ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE VITÓRIA – EMESCAM ALEXANDRE DE LIMA TEIXEIRA JOÃO PITTOL LUGÃO DE CARVALHO VICTOR RODRIGUES SIGNORELLI SÍNDROME DE POLAND: RELATO DE CASO VITÓRIA – ES 2016 ALEXANDRE DE LIMA TEIXEIRA JOÃO PITTOL LUGÃO DE CARVALHO VICTOR RODRIGUES SIGNORELLI SÍNDROME DE POLAND: RELATO DE CASO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória como requisito parcial para obtenção do grau de médico. Orientador: Dr. Gustavo Carreiro Pinasco VITÓRIA 2016 “Seja a mudança que você quer ver no mundo.” (Mahatma Gandhi) AGRADECIMENTOS À Larissa Furbino, dona de um imenso coração. Ao Prof. Gustavo, pela dedicação constante e apoio. À Profa. Graça por sempre nos incentivar a prosseguir. Aos familiares e amigos, por acreditarem em nós e compreenderem nossa ausência. RESUMO Objetivo: Descrever a história, o diagnóstico e o tratamento da Síndrome de Poland a partir do relato de caso de um paciente atendido no Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória – ES. Método: Revisão sistematizada da literatura e consulta a prontuário. Resultado: Paciente do sexo masculino, 5 meses, apresentou ao exame físico, sindactilia, hipotrofia peitoral e ausência de mamilo. O diagnóstico foi feito através da análise clínica do paciente, juntamente a ultrassonografia e radiografia de parede torácica. Conclusão: Apesar de raro, é importante o conhecimento desta síndrome pelo pediatra para o correto diagnóstico, acompanhamento e manejo terapêutico. Palavras-chave: Síndrome de Poland; Braquissindactilia; Cirurgia Plástica; Pediatria. ABSTRACT Objective: To describe the history, diagnosis and treatment of Poland Syndrome from the case report of a patient treated at the Hospital Santa Casa de Misericordia de Vitoria - ES. Method: systematic review of the literature and consultation with medical records. Result: A male patient, 5 months, submitted to physical examination, syndactyly, pectoral hypotrophy and absence of nipple. The diagnosis was made by clinical analysis of the patient along the ultrasound and chest wall radiography. Conclusion: Although rare, it is important to know this syndrome by pediatricians for the diagnosis, monitoring and therapeutic management. Key words: Poland Syndrome; Syndactyly; Plastic Surgery; Pediatrics. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8 2 RELATO DE CASO ................................................................................................... 10 3 DISCUSSÃO ............................................................................................................... 12 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 13 ANEXO A – Parecer Consubstanciado do CEP ........................................................ 14 1 INTRODUÇÃO A Síndrome de Poland (SP) é um conjunto raro de malformações congênitas, caracterizado essencialmente por alterações da parede torácica e de membro superior ipsilaterais, com amplo grau de variação na apresentação clínica1,2. Historicamente, a síndrome foi descrita em 1841 por Alfred Poland. Mas alterações compatíveis com ela já haviam sido descritas em 1826 e 1839, levantando controvérsias na literatura sobre quem teria sido o primeiro descritor1,2. Geralmente não é diagnosticada ao nascimento, e devido à falta de dados precisos, a incidência e prevalência exatas da doença são desconhecidas. No entanto, estima-se atualmente que a incidência seja de aproximadamente 1 em cada 30.000-100.000 nascidos vivos3. Dentro de seu espectro clínico apresenta, classicamente, ausência parcial ou total dos músculos peitoral maior e menor, deformidade ou ausência de cartilagens costais ou costelas II a IV ou III a V, associados a encurtamento do membro superior e braquissindactilia ipsilateral. Pode ainda acometer outros músculos torácicos, tais como serrátil anterior, oblíquo externo e o latíssimo do dorso1,2. Pode apresentar hipoplasia da caixa torácica e de pulmão, agenesia ou hipodesenvolvimento da mama e mamilo, escoliose, e deficiências da pele, tecido subcutâneo, glândulas sudoríparas e pelos das