1 Interferência da variação do anel anti-corona na distribuição do campo elétrico em isoladores da classe de tensão de 500 kV H. A. B. da Silva, mestrando PUC-Campinas, A. A. Mota, professor PUC-Campinas, and L. T. M. Mota, professora PUC-Campinas Abstract--Com o aumento do consumo de energia elétrica está sendo necessário aumentar a matriz energética do país, em sua grande maioria as usinas geradoras encontram-se distantes do mercado consumidor, sendo necessário utilizar linhas de transmissão para esta interligação. Um equipamento muito utilizado nestas linhas de transmissão são os isoladores que devem ter uma capacidade de resistir a um determinado esforço de tração, compressão ou flexão, além de isolar pontos com diferença de potencial. Um acessório importante para isoladores trabalhando em extra alta tensão é o anel anti-corona que tem a finalidade de equalizar o campo elétrico no terminal fase do isolador. Através de simulações utilizando os programas Gmsh e Getdp foi possível observar que o pico inicial do módulo do campo elétrico decai mediante o aumento do diâmetro do anel anti-corona, enquanto que o pico referente a presença do anel anti-corona permanece praticamente estável, sofrendo pouca variação. Index Terms-- Anel anti-corona, campo elétrico, Getdp, Gmsh, isolador poliméric006F, linha de transmissão. I. INTRODUÇÃO N OS últimos anos o Brasil foi marcado pela sua crescente demanda do consumo de energia elétrica, o resultado deste crescimento foi a criação de novas usinas, sejam elas termoelétricas, eólicas, solares ou hidrelétricas. Com o aumento da geração de energia elétrica tem-se a necessidade de transmitir essa energia gerada para o centro consumidor, que geralmente encontra-se distante desta geração. As linhas de transmissão (LT’s) brasileiras estão em pleno cenário de expansão contando com vários projetos em execução e outros em estudos, dentre estes estudos podemos citar a Interligação das Usinas do Rio Madeira, Belo Monte, Teles Pires, Tapajós, Boa Vista (Manaus) e Interligação Brasil-Peru [1]. Algumas das interligações que ainda estão em estudo é o caso da Interligação da Usina de Belo Monte que poderá ter uma extensão de 2000 km interligando-a com a região nordeste e uma extensão prevista de 2500 km fazendo sua interligação com a região sudeste [2]. O cenário brasileiro das LT’s contém uma extensão de 101.118 km (dados de 2010) e a previsão de crescimento para os próximos 10 anos é de 42%, dentre os níveis de tensão com H. A. B. da Silva atua como engenheiro de desenvolvimento na Indústria Eletromecânica Balestro Ltda e é mestrando no curso de Gestão de Redes Telecomunicações na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil (e -mail: [email protected]). maior possibilidade de crescimento encontra-se as classes de 500 kV e 600 kV. A classe de tensão de 500 kV conta com uma previsão de crescimento de 21.650 km enquanto que a classe de tensão de 600 kV de 14.024 km [2]. A opção pela utilização destas classes de tensão consideradas como extra alta tensão, ocorre devido a economia no projeto, como por exemplo utilização de cabos com bitola menores e estruturas mais leves. Entretanto com o aumento do nível de tensão existe o surgimento do efeito corona e consequentemente o aparecimento de ruído em radiofrequência. O efeito corona ocorre quando o valor crítico do ar é ultrapassado, este valor é de 3 kV/mm, este efeito é responsável pela perda de energia elétrica de centenas de kW / km nas LT’s [3] e também pela formação de uma coroa luminosa que é o surgimento de pontos luminosos, fato este que ocorre principalmente em pontos contendo faces vivas. O corona gera também ruído podendo chegar a 65 dB medido a uma distância de 30 metros da fonte emissora [3]. Ao ultrapassar o valor crítico do ar, os elétrons colidem ocasionando a formação de ozônio que é uma das principais causas de corrosão em isoladores, seja em suas ferragens e/ou em seu núcleo de fibra de vidro pultrudado quando os mesmos são utilizados em isoladores compostos poliméricos. Os isoladores poliméricos estão sendo cada vez mais utilizados devido a suas propriedades de hidrofobicidade serem superiores em relação aos materiais de vidro e porcelana, além de reduzir custos nos projetos de construção das LT’s na qual é possível utilizar menores estruturas devido à redução do peso dos isoladores e menores dimensões, mantendo as mesmas características elétricas. Com a utilização de isoladores compostos poliméricos é possível