23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental IMPACTOS DA AUTOMAÇÃO EM SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA: ASPECTOS DE GESTÃO DO CONHECIMENTO Joyce Kleine Marodin (1) Comunicação Social (UFPR). Especialista em MKT (UFPR). MBA Executivo Semi Internacional (FAE) Analista de Vendas/treinamento na Global Village Netwok (GVT) Lorena Camargo dos Santos Administração de Empresas (FAE). Especialista em Administração financeira (FGV-SP). MBA Executivo Semi Internacional (FAE). Coordenadora de Análise Financeira na Volvo Serviços Financeiros Breno Trautwein Jr. Engenheiro Civil (UFPR), Pós graduado em Processamento de Dados (FAE/CDE) e Automação de Sistemas (PUC-PR), Mestre em Engenharia da Produção (PUC-PR), Engenheiro de Operações da Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR). Endereço (1) : Rua Lourenço Pinto, 299 - Curitiba / Paraná – CEP:800110-160 – Brasil - Tel: +55 (41) 3025 2570 – Fax: +55 (41) 3025 2967 – e-mail: [email protected] RESUMO: Este trabalho avalia os impactos da automação em um Centro de Controle Operacional de um Sistema de Abastecimento de Água considerando aspectos da teoria de Gestão do Conhecimento. Esta avaliação é feita através da aplicação de uma metodologia de identificação e coleta de conhecimentos operacionais necessáriosem um Sistema de Abastecimento de Água automatizado baseada na abordagem da espiral do conhecimento de Nonaka e Takeuchi. Os resultados obtidos mostram a importância da inclusão da Teoria de Gestão do Conhecimento em projetos de automação de Sistemas de Abastecimento de Água como um fator que auxilia um melhor desempenho na supervisão, operação e controle de sistemas automatizados. PALAVRAS-CHAVE: gestão do conhecimento, automação, sistemas de supervisão e controle 1. INTRODUÇÃO As empresas gestoras de Sistemas de Abastecimento de Água (SAA) tem tido uma preocupação crescente na última década no sentido de melhorar o desempenho operacional destes sistemas (TUROLA, 2002). Entre as inúmeras ações no sentido de melhorar o desempenho operacional, a automação de SAA tem recebido cada vez mais investimentos e tem se mostrado um mercado promissor para os prestadores de serviço na área de automação. Ao mesmo tempo em que a automação se apresenta como uma ferramenta de melhoria operacional dentro do planejamento estratégico das empresas, algumas preocupações se fazem presentes quando descemos até o nível de aplicação operacional dessa tecnologia. Uma destas preocupações diz respeito ao impacto que a automação ocasiona nas estruturas, processo e espaços organizacionais (PINHEIRO, 2003). As pesquisas envolvendo impactos da automação e da inovação tecnológica nas organizações mostram que os projetos de automação e de inovação tecnológica enfrentam barreiras naturais nas organizações (CARDOSO et al, 2004). Estas barreiras, se não forem devidamente identificadas e superadas, fazem com que os resultados obtidos fiquem abaixo dos resultados esperados, e em muitos casos não atinjam sequer objetivos de redução dos custos operacionais. As principias causas deste aparente fracasso para atingir os objetivos esperados pela automação residem exatamente no desequilíbrio que ocorre nas estruturas, processos e espaços organizacionais durante as fases de projeto, implantação e avaliação dos projetos de automação (MARQUES, 2004). ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental A Teoria de Gestão do Conhecimento (GC) tem sido uma importante ferramenta de vantagem competitiva nas empresas modernas (PRAHALAD e HAMEL, 1998; SENGE, 2000; TERRA, 2002) e considerando que a operação de SAA exige conhecimentos teóricos e práticos de diversas áreas do conhecimento e que a automação de processos operacionais altera profundamente a estrutura das competências necessárias a este processo, cria-se o cenário onde se insere este trabalho. Dentro deste cenário, este trabalho se propõe a avaliar, através de um estudo de caso, quais as implicações da automação e seus impactos nos processos, estruturas e espaços organizacionais relacionando estes impactos sob a ótica da GC. Neste trabalho é utilizada a abordagem