Governo do Estado de Santa Catarina Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina Relatório da unidade de pesquisa participativa com AIPIM ARARANGUÁ - Safra 2010 -2011 Enilto de Oliveira Neubert1 Alexsander Luis Moreto1 Jorge HomeroDufloth1 Luiz Augusto Martins Peruch1 Érica Frazão Pereira1 Antônio Sérgio Soares2 Jânio Antônio Beber2 ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE URUSSANGA ESCRITÓRIO MUNICIPAL DE ARARANGUÁ / GRA 1 Pesquisadores, Epagri, Estação Experimental de Urussanga, Urussanga – SC, (48) 3465-1209. 2 Extensionistas, Epagri, Escritório Municipal de Araranguá – SC, (48) 3524-0077 ARARANGUÁ : relatório da unidade de pesquisa participativa com AIPIM Região agroecológica 2B, Neossolo Quartzarênico – Safra 2010/2011 1 – Localização Município: Araranguá SC Comunidade: Sanga da Toca Coordenadas geográficas: S: 29o 00’ 19,2” W: 49o 34’ 59,7” Agricultor/a colaborador/a: Nome Fone email Fone email Manoel Pedroso Técnicos colaboradores: Nome Antônio Sérgio Soares 48 3524-0077 [email protected] Jânio Beber 48 3524-0077 [email protected] Renê Kleveston 48 3524-0077 [email protected] Jane Buss 48 3522-0894 [email protected] 2 – Resumo do trabalho: A unidade foi plantada em 27/10/2010 e constou de duas cultivares fornecidas pelo agricultor (01 = casca roxa e 02 = aipim Paraná ou Jacinto Machado) mais quatro materiais propostos pela pesquisa (03 = Pioneira; 23 = IAC 576; 25 = Aipim Salézio e 46 = Crioulo de Videira). O materiais foram plantados em parcelas de 28,8 m2 (7,20 m de comprimento por 4,0 m de largura) e no espaçamento de 1,00 m entre linhas e 0,90 m entre plantas. O delineamento foi o de blocos ao acaso, com 2 repetições. Após a instalação (plantio), a unidade recebeu uma avaliação intermediária realizada pelos pesquisadores da equipe e a avaliação final (colheita) contou também com a participação de agricultores e técnicos locais. Nessa sua primeira versão, o trabalho mostrou necessidades de ajustes como a inserção de mais uma repetição para o aumento da precisão dos seus resultados. Por motivos como esse os dados da presente safra são apresentados em médias absolutas sem aplicação de análise estatística. 3 – Relato das avaliações 3.1 – Avaliações intermediárias 3.1.1 – Doenças Data:17/2/2011 Avaliador: Luiz Augusto M. Peruch Relato: As doenças do aipim/mandioca mais importantes no Estado são: sapeco e antracnose. O mosaico comum da mandioca e as manchas foliares da Cercospora são doenças frequentes, mas ainda de importância secundária. A seguir uma breve descrição dos sintomas, agente causal e propagação das doenças. Sapeco - doença bacteriana (Xanthomonas axonopodis pv. manihotis), considerada a principal doença da mandioca. Causam manchas foliares, cancros nas hastes, seca dos ponteiros e morte das plantas. A bactéria dissemina-se rapidamente por manivas contaminadas, água, insetos, etc. Pode causar grandes perdas na cultura. Mosaico comum da mandioca - doença virótica (CsCMV), doença muito freqüente na cultura e de sintomas nem sempre típicos. Formam-se mosaicos nas folhas e crescimento reduzido da planta. O vírus dissemina-se somente através de manivas doentes e ferramentas contaminadas. As perdas que causam são variáveis, pequenas a grandes, dependendo da estirpe do vírus. Antracnose - doença fúngica (Colletotrichum sp.), considerada uma das principais doenças da cultura. Principal sintoma é a formação de cancros nos ramos. Dissemina-se por chuva, insetos contaminados e manivas doentes. Pode provocar grandes perdas, especialmente quando associada ao sapeco. Manchas foliares - doenças fúngicas, causadas por diferentes espécies de Cercospora. Causam manchas foliares e desfolha da planta. Dissemina-se por vento e água. Consideradas doenças de final do ciclo, podendo provocar desfolha intensas das plantas. Todavia, ainda podem ser consideradas doenças secundárias da cultura. Tabela 1. Intensidade da bacteriose e incidência do mosaico comum (CsCMV) em sete unidades regionais de aipim nas regiões do Litoral Sul, Litoral Norte, Alto Vale e Oeste Catarinense no ciclo 2010-2011. Genótipo Bacteriose CsCMV INC % SEV INC %** Aipim local 1 4,1 3 8,2 Aipim local 2 2,5 2 4,8 Aipim local 3 1,7 3 30,6 Aipim IAC 576/70 0,0 0 23,5 Aipim salézio 25 0,0 0 15,6 Aipim Crioulo de videira 2,5 4 1,0 INC=Incidencia é a porcentagem de plantas doentes nas parcelas. SEV= Severidade é o grau dos sintomas nas plantas doentes nas