Baixar trabalho completo

Propaganda
RESUMO
PEGORETE, Thayla Ribeiro. Sistematização da Assistência de Enfermagem a pessoas
vivendo com HIV/AIDS no Serviço de Atenção Especializada às IST/HIV/AIDS. 2016.
99 f. Trabalho de Curso. Instituto de Ciências da Saúde. Curso de Enfermagem. Universidade
Federal de Mato Grosso, Sinop, 2016.
A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAEe) é o modelo metodológico ideal para
o enfermeiro aplicar seus conhecimentos técnico-científicos na prática assistencial nos
Serviços de Atenção Especializada às IST/HIV/AIDS, visto que, segundo o relatório da
UNAIDS, o número de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (PVHA) mundialmente, no final de
2015, era de 36,7 milhões. Neste sentido, a Teoria do Déficit do Autocuidado de Orem,
instrumentaliza as ações do enfermeiro no cuidado a essa população. Isso posto, o presente
estudo teve como objetivo descrever a Sistematização da Assistência de Enfermagem
direcionada a dois adultos vivendo com HIV/AIDS à luz da Teoria de Enfermagem do Déficit
de Autocuidado de Orem. Trata-se de um estudo exploratório e descritivo, com abordagem
qualitativa, desenvolvido no Serviço de Atenção Especializada às IST/HIV/AIDS do
município de Sinop, Mato Grosso, com dois participantes vivendo com HIV/AIDS. Para a
coleta de dados, foram utilizadas as técnicas de entrevista, observação, exame físico e
consulta aos prontuários, sendo analisados conforme a Teoria do Déficit do Autocuidado de
Dorothea Orem, por meio de categorias apriorísticas. O estudo foi aprovado pelo Comitê de
Ética e Pesquisa sob o número 1.400.095. Os dados encontrados possibilitaram a identificação
de diagnósticos dentro dos requisitos de autocuidado universal, do autocuidado de
desenvolvimento e do autocuidado de desvio de saúde, sendo os principais, nutrição
desequilibrada: menos que as necessidades corporais, manutenção ineficaz da saúde, risco de
infecção e risco de função hepática prejudicada. Alguns diagnósticos foram comuns aos dois
pacientes, porém, apesar disso, eles surgiram em decorrência de causas diferentes, reforçando
que mesmo tendo obtido a mesma infecção, há particularidades intrínsecas às características
fisiológicas, psicológicas e sociais de cada um. Para cada diagnóstico, foi elaborado um
planejamento de enfermagem, com resultados e intervenções específicas. Sugere-se que sejam
realizados outros estudos com a temática da SAEe, conforme a Teoria de Orem, às PVHA,
abrangendo a implementação do planejamento de enfermagem e a avaliação dos resultados
obtidos.
Descritores:
Síndrome da
Imunodeficiência
Adquirida. Autocuidado. Enfermagem
1 INTRODUÇÃO
As Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST)1 geralmente se manifestam por meio
de feridas, corrimentos, bolhas ou verrugas. Algumas podem não apresentar sintomas, por
isso, quando não diagnosticadas e tratadas a tempo, podem evoluir para complicações graves,
como infertilidade, câncer e até a morte (BRASIL, 2015b). Dentre as IST, inclui-se a infecção
pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), que se caracteriza pela manifestação de
doenças oportunistas (CLEMENTINO, 2014).
Um dos continentes de maior incidência de pessoas infectadas pelo vírus é o
continente Africano, com uma população que apresenta baixa escolaridade, altas taxas de
pobreza extrema, e poucos recursos médicos. O índice de africanos acometidos pelo HIV e
pela AIDS continua crescendo, chegando a superar os demais países (CLEMENTINO, 2014).
Segundo o relatório divulgado pelo Joint United Nations Programme on HIV/AIDS, o
número de Pessoas Vivendo com HIV (PVHA) mundialmente, no final de 2015, era de 36,7
milhões. Quanto à mortalidade relacionada à AIDS, a estimativa mundial foi 1,1 milhões em
2015 (UNAIDS, 2016).
No entanto, mesmo com o aumento da expectativa de vida das PVHA devido à
introdução dos medicamentos antirretrovirais, essas pessoas necessitam de uma assistência
qualificada, humanizada e individualizada diante das mudanças imunológicas, físicas e
psicossociais que surgem atreladas à descoberta da infecção por HIV.
A enfermagem é uma ciência que tem como foco o cuidado com o ser humano, desta
maneira, utiliza metodologias teóricas e científicas para o desenvolver da assistência prática
profissional. Assim, a ciência da enfermagem está baseada numa ampla estrutura teórica. A
Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAEe) é o método, por meio do qual essa
estrutura é aplicada à prática de enfermagem (BITTAR; PEREIRA; LEMOS, 2006).
A SAEe permite identificar, compreender e julgar, quais são as necessidades humanas
do indivíduo, sua família e coletividade, para problemas que sejam reais ou potenciais e
planejar intervenções que atuem solucionando estes problemas. Permite, também, investigar a
eficácia do planejamento de enfermagem, avaliar a necessidade de mudanças nas
intervenções, visando alcançar uma completa eficácia e satisfação, não somente para o cliente,
1
A terminologia Infecções Sexualmente Transmissíveis passou a ser adotada no Protocolo Clínico de Diretrizes
Terapêuticas, publicado em 2015 pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais/Secretaria de Vigilância
em Saúde/Ministério da Saúde, substituindo a expressão Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Nesse
contexto, a terminologia IST, alerta a população sobre a possibilidade de ter e transmitir uma infecção, mesmo
sem sinais e sintomas, o que aponta para estratégias de atenção integral, eficaz e resolutiva (BRASIL, 2015a).
como também, à família, ao profissional e à instituição de saúde. O Processo de Enfermagem
(PE) é considerado a base de sustentação da SAEe (ZANARDO; ZANARDO; KAEFER,
2011).
O PE é considerado uma atividade privativa do enfermeiro, conforme as disposições
da Lei nº 7.498/86 e do Decreto nº 94.406, de 08 de junho de 1987, que a regulamenta. A
Resolução 358/2009 do Conselho Federal de Enfermagem, dispõe sobre a Sistematização da
Assistência de Enfermagem e a implementação do PE em ambientes, públicos ou privados,
em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem, e dá outras providências (BRASIL,
2009).