regiões axilar e mamária3. Em casos mais raros, há a descrição de dextrocardia, malformações renais, vertebrais e de membros inferiores4. É importante destacar que não há comprometimento da inteligência ou capacidade intelectual5. Existem relatos que associam a SP com alguns tipos de tumores malignos, tais como câncer de mama, leucemia e linfoma não-Hodgkin2. Também é associada a algumas síndromes, como a de Moebius, Klippel-Feil e deformidade de Sprengel1,2. De acordo Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano dos Estados Unidos o sexo masculino é afetado três vezes mais do que o sexo feminino e as deformidades aparecem duas vezes mais no dimídio direito que o esquerdo5. Relatos de agenesia bilateral dos músculos peitorais foram raramente reportados na literatura4. Em relação à etiologia, não se conhece a causa exata, sendo aventadas diversas teorias. Em relação à teoria genética, não há evidência de um forte componente genético para o distúrbio e não há anormalidades cromossômicas identificadas, sendo que os casos surgem mais comumente de maneira esporádica3,4,6. A transmissão familiar é notada raramente, ocorrendo tanto de pai pra filho como entre parentes distantes5,7. 8 Causas teratogênicas são também correlacionadas, devido principalmente ao fato de filhos de fumantes apresentarem maior incidência da SP. Entretanto não há trabalhos suficientes para comprovação deste mecanismo3. A teoria mais aceita se baseia em alterações embrionárias no desesnvolvimento da artéria subclávia, que levariam a diminuição de seu fluxo, comprometendo alguns territórios por ela irrigados2,3. Quanto mais proximal a oclusão, mais graves são as malformações8. O diagnóstico costuma ser clínico, devido às alterações facilmente perceptíveis à inspeção9. A avaliação clínica completa compreende uma variedade de exames de imagem, incluindo ressonância magnética, tomografia computadorizada e radiografias, determinando, com maior precisão, a extensão dos compartimentos afetados5. Tratando-se de uma síndrome caracterizada pela presença de malformações na parede torácica, o tratamento é essencialmente cirúrgico. Ele se baseia na reconstrução da parede torácica, com o uso de outros músculos do tórax. Como opção alternativa, podem ser utilizados músculos de outras partes do corpo, uma vez que não haja músculos torácicos suficientes para a reconstrução adequada. O tratamento só poderá ser indicado, a partir dos 13 anos, para indivíduos do sexo masculino e, a partir do desenvolvimento puberal completo, para indivíduos do sexo feminino5. Para a correção cirúrgica da sindactilia, a recomendação é que seja feita ainda no primeiro ano, para que não se desenvolvam padrões funcionais anormais4. 9 2 RELATO DE CASO JAL, sexo masculino, 5 meses de idade, acompanhado dos pais, esteve em consulta de rotina no ambulatório de pediatria do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória. Ao histórico gestacional e perinatal, mãe referia oito gestações e cinco abortamentos espontâneos (G8 P3 A5). Portadora de doença hipertensiva específica da gestação (DHEG), realizou sete consultas de pré-natal, com exames dentro da normalidade. JAL nasceu de parto cesariano, prematuro (33 semanas e 6 dias), com 1398 gramas, 40,5 cm de estatura, 29 cm de perímetro cefálico, adequado para idade gestacional, APGAR 08/09. Esteve internado em unidade de terapia intensiva neonatal por 29 dias, devido à icterícia neonatal e prematuridade. Fez uso de fórmula de partida e seio materno, recuperando peso de nascimento. Ao exame físico, paciente apresentava sindactilia entre o segundo e terceiro quirodáctilos esquerdos, leve hipotrofia peitoral esquerda com ausência de mamilo ipsilateral (Figuras 1 e 2). Foram solicitadas radiografia e ultrassonografia torácicas, sendo evidenciada a ausência dos músculos peitorais à esquerda (Figura 3), e também ultrassonografia abdominal, que não demonstrou alterações. Figura 1 – Ausência de complexo areolomamilar esquerdo e hipotrofia peitoral ipsilateral. 