teórica de conhecimento formulada por Nonaka e Takeushi (1995) baseada na espiral do conhecimento e procura através desta abordagem mapear os conhecimentos existentes e necessários dentro do Centro de Controle Operacional (CCO) de um SAA automatizado. Os resultados obtidos atestam a importância de uma abordagem sistêmica na implantação de projetos de automação dentro de SAA, que não considere apenas aspectos de custos e melhoria no controle operacional, mas considere os impactos desta tecnologia nas competências requeridas e no binômio estruturas / processos requerido para sua plena utilização. As próximas seções do artigo são organizadas da seguinte forma. Na seção 2 se encontra o objetivo desta pesquisa. Uma descrição do contexto que originou este o estudo é apresentada na seção 3. Um breve referencial teórico, contemplando as teorias sobre inovação tecnológica e gestão do conhecimento, é apresentado na seção 4. Na seção 5 é descrita a abordagem metodológica. A seção 6 apresenta os resultados e discussão dos mesmos e as conclusões e perspectivas de trabalhos futuros são apresentadas na seção 7. 2. OBJETIVO O objetivo deste trabalho é avaliar os impactos da automação de SAA em um Centro de Controle Operacional através da aplicação da teoria de Gestão do Conhecimento. A avaliação dos impactos é feita através da aplicação de uma metodologia de identificação e coleta de conhecimentos operacionais necessários em um SAA automatizado. A hipótese neste trabalho é comprovar a importância da Teoria da Gestão do Conhecimento para minimizar os impactos da automação em SAA. 3. O CONTEXTO DO TRABALHO Este trabalho se concentra na Unidade de Produção da Companhia de Saneamento Básico do Estado do Paraná (SANEPAR) e foi aplicado no Centro de Controle Operacional (CCO) do Sistema de Abastecimento Integrado de Curitiba e Região Metropolitana (SAIC). O CCO é a unidade administrativa responsável pelo processo de distribuição de água através de uma rede de adutoras, reservatórios, linhas de distribuição, e estações elevatórias de água. O sistema hidráulico do SAIC é constituído por 44 reservatórios (CR), totalizando a capacidade de 322.000 m3; 66 estações elevatórias (EE); e 24 boosters, compondo 114 zonas de pressão (ZP) em malha de distribuição de aproximadamente 8.500 km de redes, anéis, sub-adutoras e adutoras. O sistema atende aproximadamente 600.000 ligações de água equivalentes a 2.600.000 habitantes. Este sistema hidráulico é subdividido em 5 sistemas de distribuição (SD), de acordo com os principais pontos de captação de água: Passaúna, Iraí, Iguaçu, Rio Pequeno, e Karst. Todo este complexo sistema hidráulico é gerenciado e operado no CCO. Praticamente todo o conjunto de unidades hidráulicas é gerenciado (supervisionado) por um Sistema de Supervisão e Controle Operacional (SSC)1. Dos 44 reservatórios, 29 encontram-se automatizados e são operados à distância, sem necessidade de presença de operadores na unidade remota. 1 Na literatura encontra-se também a sigla SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition System) para identificar SSC. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Até o ano de 1988, cada reservatório tinha um operador responsável por informar os níveis de água do reservatório 24hs por dia e operar válvulas e EE. Atualmente o processo de supervisão e controle da distribuição é executado por 44 colaboradores divididos em quatro escalas de trabalho compostas por: 1 engenheiro responsável pela escala; 1 supervisor; e 9 operadores. Desde o ano de 1998 o CCO vem passando por importantes modificações estruturais que afetaram significativamente seus processos, atividades, recursos e conhecimentos, exigindo novas formas de controle além de novas competências técnicas e genéricas. Em 1998 foi implantado o primeiro SSC com função básica de supervisão onde os operadores no CCO acionavam bombas, válvulas e controlavam a operação do sistema remotamente. A partir de 2003 foi iniciada a ampliação deste sistema já com uma filosofia de controle mais sofisticada onde muitas decisões operacionais, hoje tomadas pelo CCO, passarão a ser tomadas por