UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE FÍSICA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA HIPERTERMIA MAGNÉTICA EM NANOPARTÍCULAS: DA INSTRUMENTAÇÃO BIOMÉDICA IN VITRO AO ESTUDO DAS PROPRIEDADES MAGNETO-TÉRMICAS DE DIFERENTES FERRITAS EDIRON LIMA VERDE GOIÂNIA – DEZEMBRO DE 2012 EDIRON LIMA VERDE HIPERTERMIA MAGNÉTICA EM NANOPARTÍCULAS: DA INSTRUMENTAÇÃO BIOMÉDICA IN VITRO AO ESTUDO DAS PROPRIEDADES MAGNETO-TÉRMICAS DE DIFERENTES FERRITAS Tese apresentada ao Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Física. Orientador: Prof. Dr. Andris Figueirôa Bakuzis GOIÂNIA- DEZEMBRO DE 2012 ii Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) GPT/BC/UFG V483h Verde, Ediron Lima. Hipertermia magnética em nanopartículas [manuscrito] : da instrumentação biomédica in vitro ao estudo das propriedades magneto-térmicas de diferentes ferritas / Ediron Lima Verde. - 2012. 208 f. : figs., tabs. Orientador: Prof. Dr. Andris Figueiroa Bakuzis. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Goiás, Instituto de Física, 2012. Bibliografia. Inclui listas de figuras e tabelas. 1. Hipertermia magnética – Nanopartículas. 2. Nanopartículas – Ferrita (materiais magnéticos). I. Título. CDU: 53.082.78:620.3 EDIRON LIMA VERDE HIPERTERMIA MAGNÉTICA EM NANOPARTÍCULAS: DA INSTRUMENTAÇÃO BIOMÉDICA IN VITRO AO ESTUDO DAS PROPRIEDADES MAGNETO-TÉRMICAS DE DIFERENTES FERRITAS TESE DE DOUTORADO INSTITUTO DE FÍSICA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS GOIÂNIA – DEZEMBRO DE 2012 iii Folha de aprovação iv "A dor tem a capacidade de cortar nossas asas e nos impedir de voar. E, se essa situação persistir por muito tempo, você quase pode esquecer que foi feito para voar." - William P. Young v dicatória Esta tese de doutorado é dedicada a um exemplo de mulher, que, apesar de todas as diversidades em vida, foi, amorosamente, "mãe e pai" de seus filhos. Personalidade ímpar que sempre me traz boas lembranças e me faz prosseguir na vida refletindo sobre seu grandioso caráter e suas inúmeras virtudes. Sei, todavia, que sou pouco diante da sua bravura e coragem demonstradas nos momentos revoltos em vida, mas me contento em ser seu filho, pois seus filhos sabem que o seu legado nos transforma, a cada dia, em pessoas mais humanas. A saudade dela é inevitável, mas sei que, dentro de mim, estará eternamente viva. Amo-te, mãe. De seu querido filho, Ediron Lima Verde. vi Agradecimentos Ao "grande Pai amoroso", que nunca abandona seus filhos. Aos meus pais, irmãos, filhos e esposa pela compreensão, paciência, carinho e apoio nesta jornada extensa e trabalhosa. Ao meu orientador nesta tese de doutorado, Dr. Andris Figueiroa Bakuzis, em especial, pela oportunidade de conviver e aprender muito nas diversas discussões, por vezes até acaloradas, nas quais ele sempre buscou a compreensão da verdade dos fatos, bem como pelo incentivo e apoio prestados ao meu trabalho e em especial a mim. Sabemos que, apesar de todos os contratempos, alguns desencontros de informações e prazos apertados não nos fizeram desistir da busca do ideal de construir uma nova linha de pesquisa em hipertermia magnética no Instituto de Física da Universidade Federal Goiás. A você os meus parabéns pelo excelente trabalho realizado como orientador e como professor. Ao professor Dr.Ladir Cândido da Silva, por quem tenho um grande apreço e amizade de longas datas, pelo incentivo. Ao professor Eduardo Mendes Reed, que sempre estimulou os lados humano, espiritual e intelectual. Aos professores colaboradores, Dr.Gabriel Teixera Landi, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, com suas simulações numéricas, e Dr. Juliano A. Gomes, do Instituto de Criminalística da Polícia Civil do Distrito Federal, Brasília-DF Brasil, pela análise de Rietveld nas amostras. Ao Dr. Marcelo Henrique de Souza, da Universidade de Brasília, Faculdade de Ceilândia, Brasília-DF Brasil, pela síntese de grande parte das amostras utilizadas nesta tese de doutorado. Ao aluno doutorando, Msc. Marcus dos Santos Carrião, do Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO Brasil, pelo complemento com a síntese, difração de raio-X e imagens de TEM de algumas amostras e pelas medidas de hipertermia magnética em regime de altíssimo campo em equipamento comercial. Ao professor Dr. Ernani Damião Vieira, que, com sua boa vontade e experiência em EMR, foi fundamental para a determinação dos espectros de ressonância das nossas amostras. vii Aos professores Dr. Fernando Pelegrini, Dr. Antônio Alonso, Dr. Jesiel de Freitas Carvalho e Dr. Adolfo Franco Jr, pelo apoio e incentivo. A todos os professores da pósgraduação da Universidade Federal de Goiás e aos servidores técnicos Adão Joaquim de Carvalho e Salvador Vicente Pinto, pelos préstimos e tempo dispensado na colaboração da construção de peças importantes do equipamento de hipertermia magnética. Às instituições universitárias e governamentais de apoio ao ensino, pesquisa e extensão: UFG-GO, UFMT/Campus Universitário do Araguaia, CNPq, Capes e Finep. Enfim, a todos os que prontamente colaboraram de forma inestimável para a realização desta tese de doutorado. viii Resumo Nesta tese de doutorado, foi construído um equipamento de hipertermia magnética, de baixo custo, capaz de produzir campo magnético alternado com amplitude de até 133Oe na freqüência de 500kHz e potência máxima de 1.5kW. Diversas nanopartículas à base de ferritas de cobalto, níquel, zinco, cobre e maguemita foram investigadas numa larga faixa de diâmetro (3 a 15nm). As amostras foram caracterizadas por diversas técnicas: difração de raios-X, com a qual foi feita análise de Rietveld, ressonância ferromagnética, magnetometria de amostra vibrante, microscopia eletrônica de transmissão (MET), entre outras. A análise dos dados experimentais, juntamente ao procedimento de passivação da superfície das nanopartículas durante a síntese, sugeriu nanoestruturas do tipo cascacaroço. Os dados de hipertermia magnética revelaram que o fenômeno é fortemente dependente de parâmetros intrínsecos (diâmetro, magnetização de saturação, constante de anisotropia e fator de amortecimento) e extrínsecos (amplitude de campo magnético e frequência). A teoria de regime linear mostrou-se eficiente para explicar os resultados experimentais em regime de baixo campo. Ocorreu, entretanto, que, aumentando-se a amplitude de campo magnético, uma clara transição para o regime não-linear foi observada na dependência temporal das curvas de aquecimento, na perda de potência específica, no comportamento da eficiência magnética e na dependência do expoente com a amplitude de campo magnético. Aliás, a fuga do valor do regime linear do expoente é explicada para amostras monodomínio com rotação coerente. Observou-se que boa concordância entre as simulações de histerese dinâmica e os resultados experimentais é obtida quando o efeito da interação dipolar magnética na anisotropia efetiva e a influência do fator de amortecimento no tempo de relaxação do momento magnético são incluídos na análise. Em particular, dentre as nossas amostras, a ferrita de cobalto é a que mais aquece em regime de alto campo, enquanto a maguemita possui bom potencial terapêutico em regime de baixo campo. Também, não menos importante, observou-se que nanopartículas superparamagnéticas em regime quasi-estático (DC) só apresentam efeito magneto-térmico quando surge histerese dinâmica. ix Abstract In this thesis we built an in vitro magnetic hyperthermia equipment, of low cost, able to achieve magnetic field amplitudes of the order of 133Oe, operating at 500kHz, with a maximum power of 1.5kW. Magnetic hyperthermia of several nanoparticles of different ferrites, namely cobalt-ferrite, nickel-ferrite, zinc-ferrite, copper-ferrite and maghemite, were investigated in a large particle size range (3 to 15nm). The samples were characterized by X-ray diffraction, from which the Rietveld analysis were performed, ferromagnetic resonance, vibrating sample magnetometer, transmission electron microscopy, among others. The analysis of the experimental data, together with the knowledge of a passivation procedure during the synthesis, suggests the formation of coreshell nanostructures. The magnetic hyperthermia data revealed that the phenomenon is strongly dependent upon intrinsic (diameter, saturation magnetization, magnetic anisotropy and damping factor) and extrinsic (magnetic field amplitude and frequency) parameters. We found that the linear response theory is able to explain the experimental data at the low field regime. Nevertheless, increasing the amplitude of the magnetic field, a clear transition to a non-linear regime was found for the time-dependent heating curves, the specific power dissipation (SAR), the magnetic efficiency and the value of the magnetic field exponent. Indeed, in the non-linear regime, different values of the afore-mentioned well known result at the linear region, can be explained through coherent rotation and single-domain nanoparticles modeling. Additionally, good agreement between dynamic hysteresis simulations and experimental data is achieved when the effect of magnetic dipolar interaction on the magnetic moment relaxation and the influence of damping factor are included respectively into the effective magnetic anisotropy. In particular, we found that cobalt-ferrite dissipates more heat at the high-field regime, whereas maghemite has great therapeutic potential at the low-field range. Finally, (DC) quasi-static superparamagnets only show significant magneto-thermal properties when dynamic hysteresis appears. x Prefácio A hipertermia é definida como uma elevação da temperatura e, em geral, refere-se a aumentos de temperatura na faixa de 42-45 graus Celsius (hipertermia moderada), enquanto a ablação diz respeito a aumentos maiores que 50 graus Celsius. O fenômeno pode ser utilizado no tratamento de câncer, já que é conhecido o fato de que muitas linhagens de células neoplásicas são mais sensíveis quanto à morte celular do que células normais nestas condições. Além disso, pode ampliar a eficiência de tratamentos convencionais, como a quimioterapia e a radioterapia por meio de efeitos sinergéticos [i]. A entrega de calor pode ser feita de diversas maneiras, por exemplo: ultrassom de alta intensidade (HIFU), antena de microondas (muito usada no tratamento de doenças decorrentes de uma hiperplasia prostática benigna – retenção urinária, etc), indução eletromagnética de correntes parasitas em objetos metálicos introduzidos no paciente, hipertermia plasmônica e a hipertermia magnética, entre outros. Esta tese refere-se justamente à hipertermia magnética, que é resultado da produção de calor em nanopartículas magnéticas via a interação de seus momentos magnéticos com um campo magnético alternado (em geral na faixa de 100-500kHz). A eficiência do tratamento de neoplasias por hipertermia magnética depende basicamente de alguns fatores importantes, que são: (a) vetorização - em alguns casos, introduzem-se, de forma sistêmica, nanopartículas magnéticas que podem ficar na região do tumor pelo conhecido efeito de retenção via aumento da permeabilidade (“EPR effect”). Alternativamente, acoplam-se anticorpos (peptídeos, etc) na superfície de nanopartículas, que aumentam a seletividade por células tumorais; (b) diagnóstico - por meio de uma técnica de imageamento (ex. ressonância magnética nuclear por imageamento), visualizase a distribuição de nanopartículas no local alvo; (c) tratamento – nesse caso, o procedimento de hipertermia e sua consequente geração de calor na região tumoral são realizados de forma eficiente. Aqui, uma adequada troca de energia entre o campo magnético alternado e os momentos magnéticos das nanopartículas precisa ser obtida, minimizando efeitos nocivos ao paciente, como o aquecimento não específico de órgãos por meio de correntes parasitas (decorrentes da ação de campo magnético alternado intenso). Também é fundamental que haja uma boa distribuição do calor na região alvo. Em particular, o problema físico de transporte de calor é solucionado usando a equação de biocalor de Pennes, que pode ser escrita como em (i) [ii]. xi (i) em que o primeiro termo à direita refere-se à contribuição por difusão térmica; o segundo, à convecção, que simula o efeito do fluxo sanguíneo na troca de calor com o meio; o terceiro, a um termo metabólico associado a reações bioquímicas intracelulares e, finalmente, o termo devido à ação de força externa (por exemplo, o campo magnético alternado). Esta tese está particularmente envolvida em entender esta contribuição. Historicamente, as primeiras investigações experimentais com hipertermia magnética foram realizadas por pesquisadores (médicos) do St. Luke Hospital de Chicago nos EUA. Praticamente todas as idéias ditas “modernas” desta terapia são apresentadas neste clássico artigo de Gilchrist et al. de 1957 [iii]. Aliás, os possíveis mecanismos de geração de calor em campos alternados são claramente colocados, i.e. perda por dielétrico, correntes parasitas e perdas histeréticas. O trabalho, realizado ao longo de árduos 16 anos, foi feito em modelo animal canino e utilizou partículas com tamanhos entre 20 e 100nm de γ-Fe2O3, sujeitas a um campo alternado com freqüência de 1,2MHz. A ideia era tentar matar metástases. Pontua-se que esse problema continua insolúvel até os dias de hoje, dada sua enorme complexidade. Provavelmente por dificuldades técnicas, a ideia permaneceu por algumas décadas intocada até que o Dr. Andreas Jordan e colaboradores, no Hospital Charité em Berlim, na Alemanha, revitalizassem-na (praticamente) no início da década de 90 [iv]. Atualmente, este mesmo grupo vem fazendo testes clínicos, em seres humanos, para tratamento de glioblastoma (tumor agressivo de cérebro) e câncer de próstata. Alguns resultados já apontam para o aumento da sobrevida dos pacientes, oferecendo animadora perspectiva [iv]. Apesar desse progresso, no mundo, a pesquisa em magneto-hipertermia restringe-se a poucos países, estando a maioria no hemisfério norte. Esse fato deve-se, em parte, à complexidade dos equipamentos que produzem campos alternados de alta amplitude e alta freqüência. No Brasil, e provavelmente em toda a América do Sul, os pioneiros no estudo deste fenômeno foram alguns pesquisadores da UnB, sendo que a Dra. Zulmira Lacava e seus colaboradores destacam-se com os primeiros trabalhos [v]. Inclusivamente, esse grupo possui o depósito de uma patente de 2002 acerca de um equipamento de hipertermia que opera em 1.2MHz. Apesar disso, de acordo com a literatura, estudos sistemáticos xii responsáveis pelo monitoramento do aumento da temperatura de nanopartículas (quando sujeitas à ação desse campo externo) não foram investigados por esse grupo. Esta tese tem como um dos objetivos principais a construção de um equipamento de hipertermia magnética para estudo de sistemas in vitro, aliado a medidas do efeito magneto-térmico por meio do adequado monitoramento da temperatura local de nanoestruturas, quando sujeitas a campo magnético alternado. A estratégia adotada e a comprovação de seu sucesso são apresentados no capítulo 2. Para melhor entender a tese, todavia, alguns conceitos básicos são apresentados no capítulo 1. Adicionalmente, mas não menos importante, investigou-se ainda o fenômeno de magnetohipertermia em nanopartículas à base de ferritas de Co, Ni, Zn, Fe e Cu. As amostras foram extensivamente caracterizadas por diversas técnicas experimentais, permitindo que tivéssemos acesso a largas faixas de diâmetro e materiais com comportamentos magnéticos bem diferentes, isto é, desde nanopartículas bloqueadas as ditas superparamagnéticas em regime quasi-estático (DC). Naturalmente, outro foco da tese foi entender a origem da hipertermia magnética nestas nanoestruturas, e qual a influência de diversos parâmetros (intrínsecos e extrínsecos) na geração eficiente de calor. Iremos demonstrar, ao longo dos capítulos 3 a 5, que os termos intrínsecos relevantes são: diâmetro das nanopartículas, magnetização de saturação (essas duas contribuições mais extensivamente discutidas na literatura), constante de anisotropia e coeficiente de amortecimento. Além disso, o efeito da amplitude de campo magnético (parâmetro externo) foi vastamente investigado, mostrando que, dependendo das características das nanopartículas, pode ocorrer uma transição do regime linear para o não-linear alterando significativamente o efeito térmico. Modelagens teórica (dentro do regime linear) e simulacional (usando a equação estocástica de Landau-Lifshitz e válida em qualquer região de campo) dão suporte às nossas conclusões, que são apresentadas no capítulo 6, conjuntamente com as perspectivas. Além disso, discutimos, de forma crítica, alguns conceitos usualmente apresentados na literatura, que identificamos como incorretos ou, no mínimo, às vezes confusos, como por exemplo a separação inadequada, por parte de alguns autores, da hipertermia relaxacional e histerética ou, ainda, a necessidade de processos de Rayleigh para explicar a dependência da amplitude de campo magnético na geração de calor de algumas amostras, que são sugeridas, em alguns casos, como contribuições provindas de partículas multidomínio. xiii Finalmente, a extensa análise feita nesta tese só foi possível graças à forte participação de nossos colaboradores. Destaca-se aqui, primeiramente, o Prof. Dr. Marcelo Henrique Sousa, da Faculdade da Ceilândia da Universidade de Brasília, quem nos forneceu a maior parte das amostras (sintetizadas pelo método de hidrólise forçada) e responsável por uma importante pré-caracterização de algumas amostras (análise de Rietveld). Da mesma forma, o Dr. Gabriel Teixeira Landi, atualmente pós-doutorando do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, quem realizou simulações de histerese dinâmica, de maneira a contribuir, e muito, para fortalecer a qualidade de nossos trabalhos. De fato, até o presente momento, já publicamos dois (extensos) artigos em periódicos internacionais (que podem ser encontrados no apêndice da tese), são eles: (ii) Magnetic hyperthermia investigation of cobalt ferrite nanoparticles: Comparison between experiment, linear response theory, and dynamic hysteresis simulations. Journal of Applied Physics, v. 111, p. 123902, 2012. (iii) Field dependent transition to the non-linear regime in magnetic hyperthermia experiments: Comparison between maghemite, copper, zinc, nickel and cobalt ferrite nanoparticles of similar sizes. AIP Advances, v. 2, p. 032120, 2012. O primeiro trabalho está discutido no capítulo 3 e o segundo, no capítulo 4. Acreditamos, obviamente, que os resultados do capítulo 5 também fornecerão, pelo menos, outra publicação em um futuro próximo. Apesar de reconhecer que há sempre como melhorar o texto, acreditamos que os temas estejam claramente expostos e desejamos uma excelente leitura. Referências bibliográficas [i] KIM, J. H., HAHN, F. W., TOKITA, N., NISCE, L. Z., Local tumor hyperthermia in combination with radiation therapy. Cancer 40, 161-169 (1977). [ii] PENNES H. H., Analysis of tissue and arterial blood temperature in the resting human forearm. J. Applied Physiology. 1, 93–122 (1948). [iii] GILCHRIST, R. K., MEDAL, R., SHOREY W. D., HANSELMAN, R. C., PARROT, J. C., TAYLOR, C. B., Annals of Surgery. 146, 596 (1957). xiv [iv] JORDAN, A., SCHOLZ, R., WUST, P., FAHLING, H., KRAUSE, J., WLODARCZYK, W., SANDER, B., VOGL, T., FELIX, R., Effects of magnetic fluid hyperthermia (mfh) on c3h mammary carcinoma in vivo. Int. J. Hyperthermia. 13, 587-605 (1997). [v] GUEDES, M. H. A., GUEDES, M. E. A., MORAIS, P. C., DA SILVA, M. F., SANTOS, T. S., ALVES JR, J. P., BERTELLI, C. E., AZEVEDO, R. B., LACAVA, Z. G. M., Proposal of a magnetohyperthermia system: preliminary biological tests. Journal of Magnetism and Magnetic Materials. 272-276, 2406-2407 (2004). GOIÂNIA, 05 DE NOVEMBRO DE 2012. xv Sumário Dedicatória ...................................................................................................................... vi Agradecimentos .............................................................................................................. vii Resumo ............................................................................................................................ ix Abstract ............................................................................................................................ x Prefácio ........................................................................................................................... xi Referências bibliográficas .............................................................................................. xiv Lista de tabelas ............................................................................................................... xx Lista de figuras ............................................................................................................. xxii Capítulo 1 ......................................................................................................................... 1 Conceitos básicos .............................................................................................................. 1 1.1 Introdução ................................................................................................................... 1 1.2 Estrutura cristalina da ferrita ...................................................................................... 4 1.3 Energia de anisotropia ................................................................................................ 5 1.4 Monodomínio magnético ............................................................................................ 7 1.5 Diâmetro crítico ......................................................................................................... 8 1.6 Campo coercitivo e sua dependência dimensional ...................................................... 9 1.7 Modelo de Stoner-Wohlfarth .................................................................................... 10 1.8 Relaxação magnética ................................................................................................ 13 1.9 Superparamagnetismo .............................................................................................. 15 1.10 Processos de relaxação em fluídos magnéticos ....................................................... 16 1.11 Perda de potência específica (SAR) ........................................................................ 16 1.12 Técnicas de caracterização ..................................................................................... 17 1.12.1 Introdução ................................................................................................................... 17 1.12.2 Magnetometria ........................................................................................................... 17 1.12.3 Ressonância magnética eletrônica (EMR) ..................................................................... 18 1.12.4 Microscopia eletrônica de transmissão (MET) ............................................................... 19 1.12.5 Difração de raios-X e o método de Rietveld ................................................................. 20 Referências bibliográficas ............................................................................................... 22 Capítulo 2 ...................................................................................................................... 24 Equipamento de hipertermia magnética para nanopartículas ............................................ 24 xvi 2.1 Introdução ................................................................................................................ 24 2.2 Teoria do oscilador harmônico forçado..................................................................... 26 2.3 Oscilador elétrico senoidal forçado ........................................................................... 32 2.4 Equipamento de hipertermia magnética .................................................................... 35 2.4.1 Arquitetura do amplificador de potência ....................................................................... 37 2.4.2 Arquitetura Half-Bridge ................................................................................................. 37 2.5 Bobina e capacitor do sistema ressonante ................................................................. 39 2.5.1 Construção do conjunto LC ............................................................................................ 39 2.5.2 Circuito do L-LC ou L-Match Network ............................................................................. 40 2.5.3 Parâmetros elétricos e geométricos da bobina .............................................................. 41 2.5.4 Parâmetros elétricos do circuito ressonante .................................................................. 46 2.7 Porta amostra e seu posicionamento na bobina ......................................................... 47 2.8 Intensidade do campo magnético na bobina .............................................................. 49 2.9 Calibração do pirômetro ........................................................................................... 50 2.10 Amplificador de potência ....................................................................................... 57 2.11 Medidas com o equipamento de hipertermia magnética. ......................................... 60 2.12 Conclusões ............................................................................................................. 67 Referências bibliográficas ............................................................................................... 68 Capítulo 3 ....................................................................................................................... 70 Hipertermia magnética de ferrita de cobalto: efeito do diâmetro no regime linear ............ 70 3.1 Introdução ................................................................................................................ 70 3.2 Teoria de resposta linear (TRL) ................................................................................ 71 3.3 Síntese das nanopartículas ........................................................................................ 75 3.4 Difração de raios-X e o método de rietveld ............................................................... 76 3.5 Curvas de magnetização das amostras de ferrita de cobalto ...................................... 77 3.6 Cálculo da anisotropia magnética efetiva .................................................................. 83 3.7 Estrutura core-shell .................................................................................................. 85 3.8 Hipertermia magnética das nanopartículas ................................................................ 87 3.8.1 Curvas de aquecimento ................................................................................................. 87 3.8.2 Taxa de aquecimento .................................................................................................... 92 3.8.3 Perda de potência específica (SAR). ............................................................................... 94 3.9 Simulações de histerese dinâmica com a equação de Landau-Lifshitz ....................... 99 xvii 3.10 Sar em função da anisotropia: efeito da polidispersão ........................................... 101 3.11 Conclusões ........................................................................................................... 105 Referências bibliográficas ............................................................................................. 107 Capítulo 4 ..................................................................................................................... 108 Efeito do campo magnético na transição para o regime não linear em nanopartículas à base de ferritas com diâmetros similares ............................................................................... 108 4.1 Introdução .............................................................................................................. 108 4.2 Caracterizações das nanopartículas .......................................................................... 109 4.2.1 Síntese, difração de raios-X e MET ................................................................................ 109 4.2.2 Curvas de magnetização .............................................................................................. 113 4.2.3 Ressonância ferromagnética e anisotropia................................................................... 119 4.3 Hipertermia magnética ........................................................................................... 121 4.3.1 Curvas de aquecimento ................................................................................................ 121 4.3.2 Perda de potência específica (SAR) nas amostras .......................................................... 126 4.3.3 Eficiência das amostras ................................................................................................. 130 4.3.4 Interação dipolar e a anisotropia magnética ................................................................ 132 4.4 Simulações de histerese dinâmica ........................................................................... 135 4.5 Observações experimentais .................................................................................... 140 4.6 Conclusões ............................................................................................................. 143 Referências bibliográficas ............................................................................................. 144 Capítulo 5 ..................................................................................................................... 145 Efeito da dependência do expoente “crítico” da amplitude de campo magnético alternado na transição do regime linear para não-linear................................................................. 145 5.1 Introdução .............................................................................................................. 145 5.2 Potência dissipada de acordo com a lei de Rayleigh................................................ 146 5.3 Potência dissipada por correntes parasitas (“eddy-current”) .................................... 147 5.4 Conjunto de amostras e o comportamento do SAR em função do diâmetro ............. 148 5.5 Expoente crítico e a anisotropia efetiva em regime de baixo e alto campo .............. 156 5.6 Análise do expoente via simulação por histerese dinâmica ..................................... 159 5.7 Influência da estrutura caroço-casca (core–shell) no expoente crítico e no SAR ..... 162 5.8 Conclusão .............................................................................................................. 168 Referências bibliográficas ............................................................................................. 169 Capítulo 6 ..................................................................................................................... 170 xviii Conclusões e perspectivas ............................................................................................. 170 Apêndice A ................................................................................................................... 174 Apêndice B ................................................................................................................... 176 Apêndice C ................................................................................................................... 178 xix Lista de tabelas Tabela 1.0 (A): série de nanopartículas sólidas, na forma de pó, à base de ferritas de maguemita (γFe2O3) e cobalto (CoFe2O4), com seus correspondentes parâmetros obtidos nas diversas técnicas de caracterização utilizadas. ............................................................................................................. 21 Tabela 1.0 (B): série de nanopartículas sólidas, na forma de pó, à base de ferritas de cobre (CuFe2O4), níquel (NiFe2O4) e zinco (ZnFe2O4), com seus correspondentes parâmetros obtidos nas diversas técnicas de caracterização utilizadas. ............................................................................ 22 Tabela 2.0: relações entre parâmetros mecânicos e elétricos em um oscilador harmônico de natureza mecânica (massa-mola) e de natureza elétrica (RLC). .................................................... 31 Tabela 2.1: propriedades do condutor de cobre, usado na construção da bobina. .......................... 42 Tabela 2.2: dimensões físicas da bobina construída com fio de cobre tubular oco. ....................... 43 Tabela 2.3: valor teórico e experimental de cada componente utilizado na construção do circuito LC, o parâmetro da freqüência natural do conjunto LC e o módulo do desvio relativo percentual. 45 Tabela 2.4: alguns dos principais tipos de termômetros utilizados em pesquisa e na indústria com suas respectivas equações básicas de recorrência. ........................................................................ 51 Tabela 2.5: parâmetros de exatidão, tempo de resposta, emissividade e fator de distância do pirômetro modelo TD-870 da marca ICEL, utilizado como base para o medidor de temperatura sem contato no equipamento de hipertermia magnética. ...................................................................... 51 Tabela 2.6: grandezas elétricas e geométricas, com os respectivos valores aferidos experimentalmente, usadas para o cálculo do amplificador de potência. ...................................... 58 Tabela 2.7: parâmetros técnicos do amplificador. ........................................................................ 60 Tabela 3.0: soluções alcalinas e temperaturas iniciais, que formam a base da síntese das nanopartículas de CoFe2O4 , CuFe2O4, NiFe2O4, e ZnFe2O4. ........................................................ 76 Tabela 3.1: amostras de ferrita de cobalto (CoFe2O4), com diâmetros determinados por difração de raios-X e posterior análise pelo método de Rietveld..................................................................... 77 Tabela 3.2: amostras de ferrita de cobalto (CoFe2O4) com seus parâmetros: diâmetro por análise Rietveld (drr), magnetização de saturação (Ms) e campo coercitivo Hc . ...................................... 82 Tabela 3.3: as constantes de anisotropia efetiva média calculadas e as constantes de anisotropia obtidas considerando-se uma estrutura do tipo Core-Shell para as nanopartículas à base de ferrita de cobalto. Os valores dos diâmetros obtidos no processo da síntese evidenciam a importância de um meio básico alcalino a uma temperatura controlada específica. ...................... 85 Tabela 3.4: valores das taxas de aquecimento ( ) obtidas pelo método da extração da taxa nos instantes iniciais das amostras de ferrita de cobalto (CoFe2O4), para seis valores padrões de intensidades de campo magnéticos alternados (H 1=22Oe, H2=45Oe, H3=68Oe, H4=90Oe, H5=113Oe e H6=133Oe ).Os diâmetros (drr) correspondem aos nomes dados a cada amostra de ferrita de cobalto. ........................................................................................................................ 94 xx Tabela 3.5: valores do SAR obtidos para as seis intensidades de campo magnético alternado (H1,H2,H3,H4,H5 e H6) aplicados nas amostras à base de ferrita de cobalto em estudo. .................. 95 Tabela 3.6: parâmetro adimensional ( ) [3.1], que, na condição condiciona o regime das ferritas de cobalto a campo magnético linear (22Oe a 68Oe). ....................................................... 96 Tabela 4.0: série de amostras à base de ferritas com diâmetros próximos a 8nm e 9nm, com suas correspondentes nomenclaturas e diâmetros característicos por análise de Rietveld (drr). As amostras de *7.9nm e *9.3nm de maguemita têm seus diâmetros estimados por um difratômetro de pó, sendo que as demais amostras têm seus diâmetros estimados em um difratômetro do Laboratório Nacional de Luz Sincroton (LNLS), na cidade de Campinas-SP. ............................ 111 Tabela 4.1: série de ferritas com diâmetros próximos a 8nm. A 1º coluna à esquerda exibe os parâmetros usados para as ferritas de cobalto (CoFe2O4), maguemita (ϒ-Fe2O3) , ferrita de Cobre (CuFe2O4 ), ferrita de Níquel (NiFe2O4 ) e ferrita de Zinco (ZnFe2O4) com os respectivos valores correspondentes a cada parâmetro de caracterização. A amostra de *7.9nm de maguemita tem seu diâmetro estimado por um difratômetro de pó, sendo que as demais amostras têm seu diâmetro estimado em um difratômetro do Laboratório Nacional de Luz Sincroton (LNLS), na cidade de Campinas-SP. ........................................................................................................................... 118 Tabela 4.2: série de ferritas com diâmetros próximos a 9nm. A 1º coluna à esquerda exibe os parâmetros usados para as ferritas de cobalto (CoFe2O4), maguemita (ϒ-Fe2O3), ferrita de Cobre (CuFe2O4), eferrita de Níquel (NiFe2O4) ao passo que as colunas à direita apresentam os valores correspondentes a cada parâmetro de caracterização obtido. A amostra de *9.3nm de maguemita tem seu diâmetro estimado por um difratômetro de pó, sendo que as demais amostras têm seu diâmetro estimado em um difratômetro do Laboratório Nacional de Luz Sincroton (LNLS), na cidade de Campinas-SP. ............................................................................................................ 