Apoio Filtros harmônicos eletromagnéticos 40 O Setor Elétrico / Março de 2009 Capítulo I Uma abordagem à filtragem de harmônicos por meio de dispositivos eletromagnéticos Por Fernando Nunes Belchior, José Carlos de Oliveira e Luis C. Origa de Oliveira O termo “Qualidade da Energia Elétrica” está padrões da qualidade do fornecimento, de forma a relacionado a uma série de fatores que podem afetar assegurar o bom funcionamento dos sistemas elétricos. e/ou comprometer a qualidade do projeto e do serviço de suprimento elétrico. Dessa forma, qualquer os desvios da qualidade da energia ou, mais desvio que possa ocorrer na magnitude, forma de especificamente, onda ou frequência da tensão e/ou da corrente conhecidos em todos os setores especializados, elétrica caracteriza uma rede elétrica com qualidade principalmente no meio acadêmico, considera-se comprometida. desnecessário tecer maiores comentários sobre os A má qualidade da energia elétrica pode acarretar distintos indicadores de qualidade neste fascículo. Por grandes impactos nos mais distintos grupos de tais motivos, as discussões posteriores serão orientadas consumidores, a saber, o residencial, o comercial e o diretamente ao tema principal do presente tema, a industrial. Estes, à luz de maiores conhecimentos de questão das distorções harmônicas. Reconhecendo que os distúrbios que determinam da tensão, são amplamente seus direitos previstos pela legislação e também diante CONTEXTUALIZAÇÃO do emprego, cada dia maior, de dispositivos altamente sensíveis aos padrões do suprimento elétrico, já não ignoram que o fornecimento da energia deva, com má qualidade, as distorções harmônicas presentes necessariamente, ocorrer na forma de um serviço ou na tensão de suprimento e seus efeitos nos diversos produto que reúna propriedades, como segurança, equipamentos eletrônicos, têm constituído, nos últimos continuidade, qualidade e outros. tempos, assunto que domina os interesses de pesquisas e publicações. As concessionárias de eletricidade estão, da mesma Dentre os itens que definem uma rede elétrica forma, preocupadas com os problemas envolvendo a qualidade da energia. Atender às expectativas do geradora e caminhando em direção à carga, constata-se consumidor e manter sua confiança, por vários motivos, um aumento dos níveis de distorção da tensão. Isto se tem gerado grandes motivações com empresas. Dentre deve, sobremaneira, ao fato que os pontos centrais de outros fatores, com os movimentos atuais em direção à geração dos harmônicos se localizam com as cargas competitividade entre as concessionárias, a qualidade supridas e, muitas vezes, estas são responsáveis por do fornecimento da energia torna-se, de fato, muito formas de onda de corrente bastante distorcidas. A importante. maioria destes fenômenos ocorre de forma periódica, produzindo Aliado a estes fatores, a existência de uma legislação É comum reconhecer que, partindo da barra componentes múltiplas inteiras da própria, a qual prevê sanções aos supridores que não frequência fundamental do sistema. Daí o termo adequarem seus serviços aos índices estabelecidos, “harmônicos” para descrever a distorção da forma de contribui para o estudo e pesquisa da qualidade da onda. Complementarmente, quando as componentes energia com o intuito de conferir uma melhoria nos de frequência, em tensão ou corrente, não são múltiplos Apoio 41 O Setor Elétrico / Março de 2009 inteiros da frequência fundamental, têm-se as chamadas inter- harmônicas, que podem se apresentar com frequências discretas pode ser representada como uma somatória de ondas senoidais puras, ou como larga faixa espectral. cada qual constituída por uma frequência múltipla inteira da frequência fundamental da onda original. Esta interpretação advém da conhecida Embora haja grande divulgação dos conceitos básicos atrelados a esta área de conhecimento, não é demais lembrar que a distorção É também amplamente conhecido que uma onda não-senoidal Série de Fourier, a qual é graficamente ilustrada na Figura 2. harmônica é causada por dispositivos não-lineares localizados no sistema de potência. A Figura 1 ilustra o caso de uma tensão senoidal aplicada a um simples resistor não-linear, no qual a tensão e a corrente variam de acordo com a curva apresentada. Enquanto a tensão aplicada é puramente senoidal, a corrente resultante é distorcida. Esta situação ilustra o surgimento das distorções harmônicas nos sistemas elétricos. Figura 2 – Decomposição de uma forma de onda por meio da série de Fourier Tradicionalmente, a literatura trata esse assunto