Garcia e Nóbrega (2000, p. 5) referem que “Processo de enfermagem não é um
conceito „novo‟”. Isto é confirmado quando observa-se que Florence2 já enfatizava a SAEe, na
década de 1850, por meio da visão de ensinar as enfermeiras a observarem e fazerem
julgamentos sobre as observações feitas, porém, não era reconhecida, ainda, como uma
ferramenta científica e aprovada por lei.
Quanto à sua introdução no Brasil, Krauzer (2009), enfatiza que a SAEe começou com
Horta3 na década de 1970 e, nas últimas décadas, os enfermeiros conquistaram um modelo,
uma linguagem, uma legislação e alguns compromissos, especialmente o de validar o seu
conhecimento por meio da aplicação de um modelo teórico no cotidiano das instituições.
Diante do desafio profissional de lidar com pessoas vivendo com IST/HIV/AIDS em
Serviços de Atenção Especializada, há elevada importância de investimento no paciente, de
maneira que este se sinta responsável pelo cuidado com a infecção adquirida, e, ao mesmo
tempo, valorizado, pela sua capacidade de autocuidado, adjunto à atuação científica, o que é
possível somente através de uma adequada implementação da SAEe no Serviço de Atenção
Especializada às IST/HIV/AIDS (SAES) (CAETANO; PLAGIUCA, 2006).
Neste contexto, a Teoria do Déficit do Autocuidado de Dorothea Orem instrumentaliza
o enfermeiro e é aplicada para a realização da SAEe. Ela tem grande relevância na área da
2
Florence Nightingale é considerada a mãe da enfermagem moderna e também a primeira enfermeira
pesquisadora. Devido a sua ampla base de conhecimento, compreensão da incidência, prevalência das doenças,
seu poder agudo de observação e administração, reduziu, em 6 meses, a mortalidade dos feridos da guerra da
Criméia, de 42,7% para 2,2%, tornando-se uma heroína. Também foi responsável por fundar a primeira escola de
enfermagem (GEORGE et al., 2000).
3
Wanda de Aguiar Horta é considerada a precursora da SAEe no Brasil. Foi uma pesquisadora autodidata, atuou
como docente em cursos de graduação e mestrado em Enfermagem. Elaborou a Teoria das Necessidades
Humanas Básicas e propôs um modelo teórico como uma possibilidade metodológica para nortear a profissão: o
Processo de Enfermagem (KRAUZER, 2009; LUCENA; BARREIRA, 2011).
enfermagem, pois, segundo Orem, o autocuidado é indispensável à sobrevivência do ser
humano com qualidade no mundo em que vivemos (SILVA; BRAGA, 2011; LOPES et al.,
2015).
2 JUSTIFICATIVA
A SAEe é a ferramenta científica permissiva à execução da autonomia do enfermeiro
no desempenho de uma assistência qualificada, humanizada e individualizada ao paciente,
sendo um método que organiza, sistematiza o cuidado, favorece a promoção de melhor
qualidade de vida e do autocuidado do cliente vivendo com IST/HIV/AIDS.
Porém, a enfermagem não está alicerçada somente em princípios, valores e normas,
mas, sim, orientada por teorias, que contribuem para a eficácia na prática das ações,
considerando que as teorias foram escritas a partir de vivências da prática profissional. Por
isso, o sucesso da SAEe depende da aplicação de uma teoria de enfermagem.
Assim, a aplicação da SAEe à luz da Teoria do Déficit do Autocuidado, de Dorothea
Orem, neste trabalho, justifica-se pelo motivo da teoria instrumentalizar o enfermeiro a
identificar os déficits de autocuidado e proporcionar ajuda para que o paciente torne-se um
agente ativo no autocuidado, visando a manutenção da sua saúde e bem-estar, já que infecção
por HIV/AIDS compromete o funcionamento e defesa do organismo, interferindo na
qualidade de vida do paciente, e esta depende, em grande parte, do cuidado pessoal para ser
mantida.
3 OBJETIVOS
Objetivou-se descrever a Sistematização da Assistência de Enfermagem proporcionada
a dois adultos vivendo com HIV/AIDS à luz da Teoria de Enfermagem do Déficit de
Autocuidado de Orem, bem como identificar os requisitos de autocuidado universais, os
relativos ao desenvolvimento, aos desvios de saúde e os déficits de autocuidado; realizar o
Processo de Enfermagem baseado na Taxonomia da NANDA, na Classificação dos
Resultados de Enfermagem e na Classificação das Intervenções de Enfermagem e propor a
implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem ao Serviço de Atenção
Especializada às IST/HIV/AIDS.
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4.1 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM (SAEE): HISTÓRICO e
IMPORTÂNCIA
A SAEe é o modelo metodológico ideal para o enfermeiro aplicar seus conhecimentos
técnico-científicos na prática assistencial, favorecendo o cuidado e a organização das
condições necessárias para que ele seja realizado (GARCIA; NOBREGA, 2000).
A enfermagem, inicialmente empírica, passou por transformações ao longo dos anos,
adquirindo caráter científico. A exemplo, a enfermagem nightingaleana contribuiu para o
desenvolvimento da profissão, referendando a necessidade de observação acurada, de
habilidades na comunicação e ao fazer a distinção entre conhecimento de enfermagem e
conhecimento médico, criando desta forma os fundamentos básicos do conhecimento da
enfermagem e as diretrizes para o processo de construção teórico-prática (KLETEMBERG,
2004; KRAUZER, 2009).
Assim, considerando que a valorização do trabalho de enfermagem precisa da
aplicação de uma metodologia (KRAUZER, 2009), a SAEe conferiu à enfermagem aquisição
de um status profissional, uma importância científica, que se objetivava desde a antiguidade,
porém, um reconhecimento baseado no cuidado humanizado, integral, holístico, individual,
passível de adequação à realidade da condição onde se executavam os cuidados. Silva (2006)
afirma não ser possível conceber um serviço organizado e de qualidade que não tenha em
funcionamento a SAEe.
Atualmente, mediante a Resolução 358/2009 do Conselho Federal de Enfermagem
(COFEN), o PE organiza-se em cinco etapas dinâmicas, inter-relacionadas e recorrentes:
coleta de dados de Enfermagem (ou histórico de enfermagem), diagnóstico de enfermagem,
planejamento de enfermagem, implementação e avaliação de enfermagem (BRASIL, 2009).
