A figura de Jesus Cristo Curso de introdução à cristologia bíblica Sessão de 22 de Junho de 2006 TRAÇOS DE UMA ACTIVIDADE JESUS, O AMIGO 1. O amor de Jesus Ga 2,20: já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim; aquilo que eu agora vivo na carne, vivo pela fé do Filho de Deus, o qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim Jo 13,1.4-5: 1Antes do dia da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim (…) 4levantou-se da ceia e depôs o seu manto e, tendo tomado uma toalha, cingiu-Se [com ela]. 5Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha. Jo 13,33-35I: «33Filhinhos, ainda estou um pouco convosco; haveis de Me procurar e, tal como disse aos Judeus, onde Eu vou vós não podeis vir, também vo-lo digo agora. 34Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros; assim como vos amei assim também vos ameis uns aos outros. 35Nisto hão-de conhecer todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros» Jo 15,12-17II: «12Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. 13Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos. 14Vós sereis meus amigos se fizerdes o que vos mando. 15Já não vos chamo servos porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Chamei-vos amigos porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer. 16Não fostes vós que Me escolhestes, fui Eu que vos escolhi e vos destinei para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça, para que tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo dê. 17Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros.» 2. Amizade para com os Apóstolos Jo 1,38-39III: 38Voltando-Se Jesus e vendo-os a segui-l’O diz-lhes: «Que procurais?» Eles disseram-Lhe: «Rabbi – o que quer dizer Mestre – onde é que moras?» I Estas palavras de Jesus surgem depois de Judas Iscariotes ter saído do cenáculo. Jesus começa uma parte do discurso visivelmente mais íntima. As primeiras palavras são: «Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus foi glorificado n’Ele; se Deus foi glorificado n’Ele também Deus O glorificará em Si mesmo, e há-de glorificá-l’O imediatamente» II A última frase de Jesus no capítulo anterior tinha sido: «Levantai-vos. Vamo-nos embora daqui» (Jo 14,31). Por isso fica a impressão de que todo o capítulo 15 bem como o 16 e o 17 são ditos a caminho do Horto. III O episódio passa-se em «Betânia, do outro lado do Jordão, onde João andava a baptizar» (Jo 1,28). 1 39 Diz-lhes: «Vinde e vereis». Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele naquele dia; era quase a hora décima. Mc 4,33-34IV: 33E em muitas parábolas como estas lhes anunciava a Palavra, tal como podiam ouvir. 34Sem parábolas não lhes falava. Mas a sós explicava tudo aos seus discípulos. Mc 6,30-32V: 30E tendo regressado para junto de Jesus os Apóstolos contaramLhe tudo o que tinham feito e ensinado. 31E disse-lhes: «Vinde vós sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco». Eram, de facto, tantos os que iam e vinham que nem tinham tempo para comer. 32E partiram na barca para um lugar deserto. Mc 9,33VI: E vieram para Cafarnaum. E quando estavam em casa perguntoulhes: «De que é que faláveis no caminho?» Jo 21,19-23VII: 19Disse isto para dar a entender com que tipo de morte haveria de dar glória a Deus. E depois de ter dito isto disse-lhe: «Segue-Me». 20Voltando-se Pedro, vê aquele discípulo que Jesus amava, que [os] seguia, e que na ceia se tinha reclinado sobre o peito d’Ele e tinha dito a Jesus: «Senhor, quem é que Te vai entregar?»VIII 21Pedro ao vê-lo disse a Jesus: «Senhor, e este?» 22Disse-lhe Jesus: «Se Eu quiser que ele fique até que Eu volte, que tens que ver com isso?» 23Espalhou-se então esta frase entre os irmãos de que aquele discípulo não iria morrer. No entanto, Jesus não lhe disse: «Não há-de morrer», mas «Se Eu quiser que ele fique até que Eu volte, que tens que ver com isso?». 