Universidade Nove de Julho MATERIAL DE APOIO PARA AS AULAS DE CIÊNCIAS SOCIAIS Profa. Me. Renata V. F. Vilela (*) 2014 * Material elaborado pela profa. Alzira Jorri de Tomei 1 A ciência da Sociologia emergido em grande parte da convicção de Comte de que ela eventualmente suprimiria todas as outras áreas do conhecimento científico, hoje ela é mais uma entre as ciências. Ainda que a Sociologia tenha Atualmente, ela estuda organizações humanas, instituições sociais e suas interações sociais, aplicando mormente o método comparativo. Esta disciplina tem se concentrado particularmente em organizações complexas de sociedades industriais. Ao contrário das explicações filosóficas das relações sociais, as explicações da Sociologia não partem simplesmente da especulação de gabinete, baseada, quando muito, na observação casual de alguns fatos. Muitos dos teóricos que almejavam conferir à sociologia o estatuto de ciência, buscaram nas ciências naturais as bases de sua metodologia já mais avançada, e as discussões epistemológicas mais desenvolvidas. Dessa forma foram empregados métodos estatísticos, a observação empírica, e um ceticismo metodológico a fim de extirpar os elementos "incontroláveis" recorrentes numa ciência ainda muito nova e dada a grandes elucubrações. Uma das primeiras e grandes preocupações para com a sociologia foi eliminar juízos de valor feitos em seu nome. Diferentemente da ética, que visa discernir entre bem e mal, a ciência se presta à explicação e à compreensão dos fenômenos, sejam estes naturais ou sociais. Como ciência, a Sociologia tem de obedecer aos mesmos princípios gerais válidos para todos os ramos de conhecimento científico, apesar das peculiaridades dos fenômenos sociais, quando comparados com os fenômenos de natureza e, conseqüentemente, da abordagem científica da sociedade. Tais peculiaridades, no entanto, foram e continuam sendo o foco de muitas discussões, ora tentando aproximar as ciências, ora afastando-as e, até mesmo, negando às humanas tal estatuto com base na inviabilidade de qualquer controle dos dados tipicamente humanos, considerados por muitos, imprevisíveis e impassíveis de uma análise objetiva. A Sociologia, assim, vai debruçar-se sobre todos os aspectos da vida social. Desde o funcionamento de estruturas macro-sociológicas como o Estado, a classe social ou longos processos históricos de transformação social ao comportamento dos indivíduo num nível micro-sociológico, sem jamais esquecer-se que o homem só pode existir na sociedade e que esta, inevitavelmente, lhe será uma "jaula" que o transcenderá e lhe determinará a identidade. Para compreender o surgimento da Sociologia como ciência do século XIX, é importante perceber que, nesse contexto histórico social, as ciências teóricas e experimentais desenvolvidas nos séculos XVII,XVIII e XIX inspiraram os pensadores a analisar as questões sociais, econômicas, políticas, educacionais, psicológicas, com enfoque científico. Sociologia Aplicada Sociologia Aplicada formula explicações sobre processos sociais que exigem tratamento peculiar e combinação entre indução e prática. Tem ela o atributo de estudar a natureza e as significações da organização sociocultural em sua história e de analisar as tendências regulares e fundamentos das mudanças sociais. Seu desenvolvimento pode parecer discreto, caso se pretenda exigir da Sociologia o que não é sociológico. Não se pode esperar dela uma teoria de administração, ou fórmulas práticas para resolver problemas que ocorrem nas relações do trabalho, ou para solucionar questões relativas à eficácia do gerenciamento e 2 dos conflitos nas relações do trabalho. Mesmo assim, ela é cada vez mais requisitada – só ou em conjunto com outras ciências – para as pesquisas necessárias nessa fase de transformações estruturais de nossa sociedade. Dupla é a preocupação do livro: oferecer um texto com os fundamentos da Sociologia CASTRO, Celso Antonio Pinheiro - Sociologia aplicada à Administração ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Você é hands on ou hands off? Vi um anúncio de emprego. A vaga era de Gestor de Atendimento Interno, nome que agora se dá à Seção de Serviços Gerais. E a empresa exigia que os interessados possuíssem - sem contar a formação superior - liderança, criatividade, energia, ambição, conhecimentos de informática, fluência em inglês e não bastasse tudo isso, ainda fossem HANDS ON. Para o felizardo que conseguisse convencer o entrevistador de que possuía essa variada gama de habilidades, o salário era um assombro: R$ 800,00. Ou seja, um pitico. Não que esse fosse algum exemplo fora da realidade. Ao contrário, é quase o paradigma dos anúncios de emprego. A abundância de candidatos permite que as empresas levantem cada vez mais a altura da barra que o postulante terá de saltar para ser admitido. E muitos, de fato, saltam. E se empolgam. E aí vêm as agruras da super-qualificação, que é uma espécie do lado avesso do efeito pitico... Vamos supor que, após uma duríssima competição com outros candidatos tão bem preparados quanto ela, a Fabiana conseguisse ser admitida como gestora de atendimento interno.e um de seus primeiros clientes fosse o seu Borges, Gerente da Contabilidade. Seu Borges: - Fabiana, eu quero três cópias deste relatório. Fabiana: - In a hurry! Seu Borges: - Saúde. Fabiana: - Não, Seu Borges, isso quer dizer "bem rapidinho". É que eu tenho fluência em Inglês. Aliás, desculpe perguntar, mas por que a empresa exige fluência em Inglês se aqui só se fala Português? Seu Borges: - E eu sei lá? Dá para você tirar logo as cópias? Fabiana: - O senhor não prefere que tenho profundos conhecimentos de informática. eu digitalize o relatório? Porque eu Seu Borges: - Não, não. Cópias normais mesmo. Fabiana: - Certo. Mas eu não poderia deixar de mencionar minha criatividade. Eu já comecei a desenvolver um projeto pessoal visando eliminar 30% das cópias que tiramos. Seu Borges: - Fabiana, desse jeito não vai dar! Fabiana: - E eu não sei? Preciso urgentemente de uma auxiliar. 3 Seu Borges: - Como assim? Fabiana: - É que eu sou líder, e não tenho ninguém para liderar. E considero isso um desperdício do meu potencial energético. Seu Borges: - Olha, neste momento, eu só preciso das três cópias. Fabiana: - Certamente, mas antes vamos discutir meu futuro... Seu Borges: - Futuro? Que futuro? Fabiana: - É que eu sou ambiciosa. Já faz dois dias que eu estou aqui e ainda não aconteceu nada. Seu Borges: - Fabiana, eu estou aqui há 18 anos e ainda não me aconteceu nada. Fabiana: - Sei. Mas o senhor é hands on? Seu Borges: - Hã? Fabiana: - Hands on....Mão na massa. Seu Borges: - Claro que sou! Fabiana: - Então o senhor mesmo tira as cópias. E agora com licença que eu vou sair por aí explorando minhas potencialidades. Foi o que me prometeram quando fui contratada. MAGALHÃES, Nilo - Cronista da Revista VEJA - Edição de outubro 2007 CANDIDATOS EMPREGÁVEIS VALEM TANTO COMO OS QUALIFICADOS? Então, o mercado de trabalho está ficando dividido em duas facções: 1 - Uma, cada vez maior, é a dos que não conseguem boas vagas porque não têm as qualificações requeridas. 2 - E o outro grupo, pequeno, mas crescente, é o dos que são admitidos porque possuem todas as competências exigidas nos anúncios, mas não poderão usar nem metade delas, porque, no fundo, a função não precisava delas. Alguém ponderará - com justa razão - que a empresa está de olho no longo prazo: sendo portador de tantos talentos, o funcionário poderá ser preparado para assumir responsabilidades cada vez maiores. Em uma empresa em que trabalhei, nós caímos nessa armadilha. Admitimos um montão de gente super qualificada. E as conversas ficaram de tão alto nível que um visitante desavisado confundiria nossa salinha do café com a Fundação Alfred Nobel. 4 Pessoas super qualificadas não resolvem simples problemas! Um dia um grupo de Marketing e Finanças foi visitar uma de nossas fábricas e no meio da estrada, a Van da empresa pifou. Como isso foi antes do advento do milagre do celular, o jeito era confiar no especialista, o Cleto, motorista da Van. E aí todos descobriram que o Cleto falava Inglês, tinha informática, energia e criatividade e estava fazendo pós-graduação... só que não sabia nem abrir o capô. Duas horas depois, quando o pessoal ainda estava tentando destrinchar o manual do proprietário, passou um sujeito de bicicleta. Para horror de todos, ele falava "nóis vai" e coisas do gênero. Mas, em 2 minutos, para espanto geral, botou a Van para funcionar. Deram-lhe uns trocados, ele foi embora feliz da vida. Aquele ciclista anônimo era o protótipo do funcionário para quem as empresas modernas torcem o nariz: O QUE É CAPAZ DE RESOLVER, MAS NÃO DE IMPRESSIONAR MIRANDA, Cléo - Fundadora do Projeto “O Jovem Empreendedor” EXERCÍCIOS DE VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1. Por que a nova Psicologia irá propor, como conceitos básicos de análise, a atividade, a consciência e a identidade do homem, como suas propriedades ou características essenciais para expressarem o movimento humano? 2. Faça um comparativo entre Sociologia e Sociologia aplicada. 3. Você acredita em alguma diferença entre Administração e Sociologia aplicada à Administração? Explique. 4. Você vê alguma influência e importância da Sociologia sobre o comportamento humano nas organizações? Por quê? 5. Você leu duas histórias ao final do capítulo explicativo sobre Sociologia. Compare a personagem Fabiana do primeiro conto, com o “sujeito da bicicleta” do segundo conto. Caracterize-os, comente sobre o perfil de ambos. 