0 Curso de Especialização em Auditoria em Saúde Cristina de Goes Telles Cobra Rafaela Soares dos Santos Rosa Massae Yokomichi Prevenção da Iatrogenia em Pacientes Idosos Internados: contribuições da Auditoria Londrina 2012 1 Cristina de Goes Telles Cobra Rafaela Soares dos Santos Rosa Massae Yokomichi Prevenção da Iatrogenia em Pacientes Idosos Internados: contribuições da Auditoria Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Auditoria em Saúde, do Centro Universitário Filadélfia - UniFil, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista. Orientadora: Profª. Ms. Maria Lucia da Silva Lopes. Londrina 2012 2 Cristina de Goes Telles Cobra Rafaela Soares dos Santos Rosa Massae Yokomichi Prevenção da Iatrogenia em Pacientes Idosos Internados: contribuições da Auditoria Monografia apresentada à banca examinadora do Curso de Especialização em Auditoria em Saúde, do Centro Universitário Filadélfia - UniFil, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista. Aprovada em: ____/ ____________/ _______. _______________________________________ Profª. Ms. Maria Lucia da Silva Lopes Orientadora _______________________________________ Profª. Dra. Damares T. Biazin Membro da Banca Examinadora 3 AGRADECIMENTOS Inicialmente, às nossas famílias, que nos dedicaram toda a atenção e carinho durante nossa jornada, nos apoiando e incentivando, ainda quando pensávamos não sermos capazes, agradecemos de todo o coração. À Profª. Lucia Lopes, nosso obrigado por ter dedicado seus ensinamentos e orientações, contribuindo para nossa formação profissional e, muitas vezes, pessoal. Aos professores do curso, nosso agradecimento pela dedicação e pela valiosa transmissão de conhecimentos. Aos colegas de curso, pelo companheirismo durante esta caminhada. 4 COBRA, Cristina de Goes Telles; SANTOS, Rafaela Soares dos; YOKOMICHI, Rosa Massae. Prevenção da iatrogenia em pacientes idosos internados: contribuições da Auditoria. 2012. 36 f. Monografia (Especialização em Auditoria em Saúde) - Centro Universitário Filadélfia – UniFil, Londrina-Pr., 2012. RESUMO Nos últimos anos, a instituição hospitalar vem passando por uma rápida evolução tecnológica e social que atinge diretamente a todos os seus usuários. Nesse processo, surgiram as preocupações com a gestão pela qualidade, que são sistemas estruturados de forma a atender e superar as necessidades e expectativas dos usuários, através do controle e aperfeiçoamento contínuo, bem como, a prevenção e combate de eventos iatrogênicos. Tal aperfeiçoamento deve ser orientado no sentido de reduzir, eliminar e prevenir deficiências da qualidade e a auditoria tem papel fundamental nesse processo. Sendo assim, este estudo teve como objetivo determinar os principais fatores de risco associados à ocorrência de iatrogenia em pacientes idosos internados e verificar o papel da auditoria em saúde para sua prevenção. Foi desenvolvido por meio de revisão sistemática da literatura, cuja população do estudo foi constituída por todos os artigos indexados no Scientific Library Online (SCIELO), sobre iatrogenia em pacientes idosos e o papel da auditoria, publicados no período de 2000 a 2012. Foram incluídos estudos que, mesmo não atendendo a todos os critérios pré-estabelecidos, contribuíam para a riqueza do trabalho, com informações relevantes para o contexto, em um total de 06 estudos. Os resultados mostraram, basicamente, que as ocorrências iatrogênicas são mais comuns em pacientes idosos do que em outras populações, tornando-se fator de preocupação entre enfermeiros e médicos e se relacionam, principalmente, a ocorrências relacionadas às medidas terapêuticas, sejam elas farmacológicas (estas diretamente proporcionais ao número de drogas utilizadas na admissão) ou outros procedimentos terapêuticos. O combate a tais ocorrências se dá pela promoção da qualidade em saúde e a auditoria tem papel fundamental nesse processo, por meio de avaliações e análises que possibilitem a identificação de falhas, seja no ambiente, seja em relação ao quadro de profissionais. Palavras-chave: Iatrogenia; Idosos; Auditoria; Qualidade em saúde. ABSTRACT In recent years, the hospital has been undergoing rapid social and technological developments that directly affects all users. In this process, there were concerns about quality management, systems that are structured to meet and exceed the needs and expectations of the users through continuous improvement and control, as well as the prevention and combating of iatrogenic events. Such improvement should be directed to reduce, eliminate and prevent deficiencies in audit quality and plays a fundamental role in this process. Therefore, this study aimed to determine the main risk factors associated with the occurrence of iatrogeny in elderly patients hospitalized and verify the role of audit in health prevention. It was developed through a systematic literature review, whose study population consisted of all articles indexed in the Scientific Library Online (SciELO) on iatrogeny in elderly patients and the role of audit, published in the period 2000 to 2012. We included studies that, while not meeting all the criteria pre-established, contributed to the richness of the work, with information relevant to the context, a total of 06 studies. The results showed basically that iatrogenic occurrences are more common in elderly patients than in other populations, becoming a factor of concern among physicians and nurses, and relate primarily to events related to the therapy, whether pharmacological (these directly proportional to the number of drugs used on admission) or other therapeutic procedures. Tackling such occurrences is by promoting quality health and auditing plays a fundamental role in this process, through evaluations and analyzes that enable the identification of faults, either in the environment or in relation to professional staff. Key words: Iatrogeny; Elderly; Audit; Quality health. 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 06 2 METODOLOGIA .................................................................................................... 09 3REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................................. 11 3.1 Auditoria e seus Conceitos .............................................................................. 11 3.2 Qualidade em Saúde ......................................................................................... 16 3.3 Iatrogenia em Pacientes Idosos Internados.................................................... 20 4 RESULTADOS ...................................................................................................... 