Como um importante benefício da SAEe, pontua-se que ela assegura maior qualidade
na assistência prestada, visto que planeja uma assistência individualizada, garantindo
atendimento com critérios padronizados, e uma avaliação por meio de dados confiáveis,
organizando o serviço, trazendo eficiência e validando a assistência (BITTAR; PEREIRA;
LEMOS, 2006; ZANARDO; ZANARDO; KAEFER, 2011).
Devido à permissividade, mediante a SAEe, de o enfermeiro aplicar seus
conhecimentos humanos, técnicos, mas também com embasamento científico, na atuação
profissional, isto contribui para o fortalecimento da autonomia tornando o trabalho mais
científico e menos empírico (DIAS et al., 2011).
Com a SAEe, a comunicação entre os integrantes da equipe de enfermagem é
beneficiada e favorecida, assim como a melhora nos registros de enfermagem, também é um
processo também de qualificação profissional, pois, para o enfermeiro colocar em prática a
SAEe, é estimulado à educação continuada e permanente, que o estimula a integrar-se na
realização dos cuidados, promovendo a intensificação do crescimento profissional
(D‟INNOCENZO; ADAMI; CUNHA, 2006; KRAUZER, 2009).
Outras importâncias atribuídas ao PE são a sua adaptabilidade a diversos ambientes e a
redução dos custos hospitalares, pois melhoraria a qualidade do serviço, e, por consequência,
diminuiria o tempo de internação dos pacientes (LEOPARDI; GELBCKE; RAMOS, 2001;
KRAUZER, 2009).
4.1.1 Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAEe) para Serviço de IST/HIV/AIDS
A AIDS, considerada como uma epidemia, continua a ser um dos grandes desafios
para a saúde global, pois são muitas as dificuldades enfrentadas pelas PVHA em seu
cotidiano, como o preconceito, dificuldades de convívio familiar, dificuldade de acesso às
informações, aos exames laboratoriais imprescindíveis e à adesão ao tratamento (CAETANO;
PLAGIUCA, 2006; CLEMENTINO, 2014).
Devido a isso, os desafios postos no âmbito de saúde pública vêm solicitando a
intervenção de profissionais com conhecimentos técnicos e científicos que extrapolam o
conhecimento médico, e que imputaram novos desafios para o cuidado de enfermagem,
exigindo uma rápida expansão da atenção ambulatorial (ROCHA, 2005).
4.2 TEORIA GERAL DE ENFERMAGEM DE OREM
A Teoria do Autocuidado apresenta o conceito de autocuidado, engloba os requisitos
para o autocuidado, apresentados em três categorias: universais, de desenvolvimento e de
desvio de saúde (GEORGE et al., 2000; CAETANO; PLAGIUCA, 2005; SILVA; BRAGA,
2011; LOPES et al., 2015).
Já a Teoria do Déficit do Autocuidado constitui a essência da teoria geral de
enfermagem de Orem, uma vez que delineia quando e por que há necessidade da ajuda da
enfermagem para auxiliar o indivíduo no oferecimento do autocuidado. Cabe à enfermeira
atuar no oferecimento dos cuidados de enfermagem, pois ela possui habilidades para
identificar as incapacidades às quais os seres humanos estão sujeitos (GEORGE, 2000;
CAETANO; PLAGIUCA, 2005; SILVA et al., 2011).
Quanto à Teoria dos Sistemas de Enfermagem, Orem identificou três classificações de
sistemas de enfermagem, as quais são: o sistema totalmente compensatório, o sistema
parcialmente compensatório e o sistema de apoio-educação (GEORGE, 2000; CAETANO;
PLAGIUCA, 2005; SILVA; BRAGA, 2011).
5 DESCRIÇÃO METODOLÓGICA
Estudo exploratório e descritivo, com abordagem qualitativa, que dá profundidade aos
dados, a dispersão, a riqueza interpretativa, a contextualização do ambiente, os detalhes e as
experiências únicas (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006, p. 15).
O estudo foi desenvolvido no SAEs no município de Sinop, Mato Grosso. Os
participantes da pesquisa foram uma paciente do sexo feminino e um do sexo masculino,
vivendo com HIV/AIDS, aos quais atribuímos os nomes fictícios de Maria e João.
Como critérios de inclusão: paciente com diagnóstico reagente para HIV, com exames
laboratoriais de carga viral e linfócitos CD4, adulto, consciente, com condições físicas e
emocionais de participar do estudo, que seja acompanhado no SAEs e não tenha abandonado o
tratamento, com menos de um ano de diagnóstico, em uso da Terapia Antirretroviral (TARV),
disposto a participar da SAEe e que tivesse assinado o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. E excluídos: paciente portador de HIV/AIDS em estágio terminal e com déficits
neurológicos ou condições mentais que interferissem nas respostas aos questionamentos da
pesquisadora.
Os dados foram coletados durante uma consulta de enfermagem, com técnica de
entrevista, por meio de um questionário semiestruturado, gravação das falas, observação,
registros das informações, consulta ao prontuário e exame físico.
Para o desenvolvimento do PE, foi utilizado a Taxonomia da NANDA - North
American Nursing Diagnosis Association (NANDA, 2013), a Classificação dos Resultados de
Enfermagem – NOC (MOORHEAD et al., 2010) e a Classificação das Intervenções de
Enfermagem – NIC (BULECHEK; BUTCHER; DOCHTERMAN, 2010).
A Teoria de Enfermagem do Déficit de Autocuidado de Orem fundamentou a
análise dos dados obtidos por meio das entrevistas, para identificar os requisitos de
autocuidado e, a partir disto, os déficits de autocuidado, os diagnósticos de enfermagem e
determinar os resultados e intervenções. Para instrumentalizar as ações de enfermagem,
selecionou-se o sistema de enfermagem apoio-educação.
A técnica utilizada para analisar os resultados foi a análise de conteúdo por meio de
categorias teóricas ou apriorísticas (CAMPOS, 2004). O programa utilizado para organização
dos dados, foi o Windows 7. A pesquisa foi realizada conforme a Resolução 466/12
(BRASIL, 2012) do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde. Assim, a pesquisadora
aguardou o parecer do Comitê de Ética, para a coleta de dados, e a realizou de acordo com
esta Resolução.