lógicas de controle incorporadas nos equipamentos de campo. Com isto o CCO deve se preocupar menos com a operação das unidades e mais com o planejamento das variáveis que possibilitam o controle através dos instrumentos de campo. Os SSC trazem muitas facilidades para o processo de operação de SAA, porem, a introdução das ferramentas de automação (hardware, software, equipamentos e tecnologias de comunicação de dados) traz também algumas dificuldades que precisam ser superadas, como por exemplo, a qualificação e adequação dos colaboradores na utilização de novas ferramentas e novos procedimentos necessários para o uso efetivo da nova tecnologia. No caso da SANEPAR, as unidades que já foram automatizadas (29 de 44) não necessitam mais de um operador local que tinha a função de operar manualmente a unidade e de manter o CCO informado sobre as condições operacionais da unidade (funcionamento bombas, valores de vazão distribuída, pressão nas linhas de distribuição e nível dos reservatórios de água). Por outro lado, quando do inicio da implantação do novo sistema, a operação de remota dos equipamentos via SSC também estará se tornando desnecessária. Este operador que foi transferido do campo para o CCO terá como função operar o SSC utilizando computadores, planilhas eletrônicas e outros sistemas informatizados. As competências requeridas para uma atividade manual não se encaixam no processo automatizado que exige novas competências. A grande maioria dos colaboradores já está trabalhando na área há muitos anos com uma média de tempo de experiência da equipe do CCO superior a 10 anos de operação. Estas equipes conhecem a infra-estrutura de distribuição de água do SAA, mas não conhecem os softwares e equipamentos que passarão a ser os novos responsáveis pelo controle automático desta distribuição. Este cenário dificulta significativamente a externalização dos conhecimentos tácitos existentes, dentro da abordagem de GC adotada. Esta mudança gerou a oportunidade de aplicação da teoria de Gestão do Conhecimento para avaliar os impactos e problemas causados com a introdução de novas tecnologias nas atividades do CCO que, por sua vez, vão direcionar as ações para acelerar a adequação das competências requeridas neste novo ambiente. 4. REFERENCIAL TEÓRICO O referencial teórico aborda dois temas centrais que norteiam este trabalho: a Tecnologia de Automação e a Gestão do Conhecimento. Tecnologia de Automação O conceito de automação, como é conhecido atualmente representa a evolução tecnológica dentro dos conceitos da cibernética definida por Wiener em 1947. Gouvêa da Costa (2003) relaciona o conceito de automação ao conceito de Tecnologias Avançadas de Manufatura (AMT – Advanced Manufacturing Technology) e dentro desta abordagem define Tecnologia de Automação como: “AMT pode ser definida como o conjunto de recursos computacionais (software e hardware) desenvolvidos e utilizados para auxiliar a atividade de produção”. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Groover (2001) discretiza o conceito de automação em elementos básicos, tipologia, e níveis onde ela é aplicada considerando os processos e funções dentro de um ambiente de produção. A figura 1 procura resumir os conceitos básicos de automação sob o ponto de vista de um SAA. A tecnologia de automação pode ser analisada ainda sob os aspectos de vantagens na operação de SAA e dificuldades para obter os resultados esperados. Estes aspectos são mostrados no quadro 01. Figura 1 – Níveis de Automação Fonte: Adaptado de Groover (2001) Quadro 01 – Vantagens e dificuldades na implantação de tecnologias de automação Fonte: Adaptado de Groover (2001) Vantagens Dificuldades • Redução de custo: de mão-de-obra direta, • Integração entre sistemas: nem sempre as tecnologias de matéria-prima, energia, instalações e área automação estão em sintonia com as tecnologias de ocupada; informação existentes; • Aumento da produtividade; • Necessidade de investimentos na aquisição e implantação • Aumento da segurança dos trabalhadores, uma de equipamentos e sua atualização. vez que, em atividades perigosas e em • Substituição/Eliminação