Visão Médica - Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Propaganda
|
E D I Ç Ã O
1 8
|
J A N / F E V / M A R
2 0 1 4
|
Mobilidade
Hospital Alemão Oswaldo Cruz inaugura nova fase tecnológica do sistema Tasy
Págs. 18 a 21
Giro pelo
Hospital
Conheça o novo
espaço da área de
Relacionamento Médico
Pág. 05
Tecnologia
Novo Microscópio Pentero entra em
funcionamento no Centro Cirúrgico
Pág. 04
Exames Laboratoriais
Carcinoma pulmonar de não pequenas
células: contribuição da Biologia
Molecular no tratamento direcionado
Pág. 14
07
GIRO PELO HOSPITAL
09
PERSONAGEM
HAOC
Dr. Roberto Santin,
ortopedista por
vocação
10
e 11
ENTREVISTA
Política de
Relacionamento
Médico
15
e 16
17
22
Integração Médica
COMO EU TRATO
Trombose Venosa Profunda
LIVRARIA
Truque ou tratamento
TEMPO LIVRE
Dr. Roberto Santin,
ortopedista por
vocação
23
24
e 25
26
e 27
30
31
a 33
Dra. Claudia
Regina Suguiuti
e sua paixão pela
corrida
RESPONSABILIDADE
JURÍDICA
Judicialização da saúde
REVISÃO SISTEMÁTICA
Controle Glicêmico
Intra-Hospitalar
ARTIGO INTERNACIONAL
Identificando infecção pelo
Helicobacter pylori: papel
do Patologista
COMISSÃO DE BIOÉTICA
Bioética Hospitalar e
Educação
REUNIÕES CIENTÍFICAS
Cirurgia Robótica no
Hospital Alemão Oswaldo
Cruz
I Simpósio de
Hipertensão e Arritmias
Cardíacas
Profilaxia para
Tromboembolismo
Pulmonar e Trombose
Venosa Profunda
EDITORIAL
DESENVOLVIMENTO PERMANENTE
C
om um trabalho desenvolvido paulatinamente, sempre amparado no
entendimento e na contribuição do nosso Corpo Clínico, o Hospital
Alemão Oswaldo Cruz acaba de alcançar uma nova etapa de fortalecimento institucional.
Depois de significativos avanços, decorrentes dos Fóruns Médicos realizados no
ano passado, o Hospital iniciou um robusto trabalho de promoção de melhorias,
que lhe permitiu evoluir em diversos aspectos e de maneira muito consistente.
Com o lançamento do Programa de Desenvolvimento Médico, a inauguração da nova
Área de Relacionamento e a realização da edição de 2014 dos Fóruns, continuaremos
progredindo rumo aos nossos objetivos de crescimento e desenvolvimento sustentável.
Dr. Mauro Medeiros Borges
Superintendente Médico
QUANDO A PARTICIPAÇÃO SE TRANSFORMA EM AÇÃO
A
o obsevar minha agenda de trabalho como Diretor Clínico, noto que
existem muitos compromissos, muitas reuniões, entretanto, não é
frequente que colegas nossos marquem para falar com o Diretor Clínico, expondo problemas, fazendo críticas e sugestões. Por incrível que
pareça, esses encontros em geral acontecem de maneira muito informal
pelos corredores do Hospital. É óbvio que um Diretor Clínico de um grande
Hospital como o nosso tem que estar sempre disponível a todos e em todas
as horas possíveis, mas esta chamada “falta de participação oficial” é algo
próprio de nossa classe e vinculada a características culturais de nosso
país. Mas a meu ver isto gera um vácuo de opiniões que sabidamente irão
impactar em nossa política assistencial, afetando o dia a dia dos médicos.
Não me canso de realçar os Fóruns de debates, que nós organizamos junto com
a Administração, como um exemplo do inicio de mudanças profundas em nosso
Hospital, onde as ideias, sugestões e críticas foram debatidas livremente, gerando, ao final, modificações positivas.
Isto é o maior determinante de quando a participação se transforma em ação. Por
isso, participem das atividades do nosso Hospital. Só assim estaremos fortalecendo e nos unindo, só assim conseguiremos criar ações positivas e transformadoras.
Dr. Marcelo Ferraz Sampaio
Diretor Clínico
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
Visão Médica
3
GIRO PELO HOSPITAL
Novo microscópio cirúrgico
entra em funcionamento
E
m fevereiro, o Centro Cirúrgico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz ganhou
mais um reforço de peso: o novo
Microscópio Pentero. Com a
aquisição do equipamento, que
já está em funcionamento, a Instituição reafirma o compromisso
com a atualização constante de
seus recursos tecnológicos, e
com as melhores condições para
a prática médica e o atendimento a seus pacientes.
“Com Sistemas de Florescência
Intraoperatória Infrared 800 e
Blue 400, o microscópio, utilizado em cirurgias de grande
porte, como procedimentos de coluna e neurocirurgia para ressecção de tumores, representa mais
segurança e precisão em intervenções deste tipo.
Com capacidade para ampliar imagens em até trinta vezes, melhor definição de células cancerígenas
e a possibilidade de realizar videoangiografias de
aneurismas, o novo equipamento foi, sem dúvida, uma aquisição muito importante. Além disso,
com rodízios próprios, que conferem mobilidade ao
equipamento, o microscópio poderá ser utilizado
em qualquer uma de nossas salas cirúrgicas”, explica Bruno Distrutti Querino, Supervisor de Engenharia Clínica do Hospital.
Difusão Internacional
O
Instituto de Educação e Ciências em Saúde
(IECS) teve dois de seus estudos veiculados
em publicações internacionais nos últimos
meses. O primeiro foi a público nos Cadernos de
Saúde Pública, sob o título ‘Efficacy and safety of
idursulfase therapy in patients with mucopolysaccharidosis type II with and without comparison to placebo:
systematic review and meta-analysis’.
Já o outro estudo, entitulado ‘Multivariate meta-analysis of
the association of G-protein beta 3 gene (GNB3) haplotypes
with cardiovascular phenotypes’, publicado em janeiro de
2014 na ‘Molecular Biology Reports’, foi uma colaboração
internacional encabeçada pela Unidade de Avaliação de
4
Visão Médica
Tecnologias em Saúde (UATS) do IECS, envolvendo pesquisadores do Brasil, China, Grécia, Japão e Alemanha.
“Este estudo teve início em 2011 e, nele, conseguimos
dados de mais de 16 mil participantes dos cinco países - dados em nível individual de paciente. Depois, desenvolvemos uma metodologia de meta-análise para
um contexto mais complexo, com múltiplos desfechos
correlacionados. O objetivo foi estudar a influência de
polimorfismos genéticos no risco de hipertensão essencial, obesidade, sobrepeso e níveis de pressão sistólica
e diastólica”, explica Dr. Tiago Pereira, pesquisador e coordenador da UATS.
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
GIRO PELO HOSPITAL
Novo e próximo
T
udo pronto para o início das atividades da nova
área de Relacionamento Médico. Passado o
período de adaptações estruturais, o espaço já
está aberto ao Corpo Clínico. “Já a partir de março, a
atualização dos dados e o cadastramento de novos
médicos, que temporariamente estavam sendo realizados no mezanino do Bloco A, por exemplo, poderão
ser efetuados neste novo espaço, anexo ao estacionamento do Bloco E. Os médicos poderão contar com
uma série de recursos e serviços pensados para dinamizar seu dia a dia, desde o momento de sua entrada ao Hospital”, explica Dra. Fabiane Cardia Salman,
Gerente de Relacionamento Médico.
Além da Dra. Fabiane, na nova área, em que também funcionará uma Ouvidoria exclusiva para os médicos, atuarão
a enfermeira Fernanda Maria Sardinha, Coordenadora de
Relacionamento, dois analistas e dois assistentes administrativos. Outro destaque é o trabalho dos quatro agentes
de relacionamento, que têm o papel de facilitar os agendamentos, intermediar contatos necessários, além de fazer
visitas periódicas aos consultórios dos médicos.
Dr. Mauro Medeiros Borges, Superintendente Médico do
Hospital, explica que a iniciativa é resultado de um mo-
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
vimento iniciado nos Fóruns Médicos, realizados em 2013. “Partindo
dos encontros, em que a Instituição
dedicou-se a ouvir as necessidades
e anseios dos médicos, criamos um
primeiro ciclo de melhorias que, assim como este novo espaço, visa o
aprimoramento dos serviços disponibilizados ao nosso Corpo Clínico e
a institucionalização de uma série
de rotinas”, explica.
A nova área favorece o relacionamento entre os médicos e Administração do Hospital, criando um
ponto de contato rápido e simples.
“Acho que as palavras que sintetizam a criação, a gestão e todas as
etapas desta nova proposta de relacionamento são transparência e parceria. A primeira,
devido à proximidade, que permite uma relação franca e
direta entre Corpo Clínico e Instituição, e a segunda, porque a ideia por trás de todo este trabalho é a de construir
o melhor Hospital juntos”, afirma Dra Fabiane.
Visão Médica
5
GIRO PELO HOSPITAL
O Passado Vivo
Médicos do Corpo Clínico em frente à antiga entrada principal do Hospital.
Otorrinolaringologistas
do Hospital lançam livro sobre
Cirurgias para Apneia do Sono
E
m novembro, durante a 43ª edição do Congresso
Brasileiro de Otorrinolaringologia, os Drs. José
Antonio Pinto e Nelson Colombini, ambos do
Hospital Alemão Oswaldo Cruz, lançaram o livro ‘Ronco e Apneia do Sono – Técnicas Cirúrgicas Avançadas’.
“Com manifestações de asfixia, despertar recorrente e diminuição da oxigenação, a apneia obstrutiva do sono é uma
doença de grande impacto e efeitos muito perigosos. Além
de comprometer de forma significativa a qualidade de vida
das pessoas, levando-as a um estado de sonolência extrema, fadiga, dificuldade de concentração e irritabilidade, por
exemplo, pode provocar sérias consequências sobre o sis-
6
Visão Médica
tema cardiovascular, neurológico e comportamental. Hoje,
além do tratamento clínico e mudanças comportamentais,
como a prática de exercício e a perda de peso, contamos
com o resultado de um significativo avanço nas cirurgias
esqueléticas e robóticas. É exatamente sobre esta evolução
que o livro trata”, explica Dr. José Antonio.
De acordo com o Otorrinolaringologista, a obra, que já está
disponível nas principais livrarias do País, sintetiza seus mais de
20 anos de experiência no tratamento da apneia obstrutiva do
sono, atualizando informações sobre métodos, contidas em publicações anteriores, com foco na eficácia de procedimentos e,
sobretudo, na topografia das vias respiratórias.
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
GIRO PELO HOSPITAL
Por dentro do Hospital
N
o dia 28 de janeiro, um grupo de 16 profissionais recém-cadastrados no Hospital Alemão
Oswaldo Cruz inaugurou nova iniciativa da
Instituição pensada especialmente para o Corpo Clínico: a Integração Médica. Com a participação de representantes das áreas de Relacionamento Médico,
Assistência, Desenvolvimento Institucional, Serviço
de Controle de Infecções Hospitalares (SCIH), Educação Corporativa, entre outros, estes novos membros do Corpo Clínico puderam entender estrutura
funcional, histórico, missão, visão e valores da Instituição, assim como os Programas de Relacionamento Médico e de Qualidade e Segurança Institucional,
os planos para o desenvolvimento organizacional
e outros assuntos considerados primordiais para a
prática médica no Hospital.
“Esta integração realizada com os novos médicos é
um projeto que já vínhamos desenvolvendo e que,
agora, pudemos colocar em prática. As informações,
que podem suportar a tomada de decisões quanto ao
uso de nossa estrutura, ou mesmo para a manutenção da segurança do médico e dos pacientes, além
de um conjunto de dados, relacionados a serviços
e benefícios, oferecem uma base importante para
a atuação no Hospital e proporcionam um contato
importante com nossa cultura organizacional e com
toda a proposta de desenvolvimento com que, agora,
a Instituição está trabalhando”, explica Dra. Fabiane
Cardia Salman, Gerente de Relacionamento Médico.
Bem avaliada pelos primeiros participantes, a Integração Médica faz parte do processo de cadastro
médico, e deverá manter-se com regularidade e com
a adição de novos conteúdos para beneficiar os novos membros do Corpo Clínico.
“Esta interação inicial, que conta com a participação de diversas áreas, está totalmente alinhada à
proposta de manter o relacionamento estreito entre Corpo Clínico e Administração. As portas ficarão abertas para os médicos já no momento de seu
ingresso e, por isso, queremos que todos saibam o
que o Hospital tem a oferecer tanto para o médico
quanto aos seus pacientes”, conclui.