parcelas, sendo 0 (sadia) até 5 (morte da planta). Os dados de incidência do sapeco e do mosaico comum mostram os resultados médias de duas doenças na cultura do aipim em âmbito estadual (tabela 1). De forma geral, assim como foi observado para mandioca, pode-se dizer que a safra 2010-2011 foi caracterizada pela baixa ocorrência de doenças no aipim, sendo que muitas unidades nas diferentes regiões do Estado apresentaram poucas plantas doentes. Em relação à principal doença, o sapeco, foram verificadas incidências abaixo de 5%, ou mesmo 0% (zero), em várias unidades. A virose do mosaico comum foi a doença mais freqüente nas unidades nas diferentes regiões do Estado. Por esta razão, deve-se prestar especial atenção ao mosaico em futuras avaliações. A mancha da folha também foi verificada com frequência, mas sempre no final do ciclo, motivo pelo qual ainda é considerada secundária. Em relação a Araranguá, foi verificada somente a virose do mosaico comum. Os materiais Casca Roca, Pioneira e Salézio apresentaram as maiores incidências da virose. Nenhuma planta apresentou sintomas de sapeco, antracnose e mancha da folha nas avaliações. Numa análise geral, pode-se dizer que não houve grandes problemas com doenças nesta unidade, mas deve-se continuar prestando atenção em relação ao avanço da virose do mosaico comum. 3.1.2 – Pragas Data: 17/02/2011 Avaliador: Érica Frazão Pereira e Milton Zanela Relato: Na lavoura de aipim foram identificados os seguintes insetos-praga: mosca das galhas, mosca branca, percevejo de renda e vaquinha ou patriota. A mosca das galhas apareceu em 100% da lavoura, independente da cultivar. Das pragas de importância econômica para a cultura, apenas a mosca branca apresentou plantas com índices de ataque de 50% para as cultivares 1 e 2. % Plantas atacadas 100 80 60 40 20 0 Galhas/mosca Mosca branca das galhas Percevejo de renda Vaquinha Mosca das galhas Mosca branca Percevejo de renda Vaquinha 3.1.3 – Desenvolvimento vegetativo Data: 17/02/2011 Avaliador: Alexsander Luís Moreto Relato: cv Pioneira – porte médio comparado com as demais cultivares testadas na unidade; ramifica baixo; floresce; falha de estande devido à má germinação das manivas. cv Crioulo de Videira - porte médio/baixo comparado com as demais cultivares testadas na unidade; ramifica; floresce; houve falha de estande devido à má germinação das manivas. cv IAC 576 - porte baixo comparado com as demais cultivares testadas na unidade; ramifica; floresce; houve muita falha de estande devido à má germinação das manivas. cv Aipim Salézio – porte alto comparado com as demais cultivares testadas na unidade; ramifica baixo; floresce; pouca falha de estande. Test. Casca Roxa - porte alto comparado com as demais cultivares testadas na unidade; ramifica; floresce; bom estande Test. aipim Paraná ou Jacinto Machado - porte médio/baixo comparado com as demais cultivares testadas na unidade; ramifica; floresce; bom estande. 3.2 – Avaliação final (colheita) 3.2.1 – Data da avaliação final : 17/06/2011 3.2.2 - Avaliadores técnicos: Alexsander L. Moreto, Antônio Sérgio Soares, Enilto de Oliveira Neubert, Jane Buss, Jânio A. Beber, Jorge Homero Dufloth e Milto Zanela. 3.2.3 - Avaliadores agricultores : Manoel Pedroso e vizinhos. 3.2.4 - Resultado das avaliações finais Quadro 01. Resultados dos indicadores quantitativos avaliados Indicadores quantitativos avaliados1 Material Stand Altura das Produção de raízes (t/ha)2 Tempo cozimento Amido3 n.pl/parc. plantas (m) Comerciais Refugos Total Coz. Mattson (min.)4 (%) 3 9,5 1,73 10,5 4,4 14,9 3 29,29 23 8,5 1,18 10,4 1,2 11,6 5 28,22 25 11,5 1,85 7,1 3,1 10,2 4 27,68 46 10,5 1,35 16,9 3,1 20,0 13 29,58 1 12 2,15 17,5 3,8 21,3 7 26,15 2 12 1,73 18,6 3,5 22,1 7 28,19 Média 10,7 1,67 13,5 3 16,7 6,5 28,19 1 média de 2 repetições classificação das raízes em comerciais e refugos realizada pelos agricultores 3 método da balança hidrostática, amostra de 3 kg de raízes 4 os tempos de cozimento determinados pelo cozedor Mattson adaptado são inferiores aos tempos que serão encontrados no caso de cozimento convencional em panelas comuns. Entretanto, a determinação via o cozedor Mattson elimina subjetividades e permite a comparação entre os valores 2 Os materiais genéticos selecionados ao longo dos tempos pelos agricultores (1 e 2) foram os que apresentaram a maior produtividade média de raíz, tanto comercial como total. Esse resultado pode ser