Sistema Modal de Transportes no Município do Rio de Janeiro: a modernização dos eixos de circulação na cidade carioca para a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Aluno: Danilo Munhoz Alves Corrêa Orientador: Prof. Dr. Augusto César Pinheiro da Silva 1- Introdução Para a elaboração de sistema de transporte modal no Município do Rio de Janeiro que comporte eventos de grande porte como uma Copa do Mundo de Futebol e uma Olimpíada, os atuais problemas pelos quais passa o sistema de transporte urbano da cidade têm que ser pensados pelo poder instituído. Reordenar o espaço de circulação da cidade gerará transformações no espaço geográfico carioca e afetará os futuros investimentos na cidade, devido à logística pensada e materializada no seu território político-administrativo. A partir desta perspectiva, os olhos dos pesquisadores do espaço geográfico devem estar voltados para os futuros investimentos que serão realizados pelos gestores municipais que atinjam a rede de transporte da cidade, além de se entender a natureza das políticas públicas sobre a mobilidade urbana. Esses eventos vão trazer muitos investimentos para a cidade, principalmente em relação ao transporte, um quesito fundamental para os organizadores, tanto pela FIFA, órgão que conduz o futebol mundial, quanto ao COI (Comitê Olímpico Internacional). Deve-se, portanto, realçar a importância dos fatores econômicos na localização das vias e os fatores expressos em termos de custos desses investimentos. A fragmentação que ocorre na cidade em relação à oferta de transporte público também tem que ser considerada pelos gestores municipais, criando infraestrutura não só nos núcleos centrais e nos bairros de classes mais altas, como também em todo território carioca. Com esta percepção do espaço de circulação, entende-se a necessidade de verificação das relações entre os diferentes atores e agentes presentes no território da cidade do Rio de Janeiro. 2 – Desenvolvimento Este presente trabalho buscará caracterizar o espaço da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, suas dimensões físicas, os municípios, sua geomorfologia, o histórico de ocupação, sua atual infraestrutura, sua logística interna e seu contexto político-econômico, com o intuito de, observando estas dimensões do espaço geográfico, compreender a essência das diversas tensões materializadas no território fluminense, dirigindo as análises ao planejamento de transportes da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Um segundo objetivo é apontar outros exemplos bem sucedidos de Planejamento e Gestão de transportes visando os megaeventos Departamento de Geografia em outros países e o exemplo do Pan-americano, realizado em 2007 no Rio de Janeiro, sinalizando para os fatores que fizeram com que estes outros espaços tivessem suas principais tensões gradativamente superadas. Neste sentido, a dialética entre espaço e tensões permeia todo o debate realizado neste trabalho. Cabe justificar, portanto, que este segundo objetivo não se trata de meras comparações de modelos de Planejamento e Gestão, nem tampouco da importação de modelos, mas, pelo contrário, apenas que exemplos internacionais e nacionais de gestão de transportes servirão como referência e recurso didático para a compreensão de como políticas públicas e a participação popular podem ser mecanismos efetivos na gestão. A própria dinâmica que se pretende desenvolver neste trabalho impõe também um movimento de leitura numa outra perspectiva: a de compreensão do espaço geográfico como categoria analítica capaz de explicar e de promover a superação das múltiplas tensões materializadas historicamente no território. Neste sentido, destacam-se as contribuições de Santos (1985 e 1996) sobre os elementos do espaço e sua conceituação a respeito da natureza do conceito de espaço, compreendido por este autor como “um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações” (1996 p. 63). Corrêa (1995) aborda as diferentes concepções de espaço vinculadas às diversas correntes do pensamento geográfico e apresenta o que entende por práticas espaciais. Neste sentido, entendendo o espaço como um produto de relações que estão embutidas em práticas materiais que devem ser efetivadas, o espaço está sempre no processo de fazer-se, jamais acabado, numa simultaneidade de histórias. O reconhecimento