119 Tabela 4.3: série de ferritas com diâmetros próximos a 8nm. ..................................................... 133 Tabela 4.4: série de ferritas com diâmetros próximos a 9nm. ..................................................... 134 Tabela 5.0: seleção de amostras para análise do comportamento do expoente (e) do campo H e os diversos parâmetros obtidos por caracterização..............................................................................154 xxi Lista de figuras Figura 1.0: ordenamentos ferromagnéticos, antiferromagnéticos e ferrimagnéticos. ........................1 Figura 1.1: magnetização em função de H; exibe um ciclo de histerese magnética. .........................2 Figura 1.2: dois gráficos de magnetização (M) em função do campo (H), com dois ciclos de histerese distintos de materiais ferromagnéticos: em (a), um material que apresenta pouca magnetização remanente e fraco campo coercitivo e, em (b), um material com forte campo coercivo e com grande remanência, o que é típico de ímãs permanentes (ciclo de histerese com maior área. .3 Figura 1.3: estrutura cristalina da magnetita, que é um espinélio inverso. As esferas em branco são sítios tetraédricos, as de preto, os sítios octaédricos e as maiores são os íons de oxigênio. ...............4 Figura 1.4: em (A) os eixos de fácil e de difícil magnetização (easy-axis e hard-axis) para monocristais de Fe, Ni e Co, em que a resposta da magnetização é maior a um campo externo aplicado. Em (B), apresenta-se o comportamento da magnetização em função de H em duas direções distintas dos eixos cristalográficos - difícil em vermelho e fácil em azul para a magnetita. 6 Figura 1.5: em (a), há um monodomínio magnético e, em (b), um acoplamento de dois monodomínios faz surgir a parede de Bloch. Em (c), afiguram-se os multidomínios separados pelas suas respectivas paredes de Bloch. .................................................................................................7 Figura 1.6: em (a), a parede de domínio acopla dois domínios com estados de magnetização distintos. Em (b) apresentam-se as paredes de Bloch perpendiculares ao plano de magnetização dos domínios vizinhos. Em (c), as paredes de Néel são paralelas ao plano das magnetizações dos domínios [1.1]................................................................................................................................8 Figura 1.7: materiais magnéticos e seus respectivos diâmetros, que definem domínio simples (faixa cor preta Dsd) e superparamagnéticos (faixa segmentada Dsp). ......................................................9 A figura 1.8: o comportamento do campo coercitivo em função do diâmetro (D) para partículas magnéticas. .................................................................................................................................. 10 Figura 1.9: as direções do campo magnético (H) e da magnetização (M) em relação ao eixo fácil de magnetização. .............................................................................................................................. 11 Figura 1.10: curvas de histerese simuladas usando o modelo de Stoner-Wohlfarth em termos da magnetização reduzida e campo reduzido h=H/Hk para vários ângulos ψ (entre o eixo de anisotropia e campo aplicado). ................................................................................................. 12 Figura 1.11: energia de um sistema uniaxial de partículas magnéticas na ausência de campo magnético. ................................................................................................................................... 13 Figura 2.0: espira circular percorrida por um elemento de corrente produz um campo magnético elementar em um ponto P, ao longo do eixo x, que é perpendicular ao plano da bobina. .......... 24 Figura 2.1: sobreposição de n espiras produz um campo magnético e as linhas de campo são agora concentradas no interior do solenóide, como mostra a figura em menor tamanho. ............... 25 xxii Figura 2.2: simulação usando o software FEMM (Finite Element Method Magnetics) para analisar a densidade de campo magnético em uma espira (a), três espiras (b) e nove espiras (c). ................ 26 Figura 2.3: oscilador mecânico constituído por um conjunto massa- mola, sujeito a uma forca restauradora do tipo , em que é uma posição qualquer fora da posição de equilíbrio do sistema, é a constante da mola, m é a massa do corpo e é a força perturbadora do sistema. ... 27 Figura 2.4: comportamento da amplitude em função de , em que é a freqüência de ressonância. ................................................................................................................................. 30 Figura 2.5: circuito RLC-paralelo, com fonte de excitação por corrente alternada. Três correntes fundamentais, Is, Ir, IL e IC podem circular na malha em um dado instante t, permitindo a análise nodal do circuito. ......................................................................................................................... 32 Figura 2.6: representação em termos dos fasores das grandezas Z, R e X - permite determinar o ângulo de fase () no circuito RLC. .............................................................................................. 34 Figura 2.7: diagrama de blocos do equipamento de hipertermia magnética para nanopartículas. .... 36 Figura 2.8: foto do equipamento de hipertermia magnética construído. Em (a), afigura-se o sistema de aquisição de dados e o computador, em (b) vê-se a fonte de tensão DC variável, e em (c), o conjunto LC-Match ligado ao amplificador indicado por (d). Em (e), afigura-se o oscilador para ajuste da ressonância e, por fim, (f) e (g) ilustram os sistemas de refrigeração a óleo e a água respectivamente. .......................................................................................................................... 37 Figura 2.9: circuito operando em classe AB de condução, em que um dos transistores conduz no primeiro semiciclo da onda (em vermelho) e o outro no semiciclo posterior azul. ......................... 38 Figura 2.10: circuito Half-Bridge simplificado, baseado no uso de dispositivos comutadores do tipo mosfet canal-n. Esta é uma configuração típica, muito usada em um estágio final de um amplificador comutado para indução térmica. ............................................................................... 38 Figura 2.11: modelo para o cálculo da indutância em uma bobina helicoidal de altura H, diâmetro D, distância entre espiras S e com o diâmetro do condutor circular W........................................... 39 Figura 2.12: dois diodos de recuperação , ligados respectivamente ao transistor mosfet - tem a função de bloquear tensões reversas geradas por cargas indutivas. ....................... 40 Figura 2.13: circuito LCRL, ou simplesmente L-match. A fonte alternada (Vac) esta sob a ação de uma impedância equivalente igual a [ ]. A parte real equivale, respectivamente, à resistência interna da fonte e à resistência interna estática do indutor............... 41 Figura 2.14: diagrama mecânico simplificado da bobina e suas dimensões físicas. ........................ 43 Figura 2.15: indutor construído para uso no equipamento de hipertermia magnética. Um tubo de cobre oco, com nove expiras justapostas em formato helicoidal com espaçamento médio entre elas de 2 mm. ............................................................................................................................... 43 Figura 2.16: imagem de um dos elementos que formam o banco de capacitores, de um total de 46 elementos de circuito associados em paralelo. .............................................................................. 44 Figura 2.17: o circuito LC com a bobina de indução em (a) e o banco de capacitores em (b). O conjunto perfaz o circuito LC em paralelo do equipamento de hipertermia magnética. .................. 45 xxiii Figura 2.18: no item (a), o sistema de refrigeração a óleo utilizado no banco de capacitores. Em (b), apresenta-se o sistema de refrigeração da bobina indutora de campo magnético, cuja refrigeração é por água circulante na mesma. A imagem em (c) ilustra a refrigeração forçada a ar no amplificador de potência................................................................................................................................... 47 Figura 2.19: (a) duas seringas acopladas por uma mangueira flexível. A menor delas é introduzida no interior da bobina de indução e permite que haja o deslocamento do porta amostra por toda a sua extensão. (b) porta amostra utilizado nas experiências com nanopartículas, nas fases sólida ou líquida, acoplado por pressão a um pistão de borracha avulso de uma seringa descartável. ............ 48 Figura 2.20: vista superior da bobina de indução acoplada à seringa de deslocamento do corpo de prova contido no porta amostra. ................................................................................................... 48 Figura 2.21: sensor do campo magnético alternado utilizado para medir as componentes do campo magnético na direção axial e radial. .............................................................................................. 49 Figura 2.22: faixa de operação do sensor de campo magnético, bem como os seus limites máximos e mínimos na composição do campo magnético em função da freqüência. .................................... 49 Figura 2.23: intensidade do campo magnético Ac (Oe), com a variação da tensão alternada (Vac), ajustada na fonte do equipamento para hipertermia magnética em nanopartículas. ........................ 50 Figura 2.24: pirômetro modificado, operando na faixa do infravermelho, que possibilita medir a temperatura sem contato de cada amostra em análise. ................................................................... 52 Figura 2.25: diagrama de um pirômetro operando em um comprimento de onda na faixa do infravermelho. ............................................................................................................................. 53 Figura 2.26: curvas de voltagem em função da temperatura para termopares, construídas com diferentes tipos de materiais, com sensibilidades e linearidades diferentes. São largamente utilizados em diversas indústrias e laboratorios de pesquisa. ......................................................... 53 Figura 2.27: ao lado do microcomputador, afigura-se o multímetro, que possui incorporado internamente um conversor A/D capaz de fazer a conexão ao PC via interface RS 232. ................ 55 Figura 2.28: tensão do pirômetro (mV) em função da temperatura (ºC) do termopar. A curva em vermelho é o melhor ajuste dos dados (curva em azul). ................................................................ 56 Figura 2.29: circuito elétrico do amplificador de indução térmica. O esquema eletrônico exibe a ligação dos componentes necessários para conformação do sinal elétrico a ser aplicado ao conjunto LC-match. .................................................................................................................................... 57 Figura 2.30: aquecimento de uma barra de ferro introduzida no interior da bobina de indução durante 5 s, elevando sua temperatura a 319ºC. A intensidade do campo magnético alternado e a freqüência são respectivamente 133Oe e 500kHz. ........................................................................ 61 Figura 2.31: dimensões simplificadas de porta amostras para sólidos (a) e para líquidos (b), utilizados nas medições de temperatura em hipertermia magnética. .............................................. 61 Figura 2.32: gráficos de temperatura em função do tempo. Em (a), afigura-se o comportamento da temperatura ambiente e, em (b), a evolução nas temperaturas das configurações 1, 2, 3,4 e 5. ....... 63 xxiv Figura 2.33: comportamento da temperatura em função do tempo para três campos magnéticos A C. A curva na cor preta é referente à intensidade de campo de 133Oe e a curva em azul é referente a 90Oe, sendo ambas as intensidades aplicadas à mesma amostra de ferrita de níquel (NiFe2O4) na forma sólida (Pó) e com diâmetro de Rietveld (drr=7.9nm). A curva pontilhada em vermelho refere-se à variação de temperatura por tempo do porta amostra vazio sob a ação de uma intensidade de campo magnético de 133Oe. ................................................................................. 64 Figura 2.34: evolução da temperatura com o tempo, para três medidas repetitivas (M1, M2 e M3) de amostras líquidas nas mesmas condições (massa, tempo e temperatura inicial). Três taxas ( ) foram calculadas e estão ao lado de suas respectivas medidas na legenda do gráfico. O desvio percentual estatístico encontrado nas taxas é de 8.5%, sendo o mesmo para o parâmetro SAR. ............................................................................................................................................ 65 Figura 2.35: imagem térmica de uma amostra sólida, no instante inicial da medida (t=0s), sem aplicar o campo magnético AC de 133Oe. ..................................................................................... 66 Figura 2.36: a imagem térmica final da amostra sólida decorrido um tempo de t=10s.................... 66 Figura 3.0: difratograma de raios-X da amostra de ferrita de cobalto CD1. Símbolos representam dados coletados em seus respectivos ângulos de reflexão. Os parâmetros de Rietveld para a difração de raios-X foram Rp=5,47%, Rwp=6,70% e ................................................ 77 Figura 3.1: curvas de magnetização das nanopartículas à base de ferrita de cobalto (CoFe 2O4). A curva preta segmentada realça a área da curva de histerese em regime DC para as amostras, (a) CA3 e (b) CB3. Inseridas à esquerda, na parte alta dos gráficos, afigura-se a curva completa de magnetização da amostra correspondente (curva cheia em vermelho). .......................................... 78 Figura 3.2: curvas de magnetização das nanopartículas à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4). A curva preta segmentada realça a área da curva de histerese em regime DC para as amostras, (c) CC1 e (d) CC3. Inseridas à esquerda, na parte alta dos gráficos, afigura-se a curva completa de magnetização da amostra correspondente (curva cheia em vermelho). .......................................... 79 Figura 3.3: curvas de magnetização das nanopartículas à base de ferrita de cobalto (CoFe 2O4). A curva preta segmentada realça a área da curva de histerese em regime DC para as amostras, (e) CD1 e (f) CD2. Inseridas à esquerda, na parte alta dos gráficos, afigura-se a curva completa de magnetização da amostra correspondente (curva cheia em vermelho). .......................................... 80 Figura 3.4: curvas de magnetização das nanopartículas à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4). A curva preta segmentada realça a área da curva de histerese em regime DC para as amostras, (g) CD3. Inseridas à esquerda, na parte alta dos gráficos, afigura-se a curva completa de magnetização. .................................................................................................................................................... 81 Figura 3.5: curvas de histerese das amostras CD1 e CC3 mostram uma área de histerese significativa, ao contrário da amostra CA3, que exibe um caráter superparamagnético, como pode ser bem observado na curva do gráfico menor inserido em azul (curva segmentada). .................... 82 Figura 3.6: campo coercitivo ( em função do diâmetro para as sete amostras de ferrita de cobalto. ........................................................................................................................................ 83 Figura 3.7: estrutura do tipo casca-núcleo (core-shell), formada no processo de síntese por hidrólise forçada em uma etapa de passivação. .......................................................................................... 86 xxv Figura 3.8: variação de temperatura por tempo das amostras à base de ferrita de cobalto (CoFe 2O4). Seis valores de campo magnético alternado foram aplicados (H 1=22Oe, H2=45Oe, H3=68Oe, H4=90Oe, H5=113Oe e H6=133Oe ). Os codinomes CA3 e CB3 são as denominações das amostras de ferrita de cobalto nos gráficos, respectivamente. ..................................................................... 88 Figura 3.9: variação de temperatura por tempo das amostras à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4). Seis valores de campo magnético alternado foram aplicados (H 1=22Oe, H2=45Oe, H3=68Oe, H4=90Oe, H5=113Oe e H6=133Oe ). Os codinomes CC1 e CC3 são as denominações das amostras de ferrita de cobalto nos gráficos, respectivamente. ...................................................................... 89 Figura 3.10: variação de temperatura por tempo das amostras à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4). Seis valores de campo magnético alternado foram aplicados (H1=22Oe, H2=45Oe, H3=68Oe, H4=90Oe, H5=113Oe e H6=133Oe ). Os codinomes CD1e CD2 são as denominações das amostras de ferrita de cobalto nos gráficos, respectivamente. .................................................. 90 Figura 3.11: variação de temperatura por tempo das amostras à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4). Seis valores de campo magnético alternado foram aplicados (H1=22Oe, H2=45Oe, H3=68Oe, H4=90Oe, H5=113Oe e H6=133Oe). O codinome CD3 é a denominação da amostra de ferrita de cobalto no gráfico. ........................................................................................................ 91 Figura 3.12: variação de temperatura por tempo para as amostras CD1 (curva sólida em preto), CC3 (pontilhada em vermelho) e CA3 (pontilhada em azul), submetidas a uma intensidade de campo alternado fixa de 68Oe. O gráfico inserido na parte superior exibe o comportamento da temperatura versus tempo, em particular para amostra CD1, para três intensidades de campos magnéticos alternados (22Oe, 45Oe e 68Oe). ............................................................................... 92 Figura 3.13: a curva típica da equação denominada (Box-Lucas). ................................................. 93 Figura 3.14: o comportamento linear do SAR em função de H2, para todas as amostras de CoFe2O4 para baixos campos magnéticos até 68Oe. .................................................................................... 95 Figura 3.15: perda de potência (SAR) em função da magnetização de saturação ( ) para as sete amostras analisadas de ferrita de cobalto. Os pontos do gráfico representados por quadrados pretos referem-se às sete amostras submetidas à intensidade de campo de 22Oe.Na forma de triângulos azuis, afigura-se o comportamento das amostras em campo de intensidade de 45Oe e em esferas vermelhas para o campo máximo de 68Oe. ................................................................................... 97 Figura 3.16: comportamento do SAR em função do campo coercitivo (Hc) em três intensidades de campos magnéticos alternados (22Oe, 45Oe e 68Oe) para todas as nanopartículas de ferrita de cobalto. ........................................................................................................................................ 98 Figura 3.17: variação do SAR com o parâmetro de anisotropia ( ), em três intensidades de campos magnéticos alternados (22Oe, 45Oe e 68Oe) para as todas as ferritas de cobalto em estudo. O SAR mostra um máximo em próximo de 10. .................................................................................... 99 Figura 3.18: série de curvas de histerese decorrentes da simulação utilizando a equação de LandauLifshitz e as condições de contorno previamente estabelecidas para os vários e os campos normalizados (cor preta), (cor vermelha) e (cor em azul). ........ 101 Figura 3.19: dependência do SAR com o parâmetro de anisotropia ( ), em três intensidades de campos magnéticos alternados (22Oe, 45Oe e 68Oe) para as ferrita de cobalto em estudo. Os símbolos cheios representam os dados experimentais das nanopartículas com a correção devido às estruturas do tipo core-shell e os símbolos abertos equivalem aos dados experimentais das xxvi amostras sem a correção. A linha pontilhada representa a simulação utilizando a equação das amostras monodispersas e a curva solida em vermelho exibe a simulação, para o caso das amostras com uma polidispersão em tamanho de 0.26nm.. ......................................................... 103 Figura 3.20: imagem de microscopia eletrônica por transmissão de elétrons, da amostra de ferrita de cobalto (CoFe2O4) denominada de CC3. A imagem mostra uma leve anisometria de forma, quando da amostragem de 50 nanopartículas para cômputo dos eixos maior e menor das nanopartículas. A barra de erro tem escala de 100nm e está à esquerda no lado inferior da imagem.. .................................................................................................................................................. 104 Figura 3.21: função de distribuição em tamanho para a amostra à base de ferrita de cobalto denominada de CC3. O diâmetro modal exprime o valor mais próximo do verdadeiro e a dispersão de tamanhos indica o grau de polidispersão da amostra.. ....................................... 105 Figura 4.0: difratogramas de Raios-X obtidos por uma fonte Sincroton no LNLS de uma maguemita padrão de (-Fe2O3). Na curva em azul, apresenta-se o difratograma de uma das amostras de maguemita denominada de MA25 e, na curva mais baixa, o difratograma da magnetita (Fe3O4) Bulk.. ............................................................................................................................ 110 Figura 4.1: imagem de microscopia de transmissão eletrônica (MET) da amostra de ferrita de cobalto denominada de CC3, com uma barra de erro de 50nm. (b) Imagem para a maguemita (Fe2O3) denominada de MA25 com uma barra de erro de 10nm. .................................................. 111 Figura 4.2: curvas de distribuição em tamanhos, ajustadas por uma função do tipo Log- normal. Para a amostra de ferrita de cobalto (CoFe2O4) em (a), há um diâmetro modal de ) nm e uma dispersão em tamanho de ). Em (b), a função de distribuição para a maguemita (-Fe2O3) com os valores de )nm para o diâmetro modal e de ) para a dispersão em tamanhos. ......................................................................................... 112 Figura 4.3: curvas de magnetização em função do campo para amostras sólidas (pó). A curva em vermelho representa a magnetização da amostra à base de ferrita de níquel (NiFe 2O4) denominada de Ni6 e a curva em preto da amostra à base de ferrita de cobalto (CoFe 2O4) denominada de CC1. .................................................................................................................................................. 113 Figura 4.4: detalhes da região entre as duas curvas de magnetização das amostras ferrita de cobalto (CoFe2O4), denominada de CC1 e da ferrita de níquel (NiFe2O4) denominada de Ni6, com diâmetros próximos a 8nm. ........................................................................................................ 114 Figura 4.5: curvas de magnetização para amostras sólidas na forma de pó. A curva em azul representa a magnetização da amostra à base de maguemita (-Fe2O3) denominada de MA25 e a curva em vermelho da amostra à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4) denominada de CC3. ....... 115 Figura 4.6: detalhes da região entre as duas curvas de magnetização das amostras CC3 (CoFe2O4) e MA25 (-Fe2O3) de diâmetros iguais a 9nm. ............................................................................... 116 Figura 4.7: (a) curvas de magnetização para a série de amostras com diâmetros próximos a 8nm. Em (b), curvas relativas à série de diâmetros próximos a 9 nm. As figuras inseridas nos gráficos mostram a estrutura clássica de um core-shell com o núcleo cristalino e uma casca de óxido de espessura k................................................................................................................................. 117 Figura 4.8: curvas de ressonância para amostras de (-Fe2O3, CoFe2O4, CuFe2O4, NiFe2O4 e ZnFe2O4 ), com diâmetros próximos a 8nm (a) e (b) para diâmetros próximos a 9nm. Em (b), o xxvii parâmetro R é o valor da largura de linha na curva de ressonância e HR o valor do campo de ressonância. ............................................................................................................................... 120 Figura 4.9: variação da temperatura em função do tempo para cinco amostras à base de ferrita sob campo magnético de 133Oe. O gráfico em (a) é a variação de temperatura em função do tempo para amostras com diâmetros próximos a 8nm e em (b) para 9nm. .............................................. 122 Figura 4.10: variação temporal de temperatura para as amostras de ferrita de cobalto (CoFe2O4) e de níquel (NiFe2O4), com diâmetros próximos a (a) 8nm e (b) 9nm. 45Oe, 68Oe, 90Oe, 113Oe e 133Oe são as intensidades de campo magnético. ........................................................................ 123 Figura 4.11: comportamento da função denominada Bidose-Response. Em h1, afigura-se a primeira derivada inicial à curva e h2 representa a segunda derivada na curva. A1 e A2 são as temperaturas iniciais e finais respectivamente. ................................................................................................ 124 Figura 4.12: ajuste com a função Bidose–Response da curva da temperatura em função do tempo da amostra de ferrita de cobalto CC3, sob intensidade de campo magnético alternado de 133Oe em um intervalo de tempo de 300s. .................................................................................................. 125 Figura 4.13: derivada primeira do ajuste (Bidose-Response) da amostra de ferrita de cobalto CC3, da figura 4.12 anterior. O pico nesta derivada é a taxa máxima de aquecimento ( ). ........... 126 Figura 4.14: comportamento do SAR em função do campo magnético das diversas ferritas exibidas nas legendas dos gráficos, onde os diâmetros são próximos a (a) 8nm e (b) 9nm. A barra de erro no valor do SAR é de 8,5%. Bidose foi a função utilizada para extrair as taxas de aquecimento ( ). .................................................................................................................................... 127 Figura 4.15: comportamento do SAR em função do campo magnético para as amostras de ferrita de cobalto (CoFe2O4) e de ferrita de níquel (NiFe2O4), denominadas de CC3 e Ni6 respectivamentes e, cujos diâmetros estão próximos a 8nm (a). Em (b) para as amostras à base de ferrita de cobalto (CC3) e maguemita (γ-Fe2O3) com denominação de MA25, cujos diâmetros são próximos a 9nm. .................................................................................................................................................. 128 Figura 4.16: comportamento do SAR em função do campo magnético para as amostras CC3 (CoFe2O4) e da MA25 (-Fe2O3), obtidas em um equipamento comercial operando em uma freqüência de 300kHz. ............................................................................................................... 129 Figura 4.17: comportamento do SAR em função do campo magnético para as amostras CC3 (CoFe2O4) e A25 (-Fe2O3) na forma de colóide e sólido (pó). ................................................... 130 Figura 4.18: eficiência de aquecimento () para as nanopartículas com diâmetros próximos a 8nm (a) e 9nm (b). ............................................................................................................................. 132 Figura 4.19: curvas de histerese decorrentes da simulação utilizando a equação de Landau-Lifshitz e as condições de contorno previamente estabelecidas, para os vários e os campos normalizados (cor preta), (cor vermelha), (cor verde) e . .............. 136 Figura 4.20: curvas de histerese decorrentes da simulação utilizando a equação de Landau-Lifshitz e as condições de contorno previamente estabelecidas, para os vários e os campos normalizados (cor preta), (cor vermelha), (cor verde) e ................. 137 Figura 4.21: simulações da eficiência de aquecimento () e do SAR, em função do campo magnético de intensidade normalizada . Nestas simulações, foram considerados xxviii valores de de 10-2, 10-3 e de 10-4 para SAR em função de e para em função de Os -2 -3 valores definidos de σ para = 10 foram σ=3, σ=5 e σ=7, para = 10 foram σ=5, σ=7 e σ=9 e para =10-3 foram σ=8, σ=10 e σ=12. ........................................................................ 138 Figura 4.22: simulação da eficiência () em função de sigma ( ), para vários valores de , em um intervalo de 0.02 a 0.2 a passos de 0.02. Quatro valores de foram tomados, resultando em 4 pacotes de curvas (1, 2, 3 e 4)..................................................................................................... 139 Figura 5.0: curva de histerese gerada por uma contribuição irreversível ( ) sugerida por Rayleigh. .................................................................................................................................................. 146 Figura 5.1: variação da temperatura em função do tempo de amostras de maguemita (ϒ-Fe2O3) com campo magnético alternado na intensidade (a) H=68Oe e (b) H=133Oe...................................... 149 Figura 5.2: variação da temperatura em função do tempo de amostras de ferrita de cobalto (CoFe2O4) com campo magnético alternado na intensidade (a) H=68Oe e (b) H=133Oe. ............ 150 Figura 5.3: variação da temperatura em função do tempo de amostras de ferrita de cobre (CuFe2O4) com campo magnético alternado na intensidade (a) H=68Oe e (b) H=133Oe. ............................. 151 Figura 5.4: variação da temperatura em função do tempo de amostras de ferrita de níquel (NiFe2O4) com campo magnético alternado na intensidade (a) H=68Oe e (b) H=133Oe. ............................. 152 Figura 5.5: hierarquia dos parâmetros intrínsecos e extrínsecos com o a perda de potência específica (SAR). ....................................................................................................................... 153 Figura 5.6: comportamento do SAR com o diâmetro da série de ferritas em estudo, referentemente aos dados da tabela 5.1. .............................................................................................................. 155 Figura 5.7: dependência do expoente com o parâmetro de anisotropia . ........................ 157 Figura 5.8: (a) parâmetro em função do sigma efetivo ( ) e pelo SAR no gráfico em 3D, sob campo magnético de 133Oe. (b) o mesmo gráfico (a) com as projeções nos planos xy ( , zy ( e zx ( . ........... 158 Figura 5.9: curvas de histerese dinâmica decorrentes da simulação utilizando a equação de LandauLifshitz para vários valores de e distintos campos reduzidos: (cor preta), (cor vermelha) e (cor em azul) [5.4]. ......................................................................... 159 Figura 5.10: comportamento do parâmetro e em função do parâmetro , de acordo com simulação para valores de em um intervalo de .................................................. 160 Figura 5.11: simulação de e em função de para , correspondente ao intervalo dos valores experimentais de e em função de eff. ........................................................................... 161 Figura 5.12: estrutura do tipo casca-núcleo (core-shell) formada no processo de síntese por hidrólise forçada. O diâmetro da particula é DTEM, drr é diâmetro do núcleo e k é a espessura da casca. ......................................................................................................................................... 163 Figura 5.13: comportamento da espessura (k) da casca (shell) das nanopartículas em função do diâmetro para todas as ferritas analisadas. .................................................................................. 163 xxix Figura 5.14: amostras core-shell da tabela 5.1, relacionando os parâmetros , e e sob ação de intensidade de campo magnético a 133Oe. ..................................................................... 164 Figura 5.15: amostras core-shell da tabela 5.1, relacionando os parâmetros e, e SAR sob ação de intensidade de campo magnético a 133Oe. ...................................................... 165 Figura 5.16: comportamento do expoente e em função da proporção entre casca e núcleo ( ). O ajuste (guia para os olhos) feito por uma função gaussiana (curva em preto pontilhada) evidencia o pico do expoente e quando o sistema vai para o regime não-linear a campos de 133Oe. .................................................................................................................................................. 166 Figura 5.17: SAR em função da proporção entre casca e núcleo ( ). O ajuste (guia para os olhos) feito por uma função gaussiana (curva em preto pontilhada) evidência o pico do SAR, sob ação de intensidade de campo de 133Oe. ................................................................... 167 xxx Capítulo 1 Conceitos básicos 1.1 Introdução Nesta tese, trabalhou-se com materiais ferrimagnéticos. Este ordenamento é caracterizado por ter momentos magnéticos de spins com módulos diferentes e acoplados de forma antiferromagnética, ou seja, com sentidos opostos entre os primeiros vizinhos. A título informativo, foram incluídos também os ordenamentos ferromagnético e antiferromagnético. A Figura 1.0 representa de forma esquemática essa organização, tendo em (a) um domínio ferromagnético com todos os momentos individuais alinhados; em (b) um domínio antiferromagnético com seus momentos magnéticos alternados entre vizinhos, mas de mesma intensidade; e em (c), um domínio ferrimagnético com momentos alternados e intensidades diferentes entre si [1.0]. Figura 1.0: ordenamentos ferromagnéticos, antiferromagnéticos e ferrimagnéticos. Materiais fortemente magnéticos caracterizam-se por possuir alta susceptibilidade magnética quando comparada a materiais paramagnéticos ou diamagnéticos. Isso quer dizer que respondem fortemente a campo magnético. Além disso, apresentam ordenamento de longo alcance, mesmo na ausência de campo magnético aplicado. De fato, sua 1 propriedade magnética, ou seja, a magnetização, pode ser utilizada para classificar os materiais magnéticos de acordo com sua curva de histerese. Um ciclo de magnetização completa está exibido na figura 1.1, denominada curva de histerese magnética. A magnetização (curva em verde) cresce com o aumento da intensidade do campo de excitação material até que ocorra a saturação da magnetização no . O retorno a zero de H conduz a uma magnetização remanente de saturação . Mudando-se o sentido do campo magnético, ocorre uma redução da magnetização até um valor nulo. Neste ponto, é denominado o valor de campo magnético de campo coercitivo ( . Após este ponto, a magnetização excursiona a valores negativos, tornando a saturar por ação de um campo de excitação negativo . A curva em azul representa um ciclo de histerese de M x H. Figura 1.1: magnetização em função de H exibe um ciclo de histerese magnética. Classificam-se os materiais em magnetos duros, que são aqueles que possuem alto campo coercitivo, retendo fortemente sua magnetização remanente, ou magnetos moles (macios) que possuem pequenos valores de campo coercitivo. A figura 1.2 exibe os gráficos de MxH, em que existem dois ciclos de histerese típicos de materiais magnéticos (a) macio e (b) duro. Nesta tese, trabalhamos com materiais com estas duas características. 2 Figura 1.2: dois gráficos de magnetização (M) em função do campo (H), com dois ciclos de histerese distintos de materiais ferromagnéticos: em (a), um material que apresenta pouca magnetização remanente e fraco campo coercitivo e, em (b), um material com forte campo coercivo e com grande remanência, o que é típico de ímãs permanentes (ciclo de histerese com maior área). O tamanho e a forma da curva de histerese em materiais magnéticos moles e duros têm grande relevância na indústria eletroeletrônica. A área no interior de um ciclo de histerese representa a perda de energia magnética por unidade de volume do material por ciclo de magnetização e desmagnetização. Há neste caso, perda interna de energia na forma de calor, com conseqüente aumento da temperatura do corpo magnético. Materiais magnéticos moles ou macios são usados em dispositivos que são submetidos a campos magnéticos alternados e onde as perdas de energia devem ser baixas, como é o caso dos núcleos de transformadores e dos motores elétricos. Por isso, a área relativa no interior do ciclo de histerese deve ser fina e estreita, como exibe a figura 1.2 em (a). Um material mole ou macio deve possuir alta permeabilidade magnética, baixa coercividade e atingir a saturação magnética com a aplicação de um campo relativamente pequeno, sendo facilmente magnetizado e desmagnetizado, e ainda possuir baixas perdas de energia por histerese. Materiais magnéticos duros são utilizados em ímãs permanentes, que devem possuir alta resistência à desmagnetização. Em termos de comportamento de histerese, um material magnético duro possui remanência, coercividade e magnetização de saturação elevada com uma baixa permeabilidade inicial e grandes perdas de energia por histerese, fazendo com que a área do interior do ciclo de magnetização e desmagnetização seja grande, conforme exibe a figura 1.2 em (b). 