DENISE RODRIGUES CRUZ

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I Congresso de Iniciação Científica PIBIC/CNPq - PAIC/FAPEAM
Manaus - 2012
IDENTIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE RISCO NA BACIA DO TARUMÃ – BAIRRO
LAGO AZUL.
Denise Rodrigues CRUZ; Reinaldo Corrêa COSTA
Bolsista CNPq; Orientador INPA-LAES
1.Introdução
O tema desta pesquisa integra o estudo “Identificação e Diagnóstico das Áreas de Risco em Manaus” CNPq, voltado ao conhecimento geográfico das inundações e dos processos de erosão na cidade. Este
recorte tem por objetivo analisar os eventos de riscos de deslizamentos e de inundação na bacia do
Tarumã-Açu como parte da interação sociedade-natureza numa dinâmica espacial da cidade formadora
de paisagens específicas em que se herdam tanto processos naturais quanto sociais, culturais,
econômicos, entre outros.
Tomamos a paisagem como herança no conceito de Ab’Sáber, (2003) que o considera “em todo o
sentido da palavra: herança de processos fisiográficos e biológicos, e patrimônio coletivo dos povos que
historicamente as herdaram como território de atuação de suas comunidades”. As paisagens formadas
por esses riscos servem à manutenção de uma realidade histórica de desigualdades sociais, culturais e
econômicas que se refletem em segregações espaciais constituídas em bairros, conjuntos,
“comunidades”.
A desigualdade é garantida pela concentração de riqueza e pela lógica do mercado que permite a uma
pequena parcela da população empregar, independentes do Estado, melhores condições estruturais.
Enquanto que em grande parte dos aglomerados os mais pobres se submetem a condições, muitas
vezes, subumanas de sobrevivência em lugares sem infra-estrutura e mais suscetíveis aos processos
naturais.
2.Materiais e Métodos
O crescimento urbano de Manaus acarretou problemas sociais e ambientais como a constituição de
áreas de risco envolvendo a dinâmica social e natural em sua formação. Desta forma, fala-se de um
espaço total (AB’SÁBER, 1994) constituinte de uma paisagem específica (área de risco), necessitado de
uma metodologia que abranja seus vários elementos.
No intuito de apresentar a dialética da paisagem das áreas de risco seguindo os procedimentos
metodológicos do projeto maior (Identificação e Diagnóstico das Áreas de Risco em Manaus)
escolhemos uma unidade da paisagem que integralizasse os processos naturais e sociais, as bacias
hidrográficas urbanizadas. Assim, a área de estudo corresponde à jusante da bacia do Tarumã-Açu,
dentro da área urbana.
Ainda que a bacia seja nossa unidade espacial de análise, nosso estudo se concentra nos tributários da
margem esquerda do baixo curso, parte que corresponde pela ria situada na porção Noroeste da área
urbana.
Os bairros abrangidos pela área da bacia são: na zona norte, Colônia Terra Nova, Monte das Oliveiras,
Santa Etelvina, e parte do bairro Cidade Nova; na zona Centro-Oeste são os bairros Redenção e
Planalto; na zona Oeste o Lírio do Vale, Ponta Negra e Tarumã.
O conceito de risco adotado neste trabalho condiz com os regulamentos oficiais que envolvem
probabilidade de exposição de grupos ou de um indivíduo a um evento potencialmente destrutivo e
danoso social, cultural e economicamente (BRUNET, 1993, BRASIL, 1998), passível ou não de
mensuração.
3.Resultados e Discussão
Compreender a cidade é abarcar os diversos processos sociais existentes em sua construção, de acordo
com Carlos (2001) a cidade é o produto de um processo histórico. É também um produto social, pois
conforme Lefebvre, “sempre teve relações com a sociedade no seu conjunto” (LEFEBVRE, 2001, p.46).
Deste modo ao longo dos séculos cidades foram construídas de acordo com as sociedades existentes,
que imprimiram na paisagem seus modos de vida. Ainda segundo Carlos (2006),
“a reflexão sobre as dinâmicas urbanas obrigam-nos a considerar o movimento da história enquanto
possibilidade da construção real e continuada da cidade, do ponto de vista da análise geográfica,
significa analisar a cidade enquanto prática espacial em sua constituição social e histórica” (CARLOS,
2006).
Em Manaus esta dimensão histórica acontece (u) em uma plataforma que constitui a estrutura da Bacia
Paleozóica do Amazonas, em terreno sedimentar Alter do Chão, caracterizado por intensa dissecação do
relevo. A cidade se estabeleceu entre rias (Mindu e Quarenta), rios de foz afogada, como o do
Tarumã-Açu. A área de estudo corresponde a três sub-bacias que deságuam nesta ria (Mariano, Bolívia
e Gigante). Aí, ocorrem lineamentos considerados zonas de falha (E-W) associados a processos
neotectônicos que originaram cachoeiras, grandes afloramentos do nível basal do Arenito Manaus
(SILVA, 2005, CARDOSO, 2008).
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A cidade teve um rápido crescimento demográfico com a instalação do pólo industrial. A chegada dos
migrantes significou um aumento da demanda por lugares com boas condições para construção, não
acessível aos de menor poder aquisitivo que eram, sobretudo, em maior número. Atraídos pelas
oportunidades de emprego um grande número de pessoas não encontraram condições para morar. As
construções de conjuntos habitacionais não foram, assim como hoje, suficientes e nem acessíveis aos
mais pobres.
