Vacina aumenta as chances de ter filhos

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09/10/2007 - Vacina aumenta as chances de ter filhos
Maria Vitória, da equipe do Correio Brasiliense
Uma das causas comuns de abortos repetidos é a compatibilidade imunológica do
homem e da mulher. Para reverter essa situação, a futura mamãe pode ser imunizada.
Aparecida Corrêa de Castro e Joel Torres de Castro estão casados há 14 anos e têm uma
filha de cinco, Vitória. A menina recebeu esse nome porque os pais dela enfrentaram
nove anos de tentativas frustradas até o seu nascimento. Aparecida engravidou a
primeira vez em 1993, logo depois do retorno da lua-de-mel, e abortou na oitava semana
de gestação. Essa foi a primeira de uma série de sete fecundações interrompidas.
Aparecida é vítima de um problema que afeta de 10% a 20% dos casos de gravidez
comprovados por exames médicos e laboratoriais: os abortos repetidos. O ginecologista
e obstetra Antônio Cézar Paes Barbosa afirma que muitas mulheres nem percebem que
engravidam e abortam. "O primeiro é considerado normal. Se a mulher tiver em seguida
mais dois abortamentos, o diagnóstico é de aborto de repetição", explica o médico.
Segundo ele, as causas mais comuns desse distúrbio são de origem genética,
malformação do útero, distúrbios hormonais, deficiência imunológica e doenças como
diabetes e hipotireoidismo. "Fatores externos, como o consumo de cigarro, cafeína e
álcool, também podem contribuir para o problema. É preciso analisar todas as
possibilidades", diz Barbosa.
Para o ginecologista e obstetra Ricardo Barini, professor da Unicamp, a causa mais
comum é a imunológica, sendo responsável por 66% dos casos de abortos de repetição
(leia Entrevista). Quando a mulher engravida, ela entra em contato com um tipo de
tecido que imunologicamente não é o seu, mas existe naturalmente uma adaptação
imunológica do sistema materno para não rejeitar esse material. Em algumas mulheres,
isso não ocorre e há a expulsão do feto. Esse era o problema do casal Aparecida e Joel.
Depois de sete abortos, por indicação médica, eles fizeram a terapia da vacina do
marido e ela conseguiu ter uma gestação normal na oitava tentativa. Em 1º de junho de
2002 nasceu Vitória. "Vale a pena persistir em um sonho. Ela representa uma bênção
divina, a nossa vitória", diz Aparecida.
A psicóloga Andrea Suhet Moreira e o funcionário público José Edson Moreira Filho
passaram pela mesma experiência. Porém, não esperaram tanto tempo quanto Aparecida
e Joel para se submeterem ao tratamento com a vacina. No segundo aborto, o
ginecologista de Andrea suspeitou da incompatibilidade imunológica do casal. No
terceiro abortamento, indicou o tratamento com uso do imunizante realizado em
Campinas (SP). Ela tomou duas doses da vacina e, depois de seis meses, engravidou.
"No início da gestação tive muito medo. Só fiquei segura quando entrei no segundo
trimestre, com a certeza de que estava tudo bem. A sensação foi maravilhosa, pois
durante cinco anos tentamos ter um filho", conta Andrea, que deu à luz Carolina, em
novembro de 2005. Agora, a menina tem 1 ano e 8 meses, é saudável e eles planejam
um segundo filho. "Esse sempre foi o nosso plano e farei novamente o tratamento", diz
a psicóloga de 31 anos.
TRATAMENTO POLÊMICO - O ginecologista e obstetra Ricardo Barini, professor e
coordenador do Ambulatório de Perdas Gestacionais Recorrentes da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), trata há 14 anos casais que sofrem de abortos de
repetição por causa imunológica. Segundo ele, o problema é revertido com a produção
de uma vacina especial para cada casal, elaborada a partir das células de sangue do
homem. A técnica é considerada polêmica entre a classe médica, que aponta outras
alternativas de tratamento e não vê comprovação científica na vacina, que custa R$ 700,
a dose. Apesar disso, Barini garante uma taxa de sucesso de 85% nos 2 mil casos
atendidos no país. Em todo o mundo, 20 mil casais já usaram esse tipo de terapia. Em
conversa com a Revista, Ricardo Barini explica o método da imunização:
COMO SURGIU ESTA VACINA?
Ela foi desenvolvida a partir da observação de que pessoas que recebiam transplantes de
rim, na década de 60, e que fizeram transfusões de sangue, aceitavam melhor o órgão
transplantado. Como a gravidez para a mulher é uma espécie de transplante temporário,
imaginou-se que a transfusão sangüínea poderia melhorar a aceitação do feto. O
Programa de Imunologia da Reprodução foi estabelecido pelo médico Alan E. Beer, na
Chicago Medical School (EUA), em 1987. Foi nessa instituição que me especializei,
implantando o programa na Unicamp em 1993.
POR QUE É CHAMADA DE VACINA DO MARIDO?
Porque consiste na coleta de 80 mililitros de sangue do marido. No mesmo dia esse
material é fracionado, retirando-se os linfócitos (células brancas do sangue envolvidas
no sistema de defesa do organismo) e descartando-se as hemácias (células vermelhas).
Os linfócitos são lavados, colocados em soro fisiológico e injetados na mulher por via
intradérmica, no braço. É como se ela tomasse uma injeção. Por isso é chamada de
vacina do marido.
COMO ELA FUNCIONA?
Aplicamos duas doses do imunizante, com intervalo de dois meses, e confirmamos com
exames se a paciente já respondeu ao tratamento. Existe uma prova, chamada cruzada
(Crossmatch), que verifica se a paciente já consegue reconhecer o marido
imunologicamente. Se o resultado for negativo, ela receberá mais três doses e irá refazer
o exame. Se ainda assim estiver negativo, ela irá receber uma vacina do marido e de um
doador não aparentado para que esse doador drible o sistema imune da mulher. Durante
a gravidez, ela tomará mais quatro doses de reforço para manter a produção dos
anticorpos elevados e, assim, ter uma gestação segura.
COMO O PRODUTO ATUA NO CORPO DA MULHER?
A vacina estimula a produção de um anticorpo chamado de bloqueador. Esse anticorpo
regula o sistema imune da mulher e o prepara para a aceitação da gravidez. Ele se liga a
células NK (natural killers, ou assassinas naturais, as células reguladoras do nosso
organismo) e passa uma informação de que o que está se desenvolvendo dentro do útero
é uma gravidez e não agressão ao corpo da mulher.
HÁ CONTRA-INDICAÇÕES?
Sim. Quando o parceiro é portador de uma doença transmissível pelo sangue, como a
hepatite B ou C e HIV/Aids.
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