5 6. Como você explica a expressão “empregável”? Capítulo II A EVOLUÇÃO SOCIOLÓGICA DO HOMEM E DO TRABALHO O trabalho Para chegar a uma definição de trabalho, é preciso procurar os elementos que definem, ao longo da trajetória humana sobre o planeta, as relações estabelecidas entre o homem e o ambiente onde vive. Ora, “o trabalho só começa quando uma determinada atividade altera os materiais naturais, modificando sua forma original” (COGGIOLA, 2002, p. 182). Ou seja, pode-se definir o trabalho como o processo que realiza a mediação entre o ambiente e o homem, quando este põe em ação as forças de que seu corpo está dotado – braços, pernas, cabeça, mãos –, transformando os elementos que encontra disponíveis na natureza em produtos, suprindo assim suas necessidades, não importando “se elas se originam do estômago ou da fantasia” (MARX, 1985, p. 45). O trabalho assim concebido – ação deliberada sobre o meio, caracterizada e dirigida pela inteligência e pela capacidade de abstração e formulação de conceitos – nada tem a ver com as atividades que realizam outros animais, como as abelhas ou as formigas. O homem, ao atuar “sobre a natureza externa a ele e ao modificá-la, modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza” (MARX, 1985, p. 149). O trabalho humano não é ação sobre o meio realizada de forma instintiva ou mecânica, mas processo complexo de aprendizagem, onde o homem não se limita a repetir ações e processos, como os outros animais, mas desenvolve técnicas e tecnologia que lhe são úteis. Ou seja, o homem se diferencia pois cria suas próprias ferramentas e sua ação não se limita a modificar os materiais que encontra disponíveis na natureza: No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina, como lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual tem de subordinar sua vontade. (MARX, 1985, p. 149-50). Desde os primeiros tempos da humanidade houve uma divisão do trabalho, que no início se dava em função de características fisiológicas, como gênero, idade, força física etc. Mas, à medida que o trabalho se diversificava e se tornavam mais complexas a técnica e a tecnologia, essa primeira divisão do trabalho foi sendo superada pela divisão entre o trabalho material e o trabalho intelectual. Passava a haver, quanto à função imediata do indivíduo no meio social, um trabalho realizado pela mente e um trabalho realizado pelas mãos, sendo o primeiro entendido como afastado da prática humana, um produto da consciência humana e não de um órgão. Cada indivíduo ficou limitado a esferas profissionais particulares, exclusivas, não devendo sair delas, sendo unicamente caçador, operário, professor ou administrador. Com essa divisão, o trabalho e seus produtos passaram a ser, qualitativa e quantitativamente, distribuídos de forma desigual. (MARX; ENGELS, 1996, p. 44-8). 6 Engels e o macaco Embora mais conhecido como um dos pioneiros do materialismo histórico, Engels dedicou parte de sua vida intelectual ao estudo das chamadas “ciências naturais”. Para Engels, o fato de um grupo de macacos, há alguns milhões de anos, ter deixado de necessitar das mãos para caminhar, passando a adotar cada vez mais uma posição ereta e deixando as mãos livres para executar as mais variadas funções, foi o “passo decisivo para a transição do macaco em homem”. Usava-se antes as mãos apenas para tarefas como “recolher e sustentar alimentos (...) construir ninhos nas árvores (...) construir telhados entre os ramos (...) empunhar garrotes, com os quais se defendem se seus inimigos, ou para os bombardear com frutos e pedras” (ENGELS, s.d., p. 269-70). Tendo descido das árvores e fazendo uso da postura ereta, nossos ancestrais teriam aos poucos adaptado as mãos a novas tarefas. Embora nesse período de transição as funções que a mão cumpria fossem bastante simples, ela adquiriu ao longo do tempo mais destreza e habilidade, transmitindo de geração em geração essa flexibilidade adquirida. Também destaca Engels a fala como característica essencial da evolução do homem, pois, dado o fato de os humanos viverem coletivamente, de precisarem se comunicar e comunicar o que aprendiam e observavam, tiveram a necessidade de desenvolver uma linguagem articulada que pudesse expressar idéias, conceitos, signos etc. Nisso residiria a explicação para o surgimento da linguagem, no processo onde o organismo sofreria várias modificações: a laringe pouco desenvolvida do macaco foi-se transformando, lenta mas firmemente, mediante modulações que produziam por sua vez modulações mais perfeitas, enquanto os órgãos da boca aprendiam pouco a pouco a pronunciar um som articulado após o outro. (ENGELS, s.d., p. 271). Engels afirma que o trabalho e a palavra articulada “foram os dois estímulos principais sob cuja influência o cérebro do macaco foi-se transformando gradualmente em cérebro humano” Engels o Homo erectus Sabe-se que, entre sete e 2 milhões de anos atrás, uma grande quantidade de diferentes espécies de macacos bípedes evoluiu, adaptando-se a diferentes condições ambientais. E que essas espécies se assemelhavam com os humanos apenas no modo de andar. Como a sinalizar a origem do gênero Homo, “em meio a essa proliferação de espécies humanas houve uma, entre 3 e 2 milhões de anos atrás, que desenvolveu um cérebro significativamente maior” (LEAKEY, 1997, p. 14). Esses ancestrais humanos começaram a produzir suas primeiras ferramentas, batendo duas pedras uma contra a outra, o que propiciou a eles, entre outras coisas, o acesso a alimentos que até então lhes eram negados. “Os primeiros conjuntos de artefatos encontrados têm 2,5 milhões de anos de idade; eles incluem, além de lascas, implementos maiores tais como cutelos, raspadores e várias pedras poliédricas” (LEAKEY, 1997, p. 46). Nesse sentido, temos que a história da evolução humana está marcada, conforme assinalava Engels, pela fabricação de ferramentas utilizadas no trabalho. O homem teve um grande número de antepassados, alguns distantes, outros mais próximos, não tendo evoluído de forma linear do macaco até nós. Quando falamos em 7 evolução, falamos antes de mais nada em adaptação local, que, no caso do homem, não se dá apenas pela modificação biológica com descendências, mas tem no trabalho um mecanismo que permite tentar diminuir as conseqüência negativas das intempéries do meio ou suprir necessidades vitais, como comer ou se proteger do frio. A EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE E DO TRABALHO Foi o trabalho o fator que diferenciou a adaptação humana da adaptação de outros animais. Se todos os ancestrais humanos e seus contemporâneos, de diferentes regiões e épocas, têm características próprias, é óbvio que isso se deu em função das diferentes formas encontradas para se adaptar ao meio. Se havia diferentes formas de adaptação ao meio, é porque havia diferentes formas de trabalho. Então temos, retomando Engels, que não é apenas em função de uma determinação biológica que o homem se transforma, mas também pela sua intervenção, pelo trabalho, sobre a natureza. O trabalho humano desenvolveu não apenas uma grande diversidade de técnicas e ferramentas como diferentes formas de organização das sociedades. Foi a cooperação entre mãos, os órgãos da linguagem e o cérebro que produziu as artes e a política, a cerâmica e as navegações, o direito e as religiões, a escravidão e o capitalismo etc. Referências bibliográficas: COGGIOLA, Osvaldo. O capital contra a história: gênese da crise contemporânea. São Paulo: Xamã; Edições Pulsar, 2002. DARWIN, Charles. A origem do homem e a seleção sexual. São Paulo: HEMUS, 1974. ENGELS, Friedrich. Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem [1876]. In: ENGELS, Friedrich; MARX, Karl. A ORIGEM DA SOCIEDADE CAPITALISTA Trabalho manual / intelectual / qualificado /não qualificado Cada vez mais pessoas percebem e se preocupam com a situação de injustiça, miséria, corrupção e exploração a que são submetidas. Poucos, porém, têm clareza sobre as origens e as causas desta situação. Queremos mostrar, como surgiram e o que defendem o Capitalismo e o Socialismo. E para o trabalho ficar mais completo, apresentamos uma análise crítica dos dois tipos de sociedade. Pensamento capitalista A sociedade capitalista teve sua origem na Idade Média, quando as antigas corporações feudais se desintegraram e, com isso, os mestres e aprendizes instalaram 8 empresas de propriedade manufaturados em série. individual, com operários assalariados que fabricavam Nasceu assim a burguesia (nome derivado de “burgo”, isto é “cidade”, pois os donos das empresas moravam na cidade, enquanto os senhores feudais, pelo fato de serem grandes proprietários de terra, moravam nos castelos rurais). Nesta sociedade, as funções produtivas, as prerrogativas, os direitos e deveres de cada um eram pré-estabelecidos e definitivos do nascimento até a morte. Esta estrutura feudal padronizada e hereditária não era interessante para os novos empresários. Essa burguesia nascente não aceitou a sociedade feudal “fixa e fechada”, porque a liberdade de empresa (a liberdade de produzir e comercializar) inexistia, uma vez que todos os aspectos da vida social eram codificados e controlados pelos senhores feudais, a começar pelo primeiro deles, o rei, associados à Igreja (também grande proprietária de terras). Essa contestação colocou em dúvida também a origem divina do poder e colocou o indivíduo como devendo ser o articulador (com base num pacto com os outros indivíduos) da ordem social. Esta idéia de uma sociedade construída sobre a base de um “contrato” entre indivíduos livres e iguais (em oposição às desigualdades da sociedade feudal), que instituem o Estado, para serem por ele protegidos no exercício das respectivas liberdades individuais (compatíveis com a convivência social) encontra sua formulação mais clara na obra “O Contrato Social”, de J. J. Rousseau. Esta obra serviu como base teórica para a Revolução Francesa, mãe da sociedade capitalista. Na Inglaterra, a burguesia tinha conquistado, aos poucos, a liberdade de empresa e o direito de participar das decisões políticas a partir de um pacto com o poder real e o dos senhores feudais. Na França, a revolução apoiada nas idéias do “Contrato Social”, de Rousseau, conseguiu abolir a estrutura de poder absoluto dos monarcas feudais, como também conseguiu abolir (na sua primeira fase) o poder temporal e espiritual da Igreja. A religião foi substituída pela filosofia (o “livre pensamento”) na determinação das pautas morais de convivência. Foi assim que a Revolução Francesa marcou o nascimento da sociedade capitalista na sua plenitude. As idéias básicas defendidas na Revolução Francesa foram: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Essas três palavras, em particular as duas primeiras, Liberdade e Igualdade, sintetizam a imagem que a sociedade capitalista tem de si mesma e a imagem que ela pretende que todo homem tenha dela. O Estado, nesta nova sociedade, teria a função de garantir o cumprimento dos direitos individuais. Neste Estado, o Poder Legislativo codificaria tais direitos nas leis, o Poder Judiciário julgaria os conflitos inter-individuais segundo esses direitos e leis, e o Poder Executivo faria com que fossem respeitados uns e outros, se necessário pelo uso da força, que a todos representaria face ao eventual infrator. Todos estes princípios são até hoje defendidos pelos chamados “liberais”, para quem a sociedade capitalista é o modelo social que efetivamente os realizou e os realiza. 