de funções/postos de trabalho ambientes insalubres, eles podem ser • Nova tecnologia demanda novos desenhos da substituídos por máquinas; organização, que se contrapõe com a cultura • Melhora no desempenho operacional através organizacional existente; de maiores níveis de controle dos processos. • Cognição, que pode ser um dos obstáculos de grande relevância quando da utilização de novas tecnologias. Gestão do Conhecimento Gestão do Conhecimento, assim como outros termos ligados ao conceito de gestão organizacional, possui varias definições. Skyrme (2003) traz a seguinte definição: “Gestão do Conhecimento é a gestão explicita e sistemática do conhecimento vital em uma organização, associado aos processos de criar, obter, organizar usar e explorar este conhecimento vital dentro dos objetivos da organização”. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental A definição de Skyrme enfatiza as características de que a GC deve ser de domínio de todos os níveis da organização (explicita), deve ser continua (sistemática), e abranger os conhecimentos imprescindíveis para a competitividade da organização (vital). Sweiby (2001) coloca que grande parte das organizações busca a GC com a intenção de manter o conhecimento existente desconsiderando a contribuição que a GC traz na geração de novos conhecimentos e conseqüentemente no potencial inovador da organização. Dentro desta visão mais ampla de geração de conhecimento, Sweiby propõe que as organizações tenham uma estratégia baseada em conhecimento. Para Terra (2001) Gestão do Conhecimento significa organizar as principais políticas, processos e ferramentais gerenciais e tecnológicos à luz de uma melhor compreensão dos processos de geração, identificação, validação, disseminação, compartilhamento e uso dos conhecimentos estratégicos para gerar resultados (econômicos) para a empresa e benefícios para os colaboradores. Nonaka e Takeushi (1995) definem GC como Criação do Conhecimento dando ênfase nos aspectos de inovação e de conhecimento gerando novo conhecimento através de um processo chamado de espiral do conhecimento onde o conhecimento inicialmente tácito (inerente ao indivíduo), através da socialização dos indivíduos é difundido para então ser externalizado, de forma a se tornar explicito (inerente ao grupo) e combinado com os conhecimentos existentes para que seja internalizado pelos participantes do grupo (novamente individualizado) gerando novos conhecimentos tácitos e realimentando o ciclo de geração de conhecimentos (figura 2). Figura 2 – A Espiral do Conhecimento Fonte: adaptado de Nonaka e Takeushi (1995) Considerando o impacto que automação causa nos processo de um SAA e a característica de inovação do processo de automação em SAA, a abordagem de GC e seu relacionamento com o processo de inovação devem ser imprescindíveis em projetos de automação de SAA. A união entre tecnologia e GC não tem sido levada em conta na implantação de tecnologias de automação além de ser um tema pouco explorado na pesquisa acadêmica. Pinheiro de Lima (2003) e ; Marques (2004) avaliam a relação entre implantação de tecnologia e seus efeitos na organização, e vice-versa. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 5. MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho é baseado em um estudo de caso aplicado no Centro de Controle Operacional da SANEPAR. Com base no trabalho em GC de Rossatto (2002), foi aplicada uma metodologia de identificação, coleta, armazenamento e disseminação dos conhecimentos operacionais que contempla as seguintes etapas: Preparação do ambiente para desenvolvimento do trabalho; Definição dos processos internos e dos conhecimentos requeridos (atuais e futuros) dentro destes processos; Definição da abrangência do trabalho dentro dos processos existentes; Elaboração de questionários para levantamento de dados; Aplicação dos questionários em conjunto com os envolvidos; Tabulação dos dados e avaliação final dos resultados; e Proposição de ações direcionadas a melhoria dos processos e dos espaços onde deve ocorrer a espiral do conhecimento. Todas as etapas foram executadas com a participação