MANEJO E INTERFERÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS EM SOJA: UMA REVISÃO INTERFERENCE AND MANAGEMENT OF WEEDS IN SOYBEAN: A REVIEW Fernanda Lopes Salvador1 RESUMO As plantas daninhas são pioneiras em diversidade dos ecossistemas, estão em vários lugares e conseguem esta diversidade em função de sua agressividade, de sua rápida disseminação e grande capacidade de extrair nutrientes do solo, dentre outras qualidades. A soja é uma cultura que sofre com a presença das plantas daninhas, tendo sua produtividade reduzida, afetando a qualidade dos grãos e diminuindo a colheita. O manejo das plantas daninhas na cultura da soja deve ser realizado com base nas características biológicas da cultura e da planta daninha, determinando o período de interferência para que seja escolhido o método mais adequado de controle evitando as perdas na produção. A busca por produtividade e economia torna mais rígido o controle de plantas daninhas, fazendo dos métodos considerados eficientes, como os herbicidas, uma solução para todos os problemas. É nesse contexto que a cultura da soja está inserida, buscando a escolha do melhor herbicida para o controle de determinada planta daninha, visando a melhor produtividade. Palavras-chave: Glycine max, L., interferência, planta daninha. ABSTRACT The weed plants are pioneering in diversity of the ecosystems, they are in several places and they get this diversity in function of its aggressiveness, of its fast spread, great capacity to extract nutrients in the soil among other qualities. The soybean is a culture that suffers with the presence of weed plants, which causes losses in the harvest, besides to affect the quality of the grains and to reduce the amount of harvested grains. The soybean is a native culture of temperate climate, and it is a disadvantage to compete with the weeds, which are adapted to the tropical climate. The management of the weed plants in soybean should be 1 Engª Agrª Mestranda, Pós Graduação em Fitotecnia. ESALQ-USP, Piracicaba, SP. [email protected] Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 58-75. 2006 59 Manejo e interferência... accomplished in the biological characteristics in the crop and in the own weed plant; to determine the interference period is the solution to the problems, because it is possible to choose the most appropriate method of control avoiding the losses in production. The productivity search and economy turns more rigid the control of weed plants, doing the methods that are considered efficient, as the herbicides, a solution for all of the problems. In this context the soybean culture is inserted, looking for the choice of the best herbicide to control weed plants, trying to get the best productivity. Key words: Glycine max (L.) Merrill, interference, weed plant. infestantes da área é importante para os INTRODUÇÃO produtores, pois facilita a utilização de um A soja [Glycine max (L.) Merrill] é manejo adequado destas plantas e a oleaginosa mais cultivada no mundo, principalmente originária do Extremo Oriente, é a base da constante de qualquer tipo de mudança da alimentação dos povos da região da China, flora daninha, tanto ao nível de espécies Japão e Indonésia (MATOS, 1987). Apesar predominantes quanto de biótipos dentro de de ser uma cultura muito explorada, a soja cada espécie (CHRISTOFFOLETI, 1998). encontra problemas monitoramento de As plantas daninhas apresentam, produtividade quando na presença de basicamente, as mesmas necessidades que plantas daninhas, as quais reduzem lucros e as aumentam custos, tornando o produto final nutrientes. Entretanto, devido à sua maior menos competitivo no mercado. Segundo habilidade em aproveitá-los, conseguem LORENZI interferências acumulá-los causadas pelas plantas daninhas reduzem a quantidades produção agrícola em cerca de 30 a 40%. cultivadas (DEUBER, 1986). A alguns um (2000), as competição com as plantas plantas cultivadas em em seus maiores que termos tecidos as de em plantas Os prejuízos na cultura da soja daninhas é um dos fatores que mais afeta a variam produtividade da cultura da soja, causando infestantes existentes na cultura, com o tipo prejuízos não só na produção agropecuária, de cultivar e a intensidade de interferência mas que a cultura está sofrendo (VOLL et al., também ao homem, infestando diversas áreas industriais, margens de estradas, leitos de ferrovias, parques, jardins, entre conhecimento outros das lugares. plantas de acordo com as espécies 2002). A utilização de técnicas de controle O das infestações não são simples, pois já no daninhas ano de 1982 as perdas provocadas por Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 58-75. 