9 Marx, numa abordagem crítica pessoal, pegou ao pé da letra os princípios de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, sobre os quais dizia descansar a sociedade capitalista, e fez um questionamento a fundo dessa sociedade a partir dos seus próprios princípios. Marx mostrou como a suposta igualdade era ilusória no Capitalismo, uma vez que todo homem, ao nascer, encontrava uma sociedade dividida em dois blocos desiguais: de um lado, o bloco dos proprietários dos meios de produção (empresas, terras, máquinas), e do outro lado, os proletários que, pelo fato de não serem proprietários destes, se viam obrigados a vender a sua força de trabalho aos donos das empresas, e desta forma ganhar o necessário para subsistir. Para Marx, o capitalista se enriquece apropriando-se, sem qualquer tipo de retribuição, de uma parte do produto do trabalho realizado pelo operário. Marx mostrou, também, que a liberdade individual no Capitalismo estava condicionada pela divisão da sociedade em classes: de um lado, os proprietários dos meios de produção e, do outro lado, os trabalhadores. Nessas circunstâncias, o filho do operário,vindo ao mundo não tem escolha livre do seu projeto de vida; carente dos meios de produção, ele não tem outro remédio senão vender a sua força de trabalho ao capitalista (este sim tem a “liberdade” de contratá-lo ou não) e perpetuar a estirpe deste novo tipo de escravo moderno, gerado pelo Capitalismo. Escravo, porque uma vez vendida a sua força de trabalho, é o capitalista e não o operário quem decide pela vida deste (o que produzir, como produzir, horários, regulamentos da empresa com as devidas sanções e a sempre possível demissão e condenação ao desemprego). De fato, pensava Marx, o que defendem os capitalistas quando falam de “liberdade”, não é nada mais do que a sua “liberdade de empresa”, isto é, a sua “liberdade” de enriquecerem às custas do trabalho operário não remunerado. Sírio Lopez Velasco QUESTÕES PARA DEBATE 1 - Por que os empresários liberais (burgueses) entraram em conflito com os senhores feudais? 2 - Qual a ligação (relação) entre o Capitalismo e a Revolução Francesa? 3 - Como surgiu o Capitalismo? 4- Qual a função do Estado no Capitalismo? 5 - O que defende e propõe o Capitalismo, como nova sociedade, em oposição ao Feudalismo? 6- Qual é o conceito de trabalho na sociedade capitalista? 10 CAPÍTULO III A SOCIOLOGIA DO TRABALHO Organização e processos de trabalho Há um uso constante de equipes multidisciplinares e formais que se sobrepõem à estrutura formal tradicional e hierárquica: Há um uso constante de equipes "ad-hoc" ou temporárias, com grande autonomia, totalmente dedicadas a projetos inovadores: pequenas reorganizações ocorrem com frequência, de forma natural, para se adaptar às demandas do ambiente competitivo: Realizam-se, com frequência, reuniões informais, fora do local de trabalho, para a realização de brainstorms: 11 Os lay-outs são conducentes à troca informal de informação (uso de espaços abertos e salas de reunião). São poucos os símbolos de status e hierárquicos. As decisões são tomadas no nível mais baixo possível . O processo decisório é ágil; a burocracia é mínima: A Organização por Processos Os objetivos da organização horizontal são: focar a empresa em seus clientes; atingir padrões de qualidade total; descentralizar o poder e criar um ambiente adequado para o aprendizado e a melhoria contínua. Para atingir isto, as empresas necessitam se organizar em torno de seus processos e de equipes e não em torno de funções e indivíduos. Inicialmente, foram reportados vários casos de sucesso com esta abordagem, principalmente em termos de redução dos tempos de ciclo de produção ou serviço, melhoria da qualidade e redução de custos. As avaliações mais recentes destes esforços, entretanto, aludem muito mais a fracassos do que a sucessos. A Organização Circular do Projeto Saturno Os valores iniciais definidos foram os seguintes: compromisso com o cliente; compromisso com a excelência; trabalho em equipe; confiança e respeito pelo indivíduo; melhoria contínua. A unidade de trabalho básica da empresa se constitui de equipes de trabalho com cerca de 15 pessoas. Durante a formação de cada célula de trabalho, a equipe dispõe de um líder e de duas outras pessoas com participação temporária: um representante do sindicato e outro do "management". À medida que a equipe se consolida, depois de dois a três anos, a função do líder desaparece e a equipe se torna, de fato, auto-dirigida. IMPACTOS DA GERÊNCIA CIENTIFICA OBJETIVOS • • Discutir fundamentos da organização e do controle dos processos de trabalho, bem como de sua evolução ao longo da primeira metade do século XX Particularmente, discussão do Taylorismo e do Fordismo POSICIONAMENTO • • • Época: 1880 1920… Local: EUA e Inglaterra Principais setores de aplicação: metal-mecânica, siderurgia, têxtil, automobilística 12 • Organização da produção: grandes corporações, gerência TAYLORISMO, NO QUE CONSISTIU? • • • Sintetizar num todo razoavelmente coerente idéias que ganharam força nos EUA e na Ingl. no final do século XIX Taylor juntou partes que já vinham sendo criadas desde o século XVII Objetivo: organização e controle de tempos e movimentos = racionalização do trabalho TAYLOR: TIMING E OBCESSÃO O que é neurótico no indivíduo pode ser normal no modo de produção • A mudança definitiva do controle sobre o processo produtivo – a luta entre aprendizado e controle sobre o processo • Reprodução individual x coletiva • Tudo contra, tudo a favor: a maior expressão do conflito de classes UM DIA ÓTIMO DE TRABALHO • • Racionalidade da valorização A vigência universal do marcapasso não recomendava confiar na iniciativa dos trabalhadores...a oficina não deveria ser acionada pelos operários, mas passar a ser acionada pelos patrões. GERÊNCIA CIENTÍFICA • • • • Por que gerência e por que científica? Por que não trabalho científico? Primeiro princípio: o administrador deve reunir todo o conhecimento sobre o processo produtivo e reduzi-lo a regras, leis e fórmulas. É a “dissociação do processo de trabalho das especialidades dos trabalhadores”. Segundo princípio: todo possível trabalho cerebral deve ser banido da oficina e centrado no departamento de planejamento ou projeto. É a separação entre concepção e execução Terceiro princípio uso centralizado do monopólio do conhecimento para controlar cada fase do processo de trabalho e seu modo de execução. Definir não apenas o que deve ser feito mas como deve ser feito e o tempo exato permitido para isso O FORDISMO É UMA SUPERAÇÃO DO TAYLORISMO • • • • • fordismo não se restringia somente à disciplina no interior da fábrica: é um padrão de acumulação O processo de trabalho característico do fordismo é a cadeia de produção semiautomática, estabelecida principalmente nos EUA nos anos 20 instaura a produção em massa retoma e intensifica os princípios do taylorismo controla a reprodução global da força de trabalho pela íntima articulação entre o processo de produção e o modo de consumo 13 TAYLORISMO E FORDISMO NO BRASIL: BREVE COMENTÁRIO • • • • • O taylorismo teve a sua difusão conduzida por empresários paulistas no início da década de trinta Os princípios foram difundidos, mas as técnicas da gerência não Aumento de salários eram nos EUA peça fundamental, já no Brasil… Lá, a luta sindical, aqui a qualificação (este é um ponto fundamental) Têxtil e ferrovia: técnicas de controles de tempos e movimentos BUROCRACIA - COMANDO HIERARQUIZADO A teoria da burocracia foi formalizada por Max Weber que, partindo da premissa de que o traço mais relevante da sociedade ocidental, no século XX, era o agrupamento social em organizações, procurou fazer um mapeamento de como se estabelece o poder nessas entidades. Construiu um modelo ideal, no qual as organizações são caracterizadas por cargos formalmente bem definidos, ordem hierárquica com linhas de autoridade e responsabilidades bem delimitadas. Assim, Weber cunhou a expressão burocrática para representar esse tipo ideal de organização, porém ao fazê-lo, não estava pensando se o fenômeno burocrático era bom ou mau. Weber descreve a organização dos sistemas sociais ou burocracia, num sentido que vai além do significado pejorativo que por vezes tem. Burocracia é a organização eficiente por excelência. E para conseguir essa eficiência, a burocracia precisa detalhar antecipadamente e nos mínimos detalhes como as coisas deverão ser feitas. Segundo Weber, a burocracia tem os seguintes princípios fundamentais: Formalização: existem regras definidas e protegidas da alteração arbitrária ao serem formalizadas por escrito. Divisão do trabalho: cada elemento do grupo tem uma função específica, de forma a evitar conflitos na atribuição de competências. Hierarquia: o sistema está organizado em pirâmide, sendo as funções subalternas controladas pelas funções de chefia, de forma a permitir a coesão do funcionamento do sistema. Impessoalidade: as pessoas, enquanto elementos da organização, limitam-se a cumprir as suas tarefas, podendo sempre serem substituídas por outras - o sistema, como está formalizado, funcionará tanto com uma pessoa como com outra. Competência técnica e Meritocracia: a escolha dos funcionários e cargos depende exclusivamente do seu mérito e capacidades - havendo necessidade da existência de formas de avaliação objetivas. Separação entre propriedade e administração: os burocratas limitam-se a administrar os meios de produção - não os possuem. Profissionalização dos funcionários. 14 Completa previsibilidade do funcionamento: todos os funcionários deverão comportarse de acordo com as normas e regulamentos da organização a fim de que esta atinja a máxima eficiência possível. EXERCÍCIOS DE ADAPTAÇÃO AO CONTEÚDO 1. Comente as características do pensamento da administração científica. 