CONFLUENCIAS LITERÁRIAS: MACHADO DE ASSIS E EDGAR POE Kelly C. Rissá (PET/letras-Unicentro) Ana Lúcia Bittencurt (Orientadora – Dep. de letras/Unicentro) Teoria do conto, filosofia da composição, intertextualidade. Resumo: Nenhuma literatura ocidental se desenvolveu isoladamente, havendo, portanto, um diálogo constante e contínuo entre diferentes culturas e literaturas. Dessa forma, este estudo tem por objetivo analisar as possíveis influências que a obra de Edgar Allan Poe exerceu na de Machado de Assis. Levando-se em consideração a vasta produção literária de Machado de Assis, este estudo abordará os contos "A cartomante" e "O alienista", os quais apresentam grandes evidências de elementos em comum entre os dois contistas. Tomando as teorias e as reflexões sobre a constituição do conto feitas pelo americano, para encontrar sua concepção de conto dentro das obras escolhidas de Machado de Assis. Considerando-se o objetivo proposto, os estudos de Bakhtin sobre intertextualidade, bem como as teorias sobre conto de Nádia Battela. Gotlib constituirão o suporte teórico para este trabalho. Introdução: As literaturas ocidentais são melhor compreendidas em conjunto, tendo uma visão ampla da formação teórico-ideológica das gerações de escritores. Daí a importância do estudo que abranja as influencias de determinado autor para melhor compreender sua obra. Machado de Assis (1839-1908) foi um expoente do realismo brasileiro e entre sua estante estão obras do fundador do conto moderno, Edgar Allan Poe (1809-1849). Machado inclusive traduziu as obras do americano, a versão mais famosa do cânone “O corvo” no Brasil é assinada pelo Machado tradutor. Assim muitos elementos comum na produção do romântico podem ser enumeradas nos contos de Machado, desde a escolha dos temas, até a construção textual revelam que nosso realista em muito adotou as teorias e “regras” do contista estadunidense. Poe, em “Filosofia da composição”, explica passa a passa como deve ser construído um poema, e estes manual posteriormente foi tomado também para a construção dos contos. Durante sua vida Poe escreveu para várias revistas literárias, e suas teorizações sobre o conto e sobre a própria narrativa foram e são ate hoje referências para outros escritores. Machado de Assis tendo contato com estes escritos passa a dar uma atenção para sua veia contista, no sentido de buscar uma maior distanciamento da sua forma de escrever romances, colocando no conto características especificas do novo gênero e também deixando sua marca no universo do short estory. Para melhor analisar e exemplificar os elementos que evidenciam estas marcas, foram escolhidos dois contos da obra machadiana : “A cartomante” e “O alienista”. Estas obras foram analisadas em três aspectos: a construção e estrutura textual; as características e descrição de personagens e os temas abordados nos textos. De cada abordagem foram retirados os elementos especificados dos discursos de Poe que foram incorporados pelo brasileiro. Materiais e métodos: Primeiramente efetuar leituras e fichamentos sobre teorias do conto. Em seguida uma leitura detalhada da obra Filosofia da composição de Edgar Allan Poe, e num segundo momento analisar os contos A Cartomante e o Alienista de Machado de Assis buscando estabelecer relações entre a obra Machadiana e as teorizações de Poe. Uma vez que Machado de Assis (mesmo através de baudelaire), teve contato com parte da obra do americano. Resultados e discussões: Após uma análise um pouco mais aprofunda podemos evidenciar toda a rede de referências de um autor. E através dessa leitura os discursos se revelam para que a obra possa ser lida por outras faces. Machado se revela um estudioso da arte literária e por isso possui uma obra considerada uma das mais cultas produções brasileiras. Ao perceber como se relaciona com um autor antecedente, vemos um Machado aprendiz e a partir de então o fundador da acadêmica brasileira de letras deixa transparecer a importância de estudar e buscar aperfeiçoamento. E neste caso Poe também se mostra preocupado, pois deixa uma obra sobre a composição de poemas e short-story –A filosofia da composição- entre outros artigos sobre as teorias e formas de analisar e escrever literatura. Conclusões: A intertextualidade é constitutiva da significação do discurso, e através desta intertextualidade um texto faz sentido ou não. Ao buscar as influências sobre um texto, buscamos suas raízes. Raízes estas que muito explicam sobre o texto e o autor. Após uma análise, possibilidades de releituras são abertas o que traz ainda mais conhecimento sobre uma obra que se julgava quase esgotada. Machado de Assis escreveu ricos textos que muitos aspectos estão por descobrir. Ao analisar seus contos podemos encontrar um mundo de novas leituras; e a influência das idéias de Poe muito contribuíram para a construção dessa face do famoso literato. Um escritor não se forma sozinho, mas através da leitura e estudo pode se chegar a uma forma sublime de escrever. Bibliografia: ALLEN, Graham. Intertextuality. New York: Routledge, 2000 AMANGE, Ana Helena Krause. A concepção de conto em Machado, Poe e Tchekhov, 2007. Disponível em: <www.entrelinhas.unisinos.br/index.php?e=2&s=9&a=7 - 22k -> acessado em: 27 abr. 2007, 15:30 BARROS, Diana luz Pessoa e José Luiz Fiorin (orgs.). Dialogismo, polifonia, intertextualidade: em torno de Bakhtin. São Paulo: editora da Universidade de São Paulo, 2003. 2º ed. GOTLIB, Nádia Battela. Teoria do conto. São Paulo: Ática, 2003 (cap. 2 e 3) JUNQUEIRA, Maria aparecida. 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