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Anotação de Enfermagem: Retrato da Prática de
Enfermagem de um Pronto Atendimento
Nursing Note: Picture of Nursing Practice of a
Emergency Care
Maria Silvia Teixeira Giacomasso Vergílio, Eliete
Maria Silva, Larissa Rogrides de Jesus, Dalvani
Marques
Beatriz Araújo Seignemartin
Enfermeira do serviço de educação permanente
Irmandade de Misericordia- Hospital São Francisco,
Americana, SP, Brasil
[email protected]
Faculdade de Enfermagem
Universidade Estadual de Campinas.
Campinas, SP, Brasil.
[email protected]; [email protected];
[email protected]; [email protected]
Resumo — Pesquisa qualitativa realizada com equipe de
enfermagem de um Pronto Atendimento-PA de hospital
universitário com os objetivos: apresentar os resultados da
auditoria das anotações de enfermagem na ficha de atendimento de
enfermagem, discutir as causas das inadequações e identificar
soluções. Coletou-se os dados em quatro grupos, utilizando-se
fotografias como facilitadoras para as discussões e como estímulo
para a proposta de soluções. Como resultados foram definidas
quatro categorias: condições institucionais para comunicação
escrita; organização e dinâmica do trabalho; atitude da equipe de
enfermagem e sugestões para a melhoria da anotação no PA.
Ressalta-se que usar imagens foi eficiente para estimular as
discusses em grupo. Faz-se necessário sensibilizar a equipe de
enfermagem da importância da anotação, provendo condições
estruturais, materiais e de supervisão para que possa ser efetiva e
com qualidade.
I.
INTRODUÇÃO
As anotações de enfermagem consistem um dos principais
meios de comunicação entre a equipe de saúde e está
diretamente relacionada com a segurança e qualidade da
assistência prestada, pois além de indicar as ações,
procedimentos e orientações prestadas aos pacientes
possibilitam informações para sua continuidade e planejamento
de acordo com às suas necessidades [1,2].
Para tanto, seu conteúdo deve ser registrado de forma
cronológica, descritiva e narrativa, como também refletir as
condições bio-psico-sócio-espirituais do paciente. Para não se
perder detalhes importantes, anotações devem ser feitas logo
após a realização de cada ação, em impresso próprio,
identificado e arquivado no prontuário do paciente [3,1].
Anotações feitas de forma adequada favorecem
informações para o prosseguimento do cuidado, otimizando
tempo, reduzindo custo, evitando processos de trabalho
inadequados, garantindo assim, a qualidade dos serviços de
saúde [3].
Palavras Chave - registros de enfermagem; avaliação em
enfermagem; cuidados de enfermagem.
Abstract - Qualitative research with nursing staff of a emergency
care of university hospital with the objectives: to present the
audit results of nursing notes in the nursing care record, discuss
the causes of the inadequacies and identify solutions. The data
was collected into four groups, using photographs as facilitators
for discussions and as a stimulus for the proposed solutions. As
results four categories were defined: institutional conditions for
written communication; organization and work dynamics;
attitude of the nursing staff and suggestions for improving the
annotation in emergency care. It is noteworthy that use images
were efficient to stimulate discussions in groups. It is necessary to
sensitize the nursing staff of the importance of annotation,
providing structural, materials and supervision for it to be
effective and with quality.
Outra forma de qualificar as práticas de enfermagem se dá
por meio de pesquisas, que avaliam os aspectos positivos e
negativos da conduta adotada. Assim, as anotações com
conteúdo deficiente podem prejudicar também a coleta de
dados para pesquisas. Letra ilegível, falta de data e hora, bem
como outras informações incompletas, impossibilitam ao
pesquisador saber em que momento ocorreu determinado fato
descrito, ou mesmo compreender o tipo de tratamento/cuidado
prestado ao paciente e os resultados obtidos por ele [1].
Outro aspecto a ser considerado na importância de
anotações eficientes é a questão da legalidade do atendimento
prestado. Atos e atitudes dos profissionais são passíveis de
questionamento por parte dos pacientes e familiares. Estes
questionamentos podem constituir processos éticos/legais,
Keywords - nursing records; nursing assessment; nursing care.
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quando envolvem imprudência, negligência ou a imperícia
profissional. A análise dos registros feitos nos prontuários
possibilitam verificar os procedimentos/orientações realizados
nos pacientes durante a internação hospitalar, deste modo
respaldam ética e legalmente o profissional responsável pelo
cuidado[1,4].