2. As adaptações subalternas controladas pelas funções das chefias geram desconfortos empresariais. Que características são fundamentais para os funcionários, para que esse desgaste ou coesão não ocorra? 3. O processo de produção é uma das maiores preocupações do homem nas empresas. Por quê? 4. Existe alguma relação entre as teorias da administração e a Sociologia? Explique. 5. É necessário que haja modelos teóricos em organizações. Relacione esse tópico do capítulo com estratégias de trabalho. CAPÍTULO IV PRINCIPAIS TEÓRICOS SOCIOLOGIA CRÍTICA: MARX E AS RELAÇÕES ENTRE CAPITAL E TRABALHO Robôs trabalham. Sobram operários Nas utopias de um mundo do futuro é freqüente a imagem de uma fábrica em que só os robôs trabalham. Ao mesmo tempo em que essa visão do futuro traz a idéia de “folga” no trabalho, na realidade, temos dois caminhos que se contradizem e se complementam. Ao mesmo tempo em que cresce a capacidade produtiva, cresce também o desemprego. Assim, as máquinas substituem os homens no processo produtivo, mas os beneficiados são os donos do capital constante. A divisão entre capital constante e capital variável é importante para uma análise do sistema capitalista. O capital constante são os fixos no território, os meios de produção, isto é, as fábricas, as máquinas. Já o capital variável é a parte do capital a ser investido na compra da força de trabalho – para se pagar o salário do trabalhador. Essa 15 questão, no entanto, não é nova. Parte desse problema já foi abordado pelo filósofo alemão Karl Marx [1818 - 1883] em sua obra mais importante, O capital. O conhecimento que Marx produziu sobre a natureza de exploração capitalista é um dos caminhos para se entender o período atual. A teoria de Marx se mantém relevante no presente. Quando ele trata do processo de acumulação de capital e de seus efeitos sobre o mercado de trabalho - em particular em um contexto de elevação da composição orgânica do capital, que expressa a relação entre o capital constante e o capital variável – ou seja, a reprodução capitalista como um processo social, historicamente determinado e mediado por relações conflituosas - ele está abordando, “a difusão do progresso técnico e a maior tecnificação dos processos produtivos, que tornam parte da população trabalhadora um excedente de mão-de-obra ou, de acordo com suas categorias [de Marx], uma superpopulação relativa”. O período atual parece ser perverso para alguns e libertador para outros. Ao mesmo tempo em que aumentam relativamente as funções técnicas e que requerem menor esforço físico, as possibilidades de emprego para uma parcela grande da população ficam mais reduzidas. O período atual, que o geógrafo Milton Santos denominou "meio técnico científicoinformacional" é marcado pela rapidez do avanço tecnológico e pelo aumento na racionalização da produção, com efeitos importantes sobre o emprego. Com os novos processos produtivos é possível uma menor quantidade de trabalho humano por produto fabricado. Atualmente, teríamos ainda um acelerado desenvolvimento tecnológico que transforma a relação sociedade-espaço, causando alterações na paisagem que denotam uma “artificialização do planeta”. Marx e a contemporaneidade Marx, na tarefa de entender a submissão do trabalho ao capital e as transformações nas relações sociais de produção, utiliza dois conceitos para explicar ao que chamou de “subsunção do trabalho ao capital”. Num primeiro momento, ele explica essa relação por meio da subsunção formal do trabalho ao capital, para depois expor a subsunção real do trabalho ao capital. O trabalho é formalmente subsumido (incluído, tornado parte) ao capital quando há uma primeira transformação nas relações sociais de produção, quando o artesão passa a ser um proletário. Apesar das transformações no processo produtivo e de uma nova configuração espacial terem surgido com as fábricas, o trabalhador ainda tinha a capacidade de conhecer todos os caminhos da fabricação do produto, mesmo estando submetido, ou seja, mesmo vendendo sua força de trabalho ao capitalista. A subsunção passa a ser real com o advento da primeira Revolução Industrial, na segunda metade do século XVIII. Nesse momento, de acordo com Marx, está completo o processo do conhecimento técnico, que foi transferido do trabalhador para o sistema de máquinas. Essa transferência de conhecimento torna o trabalhador subordinado ao capitalista e, ao mesmo tempo, à máquina. O conhecimento se torna segmentado e o operário não conhece mais o processo produtivo por completo. Estamos vivendo em um período em que a indústria está mais desenvolvida. Há uma mudança no paradigma tecnológico no interior da fábrica, ou seja, não é uma passagem da produção não-industrial para uma industrial, mas há um processo de substituição de máquinas, isto é, passamos do domínio de uma tecnologia eletro-mecânica para um domínio da tecnologia micro-eletrônica. 16 O avanço tecnológico tem um potencial libertador, mas ele precisa ser inserido em novas relações sociais e novas relações de trabalho. As pessoas não trabalham menos porque o capital resiste em diminuir a jornada de trabalho e, assim, esse potencial libertador tecnológico não consegue desenvolver seu papel. Os efeitos do avanço tecnológico no emprego podem ser combatidos de diversas formas. De acordo com Raul Bastos, uma das formas seria o crescimento econômico, pois este gera emprego e a outra é a redução da jornada de trabalho. “Creio também que o processo de globalização traz implicações sobre o emprego, pois na medida em que as economias se tornam mais abertas, acirra a concorrência e colocam-se novos parâmetros de competitividade para as empresas. O que acontece é que os setores que estão mais envolvidos com competitividade internacional são os mais afetados”. Bastos lembra que com exceção de alguns países da Ásia, o resto do mundo está num período modesto de crescimento e, portanto, há um agravamento dos problemas de desemprego. É incorreto atribuir o desemprego ao despreparo do trabalhador em lidar com as novas tecnologias. Ao aceitar essa proposição, fica subentendido que há uma perfeita adequação entre a quantidade de empregos disponíveis e a população economicamente ativa. Há desempregados porque eles não conseguem ocupar os postos de trabalho por falta de qualificação. Mas as pessoas estão desempregadas não por falta de qualificação e sim porque não existe emprego para todos. Há uma desestruturação do mercado de trabalho. SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES: TEORIA DE MAX WEBER E A BUROCRACIA Considerando-se as instituições como mediações entre estruturas e comportamentos individuais, sustenta-se que é possível encontrar, tanto em Ciência Política como em Economia e Sociologia, um mesmo desenvolvimento básico do institucionalismo, dividido em três grandes correntes, cada uma com sua própria genealogia. Na teoria econômica francesa essas três correntes correspondem à teoria da regulação, à nova economia institucional e à economia das convenções. Basicamente os novos institucionalismos se diferenciam a partir de duas grandes oposições: 1) o peso que atribuem na gênese das instituições aos conflitos de interesse e de poder ou à coordenação entre indivíduos; 2) o papel que atribuem à racionalidade estritamente instrumental, ou então às representações e à cultura. A ESCOLA DE RELAÇÕES HUMANAS: ELTON MAYO E O INÍCIO DOS ESTUDOS CIENTÍFICOS DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Escola das Relações Humanas Principais vultos: Eltom Mayo (1880/1947), Kurt Lewin (1890/1947), John Dewey, Morris Viteles e George C. Homans. A Teoria das Relações Humanas, surgiu nos Estados Unidos como conseqüência imediata das conclusões obtidas na Experiência em Hawthorne, desenvolvida por Elton Mayo e seus colaboradores. Foi basicamente um movimento de reação e de oposição à Teoria Clássica da Administração. A origem da Teoria das Relações Humanas são: 17 1- A necessidade de humanizar e democratizar a administração, libertando-a dos conceitos rígidos e mecanicistas da Teoria Clássica e adequando-a aos novos padrões de vida do povo americano. 2- O desenvolvimento das chamadas ciências humanas, principalmente a Psicologia e a Sociologia. 3- As idéias da filosofia pragmática de John Dewey e da Psicologia Dinâmica de Kurt Lewin foram capitais para o humanismo na administração. 4- As conclusões da Experiência em Hawthorne, desenvolvida entre 1927 e 1932, sob a coordenação de Elton Mayo. Os estudos em Hawthorne de Elton George Mayo (1880-1949) A Western Eletric era uma companhia norte-americana que fabricava equipamentos para empresas telefônicas. A empresa sempre se caracterizara pela preocupação com o bem estar de seus funcionários, o que lhe proporcionava um clima constantemente sadio de relações industriais. Durante mais de 20 anos não se constatara nenhuma greve ou manifestação. Um diagnóstico preliminar nos diria que o moral na companhia era alto e os funcionários confiavam na competência de seus administradores. No período entre 1927 e 1932 foram realizadas pesquisas em uma das fábricas da Western Electric Company, localizada em Hawthorne, distrito de Chicago. A fábrica contava com cerca de 40 mil empregados e as experiências realizadas visavam detectar de que modo fatores ambientais - como a iluminação do ambiente de trabalho- influenciavam a produtividade dos trabalhadores. As experiências foram realizadas por um comitê constituído por três membros da empresa pesquisada e quatro representantes da Escola de Administração de Empresas de Harvard. Em 1924, com a colaboração do Conselho Nacional de Pesquisas, iniciara na fábrica de Hawthorne uma série de estudos para determinar uma possível relação entre a intensidade da iluminação do ambiente de trabalho e a eficiência dos trabalhadores, medida pelos níveis de produção alcançados. Esta experiência que se tornaria famosa, foi coordenada por Elton Mayo, e logo se estendeu ao estudo da fadiga, dos acidentes no trabalho, da rotação de pessoal e do efeito das condições físicas de trabalho sobre a produtividade dos empregados. Entretanto a tentativa foi frustada, os pesquisadores não conseguiram provar a existência de qualquer relação simples entre a intensidade de iluminação e o ritmo de produção. Reduziu-se a iluminação na sala experimental. Esperava-se uma queda na produção, mas o resultado foi o oposto, a produção na verdade aumentou. Os pesquisadores verificaram que os resultados da experiência eram prejudicados por variáveis de natureza psicológica. Tentaram eliminar ou neutralizar o fator psicológico, então estranho e impertinente, razão pela qual a experiência prolongou-se até 1932, quando foi suspensa em razão da crise econômica de 1929. 