3 1.2 Estrutura cristalina da ferrita A estrutura cristalina dos materiais investigados consiste de um espinélio do tipo ferritas. Sua fórmula geral é MFe2O4, onde M é um íon divalente (Fe2+, Co2+, Ni2+, Cu2+, Zn2+ e Mn2+). A figura 1.3 exibe a estrutura cristalina, que possui sítios com simetria tetraédrica e octaédrica [1.5]. Figura 1.3: estrutura cristalina da magnetita, que é um espinélio inverso. As esferas em branco são sítios tetraédricos; as de preto, os sítios octaédricos e as maiores são os íons de oxigênio. A representação mais geral desta estrutura é apresentada como em (1.1): , em que (1.1) é o parâmetro de ocupação dos íons metálicos, enquanto os parênteses e colchetes representam, respectivamente, os sítios tetraédricos (A) e os sítios octaédricos (B). Se, na figura 1.3, todos os íons metálicos divalentes (M2+) estiverem ocupando o sítio tetraédrico e o Fe3+ os sítios octaédricos, a estrutura cristalina será chamada de 4 espinélio direto (x=0). Por outro lado, se os íons Fe3+ estiverem divididos igualmente entre os sítios octaédricos e tetraédricos e todos os M2+ ocuparem os sítios octaédricos, a estrutura passa a ser conhecida como espinélio inverso (x=1). Caso haja distribuição destes cátions, denomina-se espinélio misto [1.4]. As propriedades magnéticas das ferritas dependem dos spins eletrônicos dos cátions e suas interações. Nas ferritas, os cátions não estão em contato direto com os átomos do sítio vizinho, pois têm sempre um átomo de oxigênio próximo. As interações ocorrem através dos elétrons dos átomos de oxigênio e são chamadas de interações de supertroca. As funções de onda dos orbitais (p) do oxigênio se sobrepõem às funções de onda dos orbitais (3d) dos cátions, causando a interação de supertroca . Na última camada, os dois elétrons do oxigênio estão desemparelhados, de maneira a polarizar os íons laterais do Fe3+ que se acoplam antiparalelamente [1.4]. A grande diferença entre o número de cátions nos sítios A e B das ferritas dá a elas um caráter predominantemente ferrimagnético [1.1]. Neste trabalho, foram investigadas as ferritas de Cu, Zn, Ni, Co e a magnetita, que, na verdade, devido a um processo de oxidação, transformou-se em maguemita. 1.3 Energia de anisotropia A orientação da magnetização espontânea em um material ferrimagnético não é arbitrária, apesar de a origem do ordenamento ser isotrópica (em geral, via a contribuição de Heisenberg que não possui direção preferencial). De fato, a simetria da estrutura da rede cristalina faz com que existam determinados eixos preferenciais de magnetização, originando assim uma energia de anisotropia dita magnetocristalina. A figura 1.4 no item (A) ilustra os principais eixos cristalográficos, entre os quais os de fácil e de difícil magnetização, para o ferro, o níquel e o cobalto. No item (B) desta figura, observa-se o comportamento da magnetização da magnetita, frente ao eixo fácil e o eixo difícil em função do campo H [1.6]. Pode-se notar que a magnetização satura mais facilmente ao longo do eixo <1, 1, 1> (diagonal do cubo), o qual representa o eixo fácil (easy-axis) de magnetização. O eixo <1, 0, 0> necessita mais energia magnética para saturar a amostra e corresponde ao eixo difícil (hard-axis) de magnetização. A diferença entre as duas energias, vide item b (área verde entre as curvas), é uma medida da anisotropia magnetocristalina (EK) [1.6]. 5 Figura 1.4: em (A) os eixos de fácil e de difícil magnetização (easy-axis e hard-axis) para monocristais de Fe, Ni e Co, em que a resposta da magnetização é maior a um campo externo aplicado. Em (B), apresenta-se o comportamento da magnetização em função de H em duas direções distintas dos eixos cristalográficos - difícil em vermelho e fácil em azul para a magnetita. Além da contribuição magnetocristalina, existem contribuições que podem ser responsáveis pelo surgimento de um eixo de fácil magnetização, por exemplo, a anisotropia de forma (contribuição magnetostática), anisotropia magnetoelástica, anisotropia de superfície, entre outros [1.2]. Nesses casos pode, inclusive, surgir uma contribuição uniaxial, que, aliás, é comumente observada em ferritas em dimensões nanométricas. 6 1.4 Monodomínio magnético Uma descoberta importante feita por Weiss (1906-1907) foi que os momentos magnéticos de spins dos átomos se agrupam em um material bulk na forma de domínios magnéticos [1.1]. Um domínio é definido como uma região do material, dentro da qual os spins dos átomos têm o mesmo alinhamento magnético. Um domínio, portanto, comportase como um pequeno ímã. No caso de curtas distâncias, a interação de troca, responsável pelo ordenamento de longo alcance, prevalece sobre a interação dipolar, e há o favorecimento do ordenamento paralelo (caso ferromagnético). Ao se olhar para o interior de um domínio magnético, em uma curta distância, o ordenamento é paralelo. No caso de longas distâncias, a formação de outros domínios faz-se necessária para minimizar a energia de interação dipolar, com vários domínios magnéticos em direções diferentes, tendendo a anular a magnetização resultante no material. Na figura 1.5, observa-se, em (a), uma representação de um monodomínio em que os momentos magnéticos estão todos alinhados em um só sentido e apresentam uma magnetização máxima ou de saturação . Em (b), devido à energia de interação dipolar, o arranjo de mais baixa energia leva a dois domínios adjacentes com alinhamentos contrários sendo acoplados por uma região denominada de parede de Bloch. No item (c), apresenta-se uma configuração de multidomínios, com a presença de paredes de Bloch e uma magnetização resultante nula [1.1]. Figura 1.5: em (a), há um monodomínio magnético e, em (b), um acoplamento de dois monodomínios faz surgir a parede de Bloch. Em (c), afiguram-se os multidomínios separados pelas suas respectivas paredes de Bloch. 7 A parede de Bloch é uma região de interface na qual as magnetizações dos domínios vizinhos têm sentidos diferentes, ela exibe uma transição singular dos spins de um domínio para o outro. Dentro da parede, os spins giram gradualmente de forma a alinharem com os spins do domínio adjacente. A figura 1.6 exibe uma parede de domínio onde se vê a evolução na mudança da orientação dos spins, acoplando dois domínios adjacentes com diferentes magnetizações [1.1]. Existem outras configurações também, como, por exemplo, as paredes de Néel que surgem em filmes finos (vide Fig. 1.6 (c)). Figura 1.6: em (a), a parede de domínio acopla dois domínios com estados de magnetização distintos. Em (b), apresentam-se as paredes de Bloch perpendicularmente ao plano de magnetização dos domínios vizinhos. Em (c), as paredes de Néel são paralelas ao plano das magnetizações dos domínios [1.1]. 1.5 Diâmetro crítico Partículas com diâmetros da ordem de poucos nanômetros apresentam uma configuração monodomínio, mostrando propriedades muito interessantes e, às vezes, diferentes das propriedades que teria o material bulk. A primeira estimativa do diâmetro crítico para monodomínios foi proposta por Kittel (1946) [1.2]. Ele observou que amostras com dimensões da ordem de 10 a 100 nm apresentavam caráter magnético bem diferente das partículas macroscópicas. O diâmetro crítico depende de uma série de fatores, como a magnetização de saturação, a constante de anisotropia, a energia de troca e é expresso segundo a equação (1.2): 8 (1.2) , em que A é uma constante relacionada à integral de troca (J), anisotropia e é a constante de é a magnetização de saturação. Esta equação pode então ser usada para estimar os valores críticos abaixo dos quais se estima que o material possua apenas um domínio magnético. A figura 1.7 apresenta os diâmetros críticos para alguns materiais magnéticos [1.7]. Figura 1.7: materiais magnéticos e seus respectivos diâmetros que definem domínio simples (faixa cor preta Dsd) e superparamagnéticos (faixa segmentada Dsp). Em geral, trabalhar-se-á com amostras cujos diâmetros são menores que 15 nm e, portanto, estima-se que sejam constituídas apenas de monodomínios magnéticos. 1.6 Campo coercitivo e sua dependência dimensional A curva de magnetização de um material magnético pode ter contribuições do movimento de paredes de domínio ou rotação de spins, sendo fortemente dependente também da anisotropia magnética. De fato, cálculos teóricos demonstram que os campos de reversão (nucleação) dos spins possuem dependências dimensionais bem diferentes se estas se referem a sistemas multidomínio ou monodomínio. No último caso, quando a rotação dos spins é coerente (todos os spins giram conjuntamente), pode-se mostrar que o 9 campo coercitivo deve crescer com o aumento do diâmetro, ao passo que, no sistema multidomínio, o mesmo decresce. A figura 1.8 apresenta o gráfico do campo coercitivo em função do diâmetro do material magnético [1.1]. O diâmetro caracteriza a transição de um monodomínio para um multidomínio magnético. Além disso, abaixo de um diâmetro específico (D p) a partícula tem campo coercitivo nulo. Denomina-se este valor de diâmetro superparamagnético. A figura 1.8: o comportamento do campo coercitivo partículas magnéticas. em função do diâmetro (D) para Nota-se que partículas monodomínio podem se encontrar em dois regimes diferentes. No caso em que há claramente uma área histerética associada à curva de magnetização, denomina-se regime bloqueado (Dp < D < Ds), enquanto, no outro caso, em que a área é nula e o campo coercitivo também, o material magnético encontra-se no regime denominado superparamagnético (D < Dp). A curva de magnetização no regime bloqueado pode ser entendida (em alguns casos) usando o modelo de Stoner-Wohlfarth. 1.7 Modelo de Stoner-Wohlfarth Edmund Clifton Stoner e Erich Peter Wohlfarth em 1948 desenvolveram o primeiro modelo para descrever a curva de magnetização de partículas suficientemente pequenas [1.12]. Este modelo considera que as partículas são elipsóides alongados, possuindo, portanto, anisotropia uniaxial e magnetização uniforme, além de serem monodomínios magnéticos aonde seus spins giram coerentemente. 10 A figura 1.9 exibe um esferóide prolato com eixo de anisotropia ao longo de seu eixo fácil, a magnetização (M) numa direção tal que forma um ângulo com o eixo fácil e campo magnético (H) aplicado em outra direção (no mesmo plano) formando um ângulo ψ com o eixo fácil [1.13]. Figura 1.9: as direções do campo magnético (H) e da magnetização (M) em relação ao eixo fácil de magnetização. Neste caso, a energia total do sistema (E) é a soma da energia de anisotropia (primeiro termo à direita) com o termo Zeeman (segundo termo), como escrito na equação (1.3): , em que (1.3) é a constante de anisotropia uniaxial, V é o volume da partícula e Ms é a magnetização de saturação. Para encontrar as condições de equilíbrio da magnetização, devemos fazer a primeira derivada de E com respeito à que nos fornece a equação (1.4): (1.4) Com uso das propriedades trigonométricas, pode-se reescrever a equação (1.4) na forma da equação (1.5): (1.5) Enquanto que, no segundo termo, é fornecida a condição de mínimo de energia como escrito na equação (1.6): 11 (1.6) Desta minimização da energia, podem-se encontrar as posições de equilíbrio da magnetização. A figura 1.10 apresenta os resultados obtidos pelo modelo de Stoner-Wohlfarth para diferentes direções de campo magnético aplicado em relação ao eixo de anisotropia (ψ) [1.1]. Figura 1.10: curvas de histerese simuladas usando o modelo de Stoner-Wohlfarth em termos da magnetização reduzida e campo reduzido h=H/Hk para vários ângulos ψ (entre o eixo de anisotropia e campo aplicado). Nota-se que a área é máxima para o caso em que ψ=0. A equação (1.7) permite o cálculo do campo suficiente para girar a magnetização, sendo, portanto, igual ao campo coercivo ( . (1.7) Cabe ressaltar que, em casos reais, pode ser necessário incluir uma distribuição de eixos de anisotropia. Este fator, obviamente, modifica o comportamento da curva de magnetização. 12 1.8 Relaxação magnética Retorna-se à equação 1.3 na ausência de campo aplicado. Neste caso, tem-se apenas a energia de anisotropia. Os momentos magnéticos, portanto, possuem duas posições de equilíbrio possíveis como representado na figura 1.11 em 0 e 180 [1.0]. Figura 1.11: energia de um sistema uniaxial de partículas magnéticas na ausência de campo magnético. A figura 1.11 exibe duas orientações de mínima energia e uma barreira entre elas dada por K.V, onde V é o volume da partícula, K é a constante de anisotropia efetiva e é o tempo de relaxação. Quando se aplica o campo magnético em uma das orientações, o gráfico da energia em função da orientação do campo é distorcido até que surja, para campos suficientemente altos, apenas uma direção preferencial. Neste caso, a amostra atinge a saturação. Caso, no entanto, seja desligado o campo magnético, o sistema relaxará até que o equilíbrio seja alcançado novamente com dois mínimos. Existe, obviamente, um valor de campo a partir do qual não há mais dois mínimos bem definidos. Este valor está associado ao campo coercitivo. Na ausência de campo, os momentos magnéticos podem flutuar entre essas duas possíveis orientações. O tempo de relaxação, na equação (1.8) que caracteriza tal fenômeno, é denominado de relaxação de Néel-Brown [1.11,1.14]. 13 (1.8) O tempo é fortemente dependente da energia da barreira de anisotropia e da temperatura, sendo um tempo característico que também depende de parâmetros intrínsecos do material. Quando se aplica um campo magnético baixo é possível mostrar que a diferença entre o máximo e o mínimo de energia é escrito como na equação (1.9). , Retornando, portanto, à equação (1.8) e considerando (1.9) (com um tempo de medida), após alguns cálculos simples, temos que o campo coercitivo para um sistema monodomínio é escrito como na equação (1.10), em que o campo foi aplicado na direção do eixo de anisotropia. (1.10) Esta expressão é válida para T < TB, que é definido como temperatura de bloqueio escrita em (1.11), como: (1.11) Para temperaturas menores que TB, as partículas encontram-se no regime bloqueado (havendo área histerética), caso contrário, encontram-se no regime superparamagnético. Nota-se que a equação (1.10), para uma temperatura fixa, pode ser escrita em termos do diâmetro superparamagnético, como em (1.12). (1.12) Essa expressão é válida para D > DSP, ou seja, no regime bloqueado. Nota-se que ela explica o crescimento do campo coercitivo em função do aumento do diâmetro da nanopartícula para amostras monodomínio (vide figura 1.8). Neste caso, DSP é escrito como em (1.13). (1.13) 14 1.9 Superparamagnetismo A esta altura, encontra-se a presente tese em condições de oferecer melhor o entendimento do regime superparamagnético. Nesse caso, o campo coercitivo é nulo. De acordo com a análise anterior, isso é válido para temperaturas maiores que a temperatura de bloqueio ou diâmetros menores que o diâmetro superparamagnético. De fato, tal condição depende não somente de propriedades intrínsecas do material magnético, mas também do tempo de medida , que obviamente depende da técnica experimental utilizada [1.3,1.7]. Se o tempo de medida é muito maior do que as partículas têm tempo de inverter a magnetização diversas vezes. Logo, na média, em ausência de campo aplicado, a magnetização medida é nula e a partícula encontra-se no regime superparamagnético. Por outro lado, se é menor do que , não há tempo suficiente para os momentos magnéticos flutuarem de uma orientação de equilíbrio a outra, portanto os momentos magnéticos das partículas parecerão bloqueadas, i.e. existirá uma magnetização remanente. Para o caso de um magnetômetro convencional, em que o tempo de medida característico é da ordem de s, com da ordem de , tem-se . Assim a equação (1.14) fornece o seguinte valor para o volume superparamagnético. (1.14) Logo, se V < VC, não há área histerética e o campo coercitivo é nulo. O modelo superparamagnético despreza a contribuição energética da anisotropia e a interação entre as nanopartículas. Neste caso, obtém-se para a magnetização do material magnético, para um sistema monodisperso, a seguinte equação (1.15): (1.15) em que é a função de Langevin e o argumento é a razão entre o termo Zeemann e a energia térmica. No limite de baixo campo, a função de Langevin é expandida e a susceptibilidade inicial estática ( ) é obtida na equação (1.16) como: (1.16) 15 Finalmente, é relevante observar que não se deve confundir o regime superparamagnético com o estado termodinâmico paramagnético. No último, não há mais ordenamento de longo alcance, enquanto, no primeiro, ainda há, ou seja, os spins encontram-se no estado termodinâmico ferrimagnético, de tal forma que, em uma medida de magnetometria, não se observa área histerética. Logo, não há uma correspondência entre a temperatura de bloqueio e a temperatura de ordenamento, apesar de a teoria prever comportamento para a susceptibilidade do tipo Curie. 1.10 Processos de relaxação em fluidos magnéticos Em fluidos magnéticos, as nanopartículas encontram-se dispersas de forma estável no líquido carreador. Além do mecanismo de relaxação de Néel-Brown, outro termo decorrente do processo de relaxação browniano pode ter que ser levado em conta [1.10]. Este é fortemente dependente da viscosidade do líquido, sendo descrito como em (1.17): , em que é o volume hidrodinâmico da partícula, (1.17) é a viscosidade do fluido e T é a temperatura absoluta. No caso de colóides magnéticos, podem ocorrer duas contribuições para a relaxação da magnetização, portanto deve-se levar em conta o tempo de relaxação efetivo [1.8,1.9 ] que é dado pela equação (1.18). (1.18) Nesta tese, será desprezada, em geral, a contribuição browniana, já que a maior parte das medidas de hipertermia magnética foi realizada com amostras em pó, e, somente em casos restritos, serão apresentados resultados em fluidos magnéticos. 1.11 Perda de potência específica (SAR) Em material magnético ou dispositivo electromagnético, a capacidade de aquecer é quantificada através da taxa de absorção específica de energia (SAR), definida como a 16 quantidade de energia convertida em calor, por tempo e massa. A equação que rege o SAR [1.8] em uma amostra é escrita da seguinte forma (1.19): (1.19) em que é a massa total da amostra em kg, é o calor específico da mesma em ( )e é a massa total da amostra expressa em gramas, para que o SAR seja expresso em watts por grama ( ). 1.12 Técnicas de caracterização 1.12.1 Introdução A caracterização de uma amostra é uma fase delicada e trabalhosa que depende de vários equipamentos. O número de técnicas de caracterização, em acordo ao conjunto de parâmetros que sejam relevantes nas análises, devem formar uma base de dados para que se possa concluir, de forma segura e precisa, o comportamento de cada amostra frente a um fenômeno investigado. A seguir, será descrito, de forma sucinta, o conjunto de técnicas utilizadas para caracterizar as amostras. Nesta tese de doutorado, utilizamos amostras de nanopartículas à base de maguemita (-Fe2O3), ferrita de cobalto (CoFe2O4), ferrita de cobre (CuFe2O4), ferrita de níquel (NiFe2O4) e ferrita de zinco (ZnFe2O4) em uma larga faixa de diâmetros (3nm à 14nm). 1.12.2 Magnetometria Os dados de magnetometria, como magnetização de saturação ( remanente ( ) e campo coercitivo ( ), magnetização ) foram obtidos com uso de um Magnetômetro de Amostra Vibrante (VSM) [1.20], fabricado pela empresa ADE e cujo modelo é o EV7. A maioria da amostras está na forma de pó e o momento magnético total de cada amostra foi obtido em unidades eletromagnéticas (emu) no magnetômetro. Para exprimir a medida em emu/g, bastou dividir o momento magnético total pela massa da amostra em gramas que foi utilizada no momento da medida. No caso da expressão em emu/(cm)3, foi o bastante 17 multiplicar a medida em emu/g pela densidade específica da amostra (). O valor da magnetização de saturação foi obtido por extrapolação da curva de magnetização em regime de mais alto campo. No manual das especificações técnicas, o fabricante informa que o VSM pode gerar campos magnéticos de intensidades máxima de 20.000Gauss, com resolução de até 0.001Gauss, sensibilidade 10-5 emu e precisão máxima de 1%. Este VSM está instalado no Laboratório de Magnetometria e Magnetotransporte do Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás. 1.12.3 Ressonância magnética eletrônica (EMR) Com o uso da técnica de Ressonância Magnética Eletrônica (EMR), extraíram-se do sinal de ressonância de cada amostra a largura de linha ( e o campo de ressonância . Usando a teoria de ressonância ferromagnética [1.21], pode-se mostrar que a frequência de ressonância é escrita em termos da densidade de energia livre na forma da equação (1.20) (1.20) Por sua vez, a largura de linha é dada por . No caso particular de campo aplicado na direção do eixo de anisotropia, e considerando na densidade de energia apenas os termos de anisotropia uniaxial e Zeeman, é possível estimar a constante de anisotropias efetiva ( ) das nanopartículas como escrito na equação (1.21). (1.21) em que é a freqüência do micro-ondas na banda-X e é a razão giromagnética. Devido ao processo de passivação na superfície das nanopartículas, em uma etapa específica da síntese [1.15,1.16], há a possibilidade de formação de uma estrutura coreshell. Ao longo da tese, ficará claro que a técnica de ressonância ferromagnética permitiu estimar, além da anisotropia efetiva ( ), o fator de amortecimento ( ) das amostras, 18 usando tanto dados de quanto . A exceção foi a série de ferrita de cobalto (CoFe2O4), que exibiu espectros indefinidos em banda X, devido ao alto valor do coeficiente de amortecimento Isto foi possível de forma relativa, a partir da estimativa desse valor para a maguemita (Fe), como escrito na equação (1.22) (1.22) em que é o valor do fator de amortecimento da ferrita base, ressonância e é o campo de é a largura de linha desta mesma ferrita. 1.12.4 Microscopia eletrônica de transmissão (MET) Dentre as técnicas atuais, uma das ferramentas mais poderosas para a observação direta de estruturas, formando imagens em escala atômica, é a do Microscópio Eletrônico de Transmissão (MET). Nesta tese de doutorado, foram utilizadas imagens de MET de uma amostra de ferrita de cobalto e outra de maguemita. Determinou-se por amostragens dos diâmetros nas imagens o diâmetro mais provável, o diâmetro médio e o grau da polidispersão em tamanhos. Para tal, foi utilizada a equação (1.23), que representa a função de distribuição do tipo log-normal ( ) [1.17,1.18]. (1.23) em que é a largura característica da polidispersão, é o diâmetro e modal. O diâmetro mais provável D’ e o diâmetro médio < é o diâmetro > são dados respectivamente na forma da equação (1.24). e (1.24) A análise da polidispersão em tamanhos para as ferritas de cobalto (CoFe 2O4) foi possível mediante o uso de um microscópio de transmissão de elétrons (TEM) da marca e modelo JEOL-1100 operando com um feixe de elétrons a 80kV (dados obtidos na UnB 19 pela Dra. Adriana Drummond) e, para as amostras de maguemita, foi utilizado um microscópio da marca JEOL-modelo JEM 3010 operando em 300kV (dados obtidos pelo Ms. Marcus Carrião no Laboratório Nacional de Luz Sincroton - LNLS - em CampinasSP). 1.12.5 Difração de raios-X e o método de Rietveld A difração de raios-X do material magnético na forma de pó é utilizada para revelar a estrutura cristalina e pode ser utilizada para estimar o tamanho médio das nanoparticulas magnéticas. A partir do difratograma, os picos de difração são comparados aos valores da ficha padrão (ASTM) para identificar a estrutura cristalina da nanopartícula. Por outro lado, utilizando a fórmula de Scherrer, que relaciona a dimensão de nanocristais com a largura do feixe difratado, é possível calcular o tamanho médio das nanopartículas, como mostra a equação (1.25): (1.25) em que é a largura a meia do pico de difração ( comprimento de onda de raios-X, é o ângulo de difração e ) [1.22], éo =0.9. O método de Rietveld, também denominado como refinamento de Rietveld, é uma ferramenta para a caracterização de materiais policristalinos [1.19], sendo usado para o refinamento de estruturas cristalinas a partir de dados de difração de raios X ou de difração de nêutrons de amostras na forma de pó. A estrutura cristalina é refinada, de forma a fazer com que o difratograma calculado se aproxime do difratograma experimental. O processo de ajuste entre o difratograma calculado e o observado baseia-se no método dos mínimos quadrados. O processo é iterativo e envolve uma série de parâmetros que são refinados a cada ciclo de iteração, até que se atinja o máximo possível de convergência. Este método foi aplicado nas amostras desta tese pelo colaborador Dr. Juliano de Andrade Gomes, que obteve no refinamento vários parâmetros relevantes, como o diâmetro de Rietveld (drr) e a distribuição de cátions, mostrando que a maioria das nossas amostras tem uma estrutura espinel inversa, isto é, x=1. Os difratogramas de raios-X da 20 maior parte das amostras foram obtidos no Laboratório Nacional de Luz Sincroton (LNLS). Para as amostras de CoFe2O4, CuFe2O4, NiFe2O4 e ZnFe2O4, utilizou-se de um difratômetro modelo D12A-XRD1, enquanto para a amostra de maguemita (γ-Fe2O3), denominada de MA25, foi utilizado um equipamento da marca e modelo Shimadzu-XRD 6000 com radiação de localizado no IQ-UFG. Os parâmetros obtidos nas diversas técnicas de caracterização de 52 amostras sólidas na forma de pó, que compõem 5 diferentes tipos de nanopartículas à base de ferritas, quais sejam, de maguemita (γ-Fe2O3), cobalto (CoFe2O4), cobre (CuFe2O4), níquel (NiFe2O4) e zinco (ZnFe2O4), estão agrupadas na tabela 1.0 (A) e 1.0 (B) e formam a base de dados utilizada nas diversas investigações de hipertermia magnética nesta tese de doutorado. Tabela 1.0 (A): série de nanopartículas sólidas, na forma de pó, à base de ferritas de maguemita (γ-Fe2O3) e cobalto (CoFe2O4), com seus correspondentes parâmetros obtidos nas diversas técnicas de caracterização utilizadas. Nome Material Diâmetro RR Erro EF (nm) KEf Ms Ms HC Mr (erg.cm3) (emu.g-1) (g.cm-3) (emu.cm-3) (Oe) (emu) d Hr (Oe) MA10 γ-Fe2O3 7.86 1.79 0.11 1.12 4.47E4 33.91 5.18 175.65 0.97 2.56E-03 0.27 0.84 2.86E3 MA25 γ-Fe2O3 9.33 1.81 0.12 2.77 6.92E4 41.01 5.18 212.43 2.69 9.04E-03 0.71 2.06 2.720E3 MA30 γ-Fe2O3 10.10 1.94 0.03 2.06 3.47E4 32.11 5.18 166.33 0.92 1.79E-03 0.45 1.60 2.95E3 MFI1 γ-Fe2O3 3.10 2.01 0.09 0.03 7.64E3 25.08 5.18 129.91 1.50 4.84E-04 0.00 0.03 3.25E3 MFI2 γ-Fe2O3 3.50 2.10 0.05 0.06 9.77E3 27.94 5.18 144.73 1.86 8.73E-04 0.01 0.05 3.23E3 MFI3 γ-Fe2O3 5.30 1.64 0.07 0.31 2.52E4 34.25 5.18 177.41 1.06 1.06E-03 0.05 0.26 3.08E3 MFI4 γ-Fe2O3 4.20 2.29 0.15 0.08 7.81E3 24.87 5.18 128.83 1.52 4.52E-04 0.01 0.07 3.24E3 MTA1 γ-Fe2O3 9.20 2.37 0.18 4.04 9.67E4 51.25 5.18 265.47 8.53 3.10E-02 0.95 3.09 2.64E3 MTA2 γ-Fe2O3 9.40 2.04 0.34 4.29 9.46E4 51.28 5.18 265.63 6.90 2.65E-02 0.99 3.30 2.65E3 MTA3 γ-Fe2O3 9.90 2.17 0.29 5.22 9.57E4 52.53 5.18 272.11 8.57 3.43E-02 1.17 4.04 2.66E3 CA3 CoFe2O4 3.10 2.82 0.11 0.16 3.54E5 24.82 4.91 121.87 0.66 3.03E-05 0.13 0.02 - CB3 CoFe2O4 3.40 1.96 0.10 0.20 3.54E5 20.89 4.91 102.57 1.42 3.34E-04 0.18 0.02 - CC1 CoFe2O4 8.40 5.00 0.55 5.70 4.84E5 50.76 4.91 249.23 219.40 2.11E-01 3.63 2.07 - CC3 CoFe2O4 9.10 3.94 0.21 5.77 2.77E5 55.41 4.91 272.06 152.53 2.79E-01 2.64 3.13 - CD1 CoFe2O4 12.90 3.65 0.49 14.91 2.64E5 51.61 4.91 253.41 261.28 4.06E-01 7.16 7.75 - CD2 CoFe2O4 13.60 5.51 0.56 21.40 3.22E5 57.24 4.91 281.05 298.65 4.25E-01 10.24 11.16 - CD3 CoFe2O4 13.50 8.36 1.28 26.82 4.22E5 64.09 4.91 314.68 347.94 5.08E-01 13.13 13.69 - CDA1 CoFe2O4 8.90 2.58 0.14 0.88 2.31E4 25.58 4.91 125.60 0.50 1.41E-03 0.26 0.62 - CDA2 CoFe2O4 9.30 3.02 0.27 1.61 2.18E5 36.09 4.91 177.20 0.30 1.09E-03 0.19 1.42 - CDA3 CoFe2O4 10.90 2.45 0.11 9.42 1.05E5 15.58 4.91 76.50 1.12 2.55E-04 8.99 0.43 - CDA4 CoFe2O4 11.40 2.23 0.01 1.64 1.70E5 28.42 4.91 139.54 0.35 5.35E-04 0.02 1.62 - CDA5 CoFe2O4 12.90 2.53 0.08 4.44 1.96E4 28.53 4.91 140.08 0.35 5.36E-04 2.07 2.37 - 21 Tabela 1.0 (B): série de nanopartículas sólidas, na forma de pó, à base de ferritas de cobre (CuFe2O4), níquel (NiFe2O4) e zinco (ZnFe2O4), com seus correspondentes parâmetros obtidos nas diversas técnicas de caracterização utilizadas. Nome Material Diâmetro RR Erro EF (nm) KEf Ms Ms HC Mr (erg.cm3) (emu.g-1) (g.cm-3) (emu.cm-3) (Oe) (emu) d Hr (Oe) CUE0 CuFe2O4 9.30 1.37 0.08 0.95 2.31E4 23.19 5.41 125.46 0.50 1.41E-03 0.23 0.71 3.005E3 CUE1 CuFe2O4 10.10 1.88 0.08 4.66 2.18E5 32.70 5.42 177.23 0.30 1.09E-03 2.84 1.82 9.05E2 CUE2 CuFe2O4 4.20 3.05 0.34 0.18 1.05E5 14.10 5.42 76.42 1.12 2.55E-04 0.16 0.02 - CUE3 CuFe2O4 7.70 1.63 0.07 1.48 1.70E5 25.73 5.42 139.46 0.35 5.35E-04 0.98 0.50 9.23E2 CUE4 CuFe2O4 10.10 1.81 0.07 1.39 1.96E4 25.83 5.42 140.00 0.35 5.36E-04 0.25 1.14 3.10E3 CUE5 CuFe2O4 10.30 1.05 0.13 4.16 1.93E5 28.79 5.42 156.04 0.30 1.07E-03 2.67 1.50 8.90E2 CUE6 CuFe2O4 8.40 1.35 0.10 -- -- 24.79 5.42 134.36 21.12 4.03E-02 - 0.60 - CUE7 CuFe2O4 11.30 1.06 0.15 3.73 4.43E4 35.09 5.41 189.84 0.40 1.77E-03 0.81 2.92 2.90E3 CUE8 CuFe2O4 8.30 1.43 0.08 -- -- 21.69 5.40 117.13 0.21 4.98E-04 - 0.44 - CUE9 CuFe2O4 8.70 1.37 0.11 0.90 2.80E4 24.73 5.42 134.04 0.55 1.02E-03 0.23 0.67 2.95E3 CUE10 CuFe2O4 5.80 2.11 0.14 0.14 1.32E4 18.31 5.42 99.24 0.28 2.60E-04 0.03 0.11 3.10E3 Ni1 NiFe2O4 6.40 2.08 0.02 0.58 1.26E5 19.44 5.36 104.20 1.35 8.12E-04 0.42 0.16 9.37E2 Ni2 NiFe2O4 5.10 1.97 0.09 0.26 1.15E5 18.19 5.36 97.50 0.60 1.39E-04 0.19 0.07 9.97E2 Ni3 NiFe2O4 9.20 1.92 0.09 2.94 1.94E5 28.62 5.36 153.40 1.06 2.41E-03 1.91 1.03 2.784E3 Ni4 NiFe2O4 4.90 1.90 0.39 0.21 1.05E5 16.55 5.36 88.71 0.30 5.61E-05 0.16 0.05 9.95E2 Ni5 NiFe2O4 6.50 1.75 0.08 0.73 1.45E5 22.52 5.36 120.71 0.30 1.88E-04 0.50 0.23 9.70E2 Ni6 NiFe2O4 7.90 2.07 0.06 1.79 1.86E5 28.13 5.36 150.78 0.45 5.82E-04 1.16 0.63 8.98E2 Ni7 NiFe2O4 12.80 2.25 0.06 10.40 2.40E5 34.45 5.36 184.65 4.40 1.34E-02 6.37 4.02 7.60E2 Ni8 NiFe2O4 5.30 1.54 0.12 0.24 2.42E4 28.65 5.34 152.99 0.31 2.67E-04 0.05 0.20 3.05E3 Ni9 NiFe2O4 8.20 1.82 0.09 1.32 4.03E4 34.25 5.33 182.55 0.54 1.23E-03 0.28 1.03 2.92E3 Ni10 NiFe2O4 6.30 2.02 0.03 0.15 1.14E4 16.52 5.44 89.87 4.28 7.00E-03 0.04 0.11 3.11E3 ZN1 ZnFe2O4 6.50 2.85 0.15 0.36 1.52E4 26.40 5.37 141.77 0.33 1.62E-04 0.05 0.31 3.15E3 ZN2 ZnFe2O4 6.60 1.72 0.34 0.42 1.58E4 28.10 5.37 150.90 0.29 1.08E-04 0.06 0.37 3.16E3 ZN3 ZnFe2O4 8.30 1.82 0.09 1.46 4.39E4 35.11 5.36 188.19 0.24 6.97E-04 0.32 1.14 2.90E3 ZN4 ZnFe2O4 9.0 2.10 0.09 2.47 5.28E4 41.05 5.36 220.03 0.27 1.08E-03 0.49 1.98 2.888E3 ZN6 ZnFe2O4 8.60 1.70 0.11 1.74 4.68E4 36.41 5.36 195.16 0.27 8.47E-04 0.38 1.36 2.88E3 ZN7 ZnFe2O4 12.80 1.16 0.11 4.96 3.86E4 34.16 5.35 182.76 2.02 5.52E-03 1.02 3.94 2.94E3 ZN8 ZnFe2O4 8.70 1.73 0.07 - - 33.62 5.36 180.20 0.25 4.75E-04 - 1.20 - ZN9 ZnFe2O4 7.10 2.84 0.18 - - 28.36 5.32 150.88 0.25 2.67E-04 - 0.46 - ZN10 ZnFe2O4 6.50 1.62 0.39 0.65 3.45E4 34.49 5.36 184.87 0.50 4.96E-04 0.12 0.53 2.99E3 Referências bibliográficas [1.0] CRAIK, D., Magnetism: Principles and Applications., John Wiley & Sons, New York, 1995. 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John Wiley & Sons, New York, 1996. 23 Capítulo 2 Equipamento de hipertermia magnética para nanopartículas 2.1 Introdução Nanopartículas magnéticas sob ação de um campo magnético alternado podem gerar uma determinada quantidade de calor. A produção de um campo magnético em uma única espira circular de raio r e perímetro l está fundamentada na lei de Biot-Savart [2.1]. Se o elemento de corrente que atravessa esta espira circular é de natureza alternada (IAc), então um vetor campo magnético elementar alternado induzido é gerado como resposta à ação deste elemento de corrente em um ponto P ao longo do eixo perpendicular ao plano da bobina figura 2.0. Figura 2.0: espira circular percorrida por um elemento de corrente produz um campo magnético elementar em um ponto P, ao longo do eixo x, que é perpendicular ao plano da bobina. Sobrepondo n espiras de iguais características, constrói-se um solenoide, ao qual comumente chamamos de bobina. Para uma dada corrente, cada espira do solenoide contribuirá com igual parcela para o campo magnético total e faz do solenoide um 24 multiplicador do campo magnético. Este arranjo é o que justamente torna a bobina da figura 2.1 o elemento transdutor adequado para o equipamento de hipertermia magnética. Figura 2.1: sobreposição de n espiras produz um campo magnético e as linhas de campo são agora concentradas no interior do solenoide, como mostra a figura em menor tamanho. A figura 2.1 mostra que as nanopartículas devem ser inseridas em uma posição específica no interior da bobina, para que ocorra um desejável acoplamento entre o campo magnético alternado e a amostra. A figura 2.2 mostra uma simulação, usando um software FEMM (Finite Element Method Magnetics) [2.2], para análise da densidade de campo magnético em uma espira (a), três espiras (b) e nove espiras (c). Com o aumento do número de espiras, há um aumento da densidade de linhas no interior do solenoide (cor amarela) e também uma progressiva uniformidade do campo magnético no centro da bobina (cor rosa claro). 25 Figura 2.2: simulação usando o software FEMM (Finite Element Method Magnetics) para analisar a densidade de campo magnético em uma espira (a), três espiras (b) e nove espiras (c). No equipamento de hipertermia magnética, utiliza-se de uma rede de capacitores e uma bobina, adequadamente associados, de modo a formarem mais eficientemente o transdutor ou elemento produtor do campo magnético alternado. Essa associação pode estar no modo série ou paralelo e deve ser ligada a um amplificador de tensão alternada, que prove e regule a energia necessária à produção do campo magnético alternado. O conjunto transdutor (RLC), acoplado ao amplificador, opera na condição de ressonância e é pertencente à classe dos amplificadores sintonizados [2.3]. Para manter a excitação do transdutor, o amplificador necessita de uma fonte de sinal alternado de referência, na freqüência de ressonância do RLC, o que torna todo conjunto um oscilador de potência, ressonante em uma determinada freqüência característica do sistema (0). Antes, porém, de que os resultados obtidos sejam apresentados, faz-se necessária uma breve revisão sobre osciladores. 2.2 Teoria do oscilador harmônico forçado Em mecânica clássica, um oscilador sem perdas é constituído por um sistema que, ao ser deslocado de sua posição de equilíbrio por uma força restauração do tipo , experimenta uma força de (Lei de Hooke) [2.4]. Um oscilador que representa bem este sistema é o conjunto massa mola como o da figura 2.3. 26 Figura 2.3: oscilador mecânico constituído por um conjunto massa- mola, sujeito a uma forca restauradora do tipo , em que é uma posição qualquer fora da posição de equilíbrio do sistema, é a constante da mola, m é a massa do corpo e é a força perturbadora do sistema. A equação de movimento para um oscilador harmônico forçado, com perdas dissipativas, segue a Lei de Newton na forma de uma equação diferencial de segunda ordem com coeficientes constantes e escrita como na equação (2.1): (2.1) em que é a amplitude de oscilação, freqüência natural do sistema (rad/s) e é a constante de amortecimento, éa é a freqüência da fonte perturbadora (rad/s). Para o caso do oscilador na equação 2.1, ao se atingir o regime estacionário, a solução transiente derivada da equação homogênea é desprezada. A solução harmônica é escrita na forma da equação 2.2. (2.2) em que A é a amplitude de oscilação e é o ângulo de fase que exprime o atraso de resposta do sistema à força aplicada. A determinação da amplitude (A) pode ser obtida considerando uma solução na forma complexa ( em que é obtido da relação ) e que na forma polar é reescrita como , · Resolve-se simultaneamente o sistema de equações escritas em (2.3): (2.3) 27 O sistema de equações (2.3) é reduzido a uma única equação fazendo , e escrita na equação (2.4): (2.4) Adotando-se como tentativa a solução e , na qual se tem que , pode-se reescrever a equação (2.4) na forma da equação (2.5): (2.5) A equação (2.6) exibe o valor de z0. (2.6) É mais fácil, entretanto, trabalhar a equação (2.6) com o denominador na forma polar, fazendo , e reescrevê-la na equação (2.7): (2.7) Dessa maneira, a solução z (t) toma a forma da equação (2.8): (2.8) em que . A parte real da equação (2.8) é a solução para o caso do regime estacionário, assim, a equação (2.9) é a solução final para o oscilador harmônico: 28 (2.9) A amplitude de oscilação A ( é escrita na equação (2.10): (2.10) A freqüência na qual o sistema entra em ressonância ( ) leva a amplitude a assumir o seu valor máximo. Esta amplitude é obtida fazendo com que a derivada , como mostra a equação (2.11): (2.11) A equação (2.11) permite obter a condição para que a ressonância ocorra. De acordo com o numerador desta equação, a condição é que fonte ( A freqüência da ) é então escrita na forma da equação (2.12): (2.12) O fator de qualidade (Q) é descrito em termos do fator de amortecimento na equação (2.13): (2.13) Analisando a equação (2.13), fica evidente que elevados valores de Q estão associados a pequenas perdas no oscilador. A curva A(w) versus , no gráfico da figura 2.4, ilustra quatro curvas simuladas para distintos valores de Q. Os picos das curvas mostram que, à medida que o fator de mérito (Q) aumenta, o pico torna-se mais estreito e a amplitude tende a valores elevados. 