VARIABILIDADE MORFOLÓGICA EM ACESSOS DE CEREUS PERUVIANUS MILL. (CACTACEAE) DO SEMI-ÁRIDO PIAUIENSE Francykleia de Sousa Alves (Bolsista PIBIC / UFPI); Karolla Inezília Pereira (Colaboradora,UFPI-CSHNB-Picos/PI); Massaine Bandeira e Sousa (Colaboradora,UFPICMPP- Teresina/PI); Camila Silva Alexandre Veronez (Colaboradora,UFPI-CMPPTeresina/PI); Gleice Ribeiro Orasmo (Orientadora, UFPI-CSHNB-Picos/PI) 1. Introdução Cereus peruvianus é uma espécie pertencente à família das Cactáceas, sendo popularmente conhecida no Brasil como mandacaru e urumbeva. É comumente cultivado em jardins com grande importância ornamental e apresenta também interesse econômico e industrial. As plantas desta espécie produzem alcalóides aminas (Oliveira e Machado, 2003), ésteres de cera com potencial de aplicação como barreira impermeável (Dembitsky e Rezanka, 1996; Rezanka e Dembitsky, 1998), e uma goma viscosa com diversas aplicações industriais (Alvarez et al., 1995; Barros e Nozaki, 2002). A espécie C. peruvianus vem sendo recentemente domesticada na região de Israel (Nerd et al., 1993; Mizrahi e Nerd, 1999) e plantada comercialmente ainda em pequena escala. Entretanto, o programa de melhoramento genético para a obtenção de frutos comercializáveis vem sendo limitado pela baixa variabilidade genética encontrada nos clones (Gutman et al., 2001). Uma alternativa para ampliar a base genética dos clones de C. peruvianus é providenciar o cruzamento destes com genótipos mantidos no centro de origem da espécie, onde é esperado encontrar maior diversidade genética. A origem desta espécie ainda não está esclarecida, mas que alguns autores suspeitam ter sido originada no Brasil (Mizrahi e Nerd, 1999). Investimentos têm sido feitos em programas de melhoramento para seleção de frutos de C. peruvianus (Mizrahi et al. 1997; Mizrahi e Nerd, 1999), bem como para estimar a diversidade genética na espécie por meio de marcadores bioquímicos (Mangolin et al., 1997; Machado et al., 2000) e moleculares (Rezende, 2006). Embora pouca ênfase tenha sido dada na literatura para os marcadores morfológicos, os quais apresentam grande potencial para a estimativa de diversidade genética em espécies vegetais. Assim, a proposta do presente estudo foi analisar a variabilidade existente em populações de C. peruvianus encontradas no Nordeste brasileiro, por meio de marcadores morfológicos, usando para isto as sementes extraídas dos frutos maduros. 2. Metodologia Para analisar a variabilidade existente em populações de C. peruvianus encontradas no Nordeste brasileiro, foi feita a caracterização morfológica das sementes. Foram coletados três frutos de 14 acessos, totalizando 42 amostras. As amostras foram coletadas em jardins e reservas vegetais dos municípios de Teresina (amostras de 1 a 5), Ipiranga do Piauí (amostra 6), Elesbão Veloso (amostra 7), Demerval Lobão (amostra 8) e Picos (amostras 9 a 14), no Estado do Piauí. Para a extração das sementes foram utilizadas peneira e água corrente, e, após a secagem em temperatura ambiente, as sementes, separadas por amostras, foram armazenadas em sacos de papel e catalogadas. A análise da diversidade morfológica foi feita com base em seis variáveis: 1ª) número total de sementes por fruto; 2ª) peso total de sementes por fruto; 3ª) peso de 100 sementes por fruto; 4ª) comprimento médio de 10 sementes por fruto; 5) espessura média de 10 sementes por fruto; 6) largura média de 10 sementes por fruto. Os dados foram computados, utilizando o programa GENES (Cruz, 2006), e foram feitas as análises pelos métodos de agrupamentos UPGMA e Tocher, utilizando a distância Mahalanobis como medida de dissimilaridade. 3. Resultados e Discussão Pelo método de Tocher as populações de C. peruvianus do Estado do Piauí analisadas, foram distinguidos em três grupos, tendo sido as amostras 3, 4, 5, 7, 6, 1 e 8 agrupadas no grupo I, as amostras 11, 12, 14, 9 e 10 no grupo II e a amostra 13 no grupo III. Pelo agrupamento de UPGMA formaram-se dois grupos, sendo que foram agrupadas as amostras 3, 4, 5, 7, 6, 1, 2 e 8 em um grupo e as amostras 11, 12, 14, 9, 10 e 13 em outro grupo (Figura 01). Os resultados mostraram que houve uma correlação parcial entre genótipo e localidade, visto que pelos dois métodos analisados, as amostras do município de Picos, distante 300 Km da capital Teresina, formaram um grupo separado das amostras dos demais municípios, próximos ou não um do outro, os quais formaram um outro grupo. Porém, pelo método de Tocher a amostra 13, coletada no município de Picos, ficou em um grupo isolado, grupo III, apresentando, por este método, o maior limite de distância intergrupo. Ainda assim, os dois métodos foram bastante coincidentes, porque embora pelo método de Tocher, a amostra 13 foi separada das demais amostras do município de Picos, pelo método de UPGMA, esta foi alocada dentro do mesmo grupo (todas de Picos), entretanto, distinguida das demais amostras deste município. Entre amostras do mesmo município houve baixa variabilidade, enquanto que a variabilidade foi maior entre os municípios. A baixa variabilidade encontrada entre as amostras de um mesmo município indica que estes são clones, devido, provavelmente, à forma de propagação destas plantas, uma vez que as amostras foram coletadas em jardins da zona urbana dos municípios. A variável que apresentou maior contribuição relativa para a divergência genética foi o peso de 100 sementes por fruto. Os resultados desta avaliação poderão ser úteis para subsidiar programas de conservação da biodiversidade para esta espécie e também poderão indicar as populações mais eficientes (em função de sua variabilidade genética) para compor os programas de melhoramento com o objetivo de ampliar a base genética da espécie. Figura 01. Agrupamento de 14 genótipos de Cereus peruvianus pelo método de UPGMA, com base em seis marcadores morfológicos, Teresina, UFPI, 2009. 4. Conclusão Houve parcial correlação entre amostras e localidade, tendo sido as amostras do município de Picos separadas das demais. Entre amostras do mesmo município houve baixa variabilidade, enquanto que a variabilidade foi maior entre os municípios. A variável que apresentou maior contribuição relativa para a divergência genética foi o peso de 100 sementes por fruto. Apoio financeiro: UFPI 5. Referências Bibliográficas ALVAREZ, M., COSTA, S.C., HUBER, A., BARON, M., FONTANA, J.D. 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