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FATAB – FACULDADE DE TEOLOGIA AVIVAMENTO BÍBLICO
I – TEOLOGIA PROTESTANTE
1.1.
Ortodoxia Protestante, Racionalismo, Pietismo, Iluminismo
O período pós-reforma é caracterizado pelo desenvolvimento da ortodoxia1
protestante. É um período de desenvolvimento de um novo pensar teológico, a partir da
propostas dos reformadores.
A ortodoxia protestante estava baseada em dois princípios: o formal, caracterizado
pela ênfase na interpretação das escrituras; e o material, baseado nas doutrinas básicas
propostas na reforma, como justificação, fé, graça.
O que acabou acontecendo é que na ortodoxia acaba-se construindo aquilo que
Tillich chamou de “um universo de dois andares”, ou seja, a ortodoxia se multiplicou em
duas teologias a natural e a revelada, em que a primeira – considerada do andar de baixo
– estava ligada a razão, e a segunda – considerada do andar de cima – ligada a mística.
Após a reforma protestante, surge um fenômeno parecido com o período
medieval, considerado pelos historiadores da igreja como “escolástica protestante”, que
consistia na tentativa de ensinar a tradição bíblica “a toda a criatura”. Ao contrário do
período medieval, em que a igreja era a intermediadora entre Deus e os seres humano,
logo, a salvação era intermediada pela instituição religiosa.
A teologia da reforma propunha que todo cristão deveria passar pela experiência
da graça, ou seja, de confessar seus próprios pecados, experimentar o arrependimento, e
reconhecer que poderia ser salvo, independente da legitimação da instituição religiosa.
Essa autonomia do fiel com relação a salvação deveria vir pelo conhecimento da
tradição bíblica, das doutrinas cristãs, daí surge uma problemática: como ensinar a todos
por intermédio da razão para alcançarem a salvação? Os clérigos seriam “mais salvos”
que os leigos?
Decorrentes a tais problemáticas surgem os cursos de formação religiosa,
catecismos, círculos de leitura da bíblia, para que todos entendessem a os ensinamentos
do cristianismo, de uma forma interpretada pelos teólogos protestantes, bem mais clara, e
1
Poderíamos considerar aqui ortodoxia enquanto “opinião correta”.
3
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sem complicações teológicas. Surge então o racionalismo, enquanto tentativa de utilizar
a razão para compreensão da fé, da salvação e da graça.
Entretanto, Tillich (1986, 39) afirma que o grande problema do racionalismo foi
acreditar que não dependia do “andar de cima” para fazer sua teologia, ou seja, qualquer
pessoa possuidora de razão poderia fazer teologia. Entretanto, os pietistas afirmavam
categoricamente que seria impossível compreender toda a teologia protestante e por este
motivo ter uma experiência mística com Deus, pois haveria necessidade do novo
nascimento.
O pietismo foi um movimento que surgiu dentro da ortodoxia protestante, mas,
que lutou arduamente contra a ortodoxia, principalmente pelo medo do uso radical da
razão. Ele não admitia que a teologia formal se rebelasse contra a teologia revelada. O
que de fato reivindicavam era a experiência relacional com Deus para o fazer e viver
teológico, sem muita, ou quase nenhuma, interferência da razão.
Essa luta travada entre o “andar de baixo” e o “andar de cima” fez com que o
pietismo abalasse a ortodoxia, legitimado pela tradição dos reformadores, que buscavam
além da razão a experiência mística com o sagrado.2
A crítica de Tillich (1986, 45) a respeito do racionalismo se dá no momento em que
o protestantismo perde seu lado místico e se transforma numa religião moral, tirando de
sua constituição a experiência espiritual com Deus.
Outro momento marcante para a história da teologia é o advento do iluminismo,
que busca na liberdade humana o uso da razão, sem a influência de outras pessoas ou
instituições. Dessa forma, tal definição evidentemente excluiria a religião da vida do
indivíduo. Este período de fato representa a revolta da teologia natural contra a teologia
revelada.
A preocupação primeira do iluminismo era prever a realidade para poder controlála e transformá-la, logo, o indivíduo do iluminismo é calculista e racionalista. Logo, a idéia
2
Não acreditamos na historicidade linear, entretanto, para clarificar metodologicamente o período teológico que estamos
tratando, consideramos a partir de agora a transição do século XVII para o XVIII.