24 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 30 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 32 6 1 INTRODUÇÃO As instituições de saúde têm como princípio básico no atendimento ao usuário, o fornecimento de bens e serviços com o mínimo ou a ausência total de riscos e falhas que possam comprometer a segurança do paciente. Entretanto, há situações que podem levar à ocorrência de eventos adversos, como a ausência de educação permanente em saúde, distanciamento das ações próprias de cada profissional, ausência ou limitação da sistematização e documentação do cuidado de enfermagem, delegação de cuidados sem supervisão adequada e número de trabalhadores insuficiente, causando sobrecarga de serviço (BECCARIA et al., 2009). O estudo de erros humanos é recente e quando estes ocorrem, normalmente são enfrentados por meio de punições das mais diversas formas, além de serem associados a desatenção, desmotivação e, portanto, quando ocorrem há uma tendência em escondê-los. Pior do que isso, quando eles acontecem, toda a preocupação é voltada para a descoberta do responsável, perdendo-se uma valorosa chance de pesquisar suas causas e tomar medidas para prevení-las (BECCARIA et al., 2009). Sabe-se que os profissionais de saúde, como quaisquer outros profissionais, são passíveis de erros, entretanto, de acordo com Beccaria et al. (2009) se torna difícil identificar os eventos adversos quando os profissionais se solidarizam e mascaram tais situações. Segundo as autoras, deve existir um olhar crítico e investigativo sobre as falhas, não com objetivo de punição, mas sim a fim de apontar lacunas que precisam ser sanadas para beneficiar não só a equipe, mas principalmente, o usuário. Vários termos são utilizados como sinônimos de eventos adversos, como eventos iatrogênicos; complicações iatrogênicas; iatrogenias; doença iatrogênica, entre outros. De qualquer forma, todos esses termos são entendidos como eventos indesejáveis, não intencionais, de natureza danosa ou prejudicial ao paciente, comprometendo sua segurança, consequente ou não, de falha do profissional envolvido. Nos últimos anos, a instituição hospitalar passou a ser vista como uma empresa prestadora de serviços que vem passando por uma rápida evolução 7 tecnológica e social que atinge diretamente a todos os seus usuários. Nesse processo, surgiram as preocupações com a gestão pela qualidade, que são sistemas estruturados de forma a atender e superar as necessidades e expectativas dos usuários, através do controle e aperfeiçoamento contínuo (PADILHA, 2001; SILVA, 2003). Isso se dá pelo controle de qualidade do atendimento hospitalar, que preconiza que o hospital deve organizar-se de tal modo que os fatores técnicos, administrativos e humanos, que afetam a qualidade de seus produtos e serviços, sejam constantemente monitorados. Esse monitoramento deve ser orientado no sentido de reduzir, eliminar e prevenir deficiências da qualidade e a auditoria tem papel fundamental nesse processo. Para isso, a instituição deve ter à disposição documentação suficiente para acompanhar os níveis de qualidade atingidos. Esse levantamento, feito por meio de Auditoria, apresentará os resultados, que deverão ser comparados a indicadores pré-estabelecidos, de tal forma que seja possível determinar se há qualidade ou não para o procedimento que se avalia (SILVA, 2003). Os fatores de risco relacionados à ocorrência de iatrogenia durante a internação são idade, número de comorbidades, complexidade das patologias, uso de múltiplos medicamentos, tempo de internação, gravidade da doença no momento da internação e funcionalidade. Esses fatores foram demonstrados por poucos estudos e, entre eles, raríssimos são aqueles que avaliaram especificamente a população idosa (CARVALHO FILHO et al., 2008; SZLEJF et al., 2008; SANTOS; CEOLIN, 2009; MATOS et al., 2011). Entretanto, segundo a literatura pesquisada, mais da metade dos eventos iatrogênicos em idosos hospitalizados podem ser prevenidos, fato que reforça a necessidade de um conhecimento sólido sobre as causas de iatrogenia nessa população. Dessa forma, a qualidade no atendimento é ponto fundamental para diminuir as ocorrências iatrogênicas, principalmente considerando, como será verificado posteriormente, que muitas dessas ocorrências podem ser evitadas através de um atendimento de qualidade e a auditoria em saúde tem ferramentas que podem detectar os pontos falhos e assim, proporcionar condições de prevení-los. Sendo assim, este estudo teve como objetivo determinar, por meio de uma revisão bibliográfica, os principais fatores de risco associados à ocorrência de 8 iatrogenia em pacientes idosos internados e verificar o papel da auditoria em saúde para sua prevenção. 9 2 METODOLOGIA Este trabalho trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica sistematizada, a qual possui um método específico de desenvolvimento, que será tratado a seguir. A revisão bibliográfica envolve as pesquisas de variadas fontes, quaisquer que sejam os métodos ou técnicas empregados. Abrange bibliografia já tornada pública em relação ao tema em estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias e teses. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato com tudo que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma (MARCONI; LAKATOS, 2007). Uma das metodologias mais utilizadas na atualidade em revisão de literatura são as revisões sistemáticas, utilizadas como fonte de evidência para organizar o crescente número de produtos, intervenções e informações científicas, substituindo a pesquisa primária pura. É definida como uma síntese de estudos primários que contém objetivos, materiais e métodos claramente explicitados e que foi conduzida de acordo com uma metodologia clara e reprodutível. Como o nome sugere, tais revisões são sistemáticas na abordagem e usam métodos explícitos e rigorosos para identificar textos, fazer apreciação crítica e sintetizar estudos relevantes (LOPES; FRACOLLI, 2008). Buscando atender aos objetivos inicialmente propostos, de pesquisar a ocorrência de iatrogenia em pacientes idosos internados e conhecer o papel da auditoria na busca da prevenção, realizou-se a pesquisa considerando os critérios abaixo relacionados. A população do estudo para a revisão sistemática foi constituída por todos os artigos indexados no Scientific Library Online (SCIELO), sobre iatrogenia em pacientes idosos e o papel da auditoria, publicados no período de 2000 a 2012 em língua portuguesa, utilizando os descritores “iatrogenia”, “idosos”, “auditoria” e “qualidade em saúde”. Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos foram: indexados na base de dados Scientific Library Online (SCIELO); publicados em periódicos nacionais, em língua portuguesa, no período de 2000 a 2012; 10 por meio dos descritores: “iatrogenia”, “idosos”, “auditoria” e “qualidade em saúde”; ser publicado na íntegra na base de dados selecionada. Os dados foram coletados por meio das publicações científicas em forma de artigos indexados, utilizando-se a busca eletrônica, pesquisa via internet, em base de dados, a partir do cruzamento dos indexadores para o levantamento de artigos relacionados ao tema, no período determinado pelos últimos doze anos. A identificação das fontes primárias foi feita, inicialmente, acessando a base de dados Scielo. Na base de dados selecionada, optou-se pelo critério de “busca por artigos”, em “seleção livre”, pelos descritores “iatrogenia” e “idosos”. A partir desse critério, foram localizados apenas três trabalhos, os quais, após leitura de seus conteúdos, não atendiam aos objetivos deste estudo. Sendo assim, adotou-se uma nova estratégia, abrindo um leque maior de possibilidades, adotando-se como base de dados o portal Google Acadêmico, utilizando-se, como primeira seleção, os descritores “iatrogenia”, “idosos hospitalizados”. A partir deste novo critério, foram identificados 128 trabalhos. Após esta primeira busca, foi feita uma nova seleção dos mesmos por meio de leitura dos respectivos resumos. Foram incluídos estudos que, mesmo não atendendo a todos os critérios pré-estabelecidos, contribuíam para a riqueza do trabalho, com informações relevantes para o contexto, em um total de 06 estudos, os quais passaram a fazer parte desta revisão e são discutidos a seguir. Entretanto, é importante salientar que, mesmo no novo critério de busca, não foram encontrados trabalhos que tratassem da auditoria em casos de iatrogenia envolvendo idosos, apenas um dos trabalhos relacionou a auditoria à iatrogenia, mas, considerando todos os tipos de pacientes, inclusive, os idosos. Sendo assim, optou-se por selecionar os trabalhos que discutissem a iatrogenia em idosos e relacioná-los a formas de prevenção e controle, que seria a função da auditoria no processo. 