Realizou-se uma auditoria retrospectiva em 168 prontuários
nos registros da ficha de enfermagem do PA comparando-os a
um padrão estabelecido com base nas recomendações da
literatura e legislação do Conselho Profissional. Os resultados,
deste estudo, mostraram que as anotações se encontravam
incompletas, em não conformidade com os padrões
estabelecidos e também haviam ausências de informações
sobre a assistência prestada [7].
Assim, anotações podem esclarecer fatos e fornecer dados
para investigação de eventos adversos para os pacientes,
familiares, sociedade e para órgãos fiscalizadores.
Apesar dos resultados do estudo citado [7] apontar
deficiências nas anotaçoes na ficha de atendimento do PA, a
percepções das pesquisadoras e das orientadoras, que
conheciam o trabalho cotidiano da equipe de enfermagem, foi
de que os dados auditados não correspondiam à real assistência
prestada às pacientes e acompanhantes nesta unidade. Portanto,
a motivação para esta pesquisa foi dar a devolutiva dos
resultados da auditoria da ficha de enfermagem para a equipe e
foi estabecido como objetivos: apresentar os resultados da
auditoria, discutir as causas das inadequações e identificar
soluções para a sua melhoria.
Quando encontra-se uma anotação incorreta, incompleta,
falseada ou inexistente dos fatos relacionados aos pacientes,
pode caracterizar um delito e acarretar punições previstas tanto
na Lei do Exercício Profissional da Enfermagem, bem como no
Código Penal Civil Brasileiro [1,5].
Para dar direcionamento criterioso à maneira de
documentar as práticas de enfermagem foi aprovada e
homologada a Resolução do Conselho Federal de
Enfermagem-Cofen 429/2012 que dispõe sobre o registro das
ações profissionas no prontuário do paciente e, em outros
documentos da enfermagem seja por meio tradicional ou
eletrônico inerentes aos processos do gerenciamento do
trabalho e do cuidar necessarios para assegurar a continuidade
e a qualidade da assitencia [6].
II.
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa. O
cenário da investigação foi o Pronto Atendimento-PA de um
hospital universitário de média e alta complexidade do Estado
de São Paulo vinculado integralmente ao Sistema Único de
Saúde. Sua missão é atender mulheres em situação de
urgência/emergência nas especialidades de ginecologia,
oncologia ginecológica, e obstetrícia oferecendo um
atendimento acolhedor, humanizado e de qualidade para
usuárias e acompanhantes. No ano de 2013 foram realizadas
20.420 consultas médicas [11].
A busca premente pela qualidade e segurança da assistência
prestada pela equipe de enfermagem e saúde, direciona seus
gestores a obterem informações sobre o cuidado prestado para
avaliar seus resultados e assim, planejar melhorias continuas
com os recursos disponíveis. Para tanto, necessitam de
informações que podem ser obtidas por meio dos registros da
prática profissional nos prontuários, sistemas informatizados,
formulários, fichas e outros documentos que o serviço de saúde
dispuser para esta finalidade.
A equipe de enfermagem do PA era formada por sete
enfermeiros assistenciais e 16 técnicos em enfermagem
coordenados por um enfermeiro supervisor para o atendimento
nas 24 horas. Foram sujeitos deste estudo 18 profissionais da
equipe de enfermagem sendo seis enfermeiros (um enfermeiro
se encontrava de licença maternidade) e 12 técnicos de
enfermagem (dois técnicos estavam de férias e dois afastados
por licença saúde) que participaram dos grupos após a leitura,
compreensão e assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
O prontuário do paciente é instrumento legal, mais utilizado
em processos judiciais e fonte valiosa de pesquisas para coletar
informações, análise e avaliações sobre resultados da
assistência prestada. Em auditorias realizadas em prontuários,
frequentemente são detectadas ausências de dados da
assistência prestada rotineiramente aos pacientes e
acompanhantes, bem como informações que possam esclarecer
condutas e ações realizadas pela equipe de saúde da unidade
onde o paciente foi atendido [7].
Para a coleta de dados, foram realizados quatro grupos, um
para cada turno de trabalho (manhã, tarde e dois noturnos) no
mês de outubro de 2012. Os grupos foram conduzidos por duas
pesquisadores, uma coordenou e a outra fez observações e
anotações das falas dos participantes.
