N este capítulo serão estudadas as teorias clássicas sobre o objeto de estudo das Ciências Sociais, a partir das concepções de Weber, Durkheim e Marx. São chamados teóricos clássicos das Ciências Sociais (Marx, Durkheim, Weber) porque discutiram e analisaram com profundidade estas questões; e, devido às suas contribuições, servem até hoje de inspiração para os sociólogos contemporâneos e outros cientistas sociais. As CIÊNCIAS SOCIAIS, por apresentarem diferentes abordagens, métodos, instrumentos, conceitos para estudar a mesma realidade social (sociedade capitalista); por haverem discordâncias entre os mesmos quanto à objetividade científica aplicada no conhecimento da vida social; quanto à natureza da sociedade (sua origem e problemas); os fenômenos sociais (observáveis ou não) que devem ser estudados; têm três respostas clássicas para estas questões. Mas, antes de aprofundarmos você sabe o que é objeto de uma ciência? Você sabia que foi a partir dos clássicos das Ciências Sociais que foi possível conhecer a sociedade capitalista? Fonte 2: Arquivo Ulbra Ead Por Prof(a). Ellen Plumer Toda ciência possui um objeto de estudo. Objeto de estudo, significa a área ou campo do saber e/ou de estudo a que as ciências se dedicam. No caso das Ciências Sociais, sua área de estudo explica as razões que tornaram possível os homens (com seus diferentes sistemas políticos, econômicos, crenças, valores, formas de agir, pensar e sentir) viverem em sociedade. A concepção do objeto das ciências sociais depende da resposta que se dá à questão sobre: o que torna possível a organização social das relações entre os homens em sociedade? Objeto de estudo: Ciências Sociais? A resposta a pergunta: o que torna possível a organização social das relações entre os homens na sociedade, delimita o objeto de estudo e de explicação das Ciências Sociais. www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx CONCEPÇÕES TEÓRICAS CLÁSSICAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS: WEBER, DURKHEIM E MARX Fonte 1: Arquivo Ulbra Ead /Wikipedia Sociedade e Contemporaneidade 23 Sociedade e Contemporaneidade A teoria Funcionalista: Émile Durkheim Fonte 3: Arquivo Ulbra Ead/Wikipedia Sua Obra e história. D Embora tenha se interessado pela sociologia científica, na sua época não existia um campo para esta disciplina. Em 1893, publicou sua tese de doutorado A Divisão do Trabalho Social; em 1895, As regras do método sociológico, e; em 1902, passou a dar aulas na famosa Universidade francesa Sorbonne. Ele exerceu uma forte influência no desenvolvimento da sociedade. Na revista Lánnée Sociologique, fundada por ele, publicou vários escritos no campo da antropologia, história e da lingüística. Os pressupostos básicos da TEORIA FUNCIONALISTA Neste texto, desenvolveremos os pressupostos básicos da Teoria Funcionalista, enfatizando o trabalho sociológico escrito por Durkheim. Sua obra marcou a etapa mais decisiva na consolidação acadêmica da sociologia; contribuindo para emancipá-la das demais ciências e definindo com precisão o objeto, o método e aplicação desta nova ciência. Durkheim determinou como objeto da sociologia o “fato social”, definindo o mesmo como: Émile Durkheim, nascido em 1858, na França. Durkheim faleceu em Paris no dia 15 de novembro de 1917. “Toda maneira de agir; pensar e sentir, fixada ou não susceptível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior: ou então, que é geral no âmbito de uma dada sociedade, tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente de suas manifestações individuais. “(DURKHEIM, 1984: 39). Afirmava que nem tudo o que acontece na sociedade é fato social, pois se assim fosse, a sociologia não teria objeto próprio e o seu domínio viria a se confundir com o da história, antropologia e psicologia. Para um acontecimento social se formalizar como fato social, segundo Durkheim, seria necessário: a. Ser EXTERIOR AO INDIVÍDUO, (exterioridade) ou seja, quando os fatos sociais existem e atuam sobre os indivíduos independente de sua vontade ou adesão consciente. (Costa, 1991, p.51). Isto significa que apesar dos homens elaborarem as maneiras de fazer vigentes na sociedade, estas nos são legadas pelas gerações anteriores, de modo que as encontramos já prontas (GALLIANO, 1986: 60). www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx escendia de uma família de rabinos. Ele mesmo começou seus estudos para converter-se em rabino, mas, na adolescência, rechaçou sua herança e tornou-se agnóstico. Desde então, seu interesse pela religião era mais acadêmico do que religioso. Esforçou-se para adquirir conhecimentos científicos para contribuir na direção moral da sociedade. 24 Sociedade e Contemporaneidade c. Por último, SER GERAL, característica que determina que para ser um fato social é preciso repetir-se em todos os indivíduos ou pelo menos, na grande maioria. São gerais porque são coletivos e têm como referência o conjunto da coletividade. Fato social possui EXTERIORIDADE, COERÇÃO e GENERALIDADE. Durkheim e a neutralidade da ciência Durkheim, para analisar o social, usou o método positivista, onde a objetividade e a neutralidade do cientista social são requisitos essenciais. Para garantir esta objetividade, deve o cientista social olhar o fato como se fosse um objeto, uma coisa. Esta postura neutra e apolítica do sociólo- Este esquema vai nos facilitar go, frente ao fato social; dá à análise do mesmo, a garantia de objetividade e qualidade necessárias para resguardar o sucesso da avaliação desejada. Segundo ele a consciência coletiva serve de regulador moral de uma sociedade. É evidente que a mesma representa a fonte de canalização das aspirações individuais. Portanto para preservar a harmonia, a sociedade deve assegurar acima de tudo, a subordinação da consciência individual à consciência coletiva, que é o ponto alto de integração social. Por isso, a função primordial da punição é manter intacta a coesão social, mantendo toda a vitalidade da consciência comum. Durkheim assegura à consciência coletiva a responsabilidade pela organização social. Durkheim, em seu livro A Divisão Social do Trabalho, analisou as relações entre os indivíduos e a coletividade, buscando as razões da solidariedade entre os mesmos em sociedade. Sua intenção, ao abordar A QUESTÃO DA SOLIDARIEDADE, era descobrir o que mantém unida a sociedade. Para Durkheim, nas sociedades primitivas ou pré-capitalistas, os indivíduos ocupavam posições muitos gerais, realizavam uma ampla variedade de tarefas e mantinham um grande número de responsabilidades. As sociedades pré-capitalistas são caracterizadas pela SOLIDARIEDADE MECÂNICA, apresentando www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx b. Exercer uma COERÇÃO SOBRE OS INDIVÍDUOS, levando-os a conformarem-se com as regras já existentes. Nestas regras, o indivíduo não participa de sua elaboração e, caso não as cumpra, receberá as sanções correspondentes. O papel da coerção é fixar e instituir certas maneiras de agir e certos julgamentos que, independente de nossa vontade ou adesão consciente, não somos capazes de modificá-las. (GALLIANO, 