11 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Auditoria e seus Conceitos O termo auditor se origina do Latim e significa “aquele que ouve; ouvidor”. De acordo com Ferreira (2007, p.22) “a auditoria, em sua raiz, preocupa-se com a verificação de elementos contábeis e em determinar a exatidão e a fidelidade das demonstrações e relatórios contábeis”. No campo da saúde, a auditoria surgiu pela necessidade de se realizar uma avaliação sistemática da assistência médica devido à falta de qualidade do ensino médico, a qual se deu por volta de 1910, sob a influência de Ernest Amory Codman, um grande pesquisador da educação médica, por meio de um importante relatório sobre a falta de qualidade do ensino (PADILHA, 2001; FELDMAN, 2004; FERREIRA, 2007). Em 1912, em Congresso Clínico de Cirurgiões norte-americanos, foi apresentado o primeiro plano que visava avaliar a qualidade do cuidado hospitalar e da prática cirúrgica (FERREIRA, 2007). A auditoria em saúde trata-se de um método de avaliação voluntário, periódico e reservado dos recursos institucionais de cada hospital para garantir a qualidade da assistência por meio de padrões previamente definidos. Não é uma forma de fiscalização, mas um programa de educação permanente. Através da auditoria a instituição de saúde tem a possibilidade de realizar um diagnóstico objetivo acerca do desempenho de seus processos, incluindo as atividades de cuidado direto ao paciente e aquelas de natureza administrativa (LIMA; ERDMAN, 2006; MANZO; BRITTO; CORREA, 2012). Entretanto, Souza (2010) ressalta que, na avaliação dos serviços de saúde, parte-se, habitualmente, de dados sobre satisfação do usuário, dados de mortalidade, restauração da saúde, informações dadas antes da alta, cuidados no retorno aos hábitos diários, com o resultado da assistência se restringindo às mudanças observadas no estado de saúde do paciente, como se esses critérios de resultado fossem suficientes para a avaliação da qualidade assistencial. Feldman e Cunha (2006) afirmam que o nível de qualidade e o nível de satisfação são influenciados pela qualidade técnico-científica dos profissionais, tipo de atendimento, acesso e organização dos serviços, ratificando o conceito de qualidade que se baseia no equilíbrio da tríade estrutura, processo e resultado de um sistema. 12 A partir deste diagnóstico e com o desenvolvimento do processo de educação permanente, será possível discutir, criteriosamente, os achados da avaliação e desenvolver um plano de ação capaz de promover a efetiva melhoria do desempenho da instituição, abrangendo todos os seus serviços e segmentos existentes. Primeiramente, deve-se promover medidas que busquem a sensibilização de toda a equipe ao objetivo, as metas e, principalmente, as melhorias esperadas ao longo do processo (MEDEIROS, 2012). Atualmente, a auditoria é conceituada como ferramenta de controle e regulação da utilização de serviços de saúde e, especialmente na área privada, tem dirigido o seu foco para o controle dos custos da assistência prestada (NEPOMUCENO; KURCGANT, 2008; PINTO; MELLO, 2010). O processo de auditoria adota estratégias de ações de forma contínua sobre as estruturas organizacionais e funcionais de forma a dimensionar a eficácia e a eficiência das atividades de saúde, cujos resultados são apresentados à administração do sistema de saúde. Ao lado dessas estruturas e organizações burocráticas funcionais da produção de serviços e controle do equilíbrio financeiro, os auditores executam em seus planos a avaliação do desempenho na rede de serviço como forma de buscar um feedback junto ao usuário e a sociedade de um modo geral (COSTA et al., 2004). A auditoria em saúde pode ser desenvolvida em vários setores da saúde e por diferentes profissionais, destacando-se a auditoria médica e a auditoria em enfermagem. De acordo com Paim e Ciconelli (2007, p.90) auditoria médica “é a análise, à luz das boas práticas de assistência à saúde e do contrato entre as partes dos procedimentos executados e conferindo os valores cobrados”. Entretanto, França (2012) ressalta que racionalizar a assistência médico-hospitalar através de auditagens criadas com o único interesse de baixar custos não alcança seu objetivo e desvirtua seu sentido. O autor entende que a auditoria não é apenas um direito, mas uma obrigação e a auditoria médica que se propõe tão só ao barateamento das despesas médicas e à institucionalização de uma medicina de péssimo padrão, para justificar uma situação de contenção de gastos, não leva aos interesses maiores que se espera de uma prática cuja finalidade é valorizar a assistência ao paciente. Já a auditoria em enfermagem é a avaliação sistemática da assistência de enfermagem, verificada através das anotações de enfermagem no prontuário dos pacientes e/ou próprias condições destes (SETZ; D’INNOCENZO, 2009; DIAS et al., 13 2011). Em enfermagem, conforme Luz, Martins e Dynewicz (2007) auditoria pressupõe a avaliação e revisão detalhada de registros clínicos selecionados por profissionais qualificados para verificação da qualidade da assistência. Sendo, portanto, uma atividade dedicada à eficácia de serviços, que utiliza como instrumentos o controle e a análise de registros. Atualmente, o conceito mais ampliado de auditoria em enfermagem, segunda as autoras, refere-se à análise das atividades realizadas pela equipe de enfermagem, através do prontuário em geral, principalmente das anotações, tendo em vista a qualidade da assistência prestada. Inclui ainda, a condição de diminuir custos, conciliando a qualidade do cuidado prestado com a sustentabilidade financeira da instituição de saúde. A auditoria de enfermagem possui algumas finalidades bastante específicas, como identificar áreas de deficiência do serviço, fornecer dados para melhoria dos programas de enfermagem e da qualidade do cuidado e obter dados para programação de educação permanente, sem deixar de citar o papel educativo do auditor (FARACO; ALBUQUERQUE, 2004). De acordo com Nunes e Carvalho (2006) ser enfermeiro auditor significa ser parceiro gerador de soluções, podendo fornecer orientações e educação permanente. Educação permanente, segundo a Portaria nº 198/GM/MS (BRASIL, 2004) é entendida como “estratégia de reestruturação dos serviços, a partir da análise dos determinantes sociais e econômicos, mas, sobretudo, de valores e conceitos dos profissionais. Propõe transformar o profissional em sujeito, colocandoo no centro do processo ensino-aprendizagem”. Assim, o auditor enfermeiro deve ser aquela pessoa que diagnostica problemas e propõe soluções, atendendo às necessidades do ambiente, funcionários e usuários. Este auditor pode possibilitar o desenvolvimento de processos de melhoria contínua, permitindo uma melhor assistência aos usuários. Ou seja, o enfermeiro atua como elemento chave no atendimento de qualidade (POLIZER; D’INNOCENZO, 2006). Sua atuação pode resultar em um panorama de reestruturação da produção em saúde demarcada por uma nova lógica de gestão das organizações (SCARPARO et al., 2010). Segundo a Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) nº 266/2001 (COFEN, 2001), entre outras atribuições, o enfermeiro auditor tem como funções: 14 atuar na elaboração de medidas de prevenção e controle sistemático de danos que possam ser causados aos pacientes durante a assistência de enfermagem; atuar na construção de programas e atividades que visem a assistência integral à saúde individual e de grupos específicos, particularmente daqueles prioritários e de alto risco; atuar na elaboração de programas e atividades da educação