Narrado por: Adeilton Lima A maioria dos contos aqui apresentados

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Narrado por: Adeilton Lima
A maioria dos contos aqui apresentados foi selecionada
a partir do livro E Pensar Que um Dia meus Cabelos
Eram Verdes, do autor. Os poemas são inéditos.
© by Otacilio Souza – 2009
Ficha Técnica
Arte da capa Editoração eletrônica Arte Final
Revisão
Narração
Gravação de voz
Trilha sonora
Supervisão Michelle Cunha
Flávio Lopes da Silva
Thiago Sarandy
O Autor
[email protected]
Adeilton Lima
[email protected]
Stúdio Beco da Coruja - André Togni
[email protected]
A partir de peça de J. S. Bach - Daniel Baker Méio
[email protected]
Victor Tagore
ISBN: 978-85-7062-901-2
S729c
Souza, Otacilio
Conto e com verso / Otacilio Souza; contém compact disc
narrado por Adeilton Lima. — Brasília: Thesaurus, 2009.
48 p.; CD
1. Literatura, Brasil. 2. Conto brasileiro. 3. Poesia
brasileira. I. Título
CDU
CDD
82 (81)
869 B
Todos os direitos em língua portuguesa, no Brasil, reservados de acordo com a lei. Nenhuma parte
deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo
fotocópia, gravação ou informação computadorizada, sem permissão por escrito do Autor.
THESAURUS EDITORA DE BRASÍLIA LTDA. SIG Quadra 8, lote 2356 - CEP 70610-400 Brasília, DF. Fone: (61) 3344-3738 - Fax: (61) 3344-2353 * End. Eletrônico: editor@thesaurus.
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Composto e impresso no Brasil
Printed in Brazil
Sumário
PRIMEIRA PARTE
CONTOS
faixa 1 – O Soltador de Pipas e Outras Presas................... 7
faixa 2 – Menino de Rua..................................................... 10
faixa 3 – O Uirapuru e o Urubu........................................ 11
faixa 4 – A Gestação da Alma............................................ 13
faixa 5 – O Plantador de Alfaces e Outras Coisas........... 15
faixa 6 – Bicho Papão.......................................................... 17
faixa 7 – O Afogador de Mágoas e Outras Coisas........... 19
faixa 8 – O Sapo................................................................... 22
faixa 9 – O Barco................................................................. 23
faixa 10 – Não Há Vagas..................................................... 25
faixa 11 – Pegar em Almas e Outras Coisas..................... 26
faixa 12 – O Parto................................................................ 28
faixa 13 – O Guardador de Cheiro de Chuva
e Outras Coisas.................................................. 30
SEGUNDA PARTE
POEMAS
faixa 14 – Mudez................................................................. 35
faixa 15 – Volta à Poesia..................................................... 36
faixa 16 – Saber das Águas................................................. 37
faixa 17 – Revoga as Disposições em Contrário............. 38
faixa 18 – À La Carte.......................................................... 40
faixa 19 – Promessa............................................................. 41
faixa 20 – Ora Vê Só............................................................ 43
faixa 21 – O Melhor Amigo............................................... 45
faixa 22 – Oferenda............................................................. 46
faixa 23 – Roçar................................................................... 47
faixa 24 – Lua Biógrafa (Narrada pelo Autor)....................... 48
PRIMEIRA PARTE
CONTOS
fa ixa 1
O Soltador de Pipas
e Outras Presas
Quando pegou o primeiro passarinho na arapuca,
o coração do menino não se contentou em bater forte,
apenas; quis ir para fora a fim de ver de perto a pequena
ave. Já subindo garganta acima, foi contido pelo dono que
o acalmou como pôde, tentando mostrar-lhe que outros
passarinhos viriam e era prudente, para não dizer sábio,