de características particulares do espaço pode fornecer novas possibilidades à esfera do político é fundamental para a discussão a respeito das múltiplas tensões presentes. O investimento que o município receberá para realização dos projetos transformará radicalmente o espaço geográfico do Rio de Janeiro, ora, tendo em vista que o espaço geográfico é composto segundo Milton Santos (1996) por sistemas de objetos e sistemas de ações, sendo estes indissociáveis. O sistema de objetos seria composto pelos objetos naturais, que alguns autores denominam como coisas e, os objetos fabricados pelo homem. Os sistemas de ações seriam inerentes ao indivíduo que ao criar um objeto é dotado de uma intencionalidade, para a prática de uma ação. Com isso em mente, podemos entender que o espaço carioca será modificado, com o intuito de atender as necessidades requeridas para a implementação de novas redes de transportes, resultando no melhoramento da locomoção dos habitantes e dos turistas. Tais modificações espaciais irão impactar diretamente nas transformações tanto nos aspectos físicos (os naturais e os não-naturais), quanto nos aspectos socioeconômicos. Assim, alguns locais do município se valorizarão com os investimentos, com possíveis novas moradias, melhoria nos aspectos socioeconômicos, urbanização e etc. 2 Departamento de Geografia lugares que antes não eram ocupados ou então pouco ocupados e desvalorizados serão modificados ou revitalizados. A logística pensada e materializada no território político-administrativo carioca tem que ser pensada como um todo. As relações de poder de cada região, zona ou bairro no município tem que ser enfatizada, para que não haja desigualdades, problemas em relação a impactos socioespaciais das possíveis intervenções, etc. Além disso, os futuros investimentos que serão realizados pelos gestores municipais com as parcerias privadas, caberão contrapartidas de cada lado, visando o melhor pra cada um. Ocorrendo uma disputa de como será o trajeto, por qual local deverá passar, qual local será mais vantajoso financeiramente, podendo deixar de lado as melhores soluções para atender o maior número de pessoas. Faz-se necessário entender como se dão essas relações de poder nos territórios e definir o que é esse conceito tão amplo. Neste relatório nos deteremos à noção de território de Marcelo Lopes de Souza e Rogério Haesbaert. É necessário explicitar também que como é um artigo em fase inicial, só se pretende discutir como se dá essa relação de poder inicialmente sem apontar quem possui maior ou menor contribuição no território. A análise, segundo o autor Marcelo Lopes de Souza, onde o mesmo faz uma abordagem interessante sobre o conceito de território e para tentarmos desvincular o território apenas como o território do Estado Nação, mas mostrando que há várias formas de território, de territorialidades por diferentes grupos sociais. Inicialmente, o autor coloca o fato de que todo o território mantém relações de poder. A questão primordial é saber quem domina ou influencia esse espaço. Posteriormente, o autor nos alerta para a questão de como entender esse conceito de poder, que também é bastante amplo. Na verdade há uma confusão no que realmente seja o conceito de poder, já que o poder não é de um indivíduo, o poder na verdade é garantido por certo número de indivíduos que investiram nessa pessoa e permitiram que atuassem em seu nome. Se há violência para manter esse poder é porque o poder já está abalado. Tendo isto posto, é possível falar agora em território, O território não existe apenas com a sua base material, o que realmente faz com que o território exista são as relações sociais que são estabelecidas dentro desse território, nesse sentido, há diferentes territorialidades, que se criam, recriam, acabam. Por muito tempo discorreu a falar de território só no âmbito político, esquecendo que, antes de tudo, o território é construído socialmente e é nesse enfoque que Lopes focaliza seu texto. Rogério Haesbaert faz uma introdução sobre a amplitude do conceito território, que tem sido empregado livremente sem se fazer uma referência adequada sobre qual território está se apontando. Na Geografia, área que nos interessa, só para se ter noção de tal amplitude, o 3 Departamento de Geografia território tem seis definições, onde o autor em síntese colocou