18 Os estudos básicos efetuados por Mayo e seu grupo tiveram três fases: Sala de provas de montagem de Relés Programa de Entrevista Sala de observações da montagem de terminais Conclusões da Experiência em Hawthorne A experiência em Hawthorne permitiu o delineamento dos princípios básicos da Escola das Relações Humanas que veio a se formar logo em seguida. Destacamos a seguir as principais conclusões. 1- Nível de Produção é Resultante da Integração Social Quanto mais integrado socialmente no grupo de trabalho, tanto maior a sua disposição de produzir. 2- Comportamento Social dos Empregados se apóiam totalmente no grupo. Os trabalhadores não reagem isoladamente como indivíduos, mas como membros do grupo. O grupo que define a quota de produção. O grupo pune o indivíduo que sai das normas grupais. 3- Grupos informais – Os pesquisadores de Hawthorne concentraram suas pesquisas sobre os aspectos informais da organização. A empresa passou a ser visualizada como uma organização social composta de diversos grupos sociais informais. Esses grupos informais definem suas regras de comportamento, suas formas de recompensas ou sanções sociais, seus objetivos, sua escala de valores sociais, suas crenças e expectativas. Delineou-se com essa teoria o conceito de organização informal. 4- As Relações Humanas são as ações e atitudes desenvolvidas pelos contatos entre pessoas e grupos. Os indivíduos dentro da organização participam de grupos sociais e mantêm-se uma constante interação social. Relações Humanas são as ações e atitudes desenvolvidas pelos contatos entre pessoas e grupos. Cada indivíduo é uma personalidade diferenciada que influi no comportamento e atitudes uns dos outros com quem mantém contatos. É exatamente a compreensão da natureza dessas relações humanas que permite ao administrador melhores resultados de seus subordinados. 5- A importância do Conteúdo do Cargo. A maior especialização e portanto a maior fragmentação do trabalho não é a forma mais eficiente do trabalho. Mayo e seus colaboradores verificaram que a extrema especialização defendida pela Teoria Clássica não cria necessariamente a organização mais eficiente. Foi observado que os operários trocavam de posição para variar a monotonia, contrariando a política da empresa. Essas trocas eram negativas na produção, mas elevava o moral do grupo. 6- Ênfase nos aspectos emocionais. Os elementos emocionais, não planejados e mesmo irracionais do comportamento humano passam a merecer atenção especial por parte de quase todas as grandes figuras da Teoria das Relações Humanas. Teoria Clássica Teoria da Relações Trata a organização como uma Máquina 19 Trata a organização como um grupo de pessoas Enfatiza as tarefas ou a tecnologia Enfatiza as pessoas Inspirada em sistemas de engenharia Inspirada em sistemas de psicologia Autoridade Centralizada Delegação plena de autoridade Linhas claras de autoridade Autonomia do empregado Especialização e competência Técnica Confiança e abertura Acentuada divisão do trabalho Ênfase nas relações humanas entre as pessoas Confiança nas regras e nos regulamentos Confiança nas pessoas Clara separação entre linha e staff Dinâmica grupal e interpessoal Decorrência da Teoria das Relações Humanas Com o advento da Teoria das Relações Humanas, uma nova linguagem passa a dominar o repertório administrativo: Fala-se agora em motivação, liderança, comunicação, organização informal, dinâmica de grupo etc. Os princípios clássicos passam a ser duramente contestados. O engenheiro e o técnico cedem lugar ao psicólogo e ao sociólogo. O método e a máquina perdem a primazia em favor da dinâmica de grupo. A felicidade humana passa a ser vista sob um ângulo completamente diferente, pois o homoeconomicus cede lugar ao homem social. A ênfase nas tarefas e na estrutura é substituída pela ênfase nas pessoas. Motivação A teoria da motivação procura explicar os porquês do comportamento das pessoas. Vimos na Teoria da Administração Cientifica que a motivação era pela busca do dinheiro e das recompensas salariais e materiais do trabalho. A experiência de Hawthorne veio demonstrar que o pagamento, ou recompensa salarial, não é o único fator decisivo na satisfação do trabalhador. Elton Mayo e sua equipe passaram a chamar a tenção para o fato de que o homem é motivado por recompensas sociais, simbólicas e não materiais. A compreensão da motivação do comportamento exige o conhecimento das necessidades humanas. A Teoria das Relações Humanas constatou a existência de certas necessidades humanas fundamentais: O MORAL E A ATITUDE. A literatura sobre o moral teve seu inicio com a Teoria das Relações Humanas. O moral é um conceito abstrato, intangível, porém perfeitamente perceptível. O moral é uma decorrência do estado motivacional, uma atitude mental provocada pela satisfação ou não satisfação das necessidades dos indivíduos. O moral elevado é acompanhado de uma atitude de interesse, identificação, aceitação fácil, entusiasmo e impulso em relação ao trabalho, em geral paralelamente a uma diminuição dos problemas de supervisão e de disciplina. O moral elevado devolve a colaboração. LIDERANÇA. A Teoria Clássica não se preocupou virtualmente com a liderança e suas implicações. Com a Teoria das Relações Humanas, passou-se a constatar a enorme 20 influência da liderança informal sobre o comportamento das pessoas. A Experiência de Hawthorne teve o mérito – entre outros – de demonstrar a existência de líderes informais que encarnavam as normas e expectativas do grupo e que mantinham estrito controle sobre o comportamento do grupo, ajudando os operários a atuarem como um grupo social coeso e integrado. Liderança é a influência interpessoal exercida numa situação e dirigida através do processo da comunicação humana à consecução de um ou de diversos objetivos específicos A liderança constitui um dos temas administrativos mais pesquisados e estudados nos últimos cinqüenta anos. COMUNICAÇÕES. Com o desenrolar das conseqüências das Experiências de Hawthorne e das experiências sobre liderança, os pesquisadores passaram a concentrar sua atenção nas oportunidades de ouvir e aprender em reuniões de grupo e notar os problemas das comunicações entre grupos de empresas. Passou-se a identificar a necessidade de elevar a competência dos administradores através do trato interpessoal, no sentido de adquirirem condições de enfrentar com eficiência os complexos problemas de comunicação, bem como de adquirir confiança e franqueza no seu relacionamento humano. Neste sentido, a Teoria das Relações Humanas criou uma pressão sensível sobre a Administração no sentido de modificar as habituais maneiras de dirigir as organizações. O enfoque das relações humanas adquiriu certa imagem popular cujo efeito líquido foi compelir os administradores a: a- Assegurar a participação dos escalões inferiores na solução dos problemas da empresa. b- Incentivar maior franqueza e confiança entre os indivíduos e os grupos nas empresas. A comunicação é uma atividade administrativa que tem dois propósitos principais: a- Proporcionar informação e compreensão necessárias para que as pessoas possam conduzir-se nas suas tarefas. b- Proporcionar as atitudes necessárias que promovam motivação, cooperação e satisfação no cargo. Estes dois propósitos, em conjunto, promovem um ambiente que conduz a um espírito de equipe e um melhor desempenho nas tarefas. Para a Teoria das Relações Humanas, a comunicação é importante no relacionamento entre as posições e no conhecimento e na explicação aos participantes inferiores das razões das orientações tomadas. DINÂMICA DE GRUPO. Fundada por Kurt Lewin a Escola da Dinâmica de grupo desenvolve uma proposição geral de que o comportamento, as atitudes, as crenças e os valores do indivíduo baseiam-se firmemente nos grupos aos quais pertence. Dinâmica de grupo é a soma de interesses dos componentes do grupo, que pode ser ativada através de estímulos e motivações, no sentido de maior harmonia e aumento do relacionamento. As relações existentes entre os membros de um grupo recebem o nome de relações intrínsecas. O chefe deve estar atento às relações entre os componentes do grupo, deve procurar desenvolver o sentido de equipe, estimulando os seus elementos ao respeito e à estima recíprocos. As reuniões periódicas, as palestras, as conversas informais com os componentes do grupo colaboram para que estes resultados sejam alcançados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 21 AGLIETTA, M. (1997). "Postface", in Croissance et crises du capitalisme. Paris, Odile Jacob. BASLE, M. (1995). "Antécédents institutionnalistes méconnus ou connus de la théorie de la régulation", in BOYER, R. e SAILLARD, Y. (orgs.), Théorie de la régulation. LÉtat des savoirs. Paris, La découverte. LEITE, Márcia - PESQUISADORA DA UNICAMP REVISÃO EM SÍNTESE 1. Explique duas características do pensamento de Karl Marx, Max Weber e Elton Mayo. 2. O que você entendeu sobre Sociologia crítica? 3. Explique a inovação da escola de relações humanas. 4. Em que se baseiam o comportamento, crença, atitudes e valores do indivíduo? 