efetiva dos técnicos envolvidos no processo de operação do SAIC. Este envolvimento permitiu que no desenvolvimento de cada etapa as contribuições dos técnicos pudessem ser discutidas em grupo e implementadas durante cada etapa dando assim uma consistência quanto aos resultados e quanto à aplicação da metodologia. Preparação do ambiente para desenvolvimento do trabalho Inicialmente, foram realizadas reuniões com a coordenação da área e com técnicos responsáveis pelos processos internos para integrar os pesquisadores com as atividades que compõem o processo de distribuição de água. Foram obtidos dados sobre a estrutura, os processos e o ambiente operacional do CCO, além de informações quanto às atividades de cada uma das áreas, bem como, um histórico dos processos no decorrer dos últimos anos. Estas reuniões mostraram, também, os principais problemas que vinham ocorrendo, e salientaram a importância que teria a construção de uma Metodologia para Gestão de Conhecimento dentro da empresa. Esta etapa serviu também para que os pesquisadores repassassem os conceitos teóricos básicos de GC, que nortearam o trabalho, aos envolvidos no projeto e consolidassem o comprometimento da gerência com o trabalho a ser executado. Definição dos processos internos e dos conhecimentos requeridos dentro destes processos Para integrar os pesquisadores e as equipes do CCO e para que os pesquisadores conhecessem em detalhes as atividades do Centro de Controle Operacional da SANEPAR foram marcadas encontros de trabalho com duração de quatro a oito horas com cada uma das escalas. Estas sessões de trabalhos foram feitas tanto no CCO como em atividades de campo fora do CCO buscando abranger o maior número possível de situações operacionais e conhecer a forma de atuação das equipes dentro de cada escala em cada situação operacional. Os principais resultados desta etapa foram: • • • • • • • Detalhamento das atividades desenvolvidas; Levantamento do perfil dos funcionários necessário à execução das atividades no CCO e em campo; Mapeamento dos conhecimentos necessários para as atividades dentro do CCO e atividades em campo; Levantamento dos recursos e ferramentas utilizados; Identificação das dificuldades existentes, e sugestões para melhoria; Identificação da documentação existente e utilizada; Identificação das fontes de informação disponíveis; ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Definição da Abrangência do trabalho As informações obtidas nas duas primeiras etapas direcionaram o trabalho no sentido de limitar o escopo do trabalho ao estudo da atividade principal do CCO, ou seja, a supervisão e controle do SAIC através de um ambiente automatizado. Na seqüência, com os pesquisadores já integrados com a equipe do CCO, foram definidos os conhecimentos necessários para a atividade de supervisão e controle dentro de um ambiente automatizado e a forma de avaliar estes conhecimentos dentro do CCO. Foram considerados aqueles conhecimentos necessários dentro do nível de automação existente, bem como conhecimentos que se farão necessários com a ampliação das tecnologias de automação que esta ocorrendo. Devido à abrangência das atividades dentro de um CCO, o trabalho de pesquisa ficou restrito as atividades de: coordenação da escala (engenheiro); supervisão (supervisores de operação); e operação (operadores de sistema). Elaboração de questionário para levantamento de dados A elaboração do questionário para levantamento de dados buscou detalhar o nível de conhecimento existente e necessário para os dezessete conhecimentos definidos na etapa anterior, considerando a implantação do novo SSC (Quadro 2): Os dezessete conhecimentos necessários foram agrupados em quatro grupos maiores chamados conhecimentos básicos e para cada um desses dezessete conhecimentos foram elaboradas questões específicos para, através da identificação de componentes destes conhecimentos, valorar/mensurar o nível em que cada colaborador do Centro de Controle Operacional se encontra em relação a cada conhecimento. Quadro 2 – Conhecimento Operacionais Básicos Grupos de Conhecimento Utilização de sistemas informatizados