1986: 52). Fonte 4: Stock.Xchng® O casamento é um fato social 25 Sociedade e Contemporaneidade A vida urbana nas cidades se mantém coesa em função da especialização do trabalho dos indivíduos e da necessidade que têm do trabalho um do outro. uma estrutura social indiferenciada, com pouca ou nenhuma divisão de trabalho. Uma sociedade caracterizada pela solidariedade mecânica mantém-se unidade em função da totalidade de seus membros terem aptidões e conhecimentos semelhantes, os mesmos sentimentos, valores, crenças, religião. A sociedade se mantém coesa por que os indivíduos ainda não se diferenciam (Ritzer, 1993:210; Aron, 1990: 297; Costa, 1987: 55). As sociedades modernas são caracterizadas pela SOLIDARIEDADE ORGÂNICA, onde a união dos indivíduos ocorre em função das diferentes tarefas e responsabilidades. Este tipo de sociedade apresenta especialização das funções. O consenso se realiza porque cada indivíduo, com sua função ou trabalho próprio, é igualmente necessário para a sociedade. Conforme Ritzer (1993: 213), na sociedade moderna, uma família para sobreviver, necessita do trabalho do verdureiro, do padeiro, do mecânico, do professor, do agente policial. E estas Podemos afirmar também que, enquanto a solidariedade mecânica é a integração social baseada nas semelhanças; a solidariedade orgânica é a integração realizada a partir da diferenciação entre indivíduos e grupos no interior da sociedade. Quando a divisão do trabalho é pouco desenvolvida e todos fazem de tudo, há uma necessidade menor de uns para com os outros, salientando-se aí, a importância e a necessidade da consciência coletiva. Segundo Durkheim, a consciência coletiva ajuda manter os indivíduos integrados, formando a sociedade e vencendo assim, a tendência ao isolamento. Havendo o desenvolvimento da divisão do trabalho social, rompe-se a auto-suficiência dos grupos, dando lugar a uma relação de dependência mútua. Enquanto a solidariedade mecânica é tanto mais forte quanto mais a consciência individual é recoberta pela consciência coletiva; a solidariedade orgânica só se fortalece quando “cada um tem uma esfera de ação que lhe é própria” e pode, assim, afirmar sua individualidade. Importante é observar que a solidariedade orgânica de atinge seu auge nas sociedades modernas, tendo em vista quer estas favorecem as especializações dos indivíduos e grupos, integrando-os numa cadeia de dependência mútua. Esta pode gerar uma relação de cooperação e solidariedade entre os homens. A anomia Os indivíduos se encontram em situação de anomia, quando carecem de um conceito claro sobre o que é uma conduta apropriada, aceitável; quando as regras, as normas, os valores de comportamento não estão claramente definidos. Ou seja, a anomia é a ausência de regras clara- www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx Fonte 5: Stock.Xchng® pessoas, por sua vez, necessitam do trabalho de outras pessoas. Portanto, para Durkheim, a sociedade se mantém coesa em função da especialização do trabalho dos indivíduos e da necessidade que tem do trabalho um do outro. 26 Sociedade e Contemporaneidade Durkheim considera a anomia como uma das principais causas do suicídio. O suicídio anômico se produz devido ao enfraquecimento da moral coletiva e da ausência de uma legislação forte que regre as paixões causadas pela sociedade moderna. Sociedade esta tão cheia de carências e dificuldades e com uma moral nada rígida. Este tipo de suicídio aumenta quando as forças reguladoras da sociedade deixam de atuar. Durkheim considera a anomia como uma das principais causas do suicídio. O suicídio anômico se produz devido ao enfraquecimento da moral coletiva e da ausência de uma legislação forte que regre as paixões causadas pela sociedade moderna. Durkheim possuia uma visão otimista sobre o futuro da sociedade. Acreditava que o progresso desencadeado pelo capitalismo, levaria ao aumento generalizado da divisão do trabalho social e por conseqüência da solidariedade orgânica; a ponto de fazer com que a sociedade chegasse a um estágio sem conflitos. A sociedade é boa, dizia ele, sendo necessário apenas “curar as suas doenças”. Durkheim defendia a idéia que os problemas sociais não se resolveriam jamais dentro de uma luta, e sim através da ciência. Compreendendo o funcionamento da sociedade capitalista, observando cientificamente suas leis sociais, descobrindo as que são falhas e substituindo-as por outras mais eficientes, respeitando sempre a época e a situação vigente, Durkheim considera a anomia como uma das principais causas do suicídio. seria possível estabelecer a HARMONIA SOCIAL. Durkheim acreditava que a causa dos problemas sociais, não se localizavam na economia; mas sim, no não cumprimento das leis, que ele chamava de crise moral. Quando a sociedade atingia um estágio de não cumprimento de suas leis, estava-se diante do que ele chamava de caso patológico. Nesta situação, deve a sociedade com urgência, buscar auxilio na ciência (sociologia), detectando as causas que levaram a crise moral; a fim de evitar à anomia, que é “a ausência total de leis”, e buscar através da moral social a solução para resolver estes problemas, que tanto mal causava a sociedade. Durkheim colocava na “instituição Estado”, um papel relevante, afirmava que o mesmo era considerado o cérebro e também o executor dessa nova moral, tanto que ele defendia a idéia de que o sociólogo deveria ter uma participação direta dentro do Estado, para facilitar e impulsionar a realização das mudanças sociais necessárias para atingir a solução dos problemas. Afirmava também que a sociedade moderna caracteriza-se pela redução da eficácia de determinadas instituições integradoras, como a família e a religião, que tinham grande influência sobre a vida privada, e a profissão, que assume cada vez mais importância na vida social, tornandose a herdeira da família (QUINTANEIRO, 1991: 19-20). Há remédios para problemas sociais? Durkheim acreditava que estas “patologias” poderiam receber “remédios” através de reformas estruturais. A reforma estrutural que ele propôs para aliviar as patologias sociais foi o desenvolvimento das associações profissionais. Para solucionar o problema de desintegração social, seria necessário uma disciplina que só a sociedade poderia impor, através da organização de grupos profissionais que favoreçeriam a integração dos indivíduos na coletividade (Aron, 1990: 308). As corporações profissionais que Durkheim propunha, era superiores e diferente dos tipos de associações, como os sindicatos e associações de www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx mente definidas, que regulem o comportamento dos indivíduos em sociedade (MARTINS, 1991: 48). O conceito de anomia se encontra na obra A divisão do trabalho social , mas também em O suicídio ( Durkheim, 2004:97;103-123). 