CONSTRUÇÃO DA CLASSE MÉDIA NO BRASIL E SUAS RELAÇÕES COM AS FORMAS DE CONSUMO E DA FECUNDIDADE Camila Silva Bezerra* Moises Alberto Calle Aguirre** Wendella Sara Costa da Silva*** Ana Maria Ribeiro Lucas**** Palavras-chave: Classe social; Classe Média; Consumo; Fecundidade. *mestranda do Programa de Pós-gradução em Demografia da Universidade Federal do Grande do Norte **docente do Programa de Pós-gradução em Demografia da Universidade Federal do Grande do Norte ***mestranda do Programa de Pós-gradução em Demografia da Universidade Federal do Grande do Norte ****mestranda do Programa de Pós-gradução em Demografia da Universidade Federal do Grande do Norte Rio Rio Rio Rio Trabalho apresentado no VII Congreso de la Asociación LatinoAmericana de Población e XX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Foz do Iguaçu/PR – Brasil, de 17 a 22 de outubro de 2016. CONSTRUÇÃO DA CLASSE MÉDIA NO BRASIL E SUAS RELAÇÕES COM AS FORMAS DE CONSUMO E DA FECUNDIDADE 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos no Brasil houve projetos sociais que buscaram a erradicação das condições de miséria das classes inferiorizadas sócio e economicamente. Com um impulso maior, as tentativas da economia política nacional de tirar pessoas que estavam abaixo da linha da pobreza e dar condições melhores para que houvesse maior emancipação social foram ficando cada vez mais fortes. Dessa forma, era importante que a população, por meio de políticas de estímulo de consumo, garantisse uma melhor qualidade de vida, o que teve o apoio do Estado. O programa Bolsa Família foi uma das estratégias do governo brasileiro dos últimos anos para dinamizar a economia no que diz respeito às classes vulneráveis, tendo em vista que é um programa de transferência de renda.De modo que primeiro se propiciasse à população meios de então sair das situações econômicas vulneráveis e auxiliar os indivíduos a se projetarem para classes sociais mais estruturadas economicamente. O consumo de bens duráveis funciona também como o precursor de uma mobilidade de classes, e vem aumentando principalmente o número de pessoas nas chamadas classes "C" e "B". E numa articulação entre mercado interno de bens duráveis e financiamentos, dando acesso ao crédito por juros menores, o governo brasileiro então conseguiu seus momentos de estímulo ao consumo e ampliação das condições de renda que sustentassem as antigas condições de classe. Isso passou a ser a principal manobra tanto do poder de consumo das classes média tradicional e da chamada "Nova Classe Média", que pelos grifos dos sociólogos Jessé de Souza e Amaury Souza (2010), surgiu há mais ou menos dez anos, justamente por esse acordo da economia política nacional de estímulo ao consumo. O que aconteceu no Brasil referente ao desenvolvimento econômico foi também uma relação das políticas públicas sociais para atingir os objetivos de bem-estar da sociedade. Programas como “Bolsa Família”, ajudaram a aumentar principalmente o acesso dos seus beneficiários aos sistemas de saúde e educação, além da redução dos índices de pobreza e miséria. Tudo isso seguiu para uma espécie de emancipação social, onde as mulheres passaram a ter mais acesso as políticas de saúde reprodutiva, colaborando para que houvesse uma redução nas taxas de fecundidade e ampliando, principalmente, sua introdução ao mercado de trabalho. A mensuração de dados que transportem as estimativas sobre a redução da pobreza no Brasil indicam que, em 2001, 52,5% da população estava abaixo do patamar dos rendimentos mínimos. Em 2011, essa proporção foi reduzida para 25,8%. Desse modo, alguns autores relacionam que sistemas financeiros e crescimento econômico da população estejam diretamente correlacionados: "Avaliações empíricas diversas indicam que o desenvolvimento do sistema financeiro - entendido, de forma genérica, como a melhoria na qualidade, quantidade e eficiência dos produtos do setor - exerce um efeito positivo sobre a trajetória das taxas de crescimento econômico, especialmente pela capacidade de estimular os níveis de produto e emprego dos diversos países. Ademais, crescente ênfase tem sido depositada no acesso aos serviços financeiros, como elemento essencial à promoção do desenvolvimento, especialmente por sua capacidade de afetar o comportamento da economia, da pobreza e da equalização da renda." (FIALHO; JAYME JR; HERMETO, 2013). Considera-se então que uma das políticas mais bem aproveitadas no Brasil nos últimos dez anos foi à ampliação de crédito para a inclusão da população de menor renda no sistema financeiro. Acredita-se que um sistema financeiro pouco desenvolvido concorre para a persistência da pobreza, e restringe a população à equalização da renda (FIALHO; JAYME JR; HERMETO, 2013), e a renda é um dos fatores diretos que condicionam a situação da classe social. O que praticamente acontece é que não existe apenas uma forma de organizar a fecundidade de acordo com as posses ou consumos. Um fator que será importante de observar é como as estruturas das classes sociais, e os indivíduos distribuídos em classes, influenciam nos padrões de reprodução de forma mais social do que apenas observar sobre a vertente econômica. Ou seja, de que forma a influência se consolida até que se criem a cultura de famílias cada vez menores com poucos ou nenhum filho. Com o envolvimento dos estudos da Sociologia, Política, Demografia e Economia, ficará mais colaborativo o quadro analítico do retrato demográfico da sociedade brasileira nessa mobilidade de classes. 