sanitária, visando a melhoria da saúde do indivíduo, da família e da população em geral; o enfermeiro auditor deve atuar com clareza, lisura, sempre fundamentado em princípios constitucional, legal, técnico e ético; e, como educador, deverá participar da interação interdisciplinar e multidisciplinar, contribuindo para o bom entendimento e desenvolvimento da auditoria de enfermagem e auditoria em geral. No processo de auditoria em enfermagem, segundo Scarparo et al. (2010) o enfermeiro auditor, na atualidade, tem sua função focada na dimensão burocrática, de cunho contábil e financeiro, contemplando exigências das instituições de saúde. Quando essa tendência é reportada para o futuro, os autores observaram uma projeção de mudança incorporando a avaliação da qualidade da assistência. Quanto aos métodos, a situação atual, é de proceder segundo a forma retrospectiva, do tipo interna, contemplando a coleta e análise dos pagamentos de contas. As autoras concluíram que, à medida que a auditoria de enfermagem incorporar à sua prática a avaliação da qualidade, conforme tendência futura, os métodos agregarão diferentes maneiras para sustentar a nova realidade. Pinto e Mello (2010) confirmam os dados acima por meio de seu estudo realizado com o objetivo de conhecer a prática da enfermeira em auditoria em saúde. Foram entrevistadas nove enfermeiras auditoras. Os resultados mostraram que na auditoria do Sistema Único de Saúde (SUS), as enfermeiras expressaram satisfação no exercício desta prática e valorização de seu papel profissional. Na auditoria privada - interna e externa às organizações de saúde - as ações das enfermeiras se direcionam para atender aos interesses de seus contratantes, e pouco se relacionam com a assistência prestada pela equipe de enfermagem e com as necessidades dos usuários dos serviços, ressaltando a urgência na mudança 15 dessa visão, principalmente quando se relaciona à atuação da auditoria em enfermagem visando a qualidade da assistência. O controle da qualidade da assistência é compreendido como parte da função do enfermeiro auditor e elemento essencial para a sobrevivência das organizações nos mercados atuais, que são altamente competitivos. Assim, o conceito de garantia da qualidade em saúde refere-se à elaboração de estratégias tanto para a avaliação desta quanto para a implementação de normas e padrões de conduta através de programas locais ou nacionais. Dessa forma, no setor da saúde, a política da qualidade tem gerado uma preocupação constante com a melhoria da assistência prestada ao paciente, exigindo maiores investimentos na qualificação dos profissionais (NEPOMUCENO; KURCGANT, 2008). Embora ambas as auditorias, ou seja, médica e de enfermagem, disponham de áreas específicas de atuação, seus objetivos são sempre os mesmos, garantir a qualidade do cuidado no atendimento ao usuário, evitar desperdícios e auxiliar no controle dos custos (PAIM; CICONELLI, 2007). Para alcançar tais objetivos, são possíveis dois tipos de auditoria: uma retrospectiva e outra operacional ou recorrente (SOUZA; FONSECA, 2005). A auditoria retrospectiva é feita após a alta do paciente e se utiliza dos registros médicos para avaliação. A auditoria operacional ocorre durante o período de internação hospitalar ou o atendimento ambulatorial, podendo ser realizada de quatro maneiras: avaliação feita pelo paciente e sua família verificando suas percepções acerca da assistência prestada; entrevista com o funcionário após a prestação do cuidado levando-o à reflexão; exame do paciente e confronto com as necessidades levantadas com a prescrição de enfermagem e/ou avaliação dos cuidados in loco; e pesquisa junto à equipe médica, verificando o cumprimento da prescrição médica e interferências das condutas de enfermagem na terapêutica médica (FARACO; ALBUQUERQUE, 2004; SETZ; D’INNOCENZO, 2009). A auditoria também pode ser classificada como uma forma de assistência (interna, externa e mista) e por tempo (contínua e periódica) (CHIZOTTI, 2000; FARACO; ALBUQUERQUE, 2004). A auditoria interna é executada por auditores habilitados da própria organização auditada. A externa é executada por auditores ou empresa independente contratada para conferir as atividades e resultados de uma determinada instituição ou de um sistema. A contínua e realizada rotineiramente, 16 sistemática e previamente programada, com vistas à análise e verificação das fases específicas de uma atividade, ação ou serviço (SETZ; D’INNOCENZO, 2009). Atualmente muitas instituições hospitalares se utilizam de auditores internos a fim de prevenir e corrigir falhas. Realizar uma auditoria interna pode levantar uma série de distorções que, muitas vezes, podem ser corrigidas. Nesse processo, as atividades do enfermeiro auditor/educador estão relacionadas a uma interação multidisciplinar com os demais profissionais (SILVA; CASA, 2006). Entretanto, apenas detectar os problemas não melhora a qualidade da assistência, é preciso fazer com que os erros não voltem a ocorrer e se promova a qualidade em saúde, que é discutida a seguir. 3.2 Qualidade em Saúde O enfermeiro é o profissional que coordena e gerencia todo o processo de assistência a ser desenvolvido em relação ao paciente e tudo o que o envolve no contexto da instituição hospitalar. O paciente e suas especificidades, suas necessidades, sua alta ou recuperação, constituem a principal razão da assistência de enfermagem e, sendo assim, esta deve ser realizada eficientemente, com comprometimento de quem a desenvolve, garantindo qualidade do cuidado prestado e, principalmente, a satisfação do paciente e seus familiares (BARBOSA; MELO, 2008; RAZERA; BRAGA, 2011). De acordo com D'Innocenzo, Adami e Cunha (2006, p.87) a Organização Mundial da Saúde definiu, em 1993, “qualidade da assistência à saúde em função de um conjunto de elementos que incluem um alto grau de competência profissional, a eficiência na utilização dos recursos, um mínimo de riscos e um alto grau de satisfação dos pacientes e um efeito favorável na saúde”. Mais recentemente, a OMS (2008, p.4) passou a considerar um serviço de qualidade aquele que “organiza os recursos eficazmente de forma a ir ao encontro das necessidades de saúde dos que mais precisam de cuidados preventivos e curativos, de modo seguro e sem desperdício”. A respeito de qualidade, um dos conceitos relacionados é o da avaliação, que significa atribuir valor a uma coisa emitindo um juízo de valor que depende muitas vezes dos valores de quem avalia, contendo questões subjetivas e de interesse, 17 critérios e valores do observador. Sendo assim, as práticas de saúde podem constituir-se em objeto de avaliação nas suas diversas dimensões, seja enquanto cuidado individual, seja nos níveis mais complexos de intervenção e de organização, como nos aspectos de políticas, de programas, serviços ou sistemas. Assim, a avaliação é um processo intencional, técnico e político, isento de neutralidade e que pode ser aplicado a qualquer ramo de atividade profissional, tipo de serviço ou organização, utilizando diversas áreas do conhecimento (D’INNOCENZO; ADAMI; CUNHA, 2006). De acordo com Righi, Schmidt e Venturini (2010) Avedis Donabedian foi um dos principais estudiosos sobre a qualidade em saúde e os conceitos por ele propostos são utilizados até hoje pelas organizações de saúde, principalmente nos aspectos referentes à avaliação da qualidade em serviços de saúde. Segundo os autores, Donabedian desenvolveu uma discussão sistemática sobre a questão e expressa dúvidas acerca da natureza da noção de qualidade, ou seja, apesar de afirmar ser a qualidade uma propriedade do cuidado médico, considera não estar claro se a mesma é um atributo