notas:
É inadequado usar pronomes eu e tu relacionados às preposições,
empregam-se as formas átonas que correspondem a eles.
Exemplo: Esse doce é para mim ou para ti?
Obs.: existem casos em que as preposições não se relacionam com
os pronomes, mas com o verbo da oração, então usa-se o pronome
pessoal reto: “Entre ti e ela só existe amizade?”
Quando se encontram pronomes pessoal de 1ª e de 2ª pessoas
numa mesma frase (ou de 2ª e de terceira), a prioridade é o pronome
de 1ª pessoa (ou de 2ª, no caso em parênteses).
Exemplo: Entre mim e ela só existe amizade.
Se, si, consigo
Se, si, consigo são pronomes reflexivos ou recíprocos, portanto só
poderão ser usados na voz reflexiva ou na voz reflexiva recíproca.
Ex.
• Quem não se cuida, acaba ficando doente.
• Quem só pensa em si, acaba ficando sozinho.
• Gilberto trouxe consigo os três irmãos.
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Com nós, com vós / Conosco, convosco
Usa-se com nós ou com vós, quando, à frente, surgir qualquer palavra que indique quem “somos nós” ou quem “sois vós”.
Ex.
• Ele conversou com nós todos a respeito de seus problemas.
• Ele disse que sairia com nós dois.
Dele, do + subst. / De ele, de o + subst.
Quando os pronomes pessoais ele(s), ela(s), ou qualquer substantivo, funcionarem como sujeito, não devem ser aglutinados com a preposição de.
Ex.
• É chegada a hora de ele assumir a responsabilidade.
• No momento de o orador discursar, faltou-lhe a palavra.
Pronomes Oblíquos Átonos
Os pronomes oblíquos átonos são me, te, se, o, a, lhe, nos, vos,
os as, lhes. Eles podem exercer diversas funções sintáticas nas orações.
São elas:
A) Objeto Direto
Os pronomes que funcionam como objeto direto são me, te, se, o,
a, nos, vos, os, as.
Ex.
• Quando encontrar seu material, traga-o até mim.
• Respeite-me, garoto.
• Levar-te-ei a São Paulo amanhã.
Notas:
01) Se o verbo for terminado em M, ÃO ou ÕE, os pronomes o, a, os,
as se transformarão em no, na, nos, nas.
Ex.
• Quando encontrarem o material, tragam-no até mim.
• Os sapatos, põe-nos fora, para aliviar a dor.
02) Se o verbo terminar em R, S ou Z, essas terminações serão retira-
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das, e os pronomes o, a, os, as mudarão para lo, la, los, las.
Ex.
• Quando encontrarem as apostilas, deverão trazê-las até mim.
• As apostilas, tu perde-las toda semana. (Pronuncia-se pérdelas)
• As garotas ingênuas, o conquistador sedu-las com facilidade.
03) Independentemente da predicação verbal, se o verbo terminar em
mos, seguido de nos ou de vos, retira-se a terminação -s.
Ex.
• Encontramo-nos ontem à noite.
• Recolhemo-nos cedo todos os dias.
04) Se o verbo for transitivo indireto terminado em s, seguido de lhe,
lhes, não se retira a terminação s.
Ex.
• Obedecemos-lhe cegamente.
• Tu obedeces-lhe?
B) Objeto Indireto
Os pronomes que funcionam como objeto indireto são me, te, se,
lhe, nos, vos, lhes.
Ex.
• Traga-me as apostilas, quando as encontrar.
• Obedecemos-lhe cegamente.
C) Adjunto adnominal
Os pronomes que funcionam como adjunto adnominal são me, te,
lhe, nos, vos, lhes, quando indicarem posse (algo de alguém).
Ex.
• Quando Clodoaldo morreu, Soraia recebeu-lhe a herança. (a
herança dele)
• Roubaram-me os documentos. (os documentos de alguém meus)
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D) Complemento nominal
Os pronomes que funcionam como complemento nominal são me,
te, lhe, nos, vos, lhes, quando complementarem o sentido de adjetivos,
advérbios ou substantivos abstratos. (algo a alguém, não provindo a
preposição a de um verbo).
Ex.
• Tenha-me respeito. (respeito a alguém)
• É-me difícil suportar tanta dor. (difícil a alguém)
E) Sujeito acusativo
Os pronomes que funcionam como sujeito acusativo são me, te,
se, o, a, nos, vos, os, as, quando estiverem em um período composto
formado pelos verbos fazer, mandar, ver, deixar, sentir ou ouvir, e um
verbo no infinitivo ou no gerúndio.
Ex.
• Deixei-a entrar atrasada.
• Mandaram-me conversar com o diretor.
O traço de número:
uma análise da perpesctiva
gramatical e linguística do a
gente e do você(s)
Considerando as repercussões dos pronomes você e a gente no contexto gramatical e lingüístico, percebemos que o pronome você, a priori,
foi denominado de expressão nominal de tratamento (vossa mercê) que
levava o verbo para a terceira pessoa do singular. A forma você manteve
algumas propriedades mórficas que acarretam o rearranjo no sistema,
uma vez que persiste a especificação original de 3ª pessoa, embora a
interpretação semântico- discursiva passe a ser de 2ª pessoa.
Em relação ao pronome a gente as gramáticas e manuais didáticos
raramente explicam os fenômenos consagrados da linguagem coloquial,
não apresentam uma posição coerente e única. A classificação é, em
geral controvertida, pois ora consideram a gente como fórmula de repre-
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sentação da 1 ª pessoa, forma de tratamento, pronome indefinido ou,
ainda recurso para indeterminar o sujeito. A forma você também sofre
essa variada classificação como forma de tratamento de 3ª pessoa, uma
estratégia de 2 ª pessoa ou pronome de tratamento de 2 ª pessoa.
Cumpre ressaltar que alguns autores de manuais escolares e livros
didáticos até usam a expressão “novos pronomes” para o uso do a
gente e do você (s). Estes são apontados em exercícios e textos, embora
não sejam discutidos no novo paradigma pronominal em virtude dos
gramáticos não saberem lidar com os fatos da língua (MENON, 1996).
Nesse sentido, Junkes (2008) afirma que isto se revela quando autores de gramáticas vão apresentar o pronome “você”, ora o definem
como forma de tratamento, ora como pronome de tratamento e o mesmo ocorre com o pronome o(a) senhor(a). Com relação ao pronome
A GENTE, a definição é mais distante ainda da sua real função, muitos
continuam enfocando esse pronome como a locução composta de artigo e de substantivo feminino de gente. Analisemos o exemplo a seguir:
(8)
Na tira, o primeiro pássaro usa a forma a gente para identificar
uma referência de 1 ª pessoa do plural (ele e o outro que conversam
no galho). Na fala, principalmente em contextos mais descontraídos,
é frequente usarmos a expressão a gente em lugar do pronome de 1ª
pessoa do plural correspondente (nós).
Além de fazer referencia precisa à 1ª pessoa do plural (eu + alguém), o pronome nós também pode ser utilizado para promover a
generalização do discurso. Isso ocorre em virtude dos textos de caráter
mais impessoal (geralmente com forte conteúdo analítico, expositivo
e/ou argumentativo), é importante dar ao leitor a impressão de que a
“voz” que fala no texto não representa uma perspectiva pessoal, mas
sim apresenta a visão do bom senso, da razão, da objetividade.
Quando é usado com essa finalidade, o pronome nós passa a fazer
referência a um conjunto mais amplo de pessoas (os cidadãos de um
país ou a humanidade de modo geral). Exemplo: Nós vivemos em um
país que apresenta uma grande desigualdade social. (Nesse caso, o
nós se refere a todos os brasileiros).
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Monteiro (1994) afirma que o sistema dos pronomes pessoais está
sofrendo uma reestruturação, que pode ser confirmada com a substituição do pronome vós por você(s). O pronome você não só ocupa a
lacuna deixada por vós, mas ameaça a existência do pronome tu, salvo
no estado do Rio Grande do Sul e poucos estados do país como, Santa
Catarina, em especial na região litorânea, onde se tem preferência pelo
uso do pronome tu. Da mesma forma, também outras substituições lutam por se impor como é o caso do emprego de a gente em vez de
nós e do uso de se em situações de pronome pessoal sujeito indefinido.
No que concerne às discussões sobre o novo paradigma pronominal Freitas (1997), como podemos observar no quadro abaixo:
Quadro 2 – Novo paradigma pronominal
Pessoa/Número
Pronome
1ª p singular
EU/A GENTE
1ªp plural
NÓS/ A GENTE
2ªp singular
TU/VOCÊ/ O (A) SENHOR (A)
2ªp plural
VOCÊS/ OS (AS) SENHORES (AS)
3ªp singular
ELE (A)
3ªp plural
ELES (AS)
( FREITAS, 1997, p. 18)
O quadro acima evidencia os pronomes pessoais sujeito reconhecidos na comunidade linguística como sendo o do novo paradigma dos
pronomes pessoais, na função de sujeito, que está competindo com o
quadro apresentado pela GT.
Sabemos que a GT apresenta, em seu capítulo intitulado morfologia, as classes de palavras que supostamente existem na língua e,
dentre elas, apresenta a classe de palavras denominada: pronomes.
Dentro dessa classe são discutidas, em geral, apenas as definições e a
função de cada tipo de pronome.
Os pronomes pessoais na função de sujeito são alvo de polêmica
na academia por apresentarem variação. Sabemos também que as formas nós e a gente estão em variação e são de uso comum na fala dos
brasileiros. Conforme ilustrado no twitter de Rafael Bastos, repórter do
CQC, programa humorístico, da emissora de TV Bandeirantes:
(9)
@rafinhabastos
Será que as novelas que tem a
temática “Brasil”, na índia, mostram
a gente sambando 90% do tempo?
(Fonte: disponível em: <http://www.assimcomovoce.com/2009/06/15-otimas-frases-no-twitter.html>
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Acessado em 19 de abril de 2011).
Alguns autores de gramática apresentam esses fenômenos já consagrados na língua falada, em pequenas notas, mas inserem apenas a
forma antiga nós no sistema de pronomes pessoais, sem discutir o seu
uso, ou a variação dessa forma com o a gente.
Ao focalizarmos a primeira pessoa do discurso, tanto do singular
quanto do plural, observamos que as variantes NÓS e A GENTE que
ocorrem nos enunciados orais e escritos denotam, na posição de sujeito, vários referentes. Junkes (2008) aponta que “as variantes nós, a
gente, -mos e zero, (..) podem veicular, na posição de sujeito, os referentes: eu, eu+ tu, eu + tu + ele(s), eu + eles, referenciais genéricos
e opacos”. A autora considerou esses pronomes como uma estratégia
de designação referencial que veicula vários referentes dentro de uma
prática discursiva e seu estudo revelou que esses pronomes são empregados em situações em que predomina a pessoa do discurso determinada, como em eu, eu + tu, eu + ele/s.
A pesquisa da autora supracitada foi realizada com base em corpus
de dados de fala, a hipótese aqui levantada é a de que em dados da
língua escrita também encontraremos os pronomes NÓS e A GENTE,
veiculando vários referentes, mas o A GENTE vai ser mais encontrado
se referindo à pessoa do discurso cujo sujeito é indeterminado.
Em vista disso, Lopes (2007, p. 108) ressalta que a forma pronominal
a gente teria mantido o traço formal de 3 ª pessoa porque continuou a
combinar com verbos na terceira pessoa, mas a interpretação semântico-discursiva se alterou para [EU] uma vez que passou a incluir o falante.
Quanto ao uso do você no contexto gramatical, Neves (2000) inova
perante as outras gramáticas por descrever o uso do Português uma vez
que o pronome você aparece classificado como pronome pessoal de
segunda pessoa, em um quadro, exatamente ao lado do tu. Entretanto,
o apego ao tradicionalismo, embora admita que o pronome você
é aquele que representa predominantemente a segunda pessoa do
discurso no Brasil, não permite que se reconheça que a forma verbal
de segunda pessoa é também aquela que acompanha o pronome
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você e, inclusive, o pronome tu, do modo com vem sendo empregado
hoje por grande parte dos brasileiros.
Outro gramático que evidencia o pronome você é Bechara (2009)
ao afirmar existirem ainda formas substantivas de tratamento indireto
de 2ª pessoa que levam o verbo para a terceira pessoa. São as chamadas formas substantivas de tratamento ou formas pronominais de
tratamento: você, vocês (no tratamento familiar) o Senhor, a Senhora
(no tratamento cerimonioso).
Para Rocha Lima (2003), no entanto, os pronomes são sempre de
segunda pessoa, mas podem exigir verbo na terceira:
Há alguns pronomes de segunda pessoa que requerem para o verbo a terminação da terceira. Tais
são: você, vocês (tratamento familiar) o Senhor, a
senhora (tratamento cerimonioso).
Essa explicação prevalece também por Cunha e Cintra (1985) uma
vez que o pronome você, nessa gramática é classificado como pronome
de tratamento, assim como o senhor, Vossa Excelência, Vossa Senhoria,
apesar de se admitir logo depois que “ em quase todo o território brasileiro, foi ele [o tu] substituído por você como forma de intimidade.
Nesse sentido, podemos constatar acerca das perspectivas gramaticais do pronome pessoal de segunda pessoa expostas é que não se
consegue desvencilhar facilmente do modelo das gramáticas portuguesas. Isto porque, as tentativas de descrição da língua são arbitrárias,
pois se deixa de perceber o que parece mais óbvio: no Brasil, o lugar
do pronome de segunda pessoa não é exclusivo do tu: é também ocupado pelo você.
Desse modo, o intuito dessas gramáticas não é o de prescrever o
melhor uso, no que diz respeito ao emprego do pronome representante da segunda pessoa do discurso, seu caráter conservador não lhe
permite sequer uma descrição efetiva do fenômeno linguístico: o que
prepondera quanto ao pronome pessoal nos compêndios gramaticais
não é nem a descrição, nem a prescrição, mas a tradição.