29 Figura 2.4: comportamento da amplitude ressonância. em função , em que é a freqüência de A impedância (Z) de um oscilador harmônico mecânico é definida como na equação (2.14): (2.14) Usando o fato de que e , reescreve-se a equação (2.14) na forma da equação (2.15): Z= em que a reatância é X = (2.15) , e a resistência estática R=b. A fase , que exprime o atraso de resposta do oscilador a força aplicada, é escrita na forma da equação (2.16): (2.16) A solução final para a equação de movimento é reescrita na equação (2.17): 30 (2.17) em que é a amplitude de oscilação. A potência média absorvida em um período ( ) é escrita na equação (2.18): (2.18) Usando o fato de que e que , a equação (2.18) pode ser reescrita em função da resistência estática na condição de ressonância, na forma da equação (2.19): (2.19) A equação (2.19) mostra que a potência média dissipada depende da velocidade máxima e da constante de amortecimento do sistema (R=b). Há uma estreita relação entre um circuito RLC-série e um oscilador do tipo massamola, por exemplo: o capacitor faz o papel do inverso da constante K da mola no cálculo da energia potencial, o indutor representa a massa no cálculo da energia cinética, a carga q representa o deslocamento x e a corrente i = dq/dt tem como correspondência a velocidade v = dx/dt no oscilador mecânico. A tabela 2.1 resume a analogia entre circuitos mecânicos e elétricos [2.4,2.7]. Tabela 2.0: relações entre parâmetros mecânicos e elétricos em um oscilador harmônico de natureza mecânica (massa-mola) e de natureza elétrica (RLC). Parâmetros Mecânicos Deslocamento, x. Velocidade, V=dx/dt. Aceleração, a=d2x/dt2. Massa, m. Constante elástica da mola, K. Coeficiente de atrito, b. Força de atrito, - b.dx/dt Parâmetros Elétricos Carga, q. Corrente, i= dq/dt. Variação de corrente, di/dt= d2q/dt2. Indutância, L. Inverso da capacitância, 1/C. Resistência, R. Queda de tensão, - R.I= -R. dq/dt 31 2.3 Oscilador elétrico senoidal forçado Em osciladores elétricos, os elementos de circuito passivos, como resistores, capacitores e indutores, têm especial importância na construção de transdutores de energia. Esses dispositivos de circuito podem ser associados de forma a constituir um circuito denominado de RLC [2.5,2.8]. A presente análise foca-se na arquitetura do circuito denominado de RLC paralelo, que está exibido na figura 2.5: Figura 2.5: circuito RLC-paralelo, com fonte de excitação por corrente alternada. Três correntes fundamentais, Is, Ir, IL e IC, podem circular na malha em um dado instante t, permitindo a análise nodal do circuito. Usando a lei dos nós de Kirchhoff para as correntes na figura 2.6, tem-se na equação (2.20) que: (2.20) Usando a definição de cada termo à direita na equação (2.20), pode-se escrever a equação da corrente como na equação (2.21). (2.21) A tensão em módulo no indutor é definida como , que substituindo na equação (2.21) e usando o fato da tensão ser a mesma em cada elemento do circuito ( vide figura 2.26) podemos reescrever a equação (2.21) na forma da equação (2.22): (2.22) A equação (2.22) tem a forma geral de uma equação de segunda ordem, igualmente para o caso do oscilador mecânico forçado na equação (2.4), e a solução em regime 32 estacionário para estes osciladores são semelhantes [2.6]. Dividindo todos os membros da equação anterior (2.22) por LC, a equação diferencial para a corrente I pode ser reescrita na forma da equação (2.23). (2.23) Na equação (2.23), tem-se que a força externa, análoga à do oscilador mecânico, é dada por . Como , a solução da equação (2.23) é então reescrita no regime estacionário, como na equação (2.24). (2.24) em que a reatância indutiva é dada por Z = , com a frequência em (Hz). A impedância é . No caso de o circuito RLC paralelo estar em ressonância com a fonte ( e fase , ), a equação (2.24) é finalmente reescrita na equação (2.25). (2.25) A razão entre a corrente que circula no indutor ( ) e acorrente que circula na fonte = , é dada na equação (2.26): (2.26) Na equação (2.26), há dois pontos importantes: o primeiro é que o valor da corrente no indutor é tanto maior quanto menor for a resistência equivalente do indutor ( prática, observa-se normalmente que a resistência ) e, na O segundo ponto é que a corrente no indutor é a corrente na fonte multiplicada pelo fator ). Esse fato mostra o benefício de se usar o circuito RLC paralelo, em ressonância, a fim de que seja 33 obtida uma corrente maior na bobina em detrimento de uma corrente menor no amplificador (fonte de tensão alternada) que alimenta o conjunto RLC. 2.3.1 Fator de mérito e potência média Em um oscilador real RLC-paralelo, o capacitor e o indutor apresentam resistências internas. O indutor, por exemplo, exibe uma resistência de corpo e afeta o fator de mérito . Este fator, conhecido também como fator de qualidade, é calculado pelo razão entre a resistência equivalente da bobina ( impedância equivalente da bobina ( entanto, a resistência equivalente ) em paralelo com a resistência da Fonte ( )ea ) [2.8]. Na maioria das aplicações práticas, no e portanto o fator de mérito pode ser aproximado na equação (2.27): (2.27) O fator de mérito (Q) em circuito RLC-paralelo, portanto, coincide com o fator de qualidade da própria Bobina (QL). O ângulo de fase () é obtido da relação entre Z, R e X (reatância) na figura 2.6. Figura 2.6: representação em termos dos fatores das grandezas Z, R e X permite determinar o ângulo de fase () no circuito RLC. 34 A fase () é matematicamente escrita na equação (2.28) como: (2.28) A potência média em um circuito RLC paralelo é dada pela equação (2.29). (2.29) No caso da ressonância, a equação (2.4) é reescrita como na equação (2.30). (2.30) 2.4 Equipamento de hipertermia magnética O equipamento de hipertermia magnética é a associação de vários equipamentos eletrônicos distintos, com um sistema de refrigeração normalmente fechado. O equipamento de indução térmica é o que tem a função de gerar um campo magnético alternado através de uma bobina. O pirômetro é a parte do equipamento cuja função é mensurar sem contato a temperatura do corpo posicionado no interior da bobina. O sinal assim gerado é uma grandeza analógica, na qual a intensidade é função da temperatura. A transformação desta grandeza analógica em uma grandeza digital é realizada em um circuito conversor A/D (analógico/digital). Esse conversor pode ser um item separado ou integrado ao pirômetro, dependendo de com que precisão e velocidade forem realizadas as medidas de temperatura. As medidas advindas do conversor A/D seguem para um microcomputador, onde o software dá o tratamento final aos dados da temperatura do corpo de prova. A condição de ressonância no equipamento de hipertermia magnética é realizada via oscilador externo levemente variável em freqüência. Por fim, um sistema de refrigeração retira todo o calor gerado pelo equipamento de indução térmica (conjunto RLC, fonte variável de tensão e amplificador de potência). A figura 2.7 ilustra de forma sucinta a conexão lógica das partes constituintes do equipamento de hipertermia magnética para nanopartículas (diagrama de blocos). Uma 35 fonte de potência converte a tensão da rede local VAC em uma tensão VDC regulável a ser aplicada ao amplificador de potência. O referido amplificador excita a bobina de campo usando o sinal do oscilador, em uma potência previamente ajustada pelo operador na fonte. A amostra de nanopartícula deve ser posicionada no interior da bobina, para que ocorra o aquecimento desta. O sinal do oscilador deve estar ajustado na freqüência de ressonância do sistema RLC (500kHz). O pirômetro está opticamente acoplado à amostra, onde faz as medidas de temperatura que seguem no formato analógico até o bloco conversor analógico digital. O sinal digital é levado ao computador através da interface do conversor A/D, e, uma vez estando no microcomputador, o software específico processa os dados de maneira conveniente ao operador do sistema. Figura 2.7: diagrama de blocos do equipamento de hipertermia magnética para nanopartículas. Na figura 2.8, tem-se uma visão geral do equipamento de hipertermia magnética construído nesta tese de doutorado com base no diagrama de blocos da figura 2.7. No item (a) desta figura, estão os equipamentos referentes aos blocos “conversor A/D” (multímetro em amarelo) e o computador pessoal referente ao bloco “computador”. No item (b), tem-se a fonte de tensão que corresponde ao bloco “Fonte de Potência AC/DC” e, no item (c), o conjunto RLC refere-se ao bloco “Bobina”. Já no item (d), apresenta-se o driver de excitação do conjunto RLC, referente no diagrama de bloco ao “Amplificador de Potência”. O item (e) faz referência no diagrama de blocos ao “Ocilador 550kHz”, onde se vê o gerador de funções. Os itens (f) e (g) referem-se, no diagrama de blocos, ao “Sistema de Refrigeração”. 36 Figura 2.8: foto do equipamento de hipertermia magnética construído. Em (a), afigura-se o sistema de aquisição de dados e o computador, em (b) vê-se a fonte de tensão DC variável, e em (c), o conjunto LC-Match ligado ao amplificador indicado por (d). Em (e), afigura-se o oscilador para ajuste da ressonância e, por fim, (f) e (g) ilustram os sistemas de refrigeração a óleo e a água respectivamente. 2.4.1 Arquitetura do amplificador de potência Um amplificador para indução térmica deve ser capaz de manipular altas correntes, suportar altas tensões e ter uma banda passante compatível com a freqüência na qual vai operar. A característica dos semicondutores utilizados, por vezes, torna o projeto do amplificador mais caro. À medida que aumenta a potência e a freqüência de operação, os semicondutores de comutação (transistores) são submetidos a maiores correntes, maiores tensões e maiores perdas por dissipação de calor [2.9]. Essas perdas internas e externas ao componente semicondutor advêm das resistências, indutâncias e capacitâncias parasitas. Há técnicas para redução das perdas, por comutação nos transistores do amplificador, mas, de modo geral, o custo aumenta significativamente com o tipo da tecnologia adotada para desenvolver o circuito. 2.4.2 Arquitetura Half-Bridge As arquiteturas eletrônicas dos circuitos permitem arranjos que distribuem a potência de forma mais equilibrada entre os transistores no circuito. Uma clássica configuração é o sistema em meia ponte (Half-Bridge), que, em um circuito amplificador 37 linear, é conhecido pela classe de operação (AB) [2.3]. Nesta classe, utilizando transistores bipolares, a metade do ciclo de uma onda é conduzida por um dos transistores e o outro semiciclo, pelo outro transistor. Embora se trate de amplificador, esta configuração tem um ganho de tensão unitário ( ). A figura 2.9 ilustra bem esta condição. Figura 2.9: circuito operando em classe AB de condução, em que um dos transistores conduz no primeiro semiciclo da onda (em vermelho) e o outro, no semiciclo posterior azul. O circuito da figura 2.10 exibe estágio final simplificado de excitação, em um sistema indução térmica. Nota-se a arquitetura Half-Bridge e o uso de transistores mosfet canal-n para excitação de um circuito RLC, onde a bobina LT é a bobina de indução magnética. Figura 2.10: circuito Half-Bridge simplificado, baseado no uso de dispositivos comutadores do tipo mosfet canal-n. Esta é uma configuração típica, muito usada em um estágio final de um amplificador comutado para indução térmica. 38 2.5 Bobina e capacitor do sistema ressonante Para o caso de uma bobina helicoidal, define-se na figura 2.11 a sua altura ( ), o espaçamento entre as espiras (S), o diâmetro da bobina (D), o diâmetro do fio cilíndrico totalmente sólido (W) e o número de espiras (n). A partir dessas definições é calculada a indutância (L) aproximada da bobina [2.10-2.12], segundo a equação (2.31). (2.31) Figura 2.11: modelo para o cálculo da indutância em uma bobina helicoidal de altura H, diâmetro D, distância entre espiras S e com o diâmetro do condutor circular W. 2.5.1 Construção do conjunto LC O conjunto RLC paralelo é construído experimentalmente por uma associação paralela de um indutor com um banco de capacitores. A resistência (R) é interna ao próprio corpo do indutor. Doravante esta tese designará o sistema ressonante de circuito LC. Como o indutor apresenta uma resistência interna, ele dissipa uma quantidade de calor que deve ser retirada por um sistema de refrigeração, com circulação de água. A melhor opção é adotar um tubo de cobre oco como fio para o indutor, permitindo assim que a água circule pelo interior do tubo arrefecendo o mesmo. O capacitor é substituído, na prática, por um banco de capacitores associados em paralelo, de forma a reduzir às perdas por equivalência série das resistências parasitas internas ao capacitor (ESR) [2.13,2.14]. A divisão da corrente alternada entre os vários capacitores do banco é uma forma de evitar a alta 39 corrente por único capacitor, minimizando as perdas. Há ainda a necessidade de refrigeração, o que pode ser feito alojando o banco de capacitores em um recipiente isolante e refrigerado com óleo. 2.5.2 Circuito do L-LC ou L-Match Network Os transistores mosfet que constituem o estágio final de excitação do conjunto LC, na configuração Half-Bridge, apresentam um fenômeno ligado aos diodos de recuperação e (ligados entre o dreno e o source do mosfet) dentro do invólucro de cada um, como exibe o driver na figura 2.12. Estes diodos são necessários para bloquear a tensão reversa gerada por cargas indutivas . O tempo de recuperação dos diodos (trr) pode ser insuficiente acima de uma dada freqüência, causando uma condução indesejável dos dois diodos de modo a levar à destruição dos mesmos pela fonte (curto circuito). Uma técnica adequada de excitação deve garantir a comutação por zero volt dos diodos (ZVS) [2.15]. Figura 2.12: dois diodos de recuperação , ligados respectivamente ao transistor mosfet - têm a função de bloquear tensões reversas geradas por cargas indutivas. As características dinâmicas de cada transistor mosfet raramente são próximas e, normalmente, apresentam uma diferença nos tempos de comutação. Em freqüências mais elevadas nos mosfet (500kHz), estas diferenças são pronunciadas e podem fazer com que e conduzam no mesmo instante. Esta condição de condução simultânea leva a 40 destruição quase imediata do driver. Para melhorar a comutação dos transistores, é utilizado um indutor em série Lmatch com o circuito LC e um capacitor Cmatch paralelo a este, como já exibido na figura 2.10. Esta nova configuração é denominada de LCLR ou Lmatch. Isto proporciona que os harmônicos gerados por comutação em onda quadrada pelo driver não cheguem a produzir neste uma carga adicional. A impedância que a fonte sente é maior, aliviando ainda mais a corrente no driver na condição de ressonância. Esta redução é devido à reatância adicional deste indutor. O capacitor adicional (C match) em paralelo com a impedância de L é considerado como parte do banco de capacitores. O benefício imediato é produzir melhor desempenho do tempo de condução dos mosfet, entretanto, um valor excessivo de indutância em L match reduz a potência dissipada no sistema [2.16]. De forma geral, ele atua também como filtro para os harmônicos acima da freqüência fundamental de comutação. A figura 2.13 ilustra em separado o circuito L-Match Network ou L-LC. A fonte sente uma impedância complexa que tem uma parte real Rs (cabos e resistência interna da fonte) e uma parte complexa, devido à impedância indutiva em série ( do indutor paralelo com C é dada por da bobina, e , em que . A impedância é a própria resistência interna é a impedância complexa. Normalmente , pois é a resistência interna estática do indutor. Figura 2.13: circuito LCRL ou simplesmente L-match. A fonte alternada (Vac) esta sob a ação de uma impedância equivalente igual a [ ]. A parte real equivale, respectivamente, à resistência interna da fonte e à resistência interna estática do indutor. 2.5.3 Parâmetros elétricos e geométricos da bobina A bobina é o primeiro elemento de circuito a ser idealizada em um projeto de hipertermia magnética. Esta deve possuir uma geometria que permita o correto 41 acoplamento magnético com a peça de trabalho (nanopartícula) e a sua área interna deve permitir que a amostra seja posicionada sem significativa transferência de calor com o corpo da bobina (isolamento por condução e convecção). A bobina deve ainda possibilitar um ângulo visual correto na medida da temperatura da superfície na amostra (se usado um pirômetro), um fio com secção transversal oca para a circulação de uma substância refrigerante na bobina (água). A conformação do fio deve ser feita de modo a permitir uma boa isolação elétrica entre as espiras e a amostra, produzindo um fluxo de campo homogêneo e mais concentrado possível sob o corpo de trabalho. A resistencia interna da bobina deve possibilitar um . Todas estas condições são, por vezes, difíceis de conseguir. A conformação mecânica, por exemplo, vai influenciar na indutância final da bobina e deve desviar-se do cálculo teórico, sendo que o quanto dependerá do recurso tecnológico disponível, para a conformação da geometria desejada. A expressão para o cálculo da indutância em uma bobina (L), construída de forma helicoidal com fio de cobre tubular [2.17], é escrita como em (2.32): (2.32) em que n é o numero de espiras, é o raio externo da bobina de trabalho metros, é o comprimento da bobina em metros. A tabela 2.1 exibe as características do cobre utilizado como fio na bobina e outros materiais possíveis de utilização. Tabela 2.1: propriedades do condutor de cobre, usado na construção da bobina. Material Cobre Prata Condutividade S /m 58.1 62.5 Resistividade Permeabilidade H.m .m 0.0172 1 0.00158 1 Densidade Kg/m3 7861.13 10.500 A tabela 2.2 exibe os valores das dimensões do indutor. Estes dados são referentes a uma bobina construída com fio de cobre oco e cilíndrico. O valor da indutância é calculado segundo a expressão (2.32) é de . 42 Tabela 2.2: dimensões físicas da bobina construída com fio de cobre tubular oco. Dimensões n Valores 0.017 m 0.1012 m 9 voltas A figura 2.14 é um diagrama mecânico simplificado da bobina, indicando todas as dimensões utilizadas no cálculo da indutância. Figura 2.14: diagrama mecânico simplificado da bobina e suas dimensões físicas. A figura 2.15 ilustra o indutor real, construído para o equipamento de hipertermia magnética, com fio de cobre oco e tubular. Figura 2.15: indutor construído para uso no equipamento de hipertermia magnética. Um tubo de cobre oco, com nove expiras justapostas em formato helicoidal com espaçamento médio entre elas de 2 mm. 43 Com o indutor calculado, determina-se o valor do capacitor equivalente do banco pela equação (2.33). (2.33) O capacitor resultante da associação paralela é de valor nominal encontrado comercialmente foi de . O capacitor com com tensão máxima suportável de 1.6kV. Dividindo-se a capacitância equivalente total calculada pelo valor nominal de cada capacitor, 4.7 nF, resulta-se em aproximadamente 46 capacitores em paralelo com tensão máxima suportável de 1.6kVAC. A figura 2.16 exibe um dos capacitores de poliéster metalizado adquirido para construção do banco capacitivo. Figura 2.16: imagem de um dos elementos que formam o banco de capacitores, de um total de 46 elementos de circuito associados em paralelo. Com a capacitância equivalente ), retomamos ao cálculo da freqüência de ressonância e o valor teórico obtido foi de . A figura 2.17 exibe o conjunto de capacitores alojados em um invólucro resistente à circulação de óleo e conectado ao indutor em paralelo, formando o circuito LC de indução. 44 Figura 2.17: o circuito LC com a bobina de indução em (a) e o banco de capacitores em (b). O conjunto perfaz o circuito LC em paralelo do equipamento de hipertermia magnética. Os equipamentos utilizados na medida experimental de ressonãncia foram: um gerador de freqüência da marca e modelo Minipa MFG-4201 e um osciloscópio da marca e modelo Tektronix-TDS-350 acoplados ao conjunto LC. A medida foi realizada ajustando a freqüência sob os terminais de LC até a máxima amplitude exibida na tela do osciloscópio. A freqüência experimental de ressonância foi de f=503.17kHz. A medida da freqüência de ressonância permite também compararmos o valor da indutância teórica com o valor deduzido indiretamente com o experimento. A tabela 2.3 resume os parâmetros obtidos teoricamente e experimentalmente para o indutor, o capacitor e a freqüência de ressonância. Na medida experimental da capacitância (C), foi utilizado um multímetro de 4 e 3/4 dígitos da marca e modelo Minipa-ET2800 na função capacímetro, com resultado aproximado de . O desvio percentual calculado em relação ao valor teórico é exibido também nesta tabela. Tabela 2.3: valor teórico e experimental de cada componente utilizado na construção do circuito LC, o parâmetro da freqüência natural do conjunto LC e o módulo do desvio relativo percentual. Componente ou Parâmetro Indutor Capacitor Equivalente do Banco Freqüência de Ressonância Teórico Experimental 0.0465H 0.0464H 216.2nF 215.0nF 500kHz 503.7kHz 0.2 0.6 0.7 45 Com os valores experimentais tabelados, o cálculo do fator de mérito com o uso da equação (1.33) resultou em um fator de mérito 148. 2.5.4 Parâmetros elétricos do circuito ressonante O conjunto LC possui capacidade de suportar tensão máxima de 1600Vp, entretanto uma boa regra de engenharia admite que seja dada uma margem de segurança de 20% nesta tensão. Assim fica definido com segurança o valor de 1280V p máximo para o banco de capacitores utilizados. O indutor deve ser isolado com verniz adequado, estando em paralelo com o banco de capacitores, e a tensão nas extremidades mais externas das espiras é a mesma deste. A resistência estática ( interna da bobina é calculada levando em consideração os parâmetros geométricos (comprimento do tubo de cobre oco, diâmetro da bobina) e do parâmetro da resistividade do cobre. Com os dados retirados da tabela 2.3 e com os dados geométricos na figura 2.14, o valor de . A reatância equivalente ( ), obtida com os valores experimentais da tabela 2.3, chega-se a 2.6 Sistema de refrigeração O sistema de refrigeração é constituído de três partes: a primeira é um circuito fechado de refrigeração, que utiliza óleo como agente refrigerante no banco de capacitores do conjunto LC. Uma bomba mantém o fluxo de óleo que transporta o calor gerado até um radiador ventilado. A segunda é um sistema de refrigeração aberto, utilizando a água como elemento refrigerante da bobina indutora. A terceira é um sistema feito por refrigeração forçada do ar, com uso de ventoinhas nos dissipadores do amplificador. A figura 2.18 exibe em (a), a parte referente à refrigeração a óleo. Uma bomba e mangueiras fazem o óleo circular pelo banco. Ainda na figura em (b), afigura-se o sistema de refrigeração para a bobina de indução e, em (c), a refrigeração forçada a ar, por ventoinhas no amplificador de potência. 46 Figura 2.18: no item (a), o sistema de refrigeração a óleo, utilizado no banco de capacitores. Em (b), apresenta-se o sistema de refrigeração da bobina indutora de campo magnético, cuja refrigeração é por água circulante na mesma. A imagem em (c) ilustra a refrigeração forçada a ar no amplificador de potência. 2.7 Porta amostra e seu posicionamento na bobina Amostra de nanopartícula, como elemento de corpo de prova, requer um recipiente que possa ser posicionado de forma precisa até o ponto em que o campo magnético seja mais intenso. O uso de materiais em fase sólida ou líquida implica um porta amostra de fácil limpeza, evitando contaminação e permitindo de modo seguro a medida da massa pelo operador. O material usado na construção física de um porta amostra deve suportar as temperaturas envolvidas, sem perder a sua forma ou distorcê-la. Deve também ser inerte ao campo magnético AC. Na figura 2.19, os itens (a) e (b) ilustram respectivamente duas seringas descartáveis e um porta amostra, ambos utilizados para posicionar material líquido ou sólido à base de nanopartículas. O posicionamento espacial é feito através de uma seringa descartável colocada no interior da bobina de indução. Isso permite que, acoplado ao pistão desta, o porta amostra se desloque por toda a extensão da bobina. Uma fina mangueira flexível conecta a seringa interna à seringa externa da bobina, figura 2.19 item (a). Na mesma figura, o item (b) ilustra o porta amostra conectado por pressão ao pistão de borracha de uma seringa avulsa. Isto permite suporte mecânico ao porta amostra, na aferição da massa em uma balança. 47 Figura 2.19: (a) duas seringas acopladas por uma mangueira flexível. A menor delas é introduzida no interior da bobina de indução e permite que haja o deslocamento do porta amostra por toda a sua extensão. (b) porta amostra utilizado nas experiências com nanopartículas nas fases sólida ou líquida acoplado por pressão a um pistão de borracha avulso de uma seringa descartável. A figura 2.20 exibe uma vista superior da bobina de indução, com a seringa para deslocamento do corpo de prova contido no porta amostra. Figura 2.20: vista superior da bobina de indução acoplada à seringa de deslocamento do corpo de prova contido no porta amostra. 48 2.8 Intensidade do campo magnético na bobina Para medir o campo magnético alternado no interior da bobina de indução, foi utilizado um sensor de campo da empresa AFM Life Sytems. Este sensor permite medir o campo radial e axial no interior da bobina de indução. A figura 2.21 exibe o sensor e seus componentes acessórios. Figura 2.21: sensor do campo magnético alternado utilizado para medir as componentes do campo magnético na direção axial e radial. A faixa de operação está no gráfico, fornecido pela empresa, na figura 2.22. Figura 2.22: faixa de operação do sensor de campo magnético, bem como os seus limites máximos e mínimos na composição campo por freqüência. 49 Com o sensor da figura 2.21, foi obtido o comportamento da intensidade do campo magnético em função da tensão de regulação da fonte de alimentação, do equipamento de Intensidade de Campo Magnético (HAc (Oe)) hipertermia magnética. O gráfico na figura 2.23 exibe esse comportamento. 140 130 120 110 Intensidade de Campo magnético (HAc- Oe) f=500KHz 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 Tensão (mV) Figura 2.23: intensidade do campo magnético AC (Oe), com a variação da tensão alternada (VAC), ajustada na fonte do equipamento para hipertermia magnética em nanopartículas. 2.9 Calibração do pirômetro Os termômetros dividem-se em dois tipos fundamentais: os de contato e de não contato. Cada tipo de termômetro tem sua especificidade e sua escolha recai nas condições do ambiente de operação e precisão necessária. Há atualmente uma profusão de tipos de termômetros. A tabela 2.4 exibe alguns dos principais tipos de termômetros usados atualmente na pesquisa e indústria com suas equações básicas de recorrência. Focar-se-á fundamentalmente em dois tipos de termômetros, sendo um de contato (Termopar) e um de não contato (Pirômetro). 50 Tabela 2.4: alguns dos principais tipos de termômetros utilizados em pesquisa e na indústria com suas respectivas equações básicas de recorrência. Alguns dos Principais Tipos de Termômetros Equação de Recorrência Termômetro de Gás a Volume Constante Termômetro de Dilatação Termômetro de Resistência Metálica Termômetro Com Diodos Semicondutores Termopar Pirômetro Fibra óptica Para medir a temperatura, foi utilizado como base um pirômetro da marca e modelo ICEL-TD970 com dupla mira laser. A tabela 2.5 exibe os parâmetros do pirômetro utilizado, fornecido pelo fabricante ICEL no manual de operação do equipamento. Tabela 2.5: parâmetros de exatidão, tempo de resposta, emissividade e fator de distância do pirômetro modelo TD-870 da marca ICEL, utilizado como base para o medidor de temperatura sem contato no equipamento de hipertermia magnética. Neste pirômetro, foi feita uma tomada em seu circuito eletrônico, para se ter acesso à tensão proporcional à temperatura diretamente no seu sensor de infravermelho. Esse pirômetro tem uma relação focal de 12:1 e sua mira de laser dupla permite um correto posicionamento do campo visual do pirômetro. A figura 2.24 mostra o arranjo realizado em que se permite colocá-lo na posição correta em relação à amostra na bobina indutora. O tripé garante a posição perpendicular do pirômetro à superfície da amostra e uma blindagem adicional com papel alumínio evita interferências eletromagnéticas pela proximidade o conjunto ressonante. Os fios ligados ao pirômetro levam o sinal analógico até o conversor A/D e promovem também a alimentação elétrica no circuito deste. 51 Figura 2.24: o pirômetro modificado, operando na faixa do infravermelho, que possibilita medir a temperatura sem contato de cada amostra em análise. A figura 2.25 ilustra o diagrama funcional de um pirômetro operando no infravermelho. A superfície S emite uma intensidade de radiação que é primeiramente focalizada com uma lente de baixa atenuação nesta região do espectro. Normalmente é construída à base de materiais como iodeto e ou brometo de tálio, que transmitem bem no espectro do infravermelho. Após esta etapa, um filtro seleciona a banda de comprimento de onda à qual o termômetro é mais sensível. O sistema óptico define o que se chama de campo de visão (FOV-field of view), constituído pela lente e diafragmas que definem o ângulo utilizável pela lente e o campo de abertura [2.18]. O detector mais utilizado é o de fótons, os quais incluem Silício (espectro de comprimento de onda na faixa de 0,5 a 1,1 m), Germânio (espectro de comprimento de onda na faixa de 0,5 a 1,8m) e sulfeto de chumbo (espectro de comprimento de onda na faixa de 0,5 a 2,8m). O sinal elétrico gerado pode ser no modo foto-condutivo (presença de uma tensão no sensor para operar) ou foto-voltaico (junção PN). Após este acondicionamento ótico e a geração de uma tensão proporcional à intensidade da radiação eletromagnética incidente, o sinal é amplificado e o ganho deste amplificador é ajustado para compensar a emissividade de vários tipos de materiais. Por último, um display exibe o valor da temperatura, etapa na qual se podem utilizar ou um conversor analógico digital (A/D) ou um sistema mais elaborado com microprocessador. 52 Figura 2.25: diagrama de um pirômetro operando em um comprimento de onda na faixa do infravermelho. O pirômetro obedece à lei de Stefan Boltzmann (vide equação (2.34), que mostra a potência irradiada por um corpo dependente do coeficiente de emissividade. (2.34) em que , , a área e T a temperatura ( K). O segundo sensor de temperatura usado como referência é um termopar. A figura 2.26 ilustra as curvas de linearidade e de composição metálica dos termopares mais utilizados nas diversas indústrias e segmentos de pesquisa [2.19]. Figura 2.26: curvas de voltagem em função da temperatura para termopares, construídas com diferentes tipos de materiais com sensibilidades e linearidades diferentes. São largamente utilizados em diversas indústrias e laboratórios de pesquisa. 53 Para calibrar o pirômetro, selecionou-se um termopar do tipo K (Crome /Alumel) por possuir uma boa linearidade de operação. Um resistor de filme metálico, acoplado a uma fonte de tensão contínua, foi utilizado para promover a variação de temperatura necessária à calibração. No corpo do resistor, foi exposta a superfície metálica e acoplado adequadamente o termopar com uma pasta térmica adicionada com nanopartículas, de forma a simular a cor das amostras, evitando assim a correção de emissividade ( ) do pirômetro. As nanopartículas utilizadas têm sua cor variando em uma escala estreita, do marrom escuro ao marrom claro, e esta variação não produziu perceptível mudança na leitura da tensão no sensor do pirômetro à mesma temperatura. O pirômetro foi previamente desmontado e foi aproveitado o sistema óptico e o sensor de infravermelho, o qual produz uma tensão contínua na faixa de milivolts, proporcional à temperatura irradiada no substrato do resistor. A superfície exposta do resistor foi colocada perpendicularmente ao pirômetro, em uma distância fixa, de forma que o campo visual cobrisse o alvo (sensor termopar + superfície do resistor). O trio pirômetro termopar e o resistor (controlado por uma fonte de tensão contínua) proporcionam dois sinais importantes. O primeiro é proveniente do termopar e mede a temperatura real do substrato (referência), o segundo é o sinal do sensor do pirômetro em milivolts contínuo, que é proporcional à temperatura irradiada no substrato. Estes dois sinais são digitalizados no multímetro da marca e modelo MINIPA-ET2800 e a precisão garantida pelo fabricante é de na escala VDC em mV. Esse multímetro tem uma interface em seu circuito interno (RS-232), que permite a comunicação com o computador pessoal. A sua função fundamental é a de converter o sinal analógico proveniente do pirômetro em um formato digital (conversor A/D). Essa conversão é feita a taxas mínimas de 1s na amostragem, que são suficientes para as aquisições de temperatura. A figura 2.27 mostra o multímetro (conversor A/D) utilizado na montagem do equipamento de hipertermia magnética com conexão ao computador pessoal (PC) via interface RS-232. O software de aquisição é fornecido pelo fabricante da marca (Minipa) junto com o multímetro. 54 Figura 2.27: ao lado do microcomputador, afigura-se o multímetro, que possui incorporado internamente um conversor A/D capaz de fazer a conexão ao PC via interface RS 232. Uma curva de transferência foi obtida com o uso do aplicativo gráfico Origin (versão 8.1). O gráfico na figura 2.28 exibe o comportamento da tensão em mV do pirômetro pela temperatura no termopar em ºC (curva em Azul). Um fitting, com equação polinomial de 4º ordem, foi utilizado para encontrar a função de transferência (curva em vermelho). Esta curva de transferência obtida por fitting tem a função de transformar a tensão proveniente do sensor interno do pirômetro, com o uso da função polinomial de 4º grau que a representa, em um valor correspondente de temperatura que tem como referência de calibração o termopar do tipo K (Crome /Alumel). Isso permitiu que fosse desprezado qualquer circuito interno do pirômetro, com exceção do sistema óptico e do sensor de infravermelho, reduzindo os possíveis erros de processamento e transferência de dados. Também o ajuste de uma cor na calibração permitiu que a leitura no pirômetro ficasse independente da emissividade ( ) para este conjunto específico de nanoparticulas utilizados nesta tese. 55 160 Temperatura do Termopar (°C ) 150 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 25 30 35 40 45 50 55 Tensão contínua no pirômetro (mV) Figura 2.28: tensão do pirômetro (mV) em função da temperatura (ºC) do termopar. A curva em vermelho é o melhor ajuste dos dados (curva em azul). A função de transferência, que está representada no gráfico em vermelho, na figura 2.28, tem a forma da equação (2.35). (2.35) O pirômetro, segundo o procedimento acima adotado, está aferido com o termopar do tipo K. O pirômetro pode então ser acoplado à bobina de indução e posicionado perpendicularmente a amostra. Utiliza-se, como referência espacial, o duplo feixe de laser de baixíssima potência (< 1mW interno ao pirômetro) para posicionar a amostra dentro da bobina. O corpo da seringa dentro da bobina permite a retirada do corpo de prova e reposicioná-lo novamente frente a uma nova medida. O operador deve ajustar a posição da amostra até que os feixes de laser do pirômetro se cruzem na superfície da mesma, garantindo sempre a mesma distância adotada no ato da calibração do pirômetro. 56 2.10 Amplificador de potência A configuração adotada na construção do amplificador de potência do equipamento de hipertermia magnética segue uma combinação de “dois mundos”, isto é, a eficiência de um amplificador classe (E) e a arquitetura Half-Bridge. A figura 2.29 exibe o circuito elétrico do amplificador de potência. Um par de transistores é utilizado para comutação do tipo mosfet canal N (Q1 e Q2) e a carga em cada um deles é uma fase da bobina de indução (L1 e L2). O centro da bobina é o ponto de aplicação da tensão regulada pela fonte de alimentação externa (V2). O oscilador local (V3) é um gerador de funções, que aplica primeiramente o sinal à entrada do transistor bipolar (Q 5) de baixa potência e resposta rápida. Os transistores (Q3 e Q4) ajustam o sinal em tensão, corrente e fase, de forma que possam ser aplicados nas condições de correta operação para os transistores no estágio final de potência (Q1 e Q2) via transformador (T 1) divisor de fase. Os transistores do estágio final fornecem tensão e corrente drenada da fonte (V2) à carga LC na freqüência de ressonância. A fonte V2 é externa e variável de 0V à 100VDC. Essa configuração, apesar ter eficiência em torno 85%, não permite que sejam aplicadas tensões na fonte que superem o limiar da corrente e da tensão de ruptura dos semicondutores comutadores (Q1 e Q2) (Icmáx e Vce Breakdow). Figura 2.29: circuito elétrico do amplificador de indução térmica. O esquema eletrônico exibe a ligação dos componentes necessários para conformação do sinal elétrico a ser aplicado ao conjunto LC-match. 