Mesmo sabendo da importância da anotação como
ferramenta indispensável ao serviço para a comunicação,
avaliação do trabalho da equipe e respaldo legal, estudo sobre
o assunto, mostra que os profissionais não fazem anotações
adequadas de seu atendimento, nem observam as normas da
legislação ou mesmo não consideram os registros como uma
prática a ser realizada no cotidiano do trabalho[8].
Primeiramente foi realizada uma apresentação dos dados
para o supervisor de enfermagem desta unidade e, em conjunto
foram estabelecidos as estratégias para devolutivas dos
resultados para toda equipe de enfermagem da unidade. Foram
agendadas datas para a realização dos grupos no horário de
trabalho dos plantões, da manhã, tarde e dois noturnos, com
apoio do supervisor que esteve presente em todos os momentos
assumindo a assistência da unidade para viabilizar a
participação dos profissionais. As reuniões foram gravadas,
exceto duas que não houve a permissão de alguns profissionais.
Considerando a relevância deste tema para a prática clínica,
ensino, pesquisa de enfermagem e o entendimento que a
qualidade dos registros não dependem exclusivamente dos
impressos e sim da supervisão e atitude dos profissionais, foi
realizado um estudo prévio para avaliar a qualidade das
anotações de enfermagem realizadas no Pronto AtendimentoPA de um Hospital Universitário [7].
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Baseou-se
na
pedagogia
problematizadora
para
fundamentação teórica nos grupos, pois se reconhece que a
educação deve acontecer na realidade cotidiana. A situação
apresentada é reconhecida como indesejada, deste modo é
discutida e resolvida ou melhorada. O protagonismo, deste
processo são dos próprios profissionais que passam a ser
responsáveis pelas propostas de mudanças. As pesquisadoras
são os agentes facilitadores da reflexão e da discussão para
direcionar a busca de propostas viáveis de solução [9].
pensamentos, ações e sentimentos que expressavam a realidade
dos profissionais servindo para explicá-la e questioná-la [12].
Para preservar a identidade dos participantes foi atribuído
um número para identificá-los, separando os profissionais em
enfermeiros e técnicos de enfermagem.
Ressalta-se que foram seguidas as condições éticas para a
pesquisa sendo aprovado sob parecer CEP n° 777/2011 pelo
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade Estadual de Campinas.
As reuniões para dar a devolutiva dos dados da auditorias
das anotações da ficha de enfermagem do PA se iniciaram com
sensibilização do grupo sobre a importância da anotação, uma
vez que os dados apontavam para deficiencias nos registros.
III.
RESULTADOS
Foram realizados quatro grupos de discussão com 85,7% de
enfermeiros e 81,25% dos técnicos de enfermagem do total da
equipe do PA.
Utilizando-se como estratégia fotos antigas (com cerda de
10-15 anos) de profissionais que fazem ou fizeram parte da
equipe de enfermagem do PA ou da instituição.
Dos 18 participantes, seis eram enfermeiras, com idade
variando entre 30 a 62 anos e tempo de trabalho na unidade
variando entre 04 a 22 anos. Dos técnicos de enfermagem
participantes, 09 eram mulheres e três homens, com idade
variando de 26 a 66 anos e tempo de trabalho na unidade entre
02 a 12 anos.
A escolha por esta estratégia permitiu um certo relaxamento
e atitude colaborativa, pois fotografias são uma forma de
registro que permanecem ao longo do tempo eternizando um
momento desejado. Ao admirar as fotos da unidade e colegas
recordaram histórias, pessoas e organizaram lembranças e
sentimentos positivos em relação a diferentes experiências com
a dimensao do tempo e espaço [10] .
Apresentamos a seguir os resultados das análises dos
conteúdos expressos pelos participantes nos grupos, quanto aos
motivos para a deficiência da anotação de enfermagem
classificados em três categorias e as sugestões propostas[12].
Neste momento foi valorizada a situação apresentada,
estimulando aos participantes a reconhecerem as pessoas, o
ambiente, o momento e o tempo (anos) da existência dos
retratos. Em seguida foi comparado a oportunidade de reviver
um momento do passado registrado pelos retratos com as
anotações do trabalho realizado pela equipe de enfermagem. As
anotações feitas nos impressos arquivados nos prontuários
podem ser revistas e analisados várias vezes ao longo do
tempo, por vários motivos e por diversos profissionais.
A. Categoria 1 - Condições Institucionais para a
comunicação escrita.