Conhecimentos de hidráulica Conhecimentos de automação e controle Conhecimentos de softwares de apoio à atividade Conhecimentos Necessários Operação de microcomputadores, Operação do sistema de supervisão e controle, Uso do sistema de ocorrências operacionais, Uso do sistema de cadastro de manobras, e Uso do sistema de acompanhamento de perdas/fator de demanda. Instrumentação básica, Operação de elevatórias, Operação de adutoras, Operação de centros de reservação, Análise hidráulica e Estatística. Noções básicas de automação e Aquisição/comunicação de dados de campo Editor de texto, Planilha eletrônica, Editor de apresentações, e Recursos da internet. Foram definidos, dentro de cada conhecimento necessário, cinco conhecimentos específicos com objetivo de padronizar os questionários e tentar avaliar o nível de conhecimento dentro de uma escala de valores entre um e cinco. Esta escala define a valoração dos conhecimentos seguindo o critério: Não tem o conhecimento (nível 1). Noções teóricas e práticas básicas (nível 2). Noções práticas, treinamento formal e experiência na aplicação do conhecimento. Saber onde buscar o conhecimento –fontes de conhecimento (nível 3). Domínio do conhecimento teórico/prático (nível 4). Expert na matéria: pratica, aplica e dissemina o conhecimento entre seus pares. Conhece as fontes, onde estão e quando consultá-las (nível 5). Aplicação dos Formulários ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Os formulários foram elaborados em conjunto com os engenheiros e supervisores das escalas que foram orientados sobre a forma de preenchimento. Inicialmente, os formulários foram preenchidos pelos engenheiros com orientação dos pesquisadores. Em seguida os formulários foram preenchidos pelos supervisores com orientação dos engenheiros e finalmente engenheiros e supervisores orientaram o preenchimento para os operadores. Esta estratégia teve como objetivo diminuir o impacto de uma conotação de avaliação de desempenho facilitando a compreensão dos objetivos do trabalho para as escalas. Na seqüência os dados levantados foram tabulados, analisados e desta análise foram definidas e propostas ações de melhoria. 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados do trabalho podem ser apresentados sob dois aspectos principais: levantamento preliminar dos processos e tabulação dos dados coletados pelos formulários. O quadro 03 mostra os aspectos principais de cada objeto do levantamento preliminar divididos em: Processos Internos do CCO Levantamento das ferramentas e fontes de dados existentes Levantamento dos conhecimentos existentes e requeridos Dificuldades apontadas Quadro 03 – Resultados do Levantamento Preliminar Operação das unidades SAIC; Trabalhos externos emergenciais; Trabalhos externos de rotina; Definição dos processos Cadastro de Ocorrências; internos do CCO Avaliação do “Fator de Pesquisa Diário” 2; Avaliar as reclamações de falta de água não justificadas; Acompanhamento de comportamento hidráulico e definição de parâmetros operacionais de cada unidade do SAA; Sistemas SCADA (duas diferentes plataformas); Sistema de registro de ocorrências; Sistema de acompanhamento de reclamações de falta de água; Levantamento de Sistema de acompanhamento de serviços eletromecânicos; Manuais dos sistemas; Ferramentas Mapa do Sistema hidráulico das unidades e das adutoras (croqui) Mapa da rede de distribuição (Mapoteca); Mapa de identificação dos setores de manobra. Operação do Sistema Automatizado; Levantamento de Utilização de ferramentas de apoio ao Sistema Automatizado Noções básicas de informática; Conhecimentos Necessários. Noções de automação e controle; Entendimento das rotinas de controle automatizado implantadas Nível de motivação das equipes Comunicação interna ineficiente Dificuldades Treinamento inadequado Estrutura interna e processos existentes não estão adequados ao ambiente automatizado tanto na área de operações quanto na área de manutenção eletromecânica A avaliação dos resultados tabulados no quadro 03 mostra que o projeto de implantação do sistema automatizado deve contemplar as mudanças necessárias na estrutura do CCO, nos processos que passaram de descentralizados para centralizados e no ambiente de trabalho. 