ATIVIDADE LÚDICO-EDUCATIVA JUNTO A CRIANÇAS QUE APRESENTAM DEIFICULDADE DE APRENDIZAGEM Tema: Necessidades Educacionais Especiais e Inclusão Autor Responsável por apresentar o Trabalho: MAIARA PEREIRA ASSUMPÇÃO Autor(es) adicionais: RAFAEL CESAR FERRARI – UNESP ARAINA AP. NASCIMENTO DOS SANTOS – UNESP LARISSA TUROLLO - UNESP GABRIEL TOLEDO – UNESP PATRICIA SERAFIM - UNESP JULIANA MACHADO NASCIMENTO - UNESP MARILDA D. PEREIRA - UNESP EVELYN DE PAULA SOUZA - UNESP IRINEU ALIPRANDO TUIM VIOTTO FILHO - UNESP EDELVIRA DE CASTRO QUINTANILHA MASTROIANNI - UNESP Financiador: Outros - PROEX 1. Introdução Este artigo decorre de um Projeto de extensão e pesquisa em Educação Física Escolar, que valoriza o brinquedo e a atividade do brincar como possibilidade educativa de caráter prático-teórico, com finalidade de favorecer condições de desenvolvimento e aprendizagem para crianças que apresentam necessidades especiais de educação. O citado Projeto é realizado junto ao LAR (Laboratório de Atividades Lúdicorecreativas) da FCT-UNESP-Presidente Prudente e tem como objetivo principal criar condições diferenciadas de aprendizagem para crianças que vivenciam dificuldades no seu cotidiano escolar, sejam elas decorrentes de alguma deficiência física, perceptiva ou intelectual, ou em decorrência de problemas específicos relacionados ao processo de ensino-aprendizagem em sala de aula. O LAR conta com instalações e equipamentos para atender crianças de 04 a 10 anos de idade e constitui-se como um espaço voltado exclusivamente para o desenvolvimento de trabalhos de natureza lúdico-pedagógica e educativa. No desenvolvimento dessas atividades, valoriza-se a ação do Professor de Educação Física como importante mediador do processo de humanização e toma-se a teoria histórico-cultural, a psicomotricidade e a psicologia do jogo, como referências essenciais para a construção de um processo educativo voltado ao desenvolvimento das potencialidades humanas e à formação do indivíduo na sua totalidade. Nessa direção defende-se a participação da Educação Física no âmbito da Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental, no papel de disciplina essencial no processo de desenvolvimento da criança, sobretudo ao estruturar-se a partir de uma visão crítica de educação e assumir a cultura corporal, com ênfase no jogo e na atividade do brincar, como possibilidade educativa e de inclusão social para as crianças que apresentam deficiências e/ou dificuldades escolares. Na concepção e desenvolvimento do Projeto toma-se o método materialista histórico dialético como base fundamental no sentido de possibilitar uma compreensão crítica da realidade social e humana, assim como da estrutura educacional e das condições de ensino-aprendizagem das crianças. Releva-se também as contribuições da teoria histórico-cultural, sobretudo as discussões acerca da atividade do brincar e do brinquedo, como fontes importantes para a compreensão do processo de desenvolvimento da criança em sua fase pré-escolar e escolar. Considerando esses pressupostos teórico-filosóficos e metodológicos, compreendese o ser humano como um sujeito histórico e reconhecido nas suas múltiplas determinações (biológicas, sociais, educativas, econômicas, políticas, dentre outras), o qual, ao apresentar alguma “deficiência orgânica”, ou ainda alguma “dificuldade pessoal”, terá condições de se apropriar de um trabalhado pedagógico de caráter humanizador e, nesse processo, superar suas dificuldades e alcançar as máximas potencialidades de desenvolvimento, àquelas possíveis de serem construídas nesse momento histórico e, sobretudo, no interior da escola. Através de atividades lúdicas de caráter educativo, procura-se criar condições favoráveis para que as crianças que apresentam dificuldades escolares, encontrem condições diferenciadas de brincar, interagir e se sentir sujeitos de suas vidas, para que possam superar suas dificuldades, tendo o professor como um mediador importante na construção da sua maneira de ser, pensar, sentir e agir na escola e na sociedade. Defende-se que os sujeitos participantes do Projeto encontrem condições concretas de desenvolvimento de suas potencialidades, valorizando suas necessidades e capacidades, através da ação prática, coletiva e lúdica, de forma a reconhecê-los como sujeitos que apresentam necessidades especiais de educação, os quais por passarem por situações de dificuldades na escola, merecem condições especiais e diferenciadas de ensino e aprendizagem. É importante esclarecer que neste Projeto, procura-se, desde as suas bases, a efetivação de uma educação inclusiva nas escolas, no sentido de valorizar e espaço escolar como importante local de desenvolvimento dos seres humanos