RESUMO. Este trabalho aborda a questão da finalidade da filosofia

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A QUESTÃO DA FILOSOFIA E SUA FINALIDADE : OS EXEMPLOS DE
SÓCRATES & PITÁGORAS.
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RESUMO. Este trabalho aborda a questão
da finalidade da filosofia e, tomando como parâmetros as
opiniões de Pitágoras e Sócrates, questiona a visão geral,
dentre os filósofos modernos, demonstrando o equívoco
em que incorrem, defendendo a desvinculação da
filosofia, ante qualquer resultado prático imediatamente
derivado da prática filosófica.
ABSTRACT. This work is ralated to the
finality of the Phylosophy and, taking as parameters the
opinions of Sócrates and Pitágoras, to demonstrate the
mistake which involves thosse moderns phylosophers,
when they defend the independence of the phylosophy, in
front of the production of any practical results,
imediatelly derivated of phylosophyic practice.
Pode haver ciência desvinculada de finalidade? É aceitável crerse que um exaustivo esforço mental tenha por objetivo apenas o próprio
exercício da mente, sem pretender chegar a lugar firme, após as ponderações?
Segundo a grande maioria dos filósofos, tal consideração é
inteiramente cabível e, como exemplo maior da sua aplicação, citam a
filosofia, definindo-a e caracterizando-a, exempli gratia:
“À pergunta ‘Que é a filosofia?’ deve-se,
portanto, responder: trata-se de uma ciência com propósitos
não produtivos, ou seja, de uma ciência que encontra propósito
em sua própria prática cientíica e racional, sem almejar fins
práticos ou produtivos. A diferença, portanto, está na própria
margem que distancia as epistemai praktiké e poietiké da
epistéme theoretiké, na tripartição aristotélica.” [Eduardo C.
B. Bittar & Guilherme Assis de Almeida, “Curso de Filosofia
do Direito”, SP, 2001, ed. Atlas, 1ª edição, p. 44, nota 1].
Prosseguindo, o mesmo autor, vemo-lo ainda dar continuidade
à sua linha argumentativa, asseverando que a finalidade da filosofia não é
outro senão o exercício do pensamento:
“A filosofia é o exercício do pensamento que tem
por finalidade o próprio exercício do pensamento. Não visando
a outro resultado senão à interpretação pela interpretação, seu
exercício é desprovido de pretensões finalistas. Causas de
causas, razões, fundamentos, explicações e justificativas são
buscados no próprio iter do pensamento.” [Idem, ibidem.]
Para robustecer sua afirmação, o ilustre autor ampara-se na
divisão entre dogmática e zetética. Daí, afirmaa filosofia como exercício
racional zetético, longe do exercício racional dogmático, o qual busca produzir
resultados. Vejamos se não é isto o que assegura o doutrinador citado:
“É, portanto, no próprio caminho de investigaçao
que reside a ratio essendi da filosofia. A contribuição está na
perene abertura que prorporciona, diferenciando-se das demais
ciências por fazer-se prática teórica desvinculada de
pressupostos (dogmas, o que está na raiz da diferença entre
dogmática e zetética).
“Isso ganha relevo no campo do Direito na extaa
medida da diferença dos exercícios racionais zetético (zétein) e
dogmático (dogma); o zetético detém-se em sua própria
caminhada especulativa ‘se-fim’, e o dogmático procura e
produz (poietiké) resultados.” [Idem, ibidem.]
Data venia, não nos parece inteiramente correto, semelhante
raciocínio. Com efeito, desde a cunhagem do termo “filosofia”, a expressão
está vinculada à idéia de busca pelo saber, o que, creio, parece indissociável do
estabelecimento de preceitos fundamentais ou dogmas, que, embora não
conceitualmente inamomíveis, tendem à estabilidade conceitual, permitindo
o avanço na aquisição do conhecimento.
“É esta investigação uma proposta de retorno ao
momento de cunhagem do termo filosofia. Isto porque o termo
filosofia, em seu surgimento, traz consigo o dilema dicotômico
da ação e do pensamento. Pitágoras, a quem se atribui a criação
do termo filosofia (philosophia) como forma de designar aquele
que ainda não alcançou a sabedoria, mas é amigo da sabedoria,
porque em sua busca se encontra.” [Idem, p. 20.]
“Pelo relato tradicional grego Pitágoras foi o
primeiro a usar o termo philosophia (ver D. L. I., 12; Cicero,
Tusc., V, 3, 8) e dotou a palavra com um sentidofortemente
religioso e ético, que melhor se pode ver na opinião do filósofo
exposta por Sócrates no Fédon, 62c-69e. Em Aristóteles
perderam-se estes matizes pitagóricos (o mesmo processo é
visível em Platão): philosophia tornou-se agora um sinônimo
de de episteme no sentido de uma disciplina intelectual que
procura as causas (met., 1026 a).” [Idem,p. 20, nota 1.]