considerando tão- somente arranjos monofásicos, fato este não consoante com a realidade Figura 1 – Comportamento tensão versus corrente de um dispositivo não-linear operacional da maioria das redes elétricas. De fato, quando o assunto envolve sistemas trifásicos, a não ser para os casos em que estes se Apoio Filtros harmônicos eletromagnéticos 42 O Setor Elétrico / Março de 2009 apresentam totalmente equilibrados e a modelagem monofásica pode recomendados, surge a necessidade de medidas preventivas ou corretivas ser utilizada, os demais sistemas trifásicos, apresentando-se de forma para a redução dos níveis de harmônicos presentes nos barramentos e desequilibrada, exigem procedimentos distintos. Neste particular, o linhas de um complexo elétrico. Dentro desse contexto, este fascículo método das componentes simétricas se apresenta como uma excelente enfocará métodos para a filtragem de correntes harmônicas de sequência ferramenta para a descrição do comportamento de tais arranjos. Este zero, positiva e negativa, descritos, com mais detalhes, no decorrer de 6 procedimento, também bastante útil nos estudos voltados para a fascículos. análise de redes, consiste no tratamento de um conjunto de correntes Estado da arte de fase (ou tensões) desbalanceadas em três sistemas balanceados, dispostos como a seguir: • Componentes de sequência positiva: conjunto de 3 fasores ao assunto filtros harmônicos e, portanto, neste momento, torna-se defasados de 120º, com rotação de fase ABC; necessário relatar os resultados dos trabalhos de levantamentos • Componentes de sequência negativa: conjunto de 3 fasores bibliográficos executados. defasados de 120º, porém com rotação de fase ACB; • Componentes de sequência zero: conjunto de 3 fasores em fase. sinais harmônicos de tensão e/ou corrente. Estas, de um modo global, podem ser agrupadas nas estratégias a seguir caracterizadas: A Figura 3 ilustra o exposto: Várias pesquisas e publicações têm sido encontradas com relação Nesse sentido, é possível encontrar diversas técnicas para reduzir os • uso de filtros passivos conectados em paralelo e/ou em série; • inserção de reator em série na linha c.a.; • aumento da quantidade de pulsos em unidades conversoras, com o uso de transformadores defasadores; • técnicas de compensação de fluxo magnético; Figura 3 – Decomposição em componentes simétricas Como forma de quantificar a presença de distorções harmônicas nos sinais de tensões e/ou correntes, utiliza-se a denominada “Distorção Harmônica Total”, uma das designações mais utilizadas no meio técnico/científico. Utilizando de propostas de convenção adotadas nos Padrões de Desempenho da Rede Básica, do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as equações (1) e (2) sintetizam tais definições: DTT = • filtros ativos de potência conectados em paralelo e/ou em série; • uso de dispositivos eletromagnéticos. A escolha de um ou outro procedimento, ou mesmo a associação de soluções, deve levar em conta a análise dos seguintes aspectos: • conhecimento do sistema de alimentação do ponto de vista da concessionária: impedância de curto-circuito, nível de tensão e legislação quanto aos níveis de distorções harmônicas permitidos; • conhecimento do sistema consumidor: tipos de cargas instaladas, potência envolvida, problemas que ocorrem devido aos harmônicos, hm· x 2 ∑ (Vh % ) h> 2 (1) perda de energia, diminuição do fator de potência real; • local da instalação do dispositivo para redução de harmônicos; • desempenho e capacidade nominal de tensão/corrente do DTI = hm· x 2 ∑ (I h % ) h> 2 (2) • DTT – distorção de tensão harmônica total [%]; • DTI – distorção de corrente harmônica total [%]; V % = 100 Vh V1 – tensão harmônica de ordem h em porcentagem da fundamental [%]; • Vh – tensão harmônica de ordem h [V]; • V1 – tensão fundamental [V]; • I h % = 100 Ih I1 – corrente harmônica de ordem h em porcentagem da fundamental [%]; • Ih – corrente harmônica de ordem h [A]; • I1 – corrente fundamental [A]. • custo inicial de compra e custo da energia consumida no próprio dispositivo; Em que: •h dispositivo; Reconhecendo os efeitos negativos causados pelas componentes • efeitos colaterais prejudiciais sobre o sistema de alimentação: o fator de potência em situações de carga nominal pode se alterar inconvenientemente em condições de carga baixa, modificação do nível e da distorção de tensão ou de corrente, alteração do nível de curto-circuito para a terra, mudança ou possibilidade de ressonância em outras frequências harmônicas. Em decorrência desses, pode haver possíveis efeitos