único, uma classe de atributos funcionalmente relacionados ou um conjunto heterogêneo de fenômenos reunidos pelo uso, razões administrativas ou preferências pessoais. Segundo os conceitos de Donabedian, a base para se conceituar qualidade em saúde deveriam ser os cuidados médicos relacionados a aspectos técnicocientíficos, a relação interpessoal e as amenidades, como conforto e estética das instalações e equipamentos (RIGHI; SCHMIDT; VENTURINI, 2010). Os autores referem que Donadedian, apesar de identificar três possíveis definições para a qualidade, questiona se alguns dos componentes de sua definição, como o acesso e continuidade da assistência, não seriam, na verdade, instrumentos para a obtenção da qualidade e não componentes desta, alertando para o risco da perda da utilidade analítica do conceito com a sua ampliação. Assim, o pesquisador definiu a qualidade como a intervenção capaz de alcançar o melhor balanço entre benefícios e riscos. Da mesma forma pensa Padilha (2001) defendendo que, para avaliar a qualidade do cuidado prestado, é necessário definir, compreender e quantificar indicadores apropriados de enfermagem. Indicadores clínicos são definidos como medidas quantitativas que podem ser usadas como guias para monitorar e avaliar a qualidade de importantes cuidados ao paciente. Indicadores de resultados não devem ser confundidos como medidas diretas da qualidade, mas como marcadores 18 que podem identificar áreas que necessitam de avaliação mais acurada, são aqueles que acessam exatamente o resultado final do cuidado ao paciente, seja ele desejável ou indesejável (PADILHA, 2001). A qualidade é um fenômeno complexo a ser definido a partir dos seguintes atributos do cuidado em enfermagem: eficácia, efetividade, eficiência, otimização, aceitabilidade, legitimidade e equidade. Entretanto, verifica-se, frequentemente, uma superposição entre as definições de eficácia, efetividade, eficiência e, mesmo, qualidade, a começar pelo Dicionário Aurélio, que considera os três primeiros como sinônimos (SILVA; FORMIGLI, 2004). Eficaz é o que produz o efeito desejado; eficiência é a ação, força, virtude de produzir um efeito; e efetivo é o que se manifesta por um efeito real. A qualidade tem sido definida como efeito; a efetividade, como qualidade (SILVA; FORMIGLI, 2004). De acordo com Fekete (2000), seja a eficácia ou a efetividade, ambas se relacionam ao cumprimento de objetivos inicialmente propostos. Ainda afirma que a efetividade seria um atributo composto pela eficiência e pela eficácia. Entretanto, há evoluções palpáveis nos significados de alguns desses conceitos, como por exemplo, a eficácia, que anteriormente era definida como cumprimento de metas, passa a ser definida mais consistentemente como o efeito potencial ou o efeito em determinadas condições experimentais. Já a efetividade e o impacto traduziriam o efeito real num sistema operacional (SILVA; FORMIGLI, 2004). De acordo com Fekete (2000) em relação às demais dimensões da qualidade, otimização está relacionada ao custo-benefício, ou seja, avalia os efeitos dos cuidados em relação aos custos que acarretam; a aceitabilidade está relacionada à relação entre os cuidados prestados e os desejos e expectativas do paciente e sua família; a legitimidade está relacionada ao componente social do cuidado, ou seja, a qualidade deve estar voltada não somente ao atendimento individual, mas, voltada para o coletivo, como por exemplo, as imunizações da população e; a equidade, que determina o que seria aceitável para os indivíduos e legítimo para a sociedade, está mais relacionada a políticas públicas. Sendo assim, qualquer consideração sobre qualidade em saúde, deve levar em conta esses atributos e analisá-la sob essas variáveis. De acordo com D’Innocenzo, Adami e Cunha (2006), sob esses aspectos, ganha relevância a auditoria dos resultados obtidos pela assistência prestada, com o objetivo de intervir 19 nos vários componentes dos sistemas e subsistemas, para operar mudanças e melhorar a qualidade desses serviços. Donabedian (1990) sugere verificar as anotações de enfermagem e compara-las com os registros médicos, no sentido de obter informações mais fidedignas sobre os fatos, avaliando também, coerência entre a história clínica e a assistência prestada. Embora exista uma série de dificuldades para avaliar a qualidade na área da saúde, há uma unanimidade entre os gestores de que é necessário escolher sistemas de avaliação e indicadores de desempenho institucional adequados para apoiar a administração dos serviços e propiciar a tomada de decisão com o menor grau de incerteza possível. Um indicador pode ser definido como um sensor que auxilia a verificar se os objetivos propostos foram ou não alcançados. Este processo deve ser visto como algo positivo, estabelecendo assim, objetivos cada vez mais próximos ao ideal, e tentar alcançá-los (SILVA; FORMIGLI, 2004). A criação de indicadores é extremamente importante para a avaliação da qualidade, pois proporciona uma medida e permite o monitoramento e a identificação de oportunidades de melhoria de serviços e de mudanças positivas em relação ao alcance da qualidade a um custo razoável. Os atributos que dão o grau de excelência a um indicador são: disponibilidade: dados de fácil obtenção; confiabilidade: dados fidedignos; validade: deve ser em função das características do fenômeno que se quer ou necessita medir; simplicidade: facilidade de cálculo a partir das informações básicas; discriminatoriedade: o poder de refletir diferentes níveis epidemiológicos ou operacionais; sensibilidade: o poder de distinguir as variações ocasionais de tendência do problema numa determinada área; abrangência: sintetizar o maior número possível de condições ou fatores diferentes que afetam a situação que se quer descrever; objetividade: deve ter um objetivo claro; baixo custo: altos custos financeiros inviabilizam sua utilização rotineira; utilidade: as informações obtidas devem ser utilizadas para a tomada de decisão de quem coleta ou de quem gerencia o serviço (D’INNOCENZO, ADAMI E CUNHA, 2006). Segundo D’innocenzo, Adami e Cunha (2006) a auditoria em enfermagem tem contribuído para o desenvolvimento da qualidade assistencial e institucional, participando dos processos avaliativos em situações distintas, sendo o enfermeiro um dos agentes avaliadores como nos casos da avaliação de riscos profissionaislegais. A padronização dos processos de avaliação vem evoluindo e aprimorando a 20 identificação de critérios, indicadores e padrões cada vez mais significativos para vários serviços hospitalares, dentre eles o da enfermagem. Aponta-se cada vez mais a necessidade de implementar ações educativas que contemplem, além dos aspectos técnico-científicos, a inclusão de temas sobre ética e humanização em busca do desenvolvimento integral dos grupos profissionais, proporcionando serviços que realmente atendam as necessidades da população, superando as expectativas dos pacientes e, se não eliminando, pelo menos diminuindo os fatores de risco, fatores iatrogênicos. 