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Atendimento odontológico ao paciente com demência
(Alzheimer) na fase leve: orientações clínicas1
Aline Santos Bruni
Ana Paula Ribeiro do Vale Pedreira
Luciana Freitas Bezerra
Alexandre Franco Miranda
Resumo: A população de idosos no Brasil está em constante crescimento,
devido a uma melhora na qualidade de vida. Esse processo de envelhecimento
é capaz de proporcionar mudanças no organismo, desencadeando algumas
enfermidades características da terceira idade, como por exemplo, a demência.
É uma desordem neurodegenerativa, de caráter crônico e progressivo, que
afeta as funções corticais cerebrais, resultando na perda de memória,
linguagem e orientações. Os pacientes com demência necessitam de
estratégias específicas no tratamento odontológico, cabendo ao cirurgiãodentista reconhecer as fases da doença para um correto planejamento em
saúde. O objetivo deste trabalho foi enfatizar o atendimento odontológico ao
idoso com Alzheimer na fase leve, de maneira a contribuir com breves
orientações de como assistir esses pacientes de maneira multidisciplinar,
interligando a família e os cuidadores, a fim de proporcionar uma saúde e uma
qualidade de vida digna a esse grupo populacional.
Palavras-chave: Demência; Doença de Alzheimer; Saúde Bucal; Qualidade de
1
Artigo apresentado como requisito para aprovação do Trabalho de Conclusão de Curso
(Odontologia) da Universidade Católica de Brasília (UCB) – 2.2012.
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vida.
Introdução
O
Brasil, no passado, foi considerado um país de jovens, porém essa
situação demográfica vem mudando gradativamente de acordo com as
projeções da OMS (IBGE, 2008).
Fato este credibilizado pelo aumento da expectativa de vida, melhoramentos
nos serviços de saúde e avanços tecnológicos, que proporcionaram um maior
acesso da população brasileira aos benefícios nutricionais e a educação. 1,2
De acordo com as projeções futuras, correspondentes aos anos de 2025-2030,
poderemos ser considerada a sexta maior população de idosos no mundo. 1,2,3
O envelhecimento acarreta mudanças no organismo do indivíduo e,
geralmente, se associa a enfermidades características da velhice. Sendo as
atitudes preventivas focadas numa correta alimentação e atividades físicas
importantes atitudes no surgimento dessas doenças. 4
Dentre as principais doenças relacionadas destacam-se as cardiopatias,
artrites, nefropatias, diabetes, osteoporose e desordens neurodegenerativas
como, por exemplo, a Doença de Alzheimer. 2
O Mal de Alzheimer é uma síndrome decorrente de uma doença cerebral,
usualmente de natureza crônica ou progressiva, na qual há perturbação de
múltiplas funções corticais superiores a começar pela memória, incluindo
distúrbios do pensamento, orientação, compreensão, cálculo, capacidade de
aprendizagem, linguagem e julgamento. 1,5,6
O cirurgião-dentista deve estar atento e atuar no atendimento ao paciente
portador dessa enfermidade de maneira específica e individualizada,
principalmente no reconhecimento das fases (inicial, intermediária e final)
dessa doença, objetivando a realização de planejamento e execução de uma
correta intervenção em saúde bucal, a partir de um planejamento
multidisciplinar. 7
O presente trabalho tem como objetivo abordar algumas breves orientações,
condutas e manejo clínico no atendimento odontológico ao paciente com
demência (Alzheimer) em fase inicial.
Revisão da literatura e Discussão
Os estágios iniciais do Alzheimer são caracterizados pela perda da memória
recente, como o esquecimento; o paciente apresenta dificuldades na retenção
de novas informações; não possui habilidade em aprender coisas novas; se
inicia algumas dificuldades na sua própria higienização, na qual destacamos a
manutenção de uma correta saúde bucal. 8,9,10.
