A ARTE DO DISCURSO: ORATÓRIA E RETÓRICA COMO

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A ARTE DO DISCURSO: ORATÓRIA E RETÓRICA COMO FERRAMENTAS
COMPLEMENTARES NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR
Nome do Eixo Temático: Metodologias de ensino-aprendizagem
Arthur Villela Carvalho
Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFMG
[email protected]
RESUMO:
Neste
artigo,
apresentaremos
o
projeto
desenvolvido
no
Instituto
de
Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (Cap-UERJ) entre 2012 e 2013. Tal projeto era
denominado Competências e Habilidades da Filosofia: Oratória e Retórica na Formação do
Cidadão. Situamos-nos, assim, como um relato de experiência. Objetivamos elucidar como a
arte do discurso -oratória e retórica- pode ser aplicada como um instrumento didático para
capacitação do futuro professor. Nossa principal referência teórica no campo da retórica
remonta para certos pontos do Organon aristotélico. No que tange a esfera da oratória, que
consistiu no núcleo de nosso projeto, o modelo de trabalho seguiu a metodologia chamada
Reconhecimento do Sujeito- unidade em movimento, criada pela fonoaudióloga carioca
Rogéria Guida; e pelo conteúdo apreendido no curso de Locução do Senac-Rio. Por fim, é
importante dizer que até o término de 2013, o projeto colaborou para a formação de mais de
100 indivíduos, entre alunos do Ensino Médio e dos cursos de Licenciaturas.
Palavras chave: Oratória; Apresentações em público; Capacitação docente.
1-INTRODUÇÃO
O projeto Competências e Habilidades da Filosofia: Oratória e Retórica na Formação do
Cidadão foi criado em 2012. Em seu primeiro ano, ele tinha o objetivo de ensinar as técnicas
da oratória aos estudantes do Ensino Médio. A partir do desenvolvimento e ampliação do
projeto, 2013, um novo campo de atuação foi acrescentado ao inicial, a saber: a realização de
minicursos para a Graduação. Portanto, este projeto trabalhava com dois objetivos centrais:
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por um lado, oferecia a oportunidade dos alunos, ainda no Ensino Médio, aprenderem e
aplicarem as técnicas que colaboram para que uma boa apresentação oral possa ser realizada;
por outro lado, oferecia para os alunos da Licenciatura em Filosofia ferramentas importantes
para que em suas vidas docentes, eles não só possam conduzir o conteúdo de uma aula de
modo claro, como também, seja possível estar diante de uma turma sem a inibição oriunda da
timidez.
A disposição para desenvolver esse projeto se originou após o contato com a teoria que
entende o comportamento da inibição como sendo resultado das primeiras experiências à
exposição pública. Seria de acordo com o sucesso e as falhas nas apresentações que a pessoa
desenvolveria (ou não) maior timidez. Por isso, considerou-se importante à intervenção da
oratória ainda no Ensino Médio, pois é nessa época em que a cobrança por um bom
desempenho começa a ser levada mais a sério.
Ao aspecto citado acima, soma-se o que os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação determinam para a Filosofia, a saber:
[...] do ponto de vista das diretrizes curriculares para o Ensino Médio, definidas pela
LDB, em seu Artigo 36, § 1o destaca-se: “o domínio dos conhecimentos de Filosofia
e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania” (inciso III). A nova
legislação educacional brasileira par ece reconhecer, afinal, o próprio sentido
histórico da atividade filosófica e, por esse motivo, enfatiza a competência da
Filosofia para promover, sistematicamente, condições indispensáveis para a
formação de cidadania plena! (Brasil,1999:328)
Ou seja, a partir da concepção de que um elemento indispensável para a formação do cidadão
é o contato com a Filosofia, passa a ser legítima a procura pelos meios pelos quais essa nova
disciplina possa atender à expectativa posta sobre ela. Tomando como referência os antigos
gregos, o que este trabalho propõe é utilizar os conhecimentos da oratória e da retórica como
possíveis resposta a esta busca. Por meio do contato com estes dois campos de saberes, o
indivíduo passa a possuir maior autonomia, aprendendo a reconhecer as maneiras pelas quais
pode conquistar pelas palavras seu espaço social.