No entanto, prevalece a hegemonia do pronome você no Brasil,
nos usos cotidianos que os falantes fazem da língua portuguesa, atualmente, devido ao tamanho do território nacional e à diversidade de sua
gente, há como constatar sua preponderância, expressa e difundida
pelos modernos processos midiáticos e publicitários, conforme ilustrado
nos exemplos a seguir:
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(10)
Santander e Você
Apresentação
Fonte: disponível em: http://clubedapropaganda.net/banco-real-santander-juntos/
Acessado em 19 de abril de 2011).
Podemos considerar que a escolha desse pronome revela a percepção de que seu emprego ultrapassa os limites regionais e sociais,
revelada na canção a seguir:
(11)
Fonte: disponível em: http://letras.terra.com.br/chico-buarque/129853/ Acessado em 19 de abril de 2011
Dessa forma, constata-se que o esforço uniformizador das gramáticas não aufere resultado algum, pois se trata de uso linguístico
frequente, sensível e afeito a toda sorte de motivações sociais,
pessoais, psicológicas. Trata-se de parte da língua que definitivamente
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não se rende a decretos legais - como as pragmáticas de antigamente,
tampouco a “decretos” gramaticais.
Atividade I
1) Leia o perfil de uma comunidade do orkut:
a) Selecione os pronomes presentes neste texto e identifique os referentes
dos pronomes.
b) O conceito de pronome pessoal apresentado Bechara (2009, p. 164)
afirma que os pronomes pessoais designam as duas pessoas do discurso e
a não pessoa (não eu, não tu), consideradas, pela tradição, a 3ª pessoa.
As formas retas funcionam como sujeito, explique o uso dos pronomes
pessoais do caso reto neste perfil.
2) Considerando a discussão acerca do uso do a gente apresentado no
tópico 2 e a proposta dos pronomes pessoais do manual didático de Abaurre
(2008), podemos afirmar que a autora utilizou a abordagem gramatical e/ ou
linguística? Justifique a sua resposta.
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(Fonte: ABAURRE, Maria Luiza. Português, contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2008).
3) Leia a proposta a seguir:
a) Responda as questões postadas na proposta acima. Em seguida, analise dica. utilize o bloco
a proposta, evidenciando o seu caráter positivo e negativo desta, tendo como de anotações para
responder as atividades!
referência a eficiência quando ao ensino/ aprendizagem do pronome.
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b) A proposta de ensino do pronome contempla os três critérios de classificação
do conceito de pronome proposto por Pinilla (2007, p.197)? Fundamente a sua
resposta.
4) Os gêneros midiáticos e publicitários são amplamente divulgados entre
os interlocutores e os pronomes pessoais apresentam uma influência nesse
processo de interação. A partir dos gêneros textuais abaixo (capa de revista e
anúncio publicitário), comente os efeitos de sentido ocasionados pelo emprego
dos pronomes eles e você.
Fonte: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/130705/imagens/
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dica. utilize o bloco
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Visão linguística acerca dos pronomes
pessoais e o processo de ensino
aprendizagem de referenciação em
língua portuguesa
Lopes (2007, p. 106) afirma que o quadro dos pronomes pessoais,
que ainda vigora nas gramáticas, estruturado a partir de três pessoas
do discurso (eu/tu/ele) com variação de número (nós/vós/eles) está
longe de ter uma coerência interna e dar conta da realidade concreta
do português do Brasil.
Nesse sentido, Biderman (2001, p. 270) afirma que há duas categorias de pronomes: a) os pessoais e b) os demonstrativos, os pronomes pessoais referem os locutores de uma situação, ou apontam os
elementos da realidade, ou do discurso que eles substituem. O típico
dessa classe de pronomes é que eles são substitutivos essenciais dos
sujeitos e das coisas. No contexto do diálogo em que os pronomes
pessoais são instrumentos gramaticais, estabelece-se uma alternância
entre os interlocutores, no emprego da primeira pessoa.
Em vista disso, faz-se necessário construir a ponte entre referenciação e ensino, relacionando a referenciação às atividades de compreensão de texto, ou seja, lidam com aplicações da proposta às atividades
de leitura. Travaglia (2003) ressalta a importância do uso dos pronomes pessoais para os alunos a fim de que percebam que nem mesmo
as normas sociais para o uso da língua (gramática normativa) são uma
lei imutável, já que a língua é essencialmente dinâmica e está mudando
constantemente por razões diversas, inclusive para atender novas e /ou
maiores necessidades comunicacionais da sociedade e cultura a que a
língua serve. Ilustrado pelo exemplo a seguir:
(12)
ALTA COSTURA
Carla Lamarca, 1,80 m, está de volta à televisão. Ela
está afastada das telas há dois anos, quando deixou
a MTV para trabalhar em uma gravadora de rock independente em Paris e estudar marketing musical em
Londres...
Fonte: KOCH, Ingedore & ELIAS, Vanda. Escrita e progressão referencial. In: Ler e escrever:
estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2009, p. 131 - 189.
Na produção do texto, percebemos que o referente inicialmente
introduzido Carla Lamarca é retomado e mantido em evidencia por
meio do pronome ela. Esse processo diz respeito às diversas formas de
introdução, no texto, de novas entidades ou referentes, nomeado de referenciação, estudado na unidade anterior. Quando tais referentes são
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retomados ou servem de base para a introdução de novos referentes,
tem-se o que se denomina de progressão textual que segundo Koch
e Elias (2009) A progressão referencial se processa com base numa
complexa relação entre linguagem mundo e pensamento. Esta relação
se estabelece no discurso. Assim, os referentes não são tomados como
entidades estáveis, mas como objetos de discurso.
A título de ilustração da questão apontada, trazemos o exemplo a
seguir, apresentado e analisado por Koch e Marcuschi (1998) em que
uma locutora, indagada sobre que frutas mais gosta, respondeu do
seguinte modo:
(13)
(Fonte: KOCH , Ingedore e MARCUSCHI, Luiz Antonio. Processos de referenciação na produção
discursiva. In: Delta, 1998. Disponível: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0102-44501998000300012> Acessado em 19 de abril de 2011).
Considerando os enunciados nominalmente os referentes do pronome “eles”, os autores acima afirmam que nós sabemos quem são os
indivíduos referenciados por “eles”, ou pelo menos agimos como tal,
apesar da variação de referentes. Veja-se que há uma enorme variação
inclusive para os referentes de “nós” e “a gente”, sem que se explicite
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ou que haja algum tipo de referente na superfície textual.
Não se trata propriamente de uma relação anafórica nem de correferencialidade, mas de objetos-de-discurso que são gerados pela particular forma de organizar o tópico em cada momento do discurso.
Por outro lado, podemos observar que as diversas vezes em que certos itens lexicais entram, tal como o caso de “banana”, trata-se sempre
de algo diferente e não da mesma banana referencialmente. A rigor,
não se trata de banana alguma e sim de um referencial discursivo para
falar a respeito de uma classe ou de um objeto ou de uma entidade
em contexto sempre diverso. Veja-se também que o mesmo indivíduo é
tratado por vezes como o mesmo e como diferente.
Em vista disso, o “nós” nem sempre inclui o “eu” e também não
envolve conjuntos definidos. Na realidade, o que se observa é uma
atividade de designação referencial em que não há a necessidade de
postular a existência de fenômenos e fatos, mas os fatos e os fenômenos são como que necessidades (realidades) discursivas.
O pronome eles não tem nenhum elemento referencial antecedente cotextualmente explícito. No entanto, não deixamos de entender de
quem se trata. Essa estratégia de referenciação é bastante comum na
fala e rara na escrita. Trata-se de um traço característico da fala e de
gêneros escritos que têm uma proximidade com a fala.
A partir dessa ilustração alguns questionamentos emergem da relação entre referenciação e ensino da produção escrita dada as ocorrências inesperadas em gêneros textuais orais e escritos. Ferreira (2008)
demonstra questionamentos acerca de como o professor- leitor pode
agir um diante de ocorrências referenciais “atípicas” ou “inesperadas”.
A fim de encontrarmos respostas para essas questões, vejamos algumas
ocorrências3 explicitadas pela pesquisadora de expressões referenciais
possíveis de serem consideradas inadequadas, e qual o tratamento que
se dá a elas.
(14) O dinheiro traz desenvolvimento para a nação. Felicidade para
milhares de famílias, porque eles não precisariam viver tão sacrificados.
Os exemplos retirados são provenientes
de textos produzidos por alunos pré-universitários, e estão transcritos tais quais os
originais. Os textos foram escritos a partir
de propostas que solicitavam a produção de
um artigo de opinião (FERREIRA, 2008).
3
(15 ) Eu vejo essas reservas de vagas nas universidades para os estudantes de escola estadual, como mais uma esmola disfarçada
de interesse pelos menos favorecidos.
Em (14), temos que o pronome anafórico “eles” não se apresenta
no mesmo gênero que o seu antecedente – “(as) milhares de famílias”.
Logo, há uma disjunção flexional entre o anafórico e o antecedente,
o que pode caracterizar uma inadequação. Todavia, adotando-se a
perspectiva da referenciação, pode-se alegar que a relação anafórica
de (14) está adequada. O que ocorre, nesse caso, é que um mesmo
objeto-de-discurso é expresso sob pontos de vista distintos. No caso da
disjunção masculino/feminino (como corre entre “milhares de famílias”
e “eles”), é sabido que expressões referenciais distintas (por exemplo:
a população, o povo) podem servir para fazer referência a um mesmo
objeto-de-discurso.
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Dessa forma, cognitivamente, a expressão “milhares de família”
pode ser recategorizada como “os membros de uma nação”, o que
permite a expressão, na superfície textual, do pronome “eles”, que faz
a concordância com um elemento acessado apenas na memória discursiva.
Em contrapartida, em (15), haveria uma inadequação em virtude da
utilização do pronome dêitico-referencial “eu”. Esse exemplo pode ser
considerado inadequado porque está desrespeitando uma recomendação bastante usual aos alunos: em textos argumentativos, deve-se
evitar o uso da primeira pessoa, pois isso comprometeria a propalada
impessoalidade característica desse tipo de texto. Todavia, levando-se
em conta o ponto de vista da referenciação, a construção não pode ser
inadequada, já que a expressão de opinião está inerentemente ligada
a um sujeito enunciador, que se autoidentifica (que se auto-refere), na
grande maioria das situações de interação, pelo uso do “eu”.
Nos dois casos, temos, então, expressões que desobedecem a algum aspecto normativo – em (3), há uma desobediência à norma gramatical; em (15), há uma desobediência à norma textual. Porém, em
ambos os casos, as ocorrências podem ser justificadas porque exprimem uma motivação cognitivo-discursiva. Em suma, do ponto de vista
das possibilidades de construção dos referentes enquanto objetos-dediscurso, as construções acima não seriam consideradas inadequadas.
Esse fato, por si só, já mostra como os pressupostos da referenciação
podem intervir nas práticas de ensino.
Entretanto, se encerrássemos a discussão apenas com o veredicto
de que as ocorrências acima são adequadas, estaríamos correndo o
risco de gerar a falsa impressão de que, tomando como base a referenciação, todas as ocorrências podem ser justificadas (o que ajudaria a
corroborar a velha visão de que, para os linguistas, nada é errado). Isso
não é verdade porque, de fato, pode haver expressões referenciais que
prejudicam a construção do(s) sentido(s) de um texto (por exemplo, expressões que refletem ausência de continuidade ou progressão textual,
ou ainda expressões anafóricas que apresentam relações semânticas
incompatíveis entre si, casos que não serão exemplificados aqui pela
falta de espaço).
Além disso, lembramos que, na construção e manifestação dos objetos-de-discurso, as escolhas do falante por uma ou outra expressão
referencial estão sujeitas a restrições de diversas ordens, dentre as quais
se inclui a obediência à norma linguística. Para isso, o professor –leitor
necessita de uma observação de textos fora do ambiente escolar, analisando gêneros textuais em contexto variados de interação, como os
gêneros jornalísticos (artigo de opinião) em que os articulistas lançam
mão da primeira pessoa, conforme analisado no (4), sendo referendada pelas práticas sociais.
Ferreira (2008) aponta que para uma expressão referencial seja
considerada adequada, é importante se considerar os aspectos normativos que a envolvem. Entretanto, a norma a ser considerada tem
de estar calcada nos usos efetivos, e não no que se acha que deve ser
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correto, “porque é isso que a gramática diz” ou “porque alguém disse
que era assim”. Em suma, para usar a terminologia da Sociolinguística,
a norma a ser confrontada deve ser, sempre que possível, a objetiva, e
não a subjetiva.
Cumpre ressaltar a assertiva de Lopes- Rossi (2006, p. 1) no que
concerne aos pronomes oblíquos dada a dificuldade dos alunos no
emprego desse tipo de pronome:
A gramática normativa ignora que certas formas
dos pronomes oblíquos estão fora de uso há décadas, que a língua falada coloquial apresenta outra
gramática com relação aos pronomes oblíquos e
que a língua formal escrita usada na imprensa brasileira determina um certo padrão formal culto que
se impõe com sucesso e não coincide exatamente
com a norma padrão.
Diante do exposto, Dias (2005) afirma que os livros didáticos têm a
responsabilidade de formular a orientação segura ao professor no sentido encaminhar uma reflexão moderna, e de perfil teórico definido das
classes de palavras, consequentemente, dos pronomes pessoais. Isto
porque, faz-se necessário ultrapassarmos o processo de “didatização”
dos conceitos da gramática tradicional em que os gêneros textuais/
discursivos são empregados como pressuposto para o ensino de língua
portuguesa.
Atividade II
1) Leia a vídeo charge a seguir:
Homenagem a um Herói
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Fonte: disponível em:<http://charges.uol.com.br/2011/04/13/cotidiano-homenagem-a-um-heroi> Acessado
em 15 de abril de 2011).
a) Considerando o emprego do você no vídeo charge e a perspectiva gramatical,
podemos afirmar que essa perspectiva é suficiente para explicar o fenômeno
linguístico do emprego do você no enunciado acima?
b) Qual o efeito de sentido ocasionado pelo emprego do você?
c) Caso substituíssemos o você pelo tu, teríamos o mesmo sentido? Justifique
a sua resposta.
