Charles Darwin

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Charles Darwin
Charles Robert Darwin (Shrewsbury , 12 de Fevereiro de 1809 — Downe,
Kent, 19 de Abril de 1882) foi um naturalista britânico que alcançou fama ao
convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução e propor uma
teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção natural e sexual .
Esta teoria se desenvolveu no que é agora considerado o paradigma central
para explicação de diversos fenômenos na Biologia. Foi laureado com a
medalha Wollaston concedida pela Sociedade Geológica de Londres, em
1859. Darwin começou a se interessar por história natural na universidade
enquanto era estudante de Medicina e, depois, Teologia. A sua viagem de
cinco anos a bordo do Beagle e escritos posteriores trouxeram-lhe
reconhecimento como geólogo e fama como escritor. Suas observações da
natureza levaram-no ao estudo da diversificação das espécies e, em 1838, ao
desenvolvimento da teoria da Seleção Natural. Consciente de que outros
antes dele tinham sido severamente punidos por sugerir idéias como aquela,
ele as confiou apenas a amigos próximos e continuou a sua pesquisa
tentando antecipar possíveis objeções. Contudo, a informação de que Alfred
Russel Wallace tinha desenvolvido uma idéia similar forçou a publicação
conjunta das suas teorias em 1858.Em seu livro de 1859, "A Origem das
Espécies" (do original, em inglês, On the Origin of Species by Means of
Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for
Life), ele introduziu a idéia de evolução a partir de um ancestral comum, por
meio de seleção natural. Esta se tornou a explicação científica dominante
para a diversidade de espécies na natureza. Ele ingressou na Royal Society e
continuou a sua pesquisa, escrevendo uma série de livros sobre plantas e
animais, incluindo a espécie humana, notavelmente "A descendência do
Homem e Seleção em relação ao Sexo" (The Descent of Man, and Selection in
Relation to Sex, 1871) e "A Expressão da Emoção em Homens e Animais"
(The Expression of the Emotions in Man and Animals, 1872). Em
reconhecimento à importância do seu trabalho, Darwin foi enterrado na
Abadia de Westminster, próximo a Charles Lyell , William Herschel e Isaac
Newton. Foi uma das cinco pessoas não ligadas à família real inglesa a ter
um funeral de Estado no século XIX.
Biografia
Infância e educação
Charles Darwin nasceu na casa da sua família em Shrewsbury, Shropshire,
Inglaterra, em 12 de fevereiro de 1809. Ele foi o quinto dos seis filhos do
médico Robert Darwin e sua esposa Susannah Darwin. Seu avô paterno foi
Erasmus Darwin e seu avô materno,
famoso ceramista Josiah Wedgwood, ambos pertencentes à proeminente e
abastada família Darwin-Wedgwood e à elite intelectual da época. Sua mãe
morreu quando ele tinha apenas oito anos. No ano seguinte, em 1818, Darwin
foi enviado para a escola Shrewsbury. Ali, ele só se interessava em
colecionar minerais, insetos e ovos de pássaros, caça, cães e ratos.
Em 1825, depois de passar o verão como médico aprendiz ajudando o seu
pai no tratamento dos pobres de Shropshire, Darwin foi estudar medicina na
Universidade de Edimburgo. Contudo, sua aversão à brutalidade da cirurgia
da época levou-o a negligenciar os seus estudos médicos. Na universidade,
ele aprendeu taxidermia com John Edmonstone, um ex-escravo negro, que
lhe contava muitas histórias interessantes sobre as florestas tropicais na
América do Sul. Em seu segundo ano, Darwin se tornou um ativo participante
de sociedades estudantis para naturalistas. Participou, por exemplo,
daSociedade Pliniana, onde se liam comunicações sobre história natural.