27 Sociedade e Contemporaneidade Relações entre as classes sociais Para Durkheim, não haviam conflitos de interesses entre trabalhadores e proprietários. Nesta questão, Durkheim tem uma postura completamente oposta à Marx, que defendia a existência de interesses antagônicos entre proprietários e trabalhadores, e também, a revolução. Foi considerado um reformador, pois preocupava-se com melhorias para o funcionamento da sociedade; defendia a união dos trabalhadores e empresários por grupos, formando as associações profissionais ou corporações. Defendia a criação destas corporações, com o objetivo de restaurar a moralidade coletiva que Para Durkheim a corporação é o único grupo social capaz de favorecer a integração do indivíduo na coletividade. era uma constante nas sociedades complexas; e também, acreditava que dessa forma, seria possível corrigir certas patologias comuns na divisão social do trabalho. Durkheim nunca abandonou a convicção de que “a sociedade ocidental de seu tempo, atravessava uma grande crise; e a causa desta crise centravase na relação patológica da autoridade moral sobre a vida dos indivíduos” (DURKHEIM, 1984: 192). Revisão Émile Durkheim – Teoria Funcionalista Objeto de Estudo: Fatos Sociais. Organização Social: somente é possível graças à consciência coletiva, que é a combinação das consciências individuais. Definição de Sociologia: - é a ciência que estuda as instituições, sua gênese e sua funcionalidade; ♦♦ estudo do Fato Social, dos fenômenos regulares da sociedade, do que se repete, dos elementos que garantam a coesão social – Sociologia do Consenso, da ordem social. Definição de Sociedade: um todo harmônico, composto de partes que tendem ao equilíbrio e a coesão, cada parte existe em função do todo. Objetividade do Cientista Social: ♦♦ Para dar objetividade aos “Fatos Sociais”, Durkheim estabelece como um dos princípios metodológicos básicos para a investigação sociológica, considerá-los como “coisas”; ♦♦ Os Fatos Sociais são coisas”, isto é, uma realidade objetiva e passível de ser observada; ♦♦ Para Durkheim, uma explicação só seria científica, se o pesquisador mantivesse certa neutralidade e distância em relação aos Fatos Sociais, mantendo a objetividade de sua análise; ♦♦ Para obter objetividade na análise, o sociólogo deveria deixar suas pré-noções, isto é, seus valores e sentimentos pessoais, em relação aos acontecimentos a serem estudados. www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx empresários, que, segundo ele, serviam apenas para diferenciar empregadores de empregados. 28 Sociedade e Contemporaneidade M arx em Paris, num famoso café, conheceu Friedrich Engels (1820-1895), que seria seu amigo por toda a sua vida pessoal, acadêmica e intelectual. Engels, filho de um fabricante de tecidos, criticava as condições de vida da classe trabalhadora. Marx e Engels compartilhavam a mesma orientação teórica, o que lhes possibilitou produzirem juntos vários livros, artigos e a trabalharem unidos em organizações radicais. Embora defendessem a transformação radical da sociedade, que acabasse com a opressão, miséria, exploração das condições miseráveis em que viviam a classe trabalhadora, ambos Marx e Engels eram humanistas e sentiam-se profundamente feridos pelo sofrimento destes. Estes intelectuais também fazem parte do clássicos das Ciências Sociais. Esta concepção teórica elabora uma crítica radical ao sistema capitalista e a classe burguesa (capitalista/dominante). Fonte 5: Wikipedia Friedrich Engels Nasceu em 28 de novembro de 1820 e morreu em 5 de agosto de 1895. Karl Marx: Marx nasceu no dia 5 de maio de 1818, na Prússia. Seu pai era advogado, ambos (pai/ mãe) eram de classe média, descendiam de uma família de rabinos. Em 1841, doutorou-se em filosofia pela Universidade de Berlim. Em 1843, casou-se e mudou-se para Paris, onde estudou o socialismo francês e a economia política inglesa. Friedrich Engels A vida e obra de Karl Marx está ligada a de seu companheiro intelectual e amigo, Friedrich Engels, com quem escreveu “A Sagrada Família”, “A ideologia Alemã” e o “Manifesto do Partido Comunista”, referências importantes na produção marxista. Após a morte de Marx, Engels tomou a si a tarefa de organizar, interpretar e divulgar os manuscritos deixados por Marx, por ocasião de sua morte. A teoria Materialista-histórica-dialética foi escrita por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1903). É uma teoria, um método de análise da sociedade, que parte da realidade concreta (sociedade dividida em duas classes sociais, antagônicas: trabalhadores X capitalistas) e, da perspectiva da classe trabalhadora (classe que vende sua força de trabalho para garantir a sobrevivência). Para Marx, a busca da verdade (razão de ser da ciência), é sempre verdade para uma ou ouwww.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx Sua obra e história Fonte 6: Wikipedia Teoria Materialista Científica: Karl Marx e Friederich Engels 29 Sociedade e Contemporaneidade Agora vamos ver que para MARX E ENGELS a razão das crises sociais não são as mesmas dos funcionalistas... Os pressupostos básicos da teoria Marxista O determinismo econômico de Marx e Engels Para Marx/Engels a crise tinha origem econômica. Localizava-se na forma de organizar a produção, que irradiava para todas as outras esferas (sociais, políticas, culturais) da sociedade, um sistema injusto, alienante, onde os indivíduos que produziam as mercadorias, riquezas desta sociedade eram impedidos de se apropriar do que produziam (trabalhadores). E os indivíduos (classe capitalista), proprietários dos meios de produção que não produziam as mercadorias, destas se apropriavam. Segundo eles, para resolver a crise que a Europa experimentava, seria necessário proceder modificações nas formas da propriedade privada e na distribuição da riqueza. A concepção teórica marxista contribuiu de forma grandiosa para o desenvolvimento da ciência; e mostrou um caminho possível, para a trans- Segundo Marx, para compreendermos como funciona e se organiza uma sociedade, é necessário partirmos da base que sustenta a mesma. Ora, uma sociedade, para existir, compõe-se de indivíduos que estabelecem relações e que produzem mercadorias necessárias à sua existência. Para os homens produzirem mercadorias, são necessários objetos de trabalho e instrumentos de trabalho. Marx define como objetos de trabalho as matérias primas (árvores, manganês, cobre) que extraímos da natureza. Ao irmos à natureza, extrair as matérias primas, necessitamos de determinados instrumentos de trabalho que são: as ferramentas (serra, pá, enxada) e máquinas (moto-serra, retro-escavadeira). Os objetos mais os instrumentos de trabalho são denominados de meios de produção. Mas instrumentos e objetos de trabalho não se colocam em movimento autonomamente. É necessário o trabalho humano, ou seja, a força de trabalho do homem. Estes três elementos, são as condições naturais e históricas, da atividade produtiva organizada pelos homens, em todos tipos de sociedade já existentes. Os objetos de trabalho mais os instrumentos de trabalho, somados a força de trabalho do homem, são chamadas de Forças Produtivas. Os indivíduos, ao organizarem-se para produzir as mercadorias necessárias à sua existência, estabelecem determinadas relações sociais. Para Marx neste tipo de sociedade (capitalista) os homens não são iguais. Na base da sociedade, os homens