2) Assista ao vídeo a seguir através do endereço eletrônico abaixo e leia o texto
2, centrando-se na fala da profª Eliana Moura.
Texto 01
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=0L6pXgeW-2o&NR=1 Acessado em 19 de abril de 2011.
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Texto 02
A partir da perspectiva linguística estudada, analise a fala da professora Eliane
Moura nos dois contextos (oral e no retextualizado da fala para a escrita) no
que concerne ao emprego dos pronomes pessoais.
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A partir do contexto de referenciação dos pronomes pessoais e o processo de
ensino aprendizagem, proponha uma análise linguística acerca dos pronomes
pessoais
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Leituras recomendadas
Para ler
KOCH, Ingedore & ELIAS, Vanda. Ler e escrever: estratégias de produção
textual. São Paulo: Contexto, 2009.
Neste livro, as autoras Estabelecem uma ponte
entre teorias sobre texto e escrita e práticas de
ensino, com o diferencial de estudar a teoria
com exemplos práticos de diversos meios de
comunicação. Atividade regida pelo princípio
da interação, a escrita requer a mobilização
de conhecimentos referentes à língua, a textos, a
coisas do mundo e a situações de comunicação, inclusive, identifica os
mecanismos de coesão constitutivos do texto e examina, a partir deles,
as classes de palavras, ressaltando os pronomes pessoais como articuladores textuais, de progressão referencial e de sentenças.
Para navegar
http://www.revistalingua.com.br
Site da revista língua portuguesa, que possibilita o acesso aos artigos
publicados na versão impressa da publicação. Gramáticos e linguistas discutem diferentes aspectos dos pronomes em que apresentam
relevantes considerações sobre o modo como são descritos pela gramática normativa e o uso efetivo que deles fazem os falantes.
Para Assistir
Se eu Fosse Você
O filme relata uma troca
de corpos entre o casal
Cláudio, 50 anos, publicitário bem sucedido,
dono da própria agência,
e Helena, 40 anos, professora de música, coordenadora de um coral infantil, que são casados há
muitos anos e já caíram
na rotina. A consciência
de Cláudio havia migrado para o corpo de Helena, e vice-versa.
Portanto, Cláudio passa a ter um corpo de mulher: o de Helena; e
Helena, um corpo de homem: o de Cláudio. Eles são obrigados a
assumirem, em todos os sentidos e conseqüências, a vida do outro.
Essa permuta entre os pronomes eu e você e entre o casal conduz
toda a narrativa da comédia.
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Resumo
Os pronomes pessoais são aqueles que indicam uma das três pessoas do discurso: a que fala, a com quem se fala e a de quem se fala.
São divididos em: pronomes pessoais do caso reto que desempenham
a função sintática de sujeito da oração. São os pronomes eu, tu, ele,
ela, nós, vós eles, elas e pronomes pessoais do caso oblíquo São os
que desempenham a função sintática de complemento verbal (objeto
direto ou indireto), complemento nominal, agente da passiva, adjunto
adverbial, adjunto adnominal ou sujeito acusativo (sujeito de oração
reduzida). Os pronomes pessoais do caso oblíquo se subdividem em
dois tipos: os átonos, que não são antecedidos por preposição, e os
tônicos, precedidos por preposição. Pronomes oblíquos átonos são os
seguintes: me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes e os p Pronomes
oblíquos tônicos são: mim, comigo, ti, contigo, ele, ela, si, consigo,
nós, conosco, vós, convosco, eles, elas. Há também uma discussão do
emprego do a gente e do você (s) no âmbito linguístico e gramatical
em que as repercussões dos pronomes você e a gente no contexto
gramatical e linguístico, percebemos que o pronome você, a priori, foi
denominado de expressão nominal de tratamento (vossa mercê) que levava o verbo para a terceira pessoa do singular. A forma você manteve
algumas propriedades mórficas que acarretam o rearranjo no sistema,
uma vez que persiste a especificação original de 3ª pessoa, embora a
interpretação semântico- discursiva passe a ser de 2 ª pessoa. Em relação ao pronome a gente as gramáticas e manuais didáticos raramente explicam os fenômenos consagrados da linguagem coloquial, não
apresentam uma posição coerente e única. A classificação é, em geral
controvertida, pois ora consideram a gente como fórmula de representação da 1 ª pessoa, forma de tratamento, pronome indefinido ou,
ainda recurso para indeterminar o sujeito. A forma você também sofre
essa variada classificação como forma de tratamento de 3ª pessoa,
uma estratégia de 2 ª pessoa ou pronome de tratamento de 2 ª pessoa.
Desse modo, é importante o estudo da referenciação no processo de
ensino –aprendizagem de língua portuguesa.
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Fonte: http://letras.terra.com.br/chicobuarque/45166/
Autoavaliação
Como vimos nesta aula, os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso
(ou pessoas gramaticais) que são três: - 1ª pessoa (quem fala): eu (singular),
nós (plural); - 2ª pessoa (com quem se fala): tu (singular), vós (plural); - 3ª
pessoa (de quem se fala ou não-pessoa): ele (a) (singular), eles (as) (plural).
Estes desempenham um papel fundamental na produção dos sentidos em nossa
língua. Eles podem, também, ser explorados como elemento de referenciação
das palavras nos gêneros textuais orais e escritos.
Em vista disso, sugerimos que compare as proposta a partir da perspectiva
gramatical e linguística do pronome pessoal.
(Fonte: ABAURRE, Maria Luiza. Português, contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2008).
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Questões
a) Nas orações “Quem te viu quem te vê”, a quem o pronome te está se
referindo?
b) Explique qual o sentido produzido por esse enunciado, baseando-se na
letra da música.
c) Nas orações “Quem não a conhece não pode mais ver”, a quem a palavra
em negrito está remetendo?
d) Quem é o eu nesse contexto de enunciação?
Professor, promova a socialização das respostas, solicitando a alguns que
expliquem as questões acima.
(Fonte: disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=8169 Acessado em 19
de abril de 2011).
Referências
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Paulo: Moderna, 2008.
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SP: Pontes, 1996.
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KOCH, Ingedore. Progressão referencial, progressão temática
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e progressão tópica. In: As tramas do texto. Rio de Janeiro: Nova
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V UNIDADE
Pronomes II: Classificação
tradicional dos pronomes
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Apresentação
Você estudou, na unidade anterior, os pronomes pessoais
deve ter percebido que eles exercem importante papel na
estruturação das frases e, em consequência, na produção
dos textos.
Nesta unidade, vamos estudar as seguintes subclasses
dos pronomes: possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos e relativos.
Conhecer esses pronomes vai ajudá-lo a utilizá-los de
forma adequada nas diversas situações comunicativas e assim produzir textos bem construídos quanto à estrutura gramatical, coesão e clareza.
É importante, então, que você estude este material com
cuidado, revise-o sempre que necessário e, caso surjam dúvidas, socialize-as com seus colegas, com o tutor e com o
professor.
Estamos todos aqui para trocar experiências e ajudá-lo
no que for necessário.
Bons estudos!
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Objetivos
No final desta unidade você deverá:
• Entender o que define os pronomes possessivos, demonstrativos, relativos, indefinidos e interrogativos.
• Conhecer as formas e o emprego dos pronomes
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Pronomes possessivos
Para iniciar nossa conversa, leia estes versos:
Modinha
Tuas palavras antigas
Deixei-as todas, deixei-as
Junto com as minhas cantigas,
Desenhadas nas areias [...]
MEIRELES, Cecília. Obra poética.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.
Observe que a palavra tuas refere-se ao substantivo palavras, indicando que elas pertencem à pessoa com quem se fala (2ª pessoa do
discurso); a palavra minhas refere-se ao substantivo cantigas, indicando
que elas pertencem à pessoa que fala (1ª pessoa do discurso).
Segundo Bechara (2004, p.166), pronomes possessivos “São os
que indicam a posse em referência as três pessoas do discurso”.
Veja abaixo as formas dos pronomes possessivos:
1ª pessoa
Singular
Plural
Meu
Minha
Meus
Minhas
2ª pessoa
Teu
Tua
Teus
Tuas
3ª pessoa
Seu
Sua
Seus
Suas
1ª pessoa
Nosso
Nossa
Nossos
Nossas
2ª pessoa
Vosso
Vossa
Vossos
Vossas
3ª pessoa
Seu
Sua
Seus
suas
Os pronomes possessivos podem ser empregados com diferentes
sentidos. Vejamos:
1. O possessivo e a ambiguidade
Ambiguidade: 1. Condição de ambíguo.
Incerteza, dúvida ou indefinição entre duas
possibilidades. Dicionário didático. São
Paulo: Edições SM, 2009, p. 50.
1
Os possessivos seu(s) e sua(s) podem fazer referência à 2ª pessoa do
discurso e podem também fazer referência à 3ª pessoa do discurso. Essa
dupla possibilidade de relação gramatical pode gerar ambiguidade1.
Veja a ambiguidade na tira abaixo:
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O humor da tira está baseado na ambiguidade provocada pelo
pronome possessivo seus. O médico usou a palavra reflexo com o sentido de “atividade involuntária de um órgão” já o paciente entendeu
como “luz refletida ou o efeito dela”
2. Os possessivos podem, em certos contextos, ser substituídos por
pronomes oblíquos equivalentes.
Meu(s), minha(s) → me
Teu(s), tua(s) → te
Seu(s), sua(s) → lhe(s)
Nosso(s), nossa(s) → nos
Vosso(s), vossa(s) → vos
Observe os exemplos:
Ele beijou as minhas mãos → Ele beijou-me as mãos.
Comprei o teu carro
→ comprei-te o carro
3. Os pronomes possessivos podem exercer outros tipos de relação
além de posse.
Ele tem lá seus vinte anos. (aproximadamente)
Minha cidade é João Pessoa. (lugar onde mora)
Traidor, como você é meu amigo! (ironia)
4. Em relação aos pronomes de tratamento (Vossa Excelência, Vossa Senhoria, etc.), empregam-se os possessivos seu, sua, seus, suas,
Exemplo:
Vossa Senhoria pretende mudar seus planos?
(e não: Vossa Senhoria pretende mudar vossos planos?)
Continuando o estudo dos pronomes, vamos conhecer agora os
que fazem referência às pessoas do discurso, estabelecendo entre elas
e os seres por eles designados, uma relação de proximidade ou distanciamento, no tempo e no espaço. São os pronomes demonstrativos.
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Vamos entendê-los? Para isso, leia a tirinha abaixo:
Para indicar um prato de comida de características desconhecidas,
Hagar e Helga recorrem a pronomes (isto e isso). Na conversa do casal, esses termos cumprem uma função indicativa: identificar, para os
interlocutores qual é o referente sobre o qual falam, localizando-o em
relação a cada um desses interlocutores.
Como o prato de comida a que Hagar se refere está próximo dele,
Hagar usa o pronome isto. Helga, para indicar a comida de Hagar escolhe uma forma ligeiramente diferente: isso. Essa diferença indica que
o referente da sua fala está próximo de seu interlocutor. Os dois termos
são pronomes demonstrativos.
Para Bechara (2004, p.167) “Pronomes demonstrativos são os que
indicam a posição dos seres em relação às três pessoas do discurso.
Esta localização pode ser no tempo, no espaço ou no discurso.”
Observe abaixo, as formas dos pronomes demonstrativos.
Variáveis
Masculino
Invariáveis
Feminino
Este
Estes
Esta
Estas
Isto
Esse
Esses
Essa
Essas
Isso
Aquele
Aqueles
Aquela
Aquelas
Aquilo
Também são pronomes demonstrativos:
a) O, A (equivalentes a aquele (s), aquela (s).
Ex. A chuva destruiu tudo o que havíamos conseguido com sacrifício.
b) TAL, TAIS, SEMELHANTE (s) (equivalentes a este (s) esta (s).
Ex. Por que só agora você vem me dizer tais coisas?
OBS. Os demonstrativos podem ocorrer combinados com as preposições de e em. Nesse caso, as formas resultantes são deste (e flexões),
neste (e flexões), nesse (e flexões), naquele (e flexões), daquilo, naquilo.
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Agora que já conhecemos as formas dos pronomes demonstrativos,
vamos estudar o emprego desses pronomes.
1. ESTE, ESTA, ESTES, ESTAS, ISTO.
a) No espaço – indicam o que está próximo da 1ª pessoa do discurso
(quem fala/escreve).
Ex. Este carro aqui é meu.
b) No texto – referem-se, geralmente a algo que irá ser dito/escrito.
Ex. O grande sentido da vida é este: Ser feliz.
c) No tempo – indicam tempo atual, presente (em relação ao momento
da fala).
Ex. Este ano eu me sai bem no vestibular.
2. ESSE, ESSA, ESSES, ESSAS, ISSO
a) No espaço – indicam o que está próximo da 2ª pessoa do discurso
(quem ouve/lê).
Ex. Por favor, passe-me essa revista que está com você.
b) No texto – referem-se, geralmente, a algo que já foi dito/escrito.
Ex. Compreensão e apoio. Ela só nos pediu isso. (Isso refere-se à compreensão e apoio, expressões que já foram citadas no texto).
c) No tempo – marcam um tempo anterior próximo ou posterior próximo (em relação ao momento da fala).
Exemplos:
A meteorologia prevê que esse fim de semana terá tempo bom.
A Seleção Brasileira empatou com o Chile nesse sábado, em Santiago.
3. AQUELE, AQUELA, AQUELES, AQUELAS, AQUILO
a) No espaço – indicam o que está longe da 1ª pessoa e também da
2ª pessoa.
Ex. Aquele ponto brilhante no céu é uma estrela.
b) No texto – indicam um elemento referido anteriormente a outro.
Ex. Marcos e Carla são irmãos. Aquele é músico, esta é comerciante.
c) No tempo – indicam tempo distante, bem anterior ou posterior ao
momento da fala.
EX. Em 1995 fui aos EUA, naquela época era mais fácil obter o visto
de entrada para esse país.