2006 Salvador, F.L. 60 daninhas, irão interferir não só na produtividade mas atingiram 35 bilhões de dólares. Só com o também na operacionalização do sistema de controle foram gastos 10 bilhões de dólares produção empregado. pragas, doenças e plantas As e 10% deste total era representado pelas plantas daninhas são perdas ocasionadas pelas plantas daninhas competitivas devido as características de (SHAW, 1982). sobrevivência que apresentam. Para Em vista da competição que a tornarem-se mais competitivas, as daninhas cultura sofre há necessidade de um manejo desenvolveram inúmeros mecanismos de utilizando diferentes métodos de controle agressividade, como de plantas daninhas, visando minimizar ou sobrevivência em mesmo extinguir a interferência causada na grande produção de sementes, com grande cultura da soja cultura. facilidade de dispersão e longevidade; a capacidade de condições adversas; mecanismos de propagação eficientes como DEFINIÇÕES rizomas, tubérculos, que resistem no solo por longos períodos (LORENZI, 1982). PLANTA DANINHA O conceito de planta daninha baseia- INTERFERÊNCIA se nos princípios da indesejabilidade em A interferência das plantas daninhas relação ao homem. Considera-se planta sobre culturas agrícolas constitui o conjunto daninha uma planta que cresce onde não é de ações sofridas pela população da planta desejada (SHAW, 1982; LORENZI, 1982). cultivada como conseqüência da presença Planta daninha já foi um dia de plantas daninhas no ambiente comum. A definida como uma “erva” estranha a uma interferência pode ser direta, envolvendo a cultura e que compete com ela por luz, competição pelos recursos do meio, a umidade e nutrientes. Botanicamente não alelopatia e o parasitismo; ou indireta existe a palavra “erva” e nem mesmo “ erva envolvendo prejuízos à colheita e tratos má”, culturais ou atuando como hospedeiras mas são assim chamadas por invadirem as culturas, prejudicando seu intermediárias desenvolvimento (SAAD, 1968). nematóides (PITELLI, 1985). PITELLI plantas daninhas espontaneamente (1985) como conceitua aquelas emergem as Em de pragas, relação à doenças avaliação e da que, interferência imposta pelas plantas daninhas nos às culturas, as estimativas de perdas podem ecossistemas agrícolas podendo causar uma ser série de fatores às plantas cultivadas que interferência calculadas pelos períodos daninha-cultura, sendo de o Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 58-75. 2006 61 Manejo e interferência... Período Anterior à Interferência (PAI), o Período Crítico de a Para o entendimento dos períodos de Interferência (PCPI) e o Período Total de interferência, SPADOTTO et al. (1992), Prevenção de Interferência (PTPI). Quando realizou um estudo com plantas de picão- PAI é menor que o PTPI encontramos o preto (Bidens pilosa) na cultura da soja e Período a verificaram que o período de interferência Interferência (PCPI). O PCPI é, por inicial, ou o período anterior a interferência definição, o período do ciclo durante o qual (PAI), foi da emergência até 49 dias do a convivência da cultura com as plantas ciclo da cultura. A partir dos 49 dias a daninhas na planta daninha começou a interferir na produtividade da espécie de interesse cultura, reduzindo a produtividade de 2.355 econômico, kg.ha-1 (na ausência de plantas daninhas) Crítico Prevenção PERÍODOS DE INTERFERÊNCIA de resultam Prevenção em corresponde prejuízo aos limites máximos entre os dois períodos (PAI e para 2.131 kg.ha-1. PTPI). O PAI