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
6.1 REQUISITOS DO AUTOCUIDADO UNIVERSAL
Os requisitos de autocuidado universais estão associados com os processos da vida e
com a manutenção da integridade da estrutura e do funcionamento humano. São comuns a
todos os seres humanos durante todos os estágios do ciclo de vida e devem ser vistos como
fatores inter-relacionados, cada um influencia o outro (SILVA; BRAGA, 2011; PIRES et al.,
2015). O Quadro 1 apresenta a distribuição das necessidades básicas e seus diagnósticos de
enfermagem no requisito de autocuidado universal.
Quadro 1 – Apresentação das demandas de autocuidado e os diagnósticos de enfermagem dos
portadores de HIV, conforme sub-requisitos do autocuidado universal
Sub-requisitos do autocuidado universal
Diagnósticos de Enfermagem
Alimentação
Nutrição desequilibrada: menos
que as necessidades corporais
Eliminação e excreção
Diarreia
Hidratação
Risco de volume de líquidos
deficiente
Aspectos relacionado à vida e ao bem-estar
Dentição prejudicada
- Consulta oftalmológica
Manutenção ineficaz da saúde
- Cuidados básicos com os olhos
- Consulta odontológica
- Relação sexual sem preservativo
- Exames de prevenção (detecção precoce do
câncer de mama)
Fonte: Elaborado pela autora.
Dentre os diagnósticos encontrados neste requisito, observou-se que alguns foram
comuns aos dois pacientes, porém, surgiram em decorrência de causas diferentes, reforçando
que apesar de os pacientes terem sido diagnosticados com a mesma infecção, há
particularidades intrínsecas às características fisiológicas, psicológicas e sociais de cada um.
6.1.1 Diagnósticos e Planejamento de Enfermagem – Paciente Maria
6.1.1.1 Nutrição desequilibrada: menos que as necessidades corporais
Devido à verbalização da ocorrência de diarreia e ingestão inadequada de alimentos,
menor que a porção diária recomendada, causadas por fatores econômicos e biológicos, a
saber, náusea e mal-estar, surgiu o Diagnóstico de Enfermagem: Nutrição desequilibrada:
menos que as necessidades corporais. Faria (2012) identificou este diagnóstico em 76,7% dos
pacientes da sua pesquisa, o que foi corroborado pelo estudo de Costa (2015).
Como resultado esperado estabeleceu-se a melhora do estado nutricional e o
autocuidado com a alimentação. E, como intervenções, incentivar a paciente Maria a preparar
alimentos de sua preferência; promover ingesta nutricional adequada, dar preferência aos
alimentos não industrializados; diminuir ou evitar frituras, gorduras, açúcares e auxiliar o
acesso da paciente à consulta com nutricionista.
A satisfação do requisito do autocuidado de aporte adequado de alimentos através de
uma dieta mais saudável e equilibrada pode contribuir na recuperação das pessoas que vivem
com HIV, visto que a nutrição é fundamental para o sistema imunológico de todos os
indivíduos, especialmente os que vivem com HIV/AIDS, devido a estes serem mais
vulneráveis à desnutrição (FARIA, 2012).
6.1.1.2 Diarreia
As evidências de dor abdominal e pelo menos três evacuações de fezes líquidas por
dia, causadas pelo processo infeccioso do HIV e efeitos adversos de medicamentos,
corroboraram para o diagnóstico diarreia. A diarreia foi diagnosticada em 23,3% dos
participantes do estudo de Faria (2012), em 25% dos pacientes na pesquisa de Silva et al.
(2015a), e também esteve entre os diagnósticos mais prevalentes na análise de Costa (2015).
O planejamento da assistência proposto estabeleceu como resultado esperado o
controle da diarreia e dos sintomas e, como intervenções, consumir dieta com baixo teor de
fibra, evitar açúcar e doces, aumentar teor proteico e calórico; lavar e cozinhar bem os
alimentos; aumentar ingesta hídrica e manter consultas com o médico na persistência dos
sintomas.
No contexto do HIV e da AIDS, sintomas gastrointestinais são muito comuns. A
diarreia, muitas vezes, está associada a parasitas entéricos, mas também pode ser provocada
pelos antirretrovirais, pela ação do próprio vírus no organismo do indivíduo, por intolerância a
determinados alimentos, ou mesmo por alimentos contaminados. Por isso, torna-se
imprescindível que as causas do seu aparecimento sejam investigadas, para que o tratamento
seja eficaz (COSTA, 2015).
6.1.1.3 Manutenção ineficaz da saúde e Dentição prejudicada
No contexto da saúde odontológica, pôde ser evidenciada a presença de cáries,
levando ao diagnóstico dentição prejudicada. Para tal, foi estabelecido o resultado esperado de
conhecimento dos recursos de saúde, e as intervenções incluíram incentivar o acesso à
informações sobre o cuidado com a saúde bucal e informar sobre os serviços odontológicos
disponíveis no serviço público de saúde.
É mister investir na estratégia de educação em saúde, com vistas a melhorar o acesso
aos serviços odontológicos e reduzir a indiligência em saúde bucal das PVHA, pois a falta de
saúde bucal pode contribuir para a instalação de um foco infeccioso na cavidade oral das
pessoas soropositivas (FARIA, 2012; MAIA et al., 2015).
Referente ao acesso às consultas oftalmológicas e aos cuidados básicos de saúde com
os olhos, evidenciou-se a falta demonstrada de conhecimento com relação às infecções
oportunistas decorrentes da infecção por HIV, causadas pela insuficiência de recursos
financeiros e falta de acesso aos serviços de saúde.
O próprio mecanismo de ação do vírus contribui para que as infecções oportunistas e
coinfecções ocorram, seja pela destruição das células TCD4, quanto pelo efeito da leucopenia
(COSTA, 2015).
Maria relatou não fazer uso de preservativo nas relações sexuais, mesmo conhecendo
algumas dele, porém, desconhece o motivo de duas pessoas infectadas por HIV precisarem
usar o preservativo.
O alerta se dá devido ao fato de que na população que já vive com o vírus, tal prática,
do não uso do preservativo, pode conferir risco adicional para o aumento da carga viral entre
parceiros e para infecção por HIV mutantes, além de infecções com prevenção disponíveis,
como as hepatites B e C, e todas as demais que com o uso do preservativo também teriam a
ocorrência diminuída (RIGHETTO et al., 2014).
Em relação à prevenção do câncer de mama, Maria relatou não realizar o autoexame
das mamas, sob alegação de falta de conhecimento. Quanto ao exame de prevenção do câncer
de colo uterino, Maria havia realizado há 5 meses.