2. REVISÃO DA LITERATURA Ao dissertar sobre os conceitos de classe social e fecundidade, de modo que estejam relacionados não apenas a compreensão econômica da dimensão dessa abordagem, mas o que se procura compreender são as formas estruturantes da fecundidade a partir das abordagens sócio-culturais, como uma nova perspectiva sobre a concepção sobre os aportes sociais e econômicos que engendram a cultura de que “cada vez ter menos filhos”. 2.1. Classe social e consumo Ao abordar primeiramente os casos e fatos determinantes das classes sociais, primeiramente devemos entender os determinantes que tipificam as distinções de classes, principalmente no que concerne a classe média. A fração de classe média no Brasil é elencada por dois momentos: no primeiro temos a estabilidade econômica que é própria de uma classe média tradicional. A segunda fração é a de nova classe média, esta vem do curso do efeito das políticas de transferência de renda e acesso ao microcrédito. Essas tentativas de tipificar os quadros da classe média são do trabalho do sociólogo Jessé de Souza que elenca vertentes weberianas para um tipo ideal de classe média, pautada na relação de valores comuns. Além dessa contribuição, Bourdieu (2005) também é um autor importante para essas medidas de classe do trabalho de Souza (2010), enquadrando princípios diretos de classe social e suas relativas posições. A estratificação das classes sociais é dada primeiramente por condições sociais baseadas na posição econômica. Tais condicionantes podem influenciar a mobilidade social de estratos hierarquicamente definidos desde inferiores a superiores. Nas distinções Weberianas de classe, status e poder, a classe social se caracteriza como sendo a forma de estratificação social onde os indivíduos apresentam um agrupamento com características similares, ou seja, uma identidade de classe. Weber também julgava a "situação de classe" como resultante de divisões econômicas alicerçadas em relações de propriedade e de mercado (SCOTT, 1996). Porém, essa visão é bem menos metódica economicamente, quando as situações de classe apontadas por Weber são usadas para gerar renda e capacidade de garantir oportunidades de vida apenas mediadas pelo mercado. Nessa situação, se pensa em como as pessoas ocupam as posições sociais onde o sentido econômico é visto como um "componente causal" que molda as condições de vida até a produção do capital social. Nas teorias weberianas, classes sociais partiam da ordem da relação dos indivíduos com as condições materiais diferenciando de outros fenômenos sociais. No modelo weberiano, além da propriedade, os indivíduos se distribuem e se distinguem em classes através também de suas qualificações e habilidades dispostos no mercado. Ou seja, não apenas o proprietário e o trabalhador se estruturam nas classes, mas, reconhece-se nesse ponto, a forma como outros trabalhadores se distribuem no mercado: o grupo que vende seu trabalho qualificado e habilitado em condições formais. Desse modo, as classes sociais podem ser demograficamente formadas sempre que os padrões de mobilidade, interação e associação estão ligados aos indivíduos distribuídos em classes. No método de Goldthorpe, a taxa e o padrão da mobilidade são o que determinam o grau em que as classes podem ser reconhecidas como coletividades de indivíduos ou famílias que ocupam posições semelhantes dentro da divisão social do trabalho ao longo do tempo. Até aqui temos explicações nas abordagens de classes econômicas distribuídas socialmente, mas observaremos no sentido social como se faz a distinção dessas classes. A situação de classe ainda é medida de acordo com alguns princípios definidos por Bourdieu (2005). A distinção das classes sociais, que ocupam posições sociais estruturalmente diferentes, é feita pelo que o autor chama de "propriedades de posição", que são basicamente características econômicas, sociais e culturais que trazem os aspectos de identidade das classes sociais: "colocados em posições sociais estruturalmente diferentes, eles se distinguem por inúmeras condutas e atitudes dos indivíduos com os quais podem partilhar certas características econômicas sociais e culturais." (BOURDIEU, 2005). As classes sociais altas (ricas ou elite), em termos mais genéricos é tido como o grupo poderoso, favorecido, qualificado, privilegiado ou superior. As elites se distinguem das demais classes por ser o grupo que detém o poder, os colocando numa hierarquia de comando. Os membros da elite se associam entre si e criam uma rede de interação social onde constituem influência não apenas social, mas política também, e nesse sentido, além de possuírem os meios de produção, influenciam em determinantes políticos que recaem sobre todas as demais classes. No outro sentido, em oposição às classes ricas, estão as classes baixas, pobres ou ralés. Sendo caracterizadas mais pela falta de recursos para aquisição de bens e serviços, ou para atingir o padrão de vida institucionalmente aceitável pelas classes altas e médias, as classes pobres e baixas ainda sofrem com outros fatores da desigualdade social como nos acessos a saúde e educação e nas oportunidades de mercado. Dessa forma, a ralé é a classe vítima por excelência do abandono social e político (SOUZA, 2010). A pobreza ainda possui formas de mensuração através do que é chamado "linha da pobreza", ou seja, o calculo que distingue a pobreza absoluta e a relativa. Alguns autores abordam que a pobreza absoluta é fixa, enquanto que a relativa se move de acordo com as alterações na