DEFORMIDADES ANATÔMICAS EXISTENTES E TÉCNICAS CIRÚRGICAS APLICADAS EM CÃES COM LUXAÇÃO PATELAR Emília Miranda Peluso1, Marcella Luiz de Figueiredo2, Camila Elana Santana e Silva3 e Eduardo Alberto Tudury4 Introdução A luxação patelar é considerada uma das afecções mais comuns da articulação fêmuro-tíbio-patelar do cão [1] e caracteriza-se pelo deslocamento medial ou lateral da patela de sua posição normal no sulco troclear [2]. A maioria das luxações é denominada congênita por ocorrerem na vida jovem e não são associadas com traumatismo. Embora a luxação possa não estar presente por época do nascimento, as deformidades anatômicas que causam estas luxações estão presentes naquele momento e são responsáveis por conseqüente luxação patelar recorrente [3]. As deformidades anatômicas relacionadas entre as articulações coxofemorais e/ou o joelho associadas à luxação patelar discutidas foram, entre outros: coxa vara, coxa valga, hipoplasia da epífise distal do fêmur, doença articular degenerativa, efusão do líquido sinovial, deslocamento cranial do platô tibial, e deslocamento do sesamóide poplíteo. Como método de tratamento da luxação patelar, são recomendadas diversas técnicas cirúrgicas corretivas associadas, entre elas podemos citar: trocleoplastia, sutura fabelo-tibial, imbricação do retináculo, etc. O presente trabalho tem então como objetivo determinar as deformidades anatômicas existentes e a eficiência das técnicas cirúrgicas empregadas em cães com luxação patelar atendidos no projeto de extensão “Ortopedia e neurocirurgia Animal” realizado no Hospital Veterinário da UFRPE. Material e métodos Foram utilizados quinze cães, atendidos no Hospital Veterinário da UFRPE, onde não houve distinção de raça, sexo ou idade, que apresentavam luxação de patela, com graus dois, três e quatro. No ambulatório foi realizada a identificação e avaliação do paciente, com o preenchimento de uma ficha contendo a avaliação clínica, anamnese e exame físico ortopédico que proporciona a classificação da lesão em graus. Após a avaliação clínica, realizaram-se procedimentos ambulatoriais e foram solicitados exames complementares como hemograma completo, e radiografias dos joelhos afetados, onde estas mesmas foram solicitadas previamente à cirurgia e após noventa dias em projeção antero-posterior e médio-lateral, para avaliar o posicionamento patelar e determinar a extensão das deformidades ósseas existentes no fêmur e na tíbia, auxiliando na instituição da técnica cirúrgica necessária para a correção da luxação. As radiografias foram analisadas para a verificação das deformidades ósseas existentes nos animais, onde também foi necessário o auxílio do exame ortopédico para abranger as deformidades ligamentares, como é o caso da ruptura do ligamento cruzado cranial. A correção cirúrgica foi indicada de acordo com as anormalidades de cada paciente, onde se observaram as anomalias encontradas no exame ortopédico e as radiografias pré-cirúrgicas. Os procedimentos realizados foram: trocleoplastia, transposição da crista tibial, estabilização por ruptura de ligamento cruzado, sutura fabelo-tibial, transposição do tendão proximal do músculo Reto Femoral, liberação do quadríceps, desmotomia, desinserção do Sartório, e imbricação do retináculo. Após o procedimento cirúrgico, agendou-se o retorno programado para uma reavaliação do paciente e acompanhamento médico veterinário em sete, trinta e noventa dias após a intervenção cirúrgica. No retorno, foi realizado o exame clínico geral, o exame físico ortopédico, e foi feita a análise das radiografias para a obtenção de dados em detrimento ao projeto.. Os resultados obtidos foram submetidos à análise estatística e quantificação, fazendo-se uso do programa Microsoft Office Access 2007, utilizando-se do padrão SQL de banco de dados, para aquisição dos dados, sejam de apenas uma variável ou interrelacionando-as. Resultados e Discussão O presente estudo demonstrou que houve uma maior incidência em machos do que em fêmeas, já que entre os quinze (15) animais atendidos no Hospital Veterinário ________________ 1. Primeiro Autor é Estudante de graduação em Medicina Veterinária, sétimo período, membro do programa institucional de bolsas de iniciação científica PIBIC/CNPq/UFRPE pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: e.peluso @hotmail.com 2. Segundo Autor é Mestrando do programa de pós-graduação em Ciência Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. 