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Atividade I
1. No uso da língua, pronomes possessivos podem exercer outros tipos de relação
além de indicar posse. Aponte, na lista dada, que tipo de relação semântica os
pronomes destacados nos enunciados acrescentam aos substantivos.
1. “Foi por isso que respondi ao meu amigo que ele, no mínimo, não estava
sabendo as regras do jogo.”
2. “[...] fazer minha aula de judô...”
3. “Quando voltei à minha cidade, surpreendi-me com os novos prédios.”
4. “Meu ônibus atrasou e cheguei tarde ao trabalho”
a) Lugar em que se nasceu ou mora.
b) Hábito
c) Afinidade
d) Grupo a que se pertence, compromisso
2. Na tira humorística a seguir, as mulheres do primeiro quadro são Honi, Irmã
do garoto Hamlet, e Helga, mãe dele. Hérnia é a namoradinha de Hamlet.
a) O pronome destacado no segundo quadro substitui que substantivo?
b) Se Honi, em vez de usar (d) ela, tivesse usado o possessivo seu, o que
ocorreria com o sentido da fala do segundo quadrinho?
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3. Considere esta frase:
Flamengo e atlético são bons times. ____, no entanto, é melhor que _____.
Que pronomes demonstrativos seriam colocados nas lacunas por:
a) Um torcedor fanático do Flamengo?
b) Um torcedor fanático do Atlético?
4. Escreva as frases, substituindo os pronomes destacados por expressões
(formadas por pronomes demonstrativos + substantivos) que evitem a
ambiguidade. Preste atenção aos sentidos mais prováveis das frases.
a) O carro bateu, capotou e o piloto sofreu uma fratura na perna. Isso tudo
foi programado pelo repórter.
b) A cotação do dólar subiu a rejeição ao governo, os juros bancários
mantiveram-se altos. Isso causou pânico no governo.
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
Vamos agora estudar os pronomes indefinidos que, como o próprio
nome indica, substituem ou acompanham os substantivos de forma imprecisa.
Para começar, leia a tira abaixo:
O cartum apresenta uma visão irônica sobre o matrimônio. O sentido do texto é constituído pela apresentação de dois momentos de um
casamento: o começo e o fim.
No primeiro, os noivos, diante do padre prometem ser fiéis, amar e
respeitar um ao outro até que a morte os separe. No segundo, pode-se
inferir que as promessas não foram cumpridas, não se sabe exatamente
quais delas foram desrespeitadas ou quanto vezes esse comportamento
aconteceu.
Por isso, o pronome para fazer referência a essas ocorrências precisa ter um caráter mais vago. Por esse motivo, o cartunista utilizou um
pronome indefinido (várias).
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Segundo Abaurre (2008, p. 341) “Os pronomes indefinidos, como
o próprio nome indica, fazem referência à 3ª pessoa do discurso de
uma maneira indefinida, vaga, imprecisa ou genérica”.
Veja no quadro abaixo, as formas dos pronomes indefinidos.
Formas Variáveis
Em número e gênero
Em número
Formas
Invariáveis
Qualquer
Outrem
Algum
Pouco
Nenhum
Certo
Qual
Nada
Todo
Vário
Diverso
Cada
Outro
Tanto
Muito
Quanto
Algo
Emprego de pronomes indefinidos.
a) Algum, alguma, alguns, algumas.
• Quando empregados antes do substantivo, tem valor afirmativo.
Ex. Algum amigo me ajudará.
• Quando empregados depois do substantivo, têm valor negativo.
Ex. Amigo algum me ajudará.
b) Todo, toda, todos, todas.
• No plural, indicam totalidade.
Ex. Todos os candidatos participaram do debate na TV.
• No singular e sem artigo, significam “qualquer”, “cada”.
Ex. Em nossa opinião, toda fazenda deve ser cultivada. (toda fazendo = a fazenda inteira)
• No singular e colocados depois do substantivo também equivalem a adjetivo, significando “inteiro(a)”.
Ex. Em nossa opinião, a fazenda toda deve ser cultivada. (a fazenda
toda = a fazenda inteira, em sua totalidade).
De olho na fala!
Embora a variação de grau não esteja prevista para os pronomes
indefinidos, ela ocorre na fala com um caráter afetivo.
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Veja na tirinha abaixo a forma nenhuminha.
Vamos conhecer mais um tipo de pronome? Os interrogativos.
Leia a tirinha de Hagar (nosso conhecido de outras aulas).
Helgar, mulher de Hagar, deduz que Hagar tinha tirado o tapete
de boas vindas da porta porque soubera que a mãe dela estava para
chegar de visita, o que não agradava ao marido.
No segundo quadrinho, Helga interroga o marido: Bem, quem lhe
disse que minha mãe vem nos visitar? Observe que a palavra destacada (quem) é usada numa interrogação. Helga usou então, um pronome
interrogativo.
Veja abaixo as formas dos pronomes interrogativos.
Que, quem qual (quais), quanto(s), quanta(s)
Segundo Amaral (et al, 2010, p. 278) “Os interrogativos são, na
verdade, pronomes indefinidos empregados em dois tipos de frases:
• Interrogativas diretas – são iniciadas pela palavra interrogativa e
terminadas por ponto de interrogação.
Ex. Quem venceu a Guerra dos Cem Anos?
• Interrogativas indiretas – apresentam a palavra interrogativa posicionada internamente e são terminadas por ponto final.
Ex. Diga-me quantos trabalhadores construíram esta escola.
Para finalizar nosso estudo sobre pronomes vamos estudar os pronomes relativos.
Leia esta frase.
1- Ouvimos aquele repórter policial que tem um programa de rádio
toda noite.
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Essa mesma frase poderia ser dividida em duas:
I - Ouvimos aquele repórter policial.
II - Aquele repórter policial tem um programa de rádio toda noite.
Com essa redação, o texto ficaria mal estruturado e repetitivo. Na
frase 1, a palavra que em substituição a aquele repórter policial criou um
texto mais enxuto.
A palavra que, empregada para introduzir a segunda oração, recebe o nome de pronome relativo.
“Pronome relativo é aquele que liga duas orações, substituindo na
2ª oração uma palavra ou expressão antecedente, isto é, já expressa a
1ª oração”. (SARMENTO, 2005, p. 200)
Vamos conhecer as forma dos pronomes relativos?
Pronomes relativos
Variáveis
Invariáveis
O qual, a qual, os quais, as quais, cujo,
cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quan- Que, quem, onde, como, quando
tos, quantas
Conheça o emprego dos pronomes relativos para produzir textos
claros, objetivos e coesos.
1- QUE é o relativo mais empregado, sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser usado com referência à pessoa ou coisa, no
singular ou no plural.
Ex. Eis o instrumento de que necessitamos.
2- QUAL e suas flexões são exclusivamente pronomes relativos.
Ex. Este é o livro do qual lhe falei.
3- CUJO e sua flexões estabelecem normalmente relação de posse
entre o antecedente e o termo que especificam.
Ex. Devem-se eleger candidatos cujo passado seja garantida de
boas intenções.
4- QUEM refere-se a uma pessoa ou coisa personificada.
Exs. Esta é a garota de quem falei no meu livro.
Esse é o livro de quem prezo como companheiro.
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5- ONDE, AONDE essas duas formas são usadas como indicação de
lugar e, na variedade culta da língua, têm empregos diferentes. Observe:
ONDE – equivale a “em que”, “no qual”, “na qual”
Ex. Conheço a cidade onde você nasceu.
(Conheço a cidade em que/ na qual você nasceu.)
AONDE – equivale a “a que”, “ao qual”, ”a qual”.
Ex. Conheço a cidade aonde você irá amanhã.
(Conheço a cidade a que/ a qual você irá amanhã.)
Atividade II
01. Leia estes versos:
Liberdade – essa palavra
Que o sonho humano alimenta:
Que não há ninguém que explique,
E ninguém que não entenda!
MEIRELES, Cecília. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986 ,p.12.
a) Nele há três diferentes pronomes. Indique-os e classifique-os.
b) No verso 3, o pronome que aparece duas vezes. Quais são os seus
antecedentes?
02. Explique a diferença de sentido entre as frases:
I- “Um amor assim delicado nenhum homem daria.”
II- “Um amor assim delicado nem um homem daria.”
03. Explique o sentido dos pronomes destacados:
a) Qualquer contribuição será bem recebida por nós.
b) Um computador qualquer não resolveria o problema.
c) Vovó preparou aquela macarronada para nós.
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04. Dada a frase a seguir, faça as substituições indicadas, antepondo ao
pronome relativo à preposição exigida pelo verbo a ser empregado em cada
item.
“Não critiquei as pessoas que você admira.”
a) Troque admira por desconfia.
b) Troque admira por se refere.
Concluindo...
Como você pode ter percebido, a diversidade e a importância dos
pronomes transformam o seu estudo numa ferramenta muito útil a
quem precisa interpretar e produzir textos.
Na próxima unidade vamos lançar um olhar nos pronomes sob o
ponto de vista da linguística e observar que eles são responsáveis por
muitos mecanismos que garantem a coesão dos textos.
Até lá!
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
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Leituras recomendadas
Para ler
DOMINGOS, Tânia R. Eduardo. Pronomes de tratamento do português do século
XVI. São Paulo: Annablume, 2001.
Esse livro é uma rica análise dos pronomes usados por nossos colonizadores durante o século XVI. A autora utiliza como objeto de
estudo 12 autos de Gil Vicente, fundador do teatro português. Relações de igualdade e intimidade dos pronomes são profundamente
analisados.
Para ouvir
Djavan. Nem um dia. In: Djavan – novelas (cd). Som livre, 2001.
Você aprendeu que, na língua culta, não se misturam os tratamentos tu e você e suas correspondentes formas oblíquas. Contudo,
não é raro encontrar canções em que se registra esse processo.
A bela canção de Djavan “Nem um dia”, contém trechos em que
ocorrem esse procedimento. Confira!
Resumo
Os pronomes são palavras que substituem ou acompanham os
nomes. Os pronomes possessivos são os que estabelecem relação de
posse entre seres e conceitos e as pessoas do discurso. Podem ser empregados com diferentes sentidos além da relação de posse, o emprego
inadequado deste pronome pode gerar ambiguidade. Os pronomes
demonstrativos fazem referência às pessoas do discurso, estabelecendo
entre elas e os seres por eles designados uma relação de proximidade
ou distanciamento no tempo e no espaço. Os pronomes indefinidos indicam ou acompanham o substantivo de forma imprecisa. Dependendo
da posição que ocupa na frase (antes ou depois do substantivo) podem
ter valor negativo ou afirmativo. No singular e sem artigo, significam
“qualquer”, no singular, depois do substantivo equivalem a “inteiro(a)”.
Os pronomes interrogativos podem ser usados em interrogativas diretas
e indiretas. Os pronomes relativos ligam duas orações, substituindo na
2ª oração uma palavra já expressa na 1ª oração – o antecedente.
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Autoavaliação
Para avaliar seu desempenho como aluno(a) desta aula, faça a atividade
sugerida abaixo:
Pesquise em três gramáticas da língua portuguesa, o emprego dos pronomes
possessivos, indefinidos e demonstrativos e observe as semelhanças e
diferenças entre a explicação dos três autores e explique-as.
Suas observações ajudarão você a identificar os pontos negativos e positivos
de sua aprendizagem e também os aspectos que você ainda deverá melhorar.
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
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Referências
ABAURRE, Maria Luiza. Português, contexto, interlocução e sentido. São
Paulo: Moderna, 2008.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática da língua portuguesa. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2004.
AMARAL, Emília. Et al. Novas palavras. São Paulo: 2010.
SARMENTO, Leila Lauar. Gramática entre textos. São Paulo: Moderna,
2005.
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VI UNIDADE
Unidade VI
Pronomes III
Outras possibilidades de classificação
dos pronomes
Os pronomes e a coesão textual
Pronomes III: outras
possibilidades de
classificação dos pronomes
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Apresentação
Você estudou nas unidades IV e V os pronomes, sua classificação e empregos. Esse estudo foi realizado à luz da gramática tradicional.
Entretanto, nos últimos anos, ocorreram várias discussões, debates, pesquisas e publicações questionando a visão explicitada por essas gramáticas.
Nesse contexto, o estudo dos pronomes também foi questionado e outras possibilidades de classificação e de emprego foram propostas.
Os pronomes são também recursos linguísticos fundamentais para estabelecer referências e relações, articulando
entre si as várias partes do texto, ou seja, a coesão textual.
Nesta unidade, vamos observar “novos olhares” sobre os
pronomes e a sua função de estabelecer a coesão textual.
É importante que você continue interagindo com o material, buscando as relações necessárias para o entendimento
do conteúdo.
Caso surjam dúvidas, lembre-se de que os professores e
tutores estão aqui para ajudá-lo.
Bons estudos!
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Objetivos
No final desta unidade você deverá:
• Conhecer novas possibilidades de classificação dos pronomes
• Entender o papel dos pronomes na produção de sentidos do
discurso.
• Compreender o papel que os pronomes exercem para o estabelecimento da coesão textual.
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Para iniciar o nosso estudo, leia a tirinha abaixo:
No segundo quadrinho, Snoopy diz: “Ponha para eu ver”.
De acordo com a gramática tradicional (de agora em diante GT)
esta é uma construção correta, pois se emprega o pronome pessoal
reto (eu) nesse caso, porque ele é sujeito de verbo no infinitivo, se Snoopy tivesse empregado o pronome mim (“ponha para mim ver”), ela
seria considerada errada porque o pronome pessoal oblíquo mim não
funciona como sujeito.
Veja o que Possenti (1997, p.168) explica sobre o emprego desse
pronome, “existem muitas construções em que mim aparece depois de
preposições (para, em, de, etc.). Exemplos: “Creia em mim,” “Pegue
isso para mim,” etc. Isso induz os falantes a uma generalização, e eles
acabam usando mim depois da preposição para, mesmo quando há um
verbo que exigiria a forma eu assim, por exemplo: Ele pediu para mim
ficar lá.”
Outro emprego criticado pelos linguistas é a dos pronomes eu e
mim e tu e ti, segundo a GT pronomes pessoais eu e tu não podem vir
antecedidos de preposição, devendo ser substituídos pelos pronomes
oblíquos mim e ti.