Uma das coisas que saltam aos olhos, à leitura desta passagem:
o homem que cunhou o termo “filósofo”, deu-lhe uma definição; seus
continuadores, mudam-lhe a conceituação. Não parece o caso dos filhos, que
dilapidam o tesouro deixado pelo pai? Pois, em verdade, dos trechos
transcritos percebe-se que o filósofo deveria ser um eterno viajanete em busca
da sabedoria; ou seja: viajava com rumo certo, o saber.
Interessante observar como grande parte dos cientistas das
idades moderna e comtemporânea, têm tido o hábito de corromper o
pensamento inicial dos fundadores das escolas de pensamento a que se filiam.
Foi assim com Descartes e Newton, os quais, longe de serem ateus, percebiam
a presença da divindade, em todos os meandros da criação. Terá ocorrido o
mesmo com Pitágoras? É o que me parece. Entretanto, não o afirmarei, pois,
como filósofo, não devo buscar resultados, senão a própria perquirição...
Não obstante o esforço consciente que os filósofos modernos,
em sua maioria, fazem para tentar sustentar esta opinião acerca da finalidade
da filosofia, inconscientemente ou semi-conscientemente, traem-se eles, em
suas próprias palavras, deixando entrever um renitente e invencível anseio por
dar àquele ciência o mais nobre dos fins: a busca da verdade. Vejamos
exemplos disto:
“Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos
do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão
às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se
buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da
história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas
nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de
nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si
e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felidade
para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o
mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são
capazes.” [Marilena Chauí, “Convite à filosofia”, 1999, p. 18.]
“Nesse sentido, quer-se afirmar que a filosofia
pode representar o potencial de libertação racional do homem.
Trata-se de uma libertação, por meio do pensamento, e não da
açõ, porque a capacidade de crítica retira o véu que encobre os
olhos humanos atrelados à miudezas do quotidiano, ao
procedimental, ao ritual, ao que é facilmente aceito, ao
dogmático, ao unilateral, ao acidental, ao qualitativo, ao
quantitativo, ao monodimensional... A filosofia permite o
questionamento, abrindo espaço para outros horizontes (...).”
[Eduardo C. B. Bittar & Guilherme Assis de Almeida, “Curso
de Filosofia do Direito”, SP, 2001, ed. Atlas, 1ª edição, p.
22.]
Com base, em tudo isto, parece-me que nunca deveríamos ter
fugido à estrada inicial, traçada por Pitágoras e Sócrates, no que dissesse com
a finalidade da filosofia:
“Seu método maiêutico, baseado na ironia e no
diálogo, possui como finalidades a parturição de idéias, e como
inspiração da vida, uma vez que Fenareta, sua mãe, era
parteira. Isso porque todo erro é fruto da ignorãncia, e toda
virtude é conhecimento; efetuar a parturição das idéias é tarefa
primordial do filósofo, a fim de despertar nas almas o
conhecimento. Daí a importância de reconhecer que a maior
luta humana deve ser pela educação (paidéia)”. [Opus cit., pp.
58 e 59.]
“A filosofia socrática traduz uma ética
teleológica, e sua contribuição consiste em vislumbrar na
felicidade, o fim da ação. Essa ética tem por fito a preparação
do homem para conhecer-se, uma vez que o conhecimento é a
base do agir ético; só erra quem desconhece, de modo que a
ignorância é o maior dos males. Conhecer, porém, não á fiar-se
nas aparências e nos enganos e desenganos humanos, e sim
fiar-se no que há de verdadeiro e certo. Erradicar a ignorância,
portanto, por meio da educação (paidéia) é tarefa do filósofo,
que, na certeza desses princípios, abdica até mesmo de sua vida
para re-afirmar sua lição e seu compromisso com a divindade.”
[Opus cit., p. 69.]
Com estas ponderações, penso evidenciar-se, à saciedade, que
a filosofia deve buscar objetivos outros, além da simples busca, em si mesma.
De igual modo, creio demonstrado que, tanto em Sócrates, como em
Pitágoras, a filosofia implica avaliar a realidade e posicionar-se diante dela,
utilizando-se de categorias absolutas, como bem e mal, certo e errado.
A filosofia não deve voltar-se paa si mesma, nem enclausurar-se
nos sutis meandros das operações metais intrincadas (não porque profndas,
mas exatamente porque superficiais), tentando dar-se a si mesmas, a aparência
de sabedoria.
José Inácio de Freitas Filho.
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