Apontam deficiências de equipamentos, da estrutura física
com a falta de espaços para que a equipe possa se acomodar
para realizar as anotações, além de a “ficha de atendimento do
PA” que por ser um impresso tipo check list apresenta falta de
um campo para assinatura e também para registrar
procedimentos e observações.
No momento seguinte, foi apresentado os resultados da
auditoria realizada em 168 fichas de enfermagem-PA
arquivadas em prontuários [7]. Os participantes sensibilizados
pelo momento anterior, de rever as fotos de momentos do
passado, se encontraram relaxados, desarmados e estimulados a
discutir os motivos das falhas existentes nas anotações de
enfermagem. A pergunta disparadora foi “Porque vocês acham
que acontece isto?
“A falta de estrutura da unidade também prejudica a anotação.
Temos apenas um computador no posto de enfermagem, o qual as
enfermeiras usaram para anotar triagens. Os técnicos ficam sem
ter onde anotar os procedimentos” [Técnico de enfermagem 4].
Relatam que ao longo do tempo foram realizadas várias
reformas para acomodar a demanda crescente, como
consultório médico, recepção, sala para procedimentos e não
houve a preocupação de um espaço para a equipe de
enfermagem.
No momento seguinte as discussões, lhes foram perguntado
“O que vocês acham que poderia ser feito para melhorar a
anotação de enfermagem”?
Existem outros instrumentos para a anotação, como o livro
de plantão, o sistema informatizado e as fichas abertas para as
pacientes da obstetrícia. Observa-se que dados registrados são
repetitivos sem acréscimo de informação e há dificuldade para
resgatar estes documentos, pois quando a paciente não é
internada, estas fichas são arquivadas no Serviço Arquivo
Médico e Estatistica-SAME sem possibilidade de acesso no
momento do retorno da paciente.
Para a análise do conteúdo dos comentários e contribuições
dos participantes foram seguidas as fases de pré-análise,
exploração do material, tratamento/organização, classificação
em categorias e interpretação. Para tanto, as fitas gravadas
foram ouvidas e transcritas, bem como o conteúdo registrado
pela observadora dos grupos[12].
Foram
definidos
quatro
categorias:
Condições
Institucionais para a comunicação escrita, Organização e
dinâmica de trabalho, Atitude da equipe de enfermagem e
Sugestões para a melhoria da anotação no PA. As categorias
trabalhadas foram de representação social, entendidas como
“Com a mudança das fichas de plantão para o programa
informatizado que é online, perdeu-se o costume de anotar, já que
esse sistema é falho para a enfermagem, faltando espaço para
anotar a admissão, consulta de enfermagem e os procedimentos
realizados para a paciente” [Enfermeira 1].
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“Funcionário novo teve um desestímulo, pois fazia o que foi
orientado e o resto do grupo o criticava” [Enfermeira 4].
O sistema informatizado referido, desenvolvido sem a
participação da enfermagem, não tem campos adequados para
os registros dos procedimentos realizados pela equipe de
enfermagem durante o período do atendimento das pacientes,
possuindo apenas o espaço para anotar o motivo da consulta
feito no acolhimento.
A falta de comunicação entre as equipes também é
apontada como atitudes dificultadoras da anotação,
principalmente quando a paciente é dispensada pelo médico
sem ser informada a equipe de enfermagem.
B. Categoria 2 - Organização e dinâmica de trabalho
Foi apontado pelos participantes que outro motivo para a
falta de registros é demanda de atendimentos onde é priorizado
a realização de procedimentos, mediante prescrição médica ou
verbal da enfermeira sem tempo para efetivar os registros,
principalmente ações de orientação e atendimento á
acompanhantes. Nesta perspectiva apontam para um
dimensionamento inadequado de pessoal considerando a
complexidade do serviço de urgência/emergência.
D. Sugestões para a melhoria da anotação no PA
A equipe de enfermagem do PA aponta à necessidade de
processo de mudança para conscientização da prática das
anotações, como relatado a seguir,
“A dinâmica do serviço não deve ser desculpa para não
anotarmos o que fazemos para as pacientes. É necessária a
conscientização de todos os profissionais da enfermagem para
que isso mude e as anotações melhorem” [Enfermeira 4].
Há necessidade de ampla discussão desde a ficha utilizada,
o conteúdo a ser registrado e a dinâmica que atendam a
especificidade do pronto atendimento.