é o período em que, a partir da emergência ou semeadura da cultura, esta pode conviver com a comunidade infestante antes que sua produtividade ou outras características sejam afetadas negativamente. O PTPI é o período, a partir da emergência ou semeadura da cultura, em que esta deve ser mantida livre da presença da comunidade infestante para que sua produtividade não seja afetada negativamente (PITELLI & DURIGAN, 1984). período de interferência de Euphorbia heterophylla (amendoim bravo, leiteiro) na cultura da soja foi estudado por MESCHEDE et al. (2002). O experimento objetivava avaliar os efeitos da interferência em baixa densidade de semeadura, utilizando 17 plantas por metro linear, com espaçamento de 0,45m entre linhas. O estande final era composto pela densidade de 12 plantas por metro linear. Constataram que o período total de prevenção à interferência (PTPI) foi de 44 dias e o Esses períodos de interferência têm sido o alvo de inúmeros trabalhos recentes de O pesquisa em diferentes culturas (FREITAS et al., 2002; KOZLOWSKI et al., 2002; SALGADO et al., 2002; KUVA et al., 2003; SKÓRA NETO, 2003). período anterior a interferência foi de 17 dias, inferior a outros estudos. Os dados indicam uma suscetibilidade precoce da cultura à interferência imposta pelo amendoim bravo, sob condições de baixo estande da soja. Segundo a maioria dos trabalhos, o período anterior a interferência (PAI) em densidades normais de plantio, Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 58-75. 2006 Salvador, F.L. 62 situa-se entre 20 e 50 dias após a contados a partir da emergência da mesma. emergência (ROSSI, 1985; HARRIS & Concluíram que o período anterior a RITTER, 1987; VELINI, 1989), bem maior interferência (PAI) foi de sete dias, o do período que o período encontrado neste crítico de prevenção da interferência (PCPI) localizou-se entre o experimento. CARVALHO & VELINI (2001), sétimo e o 53° dia e o período total de estudaram os períodos de interferência das prevenção da interferência (PTPI) foi de 53 plantas daninhas na cultura da soja, cultivar dias, para o espaçamento de 30 cm. Para o IAC-11. Os tratamentos foram compostos espaçamento de 60 cm, o PAI foi de 18 de testemunhas capinadas e sem capina e de dias, o PCPI de 14 a 47 dias e o PTPI de 47 diferentes épocas de controle das plantas dias. daninhas, onde a cultura foi mantida na espaçamento menor tem o PAI menor, ou presença ou na ausência das mesmas. seja, o controle deve ser realizado mais Constataram que o período anterior a precocemente (MELO et al., 2001). Assim, a soja plantada em interferência (PAI) foi de 49 dias e o período total de prevenção a interferência (PTPI) como sendo de 20 dias. Deste modo, QUANTIFICAÇÃO DAS PERDAS POR INTERFERÊNCIA não houve período crítico de prevenção a Inúmeras são as perdas causadas interferência, pois o período anterior a pelas daninhas na cultura da soja. Segundo interferência (49 dias) foi maior que o alguns dados, as perdas na região de período total (PTPI). Como método de Campinas, SP, chegaram a 90% em dois controle é experimentos quando a competição ocorreu recomendado um herbicida pós-emergente, durante todo o ciclo da cultura (BLANCO, cujo efeito residual vai de 20 dias até o 1973). das daninhas neste caso, término do PAI (49 dias) ou um pré- BRIDGES et al. (1992) verificaram emergente que apresente um efeito residual que a cultura da soja apresenta reduções de que ultrapasse o PTPI (20 dias). Um outro produtividade de 30 a 50% quando há estudo foi realizado para avaliar os períodos infestação do leiteiro (E. heterophylla), nas de interferência de plantas daninhas em densidades de 12 e 32 plantas.m-2. Em soja, utilizando dois espaçamentos, 30 e 60 trabalho com Euphorbia dentata, JUAN et cm. Os tratamentos foram: ausência e al. (2003), constataram que a competição presença de plantas daninhas por 0, 10, 20, desta planta daninha com a cultura da soja 30, 40, 50 e 60 dias do ciclo da soja, Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 58-75. 