nocivos sobre outras cargas consumidoras adjacentes; • efeitos colaterais prejudiciais ao funcionamento das cargas elétricas envolvidas: aumento da distorção de tensão de alimentação da carga, sua queda ou sua elevação; • influências nocivas das variações do sistema sobre o dispositivo utilizado: alterações da impedância do sistema, correntes harmônicas de cargas consumidoras adjacentes podem entrar pela alimentação, o sistema pode desequilibrar-se em tensão, a distorção de tensão e o seu harmônicas de tensão e/ou corrente na rede elétrica e seus componentes, nível na barra de alimentação podem variar devido a fatores externos; bem como objetivando manter os níveis de distorção dentro dos limites • influência da carga sobre a técnica utilizada: a variação da potência Apoio O Setor Elétrico / Março de 2009 43 Apoio Filtros harmônicos eletromagnéticos 44 O Setor Elétrico / Março de 2009 solicitada pela carga e a presença de desequilíbrios podem alterar no sentido de reduzir o custo inicial da instalação e obtenção de o funcionamento do dispositivo empregado para a redução de maior eficiência na diminuição do conteúdo harmônico. harmônicos. Entre as alternativas relatadas como possíveis estratégias para a distorções harmônicas de tensão e/ou corrente se apresenta como eliminação/redução das correntes harmônicas, aquelas associadas opção eficiente para tal fim, apresentando, porém, altos custos de aos filtros ativos, passivos e eletromagnéticos são, comumente, as implantação e manutenção, inviabilizando, em algumas situações, mais empregadas. Devido a este fato, estas três metodologias serão o seu uso. consideradas com mais detalhes na sequência. Os filtros passivos são formados a partir de várias combinações de harmônicos por meio de dispositivos eletromagnéticos. Serão dos elementos tipo R, L e C, podendo ser conectados em paralelo contemplados os princípios físicos, a modelagem computacional, ou em série ao sistema elétrico. Aqueles conectados em paralelo a análise de desempenho e outros aspectos relacionados com dois (derivação ou shunt) têm sido amplamente estudados e aplicados equipamentos compensadores, um voltado para as componentes em sistemas elétricos. Ao longo de vários anos, devido a fatores harmônicas de sequência zero e outro para o controle das distorções científicos, tecnológicos e econômicos, esta última opção tem atreladas com as componentes de sequência positiva e negativa. De maneira geral, a utilização de filtros ativos para o controle de Na sequência, apresentam-se alternativas para a filtragem se firmado como a solução mais tradicional para a redução de Filtros harmônicos eletromagnéticos harmônicos. Estes dispositivos podem ser classificados em dois grupos: sintonizados e amortecidos. Os filtros em derivação sintonizados são baseados no fenômeno da ressonância, que de sequência zero, que consiste no uso de enrolamentos deve ocorrer para uma ou mais frequências harmônicas a serem eletromagnéticos interligados em zigue-zague, com os quais se eliminadas, apresentando, nesta situação, uma baixa impedância consegue um dispositivo capaz de oferecer um caminho de baixa resistiva. Os filtros em derivação amortecidos são constituídos impedância para as correntes harmônicas de sequência zero. por circuitos que oferecem uma baixa impedância ao longo de uma larga faixa de frequência. Na prática, são encontradas e negativa tem como fundamentação o uso de um reator a núcleo configurações que combinam o uso de filtros sintonizados saturado. Este, uma vez levado a níveis de saturação capazes de produzir para ordens harmônicas individuais (até a 13a, por exemplo) e correntes harmônicas de mesma amplitude e ângulos de fase opostos amortecidos para as frequências superiores. Outra função dos àquelas geradas por uma determinada carga não-linear já instalada, filtros sintonizados e amortecidos é que, para as frequências abaixo oferecerá a propriedade almejada. Neste capítulo abordaremos: da frequência de ressonância, apresentam-se como circuitos • o princípio físico de funcionamento dos filtros eletromagnéticos capacitivos, sendo, portanto, compensadores de energia reativa na de sequência zero, positiva e negativa, com destaque aos seus frequência fundamental. aspectos da concepção física construtiva; • as bases matemáticas que mostram a operacionalidade dos filtros Uma alternativa para diminuir a distorção harmônica de correntes Inicialmente, será focada a filtragem das correntes harmônicas No entanto, a filtragem das componentes de sequência positiva consiste na utilização de