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Assim que o diagnóstico da Doença Alzheimer neste estágio é confirmado,
esse paciente pode ser atendido em um consultório odontológico, visando o
tratamento preventivo, adequando o meio bucal e melhorando a fisiologia do
sistema estomatognático, de modo a orientar as pessoas que estão
responsáveis em cuidar do paciente, cuidadores e ou familiares. 9
É importante ressaltar que, com a progressão da doença, as visitas ao
consultório odontológico se tornam mais difíceis, por isso é de extrema
importância a realização de um planejamento preventivo em saúde bucal. 9
É necessário que o cirurgião-dentista esteja preparado para lidar com algumas
alterações bucais específicas do paciente idoso e sua relação com as
principais enfermidades sistêmicas que acometem essa população como a
deficiência nutricional ou de vitaminas, diabetes, hipertensão, osteoporose,
infecções sistêmicas, radioterapia, doenças pulmonares e desordens
neurodegenerativas. 3
De acordo com Rosa et al. (2008), Miranda et al. (2010), Oliveira et al. (2011),
o paciente com Alzheimer na fase inicial começa a apresentar uma dificuldade
na higienização bucal, e alterações específicas na cavidade bucal como a
redução na capacidade gustativa, diminuição do fluxo salivar, aumento das
lesões cariosas, dificuldade na deglutição, sensação de boca seca e acúmulo
de placa bacteriana (doenças periodontais).
A interdisciplinaridade é de suma importância para o profissional da saúde dos
dias atuais, pois deve atuar em uma equipe de saúde integrada em que a
valorização de todos os profissionais envolvidos priorize a promoção de saúde
e qualidade de vida dessa população com demência. 7,12
Para atuação odontológica, e em saúde, com as diversas especialidades
direcionadas para a assistência ao idoso com demência na fase leve, podemos
atuar com uma equipe composta por médico geriatra, neurologista e
cardiologista com o objetivo de estar a par de todas as condições sistêmicas do
paciente, uso de medicamentos e evolução de uma possível enfermidade. A
presença de um psicólogo e auxiliar de enfermagem podem contribuir no apoio
à família desses pacientes, uma vez que muitos familiares desconhecem as
próprias características da demência, sua evolução e como atuar corretamente.
12
Dentre as principais medicações atuantes no retardamento do quadro
demencial, destacam-se os fármacos inibidores da enzima acetilcolinesterase
que alteram por sua vez a função colinérgica central, ou seja, inibem as
enzimas que degradam a acetilcolina, responsável pelo estímulo dos
receptores nicotínicos e muscarínicos cerebrais. 10
Os antidepressivos (são mais usados os inibidores de serotonina), ansiolíticos
e antipsicóticos têm o objetivo de reduzir as alucinações, agressividades e
outros comportamentos que surgem com a evolução da doença. 12,13
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Segundo Goiato (2006), os antidepressivos utilizados são principalmente
inibidores de serotonina, e apresentam como principal efeito colateral a
interação com a epinefrina utilizada como vasoconstritor em alguns anestésicos
locais. Dessa forma Henry e Wekstein (1997), salientam a importância do uso
de anestésicos sem vasoconstritor. 14
As pessoas responsáveis pelo cuidado do idoso com Alzheimer devem receber
instruções e treinamentos para viabilizar a criação de meios e/ou dispositivos
facilitadores na higienização bucal como, por exemplo, a utilização de uma
escova dentária que melhor se adapte ás necessidades do paciente, seja ela
escova elétrica, com angulações ou com empunhaduras diferenciadas. 2,8
Segundo Varjão (2006), a utilização de passadores de fio dental, escovas
interdentais e limpadores de língua, também, podem ser alternativas viáveis na
manutenção da saúde bucal desses pacientes, porém sempre associados a
uma correta e eficiente higienização bucal.