explicado pela ausência de pesquisa com melhoramento genético em aipins no Estado versus a seleção histórica dos agricultores, justo numa planta que possui forte interação com o meio. Tal fato também define a justificativa do trabalho no seu estágio atual que é o de aumentar os intercâmbios de materiais genéticos entre os agricultores, caracterizar os materiais testados e iniciar a separação desses por perspectiva de uso futuro. Na medida em que o trabalho de melhoramento genético de aipins recém iniciado na Epagri passe a produzir clones promissores os mesmos serão inclusos no processo e os números dos materiais até então avaliados servirão de referências a serem superadas. Com exceção do material 46, todos os outros materiais apresentados pela pesquisa apresentaram tempo de cozimento inferior aos do agricultor na época da colheita. O teor de amido pode ser um dos indicadores para orientar o uso mais adequado. Como exemplo: i) valores altos de amido indicam raízes mais enxutas e assim cumprem um dos quesitos para a produção de chips e ii) valores mais baixos de amido (menor teor de matéria seca) podem ser adequados para purês. Quadro 02. Resultados dos indicadores qualitativos avaliados Indicadores qualitativos avaliados1 Material 3 23 25 46 1 2 Média3 tipo de rama 8,5 8,0 7,0 9,0 9,0 8,0 8,3 Padrão Facilidade da raiz descasque 7,5 7,0 8,5 7,5 5,5 8,0 9,0 10,0 8,0 9,0 9,5 10,0 8,0 8,6 Qualidade da massa e sabor 8,5 9,0 10,0 8,5 8,0 7,6 8,6 Média2 7,9 8,3 7,6 9,1 8,5 8,8 1 média do conceito atribuído por 5 grupos de avaliadores. Os conceitos e seus respectivos valores foram: i) Bom = 10; Médio = 7,5 e Ruim = 5,0. A média desses valores produziu os números do Quadro 02. 2 nota média geral recebida por cada material genético avaliado. 3 nota média geral por indicador avaliado. Os resultados contidos no Quadro 02 expressam o conhecimento/experiência dos avaliadores quanto aos indicadores avaliados e como tal possuem certa subjetividade. Também a avaliação dos materiais requer análise conjunta dos quadros 01 e 02. Nesse exercício, os materiais locais continuaram apresentando bom desempenho, mas já receberam a concorrência de outros materiais introduzidos. O material 46 (Crioulo de Videira) foi o melhor avaliado no tocante aos indicadores qualitativos, mas na época da colheita apresentou tempo de cozimento muito longo. Pelos dados atuais, se credencia para ser avaliado quanto ao comportamento do seu cozimento em diferentes épocas do ano. A cultivar 25 (Aipim Salézio) possui casca roxa e foi avaliada com nota máxima quanto à qualidade da massa e sabor. Entretanto, esse material apresentou baixa produtividade e baixo padrão de raiz e a se confirmar essas características só poderá ter chances nas condições da unidade de Araranguá se testado em outros sistemas de cultivos. Por último, cabe registrar que a iniciativa gerou discussões importantes, representou um momento de intercâmbio de informações entre a pesquisa, agricultores e técnicos locais e serviu para aprimorar o trabalho na sua próxima versão. 3.2. 5 – Observações/considerações de importância: - o conjunto de indicadores avaliados e metodologias utilizadas nesse primeiro ano de retomada da pesquisa participativa serviu para dar conteúdo ao reinício das conversas entre técnicos locais, agricultores, empreendedores e pesquisadores. Cabe a todos e a partir desse reinício, sugerir aperfeiçoamentos para o processo; - o “negócio aipim” na região de Araranguá está a exigir estudos de mercado (oferta/demanda) e já aponta para a necessidade do estabelecimento de curvas de cozimento para os materiais mais promissores; - a região também necessita de uma unidade de pesquisa semelhante, mas em solo argiloso, visto o atual experimento estar situado em solo arenoso; - há necessidade da definição de critérios para a recomendação de cultivares adequadas à região assim como para a exclusão e inclusão de novos materiais no processo de avaliação; - a equipe de pesquisa considera importante que os técnicos e agricultores envolvidos com a unidade de pesquisa participativa com aipins de Araranguá sugiram metas para tal trabalho, explicitando quais avanços tal iniciativa deve atingir e em que tempo os mesmos devem ser alcançados. 4 - Parecer final da equipe de pesquisa sobre a unidade Continuar com a unidade de pesquisa participativa com aipins na safra de 2011/2012, mas agregar mais uma repetição ao experimento.