Caio Fernando Abreu Caio Fernando Loureiro de Abreu nasceu no dia 12 de setembro de 1948, em Santiago, Rio Grande do Sul, cidade próxima à fronteira com a Argentina. Ainda no colegial, em 1966, cursado em Porto Alegre, Caio teve um de seus contos, “O príncipe sapo”, publicado pela revista Cláudia. Nessa mesma época escreveu também seu primeiro romance, “Limite Branco”. A partir de 1967 cursou Letras e Arte Dramática na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas abandonou ambos os cursos para dedicar-ser ao jornalismo. Transferiu-se para São Paulo em 1968, após ser selecionado, em concurso nacional, para compor a primeira redação da revista Veja. No ano seguinte, perseguido pela ditadura militar, refugiou-se na chácara da escritora Hilda Hilst (1930-2004), em São Paulo. A partir daí passou a levar uma vida errante no Brasil e no exterior. Caio lançou em 1977 “Pedras de Calcutá”. Em 1980, recebeu o Prêmio Status de Literatura, com o conto “Sargento Garcia”. Lançou em 1982 “Morangos mofados”, e em 1983 publicou “Triângulo das Águas”, que reúne três novelas. Uma delas, “Pela Noite”, é considerada o primeiro texto da literatura brasileira sobre o tema da AIDS. Em 1988 publicou “Os dragões não conhecem o Paraíso”, é considerado o melhor trabalho do escritor, e o mais maduro. Foi para a França, em 1994, onde escreveu a novela “Bien Loin de Marienbad”. Em setembro do mesmo ano escreve em sua coluna semanal, no jornal O Estado de S. Paulo, uma série de três cartas denominadas “Cartas para Além do Muro”, onde declara ser portador do vírus HIV. Caio Fernando Abreu foi contista, romancista, dramaturgo e jornalista. Escreveu os mais diversos tipos de textos: contos, cartas, romances, poemas, peças teatrais, crônicas e crítica - teatral e literária. Utilizava uma linguagem muito próxima ao coloquialismo, o gosto pelo não literário, seus textos são híbridos, porque se encontram elementos da poesia na prosa, da prosa na poesia, do teatro no conto, das músicas que ouvia dos filmes a que assistia das experiências que vivia. Em 1996 Caio foi internado, com pneumonia aguda decorrente do vírus HIV. Em 25 de fevereiro, faleceu aos 47 anos, o auge de sua carreira internacional, com livros publicados em diversos países. Caio viria a ser um dos escritores mais populares e queridos da Literatura brasileira. Foi justamente por romper com os padrões literários, empregando uma linguagem acessível e mais próxima ao coloquialismo, que o escritor angariou uma legião de fãs e leitores, que compartilham frases e trechos de sua obra à exaustão nas redes sociais. Principais Obras Contos: Inventário do irremediável - 1970 O ovo apunhalado - 1975 Pedras de Calcutá - 1977 Morangos mofados - 1982 Os dragões não conhecem o paraíso - 1988 Ovelhas negras - 1995 Romance: Limite branco - 1971 Onde andará Dulce Veiga? - 1990 Novela: Triângulo das águas - 1983 As frangas - 1988 Teatro: Sarau das 9 às 11 - 1973 Pode ser que seja só o leiteiro lá fora - 1974 Uma visita ao fim do mundo - 1975 Crônicas: Pequenas epifanias – 1996 Mel e girassóis – 1988 - Antologias Melhores contos – 2006 Antologias Além do ponto e outros contos – 2009 Antologias Curiosidade sobre Caio Fernando Abreu 1 - Gostava de escrever com fundo musical e tentava incorporar, ao texto, o ritmo da música, procedimento que chamava de "coreografia verbal". Sua intenção era de projetar os sons até mesmo na experiência da leitura. 2 - Seu sonho sempre foi viver apenas dedicado aos seus livros, fazendo carreira como escritor. Dizia que trabalhar na imprensa era “costurar para fora” e também um emprego banal, que servia apenas para pagar o aluguel. Era cético em relação ao jornalismo e apenas quatro anos antes de sua morte realizou o sonho de ser apenas escritor – nesta época começou a ser traduzido para diversos idiomas e participava de lançamentos no mundo todo. 3 - Muitos de seus livros saíram de anotações de seus diários (prática que manteve durante toda vida) e também de correspondências que costumava trocar intensamente com amigos e pessoas queridas, de grande importância em sua vida. 4 - Caio costumava definir-se como um autor que procura seus personagens on the road, como Jack Kerouac. Assim, trabalhou fazendo faxina, lavando pratos, como operário e também modelo em alguns cursos de artes plásticas. Além disso, ele dizia que fazia biscate, o que significava que trabalhava em jornais e revistas para se sustentar. 5 - Há quem diga que sua vida era cinematográfica devido a alguns acontecimentos e situações bizarras. Quando viveu em São Paulo, por exemplo, Caio morava no centro, em um apartamento com paredes cor-de-rosa que dividia com algumas pessoas. Porém, dentre os inquilinos estava um garoto que dormia no banheiro com uma cobra. Além do ponto e outros contos O livro Além do ponto e outros contos é composto por 15 contos: Fuga; Os cavalos brancos de Napoleão; Além do ponto; O coração de Alzira; O príncipe sapo; Triângulo amoroso: variação sobre o tema; Para uma avenca partindo; Linda, uma história horrível; O destino desfolhou; Holocausto; Recuerdos de Ypacaraí; Retratos; Sob o céu de Saigon; Aniversário e Aqueles dois. Por meio de seus contos, Caio Fernando Abreu consegue explorar as relações humanas, os conflitos sociais da época. Seus personagens trabalham na tentativa de criar uma nova realidade, um mundo diferente. O livro tenta retratar o dia a dia de muitas pessoas, as dificuldades, as dúvidas, a solidão, a desilusão – como a inocência de crianças; o casal que já não tem mais o que dizer um ao outro; o filho que tenta conversar com a sua mãe sobre sua sexualidade; os anseios de uma mudança que nunca acontece; a relação trágica de uma menina solitária com seu gato de estimação; os desencontros em uma cidade grande; a solidão que traz lembranças carinhosas, tristes, momentos de miséria. Além do ponto e outros contos permite com que demos uma pausa para refletirmos nossos valores, princípios, nossas ideologias e analisar os acontecimentos do dia a dia. Por se tratar de histórias que muitas pessoas se identificam, o livro tem o poder de prender o leitor do começo ao fim. Os contos utilizam palavras de fácil compreensão, nessas 128 páginas, é possível delinear a densidade das histórias, quase sempre sem finais felizes, os contos da antologia chamam atenção tanto pela sutileza com que são escritos quanto pela profundidade pela qual os temas são abordados, demonstrando uma habilidade literária do autor.