5. Qual a intenção da Teoria das Relações Humanas na organização, sob a ótica de Elton Mayo? 6. Qual a importância das comunicações nas Experiências de Hawthorne conduzidas por Elton Mayo? CAPÍTULO V Durkheim e a teoria sociológica Émile Durkheim (Épinal, 15 de abril de 1858 — Paris, 15 de novembro de 1917) é considerado um dos pais da sociologia moderna. Durkheim foi o fundador da escola francesa de Sociologia. É reconhecido amplamente como um dos melhores teóricos do conceito da coesão social. Partindo da afirmação de que "os fatos sociais devem ser tratados como coisas", forneceu uma definição do normal e do patológico aplicada a cada sociedade, em que o normal seria aquilo que é ao mesmo tempo obrigatório para o indivíduo e superior a ele, o que significa que a sociedade e a consciência coletiva são entidades morais, antes mesmo de terem uma existência tangível. Essa preponderância da sociedade sobre o indivíduo deve 22 permitir a realização desse, desde que consiga integrar-se a essa estrutura. Para que reine certo consenso nessa sociedade, deve-se favorecer o aparecimento de uma solidariedade entre seus membros. Uma vez que a solidariedade varia segundo o grau de modernidade da sociedade, a norma moral tende a tornar-se norma jurídica, pois é preciso definir, numa sociedade moderna, regras de cooperação e troca de serviços entre os que participam do trabalho coletivo (preponderância progressiva da solidariedade orgânica). Objetividade científica Seu trabalho principial é na reflexão e no reconhecimento da existência de uma “Consciência Coletiva”. Ele parte do princípio que o homem seria apenas um animal selvagem que só se tornou Humano porque se tornou sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes característicos de seu grupo social para poder conviver no meio deste. A este processo de aprendizagem, Durkheim chamou de “Socialização”, a consciência coletiva seria então formada durante a nossa socialização e seria composta por tudo aquilo que habita nossas mentes e que serve para nos orientar como devemos ser, sentir e nos comportar. E esse “tudo” ele chamou de “Fatos Sociais”, e disse que esses eram os verdadeiros objetos de estudo da Sociologia. Nem tudo que uma pessoa faz é um fato social, para ser um fato social tem de atender a 3 características: generalidade, exterioridade e coercitividade. Isto é, o que as pessoas sentem, pensam ou fazem independente de suas vontades individuais, é um comportamento estabelecido pela sociedade. Não é algo que seja imposto especificamente a alguém, é algo que já estava lá antes e que continua depois e que não dá margem a escolhas. Em seus estudos, ele concluiu que os fatos sociais atingem toda a sociedade, o que só é possível se admitirmos que a sociedade é um todo integrado. Se tudo na sociedade está interligado, qualquer alteração afeta toda a sociedade, o que quer dizer que se algo não vai bem em algum setor da sociedade, toda ela sentirá o efeito. Partindo deste raciocínio ele desenvolve dois dos seus principais conceitos: Instituição Social e Anomia. A instituição social é um mecanismo de proteção da sociedade, é o conjunto de regras e procedimentos padronizados socialmente, reconhecidos, aceitos e sancionados pela sociedade, cuja importância estratégica é manter a organização do grupo e satisfazer as necessidades dos indivíduos que dele participam. As instituições são, portanto, conservadoras por essência, quer seja família, escola, governo, polícia ou qualquer outra, elas agem fazendo força contra as mudanças, pela manutenção da ordem. Durkheim deixa bem claro em sua obra o quanto acredita que essas instituições são valorosas e parte em sua defesa, o que o deixou com uma certa reputação de conservador, que durante muitos anos causou antipatia a sua obra. Mas Durkheim não pode ser meramente tachado de conservador, sua defesa das instituições se baseia num ponto fundamental: o ser humano necessita se sentir seguro, protegido e respaldado. Uma sociedade sem regras claras (num conceito do próprio Durkheim, "em estado de anomia"), sem valores, sem limites leva o ser humano ao desespero. Preocupado com esse desespero, Durkheim se dedicou ao estudo da criminalidade, do suicídio e da religião. O homem que inovou construindo uma nova ciência, inovava novamente se preocupando com fatores psicológicos, antes da existência da Psicologia. Seus estudos foram fundamentais para o desenvolvimento da obra de outro grande homem: Freud. 23 Basta uma rápida observação do contexto histórico do século XIX, para se perceber que as instituições sociais se encontravam enfraquecidas, havia muito questionamento, valores tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita gente vivendo em condições miseráveis, desempregados, doentes e marginalizados. Ora, numa sociedade integrada essa gente não podia ser ignorada, de uma forma ou de outra, toda a sociedade estava ou iria sofrer as conseqüências. Aos problemas que ele observou, ele considerou como patologia social, e chamou aquela sociedade doente de “Anomana”. A anomia era a grande inimiga da sociedade, algo que devia ser vencido, e a sociologia era o meio para isso. O papel do sociólogo seria portanto estudar, entender e ajudar a sociedade. Na tentativa de “curar” a sociedade da anomia, Durkheim escreve “A divisão do trabalho social na problematica budista”, onde ele descreve a necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgânica entre os membros da sociedade. A solução estaria em, seguindo o exemplo de um organismo biológico, onde cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver, se cada membro da sociedade exercer uma função na divisão do trabalho, ele será obrigado através de um sistema de direitos e deveres, e também sentirá a necessidade de se manter coeso e solidário aos outros. O importante para ele é que o indivíduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente precise da sociedade de forma orgânica, interiorizada e não meramente mecânica. Refletindo sobre a importância da dependência entre os membros da sociedade, inúmeros estudiosos que se seguiram a Durkheim desenvolveram o que ficou conhecido como “Funcionalismo”. Creio que não é possível chegar a esse ponto sem lembrar de Marx conclamando a “união” dos trabalhadores. Uma união consciente dos indivíduos ou uma união dependente, de um jeito ou de outro, ambos se opõe ao individualismo possessivo, o que nos remete a dificuldade de convivência entre os homens. Mais de 1 século depois o conflito ainda não está resolvido, Durkheim se visse nossa sociedade ficaria chocado com seu grau de “anomia” e talvez ficasse decepcionado ao saber que os sociólogos já não querem mais “salvar o mundo”. Contudo, a História está cheia “durkheims” e assim continuará. Valor da Sociologia Na sociologia, os valores vão ser abordados com produto das relações sociais e relacionados com "normas", "representações", etc. Conceito de fato social O fato social também pode ser distinguido pelo estado de independência em que se encontra em relação às suas manifestações individuais: “O que ele exprime é um certo estado da alma coletiva.” (DURKHEIM, 2003, p.31). Para ele, um fenômeno coletivo é aquele que é geral, ou seja, comum a todos os membros da sociedade, ou, pelo menos, à maior parte deles. O autor assim resume sua definição de fato social: Os fatos sociais podem ser menos consolidados, fluidos, como as maneiras de agir, ou ter uma forma já cristalizada na sociedade, como as maneiras de ser. Maneiras de agir seriam expressas pelas correntes sociais, movimentos coletivos, correntes de opinião. As maneiras de ser seriam expressas pelas regras jurídicas, morais, dogmas religiosos e sistemas financeiros. 24 Conceito de coerção social A idéia de coerção social está na origem da Sociologia. Foi desenvolvida por Durkheim em seus primeiros trabalhos, na virada para este século, justamente na tentativa de demonstrar a existência de fenômenos especiais que influenciam alguns acontecimentos e atitudes individuais, e que escapam a uma explicação puramente psicológica. Segundo Durkheim, quando o homem vive em sociedade, boa parte de suas ações não são resultado exclusivo de decisões isoladas, mas também de princípios exteriores a sua própria vontade. Esses princípios são os valores e os comportamentos que são convenientes para sociedade em questão, e que ela de alguma forma tenta induzir aos seus integrantes. É essa "pressão" que a sociedade exerce sobre seus membros para adequar-lhes a conduta que recebeu o nome de coerção social. A coerção social pode manifestar-se de várias maneiras, anteriores ou posteriores ao ato individual, e todas elas são refletidas nos comportamentos das pessoas envolvidas. Uma das mais importantes formas de coerção é anterior a atitude, e coincide com a socialização: ao ser educado, o indivíduo assimila princípios que já existiam antes dele, e que de uma forma ou de outra limitam-lhe o leque de alternativas para ação. Por exemplo, no convívio com outras pessoas, o indivíduo adapta o desejo natural de encontrar um(a) companheiro(a) e procriar, transformando-o em uma busca pelo casamento e por constituir uma família. Sociologia funcionalista Refletindo sobre a importância da dependência entre os membros da sociedade, inúmeros estudiosos que se seguiram a Durkheim desenvolveram o que ficou conhecido como “Funcionalismo”. Não é possível chegar a esse ponto sem lembrar de Marx conclamando a “união” dos trabalhadores. Uma união consciente dos indivíduos ou uma união dependente, de um jeito ou de outro, ambos se opõem ao individualismo possessivo, o que nos remete à dificuldade de convivência entre os homens. Mais de um século depois, o conflito ainda não está resolvido, Durkheim se visse nossa sociedade ficaria chocado com seu grau de “anomia” (1) e talvez ficasse decepcionado ao saber que os sociólogos já não querem mais “salvar o mundo”. Contudo, a História está cheia de “durkheims” e assim continuará. Solidariedade mecânica e solidariedade orgânica Solidariedade mecânica e orgânica: a divisão de trabalho, além dos serviços econômicos, tem como importância o efeito moral; criam entre duas ou mais pessoas, um sentimento de solidariedade, gerando um equilíbrio interligado. A solidariedade mecânica é oriunda das semelhanças individuais, é uma necessidade de vivência social, pois liga o indivíduo à sociedade, tornando harmônicas as suas relações. Para isto, necessita de pressão (Direito repressivo) contra qualquer desvio de limite, imposto pela consciência coletiva. A solidariedade orgânica é a independência individual, mas depende da sociedade 25 porque depende das partes que a compõem. Contudo, a solidariedade orgânica dá parâmetros de liberdade à consciência individual (Direito restitutivo), surgindo um novo tipo de solidariedade. Divisão do trabalho social Na tentativa de “curar” a sociedade da anomia, Durkheim escreve “A divisão do trabalho social”, onde ele descreve a necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgânica entre os membros da sociedade. A