três vertentes básicas, a saber, político, cultural e econômica. Neste relatório, nos deteremos às definições de território político e econômico. A partir das definições de território apresentadas acima pode-se perceber nitidamente uma correlação entre os agentes que contribuem para a construção do espaço geográfico carioca. Ora, no aspecto econômico vislumbra-se a ação da dos moradores de cada área do município, na tentativa de maximização dos ganhos a partir da (re) estruturação do território em si. Já no aspecto político, passa a existir uma maior participação da prefeitura do município na tentativa de se auto-afirmar como gestora do espaço municipal sem prestar conta à população e o possível embate com o poder privado nas futuras construções e no planejamento urbano. Neste trabalho também buscarei compreender as políticas públicas sobre mobilidade urbana, no qual são instrumentos muito importantes para a definição das condições de vida na cidade. Entender essas políticas e suas conseqüências é essencial para avaliar como as decisões passadas e as futuras podem influenciar na infraestrutura de transportes e no ambiente de circulação de uma cidade. Segundo Vasconcellos (2001), “é necessário analisar como se relacionam os vários agentes que interferem na produção e no uso do espaço urbano e do espaço de circulação, assim como nas decisões políticas de transporte e transito” (p.34). Portanto, políticas e investimentos sociais podem introduzir as melhorias necessárias para que os menos favorecidos disponham de melhores oportunidades em todas as situações. Neste sentido, as políticas públicas de transporte urbano constituem um instrumento muito importante para apoiar o gerenciamento do crescimento urbano e a melhor distribuição da riqueza. 3 - Objeto de estudo O objeto de estudo deste presente trabalho é o sistema de transporte do município do Rio de Janeiro e a sua utilização pela população. Estudar as transformações da malha de transporte e a sua logística, visando aos futuros eventos que ocorrerão na cidade do Rio de Janeiro. 4 – Objetivo O principal objetivo da pesquisa é analisar a natureza dos investimentos da gestão municipal do Rio de Janeiro em relação ao sistema de transporte, visando a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e as Olimpíadas em 2016, identificando os impactos socioespaciais das possíveis intervenções no espaço, que afetarão a população da cidade e de outros municípios 4 Departamento de Geografia da Região Metropolitana. Projetos considerados estratégicos pelas autoridades e pelo Comitê Organizador Local (COL), como o Arco Metropolitano, que criará um cinturão de comunicação de 145 Km entre as principais vias do estado facilitando a circulação de automóveis e caminhões dentro da cidade do Rio de Janeiro, a expansão do Metrô com a construção da linha 4 (Zona Sul – Barra), a linha 1-A, ligando São Cristóvão, da linha 2 à Central do Brasil, da linha 1, a criação de corredores de ônibus articulados, os Bus Rapid Transit (BRT), com a TransOlímpica, que vai ligar a Barra da Tijuca à Deodoro, dois pólos esportivos para as Olimpíadas; a TransOeste, que prevê a construção do Túnel da Grota Funda ligando a Barra da Tijuca à Santa Cruz e Campo Grande e a TransCarioca, que ligará a Barra da Tijuca ao Aeroporto Internacional do Galeão, na Ilha do Governador, a modernização dos trens e das estações da SuperVia ( empresa que controla o sistema de trens da Região Metropolitana do Rio de Janeiro); são os focos dessa reorganização para além da cidade. Além dessas obras, a questão ambiental no uso de transportes sustentáveis é de suma importância para a população do Rio de Janeiro, junto com a questão do bilhete único intermodal, que gera economia e agilidade de circulação para a população e o projeto – Rio Capital da Bicicleta, que visa programar ciclovias na cidade carioca interligando com outros sistemas de transporte. Imagem 1: Trajeto da linha 4 do metrô do Rio de Janeiro. Fonte: http://memoria722.blogspot.com/2011_04_01_archive.html (Acesso em 21/05/2011) 5 Departamento de Geografia Imagem 2: Trajeto da TransOeste. Fonte: Jornal O Globo. 