e, nessa perspectiva os professores assumem papel fundamental, com objetivo de atender, de maneira especial e diferenciada, às necessidades de desenvolvimento das crianças e jovens na escola, reconhecendo-os enquanto sujeitos sociais e históricos e, portanto, em contínuo processo de transformação. Saviani (2000) ao discutir a importância da educação no processo de desenvolvimento humano, afirma que o ser humano enquanto um sujeito social, tem condições de superar sua primeira natureza, aquela natural e biológica, e construir sua segunda natureza, aquela social e histórica, calcada nos processos educativos, na relação com o outro e na apropriação dos objetos culturais (materiais e simbólicos), os quais são essenciais para sua objetivação humana. Nessa perspectiva, afirma que os seres humanos não se limitam a adaptar-se à natureza, como fazem os animais, mas sim, trabalham intencionalmente para modificá-la, em função do atendimento das suas necessidades e, desta forma, garantem seu desenvolvimento. Segundo Leontiev (1978) os homens criam os objetos que vão satisfazer as suas necessidades e criam os meios de produção desses objetos, desde o instrumento mais simples às máquinas mais complexas, e nesse processo superam a sua condição animal, se tornam humanizados. Vigotsky (2001), por sua vez, reconhece o ser humano em processo contínuo de desenvolvimento, que procura, na relação com os outros homens e com a natureza, superar suas limitações e avançar nas suas potencialidades, sejam elas físicas ou psíquicas, objetivas ou subjetivas, individuais ou sociais. A Teoria Vigotskiana propõe uma visão dialética e materialista histórica acerca do ser humano e, nesse sentido, enfatiza as relações sociais, os processos educativos, a apropriação dos objetos culturais, tanto os materiais quanto os simbólicos, na direção da efetivação do trabalho vital, enquanto condição essencial para o desenvolvimento das Funções Psicológicas Superiores (FPS) e a efetivação do processo de humanização dos seres humanos. Ao discutir as possibilidades de desenvolvimento das FPS, Vigotski (1991), enfatiza que os processos de aprendizagem são essenciais, pois é desta forma que os seres humanos conquistam as oportunidades objetivas de se apropriar da cultura, dos conhecimentos acumulados pela ciência, pelas artes, pela filosofia, dentre outros conhecimentos construídos pela humanidade. Para o autor: Todas as funções psico-intelectuais superiores aparecem duas vezes no decurso do desenvolvimento da criança: a primeira vez nas atividades coletivas, sociais, ou seja, como funções interpsíquicas; a segunda, nas atividades individuais, como propriedades internas do pensamento da criança, ou seja, como funções intrapsíquicas (VIGOTSKY, 1991, p.46). Neste trabalho, onde a Educação Física apresenta-se como disciplina essencial para o desenvolvimento do Projeto, defende-se a importância da apropriação dos objetos da cultura corporal, sem negligenciar outros objetos e conhecimentos científicos-culturais, como elementos fundamentais no desenvolvimento dos sujeitos que apresentam necessidades especiais e condições diferenciadas de educação. É importante afirmar também que a atividade lúdica, as relações sociais do estar e do brincar com o outro, a comunicação e a linguagem corporal, tornam-se instrumentos essenciais de transmissão de conhecimentos e experiências entre os seres humanos e o professor assume tarefa imprescindível, qual seja, o compromisso de criar condições objetivas na escola para o desenvolvimento das Funções Psicológicas Superiores, isso pela via da ação prático-teórica, permeada pelo constante diálogo, pela linguagem corporal e pela atividade consciente, no sentido de possibilitar aos sujeitos, formas diferenciadas de participar e serem sujeitos de suas ações ao jogar, ao brincar e expressar sua maneira de ser, pensar, sentir e agir na sua relação com o outro. Para Vigotsky (1991, p.46) o desenvolvimento da linguagem serve como paradigma de toda a relação social humana, uma vez que é a forma essencial de comunicação entre a criança e as pessoas à sua volta. A linguagem, para o autor, “inicialmente social, só depois, convertida em linguagem interna, se transforma em função mental interna que fornece os meios fundamentais ao pensamento”, ou seja, há que se garantir possibilidades de comunicação social para os seres humanos, tendo em vista o desenvolvimento qualitativo do seu pensamento e de outras funções psicológicas consideradas essenciais ao processo de humanização. No desenvolvimento deste Projeto enfatiza-se a importância da linguagem social como fundamental no processo de desenvolvimento das FPS e resgata-se a importância da linguagem corporal, como