4
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de Reino de Deus transforma-se em noção de transformação da humanidade, portanto, o
ascetismo protestante. 3
Todos os elementos irracionais (paixões, luxúria, bebidas, jogos) devem ser
exclusos da sociedade do iluminismo, da mesma forma os elementos irracionais da
religião (misticismo) também devem ser excluídos e banidos do protestantismo. Segundo
Tillich (1986, 64),
“Os burgueses precisam de uma religião razoável que vê Deus lá longe,
atrás do processo da vida. Ele teria feito o mundo, mas o deixaria às
próprias leis. Sem mais interferir. Qualquer interferência de Deus poria um
risco a calculabilidade. Tais interferências tinham que ser negadas, bem
como qualquer revelação especial.”
Percebemos então, que a teologia protestante no iluminismo colocou Deus “a longa
distância”, tornando-se numa religião do progresso burguês em que o lucro era o principal
objetivo. E onde há necessidade de lucro não dá para ter o “olho de Deus a vigiar”, visto
que há necessidade da imoralidade, da criação de desejo sobre os indivíduos, tudo isto
visando o lucro (planejado, logo, racionalizado).
É claro que com a revolta do “lado de baixo” contra o “lado de cima”, inúmeros
movimentos de resistência surgiram. Ao mesmo tempo que o século XVIII é o século do
Iluminismo, encontramos este século como o do grandes movimentos avivalistas. A
reação ao “distanciamento de Deus” provocado pelo Iluminismo veio por intermédio dos
movimentos avivalistas do século XVIII.
Por isso, que devemos refletir sobre as construções teológicas no Iluminismo,
considerados por muitos teóricos como o período da “morte de Deus” 4. Mas, ao contrário
do que se pensava sobre a “morte de Deus”, o que o século XVIII presenciou foi um
revigoramento do sagrado na Europa, que se expandiu para diversos continentes.
3
Max Weber elabora uma obra no século XIX intitulada “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, em que
analisa sociedades religiosas pietistas, e observa o racionalismo utilizado pelos protestantes para viver em sociedade. Ou
seja, o protestante é um sujeito que trabalha demasiadamente, é moderado no divertimento, economiza o máximo que
pode para guardar, daí o surgimento da burguesia. E conforme afirma Weber, o protestante com a racionalização de sua
vida religiosa e cultural, contribuiu para o surgimento do capitalismo.
4
Para maior aprofundamento sobre os conflitos existentes para a preservação da teologia, consultar o seguinte link:
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_deus.htm., consultado em 12 de junho de 2005. Este artigo
mostra a sobrevivência da religião em meio ao que os teóricos da sociologia da religião e da filosofia consideram ser a
“morte de Deus”.
5
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II – TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA
Como falamos na introdução desta pesquisa, a teologia contemporânea é
marcada pela influência de diversas características modernas. Não há como pensar numa
teologia contemporânea sem pensar em todos os acontecimentos históricos e sociais que
penetraram a história da humanidade.
Não dá para falar em teologia moderna sem pensar na primeira e na segunda
guerra mundial, sem pensar no processo de globalização, sem pensar na dominação
econômica que exercem os Estados Unidos da América, e até sobre os conflitos políticos
religiosos existentes no oriente.
Um curso sobre teologia contemporânea certamente levaria mais um semestre
para ser ministrado, tamanha a diversidade de teologias existentes atualmente. Entretanto,
podemos apenas citar algumas teologias, para que o leitor entre em contato com sua
existência.
Neste sentido, iniciaremos esta pequena e incompleta pesquisa sobre teologia
contemporânea com os clássicos da teologia moderna.
Teologia Moderna
Frederico Scheleiermacher é alemão, nasceu em 1768 e faleceu em 1831. Foi
professor e suas principais obras são: Discursos sobre Religião e A Fé Cristã. Sua
principal preocupação teológica é a recuperação da religião, no momento em que o
Iluminismo tenta afastá-la do meio racional, por isso é classificado enquanto integrante do
romantismo.
Sua proposta teológica é metafísica, considerava que o ser humano não consegue
conhecer nada a respeito de Deus, mas, reconhece que o espírito humano pode ser a
consciência Dele. A compreensão do sentimento é a chave de sua teologia, visto que o
Absoluto só pode ser atingido pelo sentimento metafísico (não psicológico).
6
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Sua preocupação era libertar a religião da ciência e da moral, para contemplar
uma religiosidade estética. Conhecimento (ciência) e vontade (moral) não podem atingir O
Absoluto, logo, é inevitável a relação entre religião e sentimento.5
Hegel e a Teologia Especulativa
Georg Johann Friedrich Hegel (1770-1831), nascido em Stuttgart, um dos mais
importantes filósofos da contemporaneidade. Seu pensamento afetou diretamente os
princípios teológicos. Rebelou-se contra os românticos, por considerar que a religião,
assim como outras realidades da vida, é formada por pensamentos e conceitos humanos.