realizar o dimensionamento de uma LT de 800 kV, com as distâncias de uma LT de 500 kV quando era utilizado material de vidro e/ou porcelana [4]. Os isoladores são materiais que necessitam resistir a um determinado esforço de tração, compressão ou flexão, além de exercer a função de isolar pontos contendo uma diferença de potencial (ddp). Estudos realizados comprovam que quanto maior o nível de tensão das LT’s maior será o efeito corona agregado e o ruído gerado pela radiofrequência [5]. Para minimizar estes efeitos em isoladores é utilizado um acessório chamado anel anti-corona, que pode ser construído por qualquer material condutor como, por exemplo, ferro ou alumínio e pode apresentar vários formatos e dimensões. O formato mais usual é um círculo. A função principal do anel 2 anti-corona é realizar uma melhor distribuição do campo eletromagnético que se concentra na região do terminal. Este trabalho tem o intuito de verificar a interferência, no campo elétrico, da variação do diâmetro do anel anti-corona em isoladores da classe de tensão 500 kV submetidas a tensão fase-terra. eletromagnético, obtemos o vetor potencial magnético ou potencial elétrico nos nós da malha, e os respectivos campos magnéticos ou elétricos no interior dos elementos finitos, como por exemplo, no interior do triângulo. A Lei de Gauss, quarta equação de Maxwell, rege a eletrostática, sendo definida pela seguinte equação: ∮ D⋅ II. METODOLOGIA As quatro equações de Maxwell descrevem fenômenos eletromagnéticos, entretanto quando realizamos análises com geometrias complexas, sua solução torna complexa e impraticável para ser realizada manualmente [6]. Uma das soluções encontradas para resolução destes problemas é a utilização de cálculos numéricos, na qual é possível obter uma solução aproximada para o problema em questão. Dentre os vários métodos de cálculos numéricos utilizados, o que mais se destaca é o Método dos Elementos Finitos (MEF). A. MEF No Brasil, o MEF tornou-se popular na década de 80 quando ocorreu a redução dos preços dos computadores, aliado com o desenvolvimento dos processadores. Este método, desde esta época, vem sendo utilizado no meio acadêmico, científico e industrial sendo aplicado na solução de distribuição de campos eletromagnéticos em equipamentos e sistemas elétricos [6]. O intuito do MEF é dividir a superfície em estudo em várias partes pequenas com geometrias de forma triangular ou quadrangular, quando trabalhamos em duas dimensões (bidimensionais). Estas pequenas partes são conhecidas como elementos finitos, o conjunto destes elementos finitos recebe o nome de malha. Os vértices destes triângulos são conhecidos como nós da malha. São nestes nós que os problemas em questão são solucionados, pois as equações do sistema serão aplicadas neles. (1) Onde: D = Vetor deslocamento [C/m3]. Qi = quantidade total de cargas elétricas envolvidas pela superfície fechada. O vetor deslocamento D está relacionado com o campo elétrico (E) através da equação do campo de indução elétrica: . / (2) Onde: Ɛ = permissividade elétrica do meio [F/m] O campo elétrico E está relacionado com o potencial elétrico através da fórmula: V N/C (3) Em um elemento finito de forma triangular seu domínio é representado pelos vértices V1, V2 e V3, conforme Fig. 3. Fig. 3. Elemento finito na forma triangular. Para este tipo de elemento finito, a expressão do potencial elétrico pode ser expressada pela equação: , ! " # " $% (4) Na qual é possível obter os valores de V1, V2 e V3: Fig. 1. Domínio de estudo 1 '! " ' #! " '$ %! (5) 2 '! " ' # " '$ % (6) 3 '! " ' #$ " '$ %$ (7) Os coeficientes ! , e $ são funções respectivas de V1, V2 e V3, sendo assim a solução do problema é apresentada abaixo: Fig.2. Domínio discretizado B. Eletrostática Quando realizamos ! a solução de um problema ! * , - '! ∆ ! "' " '$ $ (8) 3 * ∆, × .! ! +. + .$ ! +/ + /$ ! ! $ = * ∆, × /! $ (9) $ (10) Resolvendo (8),(9),(10) obtemos: '! = # %$ − #$ % (11) .! = % − %$ (12) /! = #$ − # (13) 01 23 403 21 ∆= (14) Sendo possível também resolver estas variáveis através de seus respectivos determinantes: #! # #$ ! ! '! = 6 5 $ 1 1 ' = 6 5 1 ! ! 1 ! '$ = 6 1 5 1 1 = 61 1 $ #! # #$ #! # #$ %! % 6 %$ (15) %! % 6 %$ (16) 6 (17) ! %! % 6 %$ $ (18) Sendo D o valor referente a duas vezes a área do triângulo. O potencial elétrico em um ponto qualquer dentro do elemento é obtido substituindo (11),(12),(13) em (4) ou (15),(16),(17) em (4): , = 7! ! +7 + 7$ $ (19) Utilizando (3),(19) é possível escrever as duas componentes do campo elétrico conforme (20),(21) , na qual dentro do elemento finito torna-se constante para a aproximação da função potencial. =− =− 89 ! 