Durante esta época, ele foi pupilo de Robert Edmund Grant, um pioneiro no
desenvolvimento das teorias de Jean-Baptiste Lamarck e do seu avô
Erasmus Darwin sobre a evolução de características adquiridas. Darwin
tomou parte das investigações de Grant a respeito do ciclo de vida de
animais marinhos. Tais investigações contribuíram para a formulação da
teoria de que todos os animais possuem órgãos similares e diferem apenas
em complexidade. No curso de história natural de Robert Jameson, ele
aprendeu sobre geologia estratigráfica. Mais tarde, ele foi treinado na
classificação de plantas enquanto ajudava nos trabalhos com as grandes
coleções do Museu da Universidade de Edimburgo. Em 1827, seu pai,
decepcionado com a falta de interesse de Darwin pela medicina, matriculou-o
em umcurso de Bacharelado em Artes na Universidade de Cambridge para
que ele se tornasse um clérigo. Nesta época, clérigos tinham uma renda que
lhes permitia uma vida confortável e muitos eram naturalistas uma vez que,
para eles, "explorar as maravilhas da criação de Deus" era uma de suas
obrigações. Em Cambridge, entretanto, Darwin preferia cavalgar e atirar a
ficar estudando. Ele também passava muito do seu tempo coletando
besouros com o seu primo William Darwin Fox. Este o apresentou ao
reverendo John Stevens Henslow, professor de botânica e especialista em
besouros que, mais tarde, viria a se tornar o seu tutor. Darwin ingressou no
curso de história natural de Henslow e se tornou um de seus alunos
favoritos. Durante esta época, Darwin se interessou pelas idéias de William
Paley, em particular, a noção de projeto divino na natureza. Em suas provas
finais em janeiro de 1831, ele se saiu muito bem em teologia e, mesmo tendo
feito apenas o suficiente para passar no estudo de cl ássicos, matem ática e
física, foi o décimo colocado entre 178 aprovados. Seguindo os conselhos e
exemplo de Henslow, Darwin não se apressou em ser ordenado. Inspirado
pela narrativa de Alexander von Humboldt, ele planejou se juntar a alguns
colegas e visitar a Tenerife para estudar história natural dos trópicos. Como
preparação, Darwin ingressou no curso de Geologia do reverendo Adam
Sedgwick, um forte proponente da teoria de projeto divino, e viajou com ele
como um assistente no mapeamento estratigráfico no País de Gales.
Contudo, seus planos de viagem à Ilha da Madeira foram subitamente
desfeitos ao receber uma carta que lhe informava a morte de um dos seus
prováveis colegas de viagem. Outra carta, entretanto, recebida ao retornar
para casa, o colocaria novamente em viagem. Henslow havia recomendado
que Darwin fosse o acompanhante de Robert FitzRoy, capitão do barco
inglês HMS Beagle, em uma expedição de dois anos que deveria mapear a
costa da América do Sul. Isto lhe daria a oportunidade de desenvolver a sua
carreira como naturalista. Esta se tornaria uma expedição de quase cinco
anos que teria profundo impacto em muitas áreas da Ciência.
A viagem do Beagle
A viagem do Beagle durou quatro anos e nove meses, dois terços dos quais
Darwin esteve em terra firme. Ele estudou uma rica variedade de
características geológicas, fósseis, organismos vivos e conheceu muitas
pessoas, entre nativos e colonos. Darwin coletou metodicamente um enorme
número de espécimes, muitos dos quais novos para a ciência. Isto
estabeleceu a sua reputação como um naturalista e fez dele um dos
precursores do campo da Ecologia, particularmente a noção de Biocenose.