que guardassem as emoções para os demais também. O
coração insistiu, argumentando que tinha razões que a
própria razão desconhecia e, portanto, não devia satisfação a um mero principiante a pegador de passarinho. O
menino não gostou do pouco caso e contra-argumentou
que ser principiante a pegador não era demérito para ninguém e que não havia como pegar o segundo sem antes
pegar o primeiro. Também ele não era neófito nesta espécie de emoção? O coração aceitou a ponderação porque
era prudente, para não dizer sábio, que tivesse boa relação
com seu dono, já que pretendia estar com ele muito tempo
ainda. E juntos foram ver o pássaro que caíra na armadilha. O passarinho, coitado, nem nome tinha e pouco tempo
ficou na gaiola, por não se adaptar à prisão ou por não ser
7
de canto mesmo. Se ele não canta, pensou o menino, há
de servir para outra coisa, porque um passarinho tem de
servir para alguma coisa e uma gaiola não há de ser o local propício a sua utilidade. A arapuca, dada a rusticidade
com que foi construída, não tinha a forma piramidal que
um geômetra gostaria que tivesse, mas serviu para a captura de muitos outros pássaros. A cada captura, o coração
do menino viajava goela acima e a história se repetia com
repetidos e também novos argumentos. E assim, com arapucas e outros processos mais eficientes, uma bela coleção
de canários, pintassilgos, coleirinhas, curiós, bicudos e
sabiás foi formada. O menino se orgulhava de sua coleção.
Mas não era só de pegar pássaros que ele vivia, não. Vivia
também de jogar pião, bola, ir à escola, nadar no açude, de
ganhar puxões de orelha da mãe, etc. E de soltar pipas.
Era no soltar pipas que o menino se soltava, libertando-se de tudo que o prendia e o tolhia em seus movimentos, sua iniciativa, vontades. O vento que levantava a pipa
era o mesmo que levava para os ares seu coração com toda
sua imaginação, sonhos, anseios. Nestas horas, ele e o coração entravam em plena harmonia e as emoções ignoravam
fronteiras. O mesmo fio que os separava, menino e pipa, os
unia na comunicação e troca de energia. Horas a fio, menino, fio e pipa se completavam. Bastava um puxãozinho de
nada em uma ponta e a pipa respondia na outra, balançando o rabo como um cão fiel e virando cambalhotas num
verdadeiro balé aéreo. Difícil saber é se era o menino que
empinava a pipa ou a pipa que empinava o menino. A con8
centração era tanta que o tempo passava sem que ele percebesse. Isto lhe custara caro muitas vezes, porque o resto
de sua vida de menino não podia parar: deveres de casa,
obrigações escolares, essas coisas. E tome puxão de orelha!
Fundamental mesmo era estar ali voando com a pipa. E
os telegramas? O autêntico soltador de pipas tem de soltar
telegramas também. É claro que o menino não iria deixar
de mandá-los como mandava a tradição. Um pedacinho de
papel era enrolado no fio e o vento se encarregava de leválo até a pipa. O papelzinho sempre subia, nunca descia.
Certa vez, após passar um telegrama, sua pipa foi
abordada por um passarinho. O menino estranhou, pois
em geral os pássaros se assustavam com as pipas. Este, não,
foi chegando devagar e com o bico sacou o papel, ficando
com ele um instante, devolvendo-o depois à pipa. Desta
feita, pela primeira vez, o papelzinho desceu e com mensagem escrita. Dizia assim: “Que prazer estranho sentem os
homens e os meninos em prenderem os passarinhos! Não
será porque têm inveja de nós por não saberem voar? E o
que fazem? Prendem os pássaros, que estão soltos e soltam
as pipas, que poderiam ficar presas.”
Menino e coração se olharam e em silêncio ficaram
por algum tempo, em reflexão. A pipa foi recolhida. O coração se recolheu, sentindo-se pequeno. Os olhos do menino não resistiram e soltaram duas lágrimas. E ele foi até sua
casa: abriu as gaiolas e soltou todos os passarinhos.
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