Exemplo:
As discussões serão tomadas por mim e ti.
Observe o que Bechara (2004, p. 272) afirma sobre o emprego
desses pronomes: “Já há concessões de algumas gramáticas quando
o pronome eu ou tu vêm em segundo lugar: Entre ele e eu; entre José
e eu. Um exemplo como “entre José e mim” dificilmente sairia hoje da
pena de um escritor moderno”.
Há, segundo os linguistas, essas e outras incoerências na definição tradicional dos pronomes, visto que conceitos apresentados não
correspondem à realidade da língua. Para os autores citados acima,
dizer que os pronomes são “palavras que substituem os nomes” nos faz
incorrer em alguns erros. Primeiro porque não são todos os pronomes
que substituem os nomes, e mesmo quando da substituição, nem sempre tal substituição é perfeita. Segundo, aqueles que funcionam como
substitutos nem sempre substituem um nome.
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No que diz respeito à subclasse dos pronomes pessoais, a foricidade desses pronomes, particularmente a referência exofórica tradicionalmente atribuída a àqueles itens linguísticos responsáveis pela indicação
das pessoas do discurso, determinando-as, vincula-se ao processo de
interação. Acrescente-se, a partir de estudos de autores como Ilari (et
al., 1996), que os pronomes pessoais não são os únicos a desempenharem tal função, enquadra-se também neste contexto outros vocábulos
e/ou expressões, não sendo uma atribuição exclusiva dos pronomes.
Monteiro (2002) faz uma crítica aos gramáticos tradicionais quando eles afirmam que os pronomes possessivos podem ser classificados
como substantivos e adjetivos. Para ele, é necessário rever essa classificação e enquadra os possessivos como pronomes pessoais, pois “...
em qualquer nível de análise, a interpretação deve ser simplificada:
morficamente, os possessivos se prendem à constituição ou mesmo radical dos pessoais; sintaticamente, completam o esquema de funções
pronominais, semanticamente, todo possessivo é pessoal, sendo um
atributo da noção de pessoa.” (p. 98).
Dessa forma, o que realmente os possessivos expressam é uma relação com as pessoas do discurso, já que nem sempre eles expressam
uma relação semântica de posse entre entidades (possuidor/coisa possuída).
Veja estes exemplos:
a) Ele tem lá seus 20 anos.
Nesse caso, o pronome “seu” não indica posse e sim “aproximadamente”.
b) Amanha vou fazer minha aula de judô.
Aqui, o pronome possessivo “minha” indica grupo a que se pertence, compromisso.
c) Quando voltei a minha cidade, surpreendi-me com os novos
prédios.
O pronome “minha,” nesse caso indica lugar em que se nasceu
ou que se mora.
Enfim, para o autor os possessivos são as formas adjetivas dos pronomes pessoais.
Perini (1995), ao criticar a classificação dos pronomes da GT é
tão radical ao ponto de propor que a classe dos pronomes tem de
desaparecer e propõe uma nova classificação para as palavras tradicionalmente incluídas nesta classe, que pode ser assim resumida: os
pronomes tradicionais pertencem a diversas classes, em função do seu
comportamento sintático.
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Vejamos a classificação apresentada pelo autor.
1- Substantivos -1: eu, nós, ele isto, aquilo, etc.;
2- Substantivos -2: alguém, ninguém, tudo, algo, etc.;
3- Relativos e interrogativos [+ Rel]: que, quem, o qual, etc.;
4- Pré-Determinantes [+ Pdet]: todos, ambos;
5- Determinantes [+ Det]: o, um, algum, este, esse aquele, etc.;
6- Possessivos [+ Poss]: meu, seu, nosso, etc.;
7- Quantificadores [+ Qf]: muitos, vários, diversos, único, terceiro
etc.;
8- Numeradores [+ Num]: outro, dois e os demais cardinais.
Como se pode perceber, o que tradicionalmente pertence a apenas
a uma classe – a dos pronomes – Perini (1995) coloca em oito classes
distintas que são subclasses dos pronomes.
Continuando com os novos olhares...
De acordo com a GT, “os pronomes demonstrativos indicam a posição de um ser em relação às pessoas do discurso, situando-o no tempo
e no espaço” (NICOLA, 2005, p. 60).
Porém, dependendo do contexto em que são empregadas, os demonstrativos podem indicar, também, uma noção mais subjetiva.
Leia a tirinha abaixo, para entender essa noção.
Na tira, os pronomes demonstrativos isto e isso indicam a referência
espacial do prato de comida servido. Mas na fala de Hagar, o isto tem
também um valor depreciativo, negativo.
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Conclui-se, então, que há, segundo os linguistas, outras visões sobre os pronomes, diferente daquela apresentada pelas gramáticas tradicionais e que “esses novos olhares” estão de acordo com as teorias
linguísticas mais recentes que ampliam a funcionalidade dessa classe
de palavras.
Segue abaixo, uma pequena bibliografia na qual você poderá pesquisar e verificar outras visões sobre os pronomes, sua classificação e
emprego.
MACAMBIRA, José Rebouças. A estrutura morfossintática do português.
São Paulo: Pioneira, 1987.
NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português
[capítulos: o pronome pessoal; o pronome possessivo]. São Paulo:
Editora da UNESP, 2000.
TRASK, R.L. Dicionário de linguagem e linguística. São Paulo: contexto,
2004.
LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua
moderna e seu ensino. Porto Alegre: Cepm, 1985.
BENVENISTE, Émile. A natureza dos pronomes. In: Problemas de
Linguística Geral I. (tradução de Maria da Glória Novak e Maria Luíza
Neri). Campinas-SP: Pontes: Editora da Universidade Estadual de
Campinas, 1988.
Além dessas referências, há também muitas outras publicações sobre o assunto. Pesquise, consulte-as.
Atividade I
1. Suponha que, em um romance, um dos personagens diga:
Depois daquele dia, meu compadre, ninguém viu mais o mascate.
Aquilo é um ser sem destino. Quem sabe ele já atravessou o rio e
rumou pro sertão?
Explique qual a intenção do falante ao empregar aquilo para se referir ao
mascate.
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2. Qualquer pessoa que o visse, certamente notaria que ele estava
emocionalmente arrasado.
A palavra em destaque tem valor indefinido. Crie uma frase em que essa palavra
exerça o papel do adjetivo e atribua ao substantivo um sentido depreciativo.
3. Observe a seguir o trecho de uma notícia.
“2008, este foi um ano onde boa parte dos preços agrícolas se
comportou como uma verdadeira gangorra.”
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
a) Por que é possível afirmar que o emprego dos pronomes, nessa construção,
não se realiza conforme prescrevem as gramáticas normativas?
b) Como a frase poderia ser reescrita para atender a essa prescrição?
Ainda falando de pronomes
Vamos estudar agora uma importante função dos pronomes: interrelacionar partes e frases do texto, articulando essas partes em conjuntos harmônicos e funcionais estabelecendo assim a coesão textual.
Os pronomes pessoais e a coesão
Nos atos de comunicação, os pronomes pessoais fazem referência
às pessoas do discurso. Essas referências podem ser de dois tipos:
1. Referência a um dos interlocutores – esse papel é exercido pelas
formas de pronomes pessoais que identificam quem fala/escreve (1ª
pessoa) e quem ouve/lê (2ª pessoa).
Exemplos:
I- É importante deixar claro que eu não participei da reunião.
Nessa frase, o pronome eu faz referência ao emissor (quem fala/
escreve).
II- Naquele tempo, tu vivias muito apegado a sonhos irrealizáveis.
Nesse exemplo, o pronome tu faz referência ao destinatário (quem
ouve/lê).
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Segundo Neves (2000), essa função dos pronomes é chamada exofórica ou dêitica, “...isto é, uma pessoa que pertence ao circuito da comunicação, é o caso da primeira e segundas pessoas.” (p. 449, 450).
2. Referência a elementos (pessoas ou coisas) do texto.
Existem formas de pronomes pessoais – as de 3ª pessoa – que fazem
referência a elementos textuais (pessoas ou coisas) que já foram ou vão
ser citadas no próprio texto. Neves (2000), explica “o pronome pessoal
tem uma natureza fórica, ou seja, é um elemento que tem como traço
categorial a capacidade de fazer referência pessoal.”
Essa referência pode ser:
a) Referência a uma pessoa ou coisa que já foram citadas no próprio texto.
Para entender melhor, leia a tirinha abaixo:
Observe que, nesse exemplo, o leitor precisa voltar ao que já havia dito para associar o pronome ele (no 2º e no 3º quadrinho) a seu
respectivo referente: o ganso.
Ao retornar elementos já citados, o pronome exerce sua função anafórica.
b) Referência a pessoa ou coisa que vai ser citada no próprio texto.
EX. Ele chegou e já mudou a paisagem: o verão agita as praias brasileiras.
Observe que nesse exemplo, o leitor terá que dar prosseguimento
à leitura do texto, até encontrar o termo: “o verão” e estabelecer a relação de referência.
Nesse mecanismo o referente aparece depois do elemento coesivo.
Trata-se então de uma catáfora.
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Os pronomes demonstrativos e a coesão textual
Os pronomes demonstrativos também constituem um grupo de palavras importantes para estabelecimento da coesão textual, pois seu
papel é justamente estabelecer relação de referência tanto a elementos
do próprio texto como elementos de fora do texto.
Veja esta tirinha de humor:
Relativamente à pergunta feita pelo menino, compare as estruturas:
• Como posso ter certeza – de que quando nos casarmos vamos
partilhar tudo igualmente e um não vai mandar no outro?
• Como posso ter certeza – (d) isso?
Observe que o garoto usou a palavra (d) isso para fazer referência
ao que a menina já disse, ou seja, a palavra (d)isso retoma elementos
que fazem parte do próprio texto.
Dessa forma, (d) isso é um pronome anafórico que ajuda a fazer a
coesão do texto.
Veja este outro exemplo:
André e Pedro são fanáticos torcedores de futebol. Apesar disso,
são diferentes. Este não briga com quem torce para outro time; aquele
o faz.
O termo (d)isso retoma o predicado são fanáticos torcedores de
futebol; este recupera a palavra Pedro; aquele, o termo André; o faz recupera o predicado briga com quem torce para outro time.
Todos os pronomes destacados são anafóricos que ajudam a fazer
a coesão textual.
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Os pronomes relativos e a coesão textual
Os pronomes relativos têm dupla função: eles indicam uma nova
oração e introduzem nessa nova oração, um elemento textual que retomam (recuperam) a oração anterior.
Leia esse trecho de poema para entender melhor.
Conta a lenda que dormia
Uma princesa encantada
A quem só despertaria
Um infante que viria
De além do mundo da estrada
[...]
PESSOA, Fernando. Eros e Psique. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2006, p.16.
Observe que o emprego do pronome relativo quem leva o leitor a
recuar na leitura até o verso anterior e associar a esse relativo o termo
princesa encantada. Por sua vez, o relativo que conduz a atenção do leitor até o termo anterior um infante, estabelecendo a coesão do texto.
Essas duas relações da coesão contribuem para dar sentido as texto: um infante (príncipe) viria além do muro da estrada e despertaria
uma princesa encantada.
Esse exemplo permite concluir que a função dos pronomes relativos
– retomar e repor elementos numa sequência de frases – é relevante
para a estruturação textual, uma vez que, contribuindo para a coesão,
contribui, consequentemente, para a progressão (sequencialidade) do
texto.
Concluindo...
Como você viu, os pronomes têm um papel muito importante na
produção de textos coesos e coerentes. Então, de agora em diante,
utilize-os de modo consciente ao escrever para garantir a coesão e a
clareza em seus escritos.
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Atividade II
1. Leia este trecho e responda aos itens de “a” a “c”.
“Eles viviam na África e, há dois milhões de anos, eram poucos. Eram
quase seres humanos, embora tendessem a ser menores que seus
antecedentes que agora habitam o mundo. Andavam eretos e subiam
montanhas com enorme habilidade. [...]
Há 2 milhões de anos, esses seres humanos, conhecidos como
hominídeos, viviam principalmente nas regiões agora chamadas de
Quênia, Tanzânia e Etiópia. [...]”
(BLANE, Geoffrey. Uma breve história do mundo. São Paulo: Fundamento Educacional, 2004. p. 6)
a) No segundo parágrafo, há dois termos que, nesse contexto, são sinônimos
entre si. Identifique-os.
b) Identifique, no primeiro parágrafo, o pronome pessoal que tem como
referentes os elementos textuais que você identificou em a.
c) Qual teria sido a intenção do autor, ao empregar um pronome pessoal
para fazer referência a um elemento que, na sequência textual, aparece
bem depois do pronome?
2. Leia a nota a seguir, reproduzida de uma revista.
Revolta no navio
Na costa de Cuba
Dia 2 – 1839
A bordo da embarcação espanhola La Amistad, 53 escravos recém
trazidos da Africa se revoltaram. Sob a liderança de Joseph Cinqué, eles
fazem com que um navegador os leve a caminho da terra natal. Mas
eles são enganados, e a embarcação á capturada pela marinha dos
Estados Unidos. Os rebelados são presos em Connecticut. Em 1841, as
forças contrárias à escravidão conseguem que a suprema corte coloque
os escravos em liberdade. Em 1997, o caso foi retratado em um filme.
Revista Aventuras na história ,n.60, São Paulo, abril, jul. 2008, p.18.
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a) O texto faz uso de três índices temporais para indicar a sucessão dos
acontecimentos no tempo. Localize-os no texto e registre-os em seu
caderno, relacionando-os aos fatos relatados na nota.
b)Indique que termos foram usados no texto para retomar a palavra escravos.
c) Que mecanismos de coesão foram utilizados no emprego desses termos?
d) No último período da nota, uma única palavra usada como anáfora retoma
todos os fatos relatados anteriormente. Que palavra é essa?
Leituras recomendadas
Para ler
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna,
2009.
