TÍTULO:AVALIAÇÃO DA INCIDÊNCIA DA DENGUE NO CAMPUS DA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO ATRAVÉS DA CONFIRMAÇÃO SOROLÓGICA AUTORES: Cavalcanti, A. C.; Oliveira A. C. S. de; Pires, E. C. ; Lima, L. S. A. de ; Alves, L. D. R. B.; Alves, M. F. G. M. S.; ²Vasconcelos, S. D. INSTITUIÇÃO:UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO – Departamento de Biologia – Área de Zoologia A dengue é uma doença viral, caracterizada por um quadro clássico de síndrome febril. Origina-se de uma arbovirose de suma importância para o homem e um grave problema de Saúde Pública em áreas urbanas, periurbanas e rurais, nas zonas tropicais e subtropicais do mundo. Este trabalho teve como objetivo verificar o grau de conhecimento da necessidade de exame sorológico para confirmação de casos de dengue. A pesquisa foi realizada no Campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco, no mês de abril de 2002 e constou da aplicação de um questionário à comunidade universitária. Foram realizadas 230 entrevistas a alunos, professores e funcionários. As variáveis utilizadas para a coleta de dados foram Sexo, Idade, Tipos de Dengue (Clássica ou Hemorrágica) e Confirmação Sorológica. Os resultados demonstraram a incidência maior em indivíduos do sexo feminino (54%), na faixa etária compreendida entre 20 e 30 anos (59%), acometidos do tipo clássico de dengue (98%), dos quais, menos da metade (35%) confirmou a doença através de exames sorológicos. Isto indica o comportamento ainda negligente das pessoas que, apesar de tantas campanhas veiculadas na mídia, não valorizam a notificação e a confirmação sorológica. Os resultados ressaltam a necessidade de programas de extensão mantidos pelas universidades, com o objetivo de informar a comunidade sobre a necessidade da realização de testes sorológicos para confirmação de casos da dengue e seu tratamento correto. Sugere-se a continuidade da pesquisa utilizando como público-alvo comunidades circunvizinhas, visando uma ação educativa e preventiva. PALAVRAS-CHAVE – Dengue, Dengue-Sorologia, Arbovirose. ÁREA TEMÁTICA – VI Saúde: Novas Endemias e Epidemias e-mail – [email protected] INTRODUÇÃO 1 A dengue é uma doença viral que se caracteriza por um quadro clássico de síndrome febril (Farace, 2002), de infecção aguda com erupção, dores severas e adenopatias múltiplas. Atualmente a dengue é a mais importante arbovirose do homem, mostrando ser um grave problema de saúde pública em áreas urbanas, periurbanas e rurais, nas zonas tropicais e subtropicais do mundo (Marcondes, 2001). Clinicamente esta doença pode evoluir para duas formas diferentes: a dengue clássica (DC) considerada benigna e a febre da dengue hemorrágica (FDH), que pode ser fatal (ibid). Conforme a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA, 2001), o agente etiológico da dengue é um arbovírus (vírus transmitido por artrópodes) do Gênero Flavivirus, da Família Flaviviridae, do qual já se conhecem quatro sorotipos (1, 2, 3, 4), tendo como principal vetor o mosquito do gênero Aedes aegypti. De acordo com Pontes e Ruffino-Netto (1994), a infecção causada pelo vírus da dengue assegura imunização completa, pelo resto da vida, contra aquele sorotipo e promove proteção cruzada, durante aproximadamente doze semanas, contra os outros sorotipos. Geograficamente Aedes aegypti predomina em áreas tropicais e subtropicais, entre os paralelos de 45°N e 35°S (Marcondes, 2001), não sendo bem adaptado para grandes altitudes (Lucena, 1997). É um mosquito cosmopolita e sua disseminação sempre acompanha o homem, como também de forma passiva via aérea ou terrestre (Marcondes, 2001). Possivelmente o Aedes aegypti é de origem africana, região da Etiópia e acredita-se que foi introduzido na América no período da colonização através de embarcações provenientes daquele continente (Pontes e Ruffino-Netto, 1994). Segundo Vianna (2002), a transmissão dos arbovírus para o homem e animais domésticos pode ser feita em dois contextos diferentes: Ciclo silvestre, quando a contaminação do homem e dos animais domésticos ocorre ao entrarem em contato nas áreas enzoóticas ou quando ocorre uma extensão da atividade viral destas áreas para lugares próximos habitados pelo homem; Ciclo de transmissão urbana, quando o hoespedeiro é infectado em outro local de circulação do vírus, podendo iniciar um ciclo urbano (em vilas ou cidades), envolvendo o vetor doméstico com capacidade de transferir estes vírus para pessoas ou animais domésticos ou sinantrópicos. Campos (1995) afirma que a transmissão é feita pela picada do mosquito-fêmea infectado, estabelecendo os elos epidemiológicos envolvidos na transmissão da doença, assim resumidos: mosquito infectado ⇒ homem susceptível ⇒ homem infectado ⇒ mosquito infectado. A falta de uma política séria e o descaso com que é tratada a Saúde Pública, revela que o país vive hoje uma grande epidemia de dengue e está trazendo danos letais para a população. 