57 Ainda no circuito da figura 2.29, o conector I01 é uma entrada para o gerador de funções (oscilador externo), cuja amplitude deve ser no máximo de 5 volts de pico (Vp) com forma de uma onda senoidal. O conector I 02 é uma entrada para inibir a operação do amplificador, sendo que o sinal de controle advém de um timer externo. Este timer tem tripla função: a de ligar e desligar o amplificador de potência, acionar o sistema de refrigeração e o fornecer um sinal de início e parada para o software no computador, assegurando que se executem as aquisições da temperatura de modo sincronizado com o campo magnético na bobina de indução. Todos os dados importantes do conjunto ressonante estão resumidos na tabela 2.6. Tabela 2.6: grandezas elétricas e geométricas, com os respectivos valores aferidos experimentalmente, usadas para o cálculo do amplificador de potência. Parâmetros Valores Vdc (máx) 100V L 0.046H C 215H Número de espiras (n) 9 Q 148 XL 1.468 REST. 0.01 FRESS. 504kHz Considerando que valor máximo da tensão na fonte seja de , o valor médio , pode ser escrito como na equação (2.36): (2.36) O valor médio quadrático da tensão à tensão máxima da fonte e o valor da tensão de pico em relação são determinados respectivamente nas equações (2.37): e, (2.37) 58 Pode-se agora calcular a corrente IAC(rms) no circuito LC ressonante. O valor da corrente média quadrática IAC(rms) é calculado como na equação (2.38): (2.38) A corrente na equação (2.38) é a circulante na bobina de indução para caso da condição de ressonância. Note, entretanto, que caso seja tomado o valor de pico tensão, a corrente de pico será de A potência média quadrática da . é dada pela equação (2.39): (2.39) Considerando que a eficiência do amplificador classe D pode variar de 72% a 95% [2.20] e tomando o pior caso, a potência . Para garantir a margem de operação dos transistores mosfet, que se tinha no momento do projeto, com as especificações da máxima tensão suportável recomendada nas especificações do componente (IRFP 260N/200V Break-Dow), limitou-se a tensão da fonte a Com esse limite de tensão e recalculada a tensão de pico, o novo valor é de contínuos. , um valor abaixo do máximo permitido para uso nestes transistores. A potência média quadrática, levando a eficiência no pior caso (72%), é agora . Se forem considerados os valores médios da eficiência (85%) encontrados em muitos artigos científicos da área em R.F [2.20-2.22], a potência média quadrática será neste caso de . A tabela 2.7 exibe as características fundamentais do amplificador para o sistema de hipertermia magnética, em nanopartículas sólidas e líquidas afins. 59 Tabela 2.7: parâmetros técnicos do amplificador. Dados Dados Valores Fator Q 148 L Zdin 1.418 C Rest 0.01 fress 504kHz N espiras Valores (e) 9 2.11 Medidas com o equipamento de hipertermia magnética. Medidas preliminares em hipertermia magnética foram realizadas a fim de ilustrar e verificar o potencial do sistema. A figura 2.30 exibe o aquecimento de uma barra de ferro ao rubro localizada no interior da bobina indutora por ação do efeito "Eddy-Current” [2.23,2.24]. A temperatura atinge o valor de 319ºC em 5s de exposição ao campo magnético alternado no interior da bobina de indução. O campo magnético alternado atinge uma intensidade de 133Oe na freqüência de 500kHz. 60 Figura 2.30: aquecimento de uma barra de ferro introduzida no interior da bobina de indução durante 5 s, elevando sua temperatura a 319ºC. A intensidade do campo magnético alternado e a freqüência são respectivamente 133Oe e 500kHz. O porta-amostra é um elemento essencial para conduzir a massa da amostra ao interior da bobina de indução magnética. O material e sua geometria devem ser adequados ao uso com o equipamento de hipertermia magnética, permitindo boa isolação térmica com a bobina indutora e troca rápida e segura da amostra nela contida. A figura 2.31 exibe as dimensões do porta amostra (PA) para sólidos e para líquidos construídos com plástico de polipropileno, cujo calor específico é . Figura 2.31: dimensões simplificadas de porta amostras para sólidos (a) e para líquidos (b), utilizados nas medições de temperatura em hipertermia magnética. 61 O calor gerado na bobina de indução deve ser isolado o máximo possível do corpo de prova colocado no seu interior. Este isolamento térmico, na prática, não é ideal e foram feitas medidas para verificá-lo entre a bobina de indução e o corpo de prova. Uma massa de água foi colocada em um porta amostra (PA) e posicionada no interior da bobina de indução em local específico, cuja maior intensidade espacial de campo magnético foi aferida previamente com o uso do sensor de campo magnético alternado. Esta posição é também padrão para todas as amostras medidas e referência para medida de temperatura com o pirômetro. Sob a ação da maior intensidade do campo magnético (133Oe), foram realizadas as medidas de evolução da temperatura no conjunto LC e no porta amostra contendo 0.09g de água deionizada. O intervalo de tempo considerado nas medidas foi de 300s e várias configurações foram utilizadas para verificar o isolamento térmico entre a bobina e o porta amostra com a água. Configurações das medidas utilizadas: 1. bobina sem porta amostra e com campo magnético; 2. porta amostra no interior da bobina sem água com campo magnético; 3. porta amostra no interior da bobina com água e com campo magnético; 4. corpo externo da bobina com o campo magnético; 5. temperatura do ambiente; Dos itens (1, 2, 3, 4 e 5) acima, foram gerados os gráficos exibidos na figura 2.32. 62 26.35 28.5 Configuração 1 Configuração 2 Configuração 3 Configuração 4 Configuração 5 Temperatura ambiente 28.0 26.30 Temperature (°C) Temperature (°C) 27.5 26.25 26.20 2 1 3 27.0 4 26.5 5 26.0 25.5 26.15 25.0 26.10 0 (a) 50 100 150 200 250 300 350 Tempo (s) 24.5 0 50 (b) 100 150 200 250 300 Tempo (s) Figura 2.32: gráficos de temperatura em função do tempo. Em (a), afigura-se o comportamento da temperatura ambiente e, em (b), a evolução nas temperaturas das configurações 1, 2, 3, 4 e 5. No gráfico (a) da figura 2.32 correspondente à configuração 5, em que a temperatura ambiente flutua em torno de . Em (b), a curva de preto é a evolução da temperatura por tempo no espaço interno da bobina sem o PA (configuração 1), exibindo uma variação de temperatura . A configuração 2 se refere à curva em vermelho, com o PA exibindo uma variação de temperatura . A curva em rosa é referente à variação da água colocada no interior do PA, configuração 3, com a variação na temperatura . A curva em azul exibe o comportamento termico do corpo da bobina, configuração 4, em que há um transiente abrupto de temperatura ao ligar o campo. Após um intervalo curto de tempo a temperatura estabiliza próximo à , com uma variação de temperatura . A curva na cor verde é o comportamento da temperatura ambiente em função do tempo. Os resultados destes procedimentos mostram que a temperatura (curva em rosa) do conjunto porta amostra mais água ficou abaixo da variação de temperatura do corpo da 63 bobina (curva em azul) em um mesmo tempo de evolução (300s). Neste período de medição, a bobina mostrou relativa isolação térmica com o PA, exibindo uma diferença de temperatura entre os máximos de 0,4°C a mais para o corpo da bobina. Isso reforça a importância de se manter a temperatura do corpo da bobina o mais estável possível, pois, à medida que se diminui seu diâmetro, este isolamento térmico degrada com a diminuição do raio da bobina e da dimensão do PA. O gráfico na figura 2.33 ilustra um conjunto de três medidas de temperatura. Duas das medidas são de uma amostra à base de ferrita de níquel (NiFe2O4), cujo diametro é drr = 7.9nm, e se submetem a dois campos magnéticos de intensidades diferentes (133Oe e 90 Oe). A curva pontilhada em vermelho se refere à variação de temperatura por tempo do porta amostra (vazio), sob a intensidade de campo magnético máximo (133Oe) (denominada no gráfico de PA). 80 Variação de Temperatura (K) 75 Curvas sólidas - NiFe2O4 70 Curva segmentada-Porta Amostra (PA) 65 drr 7.9nm 60 55 H=113 Oe 50 45 40 35 30 H=68 Oe 25 20 15 10 H=133 Oe PA 5 0 0 50 100 150 200 250 300 350 Tempo (s) Figura 2.33: comportamento da temperatura em função do tempo para três campos magnéticos AC. A curva na cor preta é referente à intensidade de campo de 133Oe e a curva em azul é referente a 90Oe, sendo ambas as intensidades aplicadas à mesma amostra de ferrita de níquel (NiFe2O4) na forma sólida (pó) e com diâmetro de Rietveld (d rr=7.9nm). A curva pontilhada em vermelho refere-se à variação de temperatura por tempo do porta amostra vazio sob a ação de uma intensidade de campo magnético de 133Oe. 64 Três medidas foram realizadas em uma única amostra líquida e nas mesmas condições (massa, tempo de medida, temperatura inicial e intensidade de campo magnético). O gráfico obtido na figura 2.34 exibe as curvas de temperatura por tempo destas três aquisições. As taxas ( ) estão na legenda do gráfico, ao lado de suas respectivas medidas M1, M2 e M3. O desvio percentual estatístico das taxas é de aproximadamente 8.5%, o que implica um mesmo desvio para valor do SAR de aproximadamente 8.5%. 307 M2-Taxa=0.10926 M3-Taxa=0.12474 305 Temperatura (K) Erro da taxa 8.5 M1-Taxa=0.11138 306 H=68 Oe Amostra-Líquida Massa=0.3g 304 303 302 301 300 299 0 50 100 150 200 250 300 Tempo (s) Figura 2.34: evolução da temperatura com o tempo para três medidas repetitivas (M1, M2 e M3) de amostras líquidas nas mesmas condições (massa, tempo e temperatura inicial). Três taxas ( ) foram calculadas e estão ao lado de suas respectivas medidas na legenda do gráfico. O desvio percentual estatístico encontrado nas taxas é de 8.5%, sendo o mesmo para o parâmetro SAR. Na seqüência, tem-se, na figura 2.35, uma imagem feita com uma câmera térmica da marca Flir, no instante inicial da medida de temperatura de uma amostra sólida. 65 Figura 2.35: imagem térmica de uma amostra sólida, no instante inicial da medida (t=0s), sem aplicar o campo magnético AC de 133Oe. Podem-se perceber na figura 2.35 os vários gradientes térmicos iniciais envolvidos. O círculo maior, na cor laranja, é a bobina de indução e o círculo menor interno à bobina é o porta amostra carregado com nanopartículas na forma de pó. A figura 2.36 é uma imagem térmica, como resultado final da temperatura da amostra após um intervalo de 10s, sob ação do campo magnético alternado de 133Oe. Figura 2.36: a imagem térmica final da amostra sólida decorrido um tempo de t=10s. 66 Pode-se perceber na figura 2.36 que a temperatura final da amostra é de 48.5ºC, indicada no círculo menor pela mira no centro da imagem. Na seqüência das imagens (figura 2.35 para a figura 2.36), fica clara a variação de temperatura em aproximados 18ºC em um tempo de 10s. A amostra utilizada foi uma ferrita de cobalto com 9,1nm, na forma de pó. Na figura 2.36, observa-se que, no centro da bobina, onde o campo é mais intenso (133Oe), a temperatura da amostra é bem superior à do corpo da bobina. Esta tem uma temperatura próxima de 27ºC no final da medida, como mostra o discreto anel azulado (referente ao corpo da bobina) e o valor aproximado da temperatura na barra lateral vertical à direita. Nesta, tem-se uma referência de cor associada ao valor da temperatura. 2.12 Conclusões O equipamento de hipertermia magnética foi projetado com os componentes locais disponíveis. Os limites de operação estão delineados pelos dispositivos semicondutores e pela tecnologia de construção mecânica e eletrônica. Há de se ressaltar o baixo custo, em torno de R$ 6 mil para a construção do sistema completo (computador, multímetro, pirômetro, sistema de refrigeração e o equipamento de hipertermia). O mais importante, entretanto, é que o sistema serve bem para análise térmica de nanopartículas submetidas a campos magnéticos alternados variados, na forma sólida e também na forma líquida com concentração elevada de nanopartículas. O equipamento gera uma potência de 1.4kW e produz intensidade de campos magnéticos alternados de até 133Oe, permitindo que sejam feitas medidas de forma automatizada, reduzindo assim o tempo empregado na coleta de dados pelo pesquisador. Modificações no equipamento, em sua arquitetura de circuito e na especificação de componentes mais potentes, são possíveis, permitindo que seja utilizado em experimentos in vivo onde normalmente se usam fluidos magnéticos com baixas concentrações de nanopartículas. Fica claro, portanto, pelos dados apresentados neste capítulo, que um equipamento de hipertermia magnética para estudos in vitro foi construído. 67 Referências bibliográficas [2.1] YOUNG, H.D., FREEDMAN, R.A., Sears e Zemansky Física III Eletromagnetismo, 10ª Edição, Pearson/Addison Wesley, São Paulo, 2004. [2.2] MEEKER, D., Finite Element Method Magnetics. Disponível em: < http://www.femm.info/wiki/Examples >>, Acesso em: 15 fev. de 2011. [2.3] MALVINO, A. P., Eletrônica. 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Em seguida, será abordado o método da síntese das nanopartículas, denominada de “hidrólise forçada” [3.13]. A difração de Raios-X conjuntamente com a análise de Rietveld [3.17], é então utilizada para obter o diâmetro das nanopartículas (d rr) e determinar o grau de inversão de cátions (seção 3.4). Na seção 3.5, serão mostradas as curvas de magnetização, que permitiram a obtenção da magnetização de saturação e campo coercitivo ( dimensional de ). A análise da dependência sugeriu que as amostras eram monodomínios magnéticos, com a maior parte das nanopartículas no regime bloqueado. Então, levando-se em conta efeitos de interação partícula-partícula, será apresentado, na seção 3.6, um método para obter a constante de anisotropia efetiva . Na seção 3.7, os dados experimentais de hipertermia magnética são apresentados, onde se avalia a dependência do SAR com campo magnético, magnetização de saturação, campo coercitivo, e o parâmetro de anisotropia adimensional ( ). Os resultados experimentais são então comparados com resultados de simulação dinâmica na seção 3.8. Finalmente, na seção 3.9 confrontam-se os dados com cálculos teóricos no regime linear para os casos monodisperso e polidisperso, levando em conta, inclusive, o efeito de uma estrutura core-shell proveniente, possivelmente, de uma etapa de passivação durante a síntese das nanopartículas. E, por fim, serão resumidas as conclusões na seção 3.10. 70 3.2 Teoria de resposta linear (TRL) Até o presente momento, foi investigada, basicamente, a resposta magnética sob as condições quasi-estáticas. Nesse caso, uma amostra monodomínio no regime bloqueado pode ter a magnetização obtida da minimização da energia livre. Por exemplo, encontrouse que o campo coercitivo para o caso de campo aplicado na direção do eixo de anisotropia é escrito como na equação (3.0). (3.0) Garcia Otero et al. [3.1] obtiveram uma expressão analítica para no caso de um sistema com eixos de anisotropia randomicamente distribuídos. Neste caso, é dado na equação (3.1). (3.1) Basicamente há uma mudança no expoente. Mas o que acontece quando se aplica um campo magnético alternado? A dependência do campo coercitivo é a mesma anterior? A freqüência altera significativamente a curva de histerese? A resposta é afirmativa! Sabese, há muito tempo, que a aplicação de campo magnético alternado modifica a curva de magnetização. Em particular, novamente para o caso em que o campo é aplicado na direção do eixo de anisotropia, Usov et al. [3.16] encontraram a mesma forma (funcional) matemática para , como escrito na equação (3.2). (3.2) Só que agora depende da frequência de campo aplicado e da sua amplitude máxima conforme a equação (3. 3) [3.1]. 71 (3.3) Nota-se que, neste caso, o termo do tempo de medida possui o papel . Resultados simulacionais, utilizando a equação de Landau- Lifshitz, foram utilizados para comprovar tal expressão. Esta relação sugere algo bastante intrigante, e muito relevante para a tese, já que indica que a área histerética pode ser influenciada pela frequência e amplitude do campo magnético alternado. Na verdade, denomina-se na literatura tal fenômeno de histerese dinâmica. A teoria de resposta linear (TRL) [3.2] corresponde a um modelo teórico que descreve a resposta dinâmica do sistema magnético em regime de baixa intensidade de campo magnético alternado. Basicamente o modelo prevê que as curvas de magnetização (no regime de baixo campo) podem ser descritas por elipses cujas áreas dependem de parâmetros intrínsecos (magnetização de saturação, diâmetro, constante de anisotropia, etc.) e extrínsecos (temperatura, frequência e amplitude de campo magnético). Inicialmente considera-se uma partícula magnética sob a ação de um campo magnético externo alternado, cuja magnetização responda (linearmente) na forma da equação (3.4). , em que (3.4) é a susceptibilidade complexa. O campo externo magnético pode ser expresso segundo a equação (3.5): , em que (3.5) é a amplitude inicial do campo. A resposta, entretanto, ou seja, a magnetização induzida, não está necessariamente em fase com o campo magnético externo, ou seja, é dado na equação (3.6) por: , (3.6) 72 em que é o ângulo de fase entre a magnetização induzida e o campo magnético aplicado. Com o uso das propriedades trigonométricas, pode-se reescrever a magnetização na forma da equação (3.7): (3.7) Esta equação, obviamente, pode ser reescrita como: (3.8) Já que e sabendo que como o termo real da suscetibilidade e , não é difícil identificar como a contribuição imaginária da susceptibilidade complexa, que é escrita na equação (3.9). (3.9) Por outro lado, considerando o modelo de Debye, a suscetibilidade AC complexa também pode ser escrita como em (3.10). (3.10) em que é o tempo de relaxação da magnetização. Multiplicando o lado direito da equação (3.10) pelo complexo conjugado obtém-se (3.11) Logo, fica claro que é escrito como em (3.12) : (3.12) 73 Por outro lado, também é fácil mostrar que a fase entre a magnetização e o campo aplicado pode ser obtida da razão entre a susceptibilidade imaginária e a real, de tal forma que a tangente da fase é igual a . Nota-se, portanto, que, no limite de ( para zero, não há diferença de fase e também não existe área histerética. A fase ) tendendo entre o campo aplicado e a magnetização é dada na equação (3.13): (3.13) A perda de energia volumétrica ( ) por ciclo de histerese dinâmica é expressa na equação (3.14). , em que o período completo de um ciclo é Com a substituição da derivada para (3.14) . , obtida da equação (3.8), tem-se a expressão na equação (3.15). (3.15) A primeira integral no lado direito desta equação vai a zero e o segundo termo fornece finalmente a equação (3.16). (3.16) Dessa forma, a perda de potência volumétrica por segundo ( ) é escrita como na equação (3.17) [3.3]: (3.17) Substituindo na equação (3.16), a perda de potência específica de calor é então escrita como [3.8]: 74 , onde é a freqüência, (3.18) é a amplitude de campo magnético alternado e é o tempo de relaxação efetivo. Nota-se que a teoria prevê que a potência dissipada escala com o quadrado do campo magnético. Além disso, quando o valor de é fracamente dependente da intensidade do campo aplicado, de forma que seja válida a relação considerando que há apenas relaxação do tipo Néel-Brown ( efetivo e, ) o tempo de relaxação é escrito como na equação (3.19) [3.4]: (3.19) em que com e , e o parâmetro . Quase todas as medidas apresentadas foram feitas em amostras sólidas e, portanto, descritas pelo processo de relaxação de Néel-Brown. 3.3 Síntese das nanopartículas Com exceção das nanopartículas à base de -Fe2O3, todas as outras amostras foram sintetizadas pelo professor colaborador Dr. Marcelo Henrique Souza da Universidade de Brasília. O método utilizado foi hidrólise forçada de Fe 3+ e Co2+ em um processo de coprecipitação [3.5]. Uma quantia de 50mL de uma solução contendo 25mmol de Fe3+ e 12,5 mmol de Co2+ foi introduzida, sob agitação vigorosa, em 200mL de 2mol/L de uma solução alcalina a temperaturas diferentes, conforme especificado na tabela 3.1, e deixou nesta condição durante 60 minutos. 75 Tabela 3.0: soluções alcalinas e temperaturas iniciais, que formam a base da síntese das nanopartículas de CoFe2O4 , CuFe2O4, NiFe2O4, e ZnFe2O4. O sólido obtido foi separado magneticamente a partir do sobrenadante e, posteriormente, lavado três vezes com água destilada. O precipitado foi acidificado com uma solução de 2mol/L de HNO3, centrifugado e o sobrenadante descartado. Os nanogrãos obtidos foram hidrotermicamente tratados com 1mol/L de solução em ebulição de Fe (NO3)3, durante 30 minutos, e o excesso de nitrato férrico foi removido da solução por decantação magnética. O precipitado foi lavado três vezes com acetona e, em seguida, qualquer excesso de acetona foi evaporada a fim de peptizar as nanopartículas em água (pH 2). Os pós foram obtidos a partir da evaporação das amostras durante as diferentes etapas da síntese. Diferentes dimensões foram obtidas usando distintos meios alcalinos, como mostra a tabela 3.0. 3.4 Difração de raios-X e o método de Rietveld Diferentes amostras foram então caracterizadas por difração de raios-X. As medidas foram feitas no LNLS e confirmaram a estrutura cristalina da ferrita. A figura 3.0 exibe o difratograma de uma das amostras de ferrita de cobalto investigadas, a CD1. O método de Rietveld foi aplicado nas amostras para refinamento e determinação de vários parâmetros relevantes, como o diâmetro de Rietveld (drr) e a distribuição de cátions do CoxFe(3-x)O4 [3.6]. Na maioria das amostras, x é igual a 1, o que corresponde a uma 76 estrutura em espinélio invertido. As exceções são amostras CD1 e CD2, em que x=0,74 e x=0,91, respectivamente. Figura 3.0: difratograma de raios-X da amostra de ferrita de cobalto CD1. Símbolos representam dados coletados em seus respectivos ângulos de reflexão. Os parâmetros de Rietveld para a difração de raios-X foram Rp=5,47%, Rwp=6,70% e . A tabela 3.1 exibe todas as nanopartículas selecionadas de ferrita de cobalto (CoFe2O4) com seus respectivos diâmetros por Rietveld. Tabela 3.1: amostras de ferrita de cobalto (CoFe2O4), com diâmetros determinados por difração de raios-X e posterior análise pelo método de Rietveld. Amostra em Pó CA3 CB3 CC1 CC3 CD1 CD2 CD3 Tipo CoFe2O4 CoFe2O4 CoFe2O4 CoFe2O4 CoFe2O4 CoFe2O4 CoFe2O4 Diâmetro (nm) 3.1 3.4 8.4 9.1 12.9 13.6 13.5 3.5 Curvas de magnetização das amostras de ferrita de cobalto Utilizando o magnetômetro (VSM), foram obtidas as curvas de magnetização de todas as amostras. Os dados das amostras CA3 e CB3 correspondem às figuras 3.1 (a) e 3.1 (b), já as amostras CC1 e CC3 estão nas figuras 3.2 (c) c 3.2 (d), CD1 e CD2 referem-se às figuras 3.3 (e) e 3.3 (f), respectivamente, enquanto a figura 3.4 (g) é da amostra CD3. 77 Esses gráficos mostram as curvas de magnetização em baixo campo DC, enquanto que as figuras inseridas correspondem aos mesmos dados em toda faixa de campo medida. 30 -1 Magnetização (emu.g ) 20 10 -1 Magnetização (emu.g ) 40 20 0 -20 CA3- (CoFe2O4) -40 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 Campo magnético (kOe) 0 -10 CA3-(CoFe2O4 ) -20 -10 (a) -5 0 5 10 Campo magnético (kOe) 30 20 25 15 10 5 -1 Magnetização (emu.g ) -1 Magnetização (emu.g ) 20 15 10 5 0 -5 -10 -15 CB3-(CoFe2O4 ) -20 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 Campo magnético (kOe) 0 -5 -10 -15 CB3-(CoFe2O4 ) -20 -20 -15 -10 (b) -5 0 5 10 15 20 Campo magnético (kOe) 78 Figura 3.1: curvas de magnetização das nanopartículas à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4). A curva preta segmentada realça a área da curva de histerese em regime DC para as amostras, (a) CA3 e (b) CB3. Inseridas à esquerda, na parte alta dos gráficos, afigura-se a curva completa de magnetização da amostra correspondente (curva cheia em vermelho). 60 60 -1 Magnetização (emu.g ) 40 -1 Magnetização (emu.g ) 40 20 0 -20 -40 CC1-(CoFe2O4 ) 20 -60 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 Campo magnético (kOe) 0 -20 CC1-(CoFe2O4 ) -40 -4 -2 (c) 0 2 4 Campo magnético (kOe) 60 60 -1 Magnetização (emu.g ) 20 Magnetização (emu.g-1) 40 40 20 0 -20 -40 CC3-(CoFe2O4 ) -60 -20 -10 0 10 20 Campo magnético (kOe) 0 -20 CC3-(CoFe2O4 ) -40 -1,5 (d) -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 Campo magnético (kOe) 79 Figura 3.2: curvas de magnetização das nanopartículas à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4). A curva preta segmentada realça a área da curva de histerese em regime DC para as amostras, (c) CC1 e (d) CC3. Inseridas à esquerda, na parte alta dos gráficos, afigura-se a curva completa de magnetização da amostra correspondente (curva cheia em vermelho). 70 60 60 40 30 -1 Magnetização (emu.g ) -1 Magnetização (emu.g ) 50 40 20 0 -20 -40 CD1-(CoFe2O4 ) 20 -60 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 Campo magnético (kOe) 10 0 -10 -20 -30 -40 CD1-(CoFe2O4 ) -4 -2 (e) 0 2 4 Campo magnético (kOe) 80 60 40 -1 Magnetização (emu.g ) -1 Magnetização (emu.g ) 60 40 20 0 -20 -40 CD2-(CoFe2O4 ) -60 -20 -15 -10 20 -5 0 5 10 15 20 Campo magnético (kOe) 0 -20 CD2-(CoFe2O4 ) -40 -4 (f) -2 0 2 4 Campo magnético (kOe) 80 Figura 3.3: curvas de magnetização das nanopartículas à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4). A curva preta segmentada realça a área da curva de histerese em regime DC para as amostras, (e) CD1 e (f) CD2. Inserida à esquerda, na parte alta dos gráficos, afigura-se a curva completa de magnetização da amostra correspondente (curva cheia em vermelho). 60 80 -1 Magnetização (emu.g ) 60 40 -1 Magnetização (emu.g ) 40 20 0 -20 -40 20 -60 -20 -15 -10 CD3-(CoFe2O4 ) -5 0 5 10 15 20 Campo magnético (kOe) 0 -20 -40 (g) CD3-(CoFe2O4 ) 0 Campo magnético (kOe) Figura 3.4: curvas de magnetização das nanopartículas à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4). A curva preta segmentada realça a área da curva de histerese em regime DC para as amostras, (g) CD3. Inseridas à esquerda, na parte alta dos gráficos, temos a curva completa de magnetização. A título comparativo, apresentam-se também as curvas de magnetização das amostras CD1, CC3 e CA3 no gráfico da figura 3.5. Nota-se que as amostras CD1 e CC3 estão claramente no regime bloqueado, enquanto na CA3 não há área histerética na medida quasi-estática. A figura inserida corresponde aos mesmos dados em toda faixa de campo medida. 81 50 60 CC3 CD1 CD1 CA3 CC3 40 Magnetization (emu/g) 30 -1 Magnetizacão (emu.g ) 40 CA3 20 0 -20 -40 20 -60 -20 -10 0 10 Magnetic field (kOe) 20 10 0 -10 CD1 CC3 CA3 -20 -30 -1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 Campo Magnético (kOe) Figura 3.5: curvas de histerese das amostras CD1 e CC3 mostram uma área de histerese significativa, ao contrário da amostra CA3, que exibe um caráter superparamagnético, como pode ser bem observado na curva do gráfico menor inserido em azul (curva segmentada). Os dados de magnetização de saturação e campo coercitivo estão na tabela 3.2. Tabela 3.2: amostras de ferrita de cobalto (CoFe2 O4) com seus parâmetros: diâmetro por análise Rietveld (drr), magnetização de saturação (Ms) e campo coercitivo Hc . Nome CA3 CB3 CC1 CC3 CD1 CD2 CD3 drr (nm) 3.1 3.4 8.4 9.1 12.9 13.6 13.5 Ms (emu/cm3) 121.8 102.5 249.1 271.9 253.3 280.9 314.5 Hc (Oe) 0.6 1.4 219.4 152.5 261.3 298.7 347.9 82 3.6 Cálculo da anisotropia magnética efetiva Na Figura 3.6, os símbolos representam os dados do campo coercitivo em função do diâmetro das nanopartículas. Observa-se, claramente, uma região de menor diâmetro no regime superparamagnético, ao passo que, aumentando a dimensão da partícula , cresce como esperado para sistemas monodomínio bloqueados. 500 450 400 Super Paramagnético CoFe2O4 modelo Bloqueado 350 Hc (Oe) 300 250 200 150 100 50 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Diâmetro (nm) Figura 3.6: campo coercitivo ( cobalto. em função do diâmetro para as sete amostras de ferrita de O gráfico na figura 3.6 mostra que o comportamento magnético das nanopartículas é superparamagnético para diâmetros abaixo de 7nm e bloqueado para diâmetros acima de 7nm ( . A linha sólida, em vermelho, representa o modelo teórico para o campo coercitivo ( . De fato, este tipo de comportamento pode ser entendido em termos da equação 3.20, válida para um sistema tridimensional com eixos de anisotropia orientados aleatoriamente. 83 (3.20) Notas-se que esta expressão prevê um aumento de coercividade com o aumento do tamanho da partícula. Nela não se inclui, no entanto, o termo de interação partículapartícula, reconhecidamente relevante em amostras sólidas em que a contribuição dominante para a anisotropia efetiva da partícula é a anisotropia de forma. De fato, sabe-se por vários artigos da literatura que a anisotropia na faixa de diâmetros usada possui simetria uniaxial [3.9,3.10]. Neste caso o campo coercitivo pode ser escrito em termos do fator de empacotamento como na equação (3.21) [3.1,3.11]. (3.21) Logo, a anisotropia magnética efetiva obtida considerando que ) das nanopartículas pode então ser refere-se aos dados experimentais [3.1]. Após uma simples manipulação matemática, chega-se à seguinte equação (3.22). (3.22) Para o caso de esferas assume um valor entre 0, 634 (para esferas empacotadas aleatoriamente) e 0, 659 (para a esfera com desiguais frações de empacotamento em um sistema bidisperso). Assim, o valor aproximado da fração de empacotamento na nossa estimativa foi de . Assumiu-se também o valor do diâmetro superparamagnético que concorda com os dados experimentais. Os valores obtidos para são apresentados na Tabela 3.3. Nesta tabela, temos também o valor da constante de anisotropia efetiva , considerando a correção para uma estrutura do tipo Core-Shell. Tal configuração, entretanto, só será discutida no final do capítulo. Adicionalmente, a título ilustrativo, representou-se, na mesma figura anterior, em linha sólida, um cálculo teórico, usando a eq. 3.22, considerando os valores médios da anisotropia (3.54x105erg/(cm)3) e da magnetização de saturação (273.9emu/(cm)3. A 84 concordância com os dados experimentais é, como não poderia deixar de ser, significativa, sugerindo que as partículas podem ser representadas como estruturas monodomínio e que possuam rotação coerente. Tabela 3.3: as constantes de anisotropia efetiva média calculadas e as constantes de anisotropia obtidas considerando-se uma estrutura do tipo Core-Shell para as nanopartículas à base de ferrita de cobalto. Os valores dos diâmetros obtidos no processo da síntese evidenciam a importância de um meio básico alcalino a uma temperatura controlada específica. Amostra Diâmetro Anisotropia média drr (nm) 3.1 3.4 8.4 9.1 12.9 13.6 13.5 (105 erg/cm3) 3.54 3.54 4.84 2.77 2.64 3.22 4.22 CA3 CB3 CC1 CC3 CD1 CD2 CD3 Anisotropia com estrutura Core-Shell (105 erg/cm3) 5.51 5.51 8.25 4.33 4.42 4.87 5.70 Condições da síntese. Base e Temperatura NH4OH - 25ºC NH4OH - 100ºC (CH3)NH2 - 100ºC (CH3)NH2 - 100ºC NaOH - 100ºC NaOH - 100ºC NaOH - 100ºC 3.7 Estrutura core-shell O menor valor da magnetização de saturação das amostras utilizadas poderia ser resultado de uma distribuição de cátions na estrutura espinélio. As análises de Rietveld, entretanto, sugeriram que a maior parte das amostras possui a mesma distribuição do material bulk. Isso sugere que as diferenças de magnetização entre os materiais devem estar associadas a outro fenômeno. Uma possível explicação é a formação de uma estrutura tipo caroço-casca (core-shell). No processo de síntese das nanopartículas por hidrólise forçada, o efeito da deposição de íons, principalmente de Fe3+ na superfície da amostra durante a etapa de passivação, de acordo com a literatura, pode resultar em estruturas com casca e núcleo (core-shell) [3.6]. A figura 3.7 ilustra esquematicamente esta estrutura core-shell, formada por uma rica camada em óxidos de espessura na superfície (estrutura não-cristalina) e um núcleo com estrutura cristalina. 85 Figura 3.7: estrutura do tipo casca-núcleo (core-shell), formada no processo de síntese por hidrólise forçada em uma etapa de passivação. Neste modelo, a magnetização obtida experimentalmente ( ) em uma estrutura core-shell é expressa pela equação (3.23). (3.23) em que é a fração de átomos do core, é a magnetização do bulk do core e é a magnetização do shell. Como normalmente a magnetização do shell é muito pequena, a fração do core pode ser aproximada pela equação (3.24). (3.24) Esta mesma fração do core, por outro lado, também pode, em princípio, ser expressa em função do diâmetro de Rietveld (“diâmetro cristalino”) e pelo diâmetro obtido por microscopia eletrônica de transmissão DTEM (“diâmetro físico”), como mostra a equação (3.25). (3.25) 86 Neste modelo, assumiu-se que a casca é não-cristalina, o que poderia explicar as diferenças de valores entre os diâmetros obtidos por TEM e DRX. Lembrando, ainda, que o diâmetro da partícula ( ) é escrito como na equação (3.26) (3.26) em que é a espessura do shell. Pode-se, por meio desses parâmetros, estimar a espessura da casca. De acordo com esse modelo, no cálculo da constante de anisotropia efetiva, devese usar o valor da magnetização de saturação do bulk (425emu/cm3). Esses valores corrigidos encontram-se na Tabela 3.3. 3.8 Hipertermia magnética das nanopartículas 3.8.1 Curvas de aquecimento Os gráficos de temperatura por tempo, referentes às amostras da tabela 3.6, estão reunidos na figura 3.8 (a) para a amostra CA3 e 3.8 (b) para a amostra CB3. Na figura 3.9 (c), apresenta-se a temperatura por tempo da amostra CC1 e, na figura 3.9 (d), para a amostra CC3, na figura 3.10 (e) para a amostra CD1 e 3.10 (f) para a amostra CD2. Finalizando, na figura 3.11 (g), afigura-se a temperatura por tempo da amostra CD3. Em todos os gráficos, observam-se os vários valores de intensidade de campo magnético alternado, que foram submetidos às amostras. Ao se fazer a análise desses gráficos, fica claro que as curvas apresentam, em sua grande maioria, regimes de aquecimentos diferentes em função da intensidade de campo magnético e as exceções são as amostras CB3 e CD1, sendo que esta última mostra uma leve tendência de mudança no comportamento da taxa com campos acima de 133Oe. As curvas de aquecimento por tempo seguem um padrão de aquisição nos dados, em que todas as massas das amostras foram fixadas em 0,09g e submetidas à ação de uma intensidade de campo magnético alternado em um intervalo fixo de tempo (300s). 87 20 CA3-CoFe2O4- drr= 3.1nm H6=133.39 Oe Sólido-m=0.09g T (K) 15 H5=112.79 Oe 10 H4=90.42 Oe 5 H3=68.13 Oe H2= 45.16 Oe H1=22.17Oe 0 0 50 100 (a) 150 200 250 300 350 Tempo (s) 15 CB3-CoFe2O4- drr= 3.4nm Sólido-m=0.09g 10 T (K) H6=133 Oe H5=112 Oe 5 H4=90 Oe H3=68 Oe H2= 45 Oe H1=22 Oe 0 0 (b) 50 100 150 200 250 300 350 Tempo (s) Figura 3.8: variação de temperatura por tempo das amostras à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4). Seis valores de campo magnético alternado foram aplicados (H 1=22Oe, H2=45Oe, H3=68Oe, H4=90Oe, H5=113Oe e H6=133Oe). Os codinomes CA3 e CB3 são as denominações das amostras de ferrita de cobalto nos gráficos (a) e (b), respectivamente. 88 70 CC1-CoFe2O4- drr= 8.4nm Sólido-m=0.09 g 65 60 H6=133 Oe 55 H5=112 Oe 50 T (K) 45 40 35 H4=90 Oe 30 25 20 15 H3=68 Oe 10 H2= 45 Oe 5 H1=22 Oe 0 0 50 100 (a) 150 200 250 300 350 Tempo (s) 80 75 CC3-CoFe2O4- drr= 9.1nm 70 Sólido-m=0.09g H6=133 Oe 65 60 H5=112 Oe 55 T (K) 50 45 40 H4=90 Oe 35 30 25 20 15 H3=68 Oe 10 H2= 45 Oe 5 H1=22 Oe 0 0 (b) 50 100 150 200 250 300 350 Tempo (s) Figura 3.9: variação de temperatura por tempo das amostras à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4). Seis valores de campo magnético alternado foram aplicados (H 1=22Oe, H2=45Oe, H3=68Oe, H4=90Oe, H5=113Oe e H6=133Oe). Os codinomes CC1 e CC3 são as denominações das amostras de ferrita de cobalto nos gráficos (a) e (b), respectivamente. 89 45 CD1-CoFe2O4- drr=12.9nm 40 Sólido-m=0.09g 35 T (K) 30 H6=133 Oe 25 20 H5=112 Oe 15 10 H4=90 Oe 5 H3=68 Oe H2= 45 Oe H1=22.17Oe 0 0 50 100 (a) 150 200 250 300 350 Tempo (s) 80 CD2-CoFe2O4- drr=13.6nm Sólido-m=0.09g 75 70 H6=133 Oe 65 H5=112 Oe 60 55 T (K) 50 45 40 35 30 H4=90 Oe 25 20 15 H3=68 Oe 10 H2= 45 Oe 5 H1=22 Oe 0 0 (b) 50 100 150 200 250 300 350 Tempo (s) Figura 3.10: variação de temperaura por tempo das amostras à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4). Seis valores de campo magnético alternado foram aplicados (H 1=22Oe, H2=45Oe, H3=68Oe, H4=90Oe, H5=113Oe e H6=133Oe). Os codinomes CD1 e CD2 são as denominações das amostras de ferrita de cobalto nos gráficos (a) e (b), respectivamente. 