3.3 Iatrogenia em Pacientes Idosos Internados Iatrogenia é uma palavra que deriva das palavras gregas iatrós, que significa médico, remédio, medicina, e gennáo, aquele que gera, produz. Sendo assim, a iatrogenia poderia, portanto, ser entendida como qualquer atitude do médico. Entretanto, o significado mais aceito é o de que iatrogenia consiste num resultado negativo da prática médica. Nesse sentido, um médico, ainda que disponha dos melhores recursos tecnológicos diagnósticos e terapêuticos, é passível de cometer iatrogenias. Ou seja, todo médico é, em graus variáveis, iatrogênico, de modo que ele deve sempre considerar esse aspecto quando trata seu paciente. Outros autores enfatizam que o fato de os médicos lidarem com riscos os torna sujeitos a cometer iatrogenias (TAVARES, 2007). Ampliando mais o termo, Matos et al. (2011) referem que a iatrogenia é definida como o resultado indesejável de uma ação prejudicial à saúde do paciente, causada de forma não intencional pelos profissionais de saúde, estando relacionada à observação, monitorização ou intervenção terapêutica, caracterizando uma falha profissional por negligência. No cuidado de enfermagem, a iatrogenia estaria relacionada à privação desses cuidados, a sua imposição ou a prestação insatisfatória deles, de forma a que viessem determinar algum transtorno, dano ou prejuízo ao bem estar do ser humano (MADALOSSO, 2000). Nesse sentido, Tavares (2007) salienta que a denominação mais adequada poderia ser “iatropatogenia”, termo que enfatiza a noção maléfica do ato médico, ou seja, um ato que provocará prejuízos ao paciente. 21 O conhecimento dos fatores humanos que determinam a iatrogenia é essencial para compreender porque e como as pessoas erram, de forma a desenhar sistemas de trabalho e equipamentos que se adaptem às limitações humanas, reduzindo a probabilidade de ocorrência de erro. Até a década de 1970, a iatrogenia era considerada inevitável e inacessível à investigação científica, sendo que a partir desse período, foram conduzidos estudos mais detalhados, demonstrando que parecem existir alguns mecanismos e fatores que se encontram relacionados a tais ocorrências (MANSOA, 2010) e a auditoria é essencial para a detecção desses mecanismos. As complicações iatrogênicas são comuns e relacionadas não apenas à utilização imprópria de medicamentos ou à realização de procedimentos, mas também a omissões na abordagem de problemas. Como exemplos de iatrogenia pode-se destacar principalmente as imposições dietéticas inadequadas, quedas, uso excessivo de medicamentos, opiniões equivocadas de profissionais da saúde, imobilização no leito, podendo ocorrer diminuição da força muscular e surgimento de úlceras de pressão, quedas (MATOS et al., 2011), bem como, cirurgias desnecessárias, mutilações, e ainda, danos psicológicos (psicoiatrogenia), causados ao paciente não só pelo médico como também por sua equipe (enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, nutricionistas e demais profissionais). Sob esta ótica, os “erros médicos”, tais como são conhecidos no Código de Ética (imperícia, imprudência, negligência) se enquadram na categoria de iatrogenias, no entendimento contemporâneo (TAVARES, 2007). A iatrogênia é um acontecimento que muitas vezes é inesperado, podendo levar ameaça à vida, principalmente daqueles que já se encontram em estado crítico. Esses atos iatrogênicos aumentam o sofrimento do paciente, causam danos psíquicos, farmacológicos e instrumentais podendo causar sequelas irreversíveis ou até a morte, além de aumentar os custos do tratamento hospitalar. Incluem-se outros atos iatrogênicos ocasionados por drogas e métodos responsáveis pelas complicações e evolução do paciente, e se estende a erros de julgamento, falta de conhecimento teórico ou prático e negligência (GALDINO; NUNES, 2000). O prejuízo secundário da iatrogenia é definido por Galdino e Nunes (2000) como transtornos iatrogênicos, como as consequências nocivas recebidas pelos pacientes, direta ou indiretamente, de ações que provocam benefícios em outros aspectos. Síndromes da assistência de enfermagem estão paralelas às iatrogenias e 22 estas podem ser evitadas e/ou minimizadas por meio de um planejamento mais rápido e acurado da assistência. Há várias formas de iatrogenia, sendo que a mais comum cometida pela equipe de enfermagem está relacionada a medicamentos, como omissão de doses, administração em concentração incorreta, em horários e vias impróprios, aplicação em pacientes trocados, assim como aplicação de fármacos errados, decorrentes de substituições indevidas ou enganos na interpretação ou transcrição da prescrição médica. Além desses, podem ser acrescentados outros eventos iatrogênicos frequentes, como ocorrência de úlceras de pressão em pacientes acamados, quedas, fraturas, aspiração e infecção por sonda nasogástrica ou sonda nasoenteral, flebite em cateter venoso periférico, infecção de cateter venoso central, bacteremia em sonda vesical de demora, entre outros (SANTOS; CEOLIN, 2009). Além disso, sabe-se que a iatrogenia é um indicador de qualidade do serviço prestado pela equipe de enfermagem e por todos os outros profissionais de um hospital, sendo assim, deve-se incentivar a notificação, caso ocorra o evento iatrogênico, e utilizar-se de educação permanente para atualizar o profissional e diminuir o número de erros, buscando melhorar, por conseguinte, a qualidade do serviço prestado (SANTOS; CEOLIN, 2009). Quando ocorre um erro, a reação imediata é procurar identificar o responsável por ele. Entretanto, geralmente, o erro é a ponta do iceberg, ou seja, ele é o resultado de uma sequência de ocorrências de múltiplos fatores. A análise profunda de todos os fatores que intervieram no problema, como os recursos disponíveis, presença de normas e regulamentos, condições ambientais presentes, equipamentos envolvidos no problema, carga de trabalho da equipe presente no momento do erro, entre outros, leva ao conhecimento dos erros latentes, que se podem transformar em erros ativos ou potenciá-los, nas diferentes etapas do processo. Concentrar-se nos erros ativos faz com que os erros latentes permaneçam no sistema e sua continuidade torne o processo vulnerável a futuros erros (MANSOA, 2010). Nesse caso, é papel da auditoria identificar os erros latentes e criar propostas de resolução e, assim, eliminar os erros ativos, evidenciando o papel educativo da auditoria. Conforme já referido anteriormente, a idade é um dos principais fatores relacionados à iatrogenia. Estudos recentes mostraram que pacientes com 65 anos de idade ou mais apresentaram um risco duas vezes maior de sofrer iatrogenia 23 durante a internação, do que pacientes entre 16 e 44 anos de idade (SZLEJF et al., 2008). A causa seria a proliferação de drogas e procedimentos diagnósticos e de monitoramento, mais comuns nos idosos, que acabam sofrendo um maior impacto (ROTHSCHILD; BATES; LEAPE, 2000). Szlejf et al., (2008) referem que de 9 a 23% dos idosos internados que sofreram iatrogenia apresentaram comprometimento funcional importante e 5 a 13% evoluíram para óbito durante a internação. De acordo com Carvalho Filho et al. (2008) como o atendimento do idoso apresenta um caráter multidisciplinar, no qual profissionais de várias áreas associam-se para oferecer uma assistência global ao paciente, o conceito de iatrogenia em geriatria tem significado mais amplo, relacionando-se às condutas tomadas pelos vários membros da equipe. Apesar disso, a documentação das complicações iatrogênicas em idosos tem sido geralmente pouco evidente e vaga, sendo raros os serviços médicos que adotam protocolos para verificação das complicações determinadas pelas medidas diagnósticas e terapêuticas adotadas. 24 4 RESULTADOS O quadro 1 ilustra os 06 artigos que compuseram a amostra desta pesquisa. GUEDES, E.P.; MARRA, C.C. Prevenção de iatrogenias em idosos em unidade de terapia intensiva. Rev Enferm UNISA, v.3, n.2, p.57-62, 2002. Disponível em: http://www.unisa.br/graduacao/biologicas/enfer/revista/arquivos/2002-11.pdf. Acesso em: 20 maio 2012. CARVALHO-FILHO, E.T. et al. Iatrogenia em pacientes idosos hospitalizados. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 32, n. 1, p.36-42, fev. 2008. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003489101998000100005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20 maio 2012. SZLEJF, C. et al. Fatores relacionados com a ocorrência de iatrogenia em idosos internados em enfermaria geriátrica: estudo prospectivo. Einstein, v.6, n.3, p.23742, 2008. Disponível em: http://apps.einstein.br/revista/arquivos/PDF/966v6n3aAO966portp337-42.pdf. Acesso em: 20 maio 2012. SANTOS, J.C.; CEOLIM, M.F. Iatrogenias de enfermagem em pacientes idosos hospitalizados. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 43, n. 4, p.810-17, dez. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S008062342009000400011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 maio 2012. SOUZA, R,D.; PAGANINI, M.C. Auditoria na qualidade da assistência: um olhar sobre a realização da punção venosa periférica. Boletim de Enfermagem, v.4, n.1, p.1-17, 2010. Disponível em: http://www.utp.br/enfermagem/boletim_6_ano4_vol1/pdf's/art1_auditoria.pdf. Acesso em: 20 maio 2012. GOMES, F.S.L. et al. Avaliação de risco para úlcera de pressão em pacientes idosos críticos. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 45, n. 2, p.313-18, abr. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S008062342011000200002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 maio 2012. Fonte: Pesquisa das autoras (2012). Dos trabalhos analisados, metade deles apresentaram dois autores e metade foram escritos por mais de três autores. Em relação à categoria profissional que mais produz pesquisa sobre este tema, observa-se o maior interesse de enfermeiros, representando 53,5% do total, e os demais (46,5%) eram médicos, na maioria, geriatras, em um total geral de 28 profissionais. Quanto à titulação dos autores, observa-se um predomínio dos doutores (46,4%), seguidos dos graduados (32,1%), mestres (17,8%) e especialista (3,5%), o 25 que vem confirmar ser a pós-graduação propulsora de pesquisas. Todos os trabalhos de graduados eram recortes de seus Trabalhos de Conclusão de curso, (TCC), juntamente com seus orientadores. Os artigos que compõem a amostra foram publicados em cinco periódicos com predominância da Revista da Escola de Enfermagem da USP (duas publicações), com 33,3% das publicações, as demais, Revista de Saúde Pública, Revista de Enfermagem da UNISA, Boletim de Enfermagem e Einstein, contribuíram com um trabalho cada um (16,6% cada). O ano de 2008 foi o que mais apresentou publicações, com 33,3%. Os demais anos, ou seja, 2002, 2009, 2010 e 2011, contribuíram com 16,67% cada um. Com relação aos temas abordados, estes se relacionaram, principalmente, à iatrogenia em idosos hospitalizados e suas causas (50,0%), à prevenção de iatrogenias em idosos hospitalizados (16,6%), Auditoria na qualidade da assistência (16,6%) e Avaliação de risco para úlcera de pressão em pacientes idosos críticos (16,6%), conforme detalhado no quadro 2. Quadro 2 – Temas dos trabalhos selecionados. Artigo Iatrogenia em pacientes idosos hospitalizados Fatores relacionados com a ocorrência de iatrogenia em idosos internados em enfermaria geriátrica: estudo prospectivo Iatrogenias de enfermagem em pacientes idosos hospitalizados Autores Carvalho-Filho, E.T. Saporetti, L. Souza, M.A.R. Arantes, A.C.L.Q. Vaz, M.Y.K.C. Hojaiji, N.H.S.L. Alencar, Y.M.G. Curiati, J.E. Szlejf, C. Farfe, J.M. Saporetti, L.A. Jacob-Filho, W. Curiati, J.A. Santos, J.C.; Ceolim, M.F. Ano Objetivo do Estudo 2008 Analisar as complicações iatrogênicas apresentadas por idosos hospitalizados. 2008 Determinar os principais fatores relacionados com a ocorrência de iatrogenia em idosos internados em uma enfermaria de geriatria 2009 Identificar, em prontuários, as principais iatrogenias de enfermagem acometendo idosos internados em duas enfermarias de um hospital universitário (Campinas, SP) 26 Prevenção de iatrogenias em idosos em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Guedes, E.P. Marra, C.C. Auditoria na qualidade da assistência: um olhar sobre a realização da punção venosa periférica Avaliação de risco para úlcera de pressão em pacientes idosos críticos Souza, R,D. Paganini, M.C. Gomes, F.S.L. Bastos, M.A.R. Matozinhos, F.P. Temponi, H.R. Velásquez-Meléndez, G. 2002 Descrever as principais ocorrências iatrogênicas em Unidade de Terapia Intensiva relacionadas à assistência de enfermagem e identificar formas de prevenção. 2010 Avaliar o desempenho dos profissionais de enfermagem de uma UTI durante a execução da técnica de punção venosa periférica 2011 Analisar os fatores de risco para o desenvolvimento de úlcera por pressão em pacientes idosos internados em CTIs. Quadro 2: Temas dos Trabalhos Selecionados. Londrina 2012. Certamente, as ocorrências iatrogênicas em pacientes idosos hospitalizados é fator de preocupação entre enfermeiros e médicos, pois as pesquisas, apesar de bastante escassas se for considerada a relevância do tema, comprovam que a população idosa é a maior vítima de casos de iatrogenia entre pacientes hospitalizados, conforme comprova o estudo de Carvalho-Filho et al. (2008) que realizaram estudo retrospectivo dos prontuários de 96 pacientes, 48 do sexo masculino e 48 do feminino, com idades variando de 60 a 93 anos, com média de 75,7 anos, hospitalizados em enfermaria geriátrica. A análise da evolução dos pacientes durante o período de hospitalização evidenciou que: em 43,7% dos pacientes ocorreram uma ou mais complicações iatrogênicas, totalizando 56 episódios; manifestações relacionadas aos procedimentos diagnósticos corresponderam a 17,9% das iatrogenias; alterações relacionadas às medidas terapêuticas corresponderam a 58,9%, sendo 32,1% referentes à terapêutica farmacológica e 26,8% a outros procedimentos terapêuticos; manifestações iatrogênicas não relacionadas diretamente às afecções (úlceras de decúbito, quedas e fraturas) corresponderam a 23,2%; a presença de manifestações iatrogênicas correlacionou-se com período mais prolongado de internação; cinco pacientes faleceram em consequência direta de complicações iatrogênicas (CARVALHO-FILHO et al., 2008). 27 Os autores concluíram que a iatrogenia é frequente em pacientes idosos hospitalizados, podendo determinar manifestações graves e mesmo fatais. Entretanto, observaram que uma significativa proporção dessas complicações pode ser evitada através de medidas adequadas, devendo-se procurar identificar suas causas e desenvolver métodos para prevení-las ou reduzir seus efeitos (CARVALHO FILHO et al., 2008). Outro estudo retrospectivo sobre as iatrogenias em pacientes idosos internados foi realizado por Szlejf et al. (2008), com 467 idosos com idade média de 78,59 anos, admitidos na enfermaria de Geriatria de um hospital universitário brasileiro entre 2004 e 2005. As iatrogenias ocorridas foram relatadas pela equipe multiprofissional da enfermaria. Foram relatadas 171 iatrogenias em 121 pacientes (1,41 iatrogenias por paciente), com incidência de 25,9%. Na análise multivariada, os fatores independentes relacionados à iatrogenia encontrados foram: tempo de internação; número de drogas utilizadas na admissão; presença de instabilidade postural; e presença de delirium. O risco relativo de óbito em pacientes com iatrogenia foi 1,71. Os autores concluíram que os principais fatores relacionados à iatrogenia em idosos internados em uma enfermaria geriátrica são tempo de internação, número de drogas, presença de instabilidade postural e de delirium. A ocorrência de iatrogenia aumentou em 71% o risco de óbito na internação daqueles pacientes. O último estudo que analisou as iatrogenias em pacientes idosos internados foi o estudo transversal realizado por Santos e Ceolin (2009), por meio de análise de 100 prontuários de idosos internados em duas enfermarias de um