2006 63 Manejo e interferência... causou redução de 40% no número de atrasa do começo de Maio ao começo de legumes por planta de soja. Junho. As perdas no campo originadas de O processo de tomada de decisão de 1,7 daninhas.m-1 na linha foram de 10, 18 e controle de plantas daninhas é baseado em 20% para soja plantada no começo de Maio, níveis de danos econômicos, apoiados nos meio de Maio e começo de Junho, modelos existentes de previsão de perda. A respectivamente. Para 6,7 daninhas.m-1 as partir desta constatação, SPADOTTO et al. perdas foram ainda maiores para as mesmas (1992) estudaram os parâmetros para o datas anteriormente citadas, 17, 31 e 35%. monitoramento da interferência de plantas Para o algodão, com 1,7 daninhas.m-1 na daninhas na cultura da soja. A cultura linha, as perdas foram de 33 e 28% para permaneceu na presença e na ausência da início de Maio e de Junho e para 6,7 comunidade infestante de folhas largas daninhas.m-1 as perdas chegaram a 50% em desde a emergência até os 0, 10, 20, 30. 40, cada uma das datas anteriores. Concluíram 50, e 60 dias de seu ciclo. Os autores que, para o algodão, a data de plantio não observaram que o monitoramento do nível influiu nos níveis de interferência das de dano econômico deve ser realizado tendo daninhas pelo fato do estudo não ter sido como referência o acúmulo total de matéria suficiente para comprovar a interferência. seca da comunidade infestante e os Para a soja é necessário o estabelecimento seguintes parâmetros de crescimento das de datas de plantio bem definidas, podendo plantas assim, reduzir as perdas causadas pela de soja: número de folhas trifolioladas, área da lâmina foliar, acúmulo interferência das daninhas. de matéria seca de folhas e matéria seca total. VOLL et al. (2002) estudaram a competição de espécies de plantas daninhas KLINGAMAN & OLIVER (1994), conduziram campos com dois cultivares de soja de ciclo precoce experimentais (Embrapa-48) e ciclo médio (Embrapa-62). separados de soja e algodão e avaliaram as O objetivo do trabalho foi avaliar a datas de plantio como fator determinante da competição de E. heterophylla (amendoim- perda durante a colheita. A soja estava bravo), Brachiaria plantaginea (capim- infestada com Ipomoea hederacea var. marmelada), Ipomoea grandifolia (corda- integriuscula Senna de-viola) e S. obtusifolia (fedegoso) na obtusifolia (fedegoso). As perdas no campo redução da produtividade da soja. Segundo resultantes da interferência das plantas os daninhas aumentam conforme o plantio apresentou uma produtividade de 2.819 (corda-de-viola) e resultados, o cultivar Embrapa-48 Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 58-75. 2006 Salvador, F.L. 64 kg.ha-1 na ausência de plantas daninhas; resultados obtiveram que as melhores quando na presença de amendoim bravo na variáveis explicativas da previsão de perdas -2 a de rendimento de grãos de soja pela produtividade da soja sofreu uma redução interferência de picão-preto foram as de 56%, apresentando uma produtividade características de 1.689 kg.ha-1 . Para o capim marmelada a densidade de folhas e a área foliar. Deste redução foi de 20%, para a corda-de-viola modo, foi de 33% e o fedegoso, 55%. Para o quantificação de perdas e métodos de cultivar Embrapa-62, com produtividade de controle que evitem ou amenizem os danos 2.565 kg.ha-1 houve uma redução de 60% causados pelas plantas daninhas na cultura com da soja. densidade a de 22,1 presença plantas.m de fedegoso. A morfológicas, percebe-se a como importância da quantificação de perdas ocasionadas pela planta daninha E. heterophylla na cultura da soja foi estudada em trabalho realizado no OUTROS TIPOS DE INTERFERÊNCIA Paraná, onde esta planta daninha é uma das MEROTTO et al. (2002) estudaram principais infestantes. Constataram que a os efeitos da competição artificial e da presença da daninha proporcionou perdas competição natural (própria planta daninha) diárias de produtividade de 5,15 kg.ha-1, na cultura da soja e do arroz. Foram enquanto que a ausência desta planta realizados dois experimentos: o primeiro daninha de avaliando as fontes de luz artificiais e o kg.ha-1 