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
Visão Médica
7
DIA A DIA DO MÉDICO/
QUAL É A SUA OPINIÃO?
Em dia com o IRPF
A
partir do mês de março, inicia-se mais um ciclo
da declaração do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF). E para auxiliar aqueles que estão obrigados a declarar, preparei algumas dicas para tornar
a declaração mais simples e, ao mesmo tempo, evitar
erros comuns, mas que podem levar à malha fina.
1- Encontre a declaração do ano anterior e utilize-a
como referência.
2- Organize comprovantes de rendimentos, despesas dedutíveis (assistência médica e odontológica, contribuições previdenciárias, domésticas,
despesas com instrução, previdência privada, despesas médicas e pensão alimentícia, por exemplo), aquisição ou venda de bens móveis e imóveis, rendimentos e gastos oriundos de trabalho
profissional autônomo, rendimentos com locação,
rendimentos do exterior, aplicações financeiras,
por exemplo, referentes ao ano calendário 2013,
além da relação de dependentes.
3- Elabore simulações com as informações coletadas,
para escolher o melhor tipo de declaração para o seu
perfil de contribuinte (simplificada ou completa).
Com esta preparação prévia, logo que o programa gerador do IRPF for disponibilizado para download e instalação, será possível escolher o melhor modelo e realizar o
preenchimento de todas as informações relacionadas ao
ano calendário com toda a tranquilidade, antes de enviar
à Receita Federal.
O planejamento antecipado evita a ausência de documentos ou mesmo erros causados por esquecimento e pressa.
Se necessário um modelo complexo, que contemplem declarações de atividade rural, ganhos de capital, renda variável ou moeda estrangeira, por exemplo, a recomendação é a de procurar um especialista
em legislação tributária, para que ele possa apoiar a
elaboração, já que este processo, geralmente, exige
um trabalho técnico de apoio.
Celso Hideo Fujisawa
[email protected]
(11) 3469-8788 / (11) 99975-1186
Qual é a sua opinião?
Caso relatado pelos Drs. Flávio Duarte Silva, Carlos Homsi, Liliana Cavalcanti Zamperin, Fernando Bernades Ferreira, Maria Antonieta Trevizan de Alvarenga Oliveira, Milena da Rocha e Souza e Marco Tulio Gonzales, do grupo
de radiologia musculoesquelética.
Paciente do sexo feminino, 26 anos, bióloga, chegou ao Pronto Atendimento relatando dor intensa no punho direito há
um dia, limitando a movimentação articular. Ao exame físico, havia sinais flogísticos, principalmente edema. Solicitou-se,
então, estudo radiográfico e ultrassonográfico do punho.
Resposta na pág. 27
8
Visão Médica
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
PERSONAGEM HAOC
Ortopedista
por vocação
É
possível que, no final dos anos 30, Attilio e Palmyra nem desconfiassem que seu
pequeno filho, Roberto, um dia deixaria o
município de Bebedouro. Contudo, nos tempos
de colégio, a paixão do menino pelas aulas de
Biologia já demonstravam um interesse bastante
consistente pelo caminho que, anos mais tarde,
escolheu trilhar profissionalmente: a Medicina.
É possível que, graduado em 1965 pela Faculdade de Medicina da USP, em Ribeirão Preto, o então Dr. Roberto Attilio Lima
Santin, que partia para uma cidade um pouco mais distante,
também não desconfiasse, mas em busca da especialização
de seus sonhos, acabaria encontrando uma vocação.
“Segui para São Paulo com o objetivo de me especializar
em Cirurgia Geral e, depois disso, voltar para o interior.
Neste período, me inscrevi para concursos na FMUSP e
na Santa Casa e, enquanto aguardava, encontrei um colega de Ribeirão Preto que, naquele momento, cursava
o segundo ano de sua Residência Médica em Ortopedia
na Santa Casa. Acompanhado por ele, conheci o Pavilhão
‘Fernandinho Simonsen’, como é conhecido o Departamento de Ortopedia, bem como a estrutura e os professores. Fiquei muito impressionado com o que vi e ouvi e,
então, decidi abraçar a especialidade”, lembra Dr. Santin.
Residente aplicado que, tempos depois, apoiou o departamento como monitor de alunos da faculdade, e integrou
a equipe de Ortopedia da Santa Casa, Dr. Santin garante
que aqueles foram anos de um aprendizado fundamental.
“Felizmente tive vários professores que me inspiravam. Entre tantos, não poderia deixar de citar os Profs. Drs. José
Soares Hungria Filho, Waldemar de Carvalho Pinto Filho,
Orlando Pinto de Souza, Orlando Graner e o Dr Bartolomeu
Bartolomei, que era um cirurgião excepcional. Cada um,
dentro de suas características, marcou minha vida como
médico e agradeço a eles do fundo do coração”, revela.
Com atuação em grandes hospitais de São Paulo, Dr. Santin
estabeleceu-se no Hospital Alemão Oswaldo Cruz a convite
de um grande personagem na história da Instituição.
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
Dr. Roberto Attilio Lima Santin,
“No ano de 1980, minha primeira esposa precisou permanecer internada aqui no Hospital por um longo período, depois do qual ela faleceu. Na época, o Diretor Clínico era o Dr. Evaldo Foz que, sempre muito gentil, nos
visitava diariamente. Conversávamos sobre tudo, inclusive sobre uma mudança pela qual a equipe ortopédica
acabara de passar. Depois de alguns meses, um time
composto por mim e pelos Drs. Elio Consentino e Sergio
Rudelli iniciava o atendimento no Hospital”, recorda.
Com 34 dos seus quase 50 anos de Medicina dedicados
ao Hospital, dez deles à frente de sua Diretoria Clínica, Dr.
Santin testemunhou diversas transformações, tanto na
área da Ortopedia, quanto na atuação da Instituição. Por
isso, afirma com propriedade que todas elas ocorreram
com um denominador comum: o bem-estar do paciente.
“Na minha área, por exemplo, algumas alterações se deram de forma tão radical que, não seria difícil afirmar
que, a Ortopedia praticada hoje em dia, menos invasiva e
com base mais científica, é totalmente diferente da que
aprendíamos antes. Por isso, todo o trabalho realizado no
Hospital, incluindo os projetos e serviços da nossa equipe
de Ortopedia e Traumatologia, continua evoluindo com
foco na manutenção da medicina de alto nível, competente, atualizada, mas sempre preservando o acolhimento e
a humanização como marcas registradas de nosso Hospital”, conclui o médico.
Visão Médica
9
ENTREVISTA
Foco no
desenvolvimento
médico e
institucional
Dr. Mauro Medeiros Borges
10
Visão Médica
edição
edição17
18••Out/
Jan/ Nov/
Fev/ Mar
Dez • 2013
2014
ENTREVISTA
P
roduto de um projeto de aperfeiçoamento, o
Programa de Desenvolvimento Médico, lançado já no início de 2014, representa um passo
adiante com relação à estratégia de expansão institucional e valorização profissional criada pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Entrevistado pela Visão Médica, Dr. Mauro Medeiros Borges, Superintendente Médico do Hospital,
explica sobre a nova metodologia que, baseada em
meritocracia assistencial e científica, reconhecerá
os médicos que contribuem para a promoção da
Instituição, por meio de benefícios e oportunidades.
Visão Médica: O que é o
Programa de Desenvolvimento Médico do Hospital
Alemão Oswaldo Cruz?
Dr. Mauro Medeiros Borges: Após ouvirmos o
Corpo Clínico nos Fóruns Médicos, entendemos que
uma das principais demandas era ter uma política
clara e objetiva. O Programa de Desenvolvimento
Médico é reflexo disso, buscando reconhecer o médico e ajudá-lo no seu desenvolvimento profissional. Para definir a metodologia utilizada, buscamos
modelos em hospitais de referência tanto no Brasil
quanto em outros países, adaptando para um Programa que refletisse o desejo do Corpo Clínico. Essa
metodologia é baseada em escala de pontos, de
acordo com três critérios de avaliação: desempenho
assistencial (internações, atendimentos e cirurgias,
qualidade com que pratica a Medicina), acadêmico
(titulação, pesquisas, participação em congressos,
publicação de livros ou mesmo artigos em revistas
científicas nacionais e internacionais, sempre identificando-se como médico da Instituição) e atuação
de acordo com os indicadores de qualidade do Hospital. Os médicos precisam apresentar tais evidências à área de Relacionamento Médico e, a cada três
meses, receberão feedback de sua pontuação.
ao final de cada ano, os médicos serão avaliados de
acordo com a pontuação alcançada. Dependendo do
resultado, o médico receberá um percentual deste
fundo para investir em seu desenvolvimento profissional, seja com aquisição de equipamentos para o
consultório, participação em congressos e realização
de atividades acadêmicas e projetos de pesquisa.
Visão Médica: Todos os
membros do Corpo Clínico poderão aderir ao
Programa?
Dr. Mauro Medeiros Borges: Sim. Todos os médicos
do Hospital estão inscritos, mas precisarão comparecer à nova área de Relacionamento Médico para apresentar a documentação necessária até dia 30 de abril.
Visão Médica: E qual a
expectativa dos médicos
com esta nova proposta
de desenvolvimento?
Dr. Mauro Medeiros Borges: A melhor possível.
A partir de agora, além de uma moderna estrutura
de trabalho, do apoio de nossa reconhecida equipe
Assistencial e da nova área de Relacionamento Médico, criada para facilitar o dia a dia, nossos médicos terão apoio para buscar seu desenvolvimento,
reforçando a divulgação do nome do Hospital. Além
disso, como benefício adicional, aqueles que alcançarem as melhores pontuações terão preferência
para, no futuro, integrar as equipes de nossos Serviços e Departamentos, de acordo com o critério de
meritocracia. Assim, posso dizer que o trabalho que
começa agora, visa o futuro, tanto para a Instituição
quanto para nossos profissionais.
Visão Médica: Como será
este apoio Institucional?
Dr. Mauro Medeiros Borges: O Hospital criou um
fundo, que corresponde a uma porcentagem do faturamento anual, para subsidiar esta iniciativa. Então,
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
Visão Médica
11
INSTITUTO DE
EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS
Apoio e especialização
C
oordenado pelo Hospital Alemão Oswaldo
Cruz, em parceria com o Ministério da Saúde e os Hospitais do Coração (HCor) e Samaritano, o Programa de Formação de Preceptores em Residência Médica avança para uma nova
etapa. Às vésperas de formar sua primeira turma, a
iniciativa integra o Programa de Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS)
e busca contribuir para o aperfeiçoamento de programas de residência em todo o País.
O segundo ciclo de capacitação será iniciado já no
primeiro semestre de 2014 e com um número de
vagas 30% maior – ao todo, serão 180. De acordo
com Dr. Andrea Bottoni, Coordenador de Educação
Médica do Instituto de Educação e Ciências em Saúde (IECS) e que responde também pela coordenação
Geral do Programa, a residência médica é uma modalidade de ensino de pós-graduação fundamental
para a consolidação da formação profissional e a
especialização médica, por isso, o trabalho de preceptoria tem importância fundamental.
“O preceptor, médico responsável pelo treinamento
em serviço, precisa reunir características que vão
além da competência em sua área de atuação. Além
de ético, crítico e capacitado para formar profissionais em serviço, o preceptor necessita de uma visão
crítica sobre seu papel como educador”, explica.
Por isso, de acordo com o Coordenador, o objetivo
do curso, desenvolvido em um modelo de Educação à
Distância (EaD) e com carga horária de, aproximadamente, 80 horas/aula, é o de transferir conhecimento
por meio de conteúdos que auxiliem na capacitação e
no desenvolvimento das competências fundamentais
para o preceptor da residência médica em todo o País.
12
Visão Médica
Estruturado em quatro módulos – para que os participantes tenham a oportunidade de realizar o diagnóstico situacional de um programa de residência
médica; elaborar planejamentos; gerenciar programas ou estágios; além de elaborar processos de
educação permanente –, o curso dispõe de dois coordenadores pedagógicos, 13 tutores e uma equipe
composta por representantes dos três Hospitais e
do Ministério da Saúde, que supervisiona o desenvolvimento do Programa.
De acordo com Dr. Andrea, reconhecendo a dinâmica da educação em Saúde, coordenadores e tutores
reúnem-se periodicamente, para realizar o planejamento dos módulos, assim como para promover
alinhamentos, ajustes e melhorias.
“Todo este processo foi planejado para alavancar o
desenvolvimento do preceptor, compartilhando nossa
experiência acadêmica em Saúde e contribuindo para
a formação de outros profissionais e, indiretamente,
para a melhoria da assistência à saúde oferecida à população e fortalecimento do SUS”, conclui Dr. Andrea.