se apresentam para produzir mercadorias e aqui se evidenciam suas diferenças: uns são proprietários (classe capitalista) e outros não, tendo nada de seu (classe trabalhadora), vendem sua força de trabalho. www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx Como já vimos anteriormente que para os FUNCIONALISTAS a grave crise econômica que ocorria na Europa era atribuída à crise moral pela qual a sociedade européia passava. Esta crise era entendida como um descompasso entre a velocidade das transformações geradas pela industrialização e as regras, normas, leis que deviam pautar o comportamento dos indivíduos. As regras, leis que deviam reger as relações sociais estabelecidas entre os homens, não acompanhavam as mudanças ocorridas no setor econômico, gerando um situação de anomia (ausência de regras claras e definidas, que servissem para orientar o comportamento dos indivíduos em sociedade). formação política, econômica e social do sistema capitalista, que seria comandada pela classe trabalhadora. Fonte 7: Stock.Xchng® tra classe social. O capitalismo na Europa, nesta época, apresentava crises e conflitos. A exploração dos trabalhadores e a conseqüente miséria em que viviam, levou-os a organizarem-se e a utilizar a greve como instrumento de luta. 30 Sociedade e Contemporaneidade Estas relações sociais determinam a forma como os homens se apropriam e distribuem: as mercadorias, os meios de produção, e a própria força de trabalho do homem. Na sociedade capitalista, os meios de produção são propriedade dos capitalistas. Para estes, produzirem as mercadorias que irão vender no mercado, necessitam contratar a força de trabalho dos trabalhadores. Os trabalhadores não sendo proprietários, e necessitando de mercadorias para sua sobrevivência, vendem sua força de trabalho para o capitalista. Estas são resumidamente, as relações sociais, que os homens estabelecem na sociedade capitalista, para produzir mercadorias. Os indivíduos que produzem, não são proprietários, não se apropriam das mercadorias que produzem, não possuem riquezas (casa própria, automóvel, educação, saúde). Neste tipo de sociedade (capitalista) os homens não são iguais. Na base da sociedade, os homens se apresentam para produzir mercadorias e aqui se evidenciam suas diferenças: uns são proprietários (classe capitalista) e outros não tendo nada de seu (classe trabalhadora), vendem sua força de trabalho. A infra-estrutura e a super-estrutura Marx chama de infra-estrutura a base econômica que são os alicerces da sociedade, as relações sociais que os homens estabelecem para produzir as mercadorias necessárias à sua existência. Essa relação desigual entre os homens na sociedade capitalista reflete-se na super-estrutura (base jurídica, política, filosófica). A super-estrutura são os modos de agir, pensar, sentir dos indivíduos na sociedade que são reflexo e determinados pela posição que ocupam na base econômica (ser ou não proprietário ou trabalhador). Ou seja, as leis, a educação, acesso à saúde, os direitos do cidadão, os valores sociais vão refletir as relações sociais que os homens estabelecem para produzir as mercadorias necessárias a sua existência. Ora, no modo de produção capitalista, os indivíduos pertencem à duas classes sociais distintas: classe trabalhadora ou classe capitalista. Esta relação desigual na base econômica (infra-estrutura) irá se refletir nas leis, no acesso à saúde, à educação, à moradia, nos transportes, nos direitos e deveres do cidadão. Ou seja, Sabemos que não! Para Marx, as desigual- O tipo de escola, moradia, saúde, partidos políticos, dos trabalhadores são os mesmos dos capitalistas? As leis que deveriam ser iguais para todos - princípio da democracia - são aplicadas igualmente ao infratores, tanto da classe trabalhadora como da classe capitalista? dades sociais são as bases da formação das classes sociais no sistema capitalista. Este sistema gera a alienação, exploração e a opressão dos trabalhadores. A alienação A alienação econômica A alienação econômica para Marx significa que no sistema capitalista, o trabalhador encontra-se alienado (separado) das mercadorias que ele próprio produz. A alienação está presente, também, na trajetória social que as mercadorias percorrem. Na produção, as relações se estabelecem entre materiais e máquinas. O produto do trabalho (as mercadorias) é múltiplo, impessoal, seriado. A marca do humano, o jeito e o traço do www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx Para MARX os objetos mais os instrumentos de trabalho são denominados de meios de produção. Os meios de produção são propriedade dos capitalistas. 31 Sociedade e Contemporaneidade As máquinas que revolucionaram a produção de mercadorias (Revolução Industrial) estabeleceram a separação entre o trabalhador e o resultado de seu trabalho. O processo de produção de mercadorias, no sistema Capitalista, retirou a dimensão humana do que é produzido. Na esfera da produção, o humano se ausenta, é onde o trabalhador encontra-se alienado (SEPARADO). Pois são os trabalhadores que se adaptam às máquinas, as quais recebem indiferentemente qualquer trabalhador, que acompanha o ritmo das mesmas. O controle do produto final não está ao alcance de nenhum trabalhador; mas, na organização dos meios de produção e no capital, que pertencem à classe capitalista. Fonte 8: Modern Times. Imdb Esta separação do trabalhador das mercadorias que produz, chama-se alienação econômica. Cena do filme TEMPOS MODERNOS de Charles Chaplin. Este filme faz uma análise e uma crítica à sociedade moderna, industrial, capitalista. A Alienação Filosófica A Alienação filosófica refere-se ao trabalhador ser separado da mercadoria que ele mesmo produz; portanto, passa a ser fragmentado e produz-se uma falsa generalidade sobre sua humanidade e a sociedade: o Homem, o Cidadão, o trabalhador. De acordo com Marx, o homem, quando transforma a natureza em objetos (mercadorias), procura adaptar estes objetos para satisfazer as suas necessidades. Ao fazer isto, o homem adquire novos conhecimentos e se organiza socialmente. Esta organização em grupos é necessária; pois sem ela, o homem não conseguiria realizar essa adaptação (transformar a natureza em objetos/mercadorias que necessitam para sobreviver). O trabalhador, ao produzir mercadorias, exterioriza sua subjetividade na matéria (objeto) que transforma. Este objeto (mercadoria) transformado pela mão do trabalhador torna-se “humanizado”, porque contém a essência genérica do ser humano (realização de um projeto). Quando um outro homem (capitalista) separa o trabalhador dos (objetos ) mercadorias que ele produziu, este outro HOMEM (capitalista) alienou, separou o trabalhador daquilo que ele criou, ou seja, de si mesmo. A Alienação Política A alienação política refere-se a fragmentação e a falsa representação política do trabalhador, do cidadão, criada na sociedade. Para Marx, na sociedade capitalista, criou-se uma falsa idéia do princípio de representatividade. A burguesia criou uma falsa idéia, sobre o Estado, de ser um órgão político imparcial, capaz de representar toda a sociedade através do poder delegado pelos indivíduos. Para Marx, o Estado é o comitê executivo da burguesia; serve para gerir os planos econômicos da mesma. A idéia de representatividade é falsa porque, na realidade, não representa todos os cidadãos (trabalhadores e burguesia), e sim somente a classe capitalista. Essa falsa representatividade apresenta-se também na forma de dominação da classe burguesa sobre a trabalhadora. Significa que a classe capitalista, através do poder econômico, consegue exercer seu poder sobre os trabalhadores, pois estes precisam vender sua força de trabalho para comprar as mercadorias que necessitam para sobreviver. São obrigados a vender sua força de trabalho, pelo valor que a burguesia organizadamente determina. Exemplo: salário mínimo é nacionalmente determinado, com pequenas variações entre os Estados brasileiros. Por outro lado, se os trabalhadores resolvewww.