distribuição geral de renda, implicando que a pobreza é vinculada à realização de necessidades mínimas nos orçamentos familiares em alimentação, por exemplo. Para trabalhar as proposições das classes médias, além da distinção da posse de bens materiais, as condições de comparabilidade entre as classes altas e baixas também de refere a conduta social das mesmas. Menos determinadas que os fatores materiais, as condutas é parte importante da dinâmica estrutural da condição de classe. É um dos elementos de posição social e cultural que distinguem entre as classes, e que se faz reconhecer entre os grupos. O que podemos ainda explorar sobre a abordagem que Bourdieu faz nesse sentido, é que as classes não se distinguem apenas no sentido estaticamente econômico, estilo de vida, valores para ascensão social são elementos socioculturais que traçam as linhas entre as classes sociais. Ainda de acordo com os princípios de Bourdieu, é preciso entender não apenas as características que as diferentes classes sociais elencam, sendo necessária a compreensão sobre o "peso funcional" que as classes exercem na estrutura social e suas contribuições. No caso do nosso estudo, as classes médias são entendidas no contexto atual como fundamentais nas sustentações econômicas e políticas, e no caso do Brasil, as classes médias já podem ser entendidas como uma classe dominante tanto pela influência no mercado e para o Estado quanto no contexto numérico. Toda essa abordagem acerca das distinções de classe se dão também a partir da perspectiva weberiana da ordem propriamente social. A hierarquia social formulada em questão se define porque os indivíduos compartilham a mesma situação de classe por compartilharem da mesma condição econômica, onde estariam disposto nas mesmas condição de consumo de bens e distribuídos nas mesmas condições de trabalho, de forma a construírem o status social. É nessa distribuição social de ordem econômica de consumo e trabalho que os indivíduos criam suas relações de interdependência segundo suas sociedades. Com isso a construção de classes e de redes sociais organizam as relações de interdependência em volta da distribuição e utilização das prestações econômicas. Ainda sobre as perspectivas weberianas de representação das classes sociais, John H. Goldthorpe, juntamente com outros pesquisadores de Oxford, desenvolveram, na década de 1970, um esquema teórico de reconhecimento de classes sociais, mais detalhado do que o plano macroestrutural weberiano. Para isso, Goldthorpe desenvolve o seguinte esquema de classes: Fonte: GOLDTHORPE, John. Social Mobility and Class Structure in Modern Britain. – Oxford University Press, 1987. Da forma como Goldthorpe distribui suas classes sociais pelas classes de trabalhos, representa que o enquadramento profissional pode ser um elemento de medida para o reconhecimento de classes. E sobre esse aspecto que podemos observar como as influências weberianas persistem também na abordagem de Goldthorpe, pois o autor compartilha do sentido de pertencimento de classe sobre a posição do indivíduo nas ocupações profissionais. O esquema de Goldthorpe não apenas desenha a estrutura de uma classe social distribuída em posições de trabalho, mas se faz também sobre a posição na estrutura econômica e nas relações de mercado. Ocorre que no plano social, as classes nesse sentido não devem ser compreendidas como estruturas hierarquicamente sólidas, mas o que Goldthorpe trás é uma função de identidade de classe pelo mercado e trabalho, e distribuído dessa forma podemos compreender como os indivíduos podem fazer suas mobilidades entre classes de modo que avancem ou declinem na estrutura. Existe certa dificuldade de se trabalhar com as problemáticas que envolvem a constituição e o funcionamento da "nova classe média", por essa ser um fenômeno socioeconômico não muito nítido, e que está emergindo, principalmente, a partir da instrumentalização política dos governos dos presidentes do Partido dos Trabalhadores. Para o sociólogo Jessé de Souza (2010), a classe média também é considerada uma classe dominante pela apropriação privilegiada do capital e indispensável para o funcionamento do mercado e do Estado. O que foi observado no Brasil nos últimos anos foi a institucionalização de programas sociais de combate e erradicação da miséria do país. Tais programas, além de combater a extrema pobreza, acabaram dando oportunidade de mobilidade de classes sociais, o que acaba se desenvolvendo num projeto revolucionário da política econômica do país, elevando as condições de renda e consumo, que conseqüentemente, fez com que houvesse uma migração populacional das classes mais baixas para situações de equidade com a classe média. Com tudo isso, é por meio do consumo, que os estratos mais baixos e vulneráveis da população, conseguem ser incluídos nos estratos considerados mais altos. O que muito se especulou nos últimos anos é que as pessoas puderam ascender socialmente para a classe média devido ao aumento da renda, e aproveitando uma situação política de juros mais baixos e facilidade nos processos de financiamento. Tudo isso deu ao grupo de pessoas para a nova classe média, a possibilidade de migrar de uma situação de classe para outra. Essa classe média brasileira é responsável pelo desenvolvimento econômico nos últimos anos, principalmente no que se relaciona ao mercado interno. Esse estrato social dinamizou a economia principalmente através do consumo de bens duráveis e a implantação de pequenos empreendimentos. A variável mais