importante possibilidade de comunicação da criança na escola, considerando que nas aulas de Educação Física, a criança poderá encontrar condições diferenciadas de livre manifestação verbal e corporal e, nesse sentido, encontrará condições privilegiadas de manifestação da sua subjetividade na escola. Outra questão essencial deste projeto é a necessidade de enfrentamento e superação do fenômeno da exclusão, presente na sociedade e reproduzido na escola, sobretudo quando se discute a exclusão daqueles sujeitos que apresentam deficiências e/ou dificuldades de aprendizagem na escola. Neste Projeto salienta-se o quanto esses sujeitos precisam de oportunidades e condições especiais de ensino-aprendizagem, para que se apropriem de objetos materiais e simbólicos essenciais, sobretudo do sistema de signos (linguagem, escrita, numeração), para se constituírem como seres humanos e não há dúvidas que a escola é o espaço privilegiado para a consolidação desse processo (VYGOTSKI, 2006). Ao se enfatizar a transmissão de conhecimentos e experiências construídos pela humanidade, pela ação do professor, efetiva-se o processo de socialização da cultura, condição essencial para o desenvolvimento multilateral do ser humano. Na educação escolar esse processo se dá pela via da apropriação da filosofia, da ciência, das artes, da cultura corporal, dentre outras objetivações e, especialmente, como se defende nesse Projeto, pela atividade do brincar, pela apropriação do brinquedo, instrumentos educativos e humanizadores essenciais para o desenvolvimento das crianças na escola. Para Leontiev (1978) cada geração começa a sua vida num mundo de objetos e fenômenos criados pelas gerações precedentes e por isso a educação, o processo de transmissão de conhecimentos e experiências acumulados pela humanidade, se faz imprescindível para que cada ser humano, representante da nova geração, possa, ao participar de processos de aprendizagem, se desenvolver e se humanizar, apropriando-se dos objetos culturais aos quais tem acesso, e sobre os quais imprime sua atividade de forma direta e intencional. Diante dessa consideração do autor, o trabalho do professor torna-se imprescindível, pois é ele o sujeito responsável, na escola, pela transmissão às novas gerações, dos objetos materiais e simbólicos, construídos pela humanidade. Outra consideração importante de Leontiev (1978) refere-se à atividade humana, na qual, segundo o autor, encontra-se a essência genérica do homem, ou seja, é na atividade que o sujeito se constrói e determina a sua condição de humano. Pode-se afirmar, portanto, que é a atividade que cria o próprio homem, tendo em vista que nela se encontra o centro do processo de formação e desenvolvimento humano. Compreende-se então, que o ser humano vai se apropriando das condições objetivas que o cerca e ao fazê-lo, passa a agir de forma intencional no mundo, modificando-o de forma consciente e nesse processo, se objetiva, constrói seus pensamentos, sua consciência e personalidade, enfim, se humaniza (OLIVEIRA, 1996 e MARTINS, 2007). No entanto, na sociedade capitalista os seres humanos se deparam com um perverso fenômeno social, a alienação, um processo que se caracteriza pela desumanização dos seres humanos, o qual é construído no bojo das relações sociais e compromete o desenvolvimento humano degradando-o. Porém, é importante salientar que qualquer fenômeno social, da mesma forma que é construído, pode ser também desconstruído, ou seja, superado pela ação consciente dos próprios seres humanos, e nesse trabalho, ao se valorizar o trabalho do professor (dos professores na escola), acredita-se na construção de possibilidades de superação da alienação, pela efetivação de um trabalho educativo coletivo, crítico e emancipador no interior da escola. Reafirma-se, portanto, o papel do professor como o sujeito responsável pela socialização dos objetos materiais e simbólicos da cultura humana, sobretudo os saberes da ciência, das artes, da política, e da cultura corporal, dentre outros saberes científicoculturais, os quais se constituem em elementos fundamentais de humanização dos homens e, portanto, instrumentos essenciais de superação da alienação presente na sociedade e reproduzido no interior da escola. Acredita-se e defende-se neste artigo, que a Educação Física, construída numa perspectiva histórico-cultural, justamente por enfatizar o trabalho como elemento essencial de transformação, voltado ao processo de humanização e emancipação dos seres humanos, terá condições, a partir da valorização da atividade do brincar e da apropriação dos jogos e do brinquedo, dentre outras possibilidades próprias da cultura corporal, possibilitar às crianças com necessidades especiais