Em função da defesa imunológica reduzida e da maior vulnerabilidade para as lesões
precursoras do câncer de colo de útero, o rastreamento citológico de mulheres vivendo com
HIV deve ser realizado logo após o início da atividade sexual, com periodicidade anual após
dois exames normais consecutivos realizados com intervalo semestral (INCA, 2016).
Como resultados esperados para o diagnóstico manutenção ineficaz da saúde, foram
estabelecidos o conhecimento dos recursos de saúde e comportamento de busca de saúde e,
como prescrições de enfermagem, informar a paciente sobre custos e alternativas de quando e
onde obter serviços de saúde; orientar a paciente sobre a importância do autoexame regular
das mamas; encorajar a paciente a demonstrar a autopalpação durante e após o exame clínico
das mamas; monitorar a ocorrência de vermelhidão nos olhos, exsudato e reforçar o uso de
preservativos.
A educação em saúde poderá levar o indivíduo a um bom grau de satisfação das
orientações fornecidas pela equipe de enfermagem, fato que pode contribuir para um melhor
conhecimento relacionado ao comportamento de saúde, controle de infecção, cuidados e
processo da doença (COSTA, 2015).
6.1.2 Diagnósticos e Planejamento de Enfermagem – Paciente João
6.1.2.1 Risco de volume de líquidos deficiente
O diagnóstico risco de volume de líquidos deficiente foi relacionado à deficiência de
conhecimento e fatores que influenciam as necessidades de líquidos.
Como resultados esperados: o conhecimento na promoção da saúde e controle de
riscos. Quanto às intervenções: monitorar o estado de hidratação das mucosas, turgor da pele,
sede, incentivar a busca de informações em fontes renomadas; enfatizar os benefícios da
ingesta hídrica e monitorar a quantidade ingerida durante o dia.
Faz-se importante ressaltar que é prejudicial a diminuição do volume hídrico no
funcionamento saudável do organismo. Porém, para tal conhecimento e mudança do
comportamento, os indivíduos com HIV também precisam de oportunidades e interesse de
aprimorar seus conhecimentos (COSTA, 2015).
6.1.2.2 Manutenção ineficaz da saúde
Neste sub-requisito, as indagações quanto à saúde bucal e aos cuidados odontológicos,
indicaram que João desconhece a importância destes para pacientes com infecção pelo HIV.
Além disso, em relação aos cuidados básicos de saúde com os olhos, evidenciou-se
que João demonstra falta de conhecimento quanto às infecções oportunistas decorrentes da
infecção por HIV, mesmo estando, no momento, infectado pelo Toxoplasma gondii.
Ao se considerar a alteração fisiopatológica decorrente da replicação do vírus HIV,
caracterizada pela destruição nas células de defesa do organismo, isso contribui para o
aparecimento de infecções oportunistas e coinfecções (COSTA, 2015).
Quanto ao uso de preservativos, João relatou nunca fazer uso e ter dúvidas quanto às
formas de transmissão do HIV, mas, mesmo tendo relações sexuais somente com homens,
afirma que não se considerava com risco para adquirir o vírus. O estudo de Silva et al.
(2015b), evidenciam que quanto às práticas sexuais de homens que fazem sexo com homens ,
a maioria não usava preservativo.
Ações preventivas precisam ser reforçadas para os pacientes que ainda estão
envolvidos em práticas sexuais de risco, a fim de evitar a reinfecção e reduzir os potenciais
riscos para a transmissão do vírus (CASTRIGHINI et al., 2013; SILVA et al., 2015b).
Os resultados esperados foram: o conhecimento do controle de infecção e de cuidados
na doença e conhecimento dos recursos de saúde. As intervenções de enfermagem incluíram:
explicar a fisiopatologia da doença, a importância da saúde bucal e oftalmológica em
pacientes com infecção por HIV; reforçar a necessidade do uso de preservativos e a
responsabilidade pela redução da transmissão do HIV e explicar sobre os sistemas de
atendimento de saúde disponíveis no município.
Há grande importância em incentivar os indivíduos com HIV à prática do autocuidado,
e apoiá-los no processo de educação e sensibilização, no intuito de colaborar com promoção e
manutenção da sua saúde nos diversos contextos demandados pelo HIV/AIDS (LOPES et al.,
2015).
6.2 REQUISITOS DO AUTOCUIDADO DE DESENVOLVIMENTO
Os requisitos de autocuidado de desenvolvimento referem-se aos eventos ou situações
novas que ocorrem na vida humana, porém com propósito de desenvolvimento e, para seu
cumprimento, necessitam-se dos requisitos de autocuidado universais (SILVA; BRAGA,
2011; PIRES et al., 2015). O Quadro 2 apresenta a distribuição das necessidades básicas e
seus diagnósticos de enfermagem no requisito de autocuidado desenvolvimento.
Quadro 2 – Apresentação da demanda de autocuidado e os diagnósticos de enfermagem dos
portadores de HIV, conforme sub-requisito do autocuidado de desenvolvimento
Sub-requisito do autocuidado de desenvolvimento
Diagnósticos de Enfermagem
Déficit na adaptação às modificações decorrentes da Risco de infecção
AIDS
Baixa autoestima situacional
Risco
de
prejudicada
função
hepática
Fonte: Elaborado pela autora.
Neste requisito obtiveram-se, também, dentre os diagnósticos, três comuns aos dois
pacientes, levando à reflexão de que as novas situações derivadas da descoberta da infecção
pelo HIV, requerem um planejamento de ações que proporcionem conhecimento e prática do
autocuidado, de maneira que as PVHA se adaptem às alterações inerentes à infecção e ao
processo de desenvolvimento de novos aprendizados.
6.2.1 Diagnósticos e Planejamento de Enfermagem – Paciente Maria
6.2.1.1 Baixa autoestima situacional
Este diagnóstico foi identificado pelo relato de desamparo, sentimento de inutilidade,
causados pelas perdas, prejuízo funcional e sentimento de fracasso com a perda do emprego.
Os resultados esperados foram o restabelecimento da autoestima, o ajuste psicossocial
às mudanças de vida e o relato de sentir-se útil e as intervenções de enfermagem incluíram
encorajar o uso de técnicas como relaxamento, a interação com outras pessoas que, com
sucesso, estejam modificando o comportamento; ajudar a paciente a identificar suas
capacidades euma fonte de motivação; sugerir o uso de recursos espirituais e encaminhar à
consulta com a psicóloga do Serviço.