A falta de uma escala de trabalho determinando as
atividades diárias [recepção, sala de observação, coleta de
exames, sala de urgência] para direcionar o trabalho dos
profissionais em determinados locais .
“É necessário um impresso que atenda as necessidades do PA, de
fácil preenchimento, fácil visualização e com espaço adequado
para as anotações, mas anotação do PA não deve ser comparada
com as anotações das enfermarias, pois a dinâmica do trabalho é
diferente” [Técnica de enfermagem 2]
“O processo de trabalho não está bem estabelecido, ou seja, não
há escala diária de trabalho “o paciente é de todos e de ninguém”
As pessoas não sentem que aquele paciente é sua
responsabilidade o que também dificulta a anotação” [Técnico de
enfermagem 3].
Propuseram realizar grupos de discussão sobre “o que
anotar” para cada especialidade [da obstetrícia, oncologia e
ginecologia] e por categoria profissional para que os registros
auxiliem na continuidade da assistência da paciente na sua
internação. Para isto, nestes grupos também teriam
representantes de todas as unidades do hospital para que as
anotações sejam coerentes para um atendimento integral e
minimizaria o efeito da assistência fragmentada e setorizada.
Nesta unidade foi relatado que existe uma valorização da
passagem de plantão oral em detrimento da comunicação
escrita. Na passagem de plantão é respeitada pelas equipes [que
estão saindo e outra que está chegando] que ficam atentas as
informações, porém a maioria delas não foi registrada.
C. Categoria 3- Atitude da equipe de enfermagem
A falta de adesão e motivação dos profissionais para
anotarem na ficha de enfermagem-PA foi apontada, mesmo em
dias onde há pouca demanda de atendimentos
“O hospital como um todo é multifacetado, cada equipe de cada
setor atende e anota de um jeito para cada especialidade de
paciente” [Enfermeira 3].
Solicitar computadores exclusivos da enfermagem, ter
pranchetas presas nas macas da sala de observação e
corredores, para colocar os impressos de atendimento às
pacientes, facilitariam a anotação de toda equipe de
enfermagem e a comunicação com outros profissionais da
saúde do PA.
“Não importa a quantidade de funcionários que estão
trabalhando, se há o hábito de anotar, iremos anotar mesmo só
com dois técnicos trabalhando, pois isso se torna uma rotina, mas
os funcionários não dão devida importância para a sua anotação,
e por isso não se esforçam para anotar” [Enfermeira 3].
Outro fator apontado como desmotivador para o hábito da
anotação cotidiana é a falta de um “feedback” positivo sobre
acertos ou erros.
Desenvolver escalas diárias de trabalho para que os
técnicos fiquem responsáveis pelas tarefas e anotações dos
procedimentos nas diversas salas da unidade. Esta escala
também facilitaria a supervisão das anotações e treinamento
para aprimorá-la.
“Falta de “feedback” positivo desde a implantação da ficha de
atendimento de enfermagem” [Enfermeira 4].
Também o jogo de interesses, estabelecendo relações de
poder, entre a equipe de enfermagem [enfermeiros x técnicos;
funcionários novos x mais antigos], onde o enfermeiro solicita
e anota no final do plantão as informações transmitidas pelos
técnicos.
“Alguns enfermeiros não gostam e não permitem que o técnico de
enfermagem anote na ficha de atendimento de enfermagem do PA,
o que deixa a anotação defasada”. [Técnico de enfermagem 1].
Nesta relação de interesses os mais novos na unidade são
desestimulam pelos mais velhos a não realizarem uma
anotação completa, por causa da demanda e falta de tempo.
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IV. DISCUSSÃO
A equipe de enferamgem do PA refere que o sistema é
fechado e, que apesar de várias solicitações para adequação às
suas necessidades, não foi possível atendê-las.
Percebeu-se pelos resultados que, nas três primeiras
categorias, que há comprometimento de um dos aspectos
primordiais da anotação que é a comunicação entre as equipes
de saúde para a continuidade da assistência. Principalmente
nesta unidade de pronto atendimento onde as pacientes
retornam com frequência até sua internação para parto ou para
a continuidade de tratamento oncoginecológico.
Nesta situação percebe-se que as relações de poder de
lideranças formais institucionais também são destacadas como
fatores desmotivadores para uma anotação de qualidade e
geradoras de tensão, pois a implantação de sitemas de
informação nao devem ser apenas para atender a um grupo
específico, mas todos os seus usuários[14].