Este livro é uma referência para professores de língua portuguesa, alunos
de Letras e também para todas as
pessoas que se interessam em aprender a língua portuguesa. A edição de
2009 já vem de acordo com o “Novo
Acordo Ortográfico”.
Para assistir
Palavras de amor, filme com Richadd Gere e Juliette Binoche.
Richard Gere estrela esta cativante história de um pai obsecado em treinar sua talentosa filha
para a competição nacional de
soletrar palavras. Elisa Naumann
(Flora Cross) tem um dom espantoso que seu pai, Saul (Gere) insiste em aperfeiçoar ele mesmo.
Mas à medida que Elisa continua
tendo sucesso, a recém- descoberta devoção de Saul aumenta, causando intensas mudanças na
família., É um filme espetacular. Confira!
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Para acessar
http://www.revistalingua.com.br
Site da revista Língua Portuguesa, que possibilita o acesso aos artigos publicados na versão impressa da revista. Autores renomados
discutem diferentes aspectos da gramática do português, fazendo
importantes considerações sobre o modo como são descritos pela
gramática normativa e o uso que deles fazem os falantes.
Resumo
A gramática tradicional define e classifica os pronomes. Os linguistas, a exemplo de Possenti(1997), Perini(1995,1997,2004), Neves(2000), Monteiro(2000), entre outros, questionam as explicações
tradicionais. Segundo esses autores, há várias incoerências na definição, classificação e emprego dada à classe dos pronomes, por isso
propõem “novos olhares” sobre essa classe gramatical. Os pronomes
também são responsáveis por muito dos mecanismos que garantem a
coesão textual. O estudo desta classe de palavras é uma ferramenta
útil para quem precisa interpretar e produzir textos coerentes e coesos.
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Autoavaliação
A realização da atividade que segue ajudará você a identificar os pontos
positivos e negativos de sua aprendizagem. Portanto, avalie seu desempenho
como aluno desta unidade e reflita em que sentido deve melhorar suas atitudes
de aprendiz.
Você estudou na unidade V, os pronomes à luz da gramática tradicional. Na
unidade VI você teve a oportunidade de estudar a opinião de alguns linguistas
que lançaram um novo olhar sobre os pronomes, sugerindo inclusive novas
propostas de classificação e de emprego.
Agora expresse seu ponto de vista sobre o assunto.
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
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Referências
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2004.
MONTEIRO, José Lemos. Morfologia portuguesa. Campinas: Pontes,
2002.
NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São
Paulo: Editora da Unesp, 2000.
NICOLA,José de. Língua, literatura e produção de textos. São Paulo:
Scipione, 2005.
PERINI, Mário A. Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática,
2004.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas:
Mercado de Letras, 1997.
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VII UNIDADE
Unidade VII
Advérbios
Classificação tradicional dos advérbios
Advérbios: classificação
tradicional dos advérbios
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Apresentação
Já estudamos que a NGB (Nomenclatura Gramatical
Brasileira) agrupa as palavras da língua portuguesa em dez
classes. Nesta unidade, você estudará a classe dos advérbios.
Embora sejam conhecidos, principalmente, por modificar
verbos, indicando as circunstâncias em que ações e estados
ocorrem, os advérbios têm amplas e variadas possibilidades
de significação, contribuindo também como um importante
indicador do posicionamento do sujeito em seu discurso, por
isso, merece um estudo detalhado.
Lembre-se de que este estudo só se completa com a sua
efetiva participação, por isso, estude com atenção, acesse
os sites propostos, faça as leituras sugeridas para completar
a sua aprendizagem.
Caso surjam dúvidas, socialize-as com seus colegas, com
o professor e os tutores para buscar os esclarecimentos.
Bons estudos!
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Objetivos
No final desta unidade você deverá:
• Entender como se classificam os advérbios e as locuções adverbiais.
• Conhecer os aspectos sintáticos, semânticos e morfológicos do
advérbio.
• Identificar os tipos de advérbios e as relações semânticas que
eles expressam.
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Para iniciar nossa
conversa...
O conceito de advérbio
Leia a tirinha abaixo:
Na tira, o filho explica ao pai a diferença entre dois significados da
palavra ficar. O pai parece não compreender a explanação do filho e
antes que o jovem termine a explicação, o pai sugere a palavra irreversivelmente, que é confirmada pelo filho.
A palavra irreversivelmente revela que o pai vê seu casamento como
algo que não pode ser desfeito e sobre o que sente: um certo desapontamento, uma vez que a palavra irreversível é, em geral, utilizada para
caracterizar algo negativo.
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Na tira, o verbo ficar é empregado com dois significados distintos.
A palavra irreversível, que especifica um dos significados e o diferencia
do outro, é um advérbio.
Segundo Abaurre (2008, p.442) “Advérbios são palavras invariáveis
que se associam aos verbos, indicando as circunstancias da ação verbal”.
Em casos especiais, associam-se aos adjetivos, especificando as
qualidades por eles expressas, e a outros advérbios, intensificando o
seu sentido”.
Comumente identificados como modificadores de verbos, os advérbios também podem intensificar ou atenuar o sentido de um adjetivo
ou de outro advérbio. Além de revelar o estado de espírito e o ponto de
vista dos enunciados sobre o que afirmam.
Vamos observar agora o advérbio nas perspectivas: morfológica,
sintática e semântica.
Perspectiva morfológica
Leia a frase: “O público anda mais entediado com a TV.”
Se, em vez de público, fosse usada a palavra crianças, o enunciado
seria: “As crianças andam meio entediadas com a TV.” O artigo (a), verbo (anda) e o adjetivo (entediada) sofreram flexões (as, andam e entediadas). No entanto, o advérbio meio não sofreu alterações. Trata-se de
uma das principais características dessa classe de palavras: apresentar
pouca variabilidade, não sofrendo flexões.
1- Alguns advérbios são formados apenas por um morfema gramatical
(morfemas que só têm significado no interior do discurso).
Ex. Aliás, hoje, ontem, depois...
2- Outros advérbios são formados por um morfema lexical (os que remetem à realidade extralinguística) acrescido de morfemas gramaticais.
Ex. Completamente
Locução adverbial
As locuções adverbiais são expressões constituídas de duas ou mais
palavras que exercem função adverbial. Resultam geralmente da combinação de preposição + (artigo) + substantivo ou de preposição +
(artigo) + advérbio. Há, porém, formações mais complexas.
Ex. Por dentro, ao lado, de vez em quando.
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O advérbio na perspectiva sintática
Uma das funções do advérbio é caracterizar o processo verbal a
que se refere. No entanto, ele não abrange todas as funções dessa
classe de palavras, já que os advérbios podem se associar também a
um adjetivo, a outro advérbio e até a um enunciado. Veja os exemplos.
O ambiente estava muito agradável.
Advérbio
adjetivo
O DJ tocava muito bem.
Advérbio advérbio
Felizmente, todos se divertiram.
Advérbio
Adjetivo x advérbios
Muitos adjetivos, no interior das orações, podem exercer a função
de modificar o verbo. Atuam, portanto, como advérbios. Nesse caso,
tornam-se invariáveis.
Ex. O aluno falou baixo.
Em alguns caos, o adjetivo e o advérbio podem ser empregados
com o mesmo sentido.
Ex. O ônibus chegou rápido/rapidamente ao destino.
O advérbio na perspectiva semântica
O valor semântico dos advérbios está diretamente relacionado ao
papel sintático que eles desempenham nas orações, ou seja, os elementos do enunciado a que eles se referem.
Associados aos verbos, caracterizam as circunstâncias da ação ou
do estado por eles expresso (tempo, modo, lugar, etc.), relacionados
aos adjetivos ou advérbios, intensificam ou atenuam o sentido. Quando
se referem a um enunciado, são modalizadores, isto é, explicitam uma
atitude de quem fala ou escreve em relação ao conteúdo de seu próprio enunciado.
Veja os exemplos abaixo:
Sinceramente, deviam ter vergonha!
Cá entre nós, não achei que eles fossem vir.
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Ao observar esses exemplos, podemos concluir que a intencionalidade do enunciador está evidenciada: no primeiro caso, ele reforça a
carga do enunciado, explicitando seu caráter de sinceridade; no segundo, dando um caráter intimista ao enunciado. Pense nos enunciados
sem as expressões adverbiais e verifique o efeito que elas causam.
Atividade I
01. Leia a tira a seguir:
a) O último quadrinho sugere que o incidente hidráulico relatado por Jon é um
fato comum. Há um elemento na tira que contraria essa hipótese?
b) Que sentido a expressão de novo adquire em cada momento da tira?
c) Que circunstancias expressa?
02. Os advérbios geralmente se associam ao verbo, acrescentando ao sentido
dele determinadas circunstâncias. Existem, no entanto, advérbios que
podem modificar um adjetivo ou outro advérbio ou mesmo o conteúdo de todo
enunciado. Considerando tal fato, compare estas frases e responda aos itens
de a a d.
1. Evidentemente a terra não é curva.
2. A terra não é evidentemente curva.
dica. utilize o bloco
3. A terra não é, evidentemente, curva.
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a) Duas dessas frases têm o mesmo sentido. Quais são elas?
b) Sem alteração de sentido, que advérbio poderia substituir o advérbio
destacado nas frases referidas em a? E na outra frase, que advérbio poderia
ser usado?
c) Em qual(quais) frase(s) o advérbio exprime uma crença (ou opinião) do
emissor sobre a afirmação expressa pelo(s) enunciado(s)?
d) Qual(quais) frase(s) faz(em) uma afirmação que não condiz com a
realidade? Explique.
Tipos de advérbios
Leia o trecho da letra de uma canção:
“O telefone tocou novamente
Fui atender e não era meu amor
Será que ela ainda está muito zangada comigo?
Que pena, que pena.”
BEN JOR, Jorge. O telefone tocou novamente. Rio de Janeiro: Universal Music. 2002.
Veja as circunstâncias que os advérbios do texto exprimem:
Os advérbios destacados dão informações importantes sobre situação de espera do eu lírico pelo telefonema da amada. No primeiro verso, por exemplo, é o advérbio novamente que indica o tempo da ação
verbal, dando a entender que o telefone havia tocado outras vezes e,
provavelmente, o eu lírico aguardava a ligação da amada há algum
tempo.
No segundo verso, o advérbio não é essencial, pois nega o estado
expresso pelo ser: não era a pessoa esperada. No terceiro verso, o
advérbio ainda associado ao verbo estar também apresenta uma idéia
temporal: o eu lírico não sabe se ela esta zangada no presente, mas
sabe que no passado estava. Por fim, muito intensifica o sentido do
adjetivo zangada.
A NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira), propõe classificar os
advérbios em função das diferentes circunstâncias e idéias indicadas
por eles.
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Advérbios
Locuções adverbiais
De lugar
Abaixo, acima, aí, aqui,
adiante, atrás, aquém,
através, dentro, defronte, fora, junto, perto,
longe
Ao lado, à esquerda, à
direita, por ali, de cima,
de dentro, de perto, de
longe
De tempo
Agora, ainda, hoje,
amanhã, ontem, anteontem, antes, depois,
cedo, tarde, já, jamais,
logo, nunca, outrora,
ultimamente
À noite, à tarde, e manhã, de noite, de vez
em quando, em breve,
mais uma vez, hoje em
dia, de madrugada
De modo
Assim, bem, depressa,
devagar, mal, melhor,
pior: a maioria dos advérbios terminados em
–mente: alegremente,
rapidamente,
velozmente
À toa, à vontade, ao
contrário, às pressas, de
má vontade, em silêncio, de Mao em Mao,
de graça
De negação
Não, tampouco, abso- De modo algum, de forlutamente
ma alguma
De dúvida
Acaso, talvez, possivelmente, porventura, pro- Que sabe
vavelmente
De intensidade
Bem, demais, bastante, De muito, de pouco, de
mais, manos, muito, todo
pouco, quase, tanto
De afirmação
Sim, certamente, real- Com certeza, sem dúvimente, efetivamente
da, por certo
Lembre-se, esse quadro não é para ser decorado e sim para ser
consultado, quando necessário.
Os advérbios interrogativos
Algumas palavras podem ser utilizadas para formular perguntas sobre as circunstâncias da ação ou do estado expresso pelo verbo, em vez
de indicá-las. Por serem empregadas em frases interrogativas diretas ou
indiretas, são denominados, segundo a NGB, advérbios interrogativos.
Veja os exemplos:
Advérbios interrogativos:
De tempo
• Quando foi inventado o telefone celular?
• Ele perguntou quando foi inventado o telefone celular.
De lugar
• Onde vivem os índios Pataxós?
• Os alunos querem saber onde vivem os índios Pataxós.
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De causa
• Por que o consumo de drogas aumenta a cada dia?
• Especialistas investigam porque o consumo de drogas aumenta
a cada dia.
De modo
• Como ganhar dinheiro fácil?
• Quero saber como ganhar dinheiro fácil.
OBS. “Em frases interrogativas indiretas, a voz que relata ou narra a interrogação incorpora a fala de quem interroga.” (BARRETO, 2010, p. 276).
Adjetivo ou advérbio?
Você sabe que a classe de uma palavra depende das relações morfossintáticas estabelecidas no enunciado, por isso é necessário ficar
atento para não confundir adjetivo com advérbio.
Exemplo:
O garoto voltou triste da escola.
Triste é adjetivo ou advérbio? Para fazer a distinção, é necessário
lembrar que o adjetivo é variável e o advérbio é invariável. Note, no
exemplo, que, se “garoto” for empregado no plural, “triste” também irá
para o plural:
Os garotos voltaram tristes da escola.
Fica claro, assim, que triste é um adjetivo, e não um advérbio.
AMARAL. Emília. et al. Novas palavras. São Paulo: FTD, 2010, p. 324.
Grau dos advérbios
Os advérbios são palavras invariáveis, mas alguns apresentam flexões de grau, podendo manifestar-se no grau comparativo e no grau
superlativo.
Comparativo
• de superioridade: Falou mais baixo que (do que) o colega.
• de igualdade: Falou tão baixo quanto (ou como) o colega.
• de inferioridade: Falou menos baixo que (do que) o colega.
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Superlativo
• sintético: Falou baixíssimo.
