O ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE IMBITUVA: ELEMENTOS PARA UMA PROBLEMATIZAÇÃO GEOGRÁFICA Zaqueu Luiz Bobato (ICV-UNICENTRO), Roberto França da Silva Junior (Orientador – Departamento de Geografia / I / UNICENTRO), e-mail: [email protected] Palavras-chave: uso do território, circuito produtivo, globalização. Resumo: Imbituva é uma das cidades do Paraná que possui APL (Arranjo Produtivo Local) pelo fato de historicamente, ter se especializado na produção de malhas. O uso do território feito pelas empresas em questão circunscreve-se por fluxos de entrada de matérias-primas de fora da cidade e fluxos de saída de produtos acabados para o Brasil, principalmente para o Norte do Paraná, Curitiba, além dos Estados de Santa Catarina e São Paulo. Introdução Importante no segmento de malhas, a cidade de Imbituva vem se consolidando como referência no setor. Aos poucos as malharias vêm substituindo o setor madeireiro como mais importante e isso justifica a pesquisa. O surgimento das malharias na cidade iniciou a aproximadamente 27 anos, abrangendo hoje cerca de 50 indústrias que geram empregos diretos e indiretos. Para promover o comércio e incentivar o “turismo” foi criada Imbitumalhas (Associação das Malharias de Imbituva) que conta com cerca de 46 malharias filiadas. Além da associação existe a Femai (Feira de Malhas de Imbituva) que neste ano teve sua 23ª edição onde são comercializados e divulgados seus produtos e tendências. Cerca de 40 mil visitantes prestigiam a cada ano a feira. Diante disto é que se considera a cidade de Imbituva como possuindo um APL, que, segundo o Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social) “pode ser definido como um aglomerado de agentes econômicos, políticos e sociais que operam em atividades correlatas, estão localizados em um mesmo território e apresentam vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem” (2006). Materiais e Métodos Para a realização desta pesquisa alguns procedimentos são fundamentais: 1. Pesquisa bibliográfica em bibliotecas convencionais, bibliotecas virtuais de instituições de ensino superior, em sites de instituições de pesquisa como o Ipardes, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), além de outros sites da internet; 2. Colóquios com o professor orientador; 3. Trabalhos de campos para observação e aplicação de questionários; 4. Elaboração de cartogramas; Resultados e Discussão Em pesquisa bibliográfica preliminar identificamos em um estudo do Ipardes (2006) que o setor de malhas de Imbituva é classificado, entre os demais arranjos produtivos, como VDL (Vetor de Desenvolvimento Local). Essa tipologia levou em consideração a importância produtiva e estratégica para o setor em que está inserida e também para a economia da região onde se encontra. Diante dos processos que norteiam o segmento de malhas de Imbituva, nos detemos às palavras de Milton Santos. Segundo o autor (2006, p.261) “uma das características do presente histórico, é, em toda parte, a necessidade de criar condições para maior circulação dos homens, dos produtos, das mercadorias, do dinheiro, da informação, das ordens etc.”. Entendemos, portanto, que o APL de malhas de Imbituva é estratégico, pois, está localizado em um importante entroncamento rodoviário do Estado, o que lhe confere vantagens logísticas. O referido entroncamento é formado por duas rodovias federais (BR 373 e BR 277) que atravessam o entorno e constituem o principal meio de acesso. Por qualquer uma delas, o percurso até Imbituva é completado pela PR 153. A cidade se situa a uma distância de 180 km de Curitiba e a 76 km de Ponta Grossa. Tendo em vista a Geografia discutir o uso do território e circulação, buscamos analisar o circuito produtivo das malhas composta pela produção, distribuição, troca e consumo, identificando os fluxos de entrada de matérias-primas de fora da cidade e os fluxos de saída de produtos acabados para o Brasil. Em pesquisa de campo piloto (24 questionários aplicados) foi possível identificar os fluxos de matérias-primas utilizadas nas etapas de confecção das peças de malhas que chegam. Neste caso, os produtos chegam de diversas cidades do Paraná, com destaque para Curitiba e Cianorte. Os fluxos mais intensos são provenientes dos Estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No atual estágio do capitalismo as pequenas empresas devem busca uma maior articulação para conseguirem atingir escalas de comercialização além da local. Todavia, trabalhamos com a hipótese de que no segmento em questão, isso não acontece, pois, analisando estes fluxos que chegam ao setor de malhas de Imbituva, percebemos que não há “união” e “cooperação” entre os integrantes do APL, visto que as matérias-primas são adquiridas de diversas empresas, vindas de diferentes Estados do Brasil. Essa situação de Imbituva difere em parte do “cluster industrial” (pólo industrial). Segundo Matushima (2005, p.133) o cluster “se caracteriza, principalmente por ser um agrupamento geográfico de empresas ligadas a um determinado setor produtivo onde pode haver colaboração e cooperação entre as empresa, ou não, assim ocorrendo forte concorrência entre elas”. Em uma perspectiva propositiva, Matushima (2005, p.39) discute que o papel das instituições entendidas como “organizações que coordenam as transformações” e que mediam “relações sociais, econômicas e culturais” no desenvolvimento de um melhor ambiente empresarial, explicaria o desenvolvimento econômico de “algumas regiões do mundo”, enquanto outras “não conseguem se articular” e melhorar sua estrutura produtiva. São os chamados “linkages”, que é a relação de cooperação entre as diversas empresas do setor e o Estado. É o caso do papel do Ipardes, ou seja, a existência da instituição auxiliando na coordenação das ações do APL de Imbituva. De acordo com Milton Santos (2001, p.23), “graças ao avanço da ciência, produziu-se um sistema de técnicas presidido pelas técnicas da informação, que passaram a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao novo sistema técnico uma presença planetária.” Com base no pensamento do autor, estamos analisando também, a tecnologia utilizada no setor e seu desenvolvimento, buscando compreender como são confeccionados os produtos. O mesmo autor, em outra obra (SANTOS, 2006, p.292) afirma que “cada empresa, cada ramo da produção produz, paralelamente uma lógica territorial (...), esta é visível por meio do que pode se considerar uma topologia, isto é, a distribuição no território dos pontos de interesse para a operação dessa empresa”. Conclusões Torna-se importante salientar que essa pesquisa encontra-se num estágio inicial, mas, no seu desenvolvimento buscaremos a compreensão dos processos levando em consideração as diferentes escalas geográficas: local, regional, nacional, global. Segundo Matushima (2005, p.17), “Essa vinculação ao que ocorre nas escalas superiores, condiciona e influencia, muitas vezes, os acontecimentos e as decisões tomadas no nível local.”. O segmento de malhas de Imbituva produz uma topologia específica. Nesta análise, levando-se em consideração a articulação de escalas geográficas, identificamos “lógicas globais” e “lógicas locais”. Estas últimas emergem da própria necessidade, especificidade histórica e geográfica, e, principalmente cultural. Esses elementos são apropriados dentro da “lógica global” que impõe aos territórios, a necessidade de especialização produtiva dentro dos princípios de seletividade do capital. Referências INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL. Identificação, caracterização, construção de tipologia e apoio na formulação de políticas para arranjos produtivos locais (APLs) do Estado do Paraná. Diretrizes para políticas de apoio aos arranjos produtivos locais. Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral. Curitiba, 2006. 61 p. MATUSHIMA, Marcos Kazuo. Especialização produtiva e aglomeração industrial: Uma análise da indústria de confecções de Ibitinga-SP. 2005. 183f. Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: Território e sociedade no início do século XXI. 9. ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2001.