segundo avaliando a variação da presença representou produtividade de ganho 7,27 diário (MESCHEDE et al., 2002). de daninhas na área total ou na entrelinha. Avaliações de diferentes variáveis Concluíram que as plantas daninhas até os para o uso no modelo de previsão de perdas 15 e 16 dias após a emergência diminuíram pela interferência de picão-preto em soja foi o crescimento da soja e do arroz. As plantas estudado por FLECK et al. (2002b). As daninhas podem ser consideradas como densidades das plantas daninhas foram fatores avaliadas aos 20 e 30 dias após a quantidade de luz e interferência no emergência da soja (DAE) e na pré- desenvolvimento inicial das culturas, por colheita. As características morfológicas sombreá-las. principais de alteração da das plantas de picão-preto, como densidade O condicionamento osmótico de de folhas, área foliar e cobertura foliar do sementes é uma técnica eficiente utilizada solo foram avaliadas aos 20 DAE. Como para melhorar a germinação e o vigor das Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 58-75. 2006 65 Manejo e interferência... sementes. Em experimento para avaliar essa técnica. O efeito competitivo cultura-planta técnica, dois cultivares de soja, Doko e daninha foi verificado pelos menores UFV-5 diferentes valores de biomassa seca das daninhas nos temperaturas. As sementes desses cultivares tratamentos em que foram utilizadas as foram sementes foram testadas submetidas ao em condicionamento colhidas no estádio R8 e osmótico, utilizando o polietileno glicol condicionadas osmoticamente, concluindo 6000, uma solução que foi colocada nos que o condicionamento osmótico é uma papéis de germinação, no interior de alguns técnica que permite a cultura ser mais gerbox para a semente ser acondicionada competitiva. nas câmaras de germinação. Concluíram que essa técnica é eficiente para melhorar o vigor das sementes e a qualidade de MÉTODOS DE MANEJO DE PLANTAS DANINHAS As etapas de controle utilizadas germinação (GIÚDICE et al., 1999). de como manejo de plantas daninhas são: GIÚDICE et al., (1999), NUNES et al. erradicação ou supressão, prevenção e (2002) desenvolveram um experimento para controle verificar o efeito do condicionamento (CONSTANTIN, 2001). Baseado no experimento propriamente dito. na As medidas de erradicação visam a habilidade competitiva da cultura com as eliminação de determinadas plantas na área, plantas daninhas. Quando as sementes são sendo destruídas suas sementes ou qualquer submetidas ao condicionamento osmótico, outra forma de propagação. Nesta categoria absorvem água, o controle utilizado engloba produtos se químicos que promovam a desinfecção do osmótico das sementes mais permitindo reestruturem que de de lentamente as soja a membranas forma ordenada, solo (BARARPOUR & OLIVER, 1998). aumentando o vigor das sementes. Os As medidas de prevenção incluem experimentos avaliaram sementes colhidas métodos que dificultem a introdução e a no estádio fenológico R8 com e sem o disseminação de plantas daninhas em áreas condicionamento osmótico. Deste modo, onde elas ainda não foram introduzidas. As observaram que os estandes iniciais e finais medidas de prevenção incluem o uso de de plantas colhidas em R8 foram maiores sementes certificadas quando legislação vigente, utilizou-se o condicionamento de que a preparo sigam limpeza do solo a de osmótico, mas o número de sementes por equipamentos e planta não foi alterado pela utilização desta colhedoras; utilização de mudas livres de Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 58-75. 