2 Gráficos do nível, pressão e vazão de água de cada unidade, por zona de pressão. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 8 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Estas mudanças, caso não sejam contempladas na fase de projeto, podem aumentar as dificuldades existentes e gerar novas dificuldades. As dificuldades acentuadas pela automação dizem respeito à comunicação interna, a qualificação dos técnicos envolvidos e motivação das equipes de trabalho. As novas dificuldades abrangem a inadequação da estrutura e dos processos de operação existente às exigências de um ambiente automatizado. O quadro 04 mostra os resultados da tabulação dos dados para cada função dentro do CCO e compara o nível de conhecimento existente com o nível de conhecimento desejado dentro de cada uma das funções existentes considerando a ampliação do sistema SSC existente. A avaliação dos resultados tabulados o quadro 04 mostra os conhecimentos existentes, que podem ser considerados suficientes no ambiente de automação e controle atual, estarão aquém das necessidades dentro do ambiente de automação e controle que esta sendo proposto. Quadro 04- Nível de conhecimento por categoria de funcionários e por grupo de conhecimentos. CONHECIMENTOS/ COLABORADORES Engenheiros Média Ideal Dif 1- Utilizaçao do Sistema Informatizado OPERAÇÃO DE MICRO OPERAÇÃO DO SCADA SISTEMAS DE OCORRÊNCIA SISTEMAS DE MANOBRAS SIST. CONTR.PERDAS / FT PESQ. Supervisores Média ideal Dif Operadores Média ideal Dif Média Total Ideal Dif Média Grupo 1 3,9 3,1 3,5 3,5 3,2 3,4 3,0 4,0 4,0 4,0 4,0 3,8 0,9 -0,9 -0,5 -0,5 -0,8 -0,4 2,3 2,4 2,4 2,6 2,0 2,3 3,0 4,0 4,0 4,0 4,0 3,8 -0,7 -1,6 -1,6 -1,4 -2,0 -1,5 1,9 2,2 2,2 2,2 1,6 2,0 2,0 3,0 2,0 2,0 2,0 2,2 -0,1 -0,8 0,2 0,2 -0,4 -0,2 2,4 2,4 2,5 2,6 2,0 2,4 2,7 3,7 3,3 3,3 3,3 3,3 -0,3 -1,3 -0,8 -0,7 -1,3 -0,9 Média Grupo 2 2,3 2,1 3,1 3,1 2,3 2,6 2,6 3,0 4,0 4,0 4,0 4,0 3,0 3,7 -0,8 -1,9 -0,9 -1,0 -1,8 -0,5 -1,1 1,6 2,3 2,1 2,1 1,7 1,7 1,9 3,0 3,0 3,0 3,0 3,0 2,0 2,8 -1,4 -0,7 -0,9 -0,9 -1,3 -0,3 -0,9 1,6 2,3 2,0 2,2 1,5 1,5 1,8 3,0 3,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,3 -1,4 -0,7 0,0 0,2 -0,5 -0,5 -0,5 1,7 2,3 2,2 2,3 1,7 1,8 2,0 3,0 3,3 3,0 3,0 3,0 2,3 2,9 -1,3 -1,0 -0,8 -0,7 -1,3 -0,5 -0,9 Média Grupo 3 1,6 1,6 1,6 3,0 3,0 3,0 -1,5 -1,4 -1,4 1,5 1,5 1,5 3,0 3,0 3,0 -1,5 -1,5 -1,5 1,3 1,5 1,4 2,0 2,0 2,0 -0,7 -0,5 -0,6 1,4 1,5 1,5 2,7 2,7 2,7 -1,3 -1,2 -1,2 Média Grupo 4 3,4 3,8 2,3 3,4 3,2 3,0 3,0 2,0 3,0 2,8 0,4 0,8 0,3 0,4 0,5 2,2 2,1 1,4 2,0 1,9 3,0 3,0 2,0 3,0 2,8 -0,8 -0,9 -0,6 -1,0 -0,8 1,6 1,7 1,3 2,0 1,7 2,0 2,0 1,0 2,0 1,8 -0,4 -0,3 0,3 0,0 -0,1 2,1 2,2 1,5 2,3 2,0 2,7 2,7 1,7 2,7 2,4 -0,6 -0,5 -0,2 -0,4 -0,4 2,9 3,4 -0,6 2,0 3,1 -1,1 1,8 2,1 -0,3 2,1 2,9 -0,8 2- Conhecimento de Hidráulica INSTRUMENTAÇÃO BÁSICA OPERAÇÃO DE ELEVATÓRIAS OPERAÇÃO DE ADUTORAS OPERAÇÃO DE RESERVATÓRIOS ANÁLISE HIDRÁULICA ESTATÍSTICA 3 - Conhecimento de Automaçao e Controle NOÇOES BÁSICAS DE CONTROLE AQUISI./COM. DADOS CAMPO 4 - Conhecimentos de Softwares de Apoio EXCELL WORD POWER POINT INTERNET Média Geral Pelo quadro 04 pode-se observar que: Os engenheiros obtiveram uma nota média de 2,9 contra uma média ideal de 3,4. Cinco dos dezessete itens medidos, tiveram pontuação acima da média, sendo estes cinco ligados a uso de microcomputadores e suas ferramentas usuais. As maiores discrepâncias de conhecimento estão em “Operação de Elevatórias”, “Noções básicas de controle” e “Aquisição /comunicação de dados de campo”. O conhecimento “Operação de Elevatórias” chama a atenção por ser o único que os Supervisores e Operadores (2,3) receberam avaliação melhor que os Engenheiros (2,1). Os supervisores obtiveram uma nota média de 2,0 contra uma média esperada de 3,1. Este foi o pior resultado dos três grupos de estudo com uma diferença de -1,1 contra -0,6 dos engenheiros e -0,3 dos Operadores. Dos dezessete itens medidos, nenhum ficou acima da pontuação ideal. As maiores discrepâncias de conhecimento estão em “Sistema de controles de perdas / fator de