O raciocínio é que difere os homens dos animais, Deus constituiu o ser humano
enquanto ser pensante, logo, se relaciona com ele desta forma, demonstrando assim uma
abertura para o caráter especulativo da teologia. Segundo ele, há um sistema dialético
para todos conceitos (tese, antítese e a síntese), assim como a Trindade.
Segundo ele filosofia e teologia são perfeitamente coerentes e se completam, uma
vez que o cristianismo é a etapa final do processo de evolução da religião, visto que a
considerava enquanto religião absoluta.6
Teologia Mediadora: a questão Cristológica
Esta teologia tem sua fonte na tradição inicada por Schleiemacher, é uma tentativa
de mediação entre a fé bíblica e o espírito científico, ou seja, a maior preocupação da
teologia mediadora era viver o cristianismo num momento de grande evolução científica.
Entre os teólogos que partilharam desta tendência encontramos principalmente os
discípulos de Schleiemacher. A grande questão era compreender o Jesus Histórico.
Segundo Hagglund (1995, 319) “... a natureza humana [de Cristo] é pessoa independente. A
divindade de Cristo nesse contexto era concebida como união gradual com o Pai... este conceito
significava o abandono da concepção tradicional da encarnação... ”.
Ou seja, a tentativa da teologia era compreender Cristo com sua humanidade e sua
divindade. Afirmava-se que no momento em que Jesus se fez homem, ele despojou-se de seus
5
Para maior aprofundamento deste tema ver: HAGGLUND, Bengt. História da Teologia.1995. e TILLICH, Paul. A era
protestante. Traducao de Jaci Maraschin. Sao Paulo: Traco a Traco, 1992. e TILLICH, Paul. Perspectivas da teologia
protestante nos seculos dezenove e vinte. Traducao de Jaci Correia Maraschin; edicao de Carl E. Braaten. Sao Paulo:
Aste, 1986.
6
Ibidem.
7
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atributos divinos, quando foi glorificado, os retomou. Esta cristologia é uma tentativa de
compreender as duas naturezas de Cristo (quenoticismo=despojar-se).7
Kierkegaard nasceu em 1813 em Copenhague e morreu em 1855, estudou
filosofia e teologia, revelou-se um boêmio. Sua vida é marcado pelo sofrimento e pela
angústia de um ensinamento rígido protestante dinamarquês de seu pai. Ao invés do
pastorado, Kierkegaard escolheu a solidão, escreveu inúmeros livros, é reconhecido
enquanto filósofo existencialista muito preocupado com a verdade cristã. Alguns
consideram-o mais um pensador religioso que propriamente um filósofo.
Sua compreensão sobre a individualidade está posta diante de um mundo infinito,
em que o ser humano é solitário, logo, a fé é um modo de existir. Por isso afirmava que
“creio porque é absurdo”, o sacrifício da cruz é incompreensível (conforme Paulo). O
paradoxo do absurdo nos coloca em relação com o Absoluto, o caminho é a interioridade,
a subjetividade, a nossa culpa do pecado original, isso é a religiosidade cristã, que só tem
sentido com o sofrimento da cruz, logo, não dá para sentir Cristo pela razão. Conforme
Abraão sofre ao entregar seu filho a pedido de Deus (abandono e solidão do indivíduo) é
um absurdo à ética dos homens, mas é um paradoxo. Segundo Kierkegaard Abraão é
colocado diante do absurdo da fé, diante do incompreensível. Neste momento Abraão teria
que optar pelo infinito. A fé representa um salto, não uma decisão racional, mesmo diante
das normas humanas. Viver cristo na contemporaneidade é saltar no escuro. Toda
decisão humana é alternativa, há cinqüenta por cento de chance em todas as decisões,
por alternativas e saltos.8
Karl Barth9 nasceu em 1886 e morreu em 1968. Suas obras estão divididas em
exegeses, históricas, dogmáticas e políticas. Sua teologia é marcadamente cristocêntrica,
ou seja, não há outra forma de compreender os Evangelhos se não por Cristo.
Segundo ele o evangelho é o único caminho, pois nos conduz a Cristo, portanto,
toda forma de racionalismo para compreendê-lo deve ser reprimida. Toda forma de
interpretação dos evangelhos e da tradição deve ser responsabilidade da igreja, e não de
todos os crentes.
7
Para maior aprofundamento deste tema ver: HAGGLUND, Bengt. História da Teologia.1995.
Ibidem.
9
Para maior aprofundamento ver: MONDIN, Battista. Os Grandes Teólogos do Século Vinte: teologia contemporânea.