2006 Salvador, F.L. 66 plantas daninhas; cuidados com adubos alternativa quando há a possibilidade de ser orgânicos; cuidados com canais de irrigação utilizada, pois um grande número de plantas e outras áreas próximas à propriedade que daninhas não sobrevive quando uma área é possam estar contaminadas por algum tipo inundada e as plantas são totalmente de daninha; utilização de sistema adequado imersas (VICTORIA FILHO, 2000). Essa de manejo do solo na entressafra, como técnica não é muito utilizada. As rotação de culturas (CONSTANTIN, 2001). coberturas plásticas para Se as medidas preventivas não forem controlar daninhas, segundo GELMINI et suficientes e as daninhas conseguirem al. (1994) podem ser utilizadas. Há relatos disseminar-se, os focos iniciais de novas de sucesso desse recurso em algumas plantas culturas como morango, videira e algumas daninhas também devem ser isolados, evitando o seu alastramento (GELMINI et al., 1994; VICTORIA frutíferas. Controle cultural FILHO, 2000). A adoção de medidas de controle culturais envolvem métodos que permitam TIPOS DE CONTROLE O controle é o manejo propriamente dito que irá reduzir o número de plantas daninhas a fim de impedir que a interferência sobre as plantas cultivadas reduza a produção econômica, além de prevenir o aumento no número de propágulos (POOLE & GILL, 1987). O controle pode ser físico, cultural, biológico, mecânico ou químico. que a relação entre daninha-cultura seja favorecida, considerando que as raízes das plantas daninhas e das culturas cultivadas, ao se desenvolverem em um mesmo ambiente o mesmo espaço, competindo por água e nutrientes. Um bom manejo permite que a planta cultivada ganhe no aspecto competitivo, em relação as daninhas (VICTORIA FILHO, 2000). A Controle físico ocupam escolha de cultivares é determinante no sucesso do controle de Como medidas de controle físicas plantas daninhas. Especial atenção deve ser pode-se utilizar o calor, onde há a dada as cultivares que tenham fechamento coagulação do protoplasma em células mais vegetais, provocando a morte da planta daninhas (LIEBAMN et al., 2001). (BRYANT, 1989). rápido, controlando melhor as O período de controle deve ser A água, tanto na inundação quanto respeitado, não só visando a interferência na drenagem também pode ser uma das plantas daninhas sobre a produção da Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 58-75. 2006 67 Manejo e interferência... cultura como também o controle até a funciona colheita (CARVALHO & VELINI, 2001). dificultando REGNIER & JANKE (1990) incluem no controle cultural: utilização de como ou uma barreira mesmo física, impedindo a germinação das daninhas (VELINI & NEGRISOLI, 2000). cobertura morta e rotação de culturas, a A eficiência do manejo pela palhada utilização de cultivares competitivos e/ou da cultura, utilizada como cobertura morta, alelopáticos e a utilização de diferentes pode ser constatada pela dificuldade dos espaçamentos e épocas de semeadura. processos de germinação dos propágulos e A rotação de culturas visa modificar a população de plantas daninhas pela presença de dormência, pois a palha atua na incidência da luz, na temperatura e predominantes, propiciando a diversificação na dos métodos de controle, pois quando barreira diferentes culturas exploram uma mesma emergência das plântulas das infestantes área, a intensidade de competição e os anuais, tendo um efeito alelopático muitas efeitos vezes (CORREIA & DURIGAN, 2004). alelopáticos são modificados, umidade, funcionando física de como uma impedimento à possibilitando a oportunidade de utilização A alelopatia é considerada como um de herbicidas com mecanismos de ação método de manejo ou controle aleloquímico diferenciados, realizando uma rotação de de daninhas não manipulável pelo homem, herbicidas e de métodos de controle estando (GRAVENA et al., 2004). ambientais, A rotação de culturas é um manejo ligada a vários incluindo estresses temperaturas extremas, deficiências de nutrientes e de dos umidade, incidência de luz, insetos, doenças benefícios de melhor uso e enriquecimento e herbicidas (EINHELLIG, 1996). Essas do solo, há uma redução de dissemínulos de condições espécies que vegetam na área. Além disso, aumentam a produção de aleloquímicos, a rotação de cultura com o plantio direto aumentando o potencial de interferência tem eficaz, alelopática (EINHELLIG, 1995), o que soja contribui para o controle de plantas cultural importante, sido cada principalmente na pois vez além mais cultura da (DEUBER, 1997). de estresse freqüentemente daninhas na cultura da soja. A cobertura do solo influencia Quimicamente, a palhada atua com diretamente na germinação das plantas seu efeito alelopático, pois a cobertura daninhas, uma fez que há alterações nas libera substâncias no meio que diminuem a comunidades infestantes e a cobertura germinação e o desenvolvimento das Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 58-75. 