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx trabalhador que caracterizariam sua individualidade, inexistem nas mercadorias que produz. A percepção da exclusão da marca humana, no processo de produção, é uma questão central na obra de Marx e no seu estudo da economia burguesa. 32 Sociedade e Contemporaneidade sobre os trabalhadores. Marx observou que os ideais da Revolução Francesa, igualdade política e jurídica, direitos inalienáveis de todo cidadão, são incompatíveis na sociedade capitalista. Pois as relações estabelecidas entre homens, por pertencerem às classes sociais distintas, são de exploração, antagonismo e complementaridade. A posse dos meios de produção, propriedade legal e privada da burguesia, leva os trabalhadores a venderem sua força de trabalho ao capitalista, para sobreviverem. Os capitalistas, de posse dos meios de produção, determinam o valor do trabalho e das mercadorias. Os trabalhadores se vêem obrigados a vender sua força de trabalho pelo preço que os capitalistas pagam. É, portanto, uma relação de exploração. Fonte 9: Arquivo Ulbra Ead A burguesia domina culturalmente, também, a classe trabalhadora através dos meios de comunicação. Como detém o poder econômico, consegue influenciar o que e como serão divulgadas as informações. Selecionando programas, horários, através dos quais passam seus valores, crenças, gostos, planos econômicos para a classe trabalhadora. Dominação cultural Relações entre as classes sociais As relações entre as classes sociais são, também, antagônicas, porque seus interesses são opostos. Enquanto a burguesia deseja manter a posse privada dos meios de produção, aumentar a jornada de trabalho e diminuir os salários, a classe trabalhadora busca diminuir a jornada de trabalho, participação nos lucros e melhores salários. Por último, existe uma relação de complementaridade entre as classes sociais, uma só existe em relação à outra. Os trabalhadores vendem sua força de trabalho porque precisam sobreviver, e a outra classe se apropriou dos meios de produção. A burguesia detém a posse dos meios produção, porque existe a classe trabalhadora destituída da posse dos mesmos; caso contrário, a burguesia não teria mão-de-obra para desenvolver seus negócios. Quais são os caminhos, meios que Marx apresenta para transformar a sociedade? A Práxis Política Segundo Marx, para a classe trabalhadora romper sua dominação/alienação e recuperar sua condição humana, precisa se organizar politicamente, elaborar uma crítica radical ao sistema econômico e filosófico, que os excluíram da participação efetiva na sociedade. Esta crítica só se realiza na prática através de uma ação política consciente e transformadora; Marx chama de práxis. Isto quer dizer que não basta apenas criticar o sistema capitalista; é necessário apontar caminhos e assumi-los concretamente através da participação política consciente. Essa participação política consciente seria possível na medida em que a classe trabalhadora conhecesse a realidade. Segundo Marx, para a reali- www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx rem organizar-se politicamente, para fazer suas exigências através das greves, serão reprimidos pela força através dos aparelhos repressivos do Estado: a polícia e o exército. O Estado existe para defender os interesses de todos os cidadãos. Mas na sociedade capitalista, o Estado defende a propriedade privada e a integridade física/moral apenas da classe burguesa, escreveu Marx. A burguesia organiza-se, internacionalmente, para defender seus interesses. Mas os trabalhadores são proibidos de reunirem-se, até no pátio da fábrica, no horário de descanso. Dessa forma, a classe capitalista exerce sua dominação política 33 Sociedade e Contemporaneidade dade ser apreendida em toda sua complexidade, seria necessário conhecê-la, através do método dialético. forma mais evoluída. O método dialético A transformação da sociedade se daria através da atividade revolucionária ou crítico-prática. Essa crítica da sociedade capitalista seria realizada pelos trabalhadores (através da práxis); única classe capaz de promover a superação dessa forma histórica de sociedade, ou seja, acabar com a exploração do homem pelo homem. Para ocorrer essa transformação é necessário partir dos indivíduos reais, de sua ação e de suas condições materiais de existência. A relação entre as condições materiais de existência dos indivíduos e suas forma de pensar, agir e sentir, é o que Marx chamou de materialismo histórico. O pensamento e a consciência são, em última instância, resultado do modo como se organizam para produzir as mercadorias necessárias à sua sobrevivência. Marx parte da dialética hegeliana, que afirma a contradição, o conflito como a essência da realidade, a qual se supera num processo incessante de negação, conservação e síntese. Aplicada aos fenômenos historicamente produzidos, a dialética aponta as contradições constitutivas da vida social que resultam na negação de uma determinada ordem. Marx inverte totalmente o método hegeliano. Segundo Marx, reconhecer o movimento dialético não é suficiente. É necessário, submeter o fenômeno social à crítica, para suas potencialidades serem reveladas e atualizadas de outra Para Marx a sociedade é resultado da ação humana, por isso, é possível transformá-la. Teoria Marxista: Karl Marx e Friedrich Engels Objeto de Estudo: - Relações de Classe ou - Relações Sociais de Produção. Organização Social: depende da dinâmica das relações de classe, que possuem interesses diferentes e conflitantes, é um sistema em equilíbrio necessariamente precário. Definição de Sociologia: ciência que estuda as relações sociais e os fatores que contribuem para a transformação social – Sociologia do Conflito – da mudança social. Definição de Sociedade: um todo que se ergue a partir do modo de se produzir a vida material, composto por classes que tendem ao conflito e que está em constante transformação. Objetividade do Cientista Social: • Para Marx, a ciência não dependia da objetividade, mas de uma consciência crítica; ao invés de sugerir soluções para uma sociedade em conflito, propunha um caminho prático de ação política e um objetivo a ser atingido: a transformação social; • Para