14 Fev/
• Janeiro
ediçãoedição
18 • Jan/
Mar • 2013
2014
INSTITUTO DE
EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS
Hospital lança curso em Gestão
de Organizações de Saúde
O
Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em parceria
com a HSM Educação, acaba de lançar um
novo MBA em Gestão de Organizações de
Saúde. Parte do Programa de Pós-Graduação Lato
Sensu do Instituto de Educação e Ciências em Saúde
(IECS), o curso tem o objetivo de contribuir para a
formação de profissionais, qualificando-os para que
atuem como líderes e gestores capazes de contribuir
para a sustentação e crescimento das organizações
de saúde, desenvolvendo uma visão empreendedora
para atuação no mercado competitivo e complexo
dos sistemas de saúde do Brasil.
Com duração de 18 meses, o curso terá início já na segunda quinzena de abril e conta com a experiência de
duas marcas fortes na formação executiva e da saúde.
De um lado, o Hospital que, além de reconhecido pelo
Ministério da Saúde como um dos seis Hospitais de Excelência do Brasil e acreditado pela Joint Commission
Internacional (JCI), tem avançado com programas educacionais e de pesquisa desenvolvidos por profissionais
com larga experiência na área. De outro, a HSM que,
com a expertise de mais de 25 anos de atuação na área
e em práticas inovadoras em gestão, tem capacitado
seus alunos a desenvolver uma visão estratégica sobre
pessoas, processos, tendências e negócios.
Desenvolvimento
Sustentável
À frente da iniciativa, como Coordenador do curso, Dr. Jefferson Gomes Fernandes, Superintendente de Educação
e Ciências do Hospital, explica que a proposta pedagógica
busca proporcionar uma experiência de aprendizado global e contemporânea, com participação ativa dos alunos.
“Além das aulas, ministradas por professores com experiência na área da saúde, da rede de relacionamento que
permite criar, o MBA oferecerá acesso a conteúdos exclusivos desenvolvidos por experts do management mundial.
Os alunos poderão participar de eventos da HSM e contam ainda com ambiente virtual para troca de conteúdos e
o Collaborative Book, um livro digital com conteúdo atual e
exclusivo usado na preparação das aulas.”
Com carga horária total de 556 horas, o curso será ministrado nas estruturas do IECS e da HSM Educação, com aulas nas sextas-feiras, das 18h30 às 22h50, e em sábados
alternados, das 8h às 12h40.
“Para incentivar o aperfeiçoamento de nossos profissionais, fazendo com que este conhecimento permeie os
processos e o desenvolvimento sustentável da Instituição,
concederemos condições especiais aos colaboradores e
médicos do Corpo Clínico do Hospital interessados em participar do curso”, explica Dr. Jefferson.
Para mais informações sobre o processo seletivo, investimento e matrículas entre em contato pelo telefone
(11) 4689-6620 ou pelo e-mail [email protected].
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
Visão Médica
13
EXAMES
LABORATORIAIS
Carcinoma pulmonar de
não pequenas células: contribuição
da Biologia Molecular no tratamento
direcionado
Assessoria Médica – Grupo Fleury
Dr. Ismael Dale Cotrim Guerreiro da Silva e Dr. Gustavo Arantes Rosa Maciel
A
companhando os avanços na Genética e
na Biologia Molecular dos tumores, o laboratório Fleury já disponibiliza testes que
permitem a identificação de mutações no gene
do receptor do fator de crescimento epidérmico
(EGFR), no gene KRAS (Kirsten Rat Sarcoma), bem
como a detecção de 17 diferentes tipos de fusões em EML4-ALK.
Com o desenvolvimento de fármacos alvo-específicos, o tratamento de alguns tumores malignos de
grande incidência possui, agora, novas ferramentas
terapêuticas. Seguindo-se ao lançamento do Trastuzumab, anticorpo capaz de inativar a proteína codificada pelo gene HER-2 no câncer de mama, outros
fármacos direcionados a alvos genéticos específicos
foram desenvolvidos, com resultados já documentados no tratamento de algumas neoplasias, como o
câncer de pulmão.
Entre esses medicamentos, destacam-se os inibidores da tirosinoquinase do EGFR que, para a sua correta indicação, necessitam da pesquisa de mutações
nos genes EGFR e KRAS no respectivo tumor.
O carcinoma de pulmão de não pequenas células (NSCLC) é o tipo mais comum de câncer de pulmão e indivíduos com esse tumor, que apresentam mutações
ativadoras no domínio de tirosina quinase do EGFR,
podem se beneficiar do tratamento com tais fármacos. O receptor do fator de crescimento epidérmico
14
Visão Médica
(EGFR) regula uma via de sinalização autócrina envolvida em grande número de processos relacionados
ao desenvolvimento neoplásico, como proliferação
celular, apoptose, angiogênese e disseminação metastática. Desse modo, o reconhecimento das mutações ativadoras do EGFR é determinante em predizer
a resposta do tumor a essas novas drogas.
O teste realizado por PCR em amostras de tecido
tumoral emblocado em parafina, em tempo real, detecta as mutações mais frequentes nos éxons 18 a
21 do gene EGFR, tem aprovação do FDA (Food and
Drug Administration), assim como da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e é capaz de
identificar mutações em amostras de tecido com
apenas 5% dos alelos tumorais mutados.
Ainda no contexto do tratamento do NSCLC com
medicamentos que têm como alvo o EGFR, a determinação de mutações no gene KRAS tem também
implicações relevantes. A presença de mutações
nos códons 12 e 13 desse gene está associada à
resistência aos tais medicamentos. Assim sendo, o
teste é útil em pacientes com NSCLC elegíveis ao
uso dos inibidores do EGFR. Por fim, as mutações do
tipo fusão que ocorrem entre o gene EML4 (EchinodermMicrotubule-Associated Protein-Like4) e o gene
ALK (AnaplasticLymphomaKinase), quando presentes,
indicam o uso de inibidores da atividade da tirosinoquinase de ALK com bons resultados.
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
COMO EU TRATO
Trombose venosa profunda
Dr. Henrique Jorge Guedes Neto
Dra. Daniela Mina Fukasawa
Dr. Luis Gustavo Schaefer Guedes
Definição
D
oença caracterizada pela formação aguda de
trombos em veias profundas do organismo,
acometendo, mais frequentemente, membros
inferiores ou superiores.
Quadro clínico
Depende da extensão da trombose e das veias acometidas, podendo ter apenas manifestações locais;
em casos de maior gravidade, com manifestações
sistêmicas, tais como hipotensão e até choque. As
manifestações locais geralmente são edema do
membro, assimetria com o membro contralateral,
dor e empastamento muscular.
Importância da doença
e incidência
Apesar da TVP causar certo desconforto ao paciente,
maior importância dá-se a sua complicação, que é a embolia pulmonar (EP), com manifestações variadas, desde
um cansaço até a morte súbita. Além disso, a TVP tem uma
complicação não mortal, mas que traz grandes repercussões socioeconômicas, com afastamento do trabalho e
baixa qualidade de vida, que é a síndrome pós-trombótica, grave insuficiência venosa crônica decorrente de uma
trombose aguda prévia. Cerca de 28% dos pacientes com
TVP evoluem para quadros de pernas inchadas, varizes
graves de membros inferiores e úlceras venosas, o que os
afasta de suas atividades laborais. Por fim, outro desfecho
não letal da TVP é a hipertensão pulmonar secundária a
EP, que causa alta morbidade e também baixa qualidade
de vida. A incidência da TVP é de cerca de 60 para cada
100.000 habitantes no Brasil, taxa considerada alta, sendo
uma afecção decorrente, em geral, de doenças clínicas ou
cirúrgicas, podendo ocorrer também de forma espontânea,
em pessoas até então consideradas hígidas.
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
Patogenia do
trombo
Virchow, em 1856, dissertou que
a formação de trombo dentro de
um vaso está relacionada com a
alteração de três fatores primordiais: lesão endotelial, estase sanguínea e aumento da viscosidade
sanguínea, sendo que a associação de um ou mais fatores implica
maior probabilidade de trombose.
Na prática diária, é possível identificar várias condições em que
esses fatores estão aumentados,
como o trauma ou injeções, que causam lesão endotelial; cirurgias longas ou imobilismo, favorecendo a estase
sanguínea; além das trombofilias e neoplasias malignas,
aumentando a crase sanguínea. Talvez seja todo esse
conjunto de fatores que causem uma incidência tão alta
de TVP na população e a torne uma doença tão comum.
Fatores de risco
A TVP é considerada uma doença multicausal, que
associa fatores genéticos, como aqueles das doenças de trombofilia hereditárias, a fatores ambientais,
como estilo de vida. O resultado dessa interação é
que a TVP pode acometer pessoas de todas as idades
e, por isso, é importante estarmos atentos aos diversos fatores de risco para o desenvolvimento de um
trombo. São fatores consideráveis de risco para TVP:
idade avançada (pela alteração da parede venosa e
consequente estase sanguínea), imobilização, TVP
prévia, obesidade (diminuição da atividade fibrinolítica intrínseca), varizes de MMII, duração e porte da
cirurgia (maior risco se a cirurgia for mais longa que
30 minutos), tipo de anestesia (geral traz maior risco),
infecção, câncer, quimioterapia, insuficiência cardíaca, insuficiência renal, gravidade da doença de base,
gravidez e puerpério e uso de hormônios (anticoncepcionais ou reposição hormonal feminina).
Visão Médica
15
COMO EU TRATO
Diagnóstico
Deve ser realizado a partir da anamnese e exame físico que gerem alto índice de suspeita clínica, seguido de
exames complementares. Na anamnese, levam-se em
consideração os fatores de risco anteriormente citados,
especialmente imobilismo e cirurgias nas últimas quatro
semanas, associada a dores nos trajetos de veias profundas, edema do membro, com assimetria contralateral e dilatação de veias superficiais. No exame clínico,
pode-se observar edema, cianose das extremidades, dor
à palpação muscular e de trajetos venosos, Sinal de Homans positivo (dor muscular à dorsiflexão passiva do pé),
empastamento muscular e Sinal da Bandeira (endurecimento da panturrilha, que não se mobiliza naturalmente). É importante citar os dois quadros mais dramáticos
da TVP, de baixa incidência, porém muito graves – flegmasia cerúlea dolens (trombose íleofemoral extensa e
de vasos colaterais, com edema intenso e cianose, associado a dor lancinante no membro) e flegmasia alba
dolens (trombose íleofemoral extensa com dor, palidez e
sinais de isquemia por vasoespasmo arterial).
Infelizmente o exame clínico isolado tem baixa sensibilidade, sendo rotineiramente necessária a realização
de exames complementares. É possível a realização de
diversos exames que auxiliam no diagnóstico, tais como
dosagem de dímero D, flebografia, angiotomografia
contrastada e outros; porém, o mais acessível, prático
e não invasivo, por isso recomendado, é o ultrassom
venoso em modo B associado ao color Doppler. Caso
haja um alto índice de suspeita clínica e ultrassom inicial
negativo, deve-se iniciar o tratamento e repetir o exame
em três a sete dias. Neste momento, em alguns casos,
pode-se utilizar a flebografia, lembrando ser um exame
invasivo e com uso de contraste. Quando a causa da
trombose não é aparente (cirurgia, trauma ou imobilismo), é mandatória a pesquisa de neoplasias ou doenças
hereditárias da coagulação. Freqüentemente, TVP é a
primeira manifestação de uma neoplasia oculta.
Tratamento
Realiza-se com medicamentos anticoagulantes, associado a compressão elástica e drenagem postural. A
heparina é a medicação de escolha no tratamento da
TVP, que pode ser não fracionada (HNF), por via intravenosa ou subcutânea (SC) ou a heparina de baixo
peso molecular (HBPM), por via SC. A heparina pode
causar plaquetopenia e, por isso, a dosagem de plaquetas se faz necessária a cada três dias. Habitualmente recomendamos o uso da HBPM, a uma dose de
16
Visão Médica
1 mg/kg a cada 12 horas, exceto quando o paciente
tem insuficiência renal, em que é recomendado o uso
da HNF. Deve-se associar a antivitamina K (varfarina)
por cinco dias com a HBPM e, para a manutenção
do tratamento ambulatorial, apenas a varfarina, por
um período de três a seis meses, controlada por um
índice de tempo de protrombina (TP), com INR entre
2 e 3. A meia elástica é obrigatória para melhorar a
sintomatologia e diminuir a síndrome pós-trombótica, com compressão de 30 a 40 mmHg e ajustada
ao tamanho da extremidade. A drenagem postural
com elevação do membro na fase inicial pode diminuir bastante o edema e trazer conforto e melhora da
dor. Deve-se informar o paciente que, nos primeiros
dias, existe a possibilidade de certa cianose (dor ao se
colocar o pé no chão), mas que esse desconforto vai
diminuindo com o passar dos dias. O uso de fibrinolíticos via cateter é de uso restrito, apenas em casos de
flegmasia, com indicação bem individualizada. O filtro
de veia cava deve ser indicado apenas na recorrência
de TVP e EP, mesmo na vigência de anticoagulação
adequada e comprovada, ou nos casos de TVP proximal com contraindicação de anticoagulação plena.