Neste período também se intensificaram a exploração mineral que já acontecia nos afluentes do Tarumã,
próximos a Manaus. Afloramentos de arenitos silicificados (NAVA, 1996; SILVA, 2005; CARDOSO, 2008)
nas margens, principalmente do Bolívia, o maior dos três afluentes componentes da bacia, era
dinamitado para extração de brita e pedra em blocos, havia também a exploração de areia quartzosa,
arenito e argilito silicificado, todos utilizados na construção civil (CARDOSO, 2008).
A implantação das fábricas do distrito industrial significou o marco temporal e espacial em que as terras
passaram por uma valorização, tornaram-se um espaço-mercadoria cujo acesso foi mediado pelo
mercado. Nesse processo houve o que Carlos (2007) chama de promoção do papel e da força da
propriedade do solo, restringindo o acesso da sociedade.
Nesse sentido a localização das moradias em lugares com ou sem estruturação passa pelo poder de
compra. Assim, localidades estruturadas, geralmente nos platôs, com pavimentação e melhor provimento
dos serviços urbanos, são destinadas e apropriadas por uma classe de maior poder aquisitivo e com
poder de influência em instâncias políticas. Isso é latente nas vias principais
As sobras no espaço, geralmente, os fundos de vale, sazonal ou sempre encharcado; as vertentes
íngremes são os locais preteridos para construção. Primeiro por serem meios, comumente instáveis,
onde predomina a morfogênese. Segundo, exatamente pela primeira característica, serem locais de
elevados custos para a estabilização do terreno (nas fundações e contenções de arrimo). É justamente
nestes espaços onde predomina a erodibilidade dos terrenos, onde ocorreu exploração mineral, que os
mais pobres constroem. É nesses últimos que predominam características de maior vulnerabilidade
desses grupos sociais aos riscos de deslizamento e/ou inundação. A baixa renda dos ocupantes não lhes
permite acompanhar os regulamentos formais da construção civil que aliado à suscetibilidade dos locais
os torna áreas de risco, até mesmo, permanentes.
A analogia do funcionamento da cidade a um metabolismo urbano, de Ab’Sáber (2004) serve a esta
análise no sentido da explicação da entrada e processamento de uma série de “diferentes tipos de
descargas relacionadas a processos biológicos, atividades industriais e comerciais, circulação de
veículos e resíduos de todos os tipos” advindos de um contingente não aguardado e que para estes não
existia estruturas suficientes. A sobrecarga às estruturas existentes permitiu o aparecimento de diversos
tipos de ilegalidades (fundiária, de energia, de descarte de resíduos, esgotamento de efluentes sem
tratamento, entre outros) que somados aos problemas da exploração mineral constituíram paisagens
degradadas e degradantes. Estas são necessitadas de planejamento com critérios de inteligentes de
aproveitamento dos recursos minerais e das paisagens cênicas, sem esquecer as suas funções, antes
de tudo, sociais, geralmente sublimadas pelos interesses econômicos.
A atividade mineradora na área da bacia do Tarumã foi proibida em 1989 (NAVA, 1996). Os efeitos
danosos de destruição da paisagem, alteração do funcionamento ecológico, poluição das águas, no
assoreamento de nascentes e cursos d’água, formação de lagos nas cavas abandonadas com prejuízo à
flora, à fauna e aos pequenos agricultores e às “comunidades” (Lago Azul, Parque São Pedro, entre
outros) estabelecidas ao longo dos canais, continuam.
O Bairro Lago Azul é um dos que foram emancipados em 2010 na Lei de 10 de Janeiro de 1.401 que
dispôs sobre a inclusão de novos bairros em Manaus. É uma área de antiga extração de materiais para
a construção civil ao longo do igarapé do Bolívia.
Nos trabalhos de campo pudemos verificar casas construídas perto dos taludes cortados ou em processo
de erosão e também nas planícies formadas pela extração de material, cujo nível permite rápido
transbordamento das margens do igarapé e em alguns locais formam-se pequenos lagos.
Dos históricos da Defesa Civil, observações de campo e relatos dos episódios de enchentes ou
deslizamentos pelos próprios moradores, foram mapeadas as áreas de riscos de grau 3 para os
deslizamentos e 3 para as inundações próximas aos lagos, e 2 na alameda B.
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Mapa da Identificação das áreas de risco em uma parte do bairro Lago Azul, na beira do igarapé do
Bolívia. Os polígonos em azul as áreas afetadas pela enchente do rio e em vermelho áreas apresentando
risco de deslizamento.
4.Conclusão
Outros fatores somam-se (ou não) nesse movimento de transformação da e na cidade representado pela
centralização, como afirma Lefebvre “Así es como cada época, cada período, cada sistema de
producción ha suscitado (producido) su propia centralización: centro político, comercial, religioso, etc.
Actualmente, el centralismo aspira ser total”. Isso se traduz em diferentes paisagens transformadas e
apropriadas por diversas classes sociais, as socioespacialidades, explicadas por Santos (1977) como
sendo resultado da forma de produção que determinadas formações sociais realizam seu modo de vida.
A delimitação espacial da produção existencial do homem urbano, sua história, seu processo de
humanização, seu produto concreto (o espaço), as representações das relações sociais criadas em cada
momento do seu processo de desenvolvimento, define um espaço, define a cidade (CARLOS, p. 28,
2003; MOYSÉS, 2007). Para Moysés (2007) o urbano corresponde ao modo de vida na cidade.
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