Marx , a objetividade científica não está vinculada à análises elaboradas acima das classes sociais; pois, a busca da verdade, é verdade sempre para uma classe social; • Nega que o sociólogo ou cientistas, possam ser politicamente neutros; os que se alegam “neutros” são porta-vozes da ideologia burguesa ou estão fazendo seu jogo; • Aqueles que se dizem “neutros” estão defendendo o “Status Quo” vigente; ou seja, a sociedade com seu poder constituído. www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx Revisão 34 Sociedade e Contemporaneidade A Teoria Compreensiva de Max Weber A partir deste texto, passaremos a conhecer a história de um homem que marcou seu espaço na galeria de pensadores clássicos. Nascido em Erfurt, a 21 de abril de 1864, Max Weber apresenta-se como um dos sociólogos e economistas políticos mais importantes da Alemanha, nos séculos dezenove e vinte. Weber era de uma família que possuía uma situação econômica bastante favorável na época. Tinha um carinho muito especial por sua mãe (calvinista devota), e não se relacionava muito bem com o seu pai (que se entregava aos prazeres mundanos). Weber, no auge de sua carreira, foi acometido por uma doença de fundo nervoso, que obrigou-o a um afastamento pelo período de sete anos. Ao retornar conseguiu dar continuidade ao seu trabalho. Foi um estudioso extremamente preocupado em apresentar um trabalho com qualidade ímpar, caracterizando-se pelo rigor científico de suas análises e pela riqueza de detalhes. Weber, embora fosse um homem preocupado com o seu tempo e com a questão social, jamais ocupou cargos políticos. Ao lado de Sombart, dirigiu o Arquivo de Ciência Política e Social, revista de grande destaque. Apesar de ter como pressupostos filosóficos o racionalismo e o idealismo, preocupava-se com o perigo da racionalização total que o mundo se dirigia. Max Weber. Sua obra e sua vida foi de tal importância, que ultrapassou seu tempo e ele tornou-se um clássico, chegando suas idéias com muita consistência, até os dias atuais. Buscava incessantemente chamar a atenção para o grande perigo da Burocracia e com isso buscava caminhos para que o homem se libertasse. Weber discordava das idéias de Marx sobre o determinismo econômico. Defendia a existência de outros fatores como a ética, a religião, as crenças, influenciando e determinando, de maneira contundente, o desenvolvimento social, político e econômico da sociedade. Acreditava que os valores introjetados pela religião, cultura refletiam de maneira muito forte e real na prática dos indivíduos. Religião e capitalismo Em sua obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, estudo científico que realizou sobre a influência da religião no comportamento do indivíduo, constatou que um dos fatores que contribuíram para o desenvolvimento do capitalismo na Alemanha, foi a religião. Seu estudo demonstra, claramente, que nos países com religião protestante o capitalismo é desenvolvido e nos países com religião católica há um desenvolvimento mais lento. Constatou também que a maioria dos empresários alemães bem sucedidos e a mão de obra qualificada eram de homens, cuja religião era protestante. Este desenvolvimento mais lento dos países www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx S ua carreira acadêmica foi muito bem sucedida. Formou-se em direito e economia, nas universidades de Berlim e de Heidelberg, respectivamente. Profissionalmente, destacou-se como professor nas universidades de Berlim (1893), Heidelberg (1897), Munique (1919); e como professor visitante lecionou em Viena (1917). Fonte 10: Wikipedia Sua obra e história 35 Sociedade e Contemporaneidade edia ikip 1: W te 1 Fon católicos Weber atribuía à atitude mais contemplativa dos católicos. Evidentemente que esta diferença não resulta apenas deste fator, mas o mesmo teve uma grande influência no desenvolvimento do capitalismo na Alemanha. O papel da sociologia Weber, ao desenvolver suas idéias, buscou compreender as formas de interação entre o indivíduo e meio social. A sociologia, segundo ele, deveria investigar o indivíduo e sua ação; ou seja, compreender o motivo da ação dos indivíduos. Compreender a ação humana, para Weber, é captar seu sentido subjetivo. Portanto, compreensão não é um processo exclusivo do conhecimento científico. Para Weber, as pessoas passam boa parte do seu cotidiano tentando, com maior ou menor sucesso, compreender as ações de outras pessoas, embora nem sempre percebam que fazem isso. Os alemães protestantes viviam para o trabalho, eram disciplinados, não gastavam com frivolidades; ao contrário, poupavam e (re)investiam seus salários , lucros na atividade produtiva, pois assim, gerava-se mais emprego, mais trabalho e outros protestantes podiam servir a Deus. Neste sentido, o comportamento econômico dos alemães protestantes era determinado por sua ética religiosa. Weber apresenta dois tipos de compreensão: a atual e a explicativa. Weber elaborou sua obra no momento em que a Alemanha se desenvolvia rapidamente. Mas este crescimento era tardio, pois a industrialização da Alemanha ocorreu muito depois dos processos ocorridos na Inglaterra e na França. (Martins, 1994: 64). Na compreensão de explicativa se dá quando se chegamos em casa, como todos os dias e, em vez de estar na cozinha, ela está no quarto arrumando as malas, não nos detemos no sentido aparente da ação, mas apelamos para seus motivos subjacentes: pode ser que vai visitar uma irmã; pode ser que alguém esteja doente; vai passear ou que brigou com nosso pai e vai embora. Weber chama este tipo de compreensão de explicativa. Segundo Martins (1994, p. 63) outro fato peculiar, referente ao desenvolvimento do capitalismo na Alemanha, é o fato da burguesia deter o poder econômico, mas não o poder político. Este era exercido pela nobreza, através do Estado; permitindo a burocracia (funcionários prussianos) impor a toda a sociedade suas opções políticas, exercendo verdadeiro despotismo. Neste contexto, Weber afirmava que sua preocupação não era a “Ditadura do Proletariado” (referindose a Marx) e sim, a “Ditadura do Funcionário” (burocracia). A compreensão atual é a captação de sentido, que decorre diretamente do curso observável da ação. Por exemplo: quando chegamos em casa, ao meio-dia, e encontramos nossa mãe mexendo com panelas no fogão, como faz todos os dias, o sentido da ação nos é evidente: ela está fazendo o almoço. Nos dois casos, uma ação é considerada como compreendida quando seu sentido parece evidente para quem o investiga. Assim, compreender é captar a evidência do sentido da ação, independente de qualquer investigação científica. Weber aponta que há graus de compreensão das evidências. O grau máximo de evidência de sentido de uma ação, segundo ele, é aquela obtida pela razão. ( Weber, 1982). www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx Weber, ao investigar a Ética Protestante, descobriu que para os protestantes a vocação e o dever com o trabalho era a forma de servir a Deus aqui na terra. 