2003.
8
8
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A teologia não deve ser reduzida a uma categoria filosófica, contudo pode ser um
bom instrumento para comunicar Deus aos seres humanos. Seu método é a palavra de
Deus, que se revela por meio da Bíblia e da pregação, logo, é considerada por Barth
“substância divina”.
Segundo Hagglund (1995, 344) a Teologia Dialética,
“... foi um dos resultados da crise cultural que surgiu como resultado
da Primeira Guerra Mundial, e continua, entre outras coisas, violenta
crítica à teologia da escola da história das religiões. Barth não
rejeitou a interpretação histórico-crítica em si, mas acreditou que
deixava de atingir seu alvo porque se ocupava com questões
periféticas e deixava de enfrentar problemas reais nos textos em
considerações... Barth pretendi substituir a interpretação meramente
filológica e histórica com uma exposição “dialética” mais profunda do
próprio material bíblico.”
Neste sentido, a interpretação dialética de Barth colocou a revelação divina na
esfera da palavra de Deus, rejeitando assim o indivíduo, seu caráter interpretativo admite
apenas relações transcendentais, em que a negação do ser humano resulta na
proximidade de Deus. A Palavra é a única forma de revelação divina do Deus do Novo
Testamento, que neste caso é Cristo, em sua realidade transcendental.
Paul Tillich10 é alemão e morreu em 1965, por tanto, podemos afirmar que é
nosso contemporâneo. Um dos autores mais citados neste trabalho é considerado um dos
sistematizadotes contemporâneos da teologia. Sua teologia tem uma característica
eclética, pois encontramos elementos barthianos e existencialistas.
É considerado um teólogo e filósofo da religião. Segundo ele Deus é a questão
última de todos os homens e mulheres, e todas as coisas são constituidas pelo princípio
da correlação: Deus – homem, cultura – igreja, etc.
A revelação é dada por Deus, logo, debe ser o objeto da reflexão teológica.
Segundo ele a teologia é constituída pelo theos, pelo logos, e pelo kairós, ou seja, há um
tempo certo para que o evento ocorra.
10
Para maior aprofundamento deste tema ver: HAGGLUND, Bengt. História da Teologia.1995.
9
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Sua teologia temu m caráter apologético ao considerar que o cristianismo pode
responder as questões existencialistas deste período de profundas mudanzas. Segundo
ele era perfectamente possível a união entre cultura e cristianismo.
Rudolf Bultmann11, teólogo alemão do século XX, influenciado pelo ceticismo.
Sua crítica é considerada conservadora e radical, dando elementos fundamentais para a
discussão a respeito do “Jesús Histórico”. Sua preocupação histórica com o cristianismo
combinava-se com a tentativa de sistematização da teologia.
Segundo ele a mensagem cristã é mitológica, logo, para comprende-la é necesario
que se desconstrua tais parámetros para compreender suas verdades existenciais.
Bultmann é responsable por um novo método interpretativo dos textos bíblicos, sua
proposta é de desmitificação do Novo Testamento, para que haja uma interpretação
existencial da realidade.
O Debate sobre o querigma e a história12, é uma tentativa de
combinar
elementos teológicos querigmáticos com a filosofia existencialista. Certamente o ser
humano está preso a normas deste mundo, e a mensagem de Cristo pode lhe libertar. O
querigma (anuncio da morte de Cristo e seu triunfo) pode dar uma libertação ao indivíduo,
novas possibilidades de existência.
Ou seja, o homem moderno poderia muito bem compreender o evangelho e
encontrar novas possibilidades, sem que para isto precisasse viver “experiências
extáticas” religiosas com o sagrado. Seria uma nova compreensão de quem somos e para
que somos enquanto realidade cosmológica na modernidade. Segundo Bultmann “a
substância do querigma independe de fatos históricos”.
Bultmann demonstrou que o cristianismo não deve se resumir num sistema de
crenças religiosas, enquanto um ideal de salvação da alma, mas, apontou a relevância
desta religião enquanto oportunidade de libertação e projeção da humanidade para a
liberdade, por intermédio da mensagem de Cristo, para o hoje, não para o futuro glorioso.
Podemos considerar que a Teologia da Libertação é um produto autenticamente
produzido na América Latina, ou seja, não é um “enlatado” oriundo de países europeus
mais desenvolvidos.
11
12
“A teologia da libertação é um movimento teológico que quer
Idem.
Ibidem.
10
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mostrar aos cristãos que a fé deve ser vivida numa práxis libertadora e que ela pode
contribuir para tornar esta práxis mais autenticamente libertadora” (MONDIN, 1980, p.