solução estaria, seguindo o exemplo de um organismo biológico, onde cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver, se cada membro da sociedade exercer uma função na divisão do trabalho, ele será obrigado através de um sistema de direitos e deveres, e também sentirá a necessidade de se manter coeso e solidário aos outros. O importante para ele é que o indivíduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente precise da sociedade de forma orgânica, interiorizada e não meramente mecânica. (1) A anomia é um estado de falta de objetivos e perda de identidade, provocado pelas intensas transformações ocorrentes no mundo social moderno. A partir do surgimento do Capitalismo, e da tomada da Razão, como forma de explicar o mundo, há um brusco rompimento com valores tradicionais, fortemente ligados à concepção religiosa. A Modernidade, com seus intensos processos de mudança, não fornecem novos valores que preencham os anteriores demolidos, ocasionando uma espécie de vazio de significado no cotidiano de muitos indivíduos. Há um sentimento de se "estar à deriva", participando inconscientemente dos processos coletivos/sociais: perda quase total da atuação consciente e da identidade. Este termo foi cunhado por Durkheim em seu livro O Suicídio. Durkheim emprega este termo para mostrar que algo na sociedade não funciona de forma harmônica. Algo desse corpo está funcionando de forma patológica ou "anomicamente". Em seu famoso estudo sobre o suicídio, Durkheim mostra que os fatores sociais - especialmente da sociedade moderna - exercem profunda influência sobre a vida dos indivíduos com comportamento suicida. Referências bibliográficas Durkheim, E. As regras do método sociológico. São Paulo, Ed. Martin Claret, 2002; Aron, R. As etapas do pensamento sociológico. (págs: 297 a 369); Goldman, L. Ciências humanas e filosofia. São Paulo, Ed. Difel. 1967 (págs: 27 a 70); Martins, J. de S. Ideologia e sociedade. Rio, 1930 (págs: 23 a 45). Exercícios para debate 1. Explique o que é sociologia funcionalista. 2. O que é divisão do trabalho social? 3. O que é fato social e quais são as suas características? 26 4. Onde são refletidas as formas da coersão social? 5. A que princípio científico se refere Durkheim? CAPÍTULO V SÍMBOLOS E CULTURA Conceito de cultura Na sua primeira acepção, cultura é um termo que vem do alemão e que é oriundo de palavras como "folk" e "kulture" que quer dizer povo (agricultura) Voltaire, um dos poucos pensadores franceses do século XVIII partidários de um concepção relativista da história humana. 27 Diversos sentidos da palavra variam consoante a aplicação em determinado ramo do conhecimento humano. Ciências sociais - (latu sensu) é o aspecto da vida social que se relaciona com a produção do saber, arte, folclore, mitologia, costumes, etc., bem como à sua perpetuação pela transmissão de uma geração à outra. Sociologia - o conceito de cultura tem um sentido diferente do senso comum. Sintetizando simboliza tudo o que é aprendido e partilhado pelos indivíduos de um determinado grupo e que confere uma identidade dentro do seu grupo de pertença. Na sociologia não existem culturas superiores, nem culturas inferiores pois a cultura é relativa, designando-se em sociologia por relativismo cultural, isto é a cultura do Brasil não é igual à cultura portuguesa, por exemplo: diferem na maneira de se vestirem, na maneira de agirem, têm crenças, valores e normas diferentes... isto é têm padrões culturais distintos. Filosofia - cultura é o conjunto de manifestações humanas que contrastam com a natureza ou comportamento natural. Por seu turno, em biologia uma cultura é normalmente uma criação especial de organismos (em geral microscópicos) para fins determinados (por exemplo: estudo de modos de vida bacterianos, estudos microecológicos, etc.). No dia-a-dia das sociedades civilizadas (especialmente a sociedade ocidental) e no vulgo costuma ser associada à aquisição de conhecimentos e práticas de vida reconhecidas como melhores, superiores, ou seja, erudição; este sentido normalmente se associa ao que é também descrito como “alta cultura”, e é empregado apenas no singular (não existem culturas, apenas uma cultura ideal, à qual os homens indistintamente devem se enquadrar). Dentro do contexto da filosofia, a cultura é um conjunto de respostas para melhor satisfazer as necessidades e os desejos humanos. Cultura é informação, isto é, um conjunto de conhecimentos teóricos e práticos que se aprende e transmite aos contemporâneos e aos vindouros. A cultura é o resultado dos modos como os diversos grupos humanos foram resolvendo os seus problemas ao longo da história. Cultura é criação. O homem não só recebe a cultura dos seus antepassados como também cria elementos que a renovam. A cultura é um fator de humanização. O homem só se torna homem porque vive no seio de um grupo cultural. A cultura é um sistema de símbolos compartilhados com que se interpreta a realidade e que conferem sentido à vida dos seres humanos. Antropologia - esta ciência entende a cultura como o totalidade de padrões aprendidos e desenvolvidos pelo ser humano. Segundo a definição pioneira de Edward Burnett Tylor, sob a etnologia (ciência relativa especificamente do estudo da cultura) a cultura seria “o complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. Portanto corresponde, neste último sentido, às formas de organização de um povo, seus costumes e tradições transmitidas de geração para geração que, a partir de uma vivência e tradição comum, se apresentam como a identidade desse povo. A principal característica da cultura é o chamado mecanismo adaptativo: a capacidade de responder ao meio de acordo com mudança de hábitos, mais rápida do que uma possível evolução biológica. O homem não precisou, por exemplo, desenvolver longa pelagem e grossas camadas de gordura sob a pele para viver em ambientes mais frios – ele simplesmente adaptou-se com o uso de roupas, do fogo e de habitações. A evolução cultural é mais rápida do que a biológica. No entanto, ao rejeitar a evolução biológica, o homem 28 torna-se dependente da cultura, pois esta age em substituição a elementos que constituiriam o ser humano; a falta de um destes elementos (por exemplo, a supressão de um aspecto da cultura) causaria o mesmo efeito de uma amputação ou defeito físico, talvez ainda pior. Além disso a cultura é também um mecanismo cumulativo. As modificações trazidas por uma geração passam à geração seguinte, de modo que a cultura transforma-se perdendo e incorporando aspectos mais adequados à sobrevivência, reduzindo o esforço das novas gerações. Um exemplo de vantagem obtida através da cultura é o desenvolvimento do cultivo do solo, a agricultura. Com ela o homem pôde ter maior controle sobre o fornecimento de alimentos, minimizando os efeitos de escassez de caça ou coleta. Também pôde abandonar o nomadismo; daí a fixação em aldeamentos, cidades e estados. Cultura nas organizações DEFININDO AS ORGANIZAÇÕES Segundo Srour, podemos definir organização como “agentes coletivos, à semelhança das classes sociais, das categorias sociais e dos públicos” que “são planejadas de forma deliberada para realizar um determinado objetivo” As organizações, desde o tempo dos mais antigos estudiosos da administração, como Fourier, Morelly, Blanc, Saint Simon, passando pelos tradicionais Taylor e Fayol, preocupavam-se primordialmente com a estrutura. Foi Elton Mayo, já na terceira década deste século, quem começou o questionamento sobre as relações humanas, dando algumas das primeiras contribuições a essa temática, seguido principalmente por Follet e Barnard. Este, no seu estudo da “Autoridade e Comunicação”, defendia que “as pessoas têm motivações individuais e cooperam com os outros para atingir certos propósitos” (Apud PARK, 1997). A visão mecanicista, que encara a organização como estruturas rígidas, tem sido deixada de lado de maneira inflexível por alguns estudiosos - como por exemplo Fritjof Capra - e por algumas organizações, que propõem a chamada visão sistêmica, pela qual se encaram as organizações como organismos vivos, as quais, dentro do paralelo, desenvolvem-se e adaptam-se aos impulsos da realidade. Segundo Capra, “o controle não é a melhor abordagem, mas sim a cooperação, o diálogo e a colaboração”, deixando claras as suas posições sobre o poder e suas manifestações no âmbito organizacional. Vivemos, em fins do século XX, um momento de busca incessante pelo conhecimento da organização, em que os staffs buscam prioritariamente a essência de suas corporações(1). Cultura, subcultura, contracultura Na Sociologia, Antropologia e estudos culturais, uma subcultura é um grupo de pessoas com características distintas de comportamentos e credos que os diferenciam de uma cultura mais ampla da qual elas fazem parte. A subcultura pode se destacar devido à idade de seus integrantes, ou por sua raça, etnia, classe e/ou gênero, e as qualidades que determinam uma subcultura como distinta podem ser de ordem estética, religiosa, ocupacional, política, sexual, ou por uma combinação desses fatores. 