Existe hoje no mercado um grupo de novos anticoagulantes, que tem despertado grande interesse pela promessa de não necessitar de controle laboratorial e sua
administração ser oral. No entanto, sua eficácia comprovada cientificamente, com segurança, reside apenas
na prevenção de tromboembolimia venoso (T.E.V) nas
cirurgias de prótese total de joelho e quadril. São elas
a rivaroxabana (xarelto R) e a dabigatrana (pradaxa R).
Novos estudos e tempo se fazem necessários para a
mudança dos conceitos da anticoagulação clássica,
porém existem perspectivas infinitas de aprimoramento e obtenção de tratamentos mais cômodos e
com menos efeitos colaterais.
Referências:
1) Maffei FHA, Rollo. Trombose Venosa Profunda
dos membros Inferiores: incidência, patogenia, patologia, fisiopatologia e diagnóstico; Capítulo 107,
4a Edição de Doenças Vasculares Periféricas, Guanabara Koogan – 2008.
2) Maffei FHA, Caiafa JS, Ramacciotti E et AL. Para
o Grupo de Elaboração de Normas de Orientação
Clínica em Trombose Venosa Profunda da SBACV.
Normas de orientação clínica para prevenção, diagnóstico e tratamento da trombose venosa profunda
(revisão 2005). Salvador: SBACV; 2005.
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
LIVRARIA
Truque ou tratamento?
Dr. Stefan Cunha Ujvari
Infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
N
o livro “Truque ou tratamento - Verdades e
mentiras sobre a medicina alternativa”, traduzido pela Editora Record, o médico Edzard
Ernst e o jornalista Simon Singh apresentam uma
ampla revisão sobre diferentes terapias da Medicina alternativa e revelam informações atualizadas e
inusitadas sobre esse tema.
Priorizando experimentos científicos com rigor estatístico que comprovam ou refutam a eficácia dessas
terapias, os autores apoiam-se em na abordagem
atual da medicina baseada em evidencias, demonstrando a realidade científica dessas terapias alternativas de maneira clara e, muitas vezes, surpreendente.
Desta maneira, o livro consegue unir, de maneira
bastante harmoniosa, a história destas práticas
aos estudos científicos atuais. O resultado? Leitura
agradável e curiosa.
As páginas iniciais descrevem esboços de estudos
científicos, realizados ao longo de séculos passados.
Na época, os idealizadores destes primeiros experimentos nem sonhavam com a possibilidade de seus
trabalhos, apesar da ausência de estatística, transformarem-se no esqueleto da metodologia científica dos estudos médicos atuais. Após essa brilhante
introdução, o livro destrincha terapias alternativas
atuais e descreve, entre outros pontos, a história da
descoberta do efeito placebo no início do século XIX,
que, muitas vezes, mascarou os resultados científicos da medicina alternativa.
As conclusões sobre a acupuntura também trazem
revelações inusitadas, mas não apenas sobre os
fundamentos da terapia por agulhas. Na leitura é
possível entender como fatores políticos e econômicos rechaçaram a prática da acupuntura no Ocidente ainda no século XIX e, da mesma forma, na
década de 1970, tornaram a resgatá-la.
mas, de maneira surpreendente, foi reavivada
no século XX. E sua eficácia? Trabalhos modernos aqui apresentados
respondem a pergunta.
Os vegetais nos presentearam com inúmeras
moléculas terapêuticas
que, modificadas pela
química, a partir do século XIX, originaram o
arcabouço da enorme
maioria dos medicamentos atuais. O livro descreve interessantes fatos
e curiosidades dessa história. Porém, a pergunta
que sempre surge é: a
fitoterapia alternativa é
eficaz? Os autores respondem o questionamento por meio da medicina
baseada em evidencias.
Truque ou tratamento - Verdades e mentiras
sobre a medicina alternativa
Simon Singh & Edzard Ernst
Record – 2013
408 páginas
R$ 49,90
Esse agradável livro nos
atualiza em relação às
práticas médicas alternativas partindo de fatos históricos e atuais. As
conclusões convencem pelo rigor da revisão científica, tornando o livro prazeroso pelo vasto recheio dos
parágrafos históricos. Vale a leitura.
A história da homeopatia também é bem descrita, ainda que de maneira resumida, e esclarece o
conceito atual desse tratamento. Uma abordagem
terapêutica que esmoreceu ao final do século XIX,
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
Visão Médica
17
CAPA
Mobilidade
Hospital Alemão Oswaldo Cruz inaugura nova fase
tecnológica do sistema Tasy
18
Visão Médica
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
CAPA
T
rês anos depois da implementação do sistema Tasy, o Hospital Alemão Oswaldo
Cruz protagoniza uma nova etapa de desenvolvimento deste importante facilitador da
gestão assistencial e administrativa. Depois de
uma curva de aprendizado, que envolveu Corpo
Clínico e demais colaboradores, de uma série de
testes, avaliações e, principalmente, da contribuição por parte dos médicos para o aperfeiçoamento do recurso, a Instituição lançou, no mês
de janeiro, a primeira versão móvel do sistema.
“Desde 2009, quando começamos a realizar pesquisas de mercado para buscar a melhor solução tecnológica, mas principalmente a partir de 2011, quando
incorporamos o Tasy como ferramenta completa de
gestão, realizamos um trabalho baseado em processos de melhoria.O intuito é sempre tornar o sistema mais amigável para os usuários e compatível
às principais necessidades de nossa organização”,
explica Denis da Costa Rodrigues, Gerente de Tecnologia da Informação (TI) do Hospital.
Resultado desta preocupação constante com o desenvolvimento, mas, sobretudo, da avaliação qualificada dos médicos sobre a ferramenta, o Tasy ganhou, já no início de 2014, um atributo fundamental:
a mobilidade.
“Ao longo dos Fóruns Médicos, oportunidade em que
Administração e Corpo Clínico discutiram possíveis
melhorias nos processos que suportam a atuação
médica, identificou-se a importância do aprimoramento do Tasy e, mais que isso, a necessidade de
ampliar e dinamizar o acesso ao sistema, criando
uma plataforma mobile”, lembra Denis.
A partir daí, de acordo com o Gerente, o grande desafio relacionava-se à adequação do sistema à nova
plataforma, garantindo ainda segurança, navegabilidade e apresentação fiel de dados importantes,
como os registros eletrônicos de saúde, para que
pudessem ser acessados de maneira simples e rápida em um dispositivo móvel.
Pioneirismo
Em 2013, com o apoio da empresa Philips, que desenvolveu o aplicativo, adicionando a ele as sugestões de melhoria da equipe de TI, além de auxiliar na
implantação, o Hospital iniciou os testes que permitiram o lançamento do recurso.
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
“Mais uma vez, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz saiu
na frente e foi o primeiro a lançar a versãodo Tasy
para iPad. Hoje, outras instituições também estão
avançando para o desenvolvimento de plataformas
mobile, mas até o momento nenhum alcançou integração com o sistema Hospitalar como a que atingimos aqui”, explica.
De acordo com Denis, de olho nesta tendência de
ampliação da mobilidade, o projeto foi concebido
com a proposta de BYOD (sigla em inglês para ‘Traga seu próprio dispositivo’ - Bring Your Own Device). “Estamos evoluindo para um momento em que
o mesmo aplicativo poderá ser utilizado para diferentes instituições. Assim, fazendo uso de seu
próprio equipamento, os
profissionais terão mais
autonomia e, sem dúvida, mais comodidade.”
E para garantir o funcionamento do sistema, já
no início do ano, um grupo de médicos auxiliou a
equipe de TI, utilizando
a versão mobile do Tasy
para a realização de consultas. A partir da avaliação dos médicos sobre
as funcionalidades, foi
possível adequar o aplicativo para que ele fosse
mais aderente aos processos dos médicos e estivesse
pronto para o lançamento oficial, no dia 27 de janeiro.
“Ao longo da última semana de janeiro, nossa equipe
ficou à disposição do Corpo Clínico no hall de entrada do Bloco E, não apenas para demonstrações
sobre aplicação, mas também para a instalação do
Tasy nos iPads dos médicos. Ao todo, realizamos 20
seções de treinamento entre os dias 27 e 31 de janeiro”, afirma Denis.
Potencial para evoluir
Com o trabalho em curso para disponibilizar novas
funcionalidades, a equipe de TI do Hospital estuda
as próximas etapas e busca avaliações junto aos
médicos que já começaram a utilizar a versão do
sistema para iPad.
Visão Médica
19
CAPA
“O aplicativo ainda é parcial. Neste primeiro momento,
conta com as funções de prescrição eletrônica, liberada
apenas para leitura; evolução, para leitura e edição; consulta de laudos laboratoriais e não laboratoriais, além
de sinais vitais e monitorização. Atualmente, além de
avaliar a disponibilização de outros recursos, estamos
trabalhando para, em breve, permitir o acesso remoto,
pelo qual o médico poderá realizar atividades à distância e mesmo orientar equipes médicas e assistenciais
que, eventualmente, estejam no Hospital utilizando registros eletrônicos relacionados a seus pacientes. Isso
tornará o processo de cuidado mais seguro para todos
os envolvidos”, explica.
Outra frente importante de trabalho é a avaliação quanto à compatibilidade e a criação de versões para outras
plataformas e sistemas operacionais. Como uma evolução
natural, a equipe estuda a adequação desta versão mobile
do Tasy para a utilização em smartphones e outros tablets.
“Assim como desenvolvemos a versão para iPad, com
o apoio e a avaliação crítica dos médicos que integram nosso Corpo Clínico, empenharemos esforços
para que o Tasy alcance novos dispositivos móveis.
Mas esta é uma etapa que trabalharemos no futuro,
depois de alcançar o funcionamento pleno de nossa
versão para iPad”, esclarece.
Dicas para Instalação
Com apenas cinco passos, os médicos que não
tiveram a oportunidade de participar das demonstrações, realizadas na última semana de janeiro,
podem instalar o Tasy em seus iPads de maneira
prática e rápida, desde que seu aparelho disponha de uma conta brasileira na Apple Store, iOS
(sistema operacional) 6.1 ou superior, além de
conexão com a Internet.
1
Acesse a App Store a partir do dispositivo, digite a palavra “TASY’ no campo de pesquisa e,
em seguida toque na opção “Buscar”. Toque
no ícone Grátis (Free) para iniciar o download. Neste
momento, será solicitada a senha do Apple ID.
2
3
Depois de instalado, toque no ícone Abrir
(Open) e aceite o Termo e Condições.
Depois de receber a mensagem de Boas Vindas, toque em “Continuar”. Em seguida. toque no sinal “+” e, depois, em “Adicionar via
QR Code”, a câmera do dispositivo será acionada
e deverá ser posicionada pararealizar a leitura do
QR Code abaixo.
4
No momento que o QR Code for identificado,
surgirá uma mensagem questionando se você
deseja adicionar configurações do Hospital
Alemão Oswaldo Cruz. Toque na opção “Sim”.
5
Com a Instalação completa, procure o setor de
TI do Hospital, para obter a liberação do sistema e utilizar o iPad da rede wifi da Instituição.
Em caso de dúvidas, a equipe de TI estará pronta
para auxiliar no ramal 0055.
20
Visão Médica
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
CAPA
Com a palavra, o usuário
“Fui um dos primeiros médicos a testar o aplicativo que o Hospital Alemão Oswaldo Cruz e a Philips proporcionam ao Corpo Clínico e, hoje,
a ferramenta já faz parte da área
de trabalho do meu iPad. Com esta
versão móvel do Tasy, o médico pode
observar a evolução dos sinais vitais
do paciente, checar exames laboratoriais e de imagem, mesmo fora da
unidade de internação. Isto torna o
atendimento médico mais rápido e
efetivo, resultando na melhoria da
assistência ao paciente, pilar fundamental de nossa atuação.”
Dr. Américo Cuvello Neto
“O aplicativo será muito útil, pois
conta com recursos interessantes. A
partir de agora, teremos a praticidade de checar exames e acompanhar a
evolução do paciente ainda dentro do
quarto. Ou seja, ganhamos em agilidade e mobilidade.”