25).13
A teologia da libertação surge num momento propicio para a América Latina,
aproximadamente nas décadas de 60 e 70, em que o mundo e principalmente a américa
Latina é foco de revoluções. É um momento em que a sociedade parece estar em
constante efervescência na esfera política e social. Desta forma, percebe-se a
necessidade de se fazer uma teologia que tivesse características latinas, e não mais
européia. Mesmo porque a realidade da Europa, no que diz respeito a condição social e
de classe, era diferente da latina. Daí a necessidade de se fazer uma teologia própria.
A América Latina sempre foi considerada – assim como o continente africano – um
aglomerado de indivíduos pobres e ignorantes. O objetivo da TL era então a inclusão dos
empobrecidos14, era pensar uma teologia que incluísse as categorias marginalizadas.
Fazer teologia da libertação significa pensar um discurso sobre Deus a partir da denúncia
social, da libertação do oprimido e das desigualdades sociais.
Deus não é um sujeito que está longe da terra, pelo contrário Ele age na história,
em meio ao empobrecido, na luta de classe, o Espírito é o grande impulsionador da luta
pelas desigualdades sociais, ele age na realização e modificação da história. A fé neste
movimento está marcadamente influenciada pela libertação do oprimido.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A teologia contemporânea assume uma característica inevitável: a de pensar o
discurso sobre Deus a partir de pequenos grupos. Se pudéssemos definir a teologia
13
Para um melhor aprofundamento sobre o tema ver: BOFF, Leonardo, BOFF, Clodovis. Como fazer teologia da
libertação. Petrópolis: Vozes, 1986. BOFF, Leonardo. Teologia do cativeiro e da libertação. Petrópolis: Vozes, 1980.
e o O caminhar da Igreja com os oprimidos: do vale das lágrimas à terra prometida. Rio de Janeiro: Codecri, 1980.
MONDIN, B. Os teólogos da libertação. São Paulo: Paulinas, 1980.
14
Ao invés de utilizar simplesmente a categoria “pobre”, a TL optou pela categoria “empobrecido”, uma vez que era
uma condição de distribuição social, os empobrecidos não nasceram pobres, mas são fruto da desigualdade de renda, e
da concentração de capital na mão de poucos.
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contemporânea em poucas palavras, afirmaríamos que ela é constituída a partir da
pluralidade teológica.
A todo o momento surgem grupos que julgam possuir uma teologia correta. Até
mesmo grupos outrora marginalizados, como é o caso das feministas, dos negros, dos
homossexuais, conclamam para si uma teologia própria que lhes inclua enquanto
categoria de representatividade teológica.
A história da teologia contemporânea é constituída a partir do surgimento de
teologias paradoxais, como é o caso da Teologia Feminista, muito difundida na América
Latina, constituindo uma reação à Teologia da Libertação, que apesar de pensar uma
teologia a partir do pobre, não focalizava a exclusão das mulheres; a Teologia Womanist,
que busca fazer teologia a partir das mulheres negras e marginalizadas nos Estados
Unidos; a Teologia da Negritude, que propõe um pensar teológico negro, baseado nas
diferenças étnicas e “raciais”; a Teologia Indecente, teologia norte americana que pensa
a teologia a partir de grupos marginalizados de minorias sexuais (gays, lésbicas,
bissexuais, transexuais, e outros); a Teologia Ecofeminista, que atribui ao patriarcalismo
tanto a exclusão das mulheres, quanto a exploração da natureza.
Como é possível demonstrar poderíamos alencar uma infinidade de teologias
contemporâneas, entretanto, acreditamos que para compreendermos o processo de
construção teológica na modernidade, faz-se necessário entrarmos em contato com as
origens do processo de construção da teologia cristã.
Este processo de construção do cristianismo não se dá de forma linear, e muito
menos sem conflitos, mas, enquanto processo dialético é construído num longo e
duradouro período de dois mil anos. Além do mais, a teologia cristã não caiu do céu como
uma “pomba branca” que pousa delicadamente em uma superfície segura, pelo contrário,
a história da teologia cristã inicia seu processo num mundo helenizado, que favoreceu a
propagação do Evangelho, mas, que também exigiu um grande esforço para se manter
enquanto realidade teológica.
Portanto, compreender o processo teológico contemporâneo é voltar às raízes
históricas, e compreender que muitos conceitos encontrados na teologia cristã têm sua
fonte num mundo helenizado, pagão, e marcadamente influenciado pela filosofia.
12
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http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_deus.htm
14
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No mínimo 10 páginas digitado.
15
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