3. A amizade com a família de Betânia Lc 7,36-40IX: 36Um dos Fariseus rogava-Lhe que viesse tomar uma refeição com ele; entrando na casa do Fariseu, colocou-Se à mesa. 37E eis que uma mulher que estava na cidade, pecadoraX, logo que soube que estava à mesa em casa do Fariseu, IV Trata-se do fim do discurso em parábolas de Jesus. Jesus tinha enviado os seus Apóstolos dois a dois. Este episódio precede imediatamente a primeira multiplicação dos pães e dos peixes. Na versão de Mt a viagem para o lugar deserto dá-se na sequência da fama de Jesus que chega aos ouvidos de Herodes, o rei da Galileia, o qual tinha morto João Baptista e ao escutar as notícias que corriam afirmava tratar-se de João que teria ressuscitado (cf. Mt 14,1-2.13). Fica a impressão de que Mt terá interpretado a ida de Jesus com os seus para o outro lado do Lago como uma medida de protecção em relação a Herodes. Lc refere os acontecimentos sem nos dar nenhum motivo para que Jesus tenha querido ir para as partes de Betsaida (cf. Lc 9,10). VI Tanto Mt como Lc trazem as palavras de Jesus nesta ocasião omitindo esta introdução. De facto, segundo Mc os Apóstolos tinham estado a discutir entre eles, no caminho, sobre qual era o maior (cf. Mt 18,1ss; Mc 9,34ss; Lc 9,46ss). VII Este episódio surge na sequência do almoço tido na praia, entre Jesus ressuscitado e sete dos seus discípulos, durante o qual pediu a Simão Pedro que declarasse o seu amor por Ele e terminou por lhe indicar que quando fosse mais velho seria preso (cf. Jo 21,1-18). VIII Está a ser referido o episódio narrado antes em Jo 13,25. IX Estamos na primeira inclusão lucana, que se inicia em 6,12 e se conclui em 8,3; nestes versículos Lucas coloca material que não existe em Mc afastando-se, portanto, de um presumível guião que seria o deste Evangelho, para aqueles que defendem a hipótese das duas fontes para a questão sinóptica. X A frase é difícil de traduzir. O verbo ser no imperfeito pode ser traduzido como estar, mas se fosse traduzido como ser então a frase poderia ser: «e eis que uma mulher que era pecadora na cidade», no entanto esta tradução apresenta o inconveniente de inverter a ordem das palavras. «Pecadora» surge depois de «cidade». Na nossa opinião não se trata de uma pecadora pública, uma prostituta, pelo menos V 2 trouxe um frasco de alabastro de perfume 38e ficando atrás junto dos pés d’Ele, e derramando lágrimas, começou a regar os seus pés e enxugava-os com os cabelos da sua cabeça, e beijava os seus pés e ungia-os com o perfume. 39Ao ver o Fariseu que O tinha convidado, disse para dentro de si: «Se Este fosse um profeta saberia que tipo de mulher é aquela que O toca, porque é uma pecadora». 40Jesus respondendo disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa a dizer-te» Ele disse-Lhe: «Fala, Mestre». Lc 10,38-42XI: 38No caminhar delesXII Ele entrou em certa aldeia, e certa mulher de nome Marta recebeu-O. 39E ela tinha uma irmã de nome Maria, que, sentada aos pés do Senhor escutava a sua palavra. 40Marta afadigava-se por causa do seu serviço; estacou e disse: «Senhor, não Te importas que a minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe que me ajude» 41Respondendo o Senhor disse-lhe: «Marta, Marta, andas preocupada e perturbada com muitas coisas, 42mas só uma é necessária; Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada». Lc 16,19-22.27.31XIII: 19«Certo homem era rico e vestia-se de púrpura e de linho e banqueteava-se todos os dias esplendidamente. 20Certo pobre de nome Lázaro jazia à porta dele coberto de chagas 21e desejava saciar-se daquilo que caía da mesa do rico; mas os cães vinham e lambiam-lhe as chagas. 22Aconteceu que morreu o pobre e foi levado pelos Anjos ao seio de Abraão; morreu também o rico e foi sepultado.(…) 27 E [no Inferno] disse [a Abraão]: “Então rogo-te, ó pai, que o envies [Lázaro] a casa do meu pai…” (…) 31Disse-lhe porém: “Se não ouvem Moisés nem os Profetas, também não hão-de acreditar mesmo que ressuscitasse alguém dos mortos”» Jo 11,1-3.5.34-36: 1Havia um certo doente, Lázaro, de Betânia, da aldeiaXIV de Maria e Marta, a sua irmãXV. 2Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com perfume e Lhe enxugara os pés com os seus cabelos, de quem era irmão Lázaro que estava doente. 3Mandaram-Lhe as irmãs dizer: «Senhor, olha que aquele que Tu amas está doente» (…) 5Jesus amava a Marta e a sua irmã e Lázaro. (…) 34e disse: «Onde o colocastes?» Dizem-Lhe: «Senhor, vem e vê» 35Jesus chorou. 