Após o primeiro ano do projeto, quando ele se consolidou no Ensino Médio, houve como dito
o acréscimo de uma nova frente de trabalho: as aulas para o curso de Licenciatura em
Filosofia. Esta demanda foi oriunda da constatação da dificuldade de determinados
graduandos na prática docente. O que foi observado era que os alunos muitas vezes iniciavam
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a disciplina Estágio Supervisionado II, na qual eles deveriam realizar regências em sala, com
inconteste conhecimento do conteúdo filosófico, porém incapazes de transmiti-lo para os
alunos. Alguns deles por causa da timidez, outros pela inabilidade e falta de experiência.
Tendo constatado essa dificuldade, um meio de superá-la, foi incorporar um minicurso de
oratória à carga horária da disciplina de Estágio Supervisionado I. Pois, mesmo com a
profusão de matérias da licenciatura de nossa Universidade, não há, em toda sua grade, uma
única matéria focada na performance do professor diante de uma turma. O que parece
estranho, pois se a intenção é preparar um profissional para exercer o magistério, é
imprescindível que ele tenha condições de fazer uma boa sustentação e explanação oral.
2-OBJETIVOS
2.1- Geral
A oratória fornece uma maior autonomia do sujeito em relação à sociedade que o circula; ou
seja, uma das principais funções da arte do bem falar (oratória) é ensinar o indivíduo a
identificar seu querer e exercê-lo, a conquistá-lo junto à sua comunidade. Configura-se, assim,
em uma ferramenta interessante para que a filosofia cumpra seu papel determinado pelos
PCNS: formar um cidadão.
2.2- Elementos que são especificamente trabalhos durante o curso:
2.2.1 – Aprimorar a performance do aluno no que diz respeito a maneira de expor e de
se expor perante o público:
Provavelmente, o leitor já passou pela experiência de ter o famoso “branco” durante uma
apresentação oral – ou pelo menos conhece diversas pessoas que já o tiveram. Além do
“branco”, também são corriqueiros tremores, dores abdominais em virtude da ansiedade e/ou
nervosismo e vícios de linguagem como “né?” e “está entendendo?”. Esses fatores prejudicam
desde o aluno do ensino médio até o futuro profissional que se encontrará diante de uma
entrevista de emprego ou em qualquer atividade na qual tenha que se dirigir a um grupo de
pessoas.
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As técnicas que foram ensinadas nessa oficina visam suprimir os efeitos negativos da
exposição aos olhos dos outros. Nosso minicurso era desenvolvido por meio de encontros
semanais, nos quais os alunos travavam contato com o conteúdo programático que visava
atender a 4 (quatro) pontos:
2.2.2 Impostação da voz: saber projetar adequadamente sua voz no ambiente em que
ocorrerá a apresentação pode até parecer trivial, mas nem sempre é tratado com o devido
cuidado. Quase todos tivemos um professor que falava terrivelmente baixo ou um colega de
trabalho que tinha o hábito desagradável de gritar ao usar da palavra. Além de corrigir esses
detalhes, é no bom uso da voz que reside à habilidade de colocar sentimento no discurso,
afirmando ou prolongando a sílaba tônica de uma palavra, o orador pode gerar a sensação de
segurança para ele e para quem o ouve.
2.2.3 Ritmo: A velocidade e a articulação das palavras são os principais aspectos que essa
técnica trabalha. É muito comum ver pessoas que falam em ritmo acelerado, e que por isso,
passam uma sensação de desespero em quem está assistindo ou dialogando com elas. Ao lado
do problema da fala apressada, também há aquele que fala extremamente devagar e que, com
meia hora de palestra, metade de seu auditório está dormindo. A boa articulação das palavras
é um ponto fundamental dessa técnica: falar as palavras por inteiro e claramente, transparece
segurança e sobretudo valoriza o bom domínio da língua portuguesa.
2.2.4 Respiração: Mediante a técnica de respiração o orador consegue evitar o esforço ao
falar. É muito comum ver professores, ao final de um dia de trabalho, queixando-se de dor na
garganta. Alguns ficam roucos devido ao uso excessivo das pregas vocais (antigas cordas
vocais). Na maioria dos casos isso ocorre porque o orador tenta elevar sua voz por meio do
esforço da região da garganta quando, na verdade, para falar mais alto o ideal seria soltar mais
ar ao articular as palavras.
2.2.5 Postusra: É imprescindível para o orador ter uma postura harmônica. Isto é: pés
alinhados com os ombros, joelhos encaixados, curvatura da coluna reta e ereta, ombros
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alinhados na horizontal etc. Qualquer alteração na postura gera sensações naqueles que estão
assistir uma apresentação. Mesmo antes do orador ter dito uma só palavra, os ouvintes
formam impressões a respeito dele pela maneira como ele entrou no recinto e, principalmente,
por sua roupa. Sendo a indumentária ainda mais primordial: sempre que se fala sobre
entrevista de emprego, a roupa adequada é um ponto importante para o assunto.
Com a prática desses pontos, pretende-se que os alunos concluam esse minicurso dominando
os preceitos básicos da oratória e capacitados a realizarem apresentações públicas sem
maiores dificuldades performáticas.
2.3- Fornecer ferramentas para o combate à timidez:
Na prática docente, muitas vezes percebe-se que um aluno domina a matéria, é inteligente e
capaz, porém ao ser chamado para fazer uma leitura ou para apresentar junto ao seu grupo um
determinado tema, aquele bom aluno simplesmente trava. Todo o conteúdo que ele
sabidamente possui se esvai em sua timidez. Talvez a superação deste sentimento seja um
ponto singular na vida de qualquer pessoa que a traz junto de si. Afinal, não é raro encontrar
profissionais consagrados em suas áreas que recusam convites para apresentações em
congressos, palestras, entrevistas em revista e/ou televisão apenas pelo medo do “olhar do
outro”.
Sendo assim, promover o minicurso faz com que os estudantes não só se destaquem por
conseguirem assumir um porte adequado em apresentações, entrevistas de emprego e
qualquer tipo de exposição pública; como também, será uma ferramenta para que o indivíduo
possa ter a coragem necessária para não se intimidar diante do outro.
2- Referencial Teórico
A metodologia escolhida para embasar este projeto tem duas fontes principais: por um lado O
Minicurso de oratória tem suas opções teóricas inspiradas no curso de Oratória Rogéria
Guida e, por outro lado, resgata-se alguns autores da tradição filosófica que se propuseram a
trabalhar com a oratória e com a retórica.
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Sobre o curso da Oratória Rogéria Guida, sua fama fora construída ao decorrer de mais de 40
anos de tradição, sendo uma referência na área. Ele tem como uma de suas especialidades a
preparação para provas orais da defensoria pública de diversos estados brasileiros, bem como
fornecer training para empresas como Petrobras, Furnas e outras grandes companhias de
nosso país. Sua metodologia foi desenvolvida pela própria Rogéria, tendo em seu interior
princípios da fonoaudiologia e da psicanálise freudiana, mesclada com as teorias trabalhadas
por W. Reich (1979).
A filosofia é representada neste projeto pelas teorias schopenhaurianas desenvolvidas na obra
Dialética Erística (2009); pelas ideias concebidas por Chaim Perelman (2004) no “Tratado
Da Argumentação - A Nova Retórica”; e pelo pensamento Aristotélico desenvolvido na
Retórica (1979).
3- ANÁLISE TEÓRICA DO PROCESSO
A análise teórica do desenvolvimento deste projeto será feita à luz da teoria do empirista
escocês David Hume (2004). O pilar principal do pensamento deste filosofo é a importância
das experiências no processo de construção do conhecimento humano. Sendo este, o principal
motivo de sua utilização nesta etapa do texto.
