ANÁLISE DE VARIABILIDADE GENÉTICA DE CULTIVARES DE Coffea arabica var. Etiópia POR MEIO DE MARCADORES MOLECULARES AFLP Patrícia Juliana Lopes, Bruna Delgado Góes, Paulo Maurício Ruas, e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Biologia Geral/CCB. Área e sub-área do conhecimento: Genética/Genética Vegetal. Palavras-chave: Café; distância genética; melhoramento genético. Resumo O Brasil é classificado como o maior produtor, exportador e segundo maior consumidor de café no cenário mundial, sendo Coffea arabica a espécie mais importante comercialmente. Inversamente proporcional à sua importância econômica, está a variabilidade genética da espécie, que apresenta uma base genética muito estreita. A análise e melhoramento genético envolve muitas vezes, análises complexas de características agronômicas, tornando difícil a seleção devido ao elevado número de genes envolvidos. Com isso, estratégias de melhoramento, tais como uso de marcadores moleculares como o AFLP (Amplified Fragments Length Polymorfism) podem tornar os programas de melhoramentos mais eficientes, visto que possibilitam o acesso à variabilidade de forma rápida e eficiente. O trabalho teve como escopo avaliar a variabilidade e distância genética de Coffea arabica e fornecer um parâmetro complementar nas definições de estratégias de melhoramento genético, particularmente em espécies com baixa variabilidade genética como C. arabica. Foram analisadas dez plantas de cada um dos 11 cultivares. Os resultados desta pesquisa determinaram uma porcentagem total de 83,77% de polimorfismo, detectando uma variação máxima no número de locos polimórficos de 239 (63,22%) e mínima de 114 (41,60%). De acordo com o dendrograma construído com a distância genética de Nei não há a presença de grupos bem definidos, mesmo que algumas cultivares tenham se agrupado quase totalmente. Isso indica que os indivíduos analisados são geneticamente diferentes e apresentam potencial para futuros programas de melhoramento genético. Introdução O Brasil é o maior produtor, exportador e segundo maior consumidor de café no cenário mundial, sendo Coffea arabica a espécie responsável por cerca de 1 70% da produção. (RODRIGUES, 2001; ZAMBOLIM, 2003; CARVALHO, 2008; ICO, 2016). A atividade cafeeira é fundamental no processo de estruturação da economia de muitos países, tendo em vista que proporciona milhões de empregos no mundo todo. A planta de café é originária da Etiópia (África), onde ainda hoje faz parte da vegetação natural. A espécie Coffea arabica é considerada a mais importante economicamente do gênero Coffea, contudo, possui uma base genética muito estreita devido a diversos fatores ambientais e antrópicos. Por ser uma espécie de grande interesse agronômico é amplamente utilizada em bancos de germoplasma, onde são estocadas em condições adequadas amostras de genótipos, variedades melhoradas, espécies selvagens e relacionadas a uma determinada espécie de interesse (ZIMMERMAN & TEIXEIRA, 1996). Os germoplasmas de C. arabica brasileiros são conservados e pesquisados em Bancos Ativos de Germoplasmas de forma ex situ por diferentes centros de pesquisa (FAZUOLI et al., 2000; EIRA et al., 2007; CARVALHO, 2008). Porém, segundo Vanderborght (1988), a variabilidade genética de um banco de germoplasma só pode ser eficientemente utilizada quando devidamente avaliada e quantificada. A análise e melhoramento genético envolve muitas vezes, análises complexas de características agronômicas, tornando difícil a seleção devido ao elevado número de genes envolvidos. Com isso, estratégias de melhoramento como uso de marcadores moleculares como o AFLP (Amplified Fragments Length Polymorfism) podem tornar os programas de melhoramentos mais eficientes, visto que possibilitam o acesso à variabilidade de forma rápida e eficiente. O presente trabalho avaliou a variabilidade e distância genética de Coffea arabica a fim de fornecer um parâmetro complementar nas definições de estratégias de melhoramento genético, particularmente em espécies com baixa variabilidade genética como C. arabica. Material e Métodos Foram coletados tecidos foliares de 11 cultivares de Coffea arabica com cerca de 10 plantas de cada cultivar e armazenadas em freezer -20 ºC para posterior extração de DNA. A extração do DNA foi realizada conforme o protocolo de Doyle & Doyle (1987), com modificações. Umas das modificações é a substituição do CTAB por MATAB (Mixed Alyltrimethylammonium Bromide, Sigma) no tampão de extração. As amostras de DNA forma quantificadas no Nanodrop (Thermo Fisher Scientific) para a verificação da concentração e pureza das mesmas. Os