8 = − * , × .! ∆ ! 8 ∆ ! 89 ! = − * , × /! +. +/ complexa e a melhor resolução é utilizar recursos computacionais, que possuem programas específicos para a resolução utilizando MEF. + .$ + /$ $ (20) $ (21) Assim quanto maior o número de elementos utilizados na resolução do sistema, maior será a precisão da resposta obtida, em contrapartida mais complexo ficará a resolução do sistema. Como exemplo informativo um sistema distribuído em malha bidimensional, utilizando 3 triângulos obterá uma matriz 5x5, com isso a matemática envolvida começa a ficar C. Etapas para solução dos problemas Estes programas possuem três etapas para a solução dos problemas, sendo eles pré-processamento, processamento e pós-processamento. Na etapa de pré-processamento realiza-se o desenho da geometria do objeto em questão, geração da malha e imposição das propriedades físicas dos meios. A etapa de processamento consiste na montagem do sistema de equações e a sua resolução. E a etapa do pós-processamento consiste na apresentação das grandezas do fenômeno estudado, que são as conhecidas cartas de campo. D. Programas utilizados no projeto Neste projeto foram utilizados na etapa de préprocessamento os programas Hypertext Preprocessor (PHP) e o programa Gmsh. O programa PHP foi utilizado para desenhar o isolador da classe de tensão de 500 kV, que contém um número grande de aletas, no total são 117 aletas (saias), e com este programa foi possível desenhar as duas primeiras aletas e replicar este desenho para as demais. O programa Gmsh foi utilizado para gerar as malhas e impor as propriedades físicas dos meios. O programa Getdp foi utilizado na etapa de processamento e pós-processamento. E. Desenvolvimento Este projeto realizará o estudo da interferência do campo elétrico em um isolador polimérico da classe de tensão de 500 kV fabricado pela Indústria Eletromecânica Balestro Ltda, modelo IPB 500/CB/120/EAP/117. Não serão considerados neste estudo a estrutura da torre, o tipo de arranjo dos cabos da LT e nem uma possível ddp no terminal terra devido a impedância e altura da torre. O isolador em estudo possui uma geometria de simetria axial o que possibilitou o desenho do mesmo em duas dimensões e o programa Getdp no processamento realiza a simulação das linhas de campo elétrico no isolador na simetria de raio 2π [1]. A montagem do sistema ficará por conta da biblioteca “EleSta_v” na qual no momento da simulação utiliza-se o ponto máximo da tensão obtendo assim o valor máximo do campo elétrico. Foram realizadas simulações variando o diâmetro do condutor do anel anti-corona conforme Fig. 4, e mantendo constante em 25,00 cm a distância perpendicular do centro do isolador até o centro do anel anti-corona conforme Fig. 5, e em 24,47 cm a altura do anel anti-corona conforme Fig. 6. 4 Fig. 4. Desenho indicando a variação do diâmetro do condutor do anel anticorona Fig. 7. Propriedades físicas do isolador O campo elétrico foi verificado na região próxima a camada de silicone em contato com o ar conforme Fig. 8. Fig. 5. Desenho indicando a distância fixa do centro do anel anti-corona até o centro do isolador Fig. 8. Linha de corte do campo elétrico. III. RESULTADOS Fig. 6. Desenho indicando a distância fixa do centro do anel anti-corona até o terminal fase do isolador Foi utilizada a tensão fase-terra do sistema aplicado ao terminal bola, terminal inferior do isolador, e potencial zero no terminal concha, terminal superior do isolador. As propriedades físicas utilizadas neste projeto foram: • Aço Carbono 1020 – material utilizado na fabricação dos terminais concha e bola; • Fibra de vidro – material utilizado na fabricação do tarugo pultrudado utilizado para dar sustentação mecânica ao isolador; • Silicone – material utilizado para revestimento do tarugo pultrudado; • Alumínio – material utilizado na fabricação do anel anti-corona; • Ar – demais superficies. Estas propriedades físicas estão ilustradas na Fig. 7. Foram realizadas simulações variando o diâmetro do condutor do anel anti-corona de 1,0 cm até 30,0 cm com variações de 0,5 cm por simulação. Nas simulações realizadas, foi possível obter a carta de campo do potencial elétrico e a carta de campo do campo elétrico. As Fig. 9 e Fig. 10 apresentam a carta de campo do potencial elétrico e a Fig. 11 apresenta a carta de campo do campo