PVHA apresentam pior autoestima quando comparadas com indivíduos vivendo com
outras doenças crônicas. A autoestima baixa leva o indivíduo ao não cuidado, pessoal e com
a saúde, a não acreditar em si, a sentir-se limitado e desanimado e não buscar um tratamento
(CASTRIGHINI et al., 2013).
A busca de recursos espirituais é considerada um suporte para enfrentar a doença e
para um melhor apoio emocional (FARIA, 2012). Aqueles que exercitaram a espiritualidade
por meio da fé ou crenças religiosas alcançaram maior enfrentamento à condição sorológica,
encorajamento e aptidão para o trabalho (OLIVEIRA et al., 2015).
6.2.2 Diagnósticos e Planejamento de Enfermagem – Paciente João
6.2.2.1 Risco de função hepática prejudicada
O diagnóstico risco de função hepática prejudicada esteve relacionado à coinfecção
(HIV e toxoplasmose) e medicamentos hepatotóxicos (TARV).
O resultado estabelecido foi o controle de riscos e, como intervenções, promover o
acesso à educação de saúde adequada relativa à prevenção de doenças transmissíveis; explicar
o processo da doença e a ação dos medicamentos no organismo; realizar exames
periodicamente para monitoração da infecção e exames de rotina.
Embora os antirretrovirais tenham um papel importante na supressão viral e na
manutenção dos níveis de células CD4 mais elevados, a hepatotoxicidade é um dos mais
relevantes efeitos adversos comumente associados à TARV (COSTA, 2015; BRASIL, 2016).
As causas da toxicidade envolvem tanto a própria infecção pelo vírus HIV, as
hepatites B e C e infecções oportunistas sistêmicas, quanto outras drogas hepatotóxicas, como
alguns antibióticos. Por esta causa, a enfermagem deve atuar na educação das pessoas que
vivem com HIV, preenchendo e ampliando condições para um melhor enfrentamento da
doença, das doenças oportunistas e do estigma imposto pelo fato de ser portador do vírus HIV
(FARIA, 2012).
6.2.2.2 Risco de infecção
Com base na imunodepressão pela infecção por HIV e toxoplasmose, foi sugerido o
diagnóstico de enfermagem risco de infecção.
Em um estudo sobre a prevalência das doenças oportunistas em pacientes com HIV
(SILVA et al., 2015a), 100% dos pacientes desenvolveram alguma doença em decorrência da
imunossupressão resultante do HIV positivo. Visto que a depressão do sistema imune explica
o considerável índice de manifestações neurológicas, resultantes do Toxoplasma gondii, no
mesmo estudo, 15% desenvolveram forma não grave desta patologia. Mas, ao se analisar os
pacientes excluídos da pesquisa, observou-se que o principal motivo para exclusão, são as
sequelas de neurotoxoplasmose.
O resultado esperado estabelecido foi controle de riscos do processo infeccioso e,
como prescrições de enfermagem: promover a ingesta nutricional adequada; monitorar o nível
de células T4, T8 e carga viral; encorajar o paciente a não interromper o uso dos
medicamentos prescritos e realizar os exames solicitados periodicamente.
Desde o início da epidemia pelo HIV, a monitorização dos linfócitos TCD4 é usada
como parâmetro laboratorial preditivo do prognóstico da infecção pelo HIV e também como
indicador de risco para as infecções oportunistas (CASTRIGHINI et al., 2013).
De igual importância, é a adesão à TARV, que se constitui uma preditora determinante
para a qualidade de vida, supressão viral e diminuição dos riscos de infecções oportunistas
(OLIVEIRA et al., 2015).
6.3 REQUISITOS DO AUTOCUIDADO DE DESVIO DE SAÚDE
Os requisitos de autocuidado de desvio de saúde referem-se aos cuidados ou tomadas
de decisão em relação ao problema de saúde identificado ou diagnosticado com o propósito de
recuperação, reabilitação e controle (SILVA; BRAGA, 2011; PIRES et al., 2015). O Quadro
3 apresenta a distribuição das necessidades básicas e seus diagnósticos de enfermagem no
requisito de desvio de saúde.
Quadro 3 – Apresentação da demanda de autocuidado e os diagnósticos de Enfermagem dos
portadores de HIV, conforme sub-requisito do autocuidado de desvio de saúde
Sub-requisitos do autocuidado de desvio de saúde
Controle da AIDS
Diagnósticos de Enfermagem
Conhecimento deficiente
Comunicação verbal prejudicada
Fonte: Elaborado pela autora.
Neste requisito, os diagnósticos diferiram entre os dois pacientes, porém apontam para
situações que demandam controle da situação, informação, conhecimento e atitude de
autocuidado, sob orientação e assistência da enfermagem.
6.3.1 Diagnósticos e Planejamento de Enfermagem – Paciente Maria
6.3.1.1 Conhecimento deficiente
Os indicadores de verbalização de dúvida sobre a infecção por HIV e as formas de
transmissão, causados pela falta de familiaridade com os recursos de informação, conduziram
ao diagnóstico conhecimento deficiente. Dentre os diagnósticos mais prevalentes na pesquisa
de Costa (2015), esteve o conhecimento deficiente.
Estabeleceram-se, como resultados esperados, o conhecimento do processo da doença
e do controle de infecção. E as intervenções abrangeram explicar a fisiopatologia da doença;
promover o acesso às informações sobre a infecção por HIV e formas de transmissão e
oferecer informações reais a respeito do diagnóstico, tratamento e prognóstico.
O paciente com HIV/AIDS possui uma deficiência nas células fagocíticas, linfócitos
B, linfócitos T, ou sistema complemento, tornando-o susceptível a morbidades, para os quais
os cuidados devem ser de forma contínua, como o acompanhamento dos níveis da carga viral
e de CD4 e uso correto dos antirretrovirais (COSTA, 2015).
Por isso, a compreensão tão completa quanto possível da complexa interação do HIV
com o sistema imunitário do hospedeiro é a base indispensável para uma intervenção eficaz
contra a AIDS (SOARES; ARMINDO; ROCHA, 2014).
6.3.2 Diagnósticos e Planejamento de Enfermagem – Paciente João
6.3.2.1 Comunicação verbal prejudicada
O diagnóstico comunicação verbal prejudicada foi relacionado a percepções alteradas,
caracterizada por relato de sentir desconforto, visto que a maneira de raciocinar, pensar e
conversar com as pessoas, mudou, ficou mais lento. Faria e Silva (2013) identificaram o
mesmo diagnóstico em 13,3% dos pacientes estudados.