36 Sociedade e Contemporaneidade O Objeto de estudo de Weber É preciso compreender o que motiva os indivíduos a se submeterem às leis, às regras, às normas sociais. Ou dito de outra forma, Weber salienta a necessidade de se compreenderem as intenções e motivações dos indivíduos que vivenciam estas situações sociais. Lembrem-se que a ação social explica, segundo Weber, o que torna possível a organização social dos homens, definindo, assim o objeto de estudo da Sociologia Weberiana. Para o autor, o objetivo que transparece na ação social permite desvendar o seu “sentido”, que é social na medida em que cada indivíduo age levando em conta a resposta ou reação do(s) outro(s) indivíduo(s). A ação social ocorre quando um indivíduo age em relação a outro indivíduo, tem um motivo ou intenção; independente da ação ou reação que ele (o outro indivíduo) possa ter. Segundo Weber, nossas ações se orientam pela conduta alheia, ou seja, cada indivíduo age levando em conta a resposta ou reação dos outros indivíduos. E diz que, nossas ações estão delimitadas, mais ou menos, dentro de quatro categorias de ação social , por seu sentido subjetivo, implícito ou explícito na nossa conduta. Tipologia geral da ação social O essencial a fixar é que, de acordo com Weber, é social a ação cujo sentido possui um significado atribuído pelos indivíduos e é orientada pelas ações de outros indivíduos. Weber constrói conceitos sociológicos básicos, a partir de uma tipologia geral da ação social, que são: A ação social ocorre, por exemplo: quando pergunto às horas para alguém; quando ao caminhar esbarro em alguém e peço desculpas; um aperto de mão, são exemplos de ação social, segundo Weber. 1. A AÇÃO RACIONAL COM RELAÇÃO A FINS – é toda ação racional, em que o indivíduo avalia os “fins e meios” necessários para alcançar seus objetivos; racionalmente avaliados e Em todas essas ações há um indivíduo agindo em relação a outro indivíduo; sua ação tem um sentido, motivo (perguntar as horas, pedir desculpas, apresentar-se à alguém) e refere-se a outra pessoa (pode ser também outras pessoas), independente da ação ou reação (responder e dar ou não as horas; não ou desculpar; ignorar ou cumprimentar). São os aspectos subjetivos e simbólicos das relações sociais que cabe ao sociólogo investigar. perseguidos. 2. A AÇÃO RACIONAL COM RELAÇÃO A VALORES – quando os indivíduos agem determinados pela crença num valor – ético, estético ou religioso – próprio e absoluto de determinada conduta; agindo de acordo com ou a serviço de suas próprias convicções. Não leva em conta as conseqüências www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx Segundo Weber, “cada sujeito age levado por um motivo que é orientado pela tradição, por interesses racionais ou pela emotividade”, neste sentido, “(...)as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação” (1982, p. 26-7). Fonte 12: Arquivo Ulbra Ead Para Weber, o objeto de estudo da sociologia é ação social. Ou seja, conduta humana dotada de sentido. 37 Sociedade e Contemporaneidade 4. AÇÃO TRADICIONAL - é determinada por um hábito arraigado. Quando hábitos e costumes arraigados leva o sujeito a agir em função deles, como sempre se fez. Por exemplo: indivíduos que ao passar na frente de uma igreja ou cemitério imediatamente fazem o sinal da cruz. Weber, ao construir a tipologia da ação social, chama a atenção para a diferença entre ação e conduta puramente reativa, ou seja, comportamento automático que implica um processo não pensado. Tal comportamento não é do interesse do sociólogo. A ação racional com relação a valores: O indivíduo age cumprindo um dever, um imperativo ou exigência ditado pela sua dignidade, suas crenças religiosas, políticas, morais ou estéticas. Ação afetiva determinada por efeitos e sentimentos. É a ação social que, muitas vezes, corresponde à expressão imediata e irrefletida de emoções fortes, tais como raiva, desespero, orgulho, medo, ciúme, inveja, paixão. AÇÃO TRADICIONAL: batizado de crianças na igreja católica em que os pais e a família são pouco comprometidos com a religião. www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx É a ação social que, muitas vezes, corresponde à expressão imediata e irrefletida de emoções fortes, tais como: raiva, desespero, orgulho, medo, ciúme, inveja, paixão. Não leva em consideração as conseqüencias previsíveis da sua ação irrefletida. Exemplo: uma cena de ciúme; a compra do carro ou roupa que comprometa o orçamento do mês; medo de baratas. Fonte 15: Arquivo Ulbra Ead 3. AÇÃO AFETIVA – especialmente emotiva, determinada por afetos e estados sentimentais. A ação racional com relação a fins: Segundo Weber, esta relação é a que geralmente proporciona ao pesquisador o grau máximo de evidência interpretativa. Exemplo: estudar para passar no vestibular; poupar para comprar um apartamento. Fonte 16: Arquivo Ulbra Ead A ação racional com relação a valores se dá por exemplo: pessoas que por convicções religiosas não permitem transfusão de sangue, mesmo correndo risco de vida; mulheres que engravidam como resultado de um estupro e não realizam o aborto por convicções morais ou religiosas; pessoas que preferem perder o emprego à trair um colega ou chefe por questões éticas; mulheres que se submetem a uma alimentação frugal por questões estéticas. Fonte 14: Arquivo Ulbra Ead A ação racional com relação a valores: O indivíduo age cumprindo um dever, um imperativo ou exigência ditado pela sua dignidade, suas crenças religiosas, políticas, morais ou estéticas. Fonte 13: Arquivo Ulbra Ead de sua ação, mas exclusivamente sua fidelidade aos valores inspiradores de sua conduta, tais como: justiça, honra, honestidade, fidelidade, beleza. 38 Sociedade e Contemporaneidade Por exemplo: os indivíduos que participam de um quebra-quebra após uma partida de futebol; ou abrir um guarda-sol para se proteger do sol. Essas ações são chamadas de reativas por que, no primeiro caso, os indivíduos agiram condicionados pelos outros (“pela massa”); no segundo caso, o indivíduo age em relação a um objeto material (sol), não em relação à outra pessoa. Portanto, são ações desprovidas de intenção; de um sentido ou motivo de um indivíduo, em relação a outro(s) indivíduo(s), sem caráter social. Outro tipo de ação com sentido, que ocorre em sociedade, a qual Weber conceituou, é a relação social. Para que esta seja estabelecida, é preciso que os indivíduos compartilhem o sentido, motivo da ação. Por exemplo: a amizade é uma relação social, por que os indivíduos compartilham o conteúdo ou sentido da ação, orientando e regulamentando a ação de cada indivíduo. Se não compartilho o conteúdo (valores que envolvem uma amizade) não estabeleço uma relação social. O tipo ideal Ao estabelecer uma tipologia da ação social, Weber construiu um instrumento de análise, o qual viria chamar de tipo ideal. Ele defendia que era responsabilidade do sociólogo, criar instrumentos conceituais que pudessem ser utilizados e que fossem de grande ajuda para a investigação empírica e para se entender o mundo social. O tipo ideal são hipóteses de interpretação, que devem ser confirmadas ou não, pela inferência causal ou pela observação estatística. Os tipos ideais construídos