• analítico: Falou muito baixo (extremamente baixo, consideravelmente baixo, muito difícil, etc.).
De olho na fala
Empregar as formas diminutivas, obtidas através do acréscimo dos
sufixos –inho e –zinho a determinados advérbios, é um recurso muito
usado pelos falantes para reforçar o sentido básico dessas palavras.
Ele faz tudo muito devagarinho. (muito devagar)
Já estamos pertinho de casa. (muito perto)
Um efeito semelhante é criado, na fala, pelo alongamento das vogais tônicas dos advérbios. É o que ocorre na tira abaixo.
Laerte. Classificados: livro 3. São Paulo: Devir, 2004. P. 10.
Atividade II
01. O fato de um advérbio poder modificar mais de um elemento em uma frase
pode produzir ambiguidade. Observe as frases a seguir:
I. Pessoas que leem frequentemente escrevem bem.
II. Eles se apresentaram juntos pela primeira vez em Nova York.
III. A crise não acabou por causa do novo pacote econômico.
IV. Eles não mudaram de casa porque não tinham dinheiro.
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Examine as frases acima e explique quais são as duas interpretações possíveis
para cada uma e que elemento do enunciado o advérbio (ou locução adverbial)
está associado em cada caso.
02. Leia a tira:
a) Nos quadrinhos, Calvim e seu amigo Haroldo encontraram um meio para
se livrar da babá. Por quê?
b) Observe o emprego da palavra melhor nestas frases do texto:
1. Se isso te fizer sentir melhor eu vou...
2. Essa foi nossa melhor noite com a babá.
I. Em que frase a palavra destacada é advérbio? Justifique sua resposta.
II. A que classe gramatical pertence a palavra melhor na 2ª frase?
III. Qual é o grau da palavra melhor nos dois casos?
c) No último quadrinho, que tipo de circunstância expressam as locuções
adverbiais até não poder mais e com a babá.
03. A frase a seguir, extraída de um anúncio publicitário por ocasião do retorno
dos atletas brasileiros que haviam participado dos jogos Pan-Americanos
de Santo Domingo, fazia referência ao expressivo número de medalhas
conquistadas por eles no atletismo.
“Os detectores de metais dos aeroportos vão apitar adoidado.”
Folha de são Paulo, 17 ago. 2003.
A palavra adoidado está corretamente empregada ou deveria ser flexionada no
plural? Justifique sua resposta baseando-se na classe da qual essa palavra faz
parte nessa frase.
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Leituras recomendadas
Para acessar
http://acd.ufrj.br/~pead/quebrando_tabus.htm
Site onde você encontrará diversos artigos que procuram desfazer
a confusão entre a gramática normativa e a língua usada pelos
falantes nativos.
Para ler
MARCUSCHI,Luiz Antônio. XAVIER, Antônio. Hipertexto e gêneros digitais. Rio
de Janeiro: Lucerna, 2005.
O livro é composto de artigos em que se discutem com diferentes
perspectivas teóricas as principais modificações promovidas nas atividades linguísticas dos usuários da língua portuguesa, a partir das
inovações tecnológicas e, como essas mudanças afetam o processo
ensino/aprendizagem da língua e fora dela.
Para assistir
Ao mestre com carinho, de James Clavell. Sony Pictures, 1967.
Um jovem professor enfrenta alunos indisciplinados e desordeiros,
neste filme clássico que refletiu alguns dos problemas e medos dos
adolescentes dos anos 60. Sidney Poitier tem uma de suas melhores atuações como Mark Thackeray, um engenheiro desempregado
que resolve dar aulas em Londres, no bairro operário de East End.
A classe, liderada por Denhan (Christian Roberts), Pamela (Judy Geeson) e Barbara (Lulu, que também canta a canção título), estão
determinadas a destruir Thackeray como fizeram com seu professor,
ao quebrar-lhe o espírito. Mas Thackeray, acostumado as hostilidades, enfrenta o desafio tratando os alunos como jovens adultos que
breve estarão se sustentando por conta própria. Quando recebe
um convite para voltar a engenharia, Thackeray deve decidir se
pretende continuar.
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Resumo
A gramática tradicional define advérbio como “palavra invariável
que se associa aos verbos, indicando as circunstâncias da ação verbal”
(ABAURRE, 2009, p. 442). Os advérbios podem ser classificados do
ponto de vista sintático (o advérbio, normalmente, estará relacionado
a um verbo). Do ponto de vista morfológico (não admite as flexões de
gênero e número) e, do ponto de vista semântico (pode expressar diversas idéias tempo, modo, lugar, negação, dúvida, intensidade, etc.).
Alguns advérbios podem ser utilizados para formular perguntas sobre
as circunstâncias da ação ou do estado expresso pelo verbo, são os
advérbios interrogativos. Os advérbios são palavras invariáveis, mas
alguns apresentam flexões de grau. É importante notar que o sentido
de vários advérbios só é depreendido pela situação comunicativa, depende, portanto, do conhecimento do emissor.
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Autoavaliação
Agora que você já viu a importância dos advérbios na construção
dos textos, sua tarefa será fazer uma análise das funções que os advérbios desempenham no texto abaixo.
Leia atentamente o texto transcrito a seguir e identifique os advérbios e as locuções adverbiais utilizadas pelo autor. Feito isso, analise a
função que cada um dos termos selecionados desempenha no texto.
Mesopotâmia: berço da escrita
Hoje, a região é um barril de pólvora. No entanto, a mesma terra
onde atualmente brotam homens-bomba quase todos os dias já foi
ocupada por povos e civilizações que, embora também se preocupassem com sua defesa, tinham a mente mais ocupada em construir e
inovar. Isso teve início há cerca de 5 mil anos na Mesopotâmia (atual
Iraque). Antes de gregos e romanos, os povos que lá habitaram foram
responsáveis por vários avanços científicos em matemática, arquitetura, escrita e até nas leis.
O termo Mesopotâmia vem do grego mesopótos, que significa “entre rios”. No extremo sul, junto ao Golfo Pérsico, a região era pantanosa. Ao centro, caracterizava-se pelas aluviais dos rios Tigre e Eufrates
e suas terras férteis e produtivas, graças ao sistema de irrigação criado
pó eles. .Ao norte, a alta Mesopotâmia, marcada pelos vales dos rios
Tigre e Eufrates e suas regiões montanhosas na Anatólia (atual Turquia)
e no Elam (hoje Irã). [...]
Sem dúvida uma das maiores conquistas do povo babilônico foi a
invenção da escrita. O que, aliás, pode-se dizer foi também um dos
maiores saltos da humanidade. Os documentos mais antigos da escrita cuneiforme foram encontrados na Mesopotâmia, em um templo
na cidade de Uruk (atual Warqa, no Iraque), capital da Suméria, com
data aproximada de 3200 a.C. O nome que caracteriza essa escrita
vem do latim cuneus, que significa canto. Ela é o resultado da incisão
de um tipo de estilete, impressa na argila mole, com três dimensões:
altura, largura e profundidade. Sua leitura é feita como no português:
da esquerda para a direita e de cima para baixo.
GRECCO, Dante. A ciência na Antiguidade. Scientific American Brasil.Especial História 3 p. 17.
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Referências
ABAURRE, Maria Luíza. et al. Português: Contexto, interlocução e sentido.
São Paulo: Moderna, 2008.
AMARAL, Emília. et al. Novas palavras. São Paulo: FTD, 2010.
BARRETO, Ricardo Gonçalves. Português. Ser protagonista. São Paulo:
SM, 2010.
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VIII UNIDADE
Unidade VIII
Advérbios II
Advérbio: outras possibilidades de
classificação O advérbio e a coesão
textual
Advérbios II: outras
possibilidades
de classificação
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Apresentação
A classe gramatical dos advérbios tem sido objeto de estudos e discussões recentes entre gramáticos e linguistas. Muitas palavras tradicionais classificadas como advérbio vêm
sendo aproximadas de outras classes gramaticais, é o caso,
por exemplo, de lá, aqui, lá e outras, que se assemelham
em muitos aspectos aos pronomes. É também o caso da
palavra não: é um advérbio ou um mecanismo de negação
em português? Além disso, os próprios critérios tradicionais
de classificação têm sido discutidos. Em vista disso, novos
olhares têm sido lançados sobre essa classe de palavras.
Nesta unidade vamos estudar outras possibilidades de
classificação e emprego dos advérbios. Estudaremos também uma função muito importante dessa classe gramatical: são mecanismos coesivos que têm a função de estabelecer relações de sentido entre as partes que constituem
um texto.
Lembrem-se, continuem interagindo com o material, com
os amigos, professores e tutores.
E se surgirem dúvidas! Estaremos todos aqui para ajudá-lo.
Bons estudos!
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Objetivos
No final desta unidade você deverá:
• Conhecer novas formas de estudar os advérbios.
• Entender como os advérbios ajudam a estabelecer a coesão
textual.
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Advérbios: outras
possibilidades de
classificação
Na unidade anterior, estudamos a classe dos advérbios sob uma
perspectiva tradicional. Agora vamos conhecer uma visão mais moderna, de acordo com as teorias linguísticas mais recentes que aplicam a
funcionalidade dessa classe de palavras.
Para iniciar nosso estudo...
Comecemos com a opinião de Fiorin (2008) sobre os advérbios de
lugar.
A gramática tradicional apresenta uma definição bem simplista dos
advérbios de lugar, expondo que estes devem apenas responder a pergunta “onde?”, porém observamos que a questão não pode ser limitada apenas a esse tipo de análise, pois como afirma Fiorin (2008) este
espaço (aqui) do enunciador será o mesmo para o enunciatário, que
aceita como sendo seu. O “que” demarca um ponto de referência que
é determinado através da situação enunciativa.
Vejamos por exemplo, o advérbio “aqui”, na propaganda abaixo:
Diponível em: <www.sky.com.br> Acesso em: 10, ago. 2010
Hipertexto. Forma de organizar e de apresentar um texto, visando fazer com que o
leitor não precise seguir uma leitura linear
para entendê-lo. Dicionário didático – Vários colaboradores: São Paulo: Edições SM.
2009, p. 426.
1
Essa propaganda se apresenta em forma de hipertexto1, pois possui
um link “assine aqui” utilizando conjuntamente a expressão imperativa
“assine” com o que tradicionalmente rotula-se como advérbio de lugar
“aqui”.O leitor deve clicar para adquirir no site da loja na qual fará a
aquisição.
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O advérbio de lugar “aqui”, adquire uma função dêitica, pois demarca, aponta o lugar em que o internauta deve clicar para conhecer
mais sobre os pacotes de assinatura da SKY.
Essas funções observadas extrapolam o que nos mostra a gramática
tradicional e podem ser explicitadas através de uma análise que considera a enunciação.
Torna-se necessário, portanto, estudar os advérbios observando que
o tempo, o espaço, o modo etc. são determinados pelo enunciador e
seguido pelo enunciatário, fazendo com que não nos detenhamos apenas em responder a perguntas “onde”, “como”, “quando” etc. como
preza a tradição, mas observando também o contexto extralinguístico.
Nessa nova perspectiva de estudo dos advérbios, um dos aspectos
merecedores de atenção dos estudiosos diz respeito àqueles terminados
em –mente e o seu papel na interação discursiva.
Bonfim (1988) explica que “Embora a maioria deles atue como
advérbios de modo, outras circunstancias e idéias podem ser expressas
pelo seu emprego” (p.27).
Vamos entender alguns desses empregos?
Para começar, leia o trecho de um site sobre os destinos turísticos
do Brasil.
“Agito à noite? Também tem - o centrinho [de Búzios] ganhou recentemente mais duas danceterias, a Xtreme e a Pacha, filial da que existia
em Ibiza.”
<HTTP://viajeaqui.abril.com.br> Acesso em: 6 de ago. 2010. Segundo a tradição os advérbios terminados em –mente são classificados como de modo. Nesse caso, a circunstância indica pelo advérbio
diz respeito ao tempo em que ela ocorreu. Trata-se, portanto, de um
advérbio de tempo.
Veja outro exemplo.
“É no centro de São Paulo que o comércio, o serviço e as ofertas
culturais apresentam-se como um conjunto extremamente diversificado
e compacto, ao alcance de simples caminhadas”.
<HTTP://viajeaqui.abril.com.br> Acesso em: 6 de ago. 2010. Nesse caso, o advérbio reforça o sentido dos adjetivos que qualificam o comércio, o serviço e as ofertas culturais do centro de São Paulo.
Corresponde, dessa forma, a um advérbio de intensidade.
Observe mais dois usos de advérbios terminados em –mente.
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I. “O que seria de São Paulo sem o café? Provavelmente não teríamos as mansões da antiga aristocracia rural na avenida paulista
– talvez nem mesmo a paulista”.
<HTTP://viajeaqui.abril.com.br> Acesso em: 6 de ago. 2010. II. “Dos grandes carnavais de rua do país, o de Olinda é certamente
um dos mais democráticos e populares”.
<HTTP://viajeaqui.abril.com.br> Acesso em: 6 de ago. 2010. No trecho I, o enunciador apresenta uma hipótese; o advérbio indica uma dúvida em relação ao que afirma. No trecho II, o advérbio
indica afirmação e expressa certeza. Nesses exemplos, os advérbios
indicam a maneira como o sujeito se posiciona em relação ao que
enuncia. Opinião corroborada por Bonfim (1988) quando afirma: “...
esses advérbios (de modo) expressam a opinião ou dúvida do locutor no
enunciado” (grifo meu).
Nicola (2005, p. 154), vai além da classificação dos advérbios proposta pela gramática tradicional, quando analisa a frase do pedreiro
Benedito Souza, que acompanhou a visita da rainha da Holanda ao
centro de São Paulo em março de 2003.
“Achei legal pra caramba. A rainha é bonitona”.
A expressão é formada pela preposição (pra) e uma interjeição (caramba), que se refere ao adjetivo legal, acrescentando-lhe uma noção
de intensidade. Por seu significado e por suas relações sintáticas, podemos concluir que a expressão apresenta características de advérbio.