90 80 75 CD3-CoFe2O4 drr=13.5nm 70 65 Sólido-m=0.09g H6=133 Oe 60 55 T (K) 50 45 40 35 H5=112 Oe 30 25 20 H4=90 Oe 15 10 H3=68 Oe 5 H2= 45 Oe H1=22 Oe 0 0 50 100 150 200 250 300 350 Tempo (s) Figura 3.11: variação de temperatura por tempo das amostras à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4). Seis valores de campo magnético alternado foram aplicados (H1=22Oe, H2=45Oe, H3=68Oe, H4=90Oe, H5=113Oe e H6=133Oe). O codinome CD3 é a denominação da amostra de ferrita de cobalto no gráfico. De forma a facilitar o entendimento dos resultados nas análises subsequentes, isolamos convenientemente as amostras CD1, CC3 e CA3. O gráfico de temperatura por tempo para tais amostras estão na figura 3.12, em que foi aplicado um campo máximo de 68 Oe para as três amostras. O gráfico inserido na parte superior exibe o comportamento da temperatura versus tempo, em particular para amostra CD1, para três intensidades de campos magnéticos alternados. Em azul pontilhado, apresenta-se a resposta da temperatura para a intensidade de campo à 22Oe, em vermelho pontilhado, a resposta à 45Oe e, completando, tem-se a curva em preto sólida de temperatura por tempo para campo com amplitude de 68Oe. 91 30 26 24 22 T (K) 20 18 16 Temperature variation T (K) 28 14 CD1 68 Oe 12 10 8 45 Oe 6 4 22 Oe 2 0 16 50 100 150 200 250 Time (s) 14 300 CD1 12 CC3 10 8 6 68 Oe 4 CA3 2 0 50 100 150 200 250 300 Tempo (s) Figura 3.12: variação de temperatura por tempo para as amostras CD1 (curva sólida em preto), CC3 (pontilhada em vermelho) e CA3 (pontilhada em azul), submetidas a uma intensidade de campo alternado fixa de 68Oe. O gráfico inserido na parte superior exibe o comportamento da temperatura versus tempo, em particular para amostra CD1, para três intensidades de campos magnéticos alternados (22Oe, 45Oe e 68Oe). 3.8.2 Taxa de aquecimento Das curvas de temperatura por tempo, foi possível extrair as taxas de aquecimento ( ) nos instantes iniciais. Esta taxa pode ser calculada utilizando vários métodos, sendo que, em um deles, o cálculo é feito tomando-se a derivada primeira da curva nos instantes iniciais (Initial). Outro método utilizado é conhecido como Box-Lucas, em que a equação utilizada é escrita como na equação 3.27. , (3.27) 92 em que T é a temperatura no instante, é a variação de temperatura máxima que leva à saturação, b é o expoente que define o inverso da constante térmica de aquecimento ( ) e t é a variável tempo. Se for considerado que t é o tempo de aplicação do campo magnético AC no processo, ao se olhar o produto de tomada no início da curva por b, ver-se-á que é equivalente à taxa inicial ), como exibe a curva típica da função Box –Lucas na figura 3.13. A curva de temperatura tem que ser subtraída ponto a ponto da temperatura inicial, o que resulta em um novo gráfico que exprime a variação da temperatura (T) versus tempo (t). Figura 3.13: a curva típica da equação denominada (Box-Lucas). A função Box-Lucas é utilizada por alguns pesquisadores da área e criticada por outros quanto ao seu regime de validade [3.7]. Entretanto, foi utilizado o método da taxa aplicada nos instantes inicias para regime em baixo campo, onde os valores do método “initial” e Box-Lucas são concordantes. Devido aos transientes elétricos que ocorrem ao se ligar instantaneamente uma carga indutiva e capacitiva à saída do amplificador no equipamento de hipertermia magnética, foram desconsiderados os cinco primeiros segundos de medição, após os quais a oscilação é estável, sendo possível considerar as medidas de temperatura confiáveis no cálculo da taxa. O range de temperatura considerado para a aplicação do método da extração da taxa nos instantes iniciais é referente aos 31 segundos após os 5 segundos 93 inicias em que ocorrem os transientes. Este procedimento foi adotado na análise de todas as medidas das nanopartículas. A tabela 3.4 exibe as taxas ( ), obtidas das curvas de aquecimento, para todas as amostras de ferrita de cobalto e seus respectivos campos magnéticos aplicados, conjuntamente aos diâmetros (drr) de cada amostra. Tabela 3.4: valores das taxas de aquecimento ( ) obtidas pelo método da extração da taxa nos instantes iniciais das amostras de ferrita de cobalto (CoFe 2O4), para seis valores padrões de intensidades de campo magnéticos alternados (H 1=22Oe, H2=45Oe, H3=68Oe, H4=90Oe, H5=113Oe e H6=133Oe ). Os diâmetros (drr) correspondem aos nomes dados a cada amostra de ferrita de cobalto. Campo Magnético CA3 drr=3.1nm CB3 drr=3.4nm CC1 drr=8.4nm CC3 drr=9.1nm CD1 drr=12.9nm CD2 drr=13.6nm CD3 drr=13.5nm H1= 22(Oe) H2= 45(Oe) H3= 68(Oe) H4= 90(Oe) H5= 113(Oe) H6= 133(Oe) (K/s) 0 0.00582 0.01834 0.04687 0.09206 0.13984 (K/s) 0.00148 0.0086 0.01761 0.03504 0.05575 0.07216 (K/s) 0.00878 0.03692 0.08674 0.16498 0.34737 0.92339 (K/s) 0.00203 0.02997 0.07898 0.16466 0.49045 0.90673 (K/s) 0 0.01346 0.03151 0.06134 0.10368 0.16566 (K/s) 0.00864 0.03464 0.08507 0.16818 0.38102 1.08435 (K/s) 0.00345 0.01809 0.04229 0.08189 0.1446 0.8691 3.8.3 Perda de potência específica (SAR). A capacidade de aquecimento de um material magnético ou dispositivo electromagnético é quantificado por meio da taxa de absorção específica de energia (SAR), definida como a quantidade de energia convertida em calor, por tempo e massa [3.7]. A equação que rege o SAR em uma amostra sólida é escrita na equação (3.28) [3.8]: (3.28) em que é a massa total da amostra em kg, é o calor específico da mesma em ( )e é a massa total da amostra expressa em gramas, para que o SAR seja expresso em watts por grama ( ). 94 O SAR foi calculado com o uso da expressão 3.28. Os valores do SAR, para todos os campos AC aplicados nas amostras em análise, estão reunidos na tabela 3.5, em que foi considerado um calor específico de 700 (Bulk) para todas as amostras de ferrita de cobalto. Tabela 3.5: valores do SAR obtidos para as seis intensidades de campo magnético alternado (H1,H2,H3,H4,H5 e H6) aplicados nas amostras à base de ferrita de cobalto em estudo. Campo AC H1= 22(Oe) H2= 45(Oe) H3= 68(Oe) H4= 90(Oe) H5= 113(Oe) H6= 133(Oe) CA3 drr3.1nm CB3 drr=3.4nm CC1 drr=8.4nm CC3 drr=9.1nm CD1 drr=12.9nm CD2 drr=13.6nm CD3 drr=13.5nm (W/g) 0 0.0041 0.0128 0.0328 0.0644 0.0979 (W/g) 0.0010 0.0060 0.0123 0.0245 0.0390 0.0505 (W/g) 0.0062 0.0258 0.0607 0.1155 0.2432 0.6464 (W/g) 0.0014 0.0210 0.0553 0.1153 0.3433 0.6347 (W/g) 0 0.0094 0.0221 0.0429 0.0726 0.1160 (W/g) 0.0060 0.0242 0.0596 0.1177 0.2667 0.7591 (W/g) 0.0024 0.0126 0.030 0.0573 0.1012 0.6084 A equação para a perda de potência na teoria de regime linear de campo ( ) 2 prediz que o SAR, em regime de baixo campo, comporta-se linearmente com H . A fim de observar este comportamento, foi construído o gráfico na figura 3.14 do SAR por H2 para o regime linear que compreende os campos de intensidade de 22Oe até 68Oe. 0.80 0.75 0.70 CoFe2O4 CA3 CC1 CD1 CD3 SAR (W/g) de CoFe 2O4 0.65 0.60 0.55 CB3 CC3 CD2 0.50 0.45 0.40 0.35 0.30 0.25 0.20 0.15 0.10 0.05 0.00 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 2 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0 2 H (kOe ) Figura 3.14: comportamento linear do SAR em função de H2, para todas as amostras de CoFe2O4 para baixos campos magnéticos até 68Oe. 95 As linhas no gráfico da figura 3.14, em formato contínuo, foram construídas usando uma função linear como ajuste. O parâmetro adimensional ( ), que determina o range em que o regime é linear com o campo, isto é [3.2], está agrupado na tabela 3.6. Tabela 3.6: parâmetro adimensional ( ) [3.1], que, na condição das ferritas de cobalto a campo magnético linear (22Oe a 68Oe). Amostra CA3 CB3 CC1 CC3 CD1 CD2 CD3 drr (nm) 3.1 3.4 8.4 9.1 12.9 13.6 13.5 condiciona o regime H=22 Oe H=45 Oe H=68 Oe 0.000 0.001 0.041 0.057 0.054 0.198 0.217 0.001 0.002 0.084 0.117 0.111 0.403 0.442 0.001 0.003 0.127 0.176 0.167 0.609 0.666 Fica claro, nessa faixa de amplitude de campo magnético, que as nanopartículas parecem encontrar-se no regime linear de campo, mas e quanto à dependência com outros parâmetros físicos, como, por exemplo, a magnetização de saturação, campo coercitivo, etc? A figura 3.15 representa o SAR em função da magnetização de saturação das amostras ( ). Símbolos representam diferentes amplitude de campo magnético. Observa- se no SAR uma tendência de crescimento em certa faixa de valores , mas, no limite de alta magnetização, tal dependência precisa ser avaliada de forma cuidadosa. 96 0,12 Hmax=22 Oe Hmax=45 Oe Hmax=68 Oe 0,11 SAR (W/g) de CoFe 2O4 0,10 CoFe2O4 0,09 0,08 0,07 0,06 0,05 0,04 0,03 0,02 0,01 0,00 0 50 100 150 200 250 300 350 400 3 Ms (emu/cm ) Figura 3.15: perda de potência (SAR) em função da magnetização de saturação ( ) para as sete amostras analisadas de ferrita de cobalto. Os pontos do gráfico representados por quadrados pretos referem-se às sete amostras submetidas à intensidade de campo de 22Oe. Na forma de triângulos azuis, afigura-se o comportamento das amostras em campo de intensidade de 45 Oe e em esferas vermelhas para o campo máximo de 68 Oe. A figura 3.16 exibe o comportamento do SAR por Hc. Neste gráfico, vê-se claramente que o campo coercitivo apresenta um máximo característico, sugerindo a existência de um valor ótimo para a hipertermia. Aliás, como o referido termo está relacionado com a razão entre a constante de anisotropia e a magnetização, decidiu-se avaliar o comportamento do SAR, agora, em termos da anisotropia adimensional . 97 0.12 CoFe2O4 SAR (W/g) de CoFe2O4 0.10 Hmax= 22 Oe Hmax= 45 Oe Hmax= 68 Oe 0.08 0.06 0.04 0.02 0.00 0 50 100 150 200 250 300 350 400 Hc (Oe) Figura 3.16: comportamento do SAR em função do campo coercitivo (H c) em três intensidades de campos magnéticos alternados (22Oe, 45Oe e 68Oe) para todas as nanopartículas de ferrita de cobalto. O gráfico na figura 3.17 exibe o SAR versus em diferentes campos aplicados. O SAR mostra, claramente, que há um máximo. Sugere, portanto, um 10. Curiosamente, o parâmetro quando ótimo em torno de indica duas regiões com comportamentos semelhantes, é pequeno, ou seja, no limite de partículas pequenas (que possuem tendência a encontra-se no regime superparamagnético), assim como para muito grandes, que possuem ou alta anisotropia ou são partículas grandes (cuja magnetização pode estar mais fortemente bloqueada). Para melhor entender este comportamento, simulações de histerese dinâmica foram realizadas. 98 0,12 Hmax= 22 Oe Hmax= 45 Oe 0,10 SAR (W/g) de CoFe 2O4 CoFe2O4 Hmax= 68 Oe 0,08 0,06 0,04 0,02 0,00 0 5 10 15 20 Parâmetro de anisotropia (=Kef.V/kB.T) Figura 3.17: variação do SAR com o parâmetro de anisotropia ( ), em três intensidades de campos magnéticos alternados (22Oe, 45Oe e 68Oe) para as todas as ferritas de cobalto em estudo. O SAR mostra um máximo em próximo de 10. 3.9 Simulações de histerese dinâmica com a equação de Landau-Lifshitz A simulação das curvas de histerese magnética (DH) foi realizada pelo colaborador deste trabalho, Dr. Gabriel T. Landi, que admitiu, por questão de simplificação, apenas sistemas monodispersos. O método numérico usado é discutido na referência [3.15], onde foi considerado nanopartícula monodispersa, rotação coerente e com campo aplicado na direção do eixo de anisotropia. Esta última consideração merece um breve comentário. Primeiramente, é óbvio que as curvas de magnetização dependem da direção de aplicação do campo magnético em relação ao eixo de anisotropia, entretanto estudos com a mesma equação [3.2] indicam que o comportamento qualitativo não é alterado. Como o custo computacional é menor nesta configuração tal aproximação foi considerada. 99 O ponto de partida do método é a teoria Néel-Brown [3.8], em que a inclusão da temperatura é realizada por um termo de campo de ruído branco térmico, adicionado à equação de Landau-Lifshitz e descrito na equação (3.29): (3.29) , para . Lembrando que a equação de Landau-Lifshitz é escrita como na equação (3.30). , sendo (3.30) o parâmetro adimensional de amortecimento. Assim o campo magnético total ( ) compreende o campo externo (Zeeman), o campo anisotrópico e o campo térmico. As soluções numéricas estão baseadas em um conjunto de equações diferenciais (método estocástico) que satisfazem a equação (3.30) [3.4]. Os parâmetros de simulação são: f=500kHz e fator de amortecimento , usando a amplitude de campo reduzido na equação (3.31) (3.31) em que . A figura 3.18 exibe as simulações para vários preta), (cor vermelha) e nos campos com (cor (cor em azul). Nota-se aqui que, em regime de baixo campo, as figuras são elipses, como é o caso, por exemplo, de =11. 100 Figura 3.18: série de curvas de histerese decorrentes da simulação utilizando a equação de Landau-Lifshitz e as condições de contorno previamente estabelecidas, para os vários e os campos normalizados (cor preta), (cor vermelha) e (cor em azul). Ainda na figura 3.18, a simulação teórica dos ciclos de histerese magnética, mostra um forte efeito na área do círculo de histerese dinâmica ( ), que é proporcional à perda de potência na amostra ( ). A simulação indica também, como base nos dados experimentais, que o SAR tende a zero nos limites de baixa e alta anisotropia. Na simulação, a área máxima está próxima a , que é um valor próximo aos nossos resultados experimentais, sugerindo boa correspondência teórico-experimental dada às diversas aproximações. 3.10 SAR em função da anisotropia: efeito da polidispersão Na primeira seção deste capítulo, foi discutida a teoria de regime linear, em que se encontrou para o SAR a seguinte relação da equação (3.32). (3.32) 101 A equação (3.32) é válida para uma amostra monodispersa. Nota-se que há diversos parâmetros experimentais relevantes para fazer uma comparação entre a teoria TRL e o experimento. Na figura 3.19, apresentou-se em linha pontilhada o cálculo teórico no TRL, em que apenas um parâmetro foi variado de forma a melhor representar os dados experimentais, a susceptibilidade, considerando a maior amplitude de campo. Nesta figura, existem, no entanto, duas estimativas experimentais, são elas: símbolos abertos, que se referem aos dados experimentais, com a constante de anisotropia calculada assumindo uma nanopartícula homogênea, e símbolos fechados, nos quais foi utilizado o modelo coreshell. Voltando à comparação entre o resultados teórico monodisperso e os dados experimentais, nota-se baixa concordância, o que levou a incluir o efeito da polidispersão. Neste caso, o SAR é calculado fazendo uma integral considerando a função log-normal, como apresentado na equação (3.33). (3.33) Além disso, como todas as amostras foram obtidas via o mesmo método de síntese, decidiu-se obter a dispersão de diâmetro de uma das amostras e usar tal valor como padrão para as demais. 102 Figura 3.19: dependência do SAR com o parâmetro de anisotropia ( ), em três intensidades de campos magnéticos alternados (22Oe, 45Oe e 68Oe) para as ferrita de cobalto em estudo. Os símbolos cheios representam os dados experimentais das nanopartículas com a correção devido às estruturas do tipo core-shell e os símbolos abertos, equivalem aos dados experimentais das amostras sem a correção. A linha pontilhada representa a simulação utilizando a equação ( ) das amostras monodispersas e a curva sólida em vermelho exibe a simulação para o caso das amostras com uma polidispersão em tamanho de 0.26nm. Imagens de microscopia eletrônica de transmissão (MET) foram feitas para a amostra CC3. No tratamento das imagens destas amostras, utilizou-se um software livre denominado de Image J. Por meio das referidas imagens, foi possível verificar uma discreta anisometria de forma, que pode ser visualizada na figura 3.20, com a barra de erro em escala de 100nm. Numa amostragem de 50 diâmetros aleatórios das imagens de TEM, o valor dessa fuga da esfericidade foi de nm. Isto corrobora a suposição de contribuição de anisotropia de forma. 103 Figura 3.20: imagem de microscopia eletrônica por transmissão de elétrons, da amostra de ferrita de cobalto (CoFe2O4) denominada de CC3. A imagem mostra uma leve anisometria de forma, quando da amostragem de 50 nanopartículas para cômputo dos eixos maior e menor das nanoparticulas. A barra de erro tem escala de 100nm e está à esquerda no lado inferior da imagem. Avaliou-se também a distribuição de tamanhos da amostra CC3. Os resultados estão no gráfico da figura 3.21. A linha sólida corresponde a um ajuste com uma função log-normal, em que foi encontrado o diâmetro modal de dispersão em tamanho de com uma . 104 Figura 3.21: função de distribuição em tamanho para a amostra à base de ferrita de cobalto denominada de CC3. O diâmetro modal exprime o valor mais próximo do verdadeiro e a dispersão de tamanhos indica o grau de polidispersão da amostra. De posse dessas informações, foi feito o cálculo teórico para o SAR polidisperso, que é apresentado na figura 3.19 pela linha sólida em vermelho. Aqui, novamente, a susceptibilidade é variada para melhor representar os dados. A concordância entre a teoria e o experimento (aqui para o caso core-shell) é excelente, indicando que realmente as amostras encontram-se no regime linear para amplitudes de campo magnético de até 68 Oe. 3.11 Conclusões As análises dos dados obtidos desta específica série de ferrita de cobalto permitem, com os processos de medidas e os seus resultados indiretos, enfatizar as seguintes conclusões: os gráficos de temperatura em função do tempo, na secção 3.8, demonstram claramente que a variação de temperatura é maior quanto maior é o campo magnético Ac. Este é um comportamento global nas amostras; as amostras CA3 e CB3 não possuem curva de histerese magnética, o que mostra estarem em um regime superparamagnético quasi-estático, o qual 105 pode ser comprovado no gráfico do campo coercitivo por diâmetro na figura 3.6; com o uso da equação 3.22 a anisotropia efetiva ficou numa faixa de , um pouco abaixo da anisotropia efetiva do bulk que está situada entre a 2. [3.8]. Em artigo recente, entretanto, Kumar et al [3.18], mostraram que esta discrepância está relacionada com distintas temperaturas de recozimento; a imagem de microscopia eletrônica de transmissão da figura 3.20, mostra certa anisometria de forma das nanopartículas CC3, o que sugere que a anisotropia efetiva ( ) tenha um termo de anisotropia de forma; o gráfico na figura 3.14 mostra que o SAR é linear com . A tabela 3.6 reforça esta afirmativa com os valores do parâmetro adimensional ; o SAR versus sigma ( ) mostra claramente, na figura 3.17, um máximo para cada um dos três campos aplicados (22Oe, 45Oe e 68Oe ). Isto faz pensar em um valor a ser otimizado de para obter maior eficiência magneto-térmica; com a imagem de microscopia associada à função de distribuição, foram feitas as curvas no gráfico da figura 3.19, que traduz o comportamento do SAR por sigma, considerando o grau de dispersão em diâmetro (0.26nm) como resultado típico do método de síntese adotado [3.5, 3.6, 3.12, 3.14]. A etapa na síntese denominada de passivação parece sugerir que as nanopartículas podem ser consideradas do tipo caroço- casca (core-shell); os pontos recalculados de sigma, por efeito do core - shell, mostram na figura 3.19 um alargamento das curvas (símbolos cheios nos diversos campos aplicados) com um mínimo de desvio do pico de sigma em relação aos dados experimentais sem a correção core-shell (símbolos vazios). O resultado global no gráfico revela que os dados experimentais estão em bom acordo com o modelo teórico TRL. Nota-se que a polidispersão não afeta significativamente este pico, porém influencia na largura da banda de resposta aos valores de sigma ( ); as simulações de histerese dinâmica revelaram uma anisotropia ótima em torno de 9, que é próximo do pico máximo experimental 10, assim os resultados experimentais, teórico e de histerese dinâmica indicam uma anisotropia ótima para a máxima eficiência magneto-térmica. 106 Referências bibliográficas [3.1] OTERO J. G., BASTIDA, A. J. G., RIVAS, J., J. Magn. Magn. Mater.189, 377 (1998). [3.2] CARREY, J.B., MEHDAOUI, R.M., J. Appl. Phys, 109, 083921 (2011). [3.3] CRAIK, D., Magnetism: Principles and Applications., J.Wiley & Sons, N.Y, 1995. [3.4] BROWN JR, W.F., Phys. Rev. 130, 1667 (1963). [3.5] ITRI, R., DEPEYROT, J., TOURINHO, F. A., SOUSA, M. H., Eur.Phys. J. E. 4, 201 (2001). [3.6] GOMES, J. A., SOUSA, M. H., SILVA, G. J., TOURINHO, F. A., MESTNIKFILHO, J., ITRI, R., AZEVEDO, G. M., DEPEYROT, J., J. Magn. Magn. Mater. 300, 213 (2006). [3.7] BORDELON, D. E., CORNEJO, C., BRÜTTNE, C., WESTPHAL, F., DEWEESE, T. L., IVKOV, R., J. Appl. Phys.109, 124904 (2011). [3.8] ROSENSWEIG, R. E., J. Magn. Magn. Mater, 252, 370 (2002). [3.9] BAKUZIS, A. F., MORAIS, P. C., TOURINHO, F. A., J. Magn. Reson.122,100 (1996). [3.10] SHILOV, V. P., RAIKHER, YU. L., BACRI, J. C., GAZEAU, F., PERZYNSKI, R., Phys. Rev. B. 60, 11902 (1999). [3.11] CULLITY, B. D., GRAHAM, C. D., Introduction to Magnetic Materials. IEEE Press Editorial Board, Second Edition, 2009. [3.12] CASTRO, L. L., GONÇALVES, G. R. R., SKEFF NETO, K., MORAIS, P. C., BAKUZIS, A. F., MIOTTO, R., Phys. Rev. E.78, 061507 (2008). [3.13] CINTRA, E. R., FERREIRA, F. S., SANTOS JR, J. L., CAMPELLO, J. C., SOCOLOVSKY, L. M., LIMA, E. M., BAKUZIS, A. F., Nanotechnology. 20, 045103 (2009). [3.14] ELOI, M. T. A., SANTOS JR, J. L., MORAIS, P. C., BAKUZIS, A. F., Phys. Rev. E. 82, 021407 (2010). [3.15] LANDI, G. T., BAKUZIS, A. F., J. APPL. PHYS. 111, 083915 (2012). [3.16] USOV, N.A.;GREBENSHEHIKOV,Y.B., J. Appl. Phys, 106, 023917 (2009). [3.17] RIETVELD, H. M., A Profile Refinement Method for Nuclear and Magnetic Structures. Journal of Applied Crystallography 2, 65-71 (1969). [3.18] KUMAR, L., KAR, M., J. Magn. Magn. Mater. 323, 2042 (2011). 107 Capítulo 4 Efeito do campo magnético na transição para o regime não linear em nanopartículas à base de ferritas com diâmetros similares 4.1 Introdução Neste capítulo, será explorada a resposta térmica de nanopartículas de ferrita à base de: maguemita (γ-Fe2O3), cobalto (CoFe2O4), cobre (CuFe2O4 ), níquel (NiFe2O4 ) e Zinco (ZnFe2O4). Ao contrário do que se viu no capítulo 3, em que havia nanopartículas do mesmo tipo (CoFe2O4) com diâmetros diferentes, aqui se faz a análise para duas séries de amostras, porém com tipos de ferritas diferentes e diâmetros similares. Em uma série, analisam-se ferritas com diâmetro próximo a 8nm e outra, a 9nm (estimativa do diâmetro feita via DRX). A ideia aqui foi auxiliar a análise experimental dos dados de hipertermia controlando um importante parâmetro experimental. Dentre algumas questões fundamentais que se pretende responder destacam-se, dentre outras, as seguintes: existe alguma ferrita que possui maior potencial para aplicação na terapia de hipertermia magnética? A faixa de campo utilizada é importante? A transição para o regime não-linear ocorre no mesmo intervalo para todas as ferritas? Se não, quais os parâmetros relevantes para tal? Uma partícula no regime bloqueado aquece mais que uma no regime superparamagnético (quasi-estático)? O modelo core-shell pode ser utilizado para outras amostras (não somente as ferritas de cobalto) que passam pelo processo de passivação? 108 4.2 Caracterizações das nanopartículas 4.2.1 Síntese, difração de raios-X e MET A síntese das ferritas de Cu, Zn e Ni seguiu um procedimento semelhante ao discutido anteriormente para a ferrita de Co, e foi realizado pelo Dr. Marcelo Henrique Sousa da Universidade de Brasília. O método utilizado foi o da hidrólise forçada de Fe 3+ e íons M2+ (M=Co, Cu, Zn e Ni) em um processo de co-precipitação [4.1,4.2], conforme discutido anteriormente no capítulo 3. As amostras à base de magnetita (Fe3O4) foram sintetizadas e caracterizadas pelo Msc Marcus Carrião dos Santos, usando sais de cloreto de Fe 3+ e Fe2+. Basicamente uma solução estequiométrica contendo 100 mL de Fe3+/Fe2+ foi deixada em 100 mL de solução contendo 1,5 mol/L de NaOH sob agitação vigorosa durante 25 minutos e o sólido obtido foi então separado magneticamente do sobrenadante e lavado com água destilada até obtenção de um pH neutro. Adicionou-se HCl gradualmente à solução contendo o precipitado até que um pH de 3,5 fosse atingido. Posteriormente, 25 mL de uma solução contendo 0,15 mol/L de tripolifosfato (Na5P3O10) foi adicionada para a obtenção de uma camada de revestimento na superfície das nanopartículas de magnetita. Após 24 horas de agitação mecânica e subsequente diálise, um fluido estável magnético de nanopartículas de magnetita revestidas com tripolifosfato e pH fisiológico foi finalmente obtido. Apesar de na síntese ter sido feito magnetita, ao longo do tempo pode ocorrer um processo de oxidação, que segue a seguinte equação química (4.1): , (4.1) Há, portanto, a possibilidade da transformação de magnetita em maguemita devido a este processo de oxidação. Por essa razão, iniciou-se análise dos dados de raios-X. Na figura 4.0, são apresentados os dados da amostra sintetizada e a comparação com as estruturas bulk de magnetita e maguemita. Há apenas uma sutil diferença devido a um pequeno deslocamento dos picos, que, quando comparados à amostra utilizada, sugerem a presença de maguemita. Adicionalmente, foram feitas dosagens químicas que indicaram que estas nanopartículas continham apenas 5,5% de magnetita. Dessa feita, denominou-se essa amostra de maguemita (e outras via o mesmo método). 109 -Fe2O3 Amostra Fe3O4 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 2 (degrees) Figura 4.0: difratogramas de Raios-X obtidos por uma fonte Sincroton no LNLS de uma maguemita padrão de (-Fe2O3). Na curva em azul, apresenta-se o difratograma de uma das amostras de maguemita denominada MA25 e, na curva mais baixa, o difratograma da magnetita (Fe3O4) Bulk. As amostras com diferentes diâmetros analisadas aqui e no próximo capítulo foram obtidas por meio da variação de diversos parâmetros na síntese: temperatura de nucleação, velocidade de agitação, líquido reacional, força iônica, tempo de agitação, entre outros. A partir de um vasto conjunto de amostras (vide capítulo 5), foram selecionadas duas séries. A tabela 4.0 apresenta os dados dessas séries correspondentes a diferentes ferritas com diâmetros próximos a 8nm e 9nm. Como não havia à disposição dados de MET para todas as amostras, foram agrupados conjuntos de nanopartículas com os diâmetros característicos obtidos da análise dos dados de raios-X (drr). 110 Tabela 4.0: série de amostras à base de ferritas com diâmetros próximos a 8nm e 9nm, com suas correspondentes nomenclaturas e diâmetros característicos por análise de Rietveld (drr). As amostras de *7.9nm e *9.3nm de maguemita têm seus diâmetros estimados por um difratômetro de pó, sendo que as demais amostras têm seus diâmetros estimados em um difratômetro do Laboratório Nacional de Luz Sincroton (LNLS), na cidade de Campinas-SP. drr 8 nm Nomenclatura MA10 CC1 CUE3 Ni6 ZN3 Tipo γ-Fe2O3 CoFe2O4 CuFe2O4 NiFe2O4 ZnFe2O4 Tipo drr 9 nm Nomenclatura *7.9 MA10 γ-Fe2O3 8.4 CC3 CoFe2O4 7.7 CUE3 CuFe2O4 7.9 Ni6 NiFe2O4 8.3 ZN3 ZnFe2O4 drr drr *9.3 9.1 9.4 9.2 9.0 Em apenas duas das amostras, foi feita análise de microscopia eletrônica de transmissão. As amostras foram as de ferrita de cobalto (CC3) e maguemita (MA25), que se referem à série com diâmetros próximos de 9nm. A figura 4.1, no item (a), exibe a imagem de microscopia eletrônica de transmissão (MET) da ferrita de cobalto denominada de (CC3) e, no item (b), a imagem para a maguemita denominada de (MA25). (a) (b) Figura 4.1: imagem de microscopia de transmissão eletrônica (MET) da amostra de ferrita de cobalto denominada de CC3, com uma barra de erro de 50nm. (b) Imagem para a maguemita (-Fe2O3), denominada de MA25, com uma barra de erro de 10nm. A análise dos dados de MET forneceu os gráficos da função de distribuição apresentados na figura 4.2: (a) ferrita de cobalto e em (b) maguemita. 111 Número de partículas 500 Dm = (10.19±0.25) nm Dados Modelo 400 = (0.26±0.03) 300 CoFe O 2 4 200 100 0 0 5 (a) 10 15 20 25 Diâmetro(nm) 160 Dados Modelo Número de partículas 140 Dm = (9.24±0.08) nm = (0.24±0.01) 120 100 80 -Fe2O3 60 40 20 0 0 (b) 5 10 15 20 25 Diâmetro (nm) Figura 4.2: curvas de distribuição em tamanhos, ajustadas por uma função do tipo Lognormal. Para a amostra de ferrita de cobalto (CoFe2O4) em (a), apresenta-se um diâmetro modal de )nm e uma dispersão em tamanho de ). Em (b), a função de distribuição para a maguemita (-Fe2O3) com os valores de )nm para o diâmetro modal e de ) para a dispersão em tamanhos. 112 4.2.2 Curvas de magnetização Uma das questões relevantes desta tese refere-se à discussão acerca da contribuição a hipertermia magnética de amostras bloqueadas e superparamagnéticas. Para avaliar tal propriedade, as amostras foram caracterizadas por magnetometria de amostra vibrante. Por exemplo, na figura 4.3 as curvas de magnetização da amostra de ferrita de cobalto, denominada de CC1, e da ferrita de níquel, denominada de Ni6, estão colocadas lado a lado para uma avaliação comparativa (diâmetros próximos a 8nm). A curva em vermelho é da ferrita de níquel e não exibe histerese magnética, o que é diferente para a ferrita de cobalto (cor preta) onde se vê claramente uma área de histerese magnética em regime DC. 60 drr 8nm CoFe2O4 -1 Magnetização (emu.g ) 40 NiFe2O4 20 0 -20 -40 -60 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 Campo magnético (kOe) Figura 4.3: curvas de magnetização em função do campo para amostras sólidas (pó). A curva em vermelho representa a magnetização da amostra à base de ferrita de níquel (NiFe 2O4) denominada de Ni6 e a curva em preto da amostra à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4) denominada de CC1. 113 A ferrita de cobalto na figura 4.4 exibe claramente uma área de histerese magnética em regime de campo magnético DC e o mesmo não se verifica para a ferrita de níquel. O gráfico na figura 4.4 faz um detalhamento na região de baixo campo DC entre as duas curvas de magnetização das amostras de ferrita de cobalto (CC1) e ferrita de níquel (Ni6). A imagem revela com maiores detalhes que a ferrita de níquel não possui realmente histerese magnética, enquanto a ferrita de cobalto exibe claramente um laço de histerese magnética com campo coercitivo de 219Oe. 40 CoFe2O4 -1 Magnetização (emu.g ) drr 8nm NiFe2O4 20 0 -20 -40 -5 0 5 Campo magnético (kOe) Figura 4.4: detalhes da região entre as duas curvas de magnetização das amostras ferrita de cobalto (CoFe2O4), denominada de CC1 e da ferrita de níquel (NiFe2O4) denominada de Ni6, com diâmetros próximos a 8nm. Similar procedimento feito com as curvas de magnetização das ferritas de diâmetro próximos a 8nm se repetiu com as curvas das ferritas de diâmetros próximos a 9nm. O gráfico na figura 4.5 exibe o comparativo das curvas de magnetização a campo total DC e no gráfico da figura 4.6, exibe com mais detalhes, em regime de baixo campo DC, o comportamento das curvas de magnetização para a ferrita de cobalto denominada de CC3 e 114 da maguemita (-Fe2O3) denominada de MA25. Novamente se verifica a inexistência de curva de histerese magnética em regime DC para a maguemita, ao passo que, para a ferrita de cobalto, há um laço de histerese magnética que tem um campo coercitivo de 138Oe obtido no VSM. Como se pode observar no gráfico da figura 4.6, que a magnetita não possui histerese magnética, enquanto a ferrita de cobalto exibe claramente um laço de histerese magnética com campo coercitivo de 138Oe, obtidos no VSM. 60 CoFe2O4 drr 9nm Magnetização (emu/g) 40 -Fe2O3 20 0 Sólido -20 -40 -60 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 Campo magnético (kOe) Figura 4.5: curvas de magnetização para amostras sólidas na forma de pó. A curva em azul representa a magnetização da amostra à base de maguemita (-Fe2O3), denominada de MA25, e a curva em vermelho representa a amostra à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4) denominada de CC3. 115 40 CoFe2O4 drr 9nm Magnetização (emu/g) 30 - Fe2O3 20 10 0 -10 -20 -30 -40 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 Campo magnético (kOe) Figura 4.6: detalhes da região entre as duas curvas de magnetização das amostras CC3 (CoFe2O4) e MA25 (-Fe2O3) de diâmetros iguais a 9nm. Os gráficos das curvas de magnetização destas duas séries, contendo cada uma 5 tipos diferentes de ferritas (-Fe2O3, CoFe2O4, CuFe2O4, NiFe2O4 e ZnFe2O4 ), estão exibidos na figura 4.7. No item (a) para a série de 8nm e no item (b) para as de 9nm. 116 60 CoFe2O4 -1 Magnetização (emu.g ) 40 ZnFe2O4 -Fe2O3 20 NiFe2O4 CuFe2O4 drr 8nm 0 -20 -40 -60 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 (a) Campo magnético (kOe) 60 CoFe2O4 ZnFe2O4 -1 Magnetização (emu.g ) 40 -Fe2O3 NiFe2O4 20 CuFe2O4 drr 9nm 0 -20 -40 -60 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 (b) Campo magnético (kOe) Figura 4.7: (a) curvas de magnetização para a série de amostras com diâmetros próximos a 8nm. Em (b), curvas relativas à série de diâmetros próximos a 9nm. As figuras inseridas nos gráficos mostram a estrutura clássica de um core-shell com o núcleo cristalino e uma casca de óxido de espessura k. 117 Reunidos nas tabelas 4.1 e 4.2, tem-se os valores obtidos nas diversas técnicas de caracterização, os quais serão amplamente usados para discutir os dados de hipertermia magnética, numa sessão posterior deste capítulo. Semelhantemente à discussão do capítulo anterior, os dados de magnetização são explicados usando o modelo core - shell. Tabela 4.1: série de ferritas com diâmetros próximos a 8nm. A 1º coluna à esquerda exibe os parâmetros usados para as ferritas de cobalto (CoFe2O4), maguemita (ϒ-Fe2O3) , ferrita de Cobre (CuFe2O4 ), ferrita de Níquel (NiFe2O4 ) e ferrita de Zinco (ZnFe2O4) com os respectivos valores correspondentes a cada parâmetro de caracterização. A amostra de *7.9nm de maguemita tem seu diâmetro estimado por um difratômetro de pó, sendo que as demais amostras têm seu diâmetro estimado em um difratômetro do Laboratório Nacional de Luz Sincroton (LNLS), na cidade de Campinas-SP. drr 8nm (emu/cm3) CoFe2O4 -Fe2O3 Exp. Bulk Exp. 249.23 425 175.65 CuFe2O4 Bulk Exp. 417 139.46 NiFe2O4 Bulk Exp. 135 150.78 ZnFe2O4 Bul k Bulk Exp. 270 188.19 Hc (Oe) 219.40 0.97 0.35 0.35 DRR (nm) 8.4 7.9* 7.7 7.9 8.3 x 0.99 - 0.99 0.99 0.28 0.24 HR (Oe) - 2893 3033 2978 2899 δHR (Oe) - 729 807 1086 380 DTEM (nm) 10.0 10.5 7.6 9.6 7.0 δD 0.25 0.25 0.25 0.25 0.25 1.0 0.06 0.06 0.08 0.03 α ( 105 erg/cm3) (Oe) 6.5 2.4 [5.5] 4.9 [10.9] 5244 18 7.1 [15.8] 15.8 [30.1] 8471 0.4 1 [3.2] 0.26 [0.26] 472 0.5 5.7 [17.9] 0.3 [1] 240 0.2 - 0.3 0.7 0.4 - 0.6 - 0.7 2.4 1.3 - 0.13 - 0.18 1 0.32 - 332 - 387 519 466 - (s) f.τ0 12.2 10.3 7.5 6.7 7.1 - - - 7.6 7.9 6.7 118 Tabela 4.2: série de ferritas com diâmetros próximos a 9nm. A 1º coluna à esquerda exibe os parâmetros usados para as ferritas de cobalto (CoFe2O4), maguemita (ϒ-Fe2O3), ferrita de Cobre (CuFe2O4), eferrita de Níquel (NiFe2O4) ao passo que as colunas à direita apresentam os valores correspondentes a cada parâmetro de caracterização obtido. A amostra de *9.3 nm de maguemita tem seu diâmetro estimado por um difratômetro de pó, sendo que as demais amostras têm seu diâmetro estimado em um difratômetro do Laboratório Nacional de Luz Sincroton (LNLS), na cidade de Campinas-SP. drr 9nm (emu/cm3) CoFe2O4 -Fe2O3 CuFe2O4 NiFe2O4 ZnFe2O4 Exp. Bulk Exp. Bulk Exp. Bulk Exp. Bulk Exp. Bul k 271.9 425 209.1 417 124.2 135 153.7 270 219.8 - Hc (Oe) 152 2.7 0.5 1.1 DRR (nm) 9.1 * 9.3 9.4 9.2 9.0 x 0.99 - 0.99 0.99 0.28 0.3 HR (Oe) - 3192 3001 2793 2893 δHR (Oe) - 723 782 1089 235 DTEM (nm) 10.2 9.2 - - - δD 0.26 0.24 - - - 1.0 0.05 0.06 0.09 0.02 α ( 105 erg/cm3) (Oe) 3.7 3.7 [7.0] 3.5 [6.7] 2721 18 9.0 [17.2] 17.2 [32.7] 8470 0.2 2.3 [2.9] 0.2 [0.2] 173 0.5 9.3 [11.6] 0.5 [1.3] 240 0.2 - 0.4 0.7 0.5 - 0.8 - 1.2 1.2 2.3 - 0.2 - 0.4 0.7 0.5 - 364 - 572 911 472 - (s) f.τ0 11.5 12.7 6.2 6.5 7.2 - - - - - 8.1 8.6 6.3 - 4.2.3 Ressonância ferromagnética e anisotropia No capítulo 3, foi obtida a constante de anisotropia das nanopartículas à base de ferrita de cobalto usando os dados de campo coercitivo. Isso foi possível para este conjunto de amostras porque as partículas estavam (quase todas) no regime bloqueado. No caso das demais ferritas, a mesma metodologia não pode ser empregada, já que estas se encontram no regime superparamagnético (no limite quasi-estático, i.e. DC). A alternativa encontrada foi, então, utilizar a técnica de ressonância ferromagnética para estimar tais valores. Considerando, portanto, que no sistema nanoparticulado a densidade de energia contém apenas os termos de anisotropia uniaxial e Zeeman, é possível estimar a constante de anisotropias efetiva ( ) das nanopartículas por meio da seguinte equação (4.2). 119 (4.2) em que é a freqüência do micro-ondas na banda-X, o campo de ressonância, e a razão giromagnética. As curvas de ressonância obtidas por EPR, das séries em estudo estão agrupadas na figura 4.8, no item (a), para os diâmetros próximos a 8nm e, no item (b), para os diâmetros próximos a 9nm. Nota-se, primeiro, que as medidas foram feitas em amostras sólidas. Segundo, as intensidades foram ajustadas para poder aparecer no mesmo gráfico. Terceiro, as amostras de ferrita de cobalto apresentam um espectro de ressonância muito alargado, o que impossibilita qualquer determinação de parâmetros deste material por seu meio (em banda-X). Isso é um forte indicativo da alta anisotropia da ferrita de cobalto e não menos importante um alto valor de fator de amortecimento. 6 drr 8nm drr 9nm Intensidade arbitrária (u.a) HR = 2898.53 Oe ZnFe2O4 R=1086Oe HR = 2977.87 Oe NiFe2O4 R=807.03 Oe HR = 3032.60 Oe CuFe2O4 CoFe2O4 R=235.27 Oe 4 HR = 2892.49 Oe ZnFe2O4 R=398.00 Oe HR = 2792.75 Oe 3 NiFe2O4 R=782.41 Oe HR = 3001.30 Oe 2 CuFe2O4 R=0 Oe HR = 0 Oe 1 CoFe2O4 R=723.01 Oe 0 HR = 2892.49 Oe R=728.87Oe Intensidade arbitrária (u.a) 5 R=380.26 Oe HR = 3192.04 Oe -Fe2O3 Fe2O3 0 1 2 3 4 5 (a) Campo Magnético (kOe) 6 -1 0 (b) 1 2 3 4 5 6 7 Campo magnético (kOe) Figura 4.8: curvas de ressonância para amostras de (-Fe2O3, CoFe2O4, CuFe2O4, NiFe2O4 e ZnFe2O4 ), com diâmetros próximos a 8nm (a) e (b) para diâmetros próximos a 9nm. Em (b), parâmetro R é o valor da largura de linha na curva de ressonância e HR é o valor do campo de ressonância. Os dados relevantes obtidos por esta técnica estão nas tabelas 4.1 e 4.2. 