3. Terceiro Autor é estudante de graduação em Medicina Veterinária, décimo período, pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. 4 Quarto Autor. é Professor Associado Nível 1, do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. Orientador. Apoio financeiro: CAPES e CNPq. (HV) da UFRPE acometidos por luxação patelar, onze são machos (73,33%) e quatro fêmeas (26,66%). A relação das raças atendidas da espécie canina foi de: Poodles com 60%, seguindo Pinscher com 13,33%, Cocker Spaniel, Pitbull, Labrador, e Yorkshire todos com 6,66%. Tal achado se dá provavelmente ao fato de que essa primeira raça tem ampla concentração na cidade do Recife, e que a disfunção dos membros pélvicos decorrente da luxação medial de patela em cães de raças pequenas e miniaturas, é um dos problemas ortopédicos mais comuns na clínica veterinária, com o risco de deslocamento patelar em cães de raças pequenas sendo aproximadamente 12 vezes maior do que em cães de raças grandes [1]. Não foi possível confirmar a luxação patelar em 13,33% dos casos, com base apenas no exame radiográfico, sendo necessária a ajuda do exame ortopédico, concluindo que observação da radiografia é pouco necessária para a confirmação da luxação de patela [4], mas é importante para determinar a extensão das deformidades ósseas existentes no fêmur e na tíbia, e o grau de degeneração articular [2,5]. Das deformidades anatômicas visualizadas nas radiografias, 86,66% possuíam tíbia proximal curva, 66,66% possuíam hipoplasia da epífise distal do fêmur, 60% possuíam o fêmur distal curvo, e 6,66% possuíam doença articular degenerativa. Observou-se através da medição do ângulo do colo femoral, que 26,66% dos casos apresentaram coxa vara e 20% dos casos apresentaram coxa valga, notando-se que tais dados não são necessariamente confiáveis, pois as radiografias observadas foram feitas sem tranquilização anestésica, a mesma sendo necessária para o correto posicionamento do animal. Em 73,33% dos casos, a efusão do líquido sinovial, deslocamento cranial do platô tibial, e deslocamento do sesamóide poplíteo, não puderam ser constatados, devido à falta de radiografias na projeção lateral. Dentre as correções cirúrgicas indicadas [6], os tratamentos mais empregados foram a trocleoplastia realizada em 86,66% dos casos, em segundo lugar a sutura fabelo-tibial e imbricação do retináculo, ambas com 80% dos casos. Com 46,66% dos casos, em terceiro lugar encontra-se a desmotomia.O uso de técnicas concomitantes foi de 93,33%, e apenas 6,66% usaram técnicas isoladas. Geralmente o uso de uma técnica isolada não tem bom resultado ou não é indicada para todos os graus de luxação, devendo-se associar mais de um procedimento [6]. Conclui-se então que dentro da casuística de luxações patelares, sua maioria acomete animais de pequeno porte, e que não é possível identificar todas as deformidades anatômicas através das radiografias pré-cirúrgicas. Também pode-se concluir que houve uma predominância das deformidades como tíbia e fêmur curvos e hipoplasia da epífise distal do fêmur. Através do uso do exame ortopédico acurado e dos exames radiográficos, foi possível determinar corretamente o tratamento e a aplicação das técnicas cirúrgicas necessárias, obtendo-se o êxito cirúrgico. Nos casos em que se corrigiu cirurgicamente a lesão, foi observada a recuperação do animal e retorno as atividades normais dos membros afetados. Agradecimentos Ao professor Eduardo Alberto Tudury e toda a sua equipe pelo apoio na busca pelo conhecimento e ao Hospital Veterinário da UFRPE. Referências [1] [2] [3] [4] [5] [6] MARIA, P.P.; FILHO, J.G.P.; ALMEIDA, T.L. 2001. Luxação medial de patela em cães.. Clínica Veterinária, ano VI, p 25-32. ROUSH, J.K.. 1993. Canine patellar luxation. Veterinary Clinics of North America: small animal practice. v.23, n.4, p. 855-868. PIERMATTEI, D.L.; FLO, G.L.. 1999. A articulação fêmuro-tibiopatelar.. In: Manual de Ortopedia e Tratamento das Fraturas de Pequenos Animais.. São Paulo: Manole. p.480-535 READ, R. A. 1999. Opciones racionales de tratamiento de la luxación interna de rótula. Waltham Focus, v.o, n.4, p.25-31. VASSEUR, P.B. 2003. Stifle joint. In: Slatter, D. Textbook of small animal surgery. 3ed. Philadelphia: Saunders. cap.147, p.2090-2133. SCHOSSLER, J. E.; SCHOSSLER, D. R. 1992. Correção cirúrgica de luxação medial de patela em cão. Cães e gatos- A revista do clínico,n.36,ano6,p.4-7,