2 A importância do exame sorológico reside no fato de que através dele é possível identificar o número de indivíduos acometidos pela doença, determinar estatisticamente o tipo de dengue verificado e controlar a disseminação, em áreas próximas, dos casos confirmados. OBJETIVOS Geral – Avaliar a incidência de Dengue no Campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco, confirmada através de sorologia. Específicos – Confrontar o número de indivíduos entrevistados com sexo e com idade; Notificar o número de casos de Dengue Clássica e de Dengue Hemorrágica dentro da comunidade universitária; Confrontar o número de indivíduos entrevistados com aqueles que fizeram confirmação sorológica. METODOLOGIA O trabalho foi desenvolvido dentro da comunidade universitária da Universidade Federal Rural de Pernambuco, bairro de Dois Irmãos, Recife, PE, em abril de 2002, como parte integrante da disciplina Metodologia e Redação Científica, do curso de especialização em Zoologia, ministrada pelo Professor Doutor Simão Dias Vasconcelos. De acordo com informações da Pró-Reitoria de Planejamento, a comunidade universitária, em 2002, é constituída por 386 Docentes, 6.713 Discentes e 810 Técnico Administrativo, perfazendo um total de 9.029 pessoas. Esta pesquisa foi realizada baseando-se em um questionário com as seguintes variáveis: sexo, idade, tipo de dengue (Clássica ou Hemorrágica) e confirmação sorológica. Os indivíduos foram questionados na biblioteca, no restaurante, em salas de aula, no corredor e no prédio central, no entanto somente os que afirmaram já ter desenvolvido a doença foram entrevistados. Os dados obtidos com o questionário foram avaliados através de cálculo dos valores percentuais de cada variável em questão. RESULTADOS E DISCUSSÃO As pessoas entrevistadas na comunidade científica que afirmaram ter contraído dengue totalizaram 230. Dentre estas, as mulheres apresentaram maior incidência, alcançando oito pontos percentuais a mais do que os homens, conforme está demonstrado no Gráfico 1. Contudo, verifica-se que a diferença percentual entre homens e mulheres que tiveram a doença é bastante 3 pequena, não fornecendo evidências claras de que a Dengue seja mais frequente entre as pessoas de sexo feminino. Presoto (1996) demonstrou em seu trabalho realizado em Barra das Garças, MT, que a maior prevalência da dengue ocorre entre indivíduos do sexo masculino, com faixa etária acima de 40 anos. A população desta localidade difere das características do estudo realizado no Campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco. 46% 54% Fem. Masc. Gráfico 1 - Percentual de Pessoas do sexo Masculino e Feminino que tiveram Dengue Dentro do contexto universitário, a faixa etária mínima para ingresso na faculdade é de 16 anos. Apesar disso, a maior parte das pessoas entrevistadas que havia contraído dengue, estava na faixa de 20 a 30 anos, com 59%, como se pode verificar no Gráfico 2. Esses dados, no entanto, não se mostraram muito significativos, uma vez que normalmente é essa a faixa etária de uma comunidade universitária, o que sugere uma expansão da pesquisa. Gráfico 2 - Percentual de Pessoas por Faixa Etária que tiveram Dengue 4 No universo dos entrevistados que confirmaram através de exames sorológicos a presença de dengue, apenas 2% foram acometidos da forma mais grave que é a Febre da Dengue Hemorrágica (FDH), enquanto que a grande maioria (98%) foi acometida apenas da Dengue Clássica, de acordo com o Gráfico 3. Apesar da Dengue Hemorrágica ser a mais grave, a maior incidência é ainda a da Dengue Clássica. Gráfico 3 -Percentual de Pessoas que tiveram Dengue Clássica e Dengue Hemorrágica