120 4.3 Hipertermia magnética Finalmente, nesta seção, inicia-se a discussão e apresentação dos resultados de hipertermia magnética para as duas séries de amostras. Cabe ressaltar que, em 4.3.1, apresentaram-se dados da evolução temporal da temperatura para as diversas amostras. Notou-se na análise desses dados que diferentes comportamentos apareciam, sugerindo em alguns casos dois tempos (regimes) de resposta quando as amostras eram submetidas ao campo magnético alternado. Tais observações são mais nítidas no regime de alto campo para as amostras com maior anisotropia. Isso levou à utilização de um método semelhante ao de Bordelon et al. para avaliar de forma mais adequada o SAR de nossas amostras [4.3]. Primeiramente, portanto, não é necessário mostrar este fenômeno. 4.3.1 Curvas de aquecimento A título demonstrativo, escolheu-se mostrar na figura 4.9 a variação de temperatura por tempo, para cada série de ferritas com diâmetros muito próximos, para um campo de 133Oe. Observa-se um cruzamento singular nas curvas de aquecimento entre as amostras à base de ferrita de cobalto (CoFe2O4) e as outras ferritas nesta condição experimental. Este comportamento sugere diferentes respostas magnéticas à medida que o tempo evolui. Os gráficos destas variações de temperatura por tempo são para diâmetros próximos a 8nm e para diâmetros próximos a 9nm. 121 80 80 drr 8nm H=133 Oe 70 65 CoFe2O4 60 55 NiFe2O4 50 45 40 35 -Fe2O3 30 25 20 CuFe2O4 15 ZnFe2O4 10 5 0 ES 0 (a) 50 100 150 200 250 300 drr 9nm H=133 Oe 75 Variação de Temperatura (K) Variação de Temperatura (K) 75 70 CoFe2O4 65 -Fe2O3 60 NiFe2O4 55 50 45 40 CuFe2O4 35 30 25 20 15 ZnFe2O4 10 5 350 Tempo (s) 0 ES 0 (b) 50 100 150 200 250 300 350 Tempo (s) Figura 4.9: variação da temperatura em função do tempo para cinco amostras à base de ferrita sob campo magnético de 133Oe. O gráfico em (a) é a variação de temperatura em função do tempo para amostras com diâmetros próximos a 8nm e em (b) para 9nm. Nos dois gráficos da figura 4.9, nota-se uma mudança nas taxas de aquecimento da mostra de CoFe2O4 (curva em preto) decorrente do aumento da intensidade do campo magnético Ac. A curva ES representa a variação de temperatura do porta amostra vazio. Para melhor visualizar o fenômeno, investigou-se o comportamento da variação da temperatura por tempo das ferritas de cobalto com diâmetros próximos a 8nm e 9nm, para cinco campos magnéticos produzidos pelo equipamento de Hipertermia Magnética (45Oe, 68Oe, 90Oe, 113Oe e 133Oe). A comparação foi feita com a ferrita de níquel, para a série de 8nm, e a maguemita para 9nm. Os resultados dessas comparações estão exibidos nos gráficos da figura 4.10. No item (a) para a ferrita de cobalto e ferrita de níquel e no item (b) para a ferrita de cobalto com a maguemita. Todos os dois gráficos (linhas sólidas) mostram que as curvas de aquecimento das ferritas de cobalto cruzam em um determinado instante com as curvas das outras ferritas (pontilhado), o que ocorre a partir de uma intensidade de campo magnético alternado aplicado. 122 90 100 Variação de temperatura (K) drr 8nm Pontilhado - NiFe2O4 70 60 50 133Oe 40 113Oe 30 90Oe 20 68Oe 45Oe 10 0 Sólido - CoFe2O4 drr 9nm 90 Variação de temperatura (K) Sólido - CoFe2O4 80 Pontilhado - Fe2O3 80 70 133Oe 60 113Oe 50 40 30 90Oe 20 68Oe 10 45Oe 0 0 (a) 50 100 150 200 Tempo (s) 250 300 350 0 50 (b) 100 150 200 250 300 350 Tempo (s) Figura 4.10: variação temporal de temperatura para as amostras de ferrita de cobalto (CoFe2O4) e de níquel (NiFe2O4), com diâmetros próximos a (a) 8nm e (b) 9nm. 45Oe, 68Oe, 90Oe, 113Oe e 133Oe são as intensidades de campo magnético. Nos gráficos da figura 4.10, em (a), a comparação entre ferrita de cobalto e a ferrita de níquel mostra que há um cruzamento das curvas em um dado instante, para todas as intensidades de campo magnético aplicado. A ferrita de cobalto sempre ultrapassa a temperatura da amostra de ferrita de níquel. No item (b), afigura-se um comportamento similar, só que para diâmetros próximos a 9nm e se verifica, também aqui, o cruzamento das curvas da ferrita de cobalto e da maguemita em todos os campos aplicados. A taxa de aquecimento das curvas na figura 4.10 foi obtida com uma função denominada de Bidose-Response, que se caracteriza por possuir duas taxas na evolução da temperatura por tempo. O ajuste é feito com a função (4.4). (4.4) 123 O comportamento da função Bidose-Response é exibido na figura 4.11, em que A1 e A2 são as temperaturas iniciais e finais, respectivamente, enquanto h1 e h2 são os pontos na curva onde ocorrem as taxas de aquecimento ( ). Figura 4.11: comportamento da função denominada de Bidose-Response. Em h1, afigura-sese a primeira derivada inicial à curva e h2 representa a segunda derivada na curva. A1 e A2 são as temperaturas iniciais e finais respectivamente. A figura 4.12 exibe um dos ajustes feitos com o uso da função Bidose-Response (curva sólida em vermelho). A curva de temperatura em função do tempo é da amostra de ferrita de cobalto (CC3), cujo diâmetro é de 9.10nm. Nesta se observa a presença de duas taxas de aquecimento, uma durante os 30 segundos iniciais e outra a partir dos 50 segundos. Procedimento similar foi feito em trabalhos recentes, para estimar as taxas que melhor representam as curvas de aquecimento, entretanto não há um consenso de que técnica é a mais adequada [4.3]. 124 400 CC3-CoFe2O4 - drr=9.10nm 390 Bidose-Response 380 Temperatura (K) 370 360 350 340 330 320 310 300 290 0 50 100 150 200 250 300 350 Tempo (s) Figura 4.12: ajuste com a função Bidose–Response da curva da temperatura em função do tempo da amostra de ferrita de cobalto CC3, sob intensidade de campo magnético alternado de 133Oe em um intervalo de tempo de 300s. O gráfico na figura 4.13 exibe a derivada primeira do ajuste (Bidose-Response) da amostra de ferrita de cobalto CC3. O ponto mais alto do pico é a taxa máxima de aquecimento ( ). Este valor será usado no cálculo do SAR, para todas as amostras analisadas. 125 Taxa de aquecimento-dT/dt (K/s) 1,2 Bidose-Response 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0 50 100 150 200 250 300 Time (s) Figura 4.13: derivada primeira do ajuste (Bidose-Response) da amostra de ferrita de cobalto CC3, da figura 4.12 anterior. O pico nesta derivada é a taxa máxima de aquecimento ( ). 4.3.2 Perda de potência específica (SAR) nas amostras A Figura 4.14 apresenta o SAR versus H, para a série de amostras com diâmetros próximos a 8nm e em (b) para os diâmetros próximos a 9nm, sob campo magnético na freqüência de 500kHz. 126 1.0 1.0 CoFe2O4-Bidose 0.9 0.8 0.9 CuFe2O4-Bidose 0.7 ZnFe2O4-Bidose 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 (a) 80 100 120 140 Campo magnético (Oe) ZnFe2O4-Bidose 0.4 0.3 0.2 0.0 60 CuFe2O4-Bidose 0.5 0.0 40 NiFe2O4-Bidose 0.6 0.1 20 drr 9nm -Fe2O3-Bidose 0.7 0.1 0 CoFe2O4-Bidose 0.8 NiFe2O4-Bidose -1 SAR (W.g de Ferrita) -1 SAR (W.g de Ferrita) drr 8nm -Fe2O3-Bidose 0 (b) 20 40 60 80 100 120 140 Campo magnético (Oe) Figura 4.14: comportamento do SAR em função do campo magnético das diversas ferritas exibidas nas legendas dos gráficos, onde os diâmetros são próximos a (a) 8nm e (b) 9nm. A barra de erro no valor do SAR é de 8,5%. Bidose foi a função utilizada para extrair as taxas de aquecimento ( ). O gráfico na figura 4.15, item (a), exibe o SAR por campo magnético somente para as amostras de ferrita de cobalto (CoFe2O4) denominada de CC3 e de ferrita de Níquel (NiFe2O4) denominada de Ni6, cujos diâmetros são próximos a 8nm. Na mesma figura, item (b), temos o SAR por campo magnético somente para as amostras à base de ferrita de cobalto (CC3) e maguemita (γ-Fe2O3) denominada de MDA25, cujos diâmetros são próximos a 9nm. Esses gráficos destacam o comportamento da ferrita de cobalto (CoFe2O4), que, a baixo campo, apresenta valores pequenos de SAR, se comparado com as outras ferritas (NiFe2O4 e γ-Fe2O3) e que, a campos mais intensos (133Oe), ultrapassa os valores de SAR de todas as outras ferritas. 127 1.0 CoFe2O4 NiFe2O4 0.9 -Fe2O3 0.8 0.7 0.6 -1 0.5 0.4 0.3 0.2 drr 9nm CoFe2O4 0.9 SAR (W.g de Ferrita) 0.8 -1 SAR (W.g de Ferrita) 1.0 drr 8nm 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.1 0.0 (a) 0 20 40 60 80 100 120 140 Campo magnético (Oe) 0.0 0 (b) 20 40 60 80 100 120 140 Campo magnético (Oe) Figura 4.15: comportamento do SAR em função do campo magnético para as amostras de ferrita de cobalto (CoFe2O4) e de ferrita de níquel (NiFe2O4), denominadas de CC3 e Ni6 respectivamentes e cujos diâmetros estão próximos a 8nm (a). Em (b), afiguram-se as amostras à base de ferrita de cobalto (CC3) e maguemita (γ-Fe2O3) com denominação de MA25, cujos diâmetros são próximos a 9nm. Adicionalmente, foi feita uma medida da variação de temperatura por tempo das amostras CC3 e MA25 na forma coloidal. Utilizou-se de um equipamento comercial da empresa Ambrell modelo EasyHeat. Na figura 4.16, foram apresentados os dados de SAR dos dois colóides em função da amplitude de campo magnético em 300kHz. Essas medidas, em alto campo, resultaram em um SAR de 813W/g a 713Oe de campo para a ferrita de cobalto e 481W/g a 795Oe para a maguemita. 128 900 Colóide - 300kHz -1 SAR (W.g de ferrita ) 800 MDA25 CC3 700 600 500 400 300 200 100 0 0 200 400 600 800 Campo magnético (Oe) Figura 4.16: comportamento do SAR em função do campo magnético para as amostras CC3 (CoFe2O4) e da MA25 (-Fe2O3), obtidas em um equipamento comercial operando em uma freqüência de 300kHz. Similarmente, foram realizadas as medidas destas amostras em baixo campo com o equipamento construído para hipertermia magnética, em uma freqüência fixa de 500kHz. O SAR obtido para a ferrita de cobalto coloidal foi de 46W/g a 133 Oe e de 47W/g a 133 Oe para a magnetita coloidal. No caso da fase sólida, o SAR foi de 0.78W/g a 133Oe para a magnetita e 0.08W/g a 133Oe para a ferrita de cobalto. O gráfico na figura 4.17 exibe as medidas, no equipamento experimental, para estas duas amostras. 129 -1 SAR (W.g de CoFe2O4 ou de Fe2O3 ) 50 CoFe2O4 -Colóide -Fe2O3 -Colóide 40 CoFe2O4 -Sólido CoFe2O4 -Sólido 30 drr 9nm 20 10 0 20 40 60 80 100 120 140 Campo Magnetico (Oe) Figura 4.17: comportamento do SAR em função do campo magnético para as amostras CC3 (CoFe2O4) e MA25 (-Fe2O3) na forma de coloide e sólido (pó). Os gráficos da figura 4.16 e 4.17 mostram que as amostras coloidais de cobalto e maguemita apresentam o mesmo comportamento qualitativo das amostras sólidas, i.e há uma clara alteração da eficiência magnetotérmica dessas nanoestruturas com a amplitude de campo magnético aumentando. 4.3.3 Eficiência das amostras Até o presente momento, só foram mostrados os dados do SAR versus campo magnético. É curioso, entretanto, notar que a energia do campo magnético na vizinhança da nanopartícula, pensando no vetor de Poynting, é proporcional ao quadrado da amplitude do campo. Logo, outra maneira interessante de apresentar os dados de hipertermia magnética é analisar o fenômeno com respeito à conversão de energia eletromagnética em energia térmica. Isso pode ser feito se for definida a eficiência ( ) como a razão entre a potência dissipada e amplitude quadrática do campo, isto é, fazendo 130 (4.2) Além da sua interpretação física, este parâmetro é bastante útil para a análise dos dados experimentais, em particular, na análise da saída do regime linear para o regime nãolinear, fruto do aumento da amplitude do campo magnético. O mesmo não acontece com o comportamento do SAR vesus campo que sempre é crescente. Logo, é muito mais conveniente usar a eficiência (), uma vez que ela pode aumentar ou diminuir, ou tender para um valor constante a campos suficientemente pequenos indicando a região de resposta linear. Os gráficos na figura 4.18 exibem o comportamento do SAR/H2 por H para todas as amostras (a) com diâmetros próximos a 8nm e (b) as amostras com diâmetros próximos a 9nm. A eficiência () no item (a) da amostra de ferrita de cobalto decai abaixo das ferritas de Níquel (NiFe2O4) e de maguemita (γ-Fe2O3), em regime de campo baixo, embora ultrapasse todas as outras em regime de alto campo (133Oe). O item (b), referente às ferritas com diâmetros próximos a 9nm, mostra que a diferença de eficiência é ainda mais evidente em regime de baixo campo, sendo que a maguemita é bem superior à ferrita de cobalto. Serão retomadas estas discussões em breve após serem analisados os dados de simulação e o efeito da interação dipolar magnética em um importante parâmetro: a anisotropia magnética. 131 Sólidos drr 8nm CoFe2O4 3.5 3.0 2.5 NiFe2O4 2.0 -Fe2O3 1.5 1.0 CuFe2O4 0.5 ZnFe2O4 0.0 0 (a) 20 40 60 80 100 120 140 160 Campo Magnético (Oe) 2 -5 -1 -2 Eficiência-SAR/H (10 . W.g .Oe de Ferrita) 2 -5 -1 -2 Eficiência-SAR/H (10 . W.g .Oe de Ferrita) 4.0 4.0 Sólidos 3.5 drr 9nm CoFe2O4 -Fe2O3 3.0 2.5 NiFe2O4 2.0 1.5 CuFe2O4 1.0 0.5 ZnFe2O4 0.0 0 (b) 20 40 60 80 100 120 140 160 Campo Magnético (Oe) Figura 4.18: eficiência de aquecimento () para as nanopartículas com diâmetros próximos a 8nm (a) e 9nm (b). 4.3.4 Interação dipolar e a anisotropia magnética Até o presente momento, foram avaliadas as amostras sem levar em conta os efeitos de interação dipolar magnética. Aliás, sabe-se que a interação dipolar pode ser reescrita em termos de uma contribuição à anisotropia magnética efetiva. De acordo com o modelo DBF [4.4], para o caso de forte interação dipolar, a contribuição da anisotropia adimensional, considerando nanopartículas homogêneas e monodispersas, pode ser escrita como na equação (4.3). (4.3) em que é o número de primeiros vizinhos. De acordo com a literatura, uma boa estimativa é considerar [4.5]. 132 Ocorre, porém, que tanto a análise dos dados de magnetometria, aliados a de Rietveld, e não menos importante o conhecimento acerca do processo de passivação estabelecido durante a síntese das nanopartículas, levam à forte suspeita da existência de uma nanopartícula core-shell. Nesse, caso a equação acima precisa ser reescrita como em (4.4). (4.4) em que k é a espessura da casca e é a magnetização de saturação do caroço. Consideram-se aqui as mesmas aproximações do capítulo anterior. Agora, finalmente, podem ser calculados todos os parâmetros relevantes à presente discussão. As tabelas 4.3 e 4.4 apresentam estes dados, considerando nanopartículas coreshell. Tabela 4.3: Série de ferritas com diâmetros próximos a 8nm. CoFe2O4 drr 8nm CS-Diam. CS-Magn. ϒ-Fe2O3 CuFe2O4 NiFe2O4 CS-Magn. CS-Magn. CS-Magn. (emu/cm3) 425 417 135 270 (emu/cm3) 249.2 175.7 139.5 150.8 DRR (nm) 8.4 7.9* 7.7 7.9 0.08 α 1.0 0.06 0.06 DTEM (nm) 10 10.5 7.6 9.6 δD 0.25 0.25 0.25 0.25 fcore 0.60 0.60 0.42 1.03 0.56 (nm) 0.8 0.8 1.3 1.0 0.9 10.0 10.0 10.5 7.7 9.6 0.25 0.25 0.25 0.25 0.25 11.1 11.1 0.1 0.2 0.5 9.8 9.8 5.6 1.3 6.0 18.6 18.6 1.9 1.7 1.5 5224 5224 472 332 387 12.2 12.2 7.5 7.1 7.6 *DMODAL (nm) *δD (× 105 erg/cm3) (Oe) (sec) fτ0 A 1º coluna à esquerda na tabela 4.3 exibe os parâmetros usados para as ferritas de cobalto (CoFe2O4), maguemita (ϒ-Fe2O3) , ferrita de Cobre (CuFe2O4 ), ferrita de Níquel 133 (NiFe2O4). Já as colunas a direita apresentam os valores correspondentes a cada parâmetro de caracterização obtidos levando-se em consideração a influência da polidispersão das amostras. A amostra de *7.9nm de maguemita tem seu diâmetro estimado por um difratometro de pó, sendo que as demais amostras têm seu diâmetro estimado em um difratômetro do Laboratório Nacional de Luz Sincroton (LNLS), na cidade de CampinasSP e é feita a correção do diâmetro por análise de Rietveld. Tabela 4.4: Série de ferritas com diâmetros próximos a 9nm. CoFe2O4 drr 9nm CS-Diam. CuFe2O4 NiFe2O4 CS-Magn. CS-Magn. CS-Magn. (emu/cm3) 425 417 135 270 (emu/cm3) 271.9 209.1 124.2 153.7 DRR (nm) CS-Magn. ϒ-Fe2O3 9.1 * 9.3 9.4 9.2 α 1.0 0.05 0.06 0.09 DTEM (nm) 10.2 9.2 - - δD 0.26 0.24 - - 0.49 0.86 0.54 fcore 0.71 (nm) *DMODAL (nm) *δD (× 105 erg/cm3) (Oe) 0.64 0.6 0.7 1.2 0.2 1.0 10.2 10.6 11.8 9.9 11.3 0.26 0.26 0.24 0.25 0.25 (0.30) 5.8 5.8 0.4 0.2 0.8 15.9 14.4 9.9 2.0 4.7 (6.8) 10.5 11.7 1.0 0.4 1.9 (2.1) 2729 2729 173 364 572 11.5 11.5 6.2 7.2 8.1 (sec) fτ0 A 1º coluna à esquerda na tabela 4.4 exibe os parâmetros usados para as ferritas de cobalto (CoFe2O4), maguemita (ϒ-Fe2O3) , ferrita de Cobre (CuFe2O4 ), ferrita de Níquel (NiFe2O4 ). Já as colunas à direita apresentam os valores correspondentes a cada parâmetro de caracterização obtido levando-se em consideração a influência da polidispersão das amostras. A amostra de *9.3nm de maguemita tem seu diâmetro estimado por um difratômetro de pó, sendo que as demais amostras têm seu diâmetro estimado em um difratômetro do Laboratório Nacional de Luz Sincroton (LNLS), na cidade de CampinasSP, e é feita a correção do diâmetro por análise de Rietveld. Aqui se observa que os valores da magnetização de saturação do Bulk ( ), assim como da partícula ( ), obtidas experimentalmente (Exp.), possuem valores muito próximos para estas duas amostras consideradas. 134 Com as imagens de MET disponiveis, foi possível obter o diâmetro da partícula (DTEM), a polidispersão em tamanho (δD) e a espessura da casca (shell), que se forma por passivação da superfície em uma etapa específica no processo de síntese de todas as amostras. Ainda para esta faixa de diâmetros, há uma grande diferença de valores da constante de anisotropia ( ) entre as amostras, em particular as de ferrita de cobalto e maguemita. A análise por Rietveld mostrou que as estruturas cristalinas das nanopartículas são do tipo espinélio invertida (x=1), sendo a exceção para a ferrita de Zinco (ZnFe2O4) (Este é o motivo pelo qual a mesma encontra-se nesta escala ferrimagnética). Os valores de (damping) levam a diferenças significativas dos valores do tempo característico de relaxação ( ), que será usado mais adiante quando forem comparados os dados com a simulação e a TRL [4.6-4.10]. O valor de da maguemita foi utilizado como referência para o cálculo dos valores das outras amostras. Neste caso, foi assumido o valor de 0.05. Os valores de f.τ0 têm fundamental relevância nas simulações de histerese dinâmica, como indicado a seguir nas simulações. Adicionalmente, lembrando que o parâmetro sigma efetivo ( como ) pode ser escrito , nota-se uma grande diferença entre valor calculado agora e a anisotropia adimensional. Antes, em muitos casos, encontravam-se valores menores que 2 (exceção a ferrita de cobalto). Agora, incluindo a contribuição dipolar, encontra-se na faixa de 2 a 30. Dessa forma, com a determinação dos diversos parâmetros relevantes, pode-se partir para a simulação dinâmica e avaliar se há como comparar (mesmo qualitativamente) os dados experimentais com os simulacionais. 4.4 Simulações de histerese dinâmica Como discutido anteriormente, as simulações foram feitas pelo pesquisador Dr. Gabriel T. Landi e segue o método discutido na referência [4.11] (vide seção 3.9 do capítulo 3). Primeiramente, ao serem analisados s os dados de valores entre e , nota-se, claramente, . Decidiu-se, portanto, analisar as curvas de histerese em função da anisotropia adimensional nestes dois casos. Para estimar o comportamento dos ciclos de histerese e validar o modelo usando a equação de Landau-Lifshitz, foram feitas simulações em um range de a para com diferentes valores de σ e . A figura 4.19 135 exibe as simulações para verde) e (cor preta), (cor vermelha), (cor . Figura 4.19: curvas de histerese decorrentes da simulação utilizando a equação de LandauLifshitz e as condições de contorno previamente estabelecidas para os vários e os campos normalizados (cor preta), (cor vermelha), (cor verde) e . Nota-se que, nos gráficos da figura 4.19, que, quando em regime de baixo campo, apresentam-se ciclos de histerese na forma de elipses (características do regime linear). A área máxima do ciclo de histerese ocorre em e uma forte transição para o regime não-linear se verifica com o aumento da amplitude do campo e uma mudança significativa na forma das curvas de histerese. A figura 4.20 refere-se aos valores de maguemita (série de 9nm) cujo valor calculado é de , estando na faixa da amostra de . Neste caso, a forma das curvas de histerese é quase elíptica, característica do regime linear, e os desvios deste regime são pequenos. Espera-se, portanto, que ocorram desvios significativos somente para intensidade de campo bem elevada. Outra informação relevante é que a área de histerese 136 máxima ocorre em valores menores de anisotropia quando se faz comparação à simulação anterior. Figura 4.20: curvas de histerese, decorrentes da simulação utilizando a equação de LandauLifshitz e as condições de contorno previamente estabelecidas, para os vários e os campos normalizados (cor preta), (cor vermelha), (cor verde) e . A figura 4.21 mostra os gráficos de SAR versus Nota-se que, com o decréscimo de para diferentes valores de . aumenta-se a rapidez com que o SAR evolui por , para todos os valores de σ tomados. Os valores absolutos, entretanto, que tendem à saturação, diminuem com o decréscimo de decréscimo de . No caso da eficiência versus o leva a uma eficiência maior em todos os casos de σ tomados, porém dois efeitos singulares são observados: o primeiro é que, à medida que o valor de decresce, o pico da eficiência torna-se cada vez mais estreito, de forma a definir um melhor valor de , e o segundo efeito é que, para cada valor de , o aumento progressivo de sigma leva um deslocamento do pico de eficiência para valores menores de . 137 Figura 4.21: simulações da eficiência de aquecimento () e do SAR, em função do campo magnético de intensidade normalizada . Nestas simulações foram considerados -2 -3 -4 valores de de 10 , 10 e de 10 para SAR em função de e para em função de . Os valores definidos de σ para = 10-2 foram σ=3, σ=5 e σ=7, para = 10-3 foram σ=5, σ=7 -3 e σ=9 e para =10 foram σ=8, σ=10 e σ=12. 138 A simulação na figura 4.22 permite observar o comportamento da eficiência () em função do parâmetro para diferentes valores de sigma de , e a discussão aqui gira em torno do aumento ou do decréscimo da eficiência em regime de barreira de campo alto ou baixo. Admitiu-se, para estas simulações, um intervalo de 0.02 a 0.2 para o campo normalizado ( ) com passo de 0.02. Figura 4.22: simulação da eficiência () em função de sigma ( ), para vários valores de , em um intervalo de 0.02 a 0.2 a passos de 0.02. Quatro valores de foram tomados, resultando em 4 pacotes de curvas (1, 2, 3 e 4). A curva mais alta na figura 4.22, em escuro, é referente à em cor clara, é referente à Com a diminuição de =0.02 e a mais baixa, =0.2, com intervalo entre elas tomado em um passo de 0.02. , a resposta global é deslocada no sentido de valores mais elevados de σ, aumentando simultaneamente a magnitude da eficiência. Como se pode observar, em todas as curvas em que σ > σmax , as nanopartículas estão fora da faixa de resposta linear, enquanto o lado oposto tem lugar no intervalo complementar. Note também que, no regime não-linear, σmax é deslocado para valores maiores. Finalmente, pode-se agora fazer uma comparação da simulação com os resultados experimentais da Fig. 4.18. Nota-se (Fig. 4.22), primeiramente, que a eficiência em função de sigma também possui um máximo em função da anisotropia. Logo, podem-se definir duas regiões: nanopartículas com σ < σmax vão ser denominadas no regime de baixa 139 anisotropia, enquanto σ > σmax vão se referir à alta anisotropia. Assim, de acordo com a simulação, ficam claros dois comportamentos distintos para amostras com baixa e alta anisotropia. Na primeira, a eficiência tende a decrescer com o campo magnético, já na segunda, ocorre o oposto. Isso sugere que, na fig. 4.18 (b), as ferritas de Co e Ni e a maguemita estão com nanopartículas com alta anisotropia, enquanto o oposto é verificado na ferrita de Zn e Cu. Se forem comparados ainda os valores de as correspondentes simulações ( destas amostras com ), pode-se concluir que, de fato, há uma boa concordância entre a simulação e observações experimentais feitas neste trabalho. 4.5 Observações experimentais Em resumo, no regime de transição de baixo para alto campo magnético, para amostras com diâmetros próximos à 8nm , as observações foram as seguintes: quanto à hierarquia no aquecimento para diâmetros próximos a 8nm e campo de 133Oe, segue a seguinte relação, com base no gráfico da figura 4.10 item (a), que: CoFe2O4 > NiFe2O4 > -Fe2O3 > CuFe2O4 > ZnFe2O4; quanto às relações entre o fator de amortecimento das amostras, com base nos dados da tabela 4.1, que: ; os gráficos da figura 4.14 (a) revelam entre o SAR das amostras, por campo a 133 Oe, as seguintes relações: SAR da ferrita de cobalto (CoFe 2O4)> SAR da ferrita de níquel (NiFe2O4)> SAR da maguemita (-Fe2O3)> SAR da ferrita de cobre (CuFe2O4)> SAR da ferrita de zinco (ZnFe2O4); os gráficos, na figura 4.18 (a), exibem a razão de SAR/H2 versus campo H, e indicam a eficiência () de aquecimento das nanopartículas em análise. Este gráfico revela que a eficiência em alto campo (acima de 120Oe) segue a seguinte relação: do (CoFe2O4) > do (NiFe2O4)> da (-Fe2O3) > do (CuFe2O4) > do (ZnFe2O4). Ressalta-se que essa relação muda com o regime de campo e que, na verdade, depende dos parâmetros intrínsecos de cada amostra com respostas diferenciadas em função da intensidade do campo AC. A comparação com a simulação numérica sugere que as amostras de CoFe2O4 e NiFe2O4 estão em regime 140 de alta barreira com respeito a 500kHz, enquanto as demais parecem estar no limite de baixa anisotropia. No regime de transição de baixo para alto campo magnético e diâmetros próximos a 9 nm, as observações foram as seguintes: quanto à hierarquia no aquecimento para diâmetros próximos a 9nm e campo de 133Oe, segue a seguinte relação, com base no gráfico da figura 4.10 (b): CoFe2O4 > -Fe2O3 > NiFe2O4 > CuFe2O4> ZnFe2O4. A ferrita de cobalto (CoFe2O4) tem a maior variação de temperatura em comparação às outras ferritas, enquanto a ferrita de Zinco (ZnFe2O4) apresenta a menor entre todas. Todas as ferritas tiveram aumento no valor absoluto da temperatura quando os diâmetros deslocaram de 8nm para 9nm. A exceção foi a ferrita de Zinco, cujo valor permaneceu aproximadamente constante. A ferrita de níquel (NiFe 2O4) teve seu range de temperatura ultrapassado pela maguemita (-Fe2O3), quando do aumento de diâmetro em aproximadamente 1nm. A ferrita de cobalto (CoFe2O4) exibiu claramente um cruzamento com as outras curvas em qualquer um dos diâmetros, sugerindo comportamentos magnéticos distintos ao longo de sua curva de aquecimento por tempo; tendo como premissa de que a largura de linha na ressonância ( ) seja tanto maior quanto maior for o coeficiente de amortecimento (), tem-se as seguintes relações entre o fator de amortecimento das amostras, com base nos dados da tabela 4.3: ; o cálculo da anisotropia efetiva da ferrita de cobalto revela um valor de , como exibido na tabela 4.3 e o valor de , exibido na tabela 4.4, quando se considera a polidispersão. A ferrita de cobalto (CoFe2O4), portanto, é a amostra que apresenta o mais alto valor de anisotropia, como esperado; os gráficos na figura 4.14 revelam um SAR das amostra, para campo de 133Oe seguindo as seguintes relações: SAR da ferrita de cobalto (CoFe2O4)>SAR da 141 maguemita (-Fe2O3)> SAR da ferrita de níquel (NiFe2O4)> SAR da ferrita de cobre (CuFe2O4)>SAR da ferrita de zinco (ZnFe2O4); o gráfico 4.18 (b) exibe a razão de SAR/H2 versus campo H, e indica a eficiência () de aquecimento das nanopartículas em análise. Este gráfico revela que a eficiência acima 120Oe segue a seguinte relação: (CoFe2O4) > (-Fe2O3) > (NiFe2O4) > (CuFe2O4) > (ZnFe2O4). A eficiência, entretanto, depende da faixa de campo a que as nanopartículas estão submetidas, e, na verdade, depende dos parâmetros intrínsecos de cada amostra com respostas diferenciadas em função da intensidade do campo AC; quando confrontamos os valores de SAR da amostra de maguemita (-Fe2O3) com os da ferrita de cobalto (CoFe2O4), como mostra o gráfico na figura 4.15 item (b), pode-se observar que o SAR da -Fe2O3 é maior para baixo campo, entretanto a situação se inverte à medida que o campo gradativamente aumenta e começa a girar a magnetização da ferrita de cobalto (transição de regime) e o SAR desta ultrapassa a da maguemita (-Fe2O3). Similar processo se repete quando se utiliza um range maior de campo magnético, com o uso de um equipamento comercial. O gráfico na figura 4.16 corrobora essa afirmação, mostrando uma variação de campo de até 800Oe, a uma freqüência fixa de 300 kHz. O gráfico também exibe o comportamento da amostra -Fe2O3, revelando um SAR maior quando abaixo de 317 Oe e, acima deste valor, o SAR da CoFe2O4 suplanta-a. Essa avaliação foi feita em equipamento comercial para campos maiores e foi concretizada com uma massa menor do que a realizada no equipamento construído em 500kHz e que fez apenas deslocar o fenômeno da transição entre as ferritas para ponto no campo maior. Tal comportamento do SAR, entretanto, repete-se; o gráfico da figura 4.17, exibe o comportamento da temperatura em função do tempo das amostras -Fe2O3 e CoFe2O4, no estado de coloide e na forma sólida (pó). De forma resumida, observa-se que: 142 1. para o coloide, os eixos de anisotropia das nanopartículas estão mais alinhados com o campo AC aplicado, o que favorece o aumento do SAR. Na forma sólida, o giro do eixo fácil para alinhar com o campo magnético é mais difícil e resulta, portanto, em um ângulo maior entre o eixo fácil e o campo aplicado do que na forma coloidal; 2. para as amostras de -Fe2O3 e CoFe2O4 no estado de colóide, existem comportamentos semelhantes, entretanto a amostra de CoFe2O4 possui, ainda, valor de SAR ligeiramente menor em baixo campo. Em parte, este fato se deve à anisotropia magnética desta amostra, o que impede o momento magnético de girar com a ação do campo magnético. Percebe-se, porém, que a CoFe2O4 deve suplantar a -Fe2O3 com o aumento da intensidade do campo. Neste gráfico, há uma tendência clara, mostrando uma aproximação dos pontos do SAR de CoFe2O4, dos pontos do SAR de -Fe2O3 e que, a campos maiores, o SAR de CoFe2O4 suplantará o da -Fe2O3; 3. nas amostras sólidas (pó), o valor do SAR é bem menor do que o dos coloides, devido à aleatoriedade dos eixos de fácil magnetização. O alinhamento do campo AC com o eixo fácil tem um ângulo maior, entretanto se percebe o mesmo comportamento do item (2). 4.6 Conclusões Em resumo, os resultados experimentais e simulados claramente sugerem que os valores do SAR estão intimamente relacionados com as áreas de histerese dinâmica, como esperado na teoria (apesar de algumas referências na literatura parecerem, erradamente, a acreditar que nanopartículas "superparamagnéticas" possam aquecer). De fato, todas as amostras analisadas que aqueceram, em particular as superparamagnéticas em regime de campo quasi-estático, só o fizeram porque passaram a apresentar histerese dinâmica. A maguemita é uma amostra com grande potencial em regime de baixo campo magnético, apesar de ter uma anisotropia magnética bem menor e uma magnetização pouco abaixo da ferrita de cobalto. Na medida em que o campo magnético evolui para intensidades maiores, no entanto, os momentos magnéticos da ferrita de cobalto são gradualmente desbloqueados 143 e agora o SAR aumenta consideravelmente, suplantando não só a maguemita, mas o SAR de todas as outras amostras em todos os dois diâmetros analisados (8nm e 9nm) em regime de alto campo magnético, i.e. 133Oe. Logo, no regime de alto campo, a ferrita de cobalto apresenta melhor eficiência magneto-térmica. As simulações de histerese dinâmica mostraram que podem reproduzir, razoavelmente bem, os resultados experimentais desde que, no cálculo da anisotropia efetiva, a contribuição da interação dipolar seja considerada. Na comparação qualitativa entre os resultados experimentais e as simulações de histerese dinâmicas de histerese, ficou claro o importante papel da anisotropia magnética e do fator de amortecimento nas propriedades magneto-térmicas das nanopartículas. Referências bibliográficas [4.1] ITRI, R., DEPEYROT, J., TOURINHO, F. A., SOUSA, M. H., Eur. Phys. J. E. 4, 201 (2001). [4.2] SOUSA, M. H., TOURINHO, F. A., DEPEYROT, J., DA SILVA, G.J., J. Phys. Chem. B, 105, 1168 (2001). [4.3] BORDELON, D. E., CORNEJO, C., BRÜTTNE, C., WESTPHAL, F., DEWEESE, T. L., IVKOV, R., J. Appl. Phys.109, 124904 (2011). [4.4] DORMANN, J. L., DÓRAZI, F., LUCARI, F., TRONC. E., PRENÉ, P., JOLIVET, J. P., FIORANI, D., CHERKAOUI, R., NOGUÈS, M., Phys. Rev. B. 53, 14291 (1996). [4.5] DONEV, A., CISSE, I., SACHS, D., VARIANO, E. A., STILLINGER, F. H., CONNELLY, R., TORQUATO, S., CHAIKIN, P. M., Science. 303, 990 (2004). [4.6] ROSENSWEIG, R. E., J. Magn. Magn. Mater. 252, 370 (2002). [4.7] EGGEMAN, A. S., MAJETICH, S. A., FARREL, D., PANKHUST, Q. A., IEEE Trans. Magn. 43, 2451 (2007). [4.8] KRISHNAN, K. M., IEEE Trans. Magn. 46, 2523 (2010). [4.9] HILGER, I., HERGT, R., KAISER, W. A., IEE Proc. Nanobiotechnology. 152, 33 (2005). [4.10] CARREY, J.B., MEHDAOUI, R.M., J. Appl. Phys, 109, 083921 (2011). [4.11] LANDI, G. T., J. Appl. Phys. 111, 043901 (2012). 144 Capítulo 5 Efeito da dependência do expoente “crítico” da amplitude de campo magnético alternado na transição do regime linear para não-linear 5.1 Introdução Na teoria do regime linear, encontra-se para a potência dissipada a seguinte equação: , em que é a freqüência, é a amplitude de campo magnético alternado e (5.1) é o tempo de relaxação efetivo. Nessa expressão, válida no regime de baixo campo, fica claro que a perda específica escala com o quadrado do campo magnético. Vários autores têm demonstrado que em muitos casos tal comportamento é verificado. Em alguns artigos da literatura, no entanto, em amostras específicas, foi relatada uma dependência com a terceira potência, ou seja, com o cubo. Provavelmente o primeiro trabalho que discute tal situação é o de Hiergest et al. de 1999 [5.0]. Neste os autores sugerem existir diferentes mecanismos de perda, i.e; assim como outros autores da literatura, aqueles indicam que existem perdas “relaxacionais” e estas se diferem das histeréticas (ressalta-se que tal diferenciação é, na visão do autor deste trabalho, extremamente equivocada e infeliz, como provado ao longo da tese). De fato, a potência cúbica foi atribuída a perdas por mecanismos de Rayleigh. Neste capítulo, investiga-se de forma crítica a dependência do valor do expoente “crítico” associado à amplitude do campo magnético na potência dissipada em função de diversos parâmetrosa experimentais (diâmetro, constante de anisotropia, regime de campo magnético, etc.). A intenção desta tese é responder algumas questões básicas, como por exemplo: existe algo de especial no expoente diferente de 2? Ou, ainda, o valor 3 representa algum mecanismo diferente? É necessário ter partículas multi-domínio para explicar um valor para o expoente diferente daquele obtido no regime linear? Entre outras 145 questões. Antes, porém, discutir-se-ão alguns conceitos básicos bem estabelecidos teoricamente. 5.2 Potência dissipada de acordo com a lei de Rayleigh Em 1887, Rayleigh investigou diversos materiais magnéticos em regime de baixo campo e provou que a permeabilidade magnética destes materiais segue a lei escrita na equação (5.2) (escrita no sistema CGS): (5.2) , em que é a permeabilidade inicial associada a processos reversíveis de rotação da magnetização e uma contribuição irreversível, muitas vezes associada a movimentos de parede de domínio [5.1]. Não é difícil demonstrar que tal contribuição à permeabilidade magnética fornece a seguinte equação para a magnetização (5.3): , em que (5.3) é a suscetibilidade inicial. Tal expressão fornece curvas de histerese não elípticas como apresentado na figura 5.0 [5.1]. Figura 5.0: curva de histerese gerada por uma contribuição irreversível ( ) sugerida por Rayleigh. 146 A perda por histerese é proporcional à área interna do ciclo de histerese da curva na figura 5.0, e pode ser obtida calculando-se o trabalho realizado pela força magnética. Tal cálculo mostra que a área é escrita como na equação (5.4) por: (5.4) A perda de potência é o produto da freqüência pela área interna deste ciclo, como na equação (5.5) [5.2]: , em que (5.5) é a freqüência de repetição do ciclo de histerese em s-1. Nota-se, portanto, que realmente a dependência cúbica do expoente do campo magnético poderia, em determinadas situações experimentais, ser possivelmente explicada por perdas de Rayleigh. Tal argumento foi recentemente utilizado novamente por Hergt et al (2008) [5.3]. Neste artigo, os autores argumentam que, se houver uma grande polidispersão de tamanhos, as partículas podem se estender a multidomínios e a perda por Rayleigh deverá ser considerada também. Dessa forma, o fato de aparecerem resultados experimentais que se encaixam nas perdas da lei de Rayleigh foi atribuído a uma pequena fração de partículas multidomínios que podem estar presentes nas amostras. 5.3 Potência dissipada por correntes parasitas (“eddy-current”) Há ainda outras contribuições, como, por exemplo, aquela atribuída a correntes parasitas, também denominadas “eddy-current” [5.1]. A sua fundamentação se baseia na ação de campos eletromagnéticos variáveis no tempo, os quais induzem correntes parasitas na superfície de um corpo que deve possuir uma condutividade elétrica específica. Estas correntes parasitas são, na verdade, circuitos fechados de corrente, circulando em um plano perpendicular ao fluxo magnético alternado. 