36Diziam então os Judeus: «Olhem como o amava!» Mt Mt 26,6-9: Quando Jesus estava em Betânia, em casa de Simão o Leproso, 7 aproximou-se d’Ele uma mulher trazendo um frasco de alabastro de um 6 Mc Mc 14,3-5: 3Quando Jesus estava em Betânia, em casa de Simão o Leproso, e estando à mesa, veio uma mulher trazendo um frasco de alabastro de Jo Jo 12,1-5: Seis dias antes da Páscoa veio Jesus a Betânia, de onde era Lázaro, a quem Jesus tinha ressuscitado dos mortos. 2Ofereceram-Lhe ali um jantar e Marta servia; 1 não naquela cidade, mas de uma mulher que não vivia na cidade, e que se tinha afastado dela talvez levada pelo seu pecado. XI Estamos agora na segunda inclusão lucana, a grande inclusão lucana, que ocupa quase metade do Evangelho e vai desde o versículo 9,51 ao 19,27 embora Lucas nunca mais volte ao «bom caminho» de seguir o trilho de Mc. XII O original grego apresenta um infinitivo muito próximo do hebraico, que admite outras traduções menos rudes. XIII Esta parábola é introduzida sem nenhuma apresentação prévia, ao contrário do que é normal. O discurso de Jesus que está imediatamente antes desta parábola são três sentenças soltas e curtas, sem ligação aparente com ela. XIV Curiosamente João não usa a palavra «cidade» mas «aldeia» kõmê, tal como Lc 10,38. XV Note-se que nunca tinham ainda aparecido estas personagens no Quarto Evangelho. 3 perfume precioso e derramou-o sobre a cabeça d’Ele, estando à mesa. 8Vendo isto os discípulos indignaram-se dizendo: «Para quê este desperdício? 9Podia-se ter vendido por muito e ter dado aos pobres» perfume de nardo puro, precioso; tendo quebrado o frasco, derramou-o sobre a cabeça d’Ele. 4 Estavam alguns que se indignaram dentro deles mesmos: «Para que foi este desperdício de perfume? 5Podia-se ter vendido este perfume por mais de trezentos denários e ter dado aos pobres». E enraiveciam-se contra ela. Lázaro era um dos que estava à mesa com Ele. 3Maria tomou uma libra de perfume de nardo puro, precioso, e ungiu os pés de Jesus e enxugou com os seus cabelos os pés d’Ele; a casa ficou cheia do cheiro do perfume. 4Disse Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, que O havia de entregar: 5«Porque é que este perfume não se vendeu por trezentos denários e não se deu aos pobres?» 4. Outros amigos Mc 11,1-3: 1E ao se aproximarem de Jerusalém, Betfagé e Betânia, junto ao Monte das Oliveiras, enviou dois dos seus discípulos 2e disse-lhes: «Ide à aldeia que está diante de vós e imediatamente ao entrar encontrareis um burrinho ligado, sobre o que ainda ninguém montou; desligai-o e trazei-o. 3E se alguém vos disser: “Porque fazeis isso?”, dizei: “O Senhor necessita dele, e imediatamente o devolverá para aqui”» Mc 14,12-15: 12No primeiro dia dos Ázimos, quando se imolava a Páscoa, dizem-Lhe os seus discípulos: «Onde queres que vamos e preparemos para que comas a Páscoa?» 13E enviou dois dos seus discípulos e diz-lhes: «Entrai na cidade e virá ao vosso encontro um homem que carrega uma bilha; segui-o 14e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: “O Mestre diz: Onde está o lugar onde possa comer a Páscoa com os meus discípulos?” 15E ele mesmo vos mostrará uma sala grande no andar superior, preparada; e aí preparai-nos». Mc 15,43-45: 43Veio José de Arimateia, nobre magistrado, que também esperava o Reino de Deus, e cheio de coragem foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. 44Pilatos admirou-se de que já estivesse morto, 45e tendo sabido pelo centurião, entregou o corpo a José. 45Ele, tendo comprado um lençol, descendo-O, envolveu-O no lençol e colocou-O no sepulcroXVI, e rolou uma pedra para a entrada do sepulcro. Jo 19,38-39: 38Depois disto José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, ocultamente, por medo dos Judeus, rogou a Pilatos para tirar o corpo de Jesus; e Pilatos permitiu-lho. Veio então e tomou o corpo d’Ele. 39Veio também Nicodemos, o que antes tinha ido ter com JesusXVII, trazendo uma mistura de mirra e aloés de quase cem libras. 19-VI-06 XVI Mt 27,60 acrescenta o dado de que o sepulcro era novo, era propriedade do próprio José, talhado na pedra, o que coincide com o que informa Lc 23,53. XVII Está a referir-se ao narrado em Jo 3,1ss. Nicodemos também surge em Jo 7,50-52 intercedendo por Jesus diante dos Pontífices e dos Fariseus. 4