29 O termo contracultura pode se referir ao conjunto de movimentos de rebelião da juventude que marcaram os anos 60: o movimento hippie, a música rock, uma certa movimentação nas universidades, viagens de mochila, drogas e assim por diante. Trata-se, então, de um fenômeno datado e situado historicamente e que, embora muito próximo de nós, já faz parte do passado. De outro lado, o mesmo termo pode também se referir a alguma coisa mais geral, mais abstrata, um certo espírito, um certo modo de contestação, de enfrentamento diante da ordem vigente, de caráter profundamente radical e bastante estranho às forças mais tradicionais de oposição a esta mesma ordem dominante. Um tipo de crítica anárquica – esta parece ser a palavra-chave – que, de certa maneira, ‘rompe com as regras do jogo’ em termos de modo de se fazer oposição a uma determinada situação. Uma contracultura, entendida assim, reaparece de tempos em tempos, em diferentes épocas e situações, e costuma ter um papel fortemente revigorador da crítica social. A partir de todos esse fatos era difícil ignorar-se a contracultura como forma de contestação radical, pois rompia com praticamente todos os hábitos consagrados de pensamentos e comportamentos da cultura dominante, surgindo inicialmente na imprensa, foi ganhando espaço no sentido de lançar rótulos ou modismos. Cultura real e cultura ideal. Cultura de Equipe Ideal O perfil de cultura ideal criado pela organização indica que se exige um estilo de equipe que reúne papéis do tipo inovador e pioneiro. Essa equipe deve: * Obter resultados com base em fatos e informações. * Absorver e transmitir informações técnicas. * Prestar atenção aos detalhes ao atingir objetivos. * Procurar tarefas desafiadoras em sua área específica. * Tomar decisões de maneira sistemática e lógica. * Ter um interesse amigável pelas pessoas. * Influenciar e convencer os outros para obter comprometimento. * Assegurar a manutenção da qualidade e dos padrões. * Motivar os demais e mantê-los concentrados nas respectivas metas. * Aderir a regras, procedimentos e diretrizes da organização. * Procurar encontrar soluções satisfatórias para os problemas. * Proceder com confiança depois de qualificar uma ação e concluir sua análise. * Concentrar-se na obtenção de resultados e no aprimoramento dos padrões. * Ter uma determinada cautela antes de agir. * Avaliar informações analíticas. Papel Da Equipe Ideal Para que a equipe ideal possa trabalhar com sucesso, é vital que pelo menos um dos papéis descritos a seguir esteja representado. Pioneiro O pioneiro busca resultados, é ativo e exigente, especialmente diante de incertezas e/ou oposição. Estimula a si mesmo e os demais a desenvolver e atingir objetivos, metas e resultados de longo prazo. Inovador 30 O inovador consegue enfrentar novos desafios e desenvolver soluções imaginativas para problemas difíceis, criando e desenvolvendo idéias novas e inovadoras. Líder Ideal Para Essa Equipe Em decorrência das diferenças entre a cultura real e ideal da equipe, provavelmente será necessário um processo de mudança na equipe. A pessoa ideal para liderar essa equipe durante uma mudança deve ter um perfil que se ajuste à Cultura Ideal ou deve ter competência para modificar o próprio comportamento a fim de se enquadrar às necessidades dessa Cultura Ideal. Cultura de Equipe Real A cultura da equipe real mostrada anteriormente foi ajustada para mostrar claramente a forma do gráfico. Isso se faz necessário quando é gerada uma forma "fechada". O perfil de cultura "fechado" da equipe real indica que os membros da equipe estão bem equilibrados em termos de talento profissional. Contudo, em termos de comportamento, os integrantes podem ter os seguintes problemas: * Conflito. * Indecisão. * Trabalhar em subgrupos opostos. * Frustrações, problemas e estresses. * Desorientação. * Rejeição e insegurança. * Resistência a mudanças. Se o líder e os membros da equipe estiverem dispostos a modificar consideravelmente seu comportamento, terão uma oportunidade razoável de sucesso. A seguir, mostramos possíveis talentos e limitações da equipe. Talentos Da Equipe Essa equipe amigável e otimista inspira as pessoas com seu entusiasmo. É capaz de motivar e de criar uma atmosfera que estimula todos a se dedicar às respectivas tarefas. Considera os resultados importantes, bem como um ambiente de mudanças rápidas. Atua com um senso de urgência, compete para vencer e está sempre à procura de tarefas desafiadoras. Previdente, questiona o status quo e arrisca-se no desconhecido. Comunica-se verbalmente com os outros e oferece um ótimo nível de estímulo, treinamento e apoio. Orientada para as pessoas, procura desenvolver uma cultura de participação e envolvimento, ao mesmo tempo que compete para vencer e atingir metas. Reação Da Equipe A Mudanças Bastante otimista, essa equipe acata, aceita e gera mudanças prontamente. Os resultados são importantes; por isso, se a mudança agregar algum valor, será tratada com entusiasmo e sem receio. Contudo, às vezes a equipe pode se mostrar impulsiva e deixar de avaliar a fundo as possíveis conseqüências das próprias ações. É ativa, vigilante e reage rapidamente a mudanças. Líder Ideal Para Essa Equipe O líder ideal para essa equipe deve saber lidar com pessoas e influenciar e convencêlas a fim de que se comprometam. O ambiente deve ser amigável e o líder, além de 31 entusiasta e orientado para resultados, deve irradiar otimismo, responder a desafios e elevar o moral dos outros membros da equipe. Valor Da Equipe O ambiente no qual uma equipe trabalha, o nível em que opera e o valor que agrega à organização são fatores vitais para seu sucesso ou fracasso. O valor que essa equipe agrega à organização é o seguinte: * Cumprir metas por meio de pessoas. * Ter o desejo de obter o apoio de outros para concluir tarefas. * Ter disposição para questionar o status quo. * Causar impressões favoráveis e incentivar o envolvimento. * Ter habilidade para se comunicar, interna e externamente. * Identificar e criar mudanças inovadoras. Limitações Da Equipe Toda equipe tem talentos que agregam valor à organização, mas, do mesmo modo, também tem limitações. As limitações dessa equipe são tais que podem: * Não desenvolve estratégias e objetivos de longo prazo. * Toma decisões rapidamente, sem confirmar os fatos. * Assume coisas demais e não acompanha nem conclui as tarefas. BIBLIOGRAFIA BARROS FILHO, Clóvis. Ética na Comunicação - da informação ao receptor. São Paulo, Moderna, 1995. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1975. FRANÇA, Fabio. Comunicação institucional na era da qualidade total. São Paulo, 1997. Dissertação de Mestrado, ECA-USP. EXERCÍCIOS 1. O que é cultura real e cultura ideal? Dê exemplos. 2. Qual a diferença entre cultura, subcultura e contracultura nas organizações? 3. Quais são os elementos que definem a cultura de uma organização? 6. Identificar os pontos fortes da cultura de uma organização ou setor da organização. 32 7. Como você melhoraria a cultura de alguma organização onde você convive ou conhece? CAPÍTULO VI INTERAÇÃO SOCIAL / SOCIALIZAÇÃO Conceito de interação social 33 É a ação social, mutuamente orientada, de dois ou mais indivíduos em contato.Distingue-se da mera interestimulação em virtude de envolver significados e expectativas em relação às ações de outras pessoas.Podemos dizer que a interação social é a relação de ações sociais. Fenômeno cuidadosamente estudado pela psicologia social, originando um novo corpo de ciência que buscou descobrir e estudar as leis e as modalidades dos pequenos grupos, o que inclui dinâmica própria, sua origem e fases de desenvolvimento. O aspecto mais importante da interação social é que ela modifica o comportamento dos indivíduos envolvidos, como resultado do contato e da comunicação que se estabelece entre eles. Desse modo, fica claro que o simples contato físico não é suficiente para que haja uma interação social. Os contatos sociais e a interação constituem, portanto, condições indispensáveis à associação humana. Os indivíduos se socializam por meios dos contatos e da interação social; e a interação social pode ocorrer entre uma pessoa e outra, entre uma pessoa e um grupo e outro. Conceito de contato social e processo social Os indivíduos estão constantemente envolvidos em uma infinidade de processos sociais que os levam a aproximar-se ou afastar-se de seus semelhantes, modificando situações de distância anteriormente existentes. As relações sociais, por sua vez, não correspondem a outra coisa senão a estas situações de maior ou menor distância entre os sujeitos, tomadas em um dado momento do desenvolvimento de processos de associação e dissociação. São o resultado de processos sociais em determinado instante. A intensidade das relações é, pois, determinada pela distância existente entre as pessoas. O conceito de distância social, em Wiese, é multifacetado, sendo inúmeros os fatores que conduzem à aproximação e ao afastamento entre os homens - a linguagem, o sexo, a idade, a classe social, os hábitos etc. - e diversos, também, os pontos de vista sob os quais esta distância pode ser medida. Entre um grupo de indivíduos que obedece certas regras de etiqueta, por exemplo, pode-se identificar a proximidade decorrente do convívio, que é facilitado por tais regras, e, ao mesmo tempo, o distanciamento imposto pela preservação da intimidade, também imposta pela etiqueta. A exemplo das demais categorias da sociologia wieseniana, a noção de contato social é de caráter formal; seu conteúdo e a finalidade com que são estabelecidos não são, em princípio, objeto da investigação sociológica. A categoria do contato social é ampla, e compreende contatos físicos, psíquicos e físico-psíquicos. São fenômenos de curta duração, que não constituem processos sociais de associação e dissociação mas que podem, todavia, desencadeá-los, dando origem a novas relações sociais. Os contatos sociais provocam, também, modificações e até a eliminação de relações já existentes. A principal classificação dos contatos sociais é a que os divide em primários e secundários. Aqueles são contatos próximos, imediatos, estabelecidos através do tato, da visão frente à frente, da fala ou até do olfato, ao passo que estes últimos são contatos que se produzem a maiores distâncias . Os contatos secundários podem ser mantidos com o auxílio de meios de comunicação a distância - telefone, carta, rádio etc. – ou consistir, simplesmente, no pensar em outra pessoa, no desejar sua presença etc. Estes últimos contatos, vividos apenas internamente, também são classificados por Wiese como contatos unilaterais. 34 A categoria do contato social não está entre as mais importantes para a teoria de Wiese, que se interessa, antes de tudo, pelos processos de associação e dissociação entre indivíduos e grupos e pelas relações sociais decorrentes de tais processos. A noção de contato social é, em comparação a estas outras categorias, uma noção ainda mais geral e abstrata, já que são caracterizados como contatos sociais tanto aqueles contatos que resultam no aparecimento de processos sociais (um encontro entre pai e filho, por exemplo) como aqueles que desaparecem sem deixar vestígios (o contato, que pode ser meramente visual, entre dois desconhecidos que viajam juntos no mesmo ônibus e que nunca mais voltam a se encontrar). Embora também possa ser entendida como o resultado de infinitos contatos sociais, não é sob esta perspectiva, mas, sim, sob a perspectiva 35