filtros ativos, constituídos por componentes harmônicos supramencionados; eletrônicos de potência e de controle analógico e/ou digital. Esta • a operacionalidade do filtro de sequências positiva e negativa proposta tem evoluído notavelmente, sobretudo a partir de 1980. dentro do contexto da adequação da magnitude e do defasamento angular das componentes harmônicas de correntes produzidas. Os tipos básicos de filtros ativos são: paralelo, série, série/paralelo combinados e híbridos (que combinam técnicas ativas e passivas). Os métodos de operação dos filtros ativos atuais são fundamentados Filtro de sequência zero na teoria das potências ativa e reativa instantâneas. A Figura 4 ilustra uma instalação típica constituída por Os filtros ativos paralelos atuam por meio de um processo uma rede elétrica genérica, possuindo uma carga geradora de de detecção, sintetização e aplicação de correntes harmônicas harmônicas e a presença de um filtro de sequência zero. Este contrárias àquelas produzidas pela carga não-linear, podendo ainda arranjo permite visualizar o princípio do mecanismo da eliminação atuar sobre a corrente na frequência fundamental, promovendo a das componentes harmônicas de corrente de sequência zero. compensação reativa. Um filtro ativo paralelo típico é composto Como se vê, o propósito maior do filtro está em prover meios para basicamente por um inversor de tensão ou de corrente, acionado que as mencionadas componentes harmônicas fiquem restritas ao por técnicas específicas de controle. circuito composto pela carga e o filtro propriamente dito. Em outras Como mencionado, a combinação de filtros ativos série/paralelo palavras, assim como para o caso dos filtros passivos convencionais, também se apresenta como um procedimento para o controle de não ocorre a alteração do conteúdo harmônico produzido pela harmônicos. Por fim, tem-se a associação dos filtros passivos com carga, mas sim, um desvio em seu caminho de circulação inibindo, os filtros ativos, chamados de filtros híbridos. Esta solução ocorre ao máximo, sua injeção na rede de suprimento. Apoio 45 O Setor Elétrico / Março de 2009 A partir do divisor de corrente identificado na Figura 5, constata-se que a corrente que se estabelece pelo filtro eletromagnético de sequência zero é dada por: i0 _ F (t ) = Z0 _ S Z0 _ S + Z0 _ F .i0 _ C (t ) (3) Sendo: i0_C (t) – Corrente de sequência zero gerada pela carga não–linear; Figura 4 – Instalação típica do filtro eletromagnético de sequência zero A partir da Figura 4, é possível observar que o desempenho i0_F (t) – Corrente de sequência zero pelo filtro de sequência zero; Z0_S – Impedância de sequência zero do sistema de suprimento (R0_S, L0_S); do filtro possui forte dependência com a relação entre a sua Z0_F – Impedância de sequência zero do filtro de sequência zero impedância e a impedância do sistema, como sugere o circuito (R0_F, L0_F). equivalente simplificado de sequência zero ilustrado na Figura 5. A equação (3) revela que, quanto menor a impedância de sequência zero do filtro, em relação à mesma impedância do sistema de alimentação, maior será sua eficiência em drenar as correntes harmônicas de sequência zero. Já a corrente injetada na rede de suprimento, com a inserção do filtro em paralelo, pode ser calculada por: i 0 _ S (t ) = Figura 5 – Circuito equivalente: alimentação, carga e filtro de sequência zero Z0 _ F Z0 _ F + Z0 _ S .i0 _ C (t ) Sendo: i0_S (t) – Corrente de sequência zero injetada no sistema. (4) Apoio Filtros harmônicos eletromagnéticos 46 O Setor Elétrico / Março de 2009 Mais uma vez, a equação (4) evidencia que a corrente de transversais nas três colunas; sequência zero que se estabelece no sistema de suprimento será ФI,A; ФI,B; ФI,C – Fluxo referente ao enrolamento I das colunas 1, 2 e tão menor quanto maior a impedância de sequência zero do 3, respectivamente; sistema quando comparada com a impedância de sequência zero ФII,A; ФII,B; ФII,C – Fluxo referente ao enrolamento II das colunas 1, 2 do filtro. Esta situação nem sempre pode ser encontrada na prática, e 3, respectivamente. pois dependerá fortemente do local em que o filtro é instalado no sistema elétrico. pode ser ilustrada na forma indicada na Figura 7. Sob o ponto de vista magnético, a composição física anterior No que tange ao arranjo trifásico para o filtro em questão, este é constituído por um núcleo trifásico de três colunas junto aos quais são inseridos, por fase, dois conjuntos de bobinas com polaridades opostas. Conectando-se tais enrolamentos de acordo com a clássica designação zigