Dicionário bilingue e bilemático de Construções com verbo-suporte e colocações verbais em Alemão e em Português Brasileiro e a Gramática das Construções Eva Maria Ferreira Glenk Pressupostos teóricos: A gramática tradicional, a estrutural e a gerativa, fazem uma clara distinção entre o léxico e a gramática. Mas, do ponto de vista da gramática das construções, o léxico e a gramática se fundem no conjunto das construções – que vão da mais simples e mais concreta até a mais complexa e mais abstrata. Nenhuma dessas construções é destituída de significado. Gramática é entendida exclusivamente como inventário de signos linguísticos, isto é, como pares convencionais de forma e significado. (Goldberg 1995:67; Stefanowitsch/Fischer 2007:5ss.) A aquisição da língua não é vista - nessa abordagem - como a aprendizagem de um inventário lexical, de um lado, e de regras gramaticais, do outro. Segundo Tomasello (2007:20ss), a criança aprende durante o processo da aquisição da língua materna por imitação construções concretas inteiras („constructional islands‟), ancoradas em cenários, ligadas à intenção de fala de quem as usa. A criança aprende a desconstruir os cenários e a estabelecer ligações com os elementos linguísticos que os acompanham. Aos poucos, construções mais abstratas são aprendidas e dominadas. Semelhante ao processo na língua materna, a aquisição de uma língua estrangeira passa também pela aprendizagem de construções inteiras, pelo „blending‟ de construções e por sua desconstrução que permite reutilizar suas partes em outras construções (Haberzettl 2007:68). Esse modelo teórico tem consequências para a pedagogia da língua estrangeira: centro da aprendizagem serão as construções; os materiais destinados ao apoio das atividades de aquisição da língua estrangeira terão que lhes dar a devida importância. O dicionário: O projeto do dicionário de Construções com Verbo-Suporte e colocações verbais coordenado por mim junto com Maria Helena Battaglia, conta atualmente com a colaboração de alunos de Iniciação Científica que fazem o levantamento de CVS do Português Brasileiro já dicionarizadas. O objetivo é a organização de um dicionário de construções verbais fixas bilingue e bilemático que englobe as construções com verbosuporte e as colocações em alemão e no Português do Brasil, e suas respectivas equivalências. Definição das Construções com verbo-suporte: Entendemos aqui por “construções com verbo-suporte” as construções formadas por um verbo-suporte (ou também verbo leve) e um substantivo deverbal ou derivado de adjetivo, com ou sem preposição. Nos exemplos a seguir, escolhidos a título de ilustração, em (1a) e (2a), em português, e (1b) em alemão, o complemento nominal origina-se de um verbo (assustar-se, considerar e anfangen = começar), ao passo que no exemplo (2b), do alemão, o complemento nominal origina-se de um adjetivo (vernünftig = razoável). Os exemplos (1a) e (1b) apresentam um complemento no acusativo, enquanto os exemplos (2a) e (2b), um complemento preposicionado + substantivo: (1a) levar um susto (assustar-se) (1b) einen Anfang nehmen (anfangen) (2a) levar em consideração (considerar) (2b) zur Vernunft kommen (vernünftig werden) Funções das construção com verbo-suporte são obter maior versatilidade sintática; obter maior precisão semântica; obter maior eficiência comunicativa; definir melhor a natureza do predicado; acentuar um determinado papel semântico de argumento; configurar um modo de ser da ação (Aktionsart/aspecto) específico; expressar melhor a intenção do emissor e facilitar a comunicação. As construções com verbo-suporte não permitem uma leitura totalmente literal, mas também não podem ser consideradas totalmente idiomáticas. Objetivo deste trabalho é analisar o objeto do dicionário à luz da Gramática das Construções. Referências bibliográficas: Fischer, K.; Stefanowitsch, A. Konstruktionsgrammatik. Ein Überblick. In: Fischer, K.; Stefanowitsch, A. (orgs.) Konstruktionsgrammatik I. Tübingen 2007. 3-18 Goldberg, A.E. Constructions. A Construction Grammar Approach to Argument Structure. Chicago 1995. Tomasello, M. Konstruktionsgrammatik und früher Erstsprachwerwerb. In: Fischer, K.; Stefanowitsch, A. (orgs.) Konstruktionsgrammatik I. Tübingen 2007.19-38. Haberzettl, S. Konstruktionen im Zweitspracherwerb. In: Fischer, K.; Stefanowitsch, A. (orgs.) Konstruktionsgrammatik I. Tübingen 2007. 55-78.