Dr. Luis Edmundo Pinto da Fonseca
“A iniciativa dá liberdade ao médico
de transitar pelo Hospital, acompanhando resultados de exames e o que
está acontecendo. Com a facilidade de
acesso às informações, ampliamos a
agilidade na tomada de decisões. Sou
apaixonado por tecnologia e acredito
que o Tasy para iPad ficou até mais
amigável do que a versão para computador, respeitando, claro, as funcionalidades, que ainda são restritas.”
Dr. Mario Gheſter
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
Visão Médica
21
TEMPO LIVRE
Veloz e em
boa companhia
A
s primeiras passadas se deram em 1994, ainda como parte de uma rotina de exercícios a
que se dedicava nos períodos em que não estava entre os livros e tarefas da Faculdade de Medicina. Eram, como lembra a hoje cardiologista, Dra.
Claudia Regina Suguiuti, caminhadas, trotes e pequenas corridas despretensiosas, que serviam mais
como aquecimento para outros esportes.
Anos depois, contudo, aquelas mesmas passadas ganharam um quê de seriedade. “Em 2007, aceitei participar, junto com um grupo de amigos, de uma prova de
revezamento, realizada no Parque do Ibirapuera. Aqueles foram meus primeiros 5 km em uma prova de rua e,
apesar da ansiedade e até das dificuldades, foi o suficiente para que a atividade me conquistasse”, lembra.
Sete anos depois daqueles primeiros quilômetros, o
número de provas já é algo difícil de recordar. “Foram
muitas. Não conseguiria dizer quantas. Acho que depois
de um tempo, por mais que as boas recordações fiquem,
você começa a pensar mais nas que estão por vir.”
E é pensando nas corridas que estão pela frente que Dra.
Claudia, além dos indispensáveis exercícios de fortalecimento, realiza treinos específicos pelo menos três vezes
por semana, sempre com a orientação de um educador físico. De acordo com a cardiologista, este tipo de acompanhamento é fundamental para a performance e, principalmente, para a segurança do corredor, seja ele profissional
ou amador.
“Não tenho um grande histórico de
lesões, mas em abril do ano passado,
sofri com um problema na musculatura
posterior da coxa, que me afastou dos
treinamentos por mais de seis meses.
Para um corredor, ficar longe das pistas é algo muito difícil, mas sempre
serve como lição. Segui o tratamento
e, quando liberada, voltei a treinar com
moderação e acompanhamento. Hoje,
me sinto muito bem e já estou me preparando para mais um desafio: a Meia
Maratona de Madrid, na Espanha.”
22
Visão Médica
Com mais de dez meias maratonas, a médica acredita
que esta será mais uma experiência inesquecível. “Não
sou muito veloz, por isso, provas longas sempre foram as
minhas preferidas. Duas delas, por exemplo, têm um lugar
muito especial na minha memória. Uma disputada em
2009, no Rio de Janeiro, e que foi a minha primeira Meia
Maratona, e outra em 2012, em Nova Iorque (EUA). Esta,
além de ser a primeira fora do País, foi a que conclui com
em menor tempo – 2h06 –, mesmo parando para tirar
fotos do trajeto”, confessa.
Exemplo de disposição para colegas e familiares, Dra.
Claudia alegra-se com o fato de servir como estímulo
para um número cada vez maior de pessoas. “Companhia é o que não falta. Além de um grupo de médicas de
que faço parte e que chamamos de ‘Lulu Run’, percebo
que o número de corredores aqui no Hospital, também
está crescendo. Em março, por exemplo, numa tradicional corrida para mulheres, disputada em São Paulo, teremos um grupo com cerca de dez corredoras, entre médicas e colaboradoras da equipe assistencial que atuam
no Centro de Cardiologia Não Invasiva do Hospital. Isso
reforça a ideia de que, apesar do esforço individual, a
corrida está longe de ser um esporte solitário”, conclui.
“A Dra. Claudia é um exemplo da boa convivência entre
a competência profissional e o cuidado com a saúde e a
qualidade de vida. Uma boa avaliação clínico-cardiológica
deve sempre acompanhar os aspirantes a atividades esportivas mais intensas, a partir de uma determinada
idade”, comenta Dr. Pedro Graziosi, Diretor do Instituto
de Medicina Cardiovascular do Hospital.
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
RESPONSABILIDADE
JURÍDICA
Judicialização da saúde
Sergio Pittelli
[email protected]
A
mudança de concepção segundo a qual as normas constitucionais (ex.: artigo 196) deixaram
de possuir caráter meramente programático/
declarativo e assumiram caráter de exigibilidade gerou uma situação nova no Direito.
A esta mudança, associou-se a nova legislação infraconstitucional (Lei Orgânica da Saúde), a ampliação
proporcionada pelo texto constitucional às funções
e poderes do Ministério Público e o novo estatuto do
direito do consumidor.
A exigibilidade imediata da norma constitucional associada aos demais elementos criou uma nova cultura jurídica caracterizada pela busca imediata de
satisfação de direitos (individuais e coletivos) mediante a intervenção do Poder Judiciário. Esta atividade se verifica tanto com referência ao Estado
quanto com relação às empresas de saúde e toma
contornos diferentes segundo o caso.
Os embates contra as operadoras de saúde fundamentam-se no CDC e Lei 9656/98. Há um grande
contingente relativo aos contratos anteriores a esta
lei versando sobre a recusa à cobertura de prótese
ou material cirúrgico descartável de alto custo e a
limitação do tempo de internação, em Unidade de
Terapia Intensiva (UTI) ou mesmo em enfermaria. As
ações incidentes nos contratos posteriores à citada
lei têm frequência bem menor, mas também versam
sobre negativa de prótese e material descartável.
Outra objeção levantada pelas operadoras constitui-se em atribuir caráter experimental ao tratamento.
Na esfera pública podemos citar dois grandes fundamentos fáticos: dispensação de medicação de
alto custo e alocação de vagas. Ambas são problemáticas. Quanto à primeira, devemos distinguir
tratamentos consagrados que estejam incluídos no
conjunto de protocolos do SUS (ex.: AIDS, hepatites).
A motivação para a ação é a indisponibilidade de
determinada droga ou sua não inclusão em protocolo oficial. Estas ações são individuais e por elas o
Estado é constrangido a providenciar o tratamento
o que, no nosso entendimento, é correto. Mais problemática é a situação em que pequenos grupos de
portadores de moléstias genéticas com tratamentos
extremamente caros se unem e forçam o Estado a
pagar o tratamento. A questão é angustiante porque, por um lado, as pessoas têm direito, mas, por
outro, os valores envolvidos fogem completamente
aos parâmetros habituais e têm repercussão no orçamento dos órgãos públicos .
A tentativa de forçar a alocação de vagas pela via
judicial também é, a nosso ver, problemática, quando
tentada individualmente, porque recai, via de regra,
sobre o administrador local que não tem poder para
criar vagas. Ações coletivas empreendidas pelo Ministério Público geralmente contra níveis mais altos
da Administração têm mais lógica, embora sempre
esbarrem na circunstância da inexistência da infraestrutura física, que não pode ser providenciada de imediato. No nosso entender, a verdadeira solução para
a questão da saúde pública é político-administrativa.
No geral, as decisões judiciais são amplamente favoráveis aos consumidores.
PITTELLI SD, MUÑOZ DR. Macroalocações de Recursos em Saúde por Intermédio da Atividade Jurídico-Processual: Implicações
bioéticas. Revista de Direito Sanitário, vol. 4, n. 3, 43-56, 2003.
1
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
Visão Médica
23
REVISÃO SISTEMÁTICA
Controle Glicêmico Intra-Hospitalar
Dr. Luciano R. Giacaglia
Endocrinologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Introdução
O
s custos hospitalares representam, hoje,
uma grande parcela do dispêndio anual com
saúde. Desta forma, a evolução favorável do
paciente internado, com redução de complicações
clínicas e consequente abreviação de sua permanência, além de caracterizar um parâmetro de qualidade no atendimento, constitui importante aspecto
na economia de gastos, ainda mais em modelos de
vários planos de saúde, com pacotes e reembolso
médico-hospitalar pré-estabelecidos.
Hoje é bem conhecido o papel da hiperglicemia no prognóstico do paciente hospitalizado. Mesmo dentre aqueles
sem diagnóstico prévio de diabetes, a hiperglicemia pode
se manifestar em até 40% dos pacientes internados.
Em razão da notificação em prontuários, fica claro que o
diagnóstico de hiperglicemia é um evento subnotificado.
Embora ainda existam controvérsias quanto aos valores
glicêmicos ideais, assim como sobre a metodologia ideal
para alcançar tais limites, é fato que devemos evitar tanto os quadros de hipoglicemia quanto os de hiperglicemia
significativa. A hiperglicemia determina efeitos adversos
agudos, comprometendo a resposta imune, a resposta
endotélio-vascular e a capacidade de cicatrização tecidual. Por outro lado, a hipoglicemia aumenta o risco de
morbidade neurológica e cardiovascular.
As evidências apontam que tratamentos que objetivam
valores glicêmicos inferiores a 180mg/dl, sem impor
maior ocorrência de hipoglicemia, se associam à melhor
evolução prognóstica, sendo este efeito benéfico ainda
mais expressivo em pacientes cirúrgicos.
Barreiras Hospitalares
Apesar do amplo conhecimento adquirido ao longo da última
década, e da existência de inúmeros protocolos e diretrizes, o
controle glicêmico hospitalar está longe de ser uma realidade
na maioria dos hospitais nacionais, mesmo representando
um dos principais pilares para a obtenção de certificados de
acreditação. A implementação de sistemas práticos, coordenados por profissionais com larga experiência no assunto, o
treinamento de diferentes equipes de atenção à saúde, assim
24
Visão Médica
como o apoio e o comprometimento pleno dos gestores
hospitalares, são condições imprescindíveis para o sucesso
de qualquer programa neste sentido. Todos os setores do
hospital devem ser abrangidos, respeitando as particularidades de cada um, para não ocorrer interrupção no controle
glicêmico durante todo o período de internação.
Podemos citar como principais barreiras atuais para a implementação hospitalar de protocolos de controle glicêmico:
• Reconhecimento insuficiente da hiperglicemia ou a baixa
valorização deste aspecto na evolução do paciente;
• Receio de hipoglicemia e falta de familiaridade das equipes médicas com os novos protocolos de insulina subcutânea ou com as bombas de infusão endovenosa contínua;
• Falta de treinamento ativo da equipe de enfermagem;
• Variabilidade e inconsistência da oferta nutricional, propiciando longos períodos de jejum, principalmente para a realização de procedimentos, visto que geralmente não existe
rotina de priorização do paciente diabético;
• Falta de interação entre o Corpo Clínico e os especialistas
em controle glicêmico, ainda mais em casos de maior complexidade, como durante dieta enteral/parenteral, corticoterapia e hepatopatia grave, por exemplo;
• Falta de integração entre os diversos setores do hospital;
• Falta de conduta uniforme e inexistência de uma coordenação geral, capaz de dar suporte e efetuar eventuais ajustes
no modelo, conforme as necessidades do hospital.
Hiperglicemia em pacientes críticos
A hiperglicemia em pacientes críticos está relacionada
à maior ocorrência de complicações, permanência de
internação, demanda de recursos tecnológicos e mortalidade hospitalar. Os trabalhos iniciais de van den Bergh, em
UTI cirúrgica, propunham controle glicêmico rigoroso, com
metas entre 80 e 110mg/dl, para a redução de morbimortalidade. No entanto, amplos estudos multicêntricos, como
o NICE-SUGAR, provaram que estes alvos eram difíceis de
atingir e incorriam em maior ocorrência de hipoglicemia.
Muitos autores demonstraram, inclusive, um aumento
da mortalidade em pacientes críticos submetidos a este
controle glicêmico rigoroso.
14 Fev/
• Janeiro
ediçãoedição
18 • Jan/
Mar • 2013
2014
REVISÃO SISTEMÁTICA
Baseados em meta-análises recentes, as principais sociedades médicas internacionais determinaram uma faixa de segurança glicêmica para pacientes críticos, entre 140 e 180
mg/dl. Alguns estudos sugerem que patamares entre 110 e
140 mg/dl poderiam até ser mais adequados, mas dependeriam de estrutura altamente especializada, com equipe de
enfermagem numerosa, bem treinada e com monitorização
glicêmica subcutânea contínua, em tempo real, o que acaba
não sendo condizente com a maioria dos serviços, principalmente no Brasil. Fato é que valores glicêmicos acima de 180
mg/dl e abaixo de 110 mg/dl devem ser evitados.