Suas anotações detalhadas mostravam seu dom para a teorização e
formaram a base para seus trabalhos posteriores, bem como forneceram
visões sociais, pol íticas e antropológicas sobre as regiões que ele
visitou.Durante a viagem, Darwin leu o livro "Princípios da Geologia" de
Charles Lyell, que descrevia características geol ógicas como o resultado de
processos graduais ocorrendo ao longo de grandes períodos de tempo. Ele
escreveu para casa que via formações naturais como se através dos olhos
deLyell: degraus planos de pedras com o aspecto característico de erosão
por água e conchas na Patagônia eram sinais claros de praias que haviam se
elevado; no Chile, ele experimentou um terremoto e observou pilhas de
mexilhões encalhadas acima da maré alta o que mostrava que toda a área
havia sido elevada; e mesmo no alto dos Andes ele foi capaz de coletar
conchas. Darwin ainda teorizou que atóis de coral iam se formando
gradualmente em montanhas vulcânicas à medida que estas afundavam no
mar, uma idéia confirmada posteriormente quando o Beagle esteve nas ilhas
Cocos (keeling). Na América do Sul , ele descobriu fósseis de animais
extintos como o megaterium e o gliptodonte em camadas que não
mostravam quaisquer sinais de catástrofe ou mudanças climáticas. Naquele
tempo, ele pensava que aquelas eram espécimes similares às encontradas na
África mas, após a sua volta, Richard Owen lhe mostrou que os fósseis
encontrados eram mais similares a animais não extintos que viviam na
mesma região (pregui ças e tatus). Na Argentina, duas espécies de ema
viviam em territórios separados mas compartilhavam áreas comuns. Nas
ilhas Galápagos, Darwin descobriu que cotovias (mockingbirds) diferiam de
uma ilha para outra. Ao retornar à Inglaterra, foi lhe mostrado que o mesmo
ocorria com as tartarugas e tentilhões. O rato-canguru e o ornitorrinco,
encontrados na Austrália, eram animais tão estranhos que levaram Darwin a
pensar que "Um incrédulo... poderia dizer que 'seguramente dois criadores
diferentes estiveram em ação'". Todas estas observações o deixaram muito
intrigado e, na primeira edição de "A Viagem do Beagle", ele explicou a
distribuição das espécies à luz da teoria de Charles Lyell de "centros de
criação". Em edições posteriores, ele já dava indicações de como via a fauna
encontrada nas Ilhas Galápagos como evidência para a evolução: "é possível
imaginar que algumas espécies de aves neste arquipélago derivam de um
número pequeno de espécies de aves encontradas originalmente e que se
modificaram para diferentes finalidades". Três nativos foram trazidos de volta
pelo Beagle para a Terra do Fogo. Eles tinham sido "civilizados" na Inglaterra
nos dois anos anteriores, ainda que os seus parentes parecessem à Darwin
selvagens pouco acima de outros animais. Em um ano, entretanto, aqueles
missionários voltaram ao que eram e, de fato, preferiam esta condição uma
vez que não quiseram retornar à Inglaterra. Esta experiência somada a
repulsa de Darwin pela escravidão e outros abusos que ele viu em vários
lugares, tais como o tratamento desumano dos nativos por colonos ingleses
na Tasmânia, o persuadiram de que não há justificativa moral para maltratar
outros homens baseado no conceito de raça. Ele passou então a acreditar
que a humanidade não se encontrava tão distante dos outros animais como
diziam seus amigos do clero. A bordo do barco, Darwin sofria
constantemente de enjôo. Em outubro de 1833 ele pegou uma febre na
Argentina e em julho de 1834, enquanto retornando dos Andes a Valparaíso,
adoeceu e ficou um mês de cama. De 1837 em diante, Darwin passou a sofrer
repetidamente de dores estomacais, vômitos, graves tremores, palpitações, e
outros sintomas. Estes sintomas se agravavam particularmente em épocas
de estresse, tais como quando tinha de lidar com as controvérsias
relacionadas à sua teoria. A causa da doença de Darwin foi desconhecida
durante a sua vida e tentativas de tratamento tiveram pouco sucesso. Uma
idéia esposada por Kettlewell e Julian Huxley, no início da década de 1960,
defende que ele contraiu a Doença de Chagas ao ser picado por um inseto na
América do Sul. No entanto, os autores reconhecem que especialistas nessa
doença indicam que não há concordância dos sintomas de Darwin com os da
doença. Outras possíveis causas incluem problemas psicológicos e a doença
de Ménière.
Carreira como cientista e concepção da teoria
Enquanto Darwin ainda estava em viagem, Henslow cuidadosamente cultivou
a reputação de seu antigo pupilo fornecendo a vários naturalistas os
espécimes fósseis e cópias impressas das descrições geológicas que Darwin
fazia. Quando o Beagle retornou em 2 de outubro de 1836, Darwin era uma
celebridade no meio científico. Ele visitou a sua casa em Shrewsbury e
descobriu que seu pai havia feito vários investimentos de forma que Darwin
pudesse ter uma vida tranqüila. Mais que isto, ele poderia ter uma carreira
científica autofinanciada. Darwin foi então a Cambridge e convenceu
Henslow a fazer descrições botânicas das plantas que ele havia coletado.
