mostra esboios e mornentos menos conhecidos do pintor catalao

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Pela primeira vez no Brasil, cole{io de amigo e fotografo espanhol
mostra esboios e mornentos menos conhecidos do pintor catalao
Ana W&a
,.-
-.
-*
oan Miro falava
pouco. Expoentes
da vanguarda
moderna se irritavam
com a abstinencia do
catalHo nos debates politicos
durante o nascimento de
7
movimentos artisticos da
primeira metade do seculo XX.
Certa vez, em Paris, Max Ernst chegou
a agarrar Miro e colocar uma corda em
seu pescoqo para que ele se pronunciasse
na marra. A cena inspirou uma obra de Man
Ray ("Retrato de Joan Miro", de 1930), mas
1150 fincionou. Tratava-se de uma quest50
de feitio, de personalidade, mas tambem
de direqHo: Miro buscava uma arte que
traduzisse o que esta alem das questdes
do mundo e para isso (repetia sempre que
lhe perguntavam) precisava de silCncio.
"Miro era avesso ao aprofindamento
teorico da sua pintura", conta o fotografo
espanhol Alfredo Melgar, amigo do artista
e curador da mostra "A Magia de Miro",
coleqBo de 69 obras e 23 fotografias expostas
pela primeira vez no Brasil, na Caixa Cultural
S5o Paulo. As fotos da exibiqgo foram tiradas
pel0 proprio Melgar, tambem conde de
Villamonte, e trazem momentos de intimidade
do artista em seu atelie - que, ao contrhrio de seu conterrheo
Pablo Picasso, era avesso a publicidade.
Melgar conheceu Miro nos anos 1970, momento em que sua
obra ja era reconhecida mundialmente e que tinha encontrado
uma linguagem de simbolos e grafismos, referCncias universais das
possibilidades ludicas das artes plasticas. "Graqas a Miro, a pintura
juntou-se ao reino da poesia", afirma a historiadora da arte Janis
Mink, autora de "Miro", da editora Taschen. "Foi um pintor
visionario que (diferentemente dos colegas) tentava levar uma vida
de operario com familia para sustentar", escreve ela. Era assim que
o pintor aparecia em publico, sempre acompanhado de sua mulher,
"dona" Pilar Juncosa. Era, nas palavras de Melgar, a imagem do
casamento perfeito, de onde se depreendiam
"a sobriedade, a ordem, o trabalho e a
disciplina tipicos dos que vem da Catalunha",
um contraste com a boemia, os romances
e a iconoclastia que tomavam conta de Paris.
Assim, enquanto os artistas espanhois
marchavam em fuga para a capital da
modernidade, Mir6 refugiava-se no interior
rural da Catalunha, nas terras da farnilia,
que olhava sua escolha profissional como
um "mau caminho". Desses retiros, nasceram
obras-chave de sua trajetoria, como a tela
"A Quinta" (1921-1922),
comprada por Ernest
Hemingway, conta-se, com todas
as economias que o escritor tinha.
As obras da cole(ao de Melgar
datam dos anos 60 ao final da vida
do pintor, em 1983. Quasetodas
sio sobre papel, um suporte eleito
principalmentedurante os muitos conflitos pelos quais passou desenhos
sempre foram mais fhceis de serem salvos em caso de bombardeiosque
telas. J i os retratos siio da decada de 1970, quando o pintor convidou
Melgar para fotografi-lo. "Meu trabalho nHo era reconhecido, eu nHo
era ningukm", conta a ISTOE Melgar, que hoje manttm uma galeria
em Madri com as obras que foi adquirindo a p&ir do momento em
que entrou em contato com o universo modernists.
Miro - sobrenome herdado do av6 ferreiro - nasceu em Barcelona,
em 1893. Assistiu a 44 mudan~asdo governo de seu pais, viu duas
guerras mundiais e viveu de perto a Guerra Civil Espanhola. Entende-se
a r&o de alguns criticos terem enxergado um indice de escapismo nas
criaturas feitas de formas puras e cores chapadas, como rabiscos infantis.
Mas o exercicio de Miro, participate da primeirissima gera$Ho de
surrealistas, era semelhante ao de Leonardo Da Vinci. Ele queria que
sua arte nHo se ativesse a correntes e caminhos, para que pudesse trazer
algo verdadeiramente novo para o mundo, como o renascentista.
"Como e que encontrava todas as minhas ideias para quadros? Pois
bem, a noite, j6 tarde, voltava ao meu atelit na rue Blomet e deitavame, as vezes, sem sequer ter jantado. Tinha sensa~desque anotava
no meu caderno. Via aparecer formas no meu teto." H
-
MIROVlVEU CERCADO DE UMA CONSTELAF~ODE GCNIOS
Amigos e colegas apoiaram, influenciaram e criticaram o pintor, que, entretanto, preferia estar sozinho
As linhas esbeltas e
as forrnas orednicas das
esculturas de Hans Am, seu
vizinho de ateliP em Paris, se
refletern nas pinturas de Mird
dos anos 1920 e 1930, mais
que qualquer outra
AntmiGwdrl o pintor
lan~avarnao de elernentos
da natureza como arvores e
folhas para traduzir a cultura
catala, da qua1 e hoje urn d m
rnaiores sirnbolos
U m das obras
m i s importantes do
inlcio da produ@o de Miro. "A
Quinta", pintada em Montroig.
nao intereswu a nenhurn
galerista. Emest Hemingway
cornprou a tela que hole
pertence a National Galley of
a correntes artisticas, o
.
artista catalao integrou a
prirneira geracao de surrealistas.
0s poernas "Constelat$es".
de Andk Breton, teorico do
rnovirnento, sao referhias
ao conjunto de guaches
de memo mme
,
Outro vizinho de
atelie. Mar Emst era urn
dos arnigos rnodernistas que
nao se confornwvarncorn a
atitude irnpavida de Miro diante
das discuss6es pdilicas Uma
vez, bnncando, fit-& arneqar
o arnigo de e n f m m n t o ,
caso nao se prorwnciasse
'
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