A terapia glicêmica em UTI deve, obrigatoriamente, utilizar
insulina em bomba de infusão contínua, em razão da fácil e
rápida titulação, principalmente em ambiente onde variações
agudas são corriqueiras e da menor meia vida circulante de
insulina, o que é útil na ocorrência eventual de hipoglicemia.
Atualmente, com a digitalização dos glicosímetros em UTIs
e da disponibilidade comercial de softwares automáticos de
infusão de insulina, reduziu-se muito a sobrecarga sobre a
equipe de enfermagem, diminuindo a possibilidade de erros.
As soluções de insulina com concentração de 1Un/ml (100
unidades diluídas em 100 ml de solução fisiológica) facilitam
o raciocínio e o ajuste rápido do ritmo de infusão. Ao utilizar insumos plásticos, devemos desprezar 10% da solução
constituída através do equipo, pois parte da insulina inicial
adsorve no plástico. A insulina de escolha é a regular humana, em razão do baixo custo, e pelo fato de, em meio endovenoso, todas as insulinas possuírem mesmo perfil farmacocinético. O ritmo de infusão dependerá de parâmetros como
idade, peso, gravidade da patologia aguda, uso de drogas
hiperglicemiantes e a própria evolução clínica do paciente.
Hiperglicemia em pacientes não-críticos
Estudos controlados e randomizados também demonstraram benefícios do controle glicêmico em pacientes não-críticos, como redução do período de internação, da ocorrência
de infecções, das taxas de re-hospitalização e, inclusive, da
mortalidade. A hiperglicemia durante a admissão hospitalar
já se mostrou relacionar à pior evolução em pacientes com
pneumonia adquirida na comunidade e em pacientes submetidos à cirurgias eletivas.
Outro aspecto importante é o fato do pronto-socorro ser
o ambiente ideal para o diagnóstico do estado de hiperglicemia, uma vez que a glicemia é considerada mais um dos
inúmeros sinais vitais, e por ser um indicador fundamental
do prognóstico do paciente. Além disso, sabendo que diabéticos são mais propensos à busca por atendimento hospitalar, esta constitui uma excelente oportunidade para o diagnóstico de diabetes, já que 50% dos portadores de diabetes
desconhecem sua situação e acabam retardando a procura
por tratamento especializado.
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
Na admissão, a glicemia capilar acima de 140mg/dl deve
suscitar um acompanhamento por pelo menos 24 horas,
para que se avalie o comportamento glicêmico e a necessidade ou não de tratamento. Devemos, nesta circunstância,
também proceder à coleta de amostra de sangue para se
avaliar a hemoglobina glicosilada (HbA1c), que será útil na
escolha terapêutica, durante a estadia hospitalar, e na orientação de conduta no momento da alta hospitalar. A presença de glicemia aleatória superior a 180mg/dl, por outro lado,
indica a necessidade de inclusão em protocolo insulínico e
uma investigação ampla da coexistência de fatores agravantes, como infecções, doenças inflamatórias agudas, quadros isquêmicos ou trombóticos. A desidratação é um dos
principais determinantes da ocorrência de hiperglicemia, em
função da hemoconcentração e da liberação de hormônios
contrarreguladores, e deve ser sempre corrigida antes de se
iniciar o tratamento insulínico.
Independentemente da condição do paciente, convém liberá-lo para domicílio, ou para a enfermaria, somente quando
a glicemia capilar se mantiver abaixo de 180mg/dl, em duas
medições consecutivas. No paciente que será internado,
suspendemos todos os hipoglicemiantes orais e iniciamos
a insulinoterapia subcutânea, salvo em pacientes muito estáveis, que se submeterão a procedimentos mínimos ou naqueles em programação breve de alta hospitalar. Em todos
os outros casos, incluindo aqueles que terão alta hospitalar,
mas que potencialmente podem apresentar descompensação clínica, devemos introduzir ao menos a insulina basal.
Hoje se faz essencial a abolição dos esquemas de correção
glicêmica, denominados de escala progressiva (“sliding scale”),
amplamente difundidos, sem embasamento científico, e baseados unicamente na aplicação de doses aleatórias de insulina subcutânea, de acordo com patamares, também aleatórios, de glicemia capilar. Estes esquemas aumentam o risco
de hipoglicemia ao mesmo tempo em que propiciam picos
hiperglicêmicos, evidenciados por vezes horas depois. Devemos sempre utilizar o esquema denominado basal-bolus,
contemplando necessidades orgânicas e fisiológicas, efetuando ajustes de acordo com a glicemia apresentada,
a resistência insulínica (que pode variar ao longo da
internação) e o aporte calórico do paciente. A dose
diária de insulina varia, em geral, de 0,3-0,5 Un/Kg
e deve ser dividida em 50% na forma de insulina
basal e 50% na forma de insulina prandial, fazendo-se a complementação ou ajuste da dose conforme
a resposta glicêmica. Esta abordagem já se mostrou
muito vantajosa, especialmente em pacientes submetidos a cirurgias eletivas, em que se evidenciaram reduções das taxas de infecção incisional, de
pneumonia, de bacteremia, de insuficiência respiratória e de insuficiência renal aguda.
Visão Médica
25
ARTIGO INTERNACIONAL
Identificando infecção pelo
Helicobacter pylori:
papel do Patologista
Dra. Maria Regina Vianna
Médica Patologista, Sócia-Diretora, CICAP – Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Dr. Venancio Avancini Ferreira Alves
Médico Patologista, Sócio-Diretor-Técnico, CICAP – Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Comentário sobre o artigo Appropriate use of special stains for identifying Helicobacter pylori. Recommendations from
the Rodger C. Haggitt Gastrointestinal Pathology Society.Batts, KP et al - Am J SurgPathol.2013 Nov; 37(11):e12-22.
A
Gastrite Crônica em Moderada
Atividade (HE, x100)
Os bacilos tipo H. pylori
relativamente abundantes
são evidentes na superfície
mucosaà HE (x400)
Pesquisa IHQ positiva para
antígeno de H. pylori (x400)
26
infecção por H. pylori é a maior
causa de gastrite no mundo todo e
está associada a úlceras gástrica e
duodenal, gastrite atrófica, deficiência de
ferro, linfomas do tipo MALT e adenocarcinoma gástrico, sendo sua erradicação
recomendada sempre que identificada.
leculares (PCR e hibridização “in situ”).
O estudo histológico das amostras de biópsia é o melhor método para caracterizar lesões relacionadas à infecção por H.
pylori, que sempre induz algum grau de
inflamação crônica, configurando gastrite crônica moderada a intensa em 90%
dos pacientes, com infiltrado inflamatório
superficial em “faixa”, rico em linfócitos
eplasmócitos, geralmente com neutrófilos
permeando o epitélio foveolar e superficial
(gastrite crônica ativa), podendo levar a
metaplasia intestinal e atrofia da mucosa.
A erradicação está associada ao desaparecimento dos neutrófilos e à diminuição
gradual da inflamação, mas a metaplasia
intestinal tende a persistir.
O aspecto central dessas recomendações é a cuidadosa avaliação histopatológica das amostras de biópsias
endoscópicas, que deve incluir dois fragmentos de corpo, dois de antro e um da incisura angular. O encontro
de bacilos curtos, com morfologia de H. pylori já pela
coloração HE, associada aos padrões morfológicos de
gastrite crônica (especialmente as formas ativas moderada e acentuada) já é suficiente para a definição da
conduta clínica. Quando necessários exames adicionais,
a recomendação da GIPS-USCAP é que se prefira a detecção imuno-histoquímica (IHQ) de antígenos do H.
pylori, atingindo-se, então, sensibilidade e especificidade próximas de 100%. Neste sentido, os especialistas
fazem as seguintes considerações:
Dentre os métodos de detecção do H.
pylori, incluem-se colorações histoquímicas (p.ex.Giemsa), a reação imuno-histoquímica, a detecção sérica de anticorpos
anti-Helicobacterou de antígenos nas
fezes, o teste da urease na expiração, a
cultura do micro-organismo e testes mo-
Visão Médica
Esta publicação de experts da Sociedade de Patologia
Gastrointestinal da Academia Americana e Canadense
de Patologia (GIPS-USCAP) analisa o uso dos métodos
para detecção de infecção pelo Helicobacter pylori e
propõe normas para sua aplicação.
1- A frequência da infecção pelo H. pylori varia dependendo do nível socioeconômico e de sua prevalência na
região. O número de biópsias obtidas durante o exame
endoscópico influencia no diagnóstico histológico, sobretudo em pacientes em uso de inibidores de bomba de
prótons que, sabidamente, tem número menor de bacilos,
localizados em regiões mais proximais do estômago.
2- A HE tem sensibilidade para detecção do H. pylori
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
ARTIGO INTERNACIONAL/
QUAL É A SUA OPINIÃO?
que varia de 70-95%, com elevada especificidade. Exame IHQ complementar após visualização de bacilos ao
HE só deve ser considerado em casos nos quais a morfologia é duvidosa ou em formas cocoides de localização não usual (intracelular ou no interior de glândulas).
3- Em casos nos quais a morfologia é de gastrite crônica ativa e os bacilos não são evidenciados ao HE, deve
ser realizado estudo IHQ complementar para diagnóstico diferencial com gastrites associadas à doença inflamatória intestinal crônica, infecção pelo vírus Epstein-Barr, doenças autoimunes, entre outras.
4- Nas gastrites crônicas inativas (sem neutrófilos)
com pesquisa de H. pylori pela HE negativa, só deve ser
realizado exame IHQ quando há folículos linfóides com
centros germinativos na amostra ou quando há úlcera
gástrica ou duodenal não associada a dano químico, ou
em casos de carcinoma ou linfoma MALT do estômago.
5- Em casos de morfologia normal, não há indicação de
exame complementar.
IHQ quando coexiste gastrite crônica ativa e não são
visualizados bacilos ao HE.
7- Tipos histológicos mais raros, como a gastrite linfocítica (>25 linfócitos/ 100células epiteliais), que pode
estar associada à infecção pelo H. pylori, devem ser
submetidos a exame IHQ complementar. Na gastrite
eosinofílica (>30 eosinófilos/ campo 400x), também há
indicação para exame IHQ.
8- Pólipos gástricos hiperplásicos inflamados ou amostras únicas de cárdia inflamada devem ser submetidos
ao exame IHQ, caso não tenham sido amostradas outras áreas da mucosa.
Esta revisão ressalta o papel crítico do patologista, definindo os padrões morfológicos de lesões, identificando o H. pylori sempre que possível pela HE, e realizando
o exame IHQ com as devidas indicações, com mínima
adição de tempo e de custo para atingir máxima eficiência ao oferecer informações decisivas para tomada
de conduta do clínico.
6- Em casos de gastropatia química, só realizar exame
Resposta: Qual é a sua opinião?
A radiografia de punho não mostrou alterações. Já no estudo ultrassonográfico, notam-se pequenos focos hiperecogênicos confluentes
no contorno dorsal do escafoide, sem sombra acústica posterior
significativa, concentrados na topografia da inserção do ligamento
intercarpal dorsal. As possibilidades diagnósticas de doença de depósito de hidroxiapatita de cálcio e fratura avulsiva podiam ser consideradas, no entanto o início espontâneo não traumático da dor e
a ausência de sombra acústica são fortes indícios contra a segunda
hipótese. Portanto, o diagnóstico de alteração inflamatória capsuloligamentar aguda secundária a depósito de hidroxiapatita de cálcio
foi considerado o mais provável e posteriormente confirmado pela
evolução clínica. As imagens A e B mostram a correlação do estudo
tomográfico confirmatório (A) com o estudo ultrassonográfico (B).
Depósito de cristais de hidroxiapatita de cálcio
A deposição de cristais de hidroxiapatita de cálcio pode ocorrer nos
tendões (tendinopatia cálcica), outros tecidos periarticulares (periartrite cálcica) ou mesmo intra-articular (artrite induzida por hidroxiapatita), todos podendo ser denominados como doença por depósito
por hidroxiapatita de cálcio (DDHC).
técnicas de alto custo e com acesso limitado, portanto os aspectos
radiológicos são fundamentais para estabelecimento do diagnóstico.
Os achados radiológicos são consequência do aumento da densidade (radiografia e tomografia computadorizada) ou da ecogenicidade
(USG) do tecido em que foram depositados os cristais, variando em
relação à sua quantidade. Além disso, são possíveis alguns padrões
evolutivos, desde regressão e desaparecimento, passando por estabilidade e terminando em um padrão de “maturação” da calcificação,
tornando-se mais densa e bem definida. Em casos de suspeita de
DDHC e achados radiográficos negativos, o estudo ultrassonográfico
mostra-se ferramenta eficaz na detecção dos cristais. O estudo de
ressonância magnética identifica o processo inflamatório associado,
no entanto tem menor acurácia na identificação dos cristais de cálcio.