Bechara (2004) considera que alguns advérbios também podem
modificar substantivos, porém Bonfim (1988, p. 9) examinou essa idéia
e afasta essa possibilidade, utilizando um exemplo de Silva Junior e Andrade (1907) “Gonçalves Dias era verdadeiramente poeta”, ele explica
que a expressão “verdadeiramente” pode ser substituída por expressões
como “de verdade” ou “de fato” sem mudança de sentido, porque o
poeta que é o termo determinado não pode ser considerado substantivo, mas sim um conjunto de qualidades inerentes ao referente.
Vamos observar um estudo bastante importante sobre os advérbios,
o de Ilari (2002) que aponta a forma contraditória e insuficiente da
gramática tradicional para conceituar e explicar os advérbios, apresentando alguns elementos que, por vezes, não se enquadram nos critérios
tradicionais (morfológicos, sintáticos e nocionais), mas equivocadamente são classificados como advérbios.
Este autor aponta os “advérbios de tempo/advérbios de lugar”
como dêiticos e compara o grupo dos intensificadores e adjetivos indefinidos, mostrando que os advérbios compartilham a invariabilidade
com os indefinidos neutros.
Quanto aos problemas relativos à aplicação dos critérios sintáticos,
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Ilari (2002, p. 62) mostra que os “advérbios intensificadores”, assim
como ocorre com os dêiticos, não são apenas modificadores como a
definição tradicional expõe, mas funcionam como “determinantes no
âmbito de um sintagma nominal complexo, [...] argumentos de predicado, e constituir o núcleo do predicado, em orações com o predicado
nominal”. O autor ainda observa que no caso dos intensificadores o
critério nacional sofre uma considerável redução.
No caso das expressões com o sufixo –mente, Ilari (idem) expõe que
geralmente são classificados como advérbios, e em muitos casos não
atendem ao critério sintático e nocional, pois apenas sugerem que o
locutor esteja de posse dos resultados de alguma verificação de contagem, identificação, ou investigação, modificando nomes, numerais, ou
sintagmas introduzidos por preposição ou conjunção. Assim, como os
“dêiticos” e os “intensificadores”, estes “advérbios de verificação” são
classes bem configuradas que merecem ser distinguidas das classes de
advérbios tradicionalmente reconhecidos.
Nessa perspectiva, ele apresenta uma proposta no tocante ao tratamento com advérbios e apresenta os “advérbios sentenciais”, que se
subdividem em “advérbios de circunscrição”, “quase-modais”, “aspectualizadores” e os “de atitude proposicional”. Tal perspectiva contraria
a visão tradicional, pois mostra que o advérbio pode aplicar-se também
a toda oração e não apenas ao constituinte como fazem os “advérbios
de constituinte”.
Após essa apresentação acerca da noção de “advérbios sentenciais”, esse mesmo autor expõe os “advérbios aplicados à sentença” e
os “advérbios aplicados no discurso”. Para tanto, utiliza entre os exemplos o advérbio “agora”, que oscila entre vários empregos, mostrando
que este pode estar apenas restrito à predicação, pode estender-se à
toda sentença ou pode estar relacionado à uma sequência discursiva
mais ampla.
Ilari (2002) ainda apresenta os “advérbios predicativos” e “advérbios não predicativos”, partindo da diferença dos papéis que desempenham. Nos “predicativos” o núcleo significativo do verbo e do adjetivo é
afetado pelo acréscimo do advérbio, enquanto nos “não-predicativos”
o núcleo do sentido dos verbos e dos adjetivos permanece intactos,
portanto há uma negação à modificação de sentido. As classes que se
enquadram entre os predicativos são: os “qualitativos”, “intensificadores”, “modalizadores” e “aspectualizadores”, já as que se enquadram
entre os não-predicativos são: os “advérbios de verificação” os “circunstanciais”.
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Atividade I
01. Leia essa frase:
“Caminhar é bom para saúde, outro exercício importante é comer devagar...”
O advérbio devagar expressa uma idéia de velocidade, logo, poderia ser
associado à circunstância temporal. No entanto, ele é comumente descrito
como um advérbio de modo. Com base na frase acima, explique o que justificaria
essa classificação.
02. Leia esse trecho de resenha:
Os advérbios de Poly Jean Harvey.
Vários advérbios podem descrever o novo álbum de PJ Harvey, desde que sempre acompanhadas do adjetivo “ruim”. Inapelavelmente ruim.
Desesperadamente ruim. Só não vale dizer “surpreendentemente” ruim.
Porque esse não é exatamente um disco da PJ Harvey. É de PJ Harvey e
John Paish, antigo parceiro. [...]
JUNIOR, Álvaro Pereira. Folha de São Paulo. 6 de ago. 2009.
a) Que sentido os advérbios em destaque acrescentam à palavra ruim?
b) Observe as frases: “o novo disco de PJ é surpreendentemente ruim” e
“surpreendentemente, o novo disco de PJ Harvey é ruim”. Que sentido o
advérbio acrescenta ao enunciado e que elementos ele modifica em cada
caso?
c) Qual é a opinião do autor da resenha sobre o compositor John Parish?
Explique.
dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
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Coesão textual pelo
emprego de advérbios
Um texto é uma unidade significativa global, regida por mecanismos coesivos que têm a função de estabelecer relações de sentido entre
as partes que a constituem. Os advérbios são elementos que ajudam a
estabelecer essas relações de coesão.
Vamos estudar agora, o papel dos advérbios na coesão textual.
Para começar, leia a tirinha abaixo:
Nos três primeiros quadrinhos, Miguelito relata uma sucessão de
eventos trágicos que aconteceram com ele, gerando uma expectativa
por um despacho de igual gravidade. No entanto, no último quadrinho,
ele apresenta um fato simples e corriqueiro – justifica o fato de não ter
entregue a lição de casa, quebrando a expectativa do leitor que esperava outro fato trágico, criando assim, o humor da tira.
Observe que os advérbios e as locuções adverbiais (depois, enquanto, mais tarde) contribuem para a progressão do texto, indicando
a sequência de acontecimentos, eles estão, portanto, estabelecendo a
coesão textual.
Segundo Barreto (2010, p. 285) “Como elementos coesivos, os advérbios podem fazer referência a outro elemento do texto, retomando-o
ou antecipando-o (coesão referencial). Podem também assinalar a ordenação da sequência temporal, permitindo a continuidade das ideias.
Nos dois casos estabelecem relações entre as partes do texto, contribuindo para a progressão textual.”
Leia o início do poema “Vou-me embora para Pasárgada”, de Manuel Bandeira, para observar como os advérbios estabelecem a coesão
textual nesse texto.
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolher
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
[...]
BANDEIRA,Manuel. Libertinagem e estrela da manhã. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2006, p. 66.
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O advérbio lá, no segundo e terceiro versos, fazem referência a um
elemento já citado no texto (Pasárgada), têm, portanto, função anafórica. O advérbio aqui, no ultimo verso, tem como referência um elemento
situacional externo ao texto, atuando, portanto, como dêitico.
Continuando...
O advérbio e seu referente
Ao utilizar os advérbios ou locuções adverbiais na montagem de
frases e textos, podemos dar coordenadas sobre a localização no espaço e no tempo do enunciado, tendo como referência elementos do
próprio texto ou elementos extratextuais, ou seja, de fora do texto. Sem
a identificação dessas referências, são palavras vazias de conteúdo semântico. Por isso, fala-se do caráter dêitico dos advérbios.
Veja no enunciado:
“Eu vou aí.”
Em que o advérbio de lugar aí é um dêitico que ganha significação
ao se identificar o seu referente. Se, ao pronunciar tal enunciado, o falante estiver em sua casa e dirigir-se a um amigo que está na escola, aí
é igual a “escola”. O referente, nesse caso, é extratextual, ou seja, não
está no texto, a informação está ligada à situação dessa conversa.
Já em:
Todos estavam na chácara, por isso decidimos ir lá.
O advérbio de lugar lá é um dêitico que tem como referente “na
chácara”, nesse caso, a referência é textual.
O mesmo acontece com os dêiticos de localização temporal. Analisemos os enunciados abaixo:
I. Ontem fomos ao teatro.
II. Ontem 17 de setembro de 2010, fomos ao teatro.
No primeiro caso, o advérbio de tempo ontem é um dêitico com
referência extra textual; para interpretá-lo temos que observar o contexto em que aconteceu o enunciado, já que ontem refere-se ao dia
imediatamente anterior à enunciação. Por exemplo: se o enunciado
foi dito hoje, ontem é igual a ontem; se foi dito ontem, ontem é igual a
anteontem; e assim por diante.
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Entretanto, no segundo caso, ontem é igual a 17 de setembro de
2010. A referência é textual.
Vamos nos divertir?
Sabendo do aspecto dêitico dos advérbios, vamos matar a charada?
Veja como Millôr brinca com a referência dos advérbios de tempo:
“Amanhã amanhã será hoje. Hoje ontem era amanhã.
O tempo não é mais nada.”
www.millor.com.brAcesso em: 20, out, 2009
Amanhã, amanhã será hoje (daqui a 24 horas o amanhã virará hoje).
Ontem, hoje era amanhã (há 24 horas o que era amanhã virou hoje).
Ontem não é mais nada (não existe).
O tempo está sempre determinado pelo ponto de referência do
hoje, ou seja, do presente em que se encontra o enunciador.
Atividade II
01. Leia o início do poema “vou-me embora pra Pasárgada”, de Manoel
Bandeira.
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolher
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
[...]
BANDEIRA,Manuel. Libertinagem e estrela da manhã. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2006, p.66.
a) A que se refere o advérbio lá no segundo e terceiro verso do poema?
b) A que se refere o advérbio aqui?
c) É possível dizer que dois dos advérbios atuam no texto em função
anafórica, ou seja, retomando elementos apresentados anteriormente pelo
texto? Explique.
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dica. utilize o bloco
de anotações para
responder as atividades!
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d) Pasárgada é o nome de uma antiga cidade da Pérsia (atual Irã), repleta
de palácios onde moravam reis do país. Que sentido essa palavra adquire
nesses versos?
02. Explique a diferença de sentido entre o par de frase:
I. Muitos agricultores ainda não plantaram a safra de verão.
II. Muitos agricultores não plantaram a safra de verão.
Para concluir
O ensino de gramática nas aulas de língua portuguesa vem sendo muito questionado ultimamente, especificamente nas forma como
é passado para os alunos, um ensino fragmentado, com conteúdos
“secos”, cheio de regras para serem memorizadas e seguidas pelos
alunos tornando-se, assim, uma prática sem sentido e distante do contexto sociocultural dos alunos. Enfim, um ensino que mais complica do
que explica a língua. Isso não significa que devemos deixar de ensinar
gramática, pois para que uma pessoa se torne uma eficiente usuário da
língua, são necessárias algumas competências e entre elas a linguística
ou gramatical, é muito importante. Precisamos sim, de um ensino de
gramática mais dinâmico, mais reflexivo, que propicie ao aluno um
conjunto de conhecimentos sobre o funcionamento da linguagem relevante para as práticas de leitura, escrita e produção de textos.
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Leituras recomendadas
Para acessar
http://www.revistalingua.com.br
Site da revista Língua Portuguesa, que possibilita o acesso aos artigos publicados na versão impressa da publicação. Autores renomados discutem diferentes aspectos da gramática do português, fazendo importantes considerações sobre o modo como são descritos
pela gramática normativa e o uso que deles fazem os falantes.
Para assistir
Falcão Meninos do tráfico, de MV Bill e Celso Athayde, Brasil, 2006.
O filme é um retrato assustador da infância e adolescência perdidas
para o tráfico nas grandes cidades brasileiras. Você vai observar
uma variante linguística típica desses garotos (traficantes e moradores de morros). “Nós não vive na sociedade; nós mora no morro.”
Tipo nós não é nada.” “Tô aqui prá tudo”, entre outras expressões.
Para ler
Bagno, Marcos. Preconceito linguístico: O que é como se faz. São Paulo:
Loyola,1999.
Marcos Bagno apresenta a definição de preconceito linguístico e
analisa como se dá o processo de construção e difusão de juízos de
valor sobre diferentes variantes utilizadas pelos brasileiros. O autor
argumenta para demonstrar como esses juízos preconceituosos têm
por base, muitas vezes, a confusão entre os usos coloquiais do português e o que prescreve a gramática normativa, dando origem ao
mito de que “O brasileiro não sabe português”.
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Resumo
A classe gramatical dos advérbios tem sido questionada pelos linguistas, para eles a gramática tradicional apresenta a definição e o
emprego dos advérbios de forma simplista e incompleta e propõem
novas formas de estudá-los que ampliam a funcionalidade dessa classe
de palavras. Nesse sentido, autores a exemplo de Fiorin (2008), Bonfim
(1998), Ilari (2002), entre outros, propõem novas formas de estudar os
advérbios que extrapola o que nos mostra a tradição e são explicitadas
através de uma análise que considera a funcionalidade da língua. Os
advérbios também são mecanismos coesivos que têm a função de estabelecer relações de sentido entre as partes que constituem um texto.
Autoavaliação
Leia as afirmações a seguir e teça comentários. Seus comentários ajudarão
você a identificar os pontos positivos de sua aprendizagem e também os
aspectos que você ainda deverá melhorar. Assim, avalie seu desempenho como
aluno(a) nesta unidade.
“A classificação tradicional dos advérbios tem sido questionada pelos
linguistas. Alguns autores propõem outras classificações e outros empregos
para essa classe gramatical, além de enfatizar o seu papel na coesão textual.”
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Referências
BARRETO, Ricardo Gonçalves. Português. Ser protagonista. São Paulo:
Edições SM, 2010.
BONFIM, Eneida. Advérbios. São Paulo: Ática S.A, 1998.
FIORIN, José Luis. As astúcias da enunciação: As categorias de pessoa,
espaço e tempo. São Paulo: Ática, 2008.
ILARI, Rodolfo. El. Al. Considerações sobre a posição dos advérbios.
In: Castilho. A.T. de (org.). Gramática do português falado: a ordem.
Campinas: Editora da Unicamp, 2002.
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