utilizada para a distinção de classe social é a renda per capita, porém, essa não deva ser a única variável a ser considerada, e a renda é uma, entre as outras variáveis, que são relativas causas definidoras para haver a distinção da classe média de acordo com o Amaury de Souza (2010), que nas palavras do autor: "As fronteiras da classe média, no entanto, serão diferentes caso se focalize a renda em termos relativos, com base na comparação ao longo de um gradiente, ou em termos absolutos, fundamentando-se em parâmetros fixos." (SOUZA, 2010). O que ele busca explicar é que a variação da distribuição de renda pode modificar toda a concepção de mensuração da classe média. O autor ainda explica que: "O critério de valor absoluto evitaria este problema, mas também excluiria pessoas que, mesmo sendo reconhecidas como de classe média, ganham abaixo de determinada faixa de renda." (SOUZA, 2010). Com isso, temos que considerar outras variáveis respectivas as condições de classificação de um indivíduo de classe média, características do habitus que os personagens sociais possuem para serem inseridos numa classe média. Entre essas abordagens, por exemplo, considerar a compreensão da população na busca por melhores condições de saúde e acesso à educação que permitisse maior qualificação. Aqui, a nova classe média aparece como aquela movida pelo assistencialismo do governo federal, e elevou seus níveis de qualificação profissional. Entre as séries de atividades das classes sociais frente as suas colaborações em relação ao trabalho e mercado, está a relação direta com o consumo. É observado que o consumo é um dos elementos que condicionam os indivíduos dentro de determinadas classes sociais, ou seja, não apenas as formas comuns de consumo, mas o que chamaremos aqui de "padrões de consumo" que norteam a vida política, econômica e social. Sobre as abordagens weberianas ainda, a estratificação social dada pela riqueza e prestígio é que temos Veblen (1965) que converge em tirar o consumo do ponto em que o indivíduo não consome apenas para a satisfação de suas necessidades básicas, mas que busca atingir um status de pertencimento a determinada classe social.Nos termos mais recentes de mobilidade de classes através das condições de consumo, as periferias brasileiras apresentaram um movimento cultural bastante peculiares, onde se fazem práticas populares de consumo que buscam acesso ao que é reconhecido como "luxo". Só com a construção de equipamentos de consumo é que os espaços periféricos podem corporificar a riqueza de forma a criar uma nova identidade de classe, mas está apenas dentro dos parâmetros do consumo (SCIRÉ, 2010). Porém, apontar apenas essas condições econômicas é quase que delimitar, numericamente, o perfil de um indivíduo dentro da classe média. Mas um dos fatores a partir da condição social e econômica se forma no status que o indivíduo assume na representação de classe. O consumo de bens materiais e duráveis, como automóveis, por exemplo, trazem essa sensação simbólica de que o indivíduo precisa para assumir um status dentro de determinada classe social. Quando essa proporção consumista aumenta, de forma que se possa assumir uma nova condição de vida, então o individuo já pode assumir a classificação de classe média. A mobilidade da classe baixa para a classe média, da ao indivíduo a condição de ser pertencente a “nova classe média”. 2.2. Classe social e fecundidade Não apenas as classes sociais são elementos da construção das sociedades urbanas e industriais. As transições demográficas participam de todo o molde que estrutura as sociedades modernas. No caso de uma "transição da fecundidade", configurada como uma "transição autônoma" da Demografia, se constitui num aspecto fundamental, tendo em vista que sua configuração molda o padrão de gerações dentro de uma sociedade ou população. Por essa teoria, os novos padrões procriação e estruturação das famílias não depende apenas das organizações sexuais e das uniões conjugais, e saem das constituições de proles para moldes mais controlados de reprodução, que são internalizados socialmente. Dada a regulação social é que se configura um padrão de reprodução: “A precedência que se dá aos controles de tipo expansivo ou de tipo restritivo sobre a procriação depende do teor pró-natalista ou anti-natalista das ideologias dominantes." (SOUZA, 2003). Geralmente, as forças dominantes são constituídas do poder econômico, podendo ser institucionalizado através dos padrões de consumo, que além de criarem um padrão de vida a ser atingido e propagado, difundem os padrões de reprodução e criação de filhos. Mais ainda na lógica de como as transições demográficas se relacionam com o crescimento e desenvolvimento econômico, as proporções das pesquisas econômicas que inferem diretamente na população, Paiva e Wajnman (2005) elencam uma série de estudos que abordam diretamente o crescimento populacional ligado ao crescimento econômico, e assim, considerando a distribuição de renda como um dos fatores de desenvolvimento. Esse ponto se concentra mais no fato de que o aumento da População em Idade Ativa (PIA) é que está “positivamente relacionado com o aumento da poupança e da produtividade” (PAIVA; WAJNMAN, 2005). Ainda com análises empíricas, podemos observar estimativas acerca dos parâmetros que refletem a imagem de uma crescente população em idade ativa, e estas podem estruturar as condições e classificações de classe social, procurando observar principalmente como o aumento da PIA e a redução dos