DNAs foram diluídos para 700 ng/μl e realizado a reação de AFLP conforme protocolo de Vos et al. (1995) com modificações. Nas reações de amplificação seletiva, foram utilizados primers marcados com fluoróforos FAM, NED, PET e VIC (Primers EcoRI ATC (FAM-azul) / MseI-CTA, EcoRI-ACT 2 (NED-amarelo) / MseI-CTAG, EcoRI ACT (VIC- verde) / MseI CTG e EcoRI AGC (PET-vermelho) / MseI –CTAG) e submetidos a genotipagem através de sistema multiplex em eletroforese capilar pelo sistema automatizado ABI 3500XL (Applied Biosystems, Califórnia, USA). O resultado da eletroforese e os eletroferogramas gerados, foram automaticamente transformados em uma matriz binária pelo software GeneMapper® v.4.1 (Applied Biosystems, Califórnia, USA) seguindo recomendações do fabricante. O número e a porcentagem locos polimórficos e a distância genética de Nei (1978) foram calculados para as 11 cultivares utilizando o programa FAMD. Para a construção do dendrograma foi utilizado o programa TreeView (PAGE, 1996), através do método de UPGMA (Unweighted Pair Group Method). Resultados e Discussão A partir das quatro combinações de primers utilizadas, foram encontrados um total de 597 marcadores. De acordo com os dados descritivos da variabilidade genética intra-populacional para as 11 cultivares avaliadas, foi determinado uma porcentagem total de 83,77% de polimorfismo, sendo detectada uma variação máxima no número de locos polimórficos de 239 (63,22%) na cultivar 15.223 e mínima de 114 (41,60%) para a cultivar 15.213. Em sua totalidade, as cultivares apresentaram um grau de polimorfismo alto, corroborando com o esperado, considerando que estas representam uma variedade originária de acessos provenientes da Etiópia, os quais possuem alta diversidade genética devido à sua natureza selvagem e pelo fato de serem oriundos do centro de origem da planta do cafeeiro. Entretanto, quando analisadas individualmente algumas cultivares apresentaram baixa variabilidade. Esse resultado provavelmente se deu devido aos 43 anos de seleção e segregação aos quais essa variedade foi submetida. Conclusões Observou-se um alto grau de polimorfismo nas cultivares, revelando que as mesmas apresentam potencial para futuros programas de melhoramento genético. Agradecimentos Ao CNPq, pelo financiamento dessa pesquisa; ao professor orientador Paulo Maurício Ruas, ao Dr. Eduardo Augusto Ruas e aos colegas de laboratório pela ajuda nas análises. 3 Referências CARVALHO, C.H. S. Cultivares de café: origem, características e recomendações. ISBN: 978-85-61519-00-1. Brasília: Embrapa Café. 2008. DOYLE, J.J., DOYLE, J.L. A rapid DNA isolation procedure for small quantities of fresh leaf tissue. Phytochem Bull. 19, 11–15. 1987. EIRA, M.T.S.; FAZUOLI, L. C.; GUERREIRO-FILHO, O.; SILVAROLLA, M. B.; FERRÃO, M. A. G.; FONSECA, A. F. A. FERRÃO, R. G.; SERA, T.; PEREIRA, A. A.; SAKIYAMA, N. S.; ZAMBOLIM, L.; CARVALHO, C. H.; PADILHA, L.; SOUZA, F. F. Bancos de Germoplasma de Café no Brasil: Base do Melhoramento para Produtividade e Qualidade. In: Simpósio De Pesquisa Dos Cafés Do Brasil, 5, Águas de Lindóia, SP. Anais. Brasília, DF: Embrapa Café, 2007. FAZUOLI, L. C.; MEDINA, H. P.; GUERREIRO, O.; GONÇALVES, W.; SILVAROLLA, M. B. & GALLO, P. B. Cultivares de café selecionadas pelo Instituto Agronômico de Campinas. 2000. ICO - Organização Internacional do Café. 2016. Disponível em: < http://www.ico.org/prices/po-production.pdf> e <http://www.ico.org/prices/m1exports.pdf>. Acesso em 12/05/2016. NEI, M. Molecular evolutionary genetics. Columbia University Press, New York, NY, USA, 1978. PAGE, R. D. M. TREEVIEW: An application to display phylogenetic trees on personal computers. Computer Applications in Biosciences. v. 12, p. 357-358. 1996. RODRIGUES, C. Uso de esgoto e palha-de-café na composição de Substratos. II Simpósio de Pesquisa dos Café do Brasil. 1638-1647. 2001. VANDERBORGHT, T.A. Centralized database for common bean and its use in diversity analysis. In: GEPTS, P. (Ed.). Genetic resources of Phaseolus beans. Dordrecht. Kluwer, p. 51-65, 1988. VOS, P.; R. HOGERS, M.; BEEKER, M.; REIJANS, T.; VAN de LEE, M.; HORNES, A.; FRIJTERS, J.; POT, J.; PELEMAN, M.; KUIPER e M. ZABEAU. AFLP: a new technique for DNA fingerprinting. Nucleic Acids Research 23: 4407-4414. 1995. ZAMBOLIM, L.; CONCEIÇÃO, M.Z. da; Santiago, T.(eds.) O que engenheiros agrônomos devem saber para orientar o uso de produtos fitossanitários. UFV, 2003. ZIMMERMAN, M.J.O. & TEIXEIRA, M.G. Bancos de Germoplasma. In: ARAUJO, R.S.; RAVA, C.A.; STONE, L.F.; ZIMMERMAM, M.J.O. (eds). Cultura do feijoeiro comum no Brasil. Piracicaba: Potafos. p.65-66, 1996. 4