Todas as instruções relacionadas com a higienização devem ser aplicadas nas
próteses dentárias, a partir do uso de uma escova própria para limpeza das
mesmas, higienizando-as após cada refeição e, principalmente, devem ser
removidas durante a noite e colocadas imersas em água e solução
antisséptica. 2,12
Devemos condicionar o paciente nessa fase, e seus responsáveis, para que se
mantenha uma boa saúde bucal, principalmente na utilização de estratégias de
educação em saúde específicas e individualizadas, a fim de se manter, na
medida do possível, uma condição de saúde satisfatória. 9,10
Conclusão
Conclui-se que a elaboração de protocolos específicos nas fases da demência
é de extrema importância na orientação dos profissionais da odontologia,
demais áreas da saúde envolvidas e familiares.
Na fase leve da demência é o melhor momento de se atuar nas medidas
clínicas e preventivas em odontologia, pois o paciente se encontra mais
receptivo, cooperativo e participante do tratamento.
As ações odontológicas na fase inicial do Alzheimer visam à eliminação de
possíveis focos inflamatórios, infecciosos e de dor que possam interferir na
qualidade de vida desses idosos.
Referências
1. GOIATO, Marcelo Coelho et al.;. Odontogeriatria e a Doença de Alzheimer.
Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada, João Pessoa,
REVISTA PORTAL de Divulgação, n.25. Ano III.Set. 2012 http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php
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v.6, n.2, p. 207-212, mai./ ago; 2006.
2. OLIVEIRA, Raquel et al. Status as Saúde Bucal em Pacientes com
Demência Senil. Revista Odontologia Brasil Central, Goiânia, v.20, n. 53, p.
114-118, 2011.
3. SILVA, Andréia Lobato da; SAINTRAIN, Maria Vieira de Lima. Interferência
do perfil epidemiológico do idoso na atenção odontológica. Revista
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Della; ELIAS, Roberto. Doença de Alzheimer: Protocolo de atendimento
odontológico.
CISPRE,
2006.
URL:
http://www.cispre.com.br/acervo_print.asp?Id=52. Acessado em 08 Mai
2012.
8. DIAS, Mirtes Helena Mangueira da Silva; FONSECA, Suzana Carielo da. O
Atendimento de Pacientes com Doença de Alzheimer na Clínica
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Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, v.5, n.13, p. 34-39, ago. 2011.
9. MIRANDA, Alexandre Franco; MIRANDA, Maria da Penha Araújo Franco.
Doença de Alzheimer e Práticas de Atenção à Saúde Bucal- Relato de
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91-98. mai; 2008.
10. SANTIAGO, Eduardo; SIMÕES, Ricardo Jorge Pires; PEREIRA, José
António Lobo. A Saúde Oral na Doença de Alzheimer. Arquivos de
Medicina, v.22, n.6, p. 89-193, 2008.
11. ROSA, Lâner Botrel et al. Odontogeriatia - a saúde bucal na terceira idade.
Revista da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, São Paulo, v.13,
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12. VARJÃO, Fabiana Mansur. Assistência Odontológica para o paciente
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Sul, v.21, n.53, p. 284-288, Jul./set; 2006.
13. SERENIKI, Adriana; VITAL, Maria Aparecida Barbato Frazão. A doença de
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Data de recebimento: 19/07/2012; Data de aceite: 22/08/2012
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Aline Santos Bruni - Acadêmica do 8° semestre do curso de Odontologia da
Universidade Católica de Brasília (UCB). E-mail: [email protected]
Ana Paula Ribeiro do Vale Pedreira – Professora do curso de Odontologia da
UCB; Doutoranda em Ciências da Saúde – UnB.
Luciana Freitas Bezerra – Professora do curso de Odontologia da UCB;
Mestre em Ciências da Saúde – UnB.
Alexandre Franco Miranda - Professor do curso de Odontologia da UCB;
Doutorando
em
Ciências
da
Saúde
–
UnB.
E-mail:
[email protected]
Universidade Católica de Brasília (UCB) – Curso de Odontologia – Disciplina de
Odontogeriatria – Campus I – QS 07 Lote 01 EPCT, Águas Claras – CEP:
71966-700 – Taguatinga/DF – (61) 3356-9612.
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