2006 Salvador, F.L. 68 plantas daninhas. A Crotalaria juncea é densidade de plantio da cultura na linha, uma segundo mais precoce e efetivo é o fechamento da CALEGARI et al. (1993), tem efeito cultura, sendo então mais eficiente o alelopático e/ou supressor de invasoras controle das plantas daninhas (LIEBAMN bastante expressivo, sendo utilizada muitas et al., 2001). Em maiores espaçamentos, vezes como cobertura morta para o plantio onde a soja não cobre totalmente o solo, a da soja. umidade leguminosa anual que, existente no local também Os efeitos alelopáticos nem sempre favorece as maiores infestações de plantas são benéficos para a cultura. Em estudo daninhas e tornam-se fatores limitantes de com os efeitos alelopáticos e de competição produção, da umidade é deficiente em estádios anteriores invasora capim-marmelada (B. plantaginea) na soja, ALMEIDA (1991) principalmente quando a (DOUGHERTY, 1969). observou que houve alterações na soja após A época de semeadura da soja após 45 dias da semeadura. A soja foi semeada e a dessecação da cobetura vegetal é um logo após, os vasos foram irrigados com outro fator que influi na produtividade da extratos aquosos da parte aérea do capim- cultura. Um estudo foi realizado com o marmelada nas concentrações de 0, 1, 5, 10 objetivo e 13,3%. A produção de matéria seca das semeadura e o controle de B. plantaginea, raízes sobre da soja foi reduzida nas de a determinar produtividade a da época soja. de O concentrações de 10 e 13,3% e também a da experimento foi realizado em Eldorado do parte aérea e a altura das plantas, na Sul, utilizando as coberturas vegetais de concentração de 13,3%. O número total de aveia-preta nódulos e o peso unitário dos mesmos forrageiro (Raphanus sativus) e ervilhaca reduziram-se gradativamente até atingirem (Vicia sativa). Os tratamentos das parcelas as concentrações de 10 e 13,3% , quando principais foram épocas de semeadura da inibiram completamente a sua formação. soja (1 e 10 dias após aplicação de Concluíram que existe um efeito alelopático dessecante – DAD) e das subparcelas as do extrato aquoso do capim-marmelada, épocas de controle da B. plantaginea (11, que não é benéfico à soja. 17, 24, 31, 38 e 45 dias após a emergência (Avena strigosa), nabo- O planejamento do espaçamento é da soja – DAE, em semeadura de 1 DAD; e um outro tipo de controle cultural, onde 8, 15, 22, 29, 36 e 42 DAE na semeadura temos que, quanto menor o espaçamento realizada aos 10 DAD). Constataram que o entre as linhas de plantio e maior a atraso na aplicação do controle da planta Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 58-75. 2006 69 Manejo e interferência... daninha causou reduções na estatura da soja dano econômico. O equilíbrio entre a e no rendimento de grãos, aos 10 DAD a população perda aumentou 0,67% para cada dia de população da planta daninha ocorre em um atraso no controle da daninha. Concluíram nível abaixo do dano econômico e não há que a soja deve ser semeada próximo do erradicação da planta daninha. momento da aplicação do dessecante, do agente biológico e a Controle mecânico proporcionando um intervalo de aplicações O controle mecânico conta com de controle maior (FLECK et al., 2002a). Em outro estudo sobre os efeitos da época de semeadura da soja em relação a dessecação da cobertura vegetal sobre a produção de sementes de picão-preto (B. pilosa) e guanxuma (Sida rhombifolia) os autores verificaram que quanto mais cedo a soja for plantada, logo após a dessecação da cobertura vegetal, menor é a produção de sementes competição pelas plantas intraespecífica daninhas. A (competição entre a própria planta daninha) é aumentada quando a densidade de plantas daninhas aumenta, os recursos ficam mais escassos , o que resulta na