Depois se dirigiu a Londres onde procurou os melhores naturalistas para
descrever as suas outras coleções de forma a poder publicá-las
posteriormente. Um entusiasmado Charles Lyell encontrou Darwin em 29 de
outubro e o apresentou ao jovem e promissor anatomista Richard Owen.
Depois de trabalhar na coleção de ossos fossilizados de Darwin no Royal
College of Surgeons, Owen surpreendeu a todos ao revelar que alguns dos
ossos eram de tatus e preguiças gigantes extintas. Isto melhorou a reputação
de Darwin. Com a ajuda entusiasmada de Lyell, Darwin apresentou seu
primeiro artigo na Geological Society de Londres em 4 de janeiro de 1837,
afirmando que a massa terrestre da América do Sul estava se erguendo
lentamente. No mesmo dia, Darwin apresentou seus espécimes de mamíferos
e aves à Zoological Society. Os mamíferos ficaram aos cuidados de George
R. Waterhouse. Embora, em princípio, os pássaros parecessem merecer
menos atenção, o ornitólogo John Gould revelou que o que Darwin pensara
serem corruíras (wrens), melros e tentilhões levemente modificados de
Galápagos eram de fato tentilhões, mas cada um de uma espécie distinta.
Outros no Beagle, incluindo o capitão FitzRoy, também tinham coletado
estes pássaros mas haviam sido mais cuidadosos com suas anotações, o
que permitiu a Darwin determinar de que ilha cada espécie era originária. Em
Londres, Darwin ficava com o seu irmão e livre pensador Erasmus e, em
jantares, eles encontravam- se com outros pensadores que imaginavam um
Deus guiando a sua criação unicamente por meio de leis naturais. Entre eles,
estava a escritora Harriet Martineau, cujas histórias promoviam a reforma das
leis de proteção social de acordo com as idéias de Malthus. Nos meios
científicos, idéias como a transformação de uma espécie em outra
(transmutação) eram controversamente associadas com radicalismo político.
Por isto, Darwin preferia a respeitabilidade de seus amigos mesmo quando
não concordava plenamente com as idéias deles, tais como a crença de que
a história natural devesse justificar religiões ou ordem social. Em 17 de
fevereiro de 1837, Lyell aproveitou o seu discurso presidencial na Geological
Society para apresentar as descobertas de Owen em relação aos fósseis de
Darwin, enfatizando as implicações do fato de que espécies extintas
encontradas em uma região fossem relacionadas a outras que viviam
atualmente na mesma região. Neste mesmo encontro, Darwin foi eleito para o
conselho da Geological Society. Ele já tinha sido convidado por FitzRoy para
contribuir com o seu diário e notas pessoais para a seção de história natural
do livro que o capitão estava escrevendo sobre a viagem do Beagle. Darwin
também estava trabalhando em um livro sobre a geologia da América do Sul.
Ao mesmo tempo, ele especulava sobre a transmutação de espécies no
caderno de anotações que ele tinha iniciado no Beagle. Outro projeto que ele
iniciou na mesma época foi a organização dos relatórios dos vários
especialistas que haviam trabalhado em suas coleções em um livro de m
últiplos volumes chamado "Zoologia da viagem do H.M.S. Beagle" (Zoology
of the Voyage of H.M.S. Beagle). Darwin concluiu o seu diário em 20 de junho
e, em julho, iniciou seu livro secreto sobre transmutação, onde desenvolveu
a hipótese de que, apesar de cada ilha de Galápagos ter sua própria espécie
de tartaruga, todas elas eram originárias de uma única espécie que tinha se
adaptado à vida nas diferentes ilhas de diferentes modos. Sob a pressão de
concluir Zoologia e corrigir as revisões de seu diário, a saúde de Darwin
deteriorou. Em 20 de setembro de 1837, ele sofreu palpitações do coração e
foi passar um m ês no campo para se recuperar. Ele visitou Maer Hall onde
sua tia inválida estava sob os cuidados de sua irmã Emma Wedgwood e
entreteve seus parentes com as histórias de suas viagens. Após o seu
retorno do campo, ele evitava tomar parte de eventos oficiais que poderiam
lhe tomar um tempo precioso. Contudo, por volta de março de 1838, William
Whewell o recrutou como secretário da Geological Society. Mas logo a sua
doença o forçou a novamente deixar seu trabalho e ele seguiu para Escócia
para "fazer geologia". Ali, visitou Glen Roy para ver um fenômeno conhecido
como "estradas" (roads) que ele (incorretamente) identificou como praias
que se elevaram.