O diagnóstico preciso e tratamento podem evitar a complicação mais
temida da DDHC, que é a artrite destrutiva em casos de deposição
intra-articular (síndrome de Milwaukee).
Acomete predominantemente pacientes de meia idade, mais frequentemente em homens e os sintomas podem incluir dor periarticular
aguda limitante não traumática, acompanhada de sinais flogísticos,
dor recorrente crônica ou até ser assintomática. Testes laboratoriais
são usualmente negativos devido às pequenas dimensões dos cristais
(75-250nm) e podem ser identificados à microscopia eletrônica de
transmissão (TEM) ou estudos de difração eletrônica, no entanto são
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
Visão Médica
27
EVENTOS
EM DESTAQUE
Agenda
REUNIÕES CIENTÍFICAS DO ALMOÇO
Coordenação - Instituto de Educação e Ciências em
Saúde (IECS) e Diretoria Clínica
Das 12h às 13h
Restaurante dos Médicos – Bloco B – 5º andar
27/03
Doenças Infecciosas e a Copa do Mundo
Stefan Cunha Ujvari
REUNIÕES CIENTÍFICAS
24/03
Reunião Mensal do CDI
Horário: 19h30 às 21h30
Bloco E – 1° subsolo – Anfiteatro
25/03
DBS E Parkinson – Aplicações, indicações e limitações.
Horário: 11h30 às 12h30
Bloco E – 1° subsolo – Anfiteatro
27/03
Melhores Práticas em Terapia Intensiva
Horário: 19h30 às 22h
Bloco E – 1° andar Subsolo - Anfiteatro
Todas as quartas-feiras
Reunião de Oncologia
Centro de Oncologia
Horário: 12h às 13h30
Sala 5 – (Próximo a entrada de funcionários)
EVENTOS CIENTÍFICOS
21 e 22/03
2º Simpósio Internacional de Nutrição Clínica Contempôranea
Horário: 18h às 20h (21/03) e das 08h30 às 17h (22/03)
Bloco E – 1º subsolo - Anfiteatro
07/04 – 10/04
Conferência Internacional de Telessaúde
Horário: 09h00 as 18h00
Bloco B – 14° andar – Anfiteatro
Telemedicina em debate
E
ntre os dias 7 e 10 de abril, o Hospital Alemão
Oswaldo Cruz sediará a Conferência Internacional em Telemedicina. Focado na evolução desta
tecnologia e suas aplicações no diagnóstico e terapia,
o evento, organizado pela Friedrich-Alexander-Universität
Erlangen-Nürnberg (FAU), com apoio do Ministério Federal de Educação e Pesquisa da Alemanha, reunirá especialistas de diversos países em torno do debate sobre os
novos recursos que, hoje, possibilitam consultas a distância e o acesso à segunda opinião de maneira remota.
“Além de experiências alemãs em telemedicina e telessaúde e
28
Visão Médica
do Programa de Telemedicina para Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs), realizado pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz
em parceria com o Ministério da Saúde, serão apresentados
outras iniciativas desenvolvidas pelos Hospitais de Excelência,
como parte do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), explica Dr.
Jefferson Fernandes, Superintendente de Educação e Ciências
do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e um dos coordenadores
do evento. Entre os temas desta Conferência estão a Terapia
On-line para Gagueira, Programas Brasileiros em Telessaúde e
Proteção e Segurança de dados na Telemedicina.
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
EVENTOS
EM DESTAQUE
Simpósio Internacional de
Nutrição clínica
A
Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
realizou, nos dias 21 e 22 de março, o II Simpósio Internacional de Nutrição Clínica Contemporânea.
Com a apresentação de trabalhos científicos, palestras e mesas-redondas focadas na importância e na
integração da Nutrição Clínica às mais diversas áreas
terapêuticas, o evento tem tudo para firmar-se como
um dos principais fóruns científicos sobre o tema.
Houve participação de especialistas do Hospital, assim como de profissionais de diversas regiões do País
e da Nutricionista Paula Alves, do Instituto Português
de Oncologia e da Universidade Católica de Porto.
“Um dos grandes trunfos deste nosso evento é
o trabalho multidisciplinar e multiprofissional.
Agregando o conhecimento de diversas áreas
sobre o impacto da terapia nutricional, conseguimos uma discussão muito mais abrangente
e consistente”, afirma Dr. Andrea Bottoni, Coordenador de Educação Médica do Instituto de
Educação e Ciências em Saúde (IECS) e um dos
coordenadores do Simpósio.
Endoscopia Terapêutica é
tema de Simpósio
N
o dia 15 de março, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz realizou seu IV Simpósio Internacional de Endoscopia Digestiva. O evento, que
contou com a coordenação do Serviço de Endoscopia Gastrointestinal da Instituição, teve a participação dos Drs. Alex Navarro, da Clínica Alemana de
Santiago, no Chile, e Daniel Cimmino, do Hospital
Alemán de Buenos Aires, Argentina, que, junto aos
profissionais brasileiros, debateram técnicas em endoscopia terapêutica nos hospitais alemães dos três
países.
Direcionado a médicos, clínicos, cirurgiões, fisiote-
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
rapeutas, enfermeiros, nutricionistas e profissionais
da área da saúde interessados no tema, o Simpósio
foi dividido em cinco módulos específicos. Os dois
primeiros trataram de temas relacionados à Endoscopia Digestiva Alta e os seguintes abordaram os
temas Colonoscopia, Colangiopancreatografia Endoscópica e Emergências Clinicas.
De acordo com Dr. Paulo Sakai, um dos idealizadores
do evento, o Simpósio apresentou importantes temas da endoscopia digestiva. “O intuito é direcionar
e facilitar a indicação deste método diagnóstico e
terapêutico na clínica diária, além de expor os mais
recentes avanços e potenciais desta especialidade.”
Visão Médica
29
COMISSÃO DE BIOÉTICA
Bioética Hospitalar e Educação
Dra. Janice Caron Nazareth
Cardiologista e Coordenadora da Comissão de Bioética do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
H
á imenso poder transformador no processo educativo. A educação vem
antes do progresso em qualquer
área da vida e é fundamental
para que ele ocorra. Esta verdade é conhecida ao longo da história, mas nem sempre vivenciada na rotina das sociedades
de uma forma geral.
Quando se trata de Bioética Hospitalar, que envolve a
discussão de fatos à luz de
aspectos socioculturais extremamente distintos e cujos protagonistas estão sob pressão
intensa de trabalho e doenças,
mister se torna adquirir, por
meio da educação, além dos
conhecimentos técnicos, meios psicológicos e filosóficos que permitam prevenir e lidar com a diversidade
de conflitos existentes.
30
Ver o cão devorando a lebre vorazmente foi chocante
para a plateia. Ninguém conseguia entender o que Licurgo desejava com tal agressão. Mesmo assim, ele
nada disse. Tornou a repetir o sinal para os criados e
a segunda lebre foi solta e, tal como a primeira, saiu
em disparada. A seguir, o outro cão foi solto.
Os mais sensíveis levaram as mãos aos olhos para
não ver mais uma lebre ser devorada. No primeiro
instante, o cão correu atrás da lebre para alcançá-la. Entretanto, em vez de mordê-la, bateu-lhe com
a pata. Logo a lebre ergueu-se e pôs-se a brincar
com o cão. Para surpresa de todos, os dois ficaram
a demonstrar tranquila convivência, correndo e brincando de um lado a outro do palco.
Somente depois das duas cenas, Licurgo falou: “Senhores, acabais de assistir a uma demonstração do
que pode a educação. Ambas as lebres são filhas da
mesma matriz, foram alimentadas igualmente e receberam os mesmos cuidados. Assim, igualmente,
os cães. A diferença entre os primeiros e os segundos é, simplesmente, educação”.
A fábula de Licurgo, legislador grego que viveu
cerca de 400 anos antes de Cristo, ilustra o poder
transformador que a educação oferece. Há relatos
de que, convidado a ministrar uma palestra sobre o
poder da educação, Licurgo solicitou que lhe dessem
seis meses para se preparar. O pedido foi considerado estranho, pois a capacidade de Licurgo para falar
sobre este tema, a qualquer momento era sabida. O
pedido foi aceito e a palestra foi marcada.
Prosseguiu, então, de forma segura e encantadora, falando da essência do processo educativo. “A
educação, baseada numa concepção exata da vida,
transformaria a face do mundo. Eduquemos nossos
filhos, esclareçamos sua inteligência, mas, antes de
tudo, falemos aos seus corações, ensinemos a eles
a despojarem-se das suas imperfeições. Lembremo-nos de que a sabedoria por excelência consiste em
nos tornarmos melhores.”
Passado o prazo, compareceu perante o público, tomou seu lugar à tribuna, enquanto entravam dois
criados, cada um trazendo duas gaiolas. Em cada
gaiola havia um tipo de animal, sendo duas lebres
e dois cães. A um sinal de Licurgo, um dos criados
abriu a porta de uma das gaiolas e a pequena lebre,
branca e frágil, saiu a correr em frente ao público.
Logo em seguida, o outro criado abriu a gaiola em
que estava o cão e este saiu atrás da lebre. Com
facilidade, alcançou a lebre e a comeu rapidamente.
A participação das atividades educativas oferecidas
pela Comissão de Bioética, em colaboração com a
Diretoria Clínica, o Instituto de Educação e Ciências
em Saúde (IECS) e algumas com o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP),
cuja programação será divulgada em cartazes pelo
Hospital, certamente será um importante arsenal
para a vida pessoal e profissional de todos os que
frequentam a Instituição.
Visão Médica
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
REUNIÕES
CIENTÍFICAS
Cirurgia Robótica no
Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Dr. Carlo Camargo Passerotti
Coordenador Cirurgia Robótica Hospital Alemão Oswaldo Cruz
A
prática da cirurgia robótica, também conhecida
como cirurgia laparoscópica assistida por robótica, iniciou-se no Brasil em 2008, após nove
anos de existência nos Estados Unidos. E assim como
ocorreu lá, com uma rápida aceitação e difusão da
técnica, no Brasil os passos também demonstram-se
crescentes, apesar de um pouco mais lentos.
Atualmente, com uma população de aproximadamente 310 milhões de pessoas, os Estados Unidos
possuem cerca de 2.000 robôs instalados, enquanto
em nosso país, com cerca de 200 milhões de habitantes, funcionam apenas 10 máquinas.
As cirurgias que utilizam essa ferramenta têm deixado a ficção e, cada vez mais, incorporado novas
tecnologias. Atualmente, os equipamentos mais
modernos contam com diversos “acessórios” que,
acredito, sejam peças importantes para evolução
da prática operatória, a qual já é feita da mesma
maneira por mais de um século.
Ferramentas como duplo console, facilitando tanto
o treinamento médico quanto a segurança do paciente; imagem em “full HD”; utilização de marcadores com fluorescência, as quais, em um futuro próximo, poderão minimizar lesões teciduais, por meio da
melhor identificação das estruturas; a utilização de
equipamentos de “single port”, permitindo a cirurgia
a ser realizada por um único orifício.
As técnicas de fluorescência já se encontram disponíveis com marcadores de vasos e linfonodos, visando
permitir mais precisão em sua identificação. Com essa
tecnologia, injetamos esses marcadores específicos e,
por meio de um comando no robô, conseguimos visualizar com clareza a anatomia desses órgãos marcados.
edição
Fev/•Mar
edição18
14••Jan/
Janeiro
2013• 2014
Os custos dos procedimentos
robóticos também estão se
aproximando da realidade. Antigamente
os valores eram absurdos. Uma prostatectomia robótica, por
exemplo, custava em
torno de R$ 40 mil.
Nos dias atuais, o procedimento é realizado
por, aproximadamente, metade deste valor, sendo que muitos
planos de saúde arcam com a maior parte e o paciente acaba
desembolsando menos que R$ 6 mil.
Apesar de todas as
facilidades produzidas
pelo método, é importante ressaltar que o
equipamento não realiza cirurgias sozinho e, portanto, é necessário investir em treinamento do médico e
da equipe para a realização de qualquer procedimento, estando o seu sucesso diretamente ligado à experiência do cirurgião, como em qualquer outra técnica.
Esta capacitação segue protocolos estabelecidos e
conta com, treinamentos on-line, em animais e cirurgias sob a supervisão de profissionais com mais experiência. Mas, mais do que a simples certificação, é
de extrema importância que a prática seja contínua e
frequente para a melhoria dos resultados.