5 – Justificativa As transformações socioespaciais proporcionadas pelas relações entre os agentes de políticas públicas têm suma importância para o contribuinte da cidade, que precisa participar, de maneira mais atuante, sobre as decisões sobre a sua circulação no espaço. Os novos empreendimentos têm de ocorrer de maneira transparente para que, de fato, as transformações esperadas na logística de transporte da cidade possam contemplar, de maneira mais equânime, os diferentes espaços do Rio de Janeiro. Outro motivo para o desenvolvimento deste estudo é devido à grande insatisfação da população com os transportes públicos na cidade e região metropolitana, região que é pouco integrada ao contexto da circulação de pessoas desde a sua formação em 1975. A situação caótica de circulação intra e interurbana precisam ser foco hoje de políticas públicas condizentes com as necessidades e potencialidades do povo e do espaço carioca e fluminense, para que as distâncias sejam relativamente reduzidas e a qualidade da circulação dos cidadãos possa ser ampliada e articulada por diversos meios de transporte. 6 Departamento de Geografia 6 – Metodologia Para a realização do presente trabalho será realizado uma análise bibliográfica inicial, que possibilite o melhor entendimento das distribuições das vias e da formação histórica da cidade e de sua articulação viária com o entorno. Além disso, a consulta dos editais das obras e os fatos jornalísticos que contribuem diretamente para a análise dos impactos sobre o território serão valorizados para que as dinâmicas atuais sejam entendidas em sua totalidade. 7 - Considerações Finais A circulação na cidade do Rio de Janeiro e dela para outras no seu entorno metropolitano é uma das piores do mundo. Muitas localidades e regiões não são conectadas com eficiência e segurança como conseqüência da ausência de planejamento e ações públicas que não pensaram a cidade como um todo e no seu crescimento. O deslocamento urbano se tornou um transtorno para a população de todo território carioca e novos projetos precisam ser efetuados com urgência. A Copa do Mundo e a Olimpíada se tornaram uma ótima possibilidade para os governantes investirem neste quesito, que é estruturante de boa qualidade de vida. O legado que estes eventos podem trazer para a cidade é muito maior de que uma simples construção de um estádio ou de atrativo turístico, e os planejamentos que cuidam do evento precisam entender que ele é de extrema importância para a população, já que o poder público terá, obrigatoriamente, que beneficiar o habitante da cidade com as novas linhas de metrô, vias de acesso rodoviárias e, quem sabe, hidroviárias... e etc. Basta ter um estudo mais detalhado das áreas mais carentes da cidade, ouvir a população e unir a cidade, no sentido de ruas, avenidas e linhas de trem, para se ver que o Rio de Janeiro é uma cidade fragmentada tanto social quanto no seu sistema de transportes. 8 - Referências Bibliográficas BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. BOLZAN DE MORAIS, José Luís. As crises do estado e da constituição e a transformação espacial dos direitos humanos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1998. CASTRO, Iná Elias de. Geografia e Política – Território, escalas de ação e instituições. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. 304p. CORRÊA, R. L. (Orgs.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001, p.77-116. HAESBART, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. 7 Departamento de Geografia LEFEBVRE, Henri. Espaço e política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. MASCARENHAS, G. Construindo a cidade moderna: a introdução dos esportes na vida urbana do Rio de Janeiro. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro: CPDOC, Fundação Getulio Vargas, jun.1999, n.23, p.17-39. SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 2. ed. São Paulo: Hucitec, l996. 308 p. SCHNOOR, Jorge. A Harmonia do desenvolvimento urbano em função da rede de transporte coletivo de massa. Rio de Janeiro: BNH, Secretaria de Divulgação, 1975. 127p. SILVA, Andre Luiz Bezerra da. Transporte e circulação na reprodução espacial urbana: considerações sobre o metrô do Rio de Janeiro. Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Rio Janeiro. 2008. SOUZA, Marcelo José Lopes de. O território: sobre espaço e poder. Autonomia e desenvolvimento. In CASTRO, I. E. de; GOMES, P. C. da C.; VASCONCELLOS, Eduardo Alcântara. Transporte Urbano, Espaço e Eqüidade: Análise das Políticas Públicas. São Paulo – Annblume, 2001 8