A confirmação sorológica foi feita por apenas 35% dos entrevistados (Gráfico 4). Esperava-se que, por ser realizada num ambiente universitário, a frequência de notificações e confirmação sorológica fosse maior, justificada pelo melhor acesso da comunidade à informação, fato que não ocorreu. Gráfico 4 - Percentual de pessoas que fizeram o exame sorológico 5 Virgilia (1999) realizando inquérito sorológico pó-epidêmico na zona urbana de São Paulo, coincidentemente nos mostra a necessidade de uma avaliação da incidência, realizada através da comprovação sorológica. De acordo com Strabelli (2002), a suspeita da doença é uma questão clínica, porém a confirmação sorológica deve ser feita, por exame de sangue, para detectar anticorpos contra o vírus. Souza (2002), confirma, acrescentando que a identificação da etiologia de Dengue só é possível através da cultura do vírus em laboratório de referência. Granato (2002) afirma que, em caso de suspeita de Dengue, não é recomendada a realização da sorologia antes do sexto dia após o começo dos sintomas, pois sorologias colhidas antes deste prazo podem originar resultados falso-negativos. Martins (2002), alerta para a correta comunicação aos órgãos de saúde dos casos da doença, o que evidencia a necessidade de uma estatística bem elaborada dos dados obtidos pelas notificações. Conforme o Centro de Informação em Saúde para Viajantes – CIVES – a comprovação do diagnóstico de Dengue não é útil para o tratamento da doença, porém o exame sorológico do diagnóstico poderá servir para outros fins, como vigilância epidemiológica e estatísticas. No levantamento da incidência de Dengue realizado no Campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco, ficou evidente que a maioria dos entrevistados não se dispõe a fazer a confirmação sorológica, deixando de revelar os dados corretos para as estatísticas e, conseqüentemente, tornando falhos programas de controle que são elaborados baseando-se nestas pesquisas de dados. O resultado da pesquisa comprovou que a dengue clássica é, realmente, a de maior ocorrência, no entanto, é necessário um estudo mais minucioso com relação ao sexo e à faixa etária. Todavia, é da maior importância que os serviços de Saúde Pública reforcem a assistência de qualidade à população, mediante diagnóstico precoce e tratamento adequado dos acometidos pela Dengue. É importante também, que a população aplique métodos preventivos da doença e que confirme, com exame sorológico, todos os casos suspeitos. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Saúde – Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) – Manual de Normas Técnicas – Brasília. Abril/2001 CAMPOS, Juarez de Q. – Pesquisa de Campo na Administração da Saúde, Ed. Jotacê. São Paulo, 1967. FARACE, M.D. – Testes Laboratoriais no Diagnóstico da Dengue: uma experiência recente. Newslab – Revista do Laboratório Moderno, V 31.pp.1-4. http://www.newslab.com.br 26/04/2002. GRANATO, C. – Dengue: Aspectos Clínicos e Diagnósticos – http://jbqweb01.fleury.com.br/mednews/0202/feb020202.htm LUCENA, Regina C.B. de – Dengue no Município de Olinda/PE: um Perfil controverso. Monografia(Residência em Medicina Preventiva e Social) Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva/FIOCRUZ. Recife, 1979. MARCONDES. C.B. – Entomologia Médica e Veterinária. Ed.Atheneu, São Paulo, (6):59 – 103p, 2001. MARTINS, L. – Dengue: Epidemia Mostra Violência Inesperada. Jornal da Ciência – http://www.sbpcnet.or.br - 08/ 03/2002. PONTES, R.J.S. & RUFFINO-NETTO, A. – Dengue em localidade urbana da Região Sudeste do Brasil: Aspectos Epidemiológicos. Revista de Saúde Pública, São Paulo, 28:218 – 27p., 1994. PRESOTO, L. – Uma avaliação do perfil do portador de dengue notificado durante o ano de 1996 no Município de Barra das Garças, MT – Pesquisa de Campo. Ed. Jotacê, São Paulo, 1996. SOUZA, J.W.M. – http://www.geocities.com/hotsprings/1613/dengue.htm STRABELLI, T.M.V. – http://www.sosdoutor.com.br/sosinfecção/dengue.htm VIANNA, R.M.S. – A Transmissão de Arboviroses e Encefalites. Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro – http://sbpcnet.org.br - 04/04/2002. VIRGILIA, L.C. – Dengue: Inquérito Sorológico pós-epidêmico em Zona Urbana do Estado de São Paulo (Brasil) – Revista de Saúde Pública, V33(6): 566 – 74p., 1999. 7