10 Figura 2 – Sindactilia entre segundo e terceiro quirodáctilos esquerdos. Figura 1 - Radiografia de tórax em incidência anteroposterior demonstrando ausência de sombra de músculos peitorais à esquerda e integridade de arcos costais. 11 3 DISCUSSÃO A Síndrome de Poland é caracterizada por suas malformações típicas, porém, muitas vezes seu diagnóstico pode passar despercebido, mesmo quando se trata de um quadro clássico da síndrome1. No caso descrito, o paciente apresentava em dimídio esquerdo braquissindactilia, agenesia de complexo areolomamilar e hipotrofia da musculatura peitoral. Apesar desta apresentação tão típica, seu quadro não foi diagnosticado ao nascimento, mas somente 5 meses depois, em puericultura. Casos menos graves costumam ser detectados somente na adolescência, fase da vida em que o indivíduo apresenta maior consciência da assimetria apresentada. Por outro lado, os casos mais graves costumam ser detectados precocemente, pelo aspecto bastante assimétrico da parede torácica10. O indivíduo relatado no caso é do sexo masculino, gênero em que a prevalência é três vezes maior, se comparado ao sexo feminino; e apresenta alterações em dimídio esquerdo, apesar de na literatura as alterações serem descritas mais comumente em dimídio direito5. Exames de imagem, tais como a ultrassonografia e a radiografia de tórax e membros superiores, utilizados no caso, ou até a tomografia, podem auxiliar na avaliação da extensão de comprometimento muscular, além de detecção de possíveis alterações mais raras5. Para o tratamento, pode-se considerar algumas manifestações como indicação cirúrgica, tais como: depressão de parede torácica com possibilidade de progressão; risco de lesão pulmonar ou cardíaca por fragilidade da parede torácica; tórax com movimento paradoxal à respiração; hipoplasia ou aplasia de mama feminina; e alteração de estética importante pela ausência do músculo peitoral maior, em homens2. É importante não se esquecer da relação da síndrome com tumores malignos2, entretanto, não há na literatura recomendação de triagem oncológica específica. O conhecimento sobre esta doença pelos médicos em geral, é de grande importância, para que a abordagem seja tomada de maneira correta, a fim de detectar precocemente as alterações mais graves e raras da doença, se presentes, além da sindactilia, onde o tratamento cirúrgico poderia ser indicado precocemente. E na ausência destas, o correto aconselhamento aos pais quanto à benignidade do quadro, a ausência de relação com o desenvolvimento cognitivo da criança, e a possibilidade de abordagens cirúrgicas estéticas que poderão ser feitas a partir da adolescência. 12 REFERÊNCIAS 1. Caouette-Laberge L, Borsuk D. Congenital anomalies of the breast. Semin Plast Surg. 2013 Feb; 27(1): 36-41. 2. Fokin AA, Robicsek F. Poland’s syndrome revisited. Ann Thorac Surg 2002;74:2218– 25. 3. Ram AN, Chung KC. Poland’s Syndrome: current thoughts in the setting of a controversy. Plast Reconstr Surg. 2009 Mar; 123(3): 949-955. 4. Lacorte D, Marsella M, Guerrini P. A case of Poland syndrome associated with dextroposition. Ital J Ped. 2010; 36:21. 5. National Institutes of Health - National Human Genome Research Institute; Poland’s syndrome. Available at: http://www.genome.gov/14514230. [Last accessed: June 18, 2016]. 6. Farina D, Gatto G, Leonessa L, Sala U, Gomirato G. Poland syndrome: a case with a combination of syndromes. Panminerva Med. 1999; 41:259–260. 7. Martínez-Frías ML, Czeizel AE, Rodríguez-Pinilla E, Bermejo E. Smoking during pregnancy and Poland Sequence: results of a population-based registry and a casecontrol registry. Teratology. 1999; 59:35–38. 8. Bavinck JN, Weaver DD. Subclavian artery supply disruption sequence: hypothesis of a vascular etiology for Poland, Klippel-Feil, and Möbius anomalies. Am J Med Genet. 1986 Apr; 23: 903–918. 9. Lizarraga KJ, De Salles AA. Multiple cavernous malformations presenting in patient with Poland syndrome: a case report. J Med Case Reports. 2011; 5: 469. 10. Sood A, Ahuja N. Chest wall reconstruction in male Poland syndrome. Eplasty. 2010. 13 APÊNDICE A – Parecer Consubstanciado do CEP 14