No ambiente hospitalar deve existir domínio da
comunicação, tanto oral, mais principalmente a escrita. Os
registros em prontuários facilitam informações para
planejamento e execução da assistência, dissipam dúvidas pela
leitura e permanecem guardados para investigações.
Os resultados deste estudo não se mostraram diferentes,
daqueles que foram realizados desde a década de 90 que
mostram deficiências, incompletudes e falta de qualidade [1516]. A sua contribuição direciona para a necessidade da gestão
em enfermagem direcionar esforços para rever esta prática
além dos impressos e capacitações.
Estudos realizados com o objetivo de avaliar a qualidade
dos registros de enfermagem apontam para falhas e
inadequações [2,7,13], porém a de se considerar que
independente de impressos ou fichas, as anotações dependem
mais dos profissionais que as realizam.
A falta de estrutura
elementos dificultadores
mas não superam a
comunicação adequada
para a assistência.
Deste modo, compreender o processo de trabalho para dar
condições para a equipe viabilizá-la nas relações do cotidiano,
no provimento da estrutura física, além de um programa de
educação permanente que constantemente avalie e promova
discussões sobre a qualidade dos registros e a implicação de
cada profissional nesta prática.
física, computadores, impressos são
da manutenção do habito de anotar,
responsabilidade profissional pela
assegurando qualidade e segurança
V.
CONCLUSÕES
Considera-se muito positiva a escolha da estratégia da
fotografia para a sensibilização dos participantes nos grupos de
devolutivas dos resultados de auditoria das fichas de anotação
de enfermagem, pois possibilitou conhecer expressões e
sentimentos motivados, inicialmente, pelas imagens
fotográficas que proporcionaram um momento lúdico,
descontraído, facilitador , sem constrangimentos ou discussões
tensas.
Lembrando das questões ético legais, o prontuário é
instrumento de defesa e acusação, o que não foi registrado não
há como provar que foi realizado. Inclusive é relevante
registrar as dificuldades no atendimento do plantão como falta
de pessoal, infra-estrutura de atendimento (roupas, salas,
medicamentos, escolta para exames, cadeiras) e outras
ocorrências que dificultaram o atendimento para a defesa da
equipe e auxiliar no processo gerencial que deve se respaldar
em dados anotados ao realizar as providencias cabíveis.
A fotografia funcionou como um atrativo, onde os
participantes deslocaram-se da formalidade, abriu-se o diálogo
e a participação espontânea, se mostrando abertos inclusive
para as sugestões, entendendo a importância da discussão da
prática de anotar.
Na quarta categoria “Sugestões para a melhoria da
anotação no PA”, a equipe aponta a necessidade de
reorganização do processo de trabalho com proposta de fazer
uma escala diária do trabalho assistencial, grupos de discussão
para a orientação da anotação e aposta em feedback cotidianos
para avaliação dos registros.
Após os resultados apresentados, a equipe de enfermagem
concluiu que as anotações de enfermagem não retratam a
assistência realizada pelos profissionais às pacientes e seus
acompanhantes diminuindo o reconhecimento e valorização
profissional.
Percebe-se que a equipe está preocupada em mudanças
significativas nesta prática negligenciada e apesar de alguns
referirem que o plantão é “ corrido e tumultuado” e não há
tempo para anotar, outros consideram que isto dificulta a
visibilidade do trabalho realizado.
Para mudar esse quadro, a equipe de enfermagem do PA,
tem uma valiosa contribuição para a gestão da unidade
sugerindo medidas que possam minimizar as causas das
deficiências. Dessa forma, a enfermagem terá sua identidade
mais clara e maior autonomia no cuidado demonstrando uma
assistência de excelência.
Azevedo etal (2012), em estudo para conhecer a percepção
de profissionais de enfermagem sobre seus registros concluem
que embora os profissionais atribuam importância aos
registros, esta prática não vem sendo devidamente observada
[8].
Nos relatos aparecem o sistema informatizado, que deveria
ser um meio facilitador, como um obstáculo, principalmente
dos registros dos técnicos de enfermagem. Neste caso merece
reflexão as atitudes institucionais de terceirização dos serviços
onde não há a participação da enfermagem ou profissionais
envolvidos no processo de trabalho que vai ser modificado.
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Educação e Saúde – FACES. Curso de Enfermagem, Brasília, 2013.
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