O resultado esperado proposto foi a melhora do estado neurológico e, as intervenções,
reforçar a necessidade de acompanhamento médico para verificação da evolução dos sinais e
sintomas ou encaminhamentos adequados e reforçar a necessidade de não interromper o
tratamento para toxoplasmose e HIV.
A presença de uma comorbidade ou coinfecção em pessoas com HIV, pode implicar
em sintomas tanto físicos, quanto psicológicos, o que interfere na qualidade de vida e
autoestima do paciente (CASTRIGHINI et al., 2013).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na proposta inicial deste trabalho, pretendíamos realizar todas as etapas da SAEe às
PVHA, porém, devido à abrangência deste método e o tempo disponível para a pesquisa,
decidimos estudar somente três etapas, a coleta de dados, diagnósticos de enfermagem e
planejamento de enfermagem, com base na Teoria do Déficit de Autocuidado de Orem.
Verificamos históricos e diagnósticos que diferiram entre os dois pacientes,
demonstrando que o impacto da descoberta da infecção por HIV traz consigo alterações
imunológicas, físicas e psicossociais diversas. Dentre os diagnósticos encontrados, os
principais foram: nutrição desequilibrada: menos que as necessidades corporais, manutenção
ineficaz da saúde, risco de infecção e risco de função hepática prejudicada.
Nosso estudo não abrangeu a implementação do plano de cuidados, nem a avaliação,
porém, ressaltamos que é fundamental a sua realização, e isto exige dedicação e paciência
para a apresentação dos resultados, visto que o sistema de apoio-educação, no qual as ações
são implementadas, requer tempo para que o cliente seja capaz de aprender e desempenhar as
ações de autocuidado terapêutico.
Através da teoria de Orem, fundamentando a SAEe, identificamos os déficits de
autocuidado e podemos auxiliar o paciente a desenvolver o autocuidado, através do sistema
de apoio-educação. A teoria guia e aprimora a prática e ainda permite que se realize educação
em saúde, com base nas deficiências de conhecimento identificadas.
Sugere-se que sejam realizados outros estudos com a temática da SAE e conforme a
Teoria de Orem, às PVHA, porém abrangendo a implementação do planejamento de
enfermagem e avaliação dos resultados obtidos.
REFERÊNCIAS
BITTAR, Daniela Borges; PEREIRA, Lílian Varanda; LEMOS Rejane Cussi Assunção.
Sistematização da assistência de enfermagem ao paciente crítico: proposta de instrumento de
coleta de dados. Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 15, n. 4, p. 617-628,
out./dez. 2006.
BULECHEK, Gloria M.; BUTCHER, Howard K.; DOCHTERMAN, Joanne McCloskey.
Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC). 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2010.
BRASIL. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM – COFEN. Resolução 358/2009.
Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do
Processo de Enfermagem. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder
Executivo, Brasília-DF, 2009. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen3582009_4384.html>. Acesso em: 25 de jul. 2016.
_____. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas. Infecções
Sexualmente
Transmissíveis.
Brasília-DF,
2015a.
Disponível
em:<
conitec.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2015/Relatorio_PCDT_IST_CP.pdf>. Acesso em:
25 de jul. 2016.
_____. Infecções Sexualmente Transmissíveis. Brasília-DF: PN-DST/Aids. 2015b.
Disponível em: <http://www.aids.gov.br/pagina/o-que-sao-dst>. Acesso em: 03 mar. 2015.
_____. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012.
Brasília-DF,
2012.
Disponível
em:<http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf>. Acesso em 25 ago. 2015.
_____. Alterações hepáticas relacionadas ao HIV. Brasília, DF: PN-DST/Aids. Disponível
em: < http://www.aids.gov.br/pcdt/12>. Acesso em 12 de jul. 2016.
CAETANO, Joselany Áfio; PAGLIUCA, Lorita Marlena Freitag. Autocuidado e o portador
do HIV/AIDS: Sistematização da Assistência de Enfermagem. Revista Latino Americana de
Enfermagem, São Paulo, v. 14, n. 3, mai./jun. 2006.
CAMPOS, Claudinei José Gomes. Método de análise de conteúdo: ferramenta para a análise
de dados qualitativos no campo da saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 57,
n.5, p. 611-614, set./out. 2004.
CASTRIGHINI, Carolina de Castro et al. Avaliação da Autoestima em Pessoas Vivendo com
HIV/AIDS no Município de Ribeirão Preto-SP. Texto & Contexto Enfermagem,
Florianópolis, v. 22, n. 4, p. 1049-1055, out./dez. 2013.
CLEMENTINO, Milca Oliveira. Serviço social e HIV/AIDS: Uma análise da prática
profissional no serviço de assistência especializada em HIV/AIDS e hepatites virais (SAE) do
município de Campina Grande- PB. 2014. 121 f. Monografia – Universidade Federal da
Paraíba,
Campina
Grande,
2014.
Disponível
em:
<http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/5294/1/PDF%20%20Milca%20Oliveira%20Clementino.pdf>. Acesso em: 25 de jul. 2016.
COSTA, Romanniny Hévillyn. Sistematização da assistência de enfermagem em pacientes
com AIDS. 2015. 210 f. Tese (Mestrado) – Centro de Ciências da Saúde Programa de Pós
Graduação em Enfermagem. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015.
Disponível
em:
<https://repositorio.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/19723/1/RomanninyHevillynSilvaCost
a_DISSERT.pdf>. Acesso em: 25 de jul. 2016.
DIAS, Iêda Maria Ávila Vargas et al. Sistematização da assistência de enfermagem no
gerenciamento da qualidade em saúde. Revista Baiana de Enfermagem, Salvador, v. 25, n. 2,
p. 161-172, mai./ago. 2011.
D´INNOCENZO, Maria; ADAMI, Nilce Piva; CUNHA, Isabel Cristina Kowal Olm. O
movimento pela qualidade nos serviços de saúde e enfermagem. Revista Brasileira de
Enfermagem, Brasília, v. 59, n.1, p. 84-88, jan./fev. 2006.