índices de fecundidade podem ser responsáveis, juntamente com políticas sociais e econômicas, pela mobilidade das situações de classe. Pochmann (2012) aprofunda mais essas questões sobre a nova classe média analisando a estrutura da pirâmide social brasileira. Para o autor, os resgatados da pobreza, mesmo com baixos níveis de escolaridade, de uma classe trabalhadora se configuram numa então nova classe média. A distribuição de renda e o acesso mais facilitado do consumo por essas massas talvez intensifiquem mais o crescimento que foi dado à nova classe média nos últimos anos. Esse movimento de criação da nova classe média trouxe também dados interessantes nas projeções populacionais que muito se relacionam com as questões econômicas. Isso decorre da busca pelo desenvolvimento econômico com princípios malthusianos de controle da população para o controle dos gastos econômicos. No Brasil, isso veio através da Lei nº 9.263/96 no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, que tinha como pauta principal a propagação do planejamento familiar gratuito para procurar aumentar o desenvolvimento. Segundo esses princípios, regular a fecundidade dos pobres seria um combate à pobreza, e tendo o desenvolvimento como o melhor método contraceptivo. De fato, o plano continuou em 2005 com a "Política Nacional de Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos", e com o aumento da inserção da mulher no mercado de trabalho, a composição da renda familiar foi sendo alterada até que fosse buscada a redução da pobreza. Ainda assim, os diferenciais por classe social no comportamento reprodutivo e na prática reprodutiva no Brasil sofrem com algumas disparidades. A produção dos indivíduos em classes sociais já é um fenômeno que ocorre antes das disparidades econômicas. De fato, a ausência de políticas públicas no Brasil sobre o efetivo planejamento familiar para as mulheres pobres é nítido, o que causa o chamado "efeito perverso" no aumento na demanda por meios de regulação da fecundidade (FARIA, 1989). O que acontece é que entre as mulheres pobres faltam alternativas para o controle da fecundidade justamente pela falta de poder econômico e a pouca participação do Estado, e cria uma porcentagem muito alta de "mães solteiras com filhos" - nas classes alta/média dominante e nova classe trabalhadora, temos 14,1% e 18,9% respectivamente - enquanto que nas ralés são 23,8% o número de mães com filhos. Os padrões reprodutivos são diferenciados por classes, tendo muito mais enfoque para famílias nucleares (com pai, mãe e filhos) nas classes alta e média do que nas pobres ou baixas, onde também se conhece que se tem taxas de fecundidade mais elevadas e entre as idades das mães mais jovens do que nas classes mais altas. Dessa forma é muito mais difícil para mulheres pobres conseguirem implementar suas preferências reprodutivas, pois mesmo com alguns serviços públicos de planejamento familiar, os métodos ainda são bastante escassos. Alguns autores elencam que as condições socioeconômicas são a principal força que provoca a transição da fecundidade. John Bongaarts (1996), ao trabalhar a fecundidade em redes sociais, observa que a interação social é considerada elemento importante para além do desenvolvimento econômico apenas. As relações sociais têm poder de inibir a mudança da fecundidade o que é transmitido socialmente por meio de influências institucionalizadas, ou o que podemos chamar de “padrões” ou “estilo de vida”, e o comportamento da fecundidade nessa concepção acaba tomando forma graças a essas influências. Assim, o poder econômico não é determinante nas relações da fecundidade, é o fator social que influencia com mais ênfase nesse cenário. Praticamente no mesmo ponto, Laura Bernardi (2003) enfatiza a relação das mulheres e as relações maritais sobre a geração de filhos. O planejamento familiar continua sendo uma idéia difundida muito mais socialmente do que economicamente, e as interações sociais que contribuem para a mudança das representações comportamentais de reprodução, ou seja, o meio social que influencia na decisão do casal sobre ter ou não filhos. A abordagem do trabalho de Coleman (1988) faz uma referência mais direta com o que propomos investigar sem tirar a atenção das relações sociais, mas com o um elemento considerável sobre o “capital social” ao qual o autor o apresenta sobre o tripé dos capitais econômicos, cultural e humano. O capital social é dependente da confiabilidade social, e da capacidade de informações de fluxo da estrutura social, o que ajuda na formação do capital humano e cultural com relação ao aumento da escolaridade. O aumento da escolaridade, principalmente entre as mulheres, é um fator indireto de redução dos níveis da fecundidade (BONGAARTS, 1978) assim como o fator renda. Outras variáveis são observadas pelo autor para medir o impacto socioeconômico sobre a fecundidade, e que acabam servindo para formulação de políticas. Bongaarts (1978) observa como variáveis diretas de medidas dos níveis da fecundidade os casamentos tardios e os usos de contraceptivos. Mas quando Coleman (1988) trabalha sobre os efeitos do capital social, já podemos ter uma idéia de que os investimentos nesse tipo de capital não é algo expandido, seus agentes investem em benefício próprio, seja família, ou seja, individualmente. Esse pensamento de investimento pessoal por conquistas profissionais como vemos em Bongaarts (1978) e Coleman (1988), é um dos principais elementos que são institucionalizados socialmente pelas e para as