Completamente recuperado, ele retornou a Shrewsbury. Raciocinando
cientificamente sobre a sua carreira e ambições, ele fez uma lista com as
colunas "Casar" e "Não casar". Entradas na coluna pró-casamento incluíam
"companhia constante e um amigo na velhice... melhor que um cão de
qualquer modo," enquanto listado entre as desvantagens estavam "menos
dinheiro para livros" e "terrível perda de tempo". Os prós venceram. Ele
discutiu a idéia de casar com o pai e então foi visitar sua prima Emma em 29
de julho de 1838. Ele não propôs casamento mas, contrariando os conselhos
do pai, contou-lhe sobre as suas idéias de transmutação de espécies.
Enquanto os seus pensamentos e trabalho continuavam em Londres, durante
o outono, sua saúde voltou a definhar e ele passou a sofrer repetidas crises.
Em 11 de novembro ele pediu Emma em casamento e, uma vez mais, lhe
falou de suas idéias. Ela aceitou mas permaneceria sempre preocupada que
os lapsos de fé de Darwin acabariam por pôr em risco a possibilidade de,
como ela acreditava, se encontrarem após a morte. Darwin considerou o
raciocínio de Malthus de que a população humana aumenta mais
rapidamente que a produção de alimentos, levando-a a uma competi ção e
tornando qualquer esforço de caridade inútil. Ele viu naquela idéia uma forma
de explicar (a) seus achados sobre espécies extintas que se relacionavam
mais com outras não extintas encontradas na mesma regi ão, (b) a
similaridade entre espécies próximas umas das outras, (c) suas dúvidas
derivadas da criação de animais e (d) sua incerteza quanto a existência de
uma "lei de harmonia" na natureza. No fim de novembro de 1838, ele
começou a comparar o processo de seleção de características feito por
criadores de animais com uma natureza Malthusiana selecionando variantes
aleatoriamente de forma que "toda a parte de uma nova característica
adquirida é colocada em prática e aperfeiçoada",e pensou nisto como "a
mais bela parte
minha teoria" de como novas espécies se originam. Ele estava procurando
uma casa e acabou por encontrar "Macaw Cottage" na rua Gower, Londres, e
então mudou seu "museu" para lá em dezembro. Ele já mostrava sinais de
cansaço e Emma lhe escreveu sugerindo que ele descansasse, comentando
quase profeticamente "Não adoeça mais meu querido Charley até que eu
esteja aí para cuidar de você". Em 24 de janeiro de 1839, Darwin foi eleito
membro da Royal Society e apresentou seu artigo sobre as "estradas" de
Glen Roy.
Casamento e filhos
Em 29 de janeiro de 1839, Darwin casou com sua prima Emma
Wedgwood em Maer. Depois de primeiro morar em Gower Street, Londres, o
casal mudou para Down House em Downe em 17 de setembro de 1842. Os
Darwin tiveram dez filhos, três dos quais morreram prematuramente. Muitos
(27 de dezembro de 1839–
–
th Darwin (2 de março de 1841
– 16 de
–
– 7 de dezembro de 1912)
lizabeth "Bessy" Darwin (8 de julho de 1847–
de agosto de 1848 –
de 1850 –
– 29 de
Darwin (6 de dezembro de 1856 – 28 de
junho de 1858).