FARIA, Juliana de Oliveira. Pessoas vivendo com HIV/AIDS: estudo sobre perfil dos
diagnósticos de enfermagem. 2012. 100 f. Tese (Mestrado) - Universidade Federal de Juiz de
Fora,
Juiz
de
Fora,
2012.
Disponível
em:
<http://www.ufjf.br/pgenfermagem/files/2010/05/Disserta%C3%A7%C3%A3o-Juliana-deOliveira-Faria.pdf>. Acesso em: 25 de jul. 2016.
FARIA, Juliana de Oliveira; SILVA, Girlene Alves da. Diagnósticos de Enfermagem em
Pessoas com HIV/AIDS: Abordagem Baseada no Modelo Conceitual de Horta. Revista Rene,
Fortaleza, v. 14, n. 2, p. 290-300, 2013.
GARCIA Telma Ribeiro; NÓBREGA Maria Miriam Lima. Sistematização da assistência de
enfermagem: reflexões sobre o processo: livro resumo. In: Anais do 52° Congresso
Brasileiro de Enfermagem, Recife, p. 21-26, out. 2000; Associação Brasileira de
Enfermagem,
Recife,
p.680,
2000.
Disponível
em:
<https://www.researchgate.net/publication/267547214_SISTEMATIZACAO_DA_ASSISTE
NCIA_DE_ENFERMAGEM_reflexoes_sobre_o_processo>. Acesso em: 25 de jul. 2016.
GEORGE, Julia B. et al. Teorias de Enfermagem. Os Fundamentos à Prática Profissional.
Porto Alegre: Artmed, 2000.
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do
Câncer do Colo do Útero. Rio de Janeiro: INCA. 2016. Disponível em: <
http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/diretrizes-para-rastreamento-cancer-do-colo-do-utero2016.pdf>. Acesso em 26 ago. 2016.
KLETEMBERG, Denize Faucz. A metodologia da assistência de enfermagem no Brasil:
uma visão histórica. 2004. 113 f. Tese (Mestrado) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba,
2004.
Disponível
em:
<http://www.saude.ufpr.br/portal/ppgenf/wpcontent/uploads/sites/9/2016/02/6_A-METODOLOGIA-DA-ASSISTENCIA-DEENFERMAGEM-NO-BRASIL-UMA-VIS%C3%83O-HISTORICA.pdf>. Acesso em: 25 de
jul. 2016.
KRAUZER, Ivete Maroso. Sistematização da Assistência de Enfermagem: um instrumento
de trabalho em debate. 2009. 99 f. Tese (Mestrado) - Curso de Pós-Graduação em
Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2009. Disponível em:
<https://core.ac.uk/download/files/551/30374478.pdf>. Acesso em: 25 de jul. 2016.
LEOPARDI, Maria Tereza; GELBCKE, Francine Lima; RAMOS, Flávia Regina Souza.
Cuidado: objeto de trabalho ou objeto epistemológico da enfermagem? Texto & Contexto
Enfermagem, v. 10, n.1, p. 32 - 49, jan./abr. 2001.
LOPES, Emeline Moura et al. Teoria do autocuidado na assistência às mulheres que vivem
com HIV: utilidade da teoria. Avances em Enfermagem, Bogotá, v.33, n. 2, p. 241-250, 2015.
LUCENA, Ive Cristina Duarte de; BARREIRA, Ieda de Alencar. Revista enfermagem em
novas dimensões: Wanda Horta e sua contribuição para a construção de um novo saber da
enfermagem (1975-1979). Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 534540, jul./set. 2011.
MAIA, Lizaldo Andrade et al. Atenção à saúde bucal das Pessoas que Vivem com HIV/AIDS
na perspectiva dos cirurgiões-dentistas. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v. 39, n, 106, p. 730747, jul./set. 2015.
MOORHEAD, Sue et al. Classificação dos Resultados de Enfermagem (NOC). 4.ed. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2010.
NANDA. Diagnósticos de Enfermagem da NANDA International: Definições e
Classificações (2012-2014). Porto Alegre: Artmed, 2013.
OLIVEIRA, Francisco Braz Milanez et al. Qualidade de vida e fatores associados em pessoas
vivendo com HIV/AIDS. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 28, n.6, p. 510-516,
2015.
PIRES, Alessandra Fontanelli et al. A Importância da Teoria do Autocuidado de Dorothea E.
Orem no Cuidado de Enfermagem. Revista Rede de Cuidados em Saúde, Rio de Janeiro, v. 9,
n. 2, p. 1-4, 2015.
RIGHETTO, Rosângela Casas et al. Comorbidades e coinfecções em pessoas vivendo com
HIV/AIDS. Revista Rene, Fortaleza, v. 15, n. 6, p. 942-948, nov./dez. 2014.
ROCHA, Anne Gabriela Veiga. A Aids como expressão da questão social: a prática
pedagógica do assistente social nos programas de prevenção de Dst/Aids. II Jornada
Internacional de Políticas Públicas, São Luís, ago. 2005.
SAMPIERI, Roberto Hernández; COLLADO, Carlos Fernández; LUCIO, Pilar Baptista.
Metodologia de Pesquisa. 3. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2006.
SILVA, Ana Alice Alves da et al. Prevalência de má nutrição e doenças oportunistas em
pacientes HIV/AIDS internados em um hospital referência em Porto Velho – Rondônia.
Revista Eletrônica Saber Científico, Rondônia, v. 4, n. 1, p. 80-88, 2015a.
SILVA, José Vitor da; BRAGA, Cristiane Giffoni. Teorias de Enfermagem. São Paulo:
Iátria, 2011.
SILVA, Welingthon dos Santos et al. Fatores associados ao uso de preservativo em pessoas
vivendo com HIV/AIDS. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 28, n.6, p. 587-592,
2015b.
SOARES, Rui; ARMINDO, Rui Duarte; ROCHA, Graça. A Imunodeficiência e o Sistema
Imunitário. O Comportamento em Portadores de HIV. Arquivos de Medicina, Porto, v. 28, n.
4, 2014.
UNAIDS. Global AIDS Update 2016. 2016. Disponível em <http://unaids.org.br/wpcontent/uploads/2016/07/global-AIDS-update-2016_en.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2016.
ZANARDO, Graziani Maidana; ZANARDO, Guilherme Maidana; KAEFER, Cristina Thum.
Sistematização da Assistência de Enfermagem. Revista Contexto & Saúde, Ijuí, v. 10, n.20,
p. 1371-1374, jan./jun. 2011.
Download