mulheres como um fator que afeta as quedas nos níveis da fecundidade. Aos poucos se consegue entender como a geração e criação de filhos é pensada de forma a se enquadrar nas possibilidades de investimentos pessoais, ou seja, aos poucos o planejamento familiar vai tomando base e estrutura. Mas, o que pode ser preocupante para alguns estudiosos sobre as quedas cada vez mais freqüentes dos níveis da fecundidade, pode não assustar outros como John Caldwell (1976) que em seu trabalho busca compreender essas quedas sem fazer preconceitos sobre os programas de planejamento familiar afetarem o tamanho das populações. As classes médias e altas foram às pioneiras nos processo de queda dos níveis de fecundidade na America Latina a partir dos anos 60, e nos anos 70 deu-se inicio ao processo de transição da fecundidade na região. Um dos fatores que colaboraram para esse processo foi às tendências de urbanização onde se encontram as classes sociais. A queda da fecundidade no Brasil a partir dos anos 70, fez com que o país entrasse no século XXI com níveis de fecundidade dentro da medida de reposição (2,1 filhos por mulher), segundo Perpétuo e Wong (2003). Considera-se um perfil bastante homogêneo para o país com tantas diferenças socioeconômicas, desse modo, o Brasil passou a aderir um modelo reduzido de família, alcançado por meios disseminados de controle da fecundidade. O Estado brasileiro, no entanto, não contribuiu com políticas diretas de planejamento familiar, mas, políticas e programas que acabaram propagando uma cultura da preferência por famílias pequenas, e a política econômica se torna o maior impacto na institucionalização da fecundidade a níveis reduzidos no país. A menor incidência de filhos também não foi o único fator para a construção da nova classe média, elevar os índices de qualificação profissional e educacional da população é uma das condições propostas pelo programa Bolsa Família, o que facilitaria também a inserção de mulheres no mercado de trabalho. Além disso, a constituição das famílias foi sendo modificada, menos filhos passou a significar menos dispêndio financeiro, menos gastos com consumo doméstico e a quase erradicação da produção de proles, que era necessário que os filhos trabalhassem para ajudar no sustento familiar. Á nível de Nordeste, uma das regiões consideradas mais pobres do país, esse declínio dos níveis de fecundidade foram ainda mais significativos, principalmente nas parcelas mais pobres da população (PERPÉTUO, 1998). Esse movimento foi suficiente para desaparecer alguns diferenciais socioeconômicos de esterilização, porém, há de se observar que mesmo com a redução dos níveis, a região nordeste ainda concentra uma fecundidade entre as idades mais jovens da mãe, diferente do que ocorre em outras regiões além da Norte. O que mais teve impacto para difusão da idéia de ter menos filhos no Brasil, não foram políticas de planejamento familiar como visto anteriormente, até porque a transição da fecundidade no Brasil recebia muito mais impacto de movimentos feministas que propagavam os direitos da saúde da mulher (CARVALHO, 2005). Teorias pessimistas quanto aos programas sociais de assistência e distribuição de renda no Brasil acabam sendo revisadas. Especulava-se que quanto mais uma mulher recebesse auxílio como do Bolsa Família, mais filhos essa mulher teria. Ter mais filhos significa consumir muito mais do que produz, e que recai sobre as condições de pobreza. Porém, não foi isso que aconteceu no Brasil. Com mais acessos aos sistemas de saúde, inserção no sistema educacional, a realidade foi se reformulando, podendo até observar que atualmente no Brasil existe um crescimento da população que mais produz do que consome, ou seja, uma população economicamente ativa. Em 2000, apenas 6% das mulheres tinham um regime alto de fecundidade, de 5 ou mais filhos por mulher, o que contrasta com os dados de 1991 que esse número correspondia à 11% das mulheres (CAVENAGHI; BERQUÓ, 2004). Os níveis de fecundidade são divergentes entre mulheres de grupos sociais distintos, e com os impactos das variáveis socioeconômicas, que afetam os movimentos comportamentais, culturais e institucionais, as tendências da fecundidade variam de acordo com os fatores. Em 2000, mais de 50% das mulheres já atingiam níveis baixos de fecundidade no Brasil (CAVENAGHI; BERQUÓ, 2004). Os padrões de criação e geração dos filhos se alteram através do tempo por fatores macro-econômicos e sociopolíticos e se consolidam nas carreiras reprodutivas (SOUZA, 2005) entre grupos sociais distintos e sobre diferentes aspectos. Grupos de mulheres mais pobres, com poucos anos de escolaridade (3 anos ou menos) possuem índices de fecundidade mais elevados, e se apresentando ainda semelhante ao quadro de mulher com 4 a 7 anos de escolaridade (SOUZA, 2005). Dentro desse cenário, a hipótese é clara de que pouca ou escolaridade básica não constitui novos padrões de qualificação pessoal e profissional, deixando ainda as mulheres disposta as piores situações de trabalho e remuneração. Em contrapartida, mulheres com mais anos de escolaridade, principalmente as que detêm o 3º grau de escolaridade, tendem a iniciar sua carreira reprodutiva mais tardiamente (aos 30 a 34 anos de idade), e dessa forma produzirem menos ou nenhum filho (quase 50% das mulheres desse grupo não possuem filhos, de acordo com o Censo de 2000 no estado da Bahia). Os padrões de procriação não são apenas distintos em números de filhos tidos, mas também se diferenciam nas práticas sexuais, onde as