Pronunciamento (Do Sr. Deputado Chico Alencar, PSOL/RJ) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados e todos os que assistem a esta sessão ou nela trabalham: Jorge, São Jorge, guerreiro, cristão, um dos santos mais populares da Igreja Católica. Padroeiro da Inglaterra, Catalunha, Gênova, Portugal, Lituânia. Padroeiro de nações e de clubes de futebol, presente em altares e em centros de candomblé, reverenciado como Ogum. Qual o segredo para um homem que viveu no século IV D.C transitar por todas esferas sociais e por tantos séculos? Hoje, em várias partes do Brasil e do mundo o Santo que montava seu cavalo, desferindo sua lança contra o dragão, é lembrado e celebrado. A devoção a São Jorge se espalhou por todo o mundo. No dia 23 de abril lembramos seu martírio com feriado, celebrações religiosas, samba e cerveja no Rio de Janeiro. São Jorge nasceu na antiga Capadócia, região da atual Turquia. Ainda criança, mudou-se para a Palestina com sua mãe, após a morte de seu pai. Na adolescência entrou para a carreira militar. Foi promovido a capitão do exército romano devido a sua dedicação e habilidade - qualidades que levaram o imperador a lhe conferir o título de conde da Capadócia. Aos 23 anos passou a residir na corte imperial em Roma, exercendo a função de Tribuno Militar. O imperador Diocleciano planejava matar todos os cristãos e no dia marcado para o senado confirmar o decreto imperial, Jorge levantou-se e assumiu publicamente sua fé cristã, posicionando-se contra este decreto. Todos ficaram perplexos ao ouvirem estas palavras de um membro da suprema corte romana, defendendo com grande ousadia a fé no Cristianismo. Indagado por um cônsul sobre a origem dessa ousadia, Jorge respondeu-lhe que era por causa da Verdade. O cônsul, não satisfeito, quis saber: "O que é a Verdade?". Jorge respondeu-lhe: "A Verdade é meu Senhor Jesus Cristo, a quem vós perseguis. Eu sou servo de meu redentor Jesus Cristo, e Nele confiado me pus no meio de vós para dar testemunho da Verdade." Herdeiro de uma grande fortuna, distribuiu sua riqueza entre os pobres. Compadeceu-se com a perseguição e sofrimento impostos aos cristãos pelo Império Romano. Jorge manteve-se fiel ao Cristianismo, embora o imperador tenha tentado fazê-lo desistir da fé. Foi torturado e, após cada tortura, era levado perante o imperador, que lhe perguntava se renegaria o Cristianismo. No entanto, Jorge reafirmava sua fé, tendo seu martírio aos poucos ganhado notoriedade. Finalmente, Diocleciano, não tendo êxito, mandou degolá-lo no dia 23 de abril de 303. Os restos mortais de São Jorge foram transportados para Lida (Antiga Dióspolis), cidade em que crescera com sua mãe. Lá ele foi sepultado, e mais tarde o imperador cristão Constantino, mandou erguer um oratório aberto aos fiéis para que a devoção ao santo fosse espalhada por todo o Oriente. A famosa estampa de São Jorge, montado em seu cavalo, atingindo um dragão, produziu diversas interpretações. Uma delas afirma que o dragão saía das profundezas de um lago e se atirava contra os muros da cidade, trazendo-lhe a morte com seu mortífero hálito. Para aplacar a ira do dragão, as populações do lugar lhe ofereciam jovens vítimas. Um dia coube a filha do Rei ser oferecida ao monstro, quando, de repente, apareceu um corajoso cavaleiro vindo de Capadócia. Era São Jorge. O valente Guerreiro desembainhou a espada e em pouco tempo reduziu o terrível dragão a manso cordeirinho. No entanto, o dragão passou a simbolizar o mal e a donzela, que o santo defendeu, a província. A relação entre o santo e a lua viria de uma lenda antiga que acabou virando crença para muitos. Diz a tradição que as manchas apresentadas pela lua significam o milagroso santo e sua espada. Para nós, cariocas tão ávidos de justiça e verdade, em tempos de tanta violência e de abandono da cidade pelas autoridades constituídas, São Jorge é uma inspiração para seguirmos buscando nossos sonhos de uma sociedade justa e fraterna. No meu Estado, o Rio de Janeiro, São Jorge tem uma legião de devotos, entro os quais destaco o estivador e exímio flautista Cláudio Camunguelo, precocemente falecido, cuja família mantém hoje sua tradição de celebrar o santo justiceiro. Jorge já foi samba enredo e sua oração inspirou o músico Jorge Ben Jor. Na bela música, afirma Jorge, o músico: (...) Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge Para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem Para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam E nem mesmo um pensamento eles possam ter para me fazerem mal Armas de fogo, meu corpo não alcançarão Espadas, facas e lanças se quebrem, sem o meu corpo tocar Cordas e correntes se arrebentem, sem o meu corpo amarrar Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge (...) Assim seja! São Jorge, o jovem militar que perseverou e não se curvou diante do poder imperial, é da Capadócia, é do Rio de Janeiro, é do mundo. Agradeço a atenção, Sala das Sessões, 23 de abril de 2008. Chico Alencar Deputado Federal, PSOL/RJ