de educação condições concretas de desenvolvimento. Em face destas considerações, será possível construir condições diferenciadas de aprendizagem, pela via da atividade lúdica, coletiva e consciente, as possibilidades de superação das dificuldades escolares e da exclusão social e educacional, tão presentes na vida de muitas e muitas crianças em nossa sociedade. Considerando o trabalho lúdico-pedagógico como especificidade da Educação Física Escolar e o professor como sujeito mediador no processo de desenvolvimento e humanização, pela via da socialização dos objetos da cultura corporal, do jogo e da brincadeira, afirma-se a possibilidade concreta de superação, pela via do trabalho educativo crítico no interior da escola, de relações sociais alienadas, as quais, em grande parte, são geradoras de preconceito, discriminação e exclusão social no interior das próprias instituições escolares. 2. A Proposta Metodológica do Projeto Este Projeto de extensão e pesquisa visa o desenvolvimento multilateral de sujeitos que apresentam necessidades especiais e especificamente aqueles que apresentam deficiência mental de natureza moderada e leve com comprometimento motor ou não, e que encontram-se matriculados em Escolas de Educação Infantil e séries iniciais do ensino Fundamental da Cidade de Presidente Prudente. Atualmente, o laboratório conta com um atendimento de 46 crianças entre 02 a 15 anos, que apresentam dificuldades psicomotoras associadas a problemas de aprendizagem, hiperatividade, transtorno de comportamento, síndromes genéticas, patologias neurológicas e entre outras. Em um primeiro momento, a criança chega ao Lar com um encaminhamento, e é realizada uma triagem, para analisar a dificuldade da criança. Caso ela necessite da intervenção psicomotora, essa criança é submetida ao diagnóstico psicomotor do qual se utiliza o protocolo da Escala de Desenvolvimento Motor- EDM (Rosa Neto, 2001), como também, entrevistas com os pais ou responsáveis e professores, a fim de coletar o histórico de vida das crianças e o processo de aprendizagem. As sessões são realizadas semanalmente com duração de 45 minutos por alunos do curso de Educação Física. Após a anamnese é elaborado um programa de intervenção, por meio de jogos, brincadeiras, atividades lúdicas, de acordo com déficits motores apresentado pela criança. A Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) é composta por uma bateria de testes padronizados, e tem como objetivo avaliar o desenvolvimento motor da criança e, também, verificar o nível da idade motora em relação à idade cronológica. A avaliação compreende os seguintes componentes: Motricidade fina: refere-se à atividade manual, guiada por meio da visão, ou seja, coordenação visuo-manual, com emprego de força mínima, a fim de atingir uma resposta precisa à tarefa; Motricidade global: refere-se aos movimentos dinâmicos corporais, envolve um conjunto de movimentos coordenados de grandes grupos musculares; Equilíbrio: é a capacidade do organismo de manter posturas, posições e atitudes, compensando e anulando todas as forças que agem sobre o corpo; Esquema corporal: refere-se à capacidade de discriminar com exatidão as partes corporais e a habilidade de organizar as partes do corpo na execução de uma tarefa; Organização espacial: envolve tanto a noção do espaço do corpo como o espaço que o rodeia, referindo-se à habilidade de avaliar com precisão a relação entre o indivíduo e o ambiente; Organização temporal: refere-se à percepção do tempo, envolvendo o conhecimento da ordem e duração dos acontecimentos. Após a aplicação da escala, obtém-se a idade e quociente motor geral e as idades e quocientes motores nas áreas específicas, além de identificar a lateralidade (mãos, olhos e pés). A classificação do quociente motor é correlacionada em níveis: “muito superior, superior, normal alto, normal médio, normal baixo, inferior e muito inferior”. Num período de três a seis meses é realizada novamente a aplicação do teste de EDM, a fim de verificar a progressão do desenvolvimento da criança. O LAR é um Laboratório de Estudos e Pesquisas que presta serviços de Extensão à Comunidade que conta com instalações e equipamentos adequados para atender crianças de 04 a 10 anos de idade. Tem ampla brinquedoteca, computadores para trabalhos digitais, equipamentos para realização de avaliações psicomotoras, sala para trabalhos em grupo e atendimento individual, oficina de artes e área livre para atividades corporais. É importante salientar que o LAR é um espaço voltado exclusivamente para o desenvolvimento de trabalhos de natureza lúdico-pedagógica e educativa, que toma a teoria histórico-cultural, a psicomotricidade e a psicologia do jogo como