devem ser considerados um instrumento limitado e provisório, pois é uma construção abstrata, intelectual, os tipos sociológicos só existem no plano das idéias (ideal) e não na realidade. O sociólogo, ao construir o tipo ideal, seleciona os aspectos da ação humana, que considera culturalmente relevantes para o estudo, e o faz de acordo com seus próprios valores. Mas após determinar que aspectos da realidade deseja investigar, cabe ao cientista social buscar dar consistência lógica a esses aspectos, relacionando-os com uma precisão que não se observa na realidade. Embora ao analisar a realidade, o cientista social dará uma explicação parcial, qualquer que seja a perspectiva por ele adotada. Pois, defendia Weber, um fenômeno social pode ter causas econômicas, políticas, culturais, religiosas. Costa, em seu livro de Sociologia (1993), ao descrever a tarefa do cientista, a partir de Weber; escreve: “(...)O que a garante a cientificidade de uma explicação é o método da reflexão, não a objetividade pura dos fatos. Weber relembra (...) que, embora os acontecimentos sociais possam ser quantificáveis, a análise do social envolve sempre uma questão de qualidade, interpretação, subjetividade e compreensão”(1993, p.64). Indagava-se sobre a possibilidade de se isolar a interferência dos valores subjetivos, no estudo científico dos fenômenos sociais. Um fenômeno social pode ter causas econômicas, políticas, culturais, religiosas. Weber ao defender estás idéias, em relação a objetividade da ciência, utiliza-ás como um recurso na luta pela liberdade intelectual e autonomia da sociologia; em face da burocracia e do Estado Alemão da época. Pretendia oferecer as pesquisas desenvolvidas, pelos cientistas sociais, tanto as instituições www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx Para a teoria Weberiana, interessa ao sociólogo o que os indivíduos fazem e por que fazem, seus motivos subjetivos. 39 Sociedade e Contemporaneidade Outro tema de sua obra, que buscou responder, refere-se ao que torna possível a permanência ou continuidade das relações sociais. Segundo ele, é a crença dos indivíduos no poder e numa ordem legítima. Para Weber, a sociedade não se apresenta como um todo organizado, mas como um palco onde há “uma luta incessante, entre indivíduos orientados por valores distintos e equivalentes, cuja coesão ocorre em situações sempre cambiantes de interesses e dominação”. (Weber, 1982,p.127). Weber definia a dominação como a probabilidade de encontrar obediência dentro de um grupo determinado de mandatos específicos . Esta dominação, pode dar-se em bases legítimas ou ilegítimas. As formas legítimas de dominação, constituem a autoridade, que se legitima diante dos seguidores; explicando sua obediência. Uma tipologia dos três tipos e dominação Ao analisar as formas de dominação social, Weber, criou uma tipologia dos três tipos de dominação legitima: a legal, a tradicional e a carismática. A dominação não é um fenômeno exclusivo da esfera política, mas um elemento essencial, que está presente em todas as instâncias da vida social. 1. A DOMINAÇÃO LEGAL - representada pelo direito, o qual significa um conjunto de normas e regras de caráter normativo, estas garantem ao cidadão uma certa proteção dos interesses sociais. É a autoridade legitimada sobre fundamentos racionais, apóia-se na crença da legalidade das ordens instituídas, em estatutos, contratos, decretos, leis. Por exemplo: a burocracia, é o tipo mais puro, do exercício da autoridade legal sobre os seres humanos. Na burocracia, deve-se fidelidade e obediência as normas promulgadas e ao chefe que atua em nome dessas normas. Entende Weber, que uma sociedade quanto mais burocratizada, mais será facilmente dominada. 2. A DOMINAÇÃO TRADICIONAL – é baseada na tradição representada pela hierarquia que está presente no patriarcalismo, patrimonialismo, sultanismo. A autoridade se legitima sobre fundamentos tradicionais, apoiando-se na crença cotidiana da santidade da tradições imemoriáveis e na legitimidade dos escolhidos por essa tradição, para exercer a autoridade. A dominação tradicional. Exemplo: gerontocracia implica nos governos dos mais velhos; no patriarcalismo os líderes herdam suas posições; no patrimonialismo há uma administração e uma força militar que são instrumentos pessoais do senhor que comanda. www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx públicas como privadas (Martins,1994, p. 62). 40 Sociedade e Contemporaneidade 3. A DOMINAÇÃO CARISMÁTICA – para existir depende mais do grupo de seguidores e do modo como definem seu líder carismático; assim é possível converter-se em líder carismático independentemente de se possuir ou não qualidades extraordinárias. Finalizando, para Weber, a dominação não é um fenômeno exclusivo da esfera política, mas um elemento essencial, que está presente em todas as instâncias da vida social. Fonte 17: Arquivo Ulbra Ead A ascenção de um líder carismático pode representar uma ameaça para o sistema, pois o pensamento e a ações da pessoas mudam de forma dramática. São exemplos de líderes carismáticos: um demagogo, um herói militar, um ditador, líder religioso ou revolucionário. Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx A dominação carismática: para Weber, o importante é o processo pelo qual o líder se distingue da maioria das pessoas e é tratado como se estivesse dotado de poderes sobrenaturais, excepcionais, ou de qualidades que não são acessíveis para a maioria das pessoas. www.ulbra.br/ead 41 Sociedade e Contemporaneidade Revisão Max Weber - Teoria Compreensiva Objeto de Estudo: Ação Social. Organização Social: as características da ação social, são o fundamento da organização das relações sociais. Definição de Sociologia: é a ciência que pretende compreender, interpretando à ação social; para desse modo, chegar a explicação causal do seu desenvolvimento e de seus efeitos. Definição de Sociedade: um todo composto por indivíduos em constante interação. Não apresenta nenhuma tendência inerente, seja à transformação ou à conservação – Sociologia Compreensiva. Objetividade do Cientista Social: • Para Weber, as preocupações do cientistas orientam a seleção e a relação entre os elementos da realidade a ser analisada. Mas, o cientista social ao iniciar o estudo, deve se conduzir pela busca neutra da verdade possível dos acontecimentos; • A realização da tarefa científica, não deve ser dificultada pela defesa das crenças e idéias pessoais do cientista. Qualquer que seja a perspectiva adotada pelo cientista , resultará numa explicação parcial. • A cientificidade de uma explicação é garantida pelo método de reflexão utilizado, não pela objetividade pura dos fatos; • Para Weber, embora os acontecimentos sociais possam ser quantificáveis, a análise do social envolve sempre uma questão de qualidade, interpretação, subjetividade e compreensão. www.ulbra.br/ead Concepções Teóricas Clássicas das Ciências Sociais: Weber, Durkheim e Marx • Para Weber, o cientista social é guiado por suas preocupações com os problemas sociais, sendo-lhe impossível separar-se de suas pré-noções; 42