diminuição da produção de sementes das daninhas e diminuição da competição com a soja (FLECK et al., técnicas de eliminação de daninhas mecanicamente. Um outro tipo de controle envolve o controle manual de daninhas, que é feito através do arranquio manual das plantas daninhas. É um método muito eficiente, porém lento e de difícil execução; sendo uma prática que evita que uma nova planta daninha venha a ser um problema sério no futuro (CONSTANTIN, 2001). A utilização de um cultivador motomecanizado é uma boa alternativa e as plantas daninhas perenes são facilmente controladas por ele. A aração rotacional pode ser uma alternativa viável de controle mecânico, pois a flora das plantas daninhas é modificada de uma maneira ampla, permitindo o seu controle (CUSSAN & 2003). MOSS, 1982). Controle biológico Controle químico De acordo com VICTORIA FILHO (2000), o controle biológico das plantas daninhas pode ser definido como a ação de parasitas, predadores ou patógenos na manutenção de uma população de planta daninha em uma densidade menor a àquela que ocorre naturalmente, e que não cause O controle químico consiste na utilização de herbicidas, produtos que interferem nos processos bioquímicos e fisiológicos, podendo matar ou retardar significativamente o crescimento das plantas daninhas. Podem ser utilizados Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 58-75. 2006 Salvador, F.L. herbicidas seletivos ou não à cultura e que 70 CONSIDERAÇÕES FINAIS podem ser aplicados no manejo antes do As plantas daninhas infestantes da plantio, em pré-plantio incorporado (PPI), soja estão representadas por espécies que se em pré-emergência (Pré) da cultura e das desenvolvem de acordo com as condições plantas daninhas e em pós-emergência agroecológicas da cultura, sendo importante (Pós) da cultura e das plantas daninhas que os produtores de soja conheçam as (DEUBER, 1997). principais áreas infestadas para fazer o Segundo SHAW (1982) a utilização monitoramento adequado. As plantas de herbicidas oferece algumas vantagens, daninhas são um sério problema pois tais como disponibilidade no mercado a hospedam pragas e doenças, transmitindo- preços acessíveis, no caso de alguns as para as culturas, contribuindo cada vez produtos; ação rápida e eficiente em densas mais para a diminuição da produção. populações de daninhas, disponibilidade de equipamentos, seletividade de alguns produtos. Para VICTORIA FILHO (1982) o O manejo das plantas daninhas é um componente muito importante para que a sustentabilidade na agricultura seja atingida, ou melhor, o manejo adequado controle químico deve ser bem monitorado, dos observando alguns parâmetros como atingir ambiente desfavorável a elas mediante o o alvo ao qual é dirigido, apresentar emprego de métodos preventivos, culturais, retenção do produto pela folha, absorção e mecânicos, biológicos e químicos. translocação pela planta e aplicação no solo. recursos Deste naturais, modo, mantendo é evidente um a importância econômica do controle das Para GELMINI et al. (1994) há plantas daninhas na cultura da soja na fase algumas desvantagens na aplicação de inicial, para evitar a competição pelos herbicidas, pois é necessário mão-de-obra fatores de produção, evitando a queda na especializada e responsável, orientação produtividade na fase final do ciclo da técnica, grau de controle variável em cultura. função de inúmeros fatores como tipo de solo, distribuição das chuvas; possibilidade de residual no solo, prejudicando a sucessão ou rotação de culturas e favorecendo o aparecimento de outras daninhas devido à REFERÊNCIAS ALMEIDA, F.S. Efeitos alelopáticos de resíduos vegetais. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 26, n. 2, p. 221-236, 1991. quebra do equilíbrio ecológico. Revista da FZVA. Uruguaiana, v.13, n.2, p. 58-75. 2006 71 Manejo e interferência... L.R. CONSTANTIN, J. Métodos de Manejo. In: Effect of tillage and interference on OLIVEIRA JR, R.S.; CONSTANTIN, J. common cocklebur (Xanthium strumarium Plantas Daninhas e seu manejo. 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