referenciais essenciais para a construção do processo de formação humana, valorizando a ação do Professor de Educação Física como importante mediador do processo de humanização dos seres humanos na escola. Os sujeitos participantes do Projeto serão inicialmente avaliados individualmente nas dependências do LAR, considerando a escala de desenvolvimento psicomotor proposta por Rosa Netto (2001). Essa avaliação inicial tem objetivo de identificar os diferentes níveis de desenvolvimento motor e psicomotor dos sujeitos, com a finalidade de melhor conhecê-los e organizá-los em grupos de trabalho. Também os pais e/ou responsáveis pelos sujeitos participantes do Projeto serão entrevistados nas dependências do LAR, com a finalidade de coletar dados relativos aos sujeitos, melhor conhecimento de suas deficiências e dificuldades escolares, assim como levantar as dificuldades vividas tanto pelos sujeitos, quanto por seus pais, no interior das famílias. Os professores desses sujeitos participantes do Projeto serão entrevistados no interior da própria escola, com a finalidade de se coletar dados relativos ao desenvolvimento escolar dos sujeitos, assim como as estratégias utilizadas pelos professores para abordar a questão da deficiência e/ou das dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos sujeitos na sala de aula e na escola. Feitas essas avaliações iniciais, os sujeitos do Projeto, serão organizados em grupos de trabalho com a finalidade de participarem de um “Programa da Atividades LúdicoRecreativas para Crianças com Necessidades Especiais”, programa esse voltado para a realização de atividades do brincar e apropriação de brinquedos e jogos variados (mesa, eletrônicos e digitais), com objetivo de proporcionar condições educativas objetivas e especiais, objetivando o desenvolvimento das Funções Psicológicas Superiores nesses sujeitos, desde a sensação, percepção, atenção, memória, linguagem, pensamento e sentimentos, contemplando o seu desenvolvimento numa perspectiva multilateral como preconiza a Teoria Histórico-cultural de desenvolvimento humano (VYGOTSKI, 2006). O “Programa de Atividades Lúdico-recreativas...” proposto para este Projeto contará com 16 (dezesseis) encontros desenvolvidos semanalmente nas dependências do LAR, executado pelos estudantes/bolsistas e supervisionado pelos Coordenadores desse Projeto. Também os pais e/ou responsáveis pelos sujeitos participantes do Projeto serão recebidos mensalmente no LAR para receber orientações acerca do processo de desenvolvimento de seus filhos e terem oportunidades de conhecer outros pais, trocar experiências, discutir e vivenciar coletivamente as possibilidades de desenvolvimento de seus filhos, também sob orientação do Coordenador, Colaborador e estudantes/bolsistas participantes do Projeto. Ao longo dos 16 (dezesseis) encontros com os sujeitos do Projeto nas dependências do LAR, serão realizados relatórios discriminando as atividades desenvolvidas e seus resultados para cada sujeito envolvido. Tais relatórios serão objeto de análise ao final do processo para se verificar os avanços no desenvolvimento dos sujeitos. Também será reaplicado, em cada sujeito participante do Projeto, o teste de avaliação psicomotora de Rosa Netto (2001), com objetivo de se obter parâmetros objetivos de comparação acerca do desenvolvimento motor e psicomotor de cada sujeito em particular. Ainda nessa direção de coleta de dados acerca do processo de desenvolvimento dos sujeitos com necessidades especiais, também os pais e professores serão entrevistados em processo, ou seja, quando da realização dos encontros mensais no LAR, com objetivo de acumular dados para a realização de análises qualitativas do processo. Enfim, com o desenvolvimento deste Projeto, tem-se a intenção de atuar diretamente junto aos sujeitos que apresentam necessidades especiais, mas, além disso, também trabalhar junto aos outros dois segmentos essenciais envolvidos no processo de desenvolvimento desses sujeitos, tendo em vista a criação de condições objetivas para a construção de novas e inovadoras possibilidades educativas para sujeitos com necessidades especiais. 