Muitos dos seus filhos sofreram de doenças ou fraquezas e o temor de
Darwin de que isto se devesse ao fato de que ele e Emma eram primos foi
expresso em seus textos sobre os efeitos do acasalamento entre indivíduos
de linhagens mais próximas (inbreeding) ou mais distantes (crossing).
Evolução por seleção natural
Darwin era agora um eminente geólogo no meio científico formado por
clérigos naturalistas, com uma renda segura e trabalhando secretamente em
sua teoria. Ele tinha muito a fazer, escrevendo sobre todos os seus achados
e supervisionando a preparação dos vários volumes da "Zoologia" que
deveriam descrever as suas coleções. Ele estava convencido da ocorrência
da evolução mas, desde muito tempo, sempre esteve consciente de que a
idéia de transmutação de espécies era vista como uma blasfêmia, bem como
era associada com agitadores democráticos radicais na Inglaterra; portanto,
a publicação de suas ideias poderia significar a demolição de sua reputação
e, consequentemente, a sua ruína. Assim, ele fazia experimentos minuciosos
com plantas e consultava frequentemente muitos criadores de animais,
incluindo criadores de pombos e porcos, na tentativa de encontrar repostas
convincentes para todos os contra-argumentos que ele conseguia antever.
Quando FitzRoy publicou seu livro sobre a viagem do Beagle em maio de
1839, o diário e comentários de Darwin foram um grande sucesso. Mais tarde
naquele ano, o diário foi publicado isoladamente em um livro que se tornou
um sucesso de vendas hoje conhecido como "A Viagem do Beagle" (The
Voyage of the Beagle). Em Dezembro de 1839, durante a primeira gravidez de
Emma, a saúde de Darwin voltou a ficar comprometida e ele conseguiu
avançar muito pouco em seus trabalhos no ano seguinte. Darwin tentou
explicar sua teoria para amigos mais próximos, mas eles demoraram a
mostrar interesse e pensavam que uma selecção exige um seleccionador
divino. Em 1842 a família se moveu para a sua casa no campo (Down House)
para escapar da pressão de Londres. Ali, Darwin escreveu um pequeno texto
esboçando a sua teoria que, em 1844, seria expandido para um documento
de 240 páginas intitulado "Ensaio". Darwin completou seu terceiro livro
sobre geologia em 1846. Auxiliado por um amigo, o jovem botânico Joseph
Dalton Hooker, ele iniciou um estudo aprofundado sobre cracas. Em 1847,
Hooker leu o "Ensaio" e fez comentários que forneceram a Darwin a opinião
externa que ele precisava. Darwin temia publicar a teoria de forma
incompleta considerando o fato de que as suas ideias sobre evolução
poderiam ser altamente controversas se, de fato, alguma atenção fosse dada
a elas. Outras ideias sobre evolução - especialmente o trabalho de JeanBaptiste Lamarck - tinham sido consistentemente rejeitadas pela
comunidade científica britânica e foram associadas à noção de radicalismo
político. A publicação anónima de "Vestígios da História Natural da Criação"
(Vestiges of the Natural History of Creation) em 1844 gerou outra
controvérsia sobre radicalismo e evolução e foi severamente atacada pelos
amigos de Darwin, o que assegurava que nenhum cientista de reputação iria
querer estar associado com tais ideias. Para tentar tratar a sua doença,
Darwin foi a um spa em Malvern em 1849 e, para a sua surpresa, verificou
que os dois meses de tratamento com água o ajudaram. Em seu estudo
sobre cracas ele descobriu "homologias" que suportavam a sua teoria por
mostrar que partes de um corpo levemente modificadas poderiam servir a
funções diferentes em novos contextos. Foi então que a sua querida filha
Annie adoeceu despertando novamente os seus temores de que sua doença
pudesse ser hereditária. Após um longo sofrimento, ela morreu e Darwin
perdeu toda a sua fé em um Deus benevolente. Nesta época, ele conheceu o
jovem naturalista, e livre pensador, Thomas Huxley que se tornaria um amigo
próximo e grande aliado. O trabalho de Darwin sobre cracas (Cirripedia) lhe
valeu a medalha real da Royal Society em 1853, estabelecendo
definitivamente a sua reputação como biólogo. Ele completou este estudo
em 1854 e voltou a sua atenção para a sua teoria de transmutação de
espécies.