mulheres jovens (15 a 19 de idade) dos estratos sociais mais altos, não iniciaram ainda suas carreiras reprodutivas, em detrimentos das mulheres de mesma faixa etária de classes sociais mais baixas. Mas ainda deve haver certo cuidado nessa abordagem, pois mesmo com as distinções dos padrões de reprodução, não é prudente cair no senso comum de afirmar que as taxas de fecundidade das mulheres pobres permanecem constantemente altas (SOUZA, 2005). Mesmo com tais distinções, os grupos sociais em questão vêm assumindo novos padrões de como organizar a vida cotidiana em concomitância com os padrões reprodutivos. Redes de sociabilidade auxiliam bastante as interações culturais que influenciam as formas de se estruturar as preferências reprodutivas ainda muito sendo pensada pelas articulações socioeconômicas. O que aparece aqui é pensar que a forma como alguns padrões de reprodução agem, podem sim estarem ligadas as formas de amenizar gastos familiares e eventuais custos domésticos para o consumo de outros bens que favoreçam o indivíduo a identidade de se pertencer à determinada classe social. Mudanças nos fatores culturais da população acabam sendo institucionalizadas e propagadas pelos meios de comunicação. Faria (2002) explica que a televisão, por exemplo, acaba por institucionalizar e difundir novos valores e regras de comportamento. Essas tendências propagadas e difundidas socialmente colaboram para criar certa cultura que busca cada vez mais a identidade de ter menos filhos. Ainda assim, não existem afirmações diretas que digam que a televisão influencia os níveis menores de fecundidade, e acaba que voltamos ao ponto onde bens de consumo, crédito e serviços médicos avançados são os fatores que mais auxiliam o novo padrão de fecundidade reduzida. Alguns autores apontam que os arranjos familiares são os que constituem os padrões de consumo engendrados pelo bem-estar social.Pensando em atingir os modelos de consumo esperados, as famílias tendem a se organizarem de forma a maximizar o bem-estar mesmo que tenha que recorrer as dívidas de crédito, mas além disso há uma plataforma onde "a demanda por bens e serviços depende apenas da restrição orçamentária da família e dos preços, ou seja, é a interação entre os indivíduos que determinará o perfil econômico de consumo das famílias." (REMY, 2012). Assim, o número reduzido de membros da família engendra um padrão de consumo muito mais elevado de bens e serviços, além de aumentar a capacidade de endividamento ao que é induzida a nova classe média (SANTOS; COSTA; TELES, 2013). Ainda dessa forma, o crescimento da renda familiar atrelada a ampliação do consumo de crédito e a redução das taxas de juros, auxiliaram a ascensão das demandas da população que antes ficavam à margem das outras condições de classe. Foi também através desse processo de endividamento que a nova classe média pôde se configurar nos últimos anos. Valendo-me da interdisciplinaridade de estudos da Economia, Sociologia, e as estimativas populacionais da Demografia, podem criar um contexto de um tema que é bastante recorrente dos debates políticos e econômicos do Brasil nos últimos anos. Representantes políticos tem se preocupado bastante com relação à demanda da "nova classe média" brasileira, isso tendo em vista anova configuração social do Brasil completa na transição demográfica. No contexto analisado, envolvendo as ciências distintas com relação ao consumo e as distinções de classes sociais, e observando a construção dessa nova classe média dentro do contexto da transição demográfica, é que podemos ter condições de proporcionar um trabalho que tenha peso e relevância, tendo em vista a importância das decisões econômicas e políticas que afetam diretamente a sociedade nos últimos anos. 3. METODOLOGIA Ascensão da nova classe média decorrente da superação da pobreza dentro dos termos econômicos das classes D e E para a C, foi um fator observado por vários centros de pesquisa no Brasil. No nosso contexto nacional, ir para a classe C significa melhorar em aspectos econômicos, educacionais e ainda conseguir mudar o padrão de reprodução e a nova configuração das famílias. Com micro-dados de amostras censitárias podemos captar as variações temporais das diferenças que os estratos sociais tem sobre os consumos domésticos bem como a relação com a criação de filhos. 3.1. Dados Serão usados os Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010 dispostos pelo IBGE pela amplidão da imagem demográfica que se possa fazer uma comparação com dados da região Nordeste. Nesse ponto, os dados dos Censos são fundamentais para observar a mudança das estruturas familiares no decorrer das distintas gerações. Mais sensível a dinâmica financeira da população, a POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) é abordada para observar onde os rendimentos familiares tem mais influencia e sobre quais aspectos. Numa tentativa de se fazer uma análise mais detalhada sobre os gastos familiares, a POF serve como instrumento elementar para identificar onde os gastos e consumo estão sendo mais apontados: sem para investimentos pessoais ou para despesas familiares. Para observar as mudanças no padrão de vida da população, a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) também pode fazer parte do processo, sendo importante principalmente para observar aspectos educacionais da população, e enquadrar nesse aspecto dados referentes a escolaridade e qualificação das mulheres. Com esse arcabouço, são três instrumentos que se fazem presentes e capazes de engendrar uma forte elaboração da pesquisa que requer o trabalho sobre domicílios, nos dando ampla visão sobre os aspectos funcionais do consumo doméstico e sua relação causa e efeito na fecundidade dentro do cenário que se pretende explorar. 