3. Resultados 4. Considerações Finais Enfatiza-se que a Educação Física Escolar, se concebida segundo a perspectiva histórico-cultural e, portanto, crítica e transformadora, ao assumir sua natureza singular de lidar diretamente com a atividade humana no campo prático-teórico e valorizar a linguagem corporal como importante forma de comunicação e manifestação de pensamentos e sentimentos, dentre outras características superiores humanas, abre possibilidades importantes para se avançar em direção à superação da histórica dicotomia mente-corpo e da histórica discriminação da diferença e do diferente na escola, pois, ao se respaldar num referencial teórico-filosófico e metodológico que ofereça subsídios para se analisar a realidade dentro de sua complexidade e multiplicidade, poderá, pela sua especificidade prático-teórica, criar condições concretas de superação das situações de alienação e exclusão presentes na sociedade e reproduzidas na escola (VIOTTO FILHO, 2009). Enfim, trabalhar o desenvolvimento do ser humano numa perspectiva crítica, includente e humanizadora, como se defende nesse Projeto, é criar possibilidades concretas para superação das contradições geradas pela sociedade capitalista, as quais também se refletem e são reproduzidas no interior da própria escola e, diante dos pressupostos acima apresentados e, sobretudo, em decorrência da importância de se construir e socializar os objetos culturais construídos ao longo da história da humanidade, não exclusivamente, mas especialmente para aos sujeitos que apresentam necessidades especiais, é o que se defende na realização desse Projeto. Defende-se, sobretudo, que todos os seres humanos, sejam eles deficientes ou não, encontrem condições concretas de superação das suas dificuldades, de forma a aprenderem a trabalhar e construir seu desenvolvimento de acordo com suas possibilidades e, nesse processo, se sentirem parte integrante da sociedade e da escola, e desta forma, valorizados como sujeitos sociais. Finalizando, é importante esclarecer que ao se enfatizar a categoria atividade de forma geral e a atividade do jogo e do brincar especificamente, como essencial no processo de transformação dos sujeitos que apresentam necessidades especiais, esse Projeto, em decorrência dessa opção metodológica, valoriza uma Educação Física Escolar constituída como práxis educativa, como ação coletiva consciente em direção a transformação do homem, da educação e da sociedade, compreendida como prática pedagógica essencial ao ser humano que toma os conteúdos da cultura corporal de movimento como possibilidades concretas para a consecução dessa tarefa (BRACHT, 2007). Acredita-se que nessa direção a Educação Física Escolar terá condições de prestar um importante papel no processo de desenvolvimento humano, não mais limitando sua visão e ação às características físicas e aparentes dos indivíduos, mas avançando em direção às características essenciais de cada ser humano, àquelas essenciais e não aparentes, tornando-se assim, uma Educação Física com compromisso e função social, com condições de contribuir de forma significativa para a inclusão social e educativa dos sujeitos com necessidades especiais, uma Educação Física efetivamente crítica e transformadora da realidade humana e social. Portanto, afirma-se o caráter transformador desse Projeto, o qual se preocupa eminentemente com o desenvolvimento dos sujeitos com necessidades especiais, sem perder de vista que os mesmos não se constituem de forma isolada, mas sim nas relações que estabelecem na sua família, na escola e na sociedade e, decorrente dessa compreensão, afirma-se a necessidade de se trabalhar junto a todos esses segmentos, visando a transformação qualitativa das estruturas sociais desses segmentos, reconhecendo que é no processo de construção social que se constroem os seres humanos e tais estruturas, para serem transformadas, precisam ser reconhecidas bojo da totalidade social concreta. Referências Bracht, V. Educação Física & Ciência: Cenas de um casamento (in) feliz. Ijuí: Unijui, 2007. Leontiev, A. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Horizonte, 1978. Leontiev, A. Uma Contribuição à Teoria do Desenvolvimento da Psique Infantil. In: Linguagem, desenvolvimento, aprendizagem (L.S. Vigotskii, A. Leontiev, A. R. Luria). São Paulo: Ícone, 1989. Oliveira, B. O Trabalho Educativo. Campinas: Autores Associados, 1996. Martins, L.M. A Formação Social da Personalidade do Professor: um enfoque vigotskiano. Campinas: Autores Associados, 2007. Rosa Neto, F. Manual de Avaliação Motora. 1.ed. Florianópolis, 2001. Saviani, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. Campinas: Autores Associados, 2001. Vigotsky, L.S. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar. In: Psicologia e Pedagogia I: bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento (Luria, Leontiev, Vigotsky e Outros). Lisboa: Editorial Estampa, 1991. __________. A Construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001. __________. El desarrollo de los procesos psicológicos superiores. Barcelona: Editorial Crítica, 2006. Viotto Filho, I.A.T. Teoria histórico-cultural e suas implicações na atuação do professor de educação física escolar. Rio Claro:revista Motriz, v.15 n.3 p.00-00, jul./set. 2009.