Darwin vs Mendel
Mendel foi o primeiro geneticista conhecido. Com os seus estudos, por
muito que contendo factores alienígenas incontroláveis, Mendel comprovou
que geneticamente (termo ainda não referido por este) os factores e
características passavam de pais para filhos, hereditariamente, na sua regra
de 3:1. Esta explicação era a justificação necessária na teoria evolucionista
de Darwin, para explicar a maneira como algumas características “ evoluíam
” e outras se extinguiam. Porém, ainda que as teorias de Mendel se
enquadrassem perfeitamente nas ideias de Darwin, na altura em que Mendel
as começou a estudar, em nada auxiliaria na teoria evolutiva. Ainda não
existiam meios de comprovar completamente os dados que Mendel obtinha
nas suas experimentações (pelo que se explica os quase 35 anos que as
suas descobertas permaneceram na escuridão), e o próprio Mendel não
interligava as suas teorias com algo relacionado com evolução
(enquadremos a situação no termo histórico da época, Mendel era um monge
devotado, logo completamente Criacionista). Para não falar do facto de que
na altura, era impossível Mendel aliar as suas descobertas a Darwin, ou
Darwin aceitar as descobertas de Mendel. Não é por um cientista estar a
escrever uma teoria evolucionária, que irá englobar nesta todas as ideias “
tresloucadas ” da altura. Sendo que se Darwin englobasse a teoria de Mendel
na sua, ou se incluísse dados desta, era mais um argumento impossível de
comprovar, e mais um motivo de pol émica e de descrédito para o seu nome
no seio da comunidade científica (algo que Darwin temia). A genética e a
evolução Darwiniana foram inimigos desde o início de ambos os conceitos.
Ao mesmo tempo que Darwin afirmava que os seres podiam “ evoluir ” para
outros seres, Mendel demonstrava que características individuais
mantinham-se constantes. Enquanto as ideias de Darwin se baseavam em
fundamentos erróneos e não testados sobre hereditariedade, as conclusões
de Mendel foram fundadas em experimentação cuidada. ” Se Darwin pudesse
aceder aos trabalhos de Mendel j á comprovados, tal poderia levar a que
mudasse a sua teoria, adicionando factos e argumentos que se enquadram
bem na teoria evolutiva, mas enquanto os conceitos de Darwin se baseavam
em “ variação, mutação, e “ ligeira ” hereditariedade ” , os de Mendel
assentavam em “ variação descontinua e hereditariedade extremamente
acentuada, sem mutações ” . Então, se Darwin tivesse tomado conhecimento
das teorias de Mendel na altura, pouco poderia mudar, ou auxiliar na teoria
evolutiva. Poderia ter encontrado alguma resposta para as suas perguntas,
mas não existia na altura maneira de comprovar a genética que apenas
começou a ganhar a sua importância no final do século XIX, vistas
comprovadas as teorias de Mendel. Logo não existiria uma teoria tão sólida
como a que apareceu futuramente (neo-Darwinismo) aliando a evolução à
genética, com comprovações científicas e bases em experimentações
cuidadosas. Na altura em que a teoria evolutiva foi publicada, mesmo com a
ajuda dos trabalhos de Mendel, Charles Darwin nunca teria conseguido
interpretar tantos factores, não atingindo uma teoria tão coesa como o NeoDarwinismo, que aliou todas as áreas da Biologia, tornando a Genética e a
Evolução irmãos de mãos dadas.
Últimos anos de vida
Apesar dos sucessivos problemas de saúde que acometeram Darwin nos
seus últimos vinte e dois anos de vida, ele continuou trabalhando
avidamente. Ele passou a se dedicar aos aspectos mais controversos do seu
"grande livro" que ainda estavam por ser completados: a evolução da
espécie humana a partir de animais mais primitivos, o mecanismo de seleção
sexual que poderia explicar características de não tão óbvia utilidade al ém
de mera beleza decorativa, bem como sugestões para as possíveis causas
subjacentes ao desenvolvimento da sociedade e das habilidades mentais
humanas. Seus experimentos, pesquisa e escrita continuaram. Quando a
filha de Darwin adoeceu, ele deixou de lado o seu trabalho e experimentos
com sementes e animais para acompanhá-la em seu tratamento no campo.