Visão Médica
31
REUNIÕES
CIENTÍFICAS
Fibrilação Atrial: tema de destaque
no I Simpósio de Hipertensão e
Arritmias Cardíacas
Dr. Francisco Darrieux
Coordenador do Centro de Arritmologia do Instituto de Medicina Cardiovascular do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
F
oi realizado com sucesso, no final do ano de 2013, o
I Simpósio de Atualização em Hipertensão e Arritmias
Cardíacas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. No encontro, que tinha o objetivo de ampliar o debate sobre estas duas
subespecialidades, os destaques foram os inúmeros avanços
no manuseio da hipertensão arterial, das arritmias e suas implicações mutuas. Os Drs. Pedro Graziosi, do Instituto de Medicina Cardiovascular, e Luiz Bortolotto, do Centro de Hipertensão, também participaram da organização do evento.
Entre os temas debatidos, pode-se destacar a Fibrilação Atrial
(FA), tanto pela sua importante prevalência, sobretudo em idosos, como pela sua interface com a hipertensão arterial. A FA
é a arritmia sustentada mais frequente na prática clínica. Considerada uma arritmia dinâmica, é quase sempre associada a
outras comorbidades clínicas, em especial a hipertensão arterial essencial, doença arterial coronária, insuficiência cardíaca
e síndrome plurimetabólica, incluindo a obesidade e apneia
obstrutiva do sono. Acrescenta-se o fato que a incidência da
fibrilação atrial está relacionada ao aumento da expectativa de
vida da população mundial, já sendo considerada pela Organização Mundial de Saúde uma doença de proporções endêmicas.
Estima-se que um em cada quatro indivíduos, em sua história
natural de vida, terá pelo menos um episódio de fibrilação atrial.
Esta arritmia tem como condição clínica o fato dos batimentos cardíacos ocorrerem de modo desordenado, arrítmico ou caótico. Os pacientes podem ser desde assintomáticos até apresentarem sintomas
de palpitações arrítmicas, cansaço, tonturas e, infelizmente, o AVC
(acidente vascular cerebral). Este último é uma das complicações mais
temidas na FA, com potencial para causar sequelas neurológicas, que
vão da incapacidade motora até os quadros de demência cerebral.
O tratamento de pacientes com FA envolve três objetivos não mutuamente excludentes: controle da frequência, prevenção de tromboembolismo e correção do ritmo. O tratamento inicial envolve uma
estratégia para controle do ritmo ou da frequência. Na estratégia
de controle da frequência, a frequência ventricular é controlada sem
32
Visão Médica
o compromisso de restaurar ou manter o ritmo sinusal, enquanto a
estratégia de controle do ritmo visa restaurar e/ou manter o ritmo
sinusal. Essa última estratégia também requer atenção especial com
o controle da frequência cardíaca. A decisão de opção por deixar o
paciente em FA permanente (controle da frequência cardíaca) ou em
FA paroxística (controle de ritmo), nem sempre é tão simples, pois
devem ser levados em consideração os sintomas, a faixa etária, o
grau de remodelamento atrial esquerdo, as tentativas pregressas de
controle do ritmo, a disponibilidade de recursos e acesso às novas
terapias, bem como a preferência do paciente.
A maioria dos pacientes que tem FA acaba passando por um verdadeiro ensaio e arsenal terapêutico. Especialmente quando os
pacientes com FA estão na fase produtiva da vida, a FA pode ser
um “fardo” em suas vidas, gerando idas frequentes aos serviços
de emergência ou limitações que afetam a qualidade de vida. A
técnica de ablação com radiofrequência, originalmente criada em
Bordeaux-França, há cerca de 20 anos, e aprimorada nos últimos anos, está disponível no Centro de Arritmologia do Hospital
Alemão Oswaldo Cruz, e visa restaurar e manter o ritmo normal
(sinusal) do coração, com apossibilidade de suspensão ou redução do uso de fármacos antiarrítmicos, com grande possibilidade
de melhora na qualidade de vida. O paciente precisa fazer uma
espécie de “check-list” antes de ser submetido a este procedimento invasivo, o que é feito no Centro, para aumentar as possibilidades de sucesso e redução de complicações, que são pouco
frequentes, e recorrências. No período de internação, que dura
em média 48 horas, o paciente é submetido ao ecocardiograma transesofágico (para excluir a presença de trombos no átrio
esquerdo), seguido do procedimento de ablação com cateter de
radiofrequência, feito por acessos vasculares, com duração variável de 2 a 4 horas, com o paciente sedado, sob anestesia geral.
Após o procedimento, o paciente recebe alta nas próximas 12 a
24 horas, com reavaliações técnicas nos primeiros 6 a 12 meses,
além do retorno periódico ao seu médico que o acompanha. Vale
ressaltar que num paciente com FA as demais situações clínicas,
quando presentes, precisam estar em permanente vigilância com
o cardiologista ou clínico que faz o seu seguimento.
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
REUNIÕES
CIENTÍFICAS
Profilaxia para
Tromboembolismo
Pulmonar e Trombose
Venosa Profunda
Dra. Lílian Petroni Paiva
Médica-residente do Programa de Residência Médica em Medicina Intensiva
do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Q
uando falamos de pacientes internados com
TEP, diagnóstico e tratamento eficientes são
essenciais. E tão importante quanto o diagnostico e o tratamento é a identificação dos pacientes de
alto risco para TEP/TVP, bem como a prevenção quando
possível. Para a realização da profilaxia primária, deve-se
lançar mão de métodos altamente eficazes e com baixo
risco de efeitos colaterais. TEP constitui uma das principais causas evitáveis de morte em pacientes internados.
A fim de identificar os indivíduos que se beneficiam da
profilaxia, os paciente devem ser avaliados de acordo com seus fatores de risco ao longo da internação.
A profilaxia deve ser considerada para indivíduos com
mais de 40 anos, que apresentem mobilidade reduzida
e tenham, aos menos, um dos fatores de risco para TEP:
infecção, insuficiência cardíaca, IAM, doenças respiratórias agudas, AVC, doenças reumatológicas, doença
intestinal inflamatória, TEP prévio, cirurgia ou trauma
recente, obesidade, presença de cateter, dentre outros.
A profilaxia para TVP pode ser realizada com terapias
farmacológicas e não farmacológicas. As meias de
compressão e os compressores pneumáticos reduzem a
estase venosa e são efetivos em reduzir o risco de TEP,
principalmente em pós-operatório, chegando a diminuir
o risco no pós-operatório em até 50%, sendo uma opção
para aqueles pacientes com contraindicação à profilaxia
farmacológica. Como limitação a sua eficácia estão as
retiradas por desconforto e mobilizações fora do leito.
A profilaxia química pode ser realizada com heparina
não fracionada (HNF), heparinas de baixo peso mole-
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
cular (HBPM) e com fondaparinux.
Baixas doses de heparina reduzem
as taxas de TEP total em 47% e
TEP fatal em 64% no pós-operatório. Não há diferença entre as
profilaxias com HNF e HBPM, entretanto, aqueles que
receberam HBPM tiveram uma menor taxa de sangramentos maiores, como sangramentos de SNC (RR
0,48; IC 95%, 0,23-1,0). Dados obtidos de revisões da
Cochrane mostraram que o uso de anticoagulantes
reduziram as taxas de TEP em 40% e TVP em 79%, no
entanto, com aumento nas taxas de sangramento no
SNC, aumento que não fora visto no uso das HBPM.
Na ausência de contraindicações, recomenda-se a
profilaxia com HNF, HBPM ou fondaparinux. A HNF
apresenta um menor custo a HBPM e a fondaparinux
tem um custo maior, mas podem ser administradas
uma vez ao dia. Todos esses agentes mostraram-se efetivos em reduzir o risco de tromboembolismo venoso. Para aqueles pacientes que apresentam
sangramento gastrointestinal ativo, sangramentos
de SNC ou aqueles com alto risco de sangramento o
uso de meias compressoras ou compressores pneumáticos mostraram-se uma boa alternativa.
Associação entre profilaxia química e mecânica ainda
é bastante questionável, mas deve ser considerada
para alguns grupos de alto risco, muito embora não
haja evidencia clara na literatura dos seus benefícios.
Quanto aos novos anticoagulates, como a rivaroxabana e dabigatrana, podem ser considerados em subgrupos específicos, porém são necessários mais estudos.
Visão Médica
33
Conheça os nossos centros de
EXPEDIENTE
Especialidades
• Centro de AVC
• Centro de Tratamento ao Tabagismo
• Centro de Check-up
• Clínica Médica
•Centro de Cirurgia Robótica
• Instituto da Mulher
•Centro de Diabetes
• Centro de Endoscopia
• Centro de Excelência em Cirurgia
Bariátrica e Metabólica
´Centro de Nefrologia e Diálise
• Centro de Nutrição
• Centro de Oncologia
•Centro de Ortopedia
- CIAMA (Cuidado com a saúde da mama)
- Centro de Ginecologia
• Centro de Geriatria e Gerontologia
• Instituto de Medicina Cardiovascular
- centro de Arritmologia
- centro clínico de Cardiologia Geral
- Centro Diagnóstico de Cardiologia Não Invasiva
- Centro de Hipertensão Arterial
- Centro de Intervenção Cardiovascular
- Centro de Marca-Passo
• Instituto da Próstata e Doenças Urinárias
• Centro de Procedimentos Minimamente
Invasivos de Coluna
EXPEDIENTE
A revista “Visão Médica” é uma publicação trimestral direcionada ao Corpo Clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Comitê Editorial: Dr. Jefferson Gomes Fernandes (Editor-Chefe), Dr. Andrea Bottoni, Dr. Claudio José C. Bresciani, Dr. Luis Fernando Alves
Mileo, Dr. Marcelo Ferraz Sampaio, Dr. Mauro Medeiros Borges, Dr. Stefan Cunha Ujvari, Dra. Valéria Cardoso de Souza e Dr. Vladimir Bernik.
Gerência de Marketing: Melina Beatriz Gubser
Projeto Gráfico e Edição de Arte: Diego Bieliauskas Ferreira
Coordenação Editorial: Aline Shiromaru
Jornalista responsável: Wagner Pinho - MTb 39525
Fotos: Banco de imagens do Hospital e Shutterstock
Tiragem: 2.500 exemplares
34
Visão Médica
edição 18 • Jan/ Fev/ Mar • 2014
Evolucao
Novos Fluxos e Acessos. Expansão e organização.
Com o objetivo de aperfeiçoar a mobilidade nas áreas internas,
frente à expansão do Bloco E e o aumento da população circulante,
iniciam-se em 10 de março as transformações em fluxos e acessos.
Resultado das opiniões colhidas nos Fóruns Médicos e de exigências da
Joint Comission International a reorganização interna é indispensável e
reforça o compromisso com a evolução da instituição.
São novas recepções e sinalização, processos aprimorados e, acima de tudo,
mais segurança. Colaboradores, pacientes, visitantes, médicos e demais
públicos passam a ter uma melhor experiência em nosso Hospital.
Principais melhorias do Projeto de Fluxos e Acessos.
Novas recepções nos Blocos A e B
para cadastro de todos os públicos
Otimização de vagas com uso
de manobristas - todos os públicos
Estacionamento para Médicos
no Bloco E (via Maestro Cardim)
Nova Área de Relacionamento Médico
no 2º subsolo do Bloco E
Serviço de entrega de Jalecos Médicos
Novo sistema de Biometria para Médicos
Eliminação de diversas catracas internas
Nova retirada de veículos no Bloco A
Mais informações no Relacionamento Médico (2º Subsolo Bloco E).
Unidade Paraíso
Rua João Julião, 331 • São Paulo • SP
Unidade Campo Belo
Av. Ver. José Diniz, 3.457 • São Paulo • SP
Exames e Consultas:
11 3549-1000
www.hospitalalemao.org.br
Coracão
Diretor Clínico - Hospital Alemão Oswaldo Cruz: Dr. Marcelo Ferraz Sampaio - CRM 58952
Instituto de Medicina Cardiovascular
Uma grande estrutura para você exercer sua principal vocação, cuidar.
O Instituto de Medicina Cardiovascular reúne as áreas de Cardiologia Clínica, Diagnóstica e Intervencionista.
Nele é possível realizar desde consultas e exames, até tratamentos de alta complexidade
e intervenções cardiovasculares percutâneas e cirúrgicas. O Instituto se ramifica em diversos Centros, trabalhando
de forma integrada à UTI Cardiológica, ao Centro Cirúrgico e ao Pronto Atendimento.
• Centro Diagnóstico de Cardiologia Não Invasiva • Centro de Intervenção Cardiovascular • Centro Clínico
de Cardiologia Geral • Centro de Arritmologia • Centro de Hipertensão Arterial • Centro de Marca-Passo
Uma das principais funções do Instituto é oferecer toda sua estrutura e suporte ao médico usuário
do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
INSTITUTO DE MEDICINA
CARDIOVASCULAR
Download