3.2. Operacionalização dos conceitos No questionário do Censo, podemos observar duas variáveis que se relacionam diretamente com as abordagens de Weber e Goldthorpe que estruturam a pesquisa: educação e, trabalho e rendimentos. As variáveis eleitas para essa pesquisa se referem para as distinções das classes sociais por meio dos elementos que distinguem suas estruturas em diferentes aspectos. Considerando todo capital social, principal elemento de distinção das classes sobre aspectos comportamentais, a distribuição de indivíduos dentro de quadros de escolarização pode nos apontar para a participação em classes determinadas. A discrepância da estrutura está na observação do aspecto da classe social em conjunto com os ganhos mensais e a distribuição dos rendimentos dentro das famílias, é o principal elemento que se pode condicionar com as abordagens weberianas de status de classe e também através das formas de consumo. O esquema de Goldthorpe também pode ser operacionalizado na pesquisa através do questionário do censo demográfico. Classificar de forma subjetiva os indivíduos em classe social pode ser um trabalho bastante difícil, tendo em vista que as declarações sobre a disposição do indivíduo em classe e a identidade que este compreende podem apresentar divergências. Com o questionário do Censo, podemos classificar a partir da declaração dos indivíduos em posições de trabalho suas classificações no mercado e conseqüentemente em classes sociais, isso porque há espaço para a declaração do enquadramento profissional que possui extrema semelhança com o modelo apresentado por John H. Goldthorpe. 3.3. Método Grade of Membership Os procedimentos estatísticos serão elaborados através do Grade of Membership (GoM), de forma a constituir o instrumento capaz de criar os perfis dos indivíduos dispostos em classes sociais distintas e a relação com as formas de consumo e os padrões que os mesmos geram em fecundidade. Como os elementos condicionados na presente pesquisa não apresentam condicionantes que os determinem numa mesma situação, o GoM funciona como parâmetro para observar os diferente escores de pertencimento. Para a operacionalização, é preciso que os perfis estejam primeiramente organizados em bancos de dados para posteriores efeitos de análise. 3.4. Método para estimar a fecundidade (W. BRASS) Para se trabalhar com a variável da fecundidade, o método P/F de Brass dá condição para estimar as funções de fecundidade com base nas informações do número de mulheres; número de crianças nascidas vivas nos últimos 12 meses; e na totalidade do número de crianças nascidas vivas até a data do censo. Como o trabalho investiga a região Nordeste, o método se faz mais eficiente para estimar a fecundidade tendo em vista a má qualidade na fonte de dados reconhecida pela região. Isso só ocorre por meio dos erros por tipo de informação, que fornecem a parturição por idade da mulher, observando assim o erro de período de referência e o erro de memória, sendo essas as condições básicas para o desenvolvimento do método. Devem ser feitos ajustes na relação de parturição e da fecundidade acumulada pela razão 𝑃2 /𝐹2 , por ser o grupo etário mais confiável (20 a 24 anos de idade). A razão 𝑃1 /𝐹1 ocorre mais nas idades mais jovens (15 a 19 anos de idade), não sendo o mais aconselhável pois há muita ocorrência de subdeclaração por erro de período. O referido método ainda conta com alguns pressupostos na sua abordagem que são levados em consideração, como: 1) Taxas específicas de fecundidade por idade das mulheres expostas ao risco de contrair filhos não deveriam apresentar uma acentuada mudança no tempo; 2) A mortalidade não difere entre aquelas que tiveram mais ou poucos filhos; 3) A fecundidade não diferenciada pela migração; 4) O erro de período de período de referência não é seletivo em relação à idade das mulheres; 4. CONCLUSÃO Dando ênfase à construção da nova classe média, e como ela se relaciona com o acesso aos instrumentos de controle de fecundidade, observam-se mais como os novos padrões de consumo, o trabalho e a renda per capita, influenciam a menor incidência de filhos por mulher por diversos fatores (inserção da mulher no mercado de trabalho, uso dos métodos contraceptivos e autonomia reprodutiva da mulher). Mas além dos fatores econômicos, a identidade de classe e as redes de influências comportamentais que exercem nos indivíduos as decisões reprodutivas. Ainda com a proposta de observar essas relações entre o consumo de classe e o controle da fecundidade dentro dos orçamentos familiares, é pensar como as idéias de ter menos filhos, ou ter de acordo com os gastos e orçamentos, se generalizam. A difusão desse modelo de família se legitima também pelas interações sociais, e pela generalização desses comportamentos pessoais que são estabelecidos por interação das redes pessoais. Ou seja, a idéia de pensar a família de acordo com as posses e os investimentos pessoais acaba sendo um fator econômico que se difunde socialmente. 5. REFERÊNCIAS BERNARDI, Laura. Channels of social influence on reproduction. Max Planck Institute for Demographic Research. Germany, 2003. BONGAARTS, John. A framework for analyzing the proximate determinants of fertility. 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