Ali, ele iniciaria o seu interesse por orquídeas selvagens que se
desenvolveria em um estudo inovador sobre como as flores serviam para
controlar a polinização feita pelos insetos e garantir a fertilização cruzada.
Como já observara com as cracas, partes homólogas serviam a diferentes
funções em diferentes espécies. De volta ao lar, ele adoeceu novamente em
um quarto repleto de experimentos e plantas trepadeiras. Ainda assim,
continuou o seu trabalho no livro "Variação" (Variation), que cresceu até
ocupar dois volumes, o que o forçou a deixar de lado "A descendência do
Homem e Seleção em relação ao Sexo". Uma vez impresso, o livro foi muito
procurado. A questão da evolução humana tinha sido amplamente discutida
pelos seus simpatizantes (e críticos) logo depois da publicação da "Origem
das Espécies" mas a contribuição do próprio Darwin para o tema só veio
uma década mais tarde com os dois volumes de "A descendência do Homem
e Seleção em relação ao Sexo" em 1871. No segundo volume, Darwin
introduziu por completo o seu conceito de seleção sexual e explicou a
evolução da cultura humana, as diferenças entre os sexos, a diferenciação
entre raças bem como a bela plumagem dos pássaros. Um ano mais tarde,
Darwin publicou seu último grande trabalho, "The Expression of the
Emotions in Man and Animals", que era focado na evolução da psicologia
humana e sua continuidade com o comportamento animal. Ele desenvolveu a
sua idéia de que a mente humana e culturas foram desenvolvidas por meio
de seleção natural e sexual, uma abordagem que foi revivida com a
emergência da psicologia evolutiva. Como ele concluiu em a "Descendência
do Homem", Darwin achava que apesar de todas as "qualidades nobres" e
"capacidades sublimes" da humanidade:
**O homem ainda traz em sua estrutura fisica a marca indelével de sua
origem primitiva.**— (Darwin)
Seus experimentos relacionados à evolução culminaram em cinco livros
sobre plantas, e então seu último livro voltou à discussão sobre o efeito que
minhocas tinham sobre o solo. Darwin morreu em Downe, Kent, Inglaterra,
em 19 de abril de 1882. Ele deveria ter sido enterrado no jardim da igreja de
St Mary em Downe, mas atendendo ao pedido de seus colegas cientistas,
William Spottiswoode (Presidente da Royal Society) cuidou para que ele
tivesse um funeral de estado e Darwin foi enterrado na abadia de
Westminster próximo a Charles Lyell , William Herschel e Isaac Newton.
Reconhecimento
Ainda durante a vida de Darwin, muitas espécies de seres vivos e elementos
geográficos foram batizados em sua homenagem, entre eles, o Monte
Darwin, nos Andes, em celebração ao seu vigésimo quinto aniversário. A
capital do Northern Territory na Austrália também foi batizada com o seu
nome em comemoração à passagem do Beagle por ali, em 1839. No mesmo
território, foram batizados com o seu nome uma universidade e um parque
nacional. As 14 espécies de tentilhões que ele estudou em Gal ápagos são
chamadas "tentilhões de Darwin" em honra ao seu legado. Em 1964, foi
inaugurado em Carmbridge o Darwin College em honra à sua família e,
parcialmente, porque os Darwin eram os donos do terreno usado. Em 1992,
Darwin foi posicionado em décimo sexto lugar na As 100 maiores
personalidades da História, compilada pelo historiador Michael H. Hart.
Darwin também figura na nota de dez libras introduzida pelo banco da
Inglaterra em 2000 em substitui ção a Charles Dickens. Sua barba
impressionante e difícil de ser copiada foi apontada como um dos fatores
que contribuíram para a escolha. Darwin também aparece em quarto lugar na
100 Greatest Britons, uma lista compilada por meio de voto popular pela
BBC.
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