pesquisa” “Sistema de Ocorrências”, “Aquisição /comunicação de dados de campo”, “Noções básicas de Controle” e “Instrumentação Básica”. O conhecimento “Sistema de controles de perdas / fator de Pesquisa”, no grupo de supervisores chama a atenção por ser a maior diferença entre media atingida e a media esperada entre os conhecimentos avaliados. Os Operadores obtiveram uma nota média de 1,8 contra uma média esperada de 2,1. Este foi o melhor resultado dos três grupos de estudo com uma diferença de apenas –0,3. Seis dos dezessete itens medidos ficaram igual ou acima da média desejada: “Operação de Adutoras”, “Operação de Reservatórios”, “Sistemas de Ocorrências”, “Sistema de Manobras” , “Editor de apresentações”, e Internet. As maiores discrepâncias de conhecimento estão em “Instrumentação Básica”, “Operação do sistema SCADA”, “Operação de elevatórias” e “Noções básicas de controle”. O conhecimento “Operação de ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 9 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental reservatórios“ chama a atenção por ser pouco maior que a dos supervisores e o de “Aquisição / Comunicação dados campo” e “Operação de Elevatórias” por ser igual a dos supervisores. Com base nestes resultados foram propostas algumas ações para auxiliar o CCO, através dos conceitos de GC, na organização de seu sistema de trabalho: Incorporar a GC na estratégia de operações; Elaborar um programa de qualificação permanente, voltado para a operação de sistemas automatizados para as equipes de operação; Adequar a estrutura de operação do SAIC (escalas) às necessidades de um SAA automatizado; Confeccionar e adequar os manuais e procedimentos para todos os processos que estão sendo alterados e que estão sendo criados pelo processo de automação; Implantar o programa de manutenção preventiva nas unidades de abastecimento; Integrar as áreas de projeto, obra, RH e manutenção com a área de operação nos projetos de SAA com automação. 7. CONCLUSÕES Este trabalho considera que a Gestão do Conhecimento é uma ferramenta que pode ser utilizada em todos os níveis de uma organização. O foco principal deste trabalho de aplicação da GC dentro do nível operacional mostra que as principais deficiências para criação de conhecimento, dentro da proposta de Nonaka e Takeushi (1985) estão na externalização dos conhecimentos tácitos e na sua disseminação (combinação) entre os grupos de trabalho, que ocorrem pela ausência de mecanismos que auxiliem estas duas etapas (programas formais de qualificação, documentação e espaços de socialização). Considerando a relação entre conhecimento e tecnologia de automação observa-se também que a mudança de processos operacionais deve ser acompanhada de uma adequação da estrutura e dos espaços organizacionais o que auxilia a etapa de socialização dentro do processo de criação de conhecimento. A GC fornece ferramentas para que a inovação e a espiral do conhecimento possam ser incorporadas em ambientes organizacionais e este trabalho procura trazer estas ferramentas para dentro da operação de SAA. Deve-se considerar que a aplicação destas ferramentas passa certamente pela definição de uma estratégia organizacional que contemple a GC e a coloque como parte integrante das estratégias de operação para SAA. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. GOUVÊA DA COSTA, S. E. Desenvolvimento de uma Abordagem Estratégica para a Seleção de Tecnologias Avançadas de Manufatura – AMT. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo USP. São Paulo. 2003. CARDOSO, R. R.;GOUVÊA DA COSTA, S. E.; PINHEIRO DE LIMA, E. Um estudo das “barreiras” organizacionais à introdução de novas tecnologias. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO – ENEGEP 2004, 24., 2004, Florianópolis. Anais...Florianópolis: ABEPRO GROOVER, M. Automation, Production Systems, and Manufacturing. 2nd ed. New Jersey : PrenticeHall, 2001. MARQUES, T. M. COMPETECH: Uma abordagem para Integração de Tecnologias de Automação através do Desenvolvimento das competências Operacionais das Empresas. Dissertação de Mestrado. 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