Para Hume (2004), quando se fala em construção de conhecimento, imediatamente, o homem
é remetido as suas experiências de vida. Disto é possível ressaltar a importância da vivência,
ou seja, a partir de cada situação, da maneira como se apreende cada momento da vida, é que
o homem desenvolveria a maior parte de sua sabedoria. Vide:
É certo que os campônios mais ignorantes e estúpidos - não apenas eles, mas as crianças de
tenra idade e os próprios animais - aperfeiçoam-se pela experiência e ganham conhecimento
das qualidades dos objetos naturais pela observação dos efeitos que deles decorrem. Após ter
experimentado a sensação de dor ao tocar a chama de uma vela, uma criança tomará todo o
cuidado para não aproximar a mão de qualquer outra vela. (HUME, 2004, p. 23)
O diálogo com a tese apresentada na citação acima direcionou os dois aspectos principais do
projeto: por um lado, a disposição de iniciá-lo; por outro lado, a dinâmica pela qual ele
desenvolve seus encontros. Se for aceita a teoria que entende que a forma pela qual um
homem se coloca no mundo está intimamente ligada à maneira pela qual ele interpreta suas
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experiências, então promover a oportunidade dos alunos vivenciarem a situação de estar
diante de um público, é fundamental.
Durante as aulas de oratória, o que se busca é permitir que os alunos se apresentem, sintam
aquela emoção oriunda do fato de estarem diante de um público e, ao final, são oferecidos os
retornos. Estes feedbacks são guiados para, primeiramente, identificar o que foi adequado na
apresentação. Em quais aspectos o aluno foi bom? O que ele fez de positivo? Esses são os
elementos que primeiro devem aparecer nas colocações.
O que procuramos mostrar para o aluno ao longo do curso, é que ele sabe se apresentar, que
ele possui aspectos positivos e, desse modo, com pequenos reforços positivos a cada
apresentação, o aluno vai sendo condicionado a se sentir mais a vontade na prática de falar em
público. De certo modo, um trabalho psicológico vai sendo construído, fazendo a autoestima e
a confiança daquele aluno crescer.
Portanto, ao se examinar a trajetória deste projeto, percebemos que os alunos envolvidos
tiveram a oportunidade de desconstruir uma imagem negativa deles mesmos, que vinha sendo
sedimentada por suas experiências. Isto é, através dos reforços positivos, feitos a cada nova
apresentação, foi possível fazer com que os participantes mais tímidos do minicurso de
oratória, fossem ganhando confiança e maior domínio sobre seu estado emocional.
À luz do autor e da teoria escolhidos para analisar o processo de desenvolvimento do projeto,
poder-se-ia dizer que: um projeto que oferece não só conhecimento teórico, mas também
permite que o aluno possa aprender a ser o senhor de seu próprio discurso, e de suas próprias
emoções, procedeu de forma satisfatória.
4- RESULTADOS
O principal resultado extraído do projeto Competências e Habilidades da Filosofia: Oratória
e Retórica na Formação do Cidadão foi a perda da inibição dos alunos mais tímidos. Por
meio das aulas, tanto no Ensino Médio como na Graduação, foi possível identificar alguns
alunos que possuíam severa inibição. Para essas pessoas, a oportunidade de entender que é
possível superar o estado de timidez e o treino que foi feito para que na prática esta superação
seja conquistada foi, sem dúvida, o aspecto mais importante do minicurso.
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Cada vez mais em nossa sociedade há a cobrança de apresentações em e para o público.
Desde entrevistas de emprego; dinâmicas de grupo para seleção de vagas; prova aula para
professores; reuniões; etc. Durante toda a vida profissional de um indivíduo, quanto mais ele
se destacar e progredir, maiores serão as situações em que ele terá que se expor. É por isso
que consideramos como o resultado mais importante o fato de se ter conseguido diagnosticar
indivíduos que se apresentavam mal (quando conseguiam apresentar) e ajuda-los a superar
suas limitações.
Se o objetivo era procurar desenvolver uma maneira pela qual a Filosofia pudesse formar um
cidadão pleno, a partir dos resultados desse projeto seria legítimo dizer que a opção da
oratória e da retórica aparece como uma alternativa metodológica para avançar em parte da
expectativa dos PCNS. Como consideração final, é importante ressaltar que até julho de 2013,
o projeto já envolveu e colaborou para a formação de mais de 80 indivíduos - entre alunos do
Ensino Médio e dos cursos de Licenciaturas da UERJ e da UFSJ.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS
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