147 Se for considerada uma amostra no formato de uma esfera de diâmetro equação da potência dissipada média , a [5.6] sob ação de eddy-current é dada da seguinte forma (5.6): (5.6) em que a amplitude do campo alternado é e a resistividade é . A perda por “eddy-current” cresce com o quadrado da freqüência, com o quadrado do diâmetro e com o quadrado da intensidade do campo magnético. Curiosamente, a contribuição do expoente do campo magnético é a mesma apresentada pela teoria de regime linear (válida para baixos campos) [5.8, 5.2]. Dois pontos, entretanto, sugerem que tal contribuição deva ser irrelevante para partículas à base de ferritas nanométricas: (a) a baixa condutividade elétrica destes materiais, e (b) a dependência com o diâmetro é menor do que no caso do mecanismo histerético via rotação de spins, regime linear ou não-linear, em que os spins escalam com o volume da partícula (via a susceptibilidade magnética). 5.4 Conjunto de amostras e o comportamento do SAR em função do diâmetro A estratégia até o presente momento foi investigar a dependência da potência dissipada em função diâmetro para as amostras de ferrita de Cobalto (capítulo 4). No capítulo 5, será apresentada, para um diâmetro fixo, qual a dependência do fenômeno magneto-térmico para diferentes ferritas. Agora, com o intuito de aprofundar a discussão acerca da transição para o regime não-linear, foram selecionadas diferentes ferritas numa larga faixa de diâmetros. As figuras 5.1, 5.2, 5.3 e 5.4 apresentam as curvas de hipertermia para amostras de diferentes diâmetros na faixa de campo de 68Oe e 133Oe. Tais medidas demonstram a forte dependência com diâmetro (parâmetro intrínseco) e amplitude de campo (parâmetro extrínseco). 148 110 90 80 Temperatura (K) H=68Oe -Fe2O3 MFII-3.1nm MFI2-3.5nm MFI4-4.2nm MFI3-5.3nm MA10-7.9nm MA25-9.3nm MTA3-9.9nm 100 70 60 50 40 30 20 10 0 0 50 100 150 200 250 300 350 Tempo (s) (a) 110 90 80 Temperatura (K) H=133Oe -Fe2O3 MFII-3.1nm MFI2-3.5nm MFI4-4.2nm MFI3-5.3nm MA10-7.9nm MA25-9.3nm MTA3-9.9nm 100 70 60 50 40 30 20 10 0 0 (b) 50 100 150 200 250 300 350 Tempo (s) Figura 5.1: variação da temperatura em função do tempo de amostras de maguemita (ϒFe2O3) com campo magnético alternado na intensidade (a) H=68Oe e (b) H=133Oe. 149 110 90 80 Temperatura (K) H=68Oe CoFe2O4 CA3-3.1nm CB3-3.4nm CC1-8.4nm CC3-9.1nm CD1-12.9nm CD3-13.6nm CD3-13.5nm 100 70 60 50 40 30 20 10 0 0 50 100 150 200 250 300 350 Tempo (s) (a) 120 CA3-3.1nm CB3-3.4nm CC1-8.4nm CC3-9.1nm CD1-12.9nm CD3-13.6nm CD3-13.5nm 110 100 Temperatura (K) 90 80 H=133Oe CoFe2O4 70 60 50 40 30 20 10 0 0 (b) 50 100 150 200 250 300 350 Tempo (s) Figura 5.2: variação da temperatura em função do tempo de amostras de ferrita de cobalto (CoFe2O4) com campo magnético alternado na intensidade (a) H=68Oe e (b) H=133Oe. 150 110 90 80 Temperatura (K) H=68Oe CuFe2O4 CUE10-5.8nm CUE3-7.7nm CUE9-8.7nm CUE0-9.4nm CUE4-10.1nm CUE5-10.3nm CUE7-11.3nm 100 70 60 50 40 30 20 10 0 0 50 100 (a) 150 200 250 300 350 Tempo (s) 110 CUE10-5.8nm CUE3-7.7nm CUE9-8.7nm CUE0-9.4nm CUE4-10.1nm CUE5-10.3nm CUE7-11.3nm 100 90 Temperatura (K) 80 H=133Oe CuFe2O4 70 60 50 40 30 20 10 0 0 (b) 50 100 150 200 250 300 350 Tempo (s) Figura 5.3: variação da temperatura em função do tempo de amostras de ferrita de cobre (CuFe2O4) com campo magnético alternado na intensidade (a) H=68Oe e (b) H=133Oe. 151 110 90 80 Temperatura (K) H=68Oe NiFe2O4 Ni4-4.9nm Ni8-5.3nm Ni10-6.3nm Ni5-6.5nm Ni6-7.9nm Ni3-9.2nm Ni7-12.8nm 100 70 60 50 40 30 20 10 0 0 50 100 (a) 150 200 250 300 350 Tempo (s) 110 90 80 Temperatura (K) H=133Oe Ni4-4.9nm Ni8-5.3nm Ni10-6.3nm Ni5-6.5nm Ni6-7.9nm Ni3-9.2nm Ni7-12.8nm 100 NiFe2O4 70 60 50 40 30 20 10 0 0 (b) 50 100 150 200 250 300 350 Tempo (s) Figura 5.4: variação da temperatura em função do tempo de amostras de ferrita de Níquel (NiFe2O4) com campo magnético alternado na intensidade (a) H=68Oe e (b) H=133Oe. 152 Na verdade, sabe-se, por intermédio dos capítulos anteriores, e deste também, que a perda de potência específica (SAR) se relaciona com diversos parâmetros intrínsecos (magnetização de saturação, diâmetro, constante de anisotropia, parâmetro de amortecimento (damping)) e extrínsecos (frequência e amplitude de campo). Um diagrama hierárquico é apresentado na figura 5.5. Figura 5.5: hierarquia dos parâmetros intrínsecos e extrínsecos com o a perda de potência específica (SAR). A tabela 5.0 apresenta diversos dados relevantes de caracterização dessas amostras, como, por exemplo, magnetização de saturação, constante de anisotropia (obtida para amostras bloqueadas via análise dos dados de campo coercitivo, ao passo que, para as amostras quasi-estáticas superparamagnéticas, tais valores foram estimados usando a técnica de ressonância magnética eletrônica como discutido em capítulo anterior), diâmetro de Rietveld entre outros. 153 Tabela 5.0: seleção de amostras, para análise do comportamento do expoente (e) do campo H e os diversos parâmetros obtidos por caracterização. Nome MFII MFI2 MFI4 MFI3 MA10 MA25 MTA3 CA3 CB3 CC1 CC3 CD1 CD2 CD3 CUE10 CUE3 CUE9 CUE0 CUE4 CUE5 CUE7 Ni4 Ni8 Ni10 Ni5 Ni6 Ni3 Ni7 Tipo drr γ-Fe2O3 γ-Fe2O3 γ-Fe2O3 γ-Fe2O3 γ-Fe2O3 γ-Fe2O3 γ-Fe2O3 CoFe2O4 CoFe2O4 CoFe2O4 CoFe2O4 CoFe2O4 CoFe2O4 CoFe2O4 CuFe2O4 CuFe2O4 CuFe2O4 CuFe2O4 CuFe2O4 CuFe2O4 CuFe2O4 NiFe2O4 NiFe2O4 NiFe2O4 NiFe2O4 NiFe2O4 NiFe2O4 NiFe2O4 (nm) 3.10 3.50 4.20 5.30 7.90 9.30 9.90 3.10 3.40 8.40 9.10 12.90 13.60 13.50 5.8 7.7 8.70 9.40 10.10 10.30 11.30 4.9 5.3 6.3 6.5 7.9 9.2 12.8 fcore 0.31 0.35 0.31 0.43 0.42 0.51 0.65 0.29 0.24 0.59 0.64 0.60 0.66 0.74 0.74 1.00 0.99 0.93 1.00 1.00 1.00 0.33 0.57 0.33 0.45 0.56 0.57 0.68 fshell 0.69 0.65 0.69 0.58 0.58 0.49 0.35 0.71 0.76 0.41 0.36 0.40 0.34 0.26 0.26 0.00 0.01 0.07 0.00 0.00 0.00 0.67 0.43 0.67 0.55 0.44 0.43 0.32 Shell 0.3 0.3 0.3 0.4 1.3 1.2 0.7 0.3 0.2 0.8 0.6 0.6 0.7 0.7 0.7 1.0 1.0 0.2 1.0 1.2 1.4 0.3 0.6 0.3 0.4 0.6 1.0 0.7 Exp. 68 Oe e 2.18 1.97 2.91 2.00 2.23 2.09 2.39 2.90 1.89 2.07 2.48 2.03 2.14 2.11 1.83 2.04 1.78 1.89 2.15 1.54 1.74 2.00 2.04 2.21 2.01 2.12 2.36 2.36 Exp. 133 Oe e 2.01 2.10 2.29 1.64 1.79 1.81 2.17 2.80 1.96 5.00 3.94 3.65 5.51 2.82 2.11 1.63 1.37 2.08 2.07 2.25 1.06 1.90 1.54 2.02 1.75 2.07 1.92 2.25 eff 0.03 0.06 0.08 0.31 1.30 2.50 5.22 0.24 0.30 7.30 7.20 26.90 21.40 33.80 0.14 0.70 0.90 1.60 0.90 4.16 3.73 0.21 0.24 0.15 0.73 1.79 1.00 10.40 8.36E-3 6.57E-3 8.29E-3 2.15E-3 1.08E-3 3.29E-3 6.45E-4 6.28E-6 5.28E-6 8.57E-6 1.78E-5 1.63E-5 1.64E-5 1.57E-5 1.93E-3 1.46E-3 9.97E-4 1.34E-3 1.93E-4 1.66E-4 1.22E-3 3.16E-4 1.49E-3 1.97E-3 1.72E-4 9.17E-4 3.21E-4 1.35E-4 SAR 68 Oe (W/g) 0.01 0.02 0.01 0.06 0.07 0.05 0.22 0.01 0.02 0.09 0.15 0.10 0.06 0.06 0.01 0.04 0.17 0.13 0.02 0.20 0.37 0.00 0.09 0.11 0.02 0.11 0.11 0.20 SAR 133 Oe (W/g) 0.05 0.09 0.05 0.18 0.24 0.58 1.27 0.10 0.07 0.92 0.66 1.23 0.76 0.66 0.03 0.12 0.41 0.26 0.08 0.37 0.65 0.01 0.23 0.42 0.12 0.41 0.43 0.90 Ms Mbulk 3 (emu/cm ) 129.91 144.73 128.83 177.41 175.7 209.1 272.11 121.8 102.5 249.1 271.9 253.4 280.9 314.5 99.24 139.46 134.04 125.46 140.00 156.04 189.84 88.71 152.99 89.87 120.71 150.78 153.4 184.65 3 (emu/cm ) 417 417 417 417 417 417 417 425 425 425 425 425 425 425 135 135 135 135 135 135 135 270 270 270 270 270 270 270 O comportamento do SAR versus diâmetro é exibido nas curvas dos gráficos da figura 5.6, para todos os tipos de amostras especificadas na tabela 5.0. No item (a) desta figura, verifica-se o SAR por diâmetro para intensidade de campo magnético de até 68Oe e, no item (b), o SAR por diâmetro para intensidade de campo magnético de até 133Oe. Pode-se observar que, para intensidade de campo magnético de até 68Oe, a ferrita de cobre (CuFe2O4) com diâmetro de 11.3nm e denominada de CUE7 apresenta o maior valor de SAR (símbolo em estrela marrom). Destaca-se que a maguemita (γ-Fe2O3), com diâmetro de 9,90nm e denominada de MTA3 (símbolo esfera em azul), exibe um valor de SAR maior do que as das amostras de ferritas de cobalto (CoFe 2O4) (símbolo triangular em vermelho). Se for considerada a ferrita de cobalto, denominada de CC1 e cujo diâmetro é de 8.40nm, em comparação com a maguemita, denominada de MA10 e cujo diâmetro é de 7.90nm, observa-se que, mesmo com diâmetros próximos, estas amostras exibem um mesmo valor de SAR, já que o erro determinado experimentalmente para o SAR é de 154 8.5%. Isso em parte se deve ao fato de que as ferritas de cobalto, neste regime de campo, estão com seus momentos magnéticos bloqueados. A ferrita de níquel (NiFe 2O4), denominada de Ni7, exibe um máximo para o valor de SAR em 12.80nm (símbolo quadrado em laranja). Em regime de alto campo (133Oe), o gráfico no item (b) da figura 5.6 mostra a maguemita, denominada de MTA3 e cujo diâmetro é de 9.9nm, com o valor de SAR próximo ao da amostra de ferrita de cobalto, denominada de CD1 e cujo diâmetro é de 12.90nm. Os valores do SAR para essas duas amostras podem ser considerados iguais, visto que o erro do SAR é de 8.7%. Nesta faixa de campo, fica claro que as ferritas de cobalto têm seus momentos magnéticos gradualmente desbloqueados, resultando em um aumento significativo no valor do SAR destas amostras. 2.0 0.6 H= 68 Oe CoFe2O4 -Fe2O3 0.5 CuFe2O4 SAR(W/g) SAR(W/g) NiFe2O4 CuFe2O4 1.4 0.3 0.2 H= 133 Oe -Fe2O3 1.6 NiFe2O4 0.4 CoFe2O4 1.8 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0.1 0.2 0.0 0.0 0 (a) 2 4 6 8 10 Diâmetro (nm) 12 14 0 16 (b) 2 4 6 8 10 12 14 16 Diâmetro (nm) Figura 5.6: comportamento do SAR com o diâmetro da série de ferritas em estudo, referente aos dados da tabela 5.1. 155 5.5 Expoente crítico e a anisotropia efetiva em regime de baixo e alto campo Com base nos dados da tabela 5.0, parte-se agora para uma análise mais sistemática do expoente da amplitude de campo magnético (e). Esta análise foi separada em dois intervalos de campo magnético. No primeiro caso, serão considerados os dados de SAR até o campo de 68Oe para todas as amostras, enquanto, no segundo, avalia-se o expoente considerando medidas até o campo de 133Oe. Como se observa nos capítulos anteriores, foi demonstrada a importância da análise dos dados em termos de parâmetros adimensionais, em particular a anisotropia adimensional efetiva (que considera também o efeito de interação partícula-partícula), de forma que se decidiu apresentar os dados do expoente em termos deste parâmetro. O gráfico da figura 5.7 apresenta o expoente em função da anisotropia efetiva (que é proporcional ao volume da partícula) nos diferentes intervalos de campo. Para intensidade de campo magnético H=68Oe (regime de baixo campo), os expoentes têm valores em torno de de alto campo) , entretanto, com o aumento do campo para H=133Oe (regime atinge valores diferentes e, em alguns casos, bem maiores do que 2. Claramente os dados sugerem que o valor 3 encontrado por alguns autores foi possivelmente (somente) uma coincidência. Neste trabalho particularmente mesmo as amostras claramente no regime bloqueado (ferrita de cobalto) parecem ser facilmente descritas pelo modelo de rotação coerente e monodomínio. Logo, tais valores não devem ter relação com movimento de paredes de domínio, ou ainda com perdas do tipo Rayleigh. 156 10 H=68 Oe H=133 Oe 9 8 7 e 6 5 4 3 2 1 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Parâmetro de Anisotropia (ef=+dip) Figura 5.7: dependência do expoente com o parâmetro de anisotropia efetiva ( A figura 5.8, item (a) exibe o parâmetro por sigma efetivo ( ). ) e pelo SAR em um gráfico em 3D com campo magnético a 133Oe. No item (b), tem-se o mesmo gráfico do item (a), mas somente com as projeções nos planos xy ( e zx ( , zy ( . Os comportamentos são bem complexos devido, certamente, aos diversos parâmetros envolvidos e tão diferentes entre as amostras de distintas ferritas. Apesar disso, na presente avaliação, é bastante relevante olhar para o comportamento de . Observa-se pelo gráfico que, no limite de baixo o expoente tende a 2. Aumentando-se o termo de anisotropia, em um primeiro momento, este coeficiente decresce, assumindo valores menores que 2, e depois volta a crescer, atingindo agora um máximo em valor intermediário de , após o qual tende a retornar ao valor típico do regime linear. Com o intuito de melhor entender tal comportamento decidiu-se investigar o que a simulação de histerese dinâmica forneceria acerca desse assunto. 157 H= 133 Oe 6,0 5,5 5,0 4,5 4,0 3,5 e 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 1,5 0 1,0 5 10 15 e (a) 0,5 20 25 f SA 30 35 R (W /g ) 0,0 H= 133 Oe 6.0 5.5 5.0 4.5 e 4.0 3.5 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0 5 10 1.5 15 ef (b) 20 1.0 25 0.5 30 35 0.0 SAR (W / g) Figura 5.8: (a) parâmetro em função do sigma efetivo ( ) e pelo SAR em um gráfico em 3D, sob campo magnético de 133Oe. (b) o mesmo gráfico (a) com as projeções nos planos xy ( , zy ( e zx ( . 158 Nos gráficos da figura 5.8, percebe-se que a projeção em zy ( , com símbolos em estrela na cor preta, em nada muda em relação ao analisado no gráfico da figura 5.6, visto que há também uma dispersão de valores para em uma faixa de SAR de 0.5W/g à 1.0W/g em regime de alto campo. 5.6 Análise do expoente via simulação por histerese dinâmica As curvas de histerese dinâmica foram simuladas pelo colaborador deste trabalho, Dr. Gabriel Teixeira Landi. O método utilizado está discutido nas referências [5.4, 5.9], e faz uso da equação estocástica de Landau-Lifshitz. A simulação permite estudar com grande flexibilidade a fuga do regime linear com o aumento da amplitude do campo magnético. A figura 5.9 exibe a simulação para vários valores de anisotropia ( ) e diferentes valores de campos reduzidos ( preta), foram: (cor vermelha) e e fator de amortecimento , onde ): (cor (cor em azul). Os parâmetros de simulação . Figura 5.9: curvas de histerese dinâmica decorrentes da simulação utilizando a equação de Landau-Lifshitz para vários valores de e distintos campos reduzidos: (cor preta), (cor vermelha) e (cor em azul) [5.4]. 159 Essas simulações mostram concordância, pelo menos qualitativa, com os dados experimentais. Primeiro, em baixo campo, as curvas de histerese são elipses, que é uma característica do regime linear. Além disso, quando assume baixos e altos valores, a área da curva tende a zero (lembrando que um máximo de SAR versus sigma já foi discutido no capítulo 3). Adicionalmente, ao aumentarmos a amplitude do campo observam-se curvas de histerese mais complicadas, que caracterizam a fuga para o regime não-linear. Com o intuito de investigar a transição para o regime linear, obtiveram-se as áreas das curvas de histerese em função de diferentes valores de anisotropia. Na simulação, utilizou-se o campo reduzido de até 0.21 que de acordo com a análise numérica refere-se ao regime não-linear [5.9]. Posteriormente, fez-se um ajuste das áreas em função do campo magnético do expoente “crítico”. A figura 5.10 apresenta os vários valores de e por intervalo de na faixa de obtidos da simulação em um . Nota-se que, dependendo do valor de , há um decréscimo do expoente da anisotropia até um valor, a partir do qual o expoente volta a crescer. Em alguns casos, há ainda um máximo com uma subsequente tendência a se aproximar do típico valor do regime linear. 10 10 -7 10 -6 10 -5 7 10 -4 10 -3 6 10 -2 9 e 8 5 10 -1 4 3 2 1 0 0 5 10 15 20 25 30 Figura 5.10: comportamento do parâmetro e em função do parâmetro , de acordo com simulação para valores de em um intervalo de . 160 Um resultado semelhante foi obtido recentemente, por simulação numérica, em uma análise da influência do diâmetro (assumindo um valor fixo para a constante de anisotropia) por pesquisadores franceses [5.8]. Introduzindo uma das simulações obtidas no gráfico da figura 5.9, para o caso específico de = que pertence ao intervalo dos valores experimentais obtidos das amostras em análise, pode-se observar no gráfico da figura 5.11 a evolução dos valores experimentais de e por frente aos valores simulados. Observa-se que, neste intervalo de , os valores experimentais, representados por símbolos esféricos na cor laranja, mostram que há uma forte correlação com o comportamento teórico simulado, cuja representação se dá no gráfico por uma linha sólida constituída de símbolos esféricos na cor cinza. Também fica evidente que há uma tendência de e atingir um máximo para uma determinada anisotropia efetiva ótima e que, fora deste valor, a tendência é a de que os valores de e sejam mais regulares em torno de e=2. 10 - Experimental - Simulado 9 8 7 e 6 5 4 3 2 1 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 eff Figura 5.11: simulação de e em função de para dos valores experimentais de e em função de eff. , correspondente ao intervalo 161 O gráfico da figura 5.11 mostra, de forma surpreendente, que foi obtida uma excelente concordância com os dados experimentais, apesar dos diferentes valores de das amostras investigadas (vide Tabela 5.0). Esses resultados corroboram a afirmação anterior de que diferentes valores do expoente referem-se à clara transição do regime linear para o não-linear. Lembrando ainda que, na simulação da histerese dinâmica, assume uma nanopartícula mono-domínio de rotação coerente e fica também claro que não é necessário imaginar estruturas “multi-domínio” para entender este fenômeno. Aliás, é fundamental analisar um número de amostras significativas antes de aferir fortes conclusões acerca de diferentes mecanismos de dissipação. 5.7 Influência da estrutura caroço-casca (core–shell) no expoente crítico e no SAR No capítulo 3, apresentou-se a estrutura core-shell. O argumento básico para tal configuração é a existência de uma etapa de passivação (etapa ii da ref. 5.11) na síntese. Adicionalmente, tanto as análises de Rietveld, que indicaram que a maior parte das amostras mantém a distribuição catiônica da estrutura bulk, quanto os dados de magnetometria, que indicam uma magnetização de saturação para as nanopartículas menor que a do bulk, sugerem fortemente que uma casca rica em ferro (mas não necessariamente com alta magnetização) tenha sido formada na superfície da nanopartícula. A Figura 5.12 apresenta uma representação esquemática desta nanoestrutura. A partir da discussão apresentada no capítulo 3, foi possível estimar a espessura desta casca para todas as amostras investigadas, partindo obviamente desta hipótese. Os dados da espessura estão apresentados na Tabela 5.0 e na Figura 5.13 em função do diâmetro das nanopartículas. A linha tracejada é um guia para os olhos e representa um ajuste linear. Os valores estão da mesma ordem de grandeza de outras estimativas da literatura [5.10]. 162 Figura 5.12: estrutura do tipo casca-núcleo (core - shell) formada no processo de síntese por hidrólise forçada. O diâmetro da partícula é DTEM, drr é diâmetro do núcleo e k é a espessura da casca. Na figura 5.13, determinam-se os diâmetros das partículas, com o uso das imagens de microscopia de transmissão de elétrons. O diâmetro de Rietveld (drr) refere-se ao diâmetro do núcleo (Core) em um processo de refinamento dos dados de difração de RaiosX. 2,0 Ferritas Espessura do Shell (k (nm)) 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Diâmetro (nm) Figura 5.13: comportamento da espessura (k) da casca (shell) das nanopartículas em função do diâmetro para todas as ferritas analisadas. 163 A fim de explorar a relação da estrutura core - shell das nanopartículas, o gráfico da figura 5.14 exibe em (a) o comportamento do expoente e em termos da fração de átomos do caroço e da fração de átomos na casca em 3D para campo magnético de 133Oe. Este gráfico sugere que exista uma relação ótima entre , já que existe um máximo para e. 6,0 5,5 5,0 4,5 4,0 e 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 Cor e Sh 0,1 0,7 0,0 1,0 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 e ll 0,5 0,8 0,9 1,0 Figura 5.14: amostras core-shell da tabela 5.1, relacionando os parâmetros sob ação de intensidade de campo magnético a 133Oe. , e e Por outro lado, é bastante relevante analisar paralelamente o SAR das amostras. Isto tudo levou a investigar a ação combinada dos parâmetros SAR, a razão eo expoente e, como apresentado na figura 5.15. Neste apresentam--se as projeções nos plano xy ( representado pelos símbolos esféricos em vermelho, no plano zy ( ( tem-se os símbolos esféricos em azul e em zx apresentam-se esferas em cor verde. Também pode se observar que, no gráfico do SAR por , representado pela projeção no plano zy em esferas azuis, há um máximo para o SAR em torno de 0.5 para a razão . 164 H=113 Oe 1.5 S A R (W /g) 1.0 0.5 0.0 3.5 1.0 3.0 1.5 2.0 2.5 2.5 e 2.0 3.0 3.5 1.5 4.0 1.0 4.5 5.0 0.5 5.5 Sh el / Co re l 0.0 6.0 Figura 5.15: amostras core-shell da tabela 5.1, relacionando os parâmetros e, SAR sob ação de intensidade de campo magnético a 133Oe. e Para melhor visualizar o comportamento do expoente e, pela proporção entre casca e núcleo ( ), a figura 5.16 exibe o comportamento destes parâmetros em um gráfico 2D. Neste pode-se observar que realmente há em torno de um valor de um pico estreito, com valores de e crescendo rapidamente quando e decrescendo rapidamente acima deste ponto. O ajuste (guia para os olhos) feito por uma função gaussiana (curva em preto pontilhada) evidencia o pico do expoente e quando o sistema vai para o regime não-linear. Para campos magnéticos sob intensidade de 68Oe, o comportamento de e tem pouca divergência em torno de e =2. 165 7,0 Ferritas 6,5 H=68 Oe H=133 Oe 6,0 5,5 5,0 e 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 Shell /Core Figura 5.16: comportamento do expoente e em função da proporção entre casca e núcleo ( ). O ajuste (guia para os olhos) feito por uma função gaussiana (curva em preto pontilhada), evidencia o pico do expoente e quando o sistema vai para o regime não-linear a campos de 133Oe. No gráfico da figura 5.17 que exibe o SAR em função de é mais evidente ainda a importância dessa razão, já que, nos gráficos anteriores, poucas amostras (a maior parte de ferrita de cobalto) possuíam e > 2. Aqui, todavia, mesmo outras ferritas claramente têm alguma relevante contribuição. Isso fortalece, e muito, a hipótese de uma significativa contribuição devido a estruturas casca-caroço. 166 1,4 Ferritas H=133 Oe H= 68 Oe 1,2 SAR (W/g) 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 Shell /Core Figura 5.17: SAR em função da proporção entre casca e núcleo ( ). O ajuste (guia para os olhos) feito por uma função gaussiana (curva em preto pontilhada) evidência o pico do SAR, sob ação de intensidade de campo de 133 Oe. Estruturas core-shell foram recentemente investigadas por Lee et al. em artigo publicado na Nature Nanotechnology em 2011 [5.5]. Neste artigo, eles utilizaram uma freqüência igual à nossa de 500kHz, campo de 469Oe, e investigaram amostras de material único ou combinadas de ferrita de cobalto, de maguemita e ferrita de manganês. Seus resultados mostraram que essas ferritas, na forma de estruturas core-shell, podem ser até 34 vezes mais eficientes na produção de calor, quando comparadas a amostras comercias, como Feridex, à base de nanoparticulas magnéticas convencionais de óxido de ferro. Neste trabalho, no entanto, não se investigou ainda o efeito da casca nas propriedades magnetotérmicas. Uma das amostras investigadas neste trabalho foi o sistema CoFe 2O4-MnFe2O4 (caroço-casca) com espessura de casca de 3 nm e diâmetro do caroço de 9nm (amostra monodispersa). Neste caso, o aumento do SAR foi da ordem de 5 vezes quando comparada com o sistema CoFe2O4. 167 Os referidos resultados mostram indícios que corroboram os resultados obtidos neste artigo, sugerindo que estruturas core - shell com uma razão apresentam maior valor de SAR (pelo menos nesta faixa de campo magnético), entretanto nossas amostras estão muito longe das da Ref. [5.5], já que não são monodispersas e nossa casca (caso realmente exista) não apresenta boa cristalinidade (além de possível baixa magnetização). Apesar disso, os resultados obtidos nesta tese parecem convincentes ao sugerirem que, no regime não-linear, spins de superfície (possivelmente em baixo campo bloqueados por sentirem uma significativa anisotropia) aparentam rodar de forma mais significativa e fora de fase com o campo magnético, gerando calor de forma mais eficiente quando a razão entre os spins da casca pelo caroço apresenta um valor crítico. De fato, não é difícil calcular, para este valor crítico de , a razão ótima entre a espessura da casca e o raio do caroço, de forma a gerar calor de maneira mais eficiente. Utilizando a relação do e lembrando que pode-se mostrar que a espessura ótima (para as amostras deste trabalho) é aproximadamente igual a 15% do valor do raio do caroço. A possibilidade de redução de tamanho e novas composiçoes das nanoparticulas e de interesse crecente. Uma nanopartícula de menor tamanho, do tipo core-shell e que apresente eficiencia térmica, pode reduzir o fenômeno de agregação de modo a evitar a embolia e ainda contribuir para a estabilidade do coloide [5.7]. 5.8 Conclusão Neste capítulo, mostrou-se que, em regime de baixo campo, todas as amostras apresentaram expoente crítico em torno do valor e = 2, entretanto o aumento do campo magnético indicou uma transição do regime linear para não-linear. Isso pode ser evidenciado com a fuga de e do valor esperado pela Teoria do Regime Linear. O comportamento experimental de e em termos da anisotropia adimensional é o seguinte: Primeiramente, e assume valores decrescentes, ou seja, menores que 2 com o aumento da anisotropia. Isso ocorre até um determinado ponto, a partir do qual o expoente volta a crescer, atingindo um valor máximo. Após esse valor, o expoente tende novamente ao valor do regime linear. Os dados de simulação de histerese dinâmica corroboram com os resultados experimentais, apresentando boa concordância para o caso específico de . Esses resultados indicam que, mesmo em sistemas monodomínio, com 168 rotação coerente, é possível encontrar expoentes com valores diferentes de 2. Assim, tal fenômeno, pelo menos para as presentes amostras, não aparenta ter qualquer relação com perdas do tipo Rayleigh. Por outro lado, a utilização do modelo core-shell mostrou um forte indício de que a transição para o regime não-linear pode ter contribuições de spins da casca. Sugeriu-se que eles pudessem estar bloqueados em baixo campo devido a uma maior anisotropia magnética na superfície. Em particular, as amostras obtidas indicaram uma relação ótima em que o expoente aumenta e o SAR também próximo ao valor de . Os cálculos efetuados indicaram uma espessura ótima ( ) com um valor em torno de 15% do diâmetro do caroço ( ) para amostras submetidas ao processo de passivação discutido na tese. Este resultado, se confirmado, pode ter um grande impacto no desenvolvimento de nanoestruturas otimizadas para esta aplicação biomédica. Referências bibliográficas [5.0] HIERGEIST, R., ANDRÄ, W., BUSKE, N., HERGT, R., HILGER, I., RICHTER, U., KAISER, W. A., J. Magn. Magn. Mater. 201, 420 (1999). [5.1] CULLITY, B. D., GRAHAM, C. D., Introduction to Magnetic Materials. IEEE Press Editorial Board, Second Edition, 2009. [5.2] CRAIK, D., Magnetism: Principles and Applications., John Wiley & Sons, N.Y, 1995. [5.3] HERGT, R., DUTZ, S.,RODER, M., J. Phys. Condens. Matter. 20, 385214 (2008). [5.4] LANDI, G. T., J. Appl. Phys. 111, 043901 (2012). [5.5] LEE, H.J. et al., Nature Nanotechnology. 6, 418–422 (2011). [5.6] CARNEY, R. P., Nature Communication. DOI:10.1038/ncomms 1338 (2011). [5.7] JOSHI, H. M. et al., J. Phys. Chem. 113, 17761 (2009). [5.8] CARREY, J.B., MEHDAOUI, R.M., J. Appl. Phys, 109, 083921 (2011). [5.9] VERDE, E. L., LANDI, G. T., GOMES, J. A., SOUSA, M. H., BAKUZIS, A. F., J. Appl. Phys. 111, 123902 (2012). [5.10] ITRI, R., DEPEYROT, J., TOURINHO, F. A., SOUSA, M. H., Eur. Phys. J. E. 4, 201 (2001). [5.11] SOUSA, M. H., TOURINHO, F. A., DEPEYROT, J., DA SILVA, G.J., J. Phys. Chem. B, 105, 1168 (2001). 169 Capítulo 6 Conclusões e perspectivas As principais conclusões obtidas nesta tese doutorado são as seguintes: No capítulo 2, mostrou-se que o projeto e a construção do equipamento de hipertermia magnética, baseado em dispositivos semicondutores de comutação em estado sólido, possibilitou gerar intensidade de campos magnéticos alternados com amplitudes variadas em um intervalo de 22Oe a 133Oe. A potência gerada pode ser variada desde (0 a 1.4)kW e a arquitetura classe D, escolhida para o amplificador, foi adequada à excitação de carga ressonante LC-match, previamente sintonizada em uma freqüência central de . Na pior condição de operação, a eficiência do amplificador foi de 85%, fato importante que possibilitou o uso de semicondutores de média potência e de custo mediano, refletindo em um sistema de refrigeração bem simplificado. O sistema de aquisição de temperatura por termometria na região do infravermelho mostrou-se adequado às medidas de temperatura, evitando o contato com a amostra e livrando o sinal do pirômetro da influência dos ruídos eletromagnéticos gerados pelo conjunto RLC. A forma automatizada de coleta dos dados, em range de tempo ajustável, permitiu uma velocidade maior na análise das informações. O valor da perda de potência especifica por unidade de massa (SAR) exibiu um erro de 8.5%, em parte devido à precisão do sistema do pirômetro (máximo 1°C), somada as perdas por isolamento não ideal dos materiais constituintes dos porta-amostras (polyvinil) mais a geometria da bobina. Ressalta-se, entretanto, que o layout mecânico destes em conjunto com o sistema de posicionamento espacial no interior da bobina permitiram uma rápida troca da amostra, facilitando o processo de medida da massa e o reposicionamento de forma rápida e segura. A qualidade do isolamento térmico se mostrou satisfatória, exibindo boa isolação térmica no centro da bobina, podendo certamente ser melhorado com o emprego de outros tipos de materiais com geometrias diferentes para a bobina de indução. A possibilidade de ajuste na amplitude do campo magnético viabiliza investigar amostras em vários regimes de campo. O uso do equipamento com amostras na forma de coloides produziu resultados satisfatórios para a escala de campo que queríamos e, embora não seja o foco desta tese, o 170 equipamento com algumas modificações pode estender sua potência para uso de amostras coloidais com pouca concentração de nanopartículas. Com um significativo número de amostras, foi obtida a oportunidade de investigar os principais mecanismos que levam ao aquecimento da nanopartículas, em uma diversidade de tipos de ferritas (γ-Fe2O3, CoFe2O4, CuFe2O4 ,NiFe2O4 e ZnFe2O4) e em um intervalo extenso de diâmetros cobrindo a faixa de 3,0nm a 14,0nm. Esse relevante fato, somado à boa caracterização estrutural e magnética da amostras, possibilitou estudar a influência de diversos parâmetros (intrínsecos e extrínsecos), como: a magnetização de saturação ( ), diâmetro (drr), anisotropia magnética, a interação dipolar ( ), o fator de amortecimento e a amplitude de campo magnético. De fato, a análise de Rietveld, aliada ao conhecimento do processo de passivação durante a síntese, permitiu entender os diferentes valores de magnetização das amostras e supor a existência de uma estrutura core-shell. Em particular no capítulo 3 as medidas de hipertermia magnética em regime de baixo campo para nanopartículas à base de ferrita de cobalto mostraram-se em excelente concordância com a teoria do regime linear (TRL). Os resultados indicaram que não só a magnetização de saturação tem relevância na produção de calor sob ação de campo, cujo parâmetro é bem explorado em vários artigos de pesquisadores da área, mas também o parâmetro da anisotropia magnética precisa ser cuidadosamente adaptado, a fim de produzir calor com boa eficiência. Ficou evidente a relevância do parâmetro de anisotropia efetiva adimensional, que abrange várias propriedades-chave do sistema e simplifica em muito a interpretação dos dados experimentais. No capítulo 4, foi feita uma investigação minuciosa da relação entre a anisotropia magnética das nanopartículas, em diferentes ferritas com tamanhos similares, e a fuga do regime linear. Descobriu-se que amostras com menor anisotropia (magnetos macios) respondem mais eficientemente (do ponto de vista magneto-térmico) em regime de baixo campo, enquanto o oposto (magnetos duros) é observado aumentando-se a amplitude do campo magnético. De fato, neste regime (alto campo), ficou claro que a ferrita de cobalto apresenta a melhor resposta térmica, no entanto, cabe ressaltar que altos campos podem ser proibitivos em aplicações biomédicas, devido à produção de correntes parasitas em tecidos não específicos de pacientes. Assim, talvez a maior contribuição seja justamente indicar qual a melhor estratégia para aumentar a eficiência na geração de calor em baixos campos.Neste caso, de acordo com os resultados experimentais obtidos, a maguemita e a 171 ferrita de cobre (ou níquel, dependendo do diâmetro se a superfície for adequadamente recoberta) apresentam bom potencial biomédico. Adicionalmente, as simulações de histerese dinâmica revelaram forte concordância com os dados experimentais. Primeiro revelou que, em baixo campo, curvas de histerese elípticas, apresentam área máxima em um valor ótimo de anisotropia. Segundo, com o aumento da amplitude de campo, deixou claro que a fuga do regime linear implica (em geral) em curvas de histerese mais complicadas. Esta abordagem tem-se mostrado bastante coerente, permitindo investigar outros aspectos em detalhes, como por exemplo, o papel do fator de amortecimento ( ), da anisotropia magnética efetiva ( campo ( ), da magnetização de saturação ( ), da freqüência de ), dentre outros diversos parâmetros. Fica claro também que partículas superparamagnéticas não se aquecem. O fato é que, quando sob a ação de campo magnético alternado, nanopartículas em regime superparamagnético quasi-estático (DC) abrem uma curva de histerese e consequentemente geram calor. Logo, essas partículas encontram-se, nestas condições experimentais (AC), em regime bloqueado. Além disso, pode-se citar o uso da eficiência de conversão de energia (), definida como a razão entre a perda de potência em relação ao quadrado da amplitude do campo, como uma poderosa ferramenta para extrair informações. Em particular, a análise da eficiência indica quais nanopartículas encontram-se no regime de alta ou baixa anisotropia. No capítulo 5, a investigação do comportamento do expoente do campo magnético (e), para diferentes ferritas numa larga faixa de diâmetros, revelou que, em baixo campo, vale a teoria do regime linear, enquanto que, se aumentando a amplitude de campo magnético, resulta-se em um complexo comportamento do expoente com a anisotropia adimensional. Em particular, o comportamento experimental de e em termos da anisotropia adimensional foi a seguinte: primeiramente, e assume valores decrescentes, ou seja, menores que 2 com o aumento da anisotropia. Isso ocorre até um determinado ponto, a partir do qual o expoente volta a crescer atingindo um valor máximo. Após esse valor, o expoente tende novamente ao valor do regime linear. Os dados de simulação de histerese dinâmica corroboram com os resultados experimentais apresentando boa concordância para o caso específico de . Estes resultados indicam que, mesmo em sistemas monodomínio, com rotação coerente, é possível encontrar expoentes com valores diferentes de 2. Tal fenômeno, portanto, pelo menos para amostras utilizadas, não aparenta ter qualquer relação com perdas do tipo Rayleigh. Por outro lado, usando o modelo core- 172 shell, mostrou-se um forte indício de que a transição para o regime não-linear pode ter contribuições de spins da casca. Sugeriu-se que tais spins possam estar bloqueados em baixo campo devido a uma maior anisotropia magnética na superfície. Em particular, as amostras utilizadas indicaram uma relação ótima em que o expoente aumenta e o SAR também próximo ao valor de . Os cálculos efetivados indicaram uma espessura ótima ( ) com um valor em torno de 15% do diâmetro do caroço ( ) para amostras submetidas ao processo de passivação discutido na tese. Esse resultado, se confirmado, pode ter um grande impacto no desenvolvimento de nanoestruturas otimizadas para esta aplicação biomédica. As perspectivas que essa tese de doutorado oferece a trabalhos futuros são: aumentar a potência do equipamento de hipertermia magnética e alterar o intervalo de freqüência, visando a aplicações in-vivo; investigar, de forma mais completa, tanto teoricamente quanto experimentalmente, a possibilidade de aquecimento mais eficiente em nanoestruturas core-shell por meio do controle da espessura da casca, assim como via a dopagem da casca por íons diversos; desenvolver um método teórico para incluir na simulação de histerese dinâmica estruturas do tipo core-shell. . 173 Apêndice A 174 175 Apêndice B 176 177 Apêndice C Lista de componentes do amplificador de hipertermia magnética. V1-Fonte fixa 16 VDC-3A. V2-Fonte Dc variável de 0 até 100 VDC-10A. V3-Gerador de funções. U1-Fusível de 10A-DC. L1-0.232H- Indutor do LC L2-0.232H-Indutor do LC L3-0.022H- Indutor Lmatch. T1-transformador de ferrita com secundário Center - Tape. R1-10, R2-3.3, R3-3.3, R4-22, R5-2, R6-Trimpot multivoltas de 4.7K, R710K, R8-1K,R9-1K, R10-22, R11-330, R12-560, R13-1K, R14-1K C1-Banco de capacitores, C2-100 nF, C3-2.2 nF,C4-10 nF,C5-1 uf,C6-2.2 nF,C7-220 uF, C8-4700 uF. Q1- IRFP 260N Q2- IRFP 260N Q3- BD339 Q4- BD338 Q5- Bf459 Q6- Tip 41C D1-1N914 D2-1N4001 D3-SK4F02 D4-SK4F02 J1-Timer Programável. IO1-Conector BNC (Entrada do Sinal a 500kHz, com amplitude máxima de 2Vpp). 178