elétrico, com simulações realizadas com o diâmetro do condutor do anel anti-corona igual a 7,0 cm. A Fig. 12 mostra o gráfico do módulo do campo elétrico na linha de corte pré-determinada. Fig. 9. Carta de campo da distribuição do potencial elétrico 5 Esses picos foram anotados em todas as simulações realizadas para assim verificar a interferência do diâmetro do condutor do anel anti-corona na distribuição do campo elétrico. A Fig. 14 apresenta as curvas encontradas para estes dois picos mediante a variação do condutor do anel anticorona. Fig. 10. Carta de campo da distribuição das linhas equipotenciais Fig. 14. Gráfico demonstrando o 1º e 2º pico do módulo do campo elétrico Fig. 11. Carta de campo da distribuição do campo elétrico Observando o gráfico podemos verificar que o valor referente ao 1º pico decresce mediante ao aumento do diâmetro do condutor do anel anti-corona, enquanto que o 2º pico é praticamente estável. IV. CONCLUSÃO Fig. 12. Gráfico do módulo do campo elétrico Com o gráfico do módulo do campo elétrico foi possível obter o valor máximo do módulo do campo elétrico após o terminal concha, este ponto apresenta um valor elevado se comparado com os demais ao longo do gráfico; este pico máximo será chamado de 1º pico, este ponto encontra-se na posição 16,36 cm. O ponto máximo encontrado na segunda curvatura, originalizada pela presença do anel anti-corona, será aqui chamado como 2º pico, conforme Fig. 13. Com os valores obtidos nas simulações foi possível observar que o pico inicial do módulo do campo elétrico decai mediante o aumento do diâmetro do condutor do anel anticorona. E o pico referente a presença do anel anti-corona (2º pico) permanece praticamente estável sofrendo pouca variação de seu valor. Se consideramos que o pico referente a presença do anel anti-corona é um valor praticamente constante, que não sofre variação com o diâmetro do condutor do anel anti-corona, e mediante aos valores obtidos nas simulações é possível afirmar que para o anel anti-corona, com seu centro, posicionado a uma distância de 25,00 cm perpendicular em relação ao centro do tarugo pultrudado, e com uma altura de 24,47 cm em relação a ponta do terminal bola, o anel anticorona deverá possuir um diâmetro mínimo de 17,0 cm para que o pico inicial seja menor ou igual ao pico do campo elétrico referente a presença do anel anti-corona. V. REFERÊNCIAS [1] [2] [3] [4] [5] Fig. 13. Gráfico informativo ilustrando os pontos referentes ao 1º e 2º pico. H. A. B. da Silva, A. A. Mota, and L. T. M. Mota, “Dimensionamento de anel anti-corona em isolador polimérico para classe de tensão de 500 kV através do estudo de campo elétrico”, Anais do VI Workshop de pósgraduação e pesquisa do Centro Paula Souza - 2011, a ser publicado. P.C.V. Esmeraldo, “Perspectivas da Transmissão em Longa Distância no Brasil e Interligações com a América Latina”. Trabalho apresentado no Seminário Projeto Transmitir, Brasília (DF), 09 fev. 2011. D. R. Mello, “Avaliação de ensaios de radiointerferência e corona visual em cadeias de isoladores”. Palestra ministrada em Furnas, jun. 2007. L. B. Reis, “Transmissão em CC 800 kV e Multiterminais”. Trabalho apresentado no Seminário Projeto Transmitir, Brasília, 09 fev. 2011. R. M. Leão, “Rádio interferência proveniente de linhas de alta tensão”. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008, 146p. 6 [6] J. R. Cardoso, “Introdução ao método dos elementos finitos para engenheiros eletricistas”. São Paulo, Brasil: Editoração Própria, 1995, p. 3-33. VI. BIBLIOGRAFIA Huederson Botura nasceu na cidade de Arceburgo, interior de Minas Gerais (Brasil), no dia 12 de Junho de 1984. Entre os anos de 2002 e 2005 cursou Técnico em Eletrotécnica, Técnico em Eletrônica e Técnico em Telecomunicações na Escola Técnica Estadual João Baptista de Lima Figueiredo. No ano seguinte, iniciou o curso de Engenharia Elétrica na Pontifícia Universidade de Campinas no qual concluiu em 2010, onde ganhou o prêmio de melhor aluno e o Prêmio CREA-SP Formação Profissional – Formandos 2010 que premia os melhores alunos dos cursos vinculados ao CREA. Em 2011, iniciou o mestrado em Gestão de Redes Telecomunicações na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, com término previsto para dezembro de 2012, seu projeto está contido na linha de pesquisa de Eficiência Energética e tem como tema “Avaliação de impactos do efeito corona em isoladores de alta tensão na interferência eletromagnética através do método dos elementos finitos”.