hospital universitário em Campinas (SP). As autoras encontraram registros de iatrogenia em 26 prontuários, como: problemas com acesso venoso periférico (14 prontuários), úlcera por pressão (8 prontuários) e queda (2 prontuários), entre outros. Os relatos eram pouco detalhados e não apontavam medidas para prevenção de novas ocorrências. Os resultados mostraram a importância de um sistema que estimule os profissionais de enfermagem a não praticar a subnotificação das iatrogenias, bem como da criação de uma enfermaria voltada para o público idoso para oferecer-lhes cuidados específicos. A pesquisa desenvolvida por Gomes et al. (2011) estudou um dos principais problemas relacionados a pacientes acamados por longos períodos, as úlceras de pressão, analisadas por meio de estudo seccional analítico, no qual foram avaliados 28 140 pacientes idosos, internados em 22 CTIs. Os resultados mostraram que pacientes internados por 15 dias ou mais apresentavam alguma categoria de risco. As maiores frequências de úlcera por pressão foram encontradas em pacientes que estavam nas categorias: percepção sensorial (completamente limitado), umidade (constantemente úmida), mobilidade (completamente imobilizado), atividade (acamado), nutrição (adequado) e fricção e cisalhamento (problema). Os autores concluíram que esses fatores relacionados devem se traduzir em estratégias de prevenção no cuidar de pacientes em terapia intensiva. Também visando a prevenção, Guedes e Marra (2002) estudaram aspectos preventivos relacionados tanto aos profissionais como ao ambiente e verificaram que, em relação à equipe, maior segurança será proporcionada à medida que se dispuser de quantidade suficiente de profissionais; qualidade satisfatória desse pessoal; processo de educação permanente sistematizado; avaliações de desempenho periódicas que possibilitem a retroalimentação do processo. Quanto aos recursos materiais, a quantidade e qualidade satisfatórias de materiais e equipamentos são elementos que vão predispor a uma maior segurança do paciente na medida em que permitam a execução correta dos vários procedimentos técnicos; a troca sistematizada dos acessórios de respiradores, evitando infecções respiratórias; possibilidade de manutenção periódica dos equipamentos sem prejuízo da assistência ao doente. As autoras ainda argumentam que o idoso crítico necessita de um olhar mais atento e é o enfermeiro quem deve encontrar uma forma de assegurar a continuidade de sua assistência, pois trata-se de uma população que a cada dia, ocupa mais leitos hospitalares. Segundo as autoras, é preciso, assim, promover a qualidade da assistência de enfermagem, minimizando ocorrências iatrogênicas e estas podem ser diminuídas através de uma assistência específica para cada usuário geriátrico não generalizada, se fazendo necessário um processo de educação continuada (termo utilizado pelos autores) sistematizado (GUEDES; MARRA, 2002). Finalmente, o trabalho conduzido por Souza e Paganini (2010) relata a auditoria realizada pelas autoras em relação ao desempenho dos profissionais de enfermagem de uma Unidade de Terapia Intensiva durante a execução da técnica de punção venosa periférica. O estudo envolveu 12 profissionais de um hospital filantrópico de médio porte, que foram avaliados por meio de aplicação de 29 instrumento de observação do tipo checklist, contendo 21 itens baseados nas normas e rotinas da própria instituição. Em três dos 21 itens avaliados, os participantes apresentaram erros, sendo eles: durante a lavagem das mãos, preparo do material com fitas fixadoras da punção e orientação ao cliente quanto ao procedimento a ser realizado. Quanto ao desenvolvimento da técnica de punção venosa periférica propriamente dita, não foram constatados erros significativos, mas, em razão dos erros relacionados, as autoras sugeriram atuação educativa da auditoria em saúde visando favorecer a melhoria na qualidade do serviço e mais especificamente, a qualidade durante o desempenho da punção venosa periférica. 30 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo se propôs determinar, por meio de uma revisão bibliográfica sistemática, os principais fatores de risco associados à ocorrência de iatrogenia em pacientes idosos internados e verificar o papel da auditoria em saúde para sua prevenção. Verificou-se que as ocorrências iatrogênicas são mais comuns em pacientes idosos do que em outras populações, tornando-se fator de preocupação entre enfermeiros e médicos e se relacionam, principalmente, a ocorrências relacionadas às medidas terapêuticas, sejam elas farmacológicas (estas diretamente proporcionais ao número de drogas utilizadas na admissão) ou outros procedimentos terapêuticos. Também são comuns as manifestações iatrogênicas não relacionadas diretamente às afecções, como úlceras de decúbito, quedas e fraturas, sendo que estas estão relacionadas com períodos mais prolongados de internação. O combate a tais ocorrências se dá pela promoção da qualidade em saúde e a auditoria tem papel fundamental nesse processo, por meio de avaliações e análises que possibilitem a identificação de falhas, seja no ambiente, seja em relação ao quadro de profissionais. A equipe de enfermagem precisa estar totalmente conscientizada do grau de vulnerabilidade do paciente idoso, bem como, das principais manifestações iatrogênicas que o acomete, para mais facilmente identificar aqueles com maiores riscos e a partir daí, intervir de forma proativa para evitar essas ocorrências e garantir a qualidade em saúde. O conceito de garantia da qualidade em saúde refere-se à elaboração de estratégias tanto para a avaliação desta quanto para a implementação de normas e padrões de conduta. Dessa forma, no setor da saúde, a política da qualidade precisa ser ponto central e preocupação constante, buscando sempre a melhoria da assistência prestada ao paciente, o que será conseguido, entre outros fatores, com maiores investimentos na qualificação dos profissionais por meio da educação permanente. 31 Quanto aos recursos materiais, a quantidade e qualidade satisfatórias de materiais e equipamentos são elementos que vão predispor a uma maior segurança do paciente na medida em que permitam a execução correta dos vários procedimentos técnicos. Quanto aos profissionais, a educação permanente irá promover a qualidade da assistência de enfermagem. A educação permanente possibilita que se consiga modificar as práticas profissionais e a própria organização do trabalho, tanto no cotidiano dos profissionais quanto das organizações. Ela surge a partir dos problemas enfrentados na realidade da instituição e identificados por meio de um serviço de auditoria bem desenvolvido. Portanto, acredita-se que a qualidade da assistência e o combate à iatrogenia, não apenas em pacientes idosos, mas, principalmente nesses, por se tratar de população mais atingida, poderá ser alcançada por meio da educação permanente, pois sua implantação se torna uma ferramenta poderosa para o gerenciamento de riscos e para a segurança dos pacientes. 32 REFERÊNCIAS BARBOSA, L.R.; MELO, M.R.A.C. Relações entre qualidade da assistência de enfermagem: revisão integrativa da literatura. Rev Bras Enferm, v.61, n.2, p.366-70, 2008. BECCARIA, Lucia Marinilza et al. Eventos adversos na assistência de enfermagem em uma unidade de terapia intensiva. Rev. Bras. Ter. Intensiva, São Paulo, v. 21, n. 3, Aug. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103507X2009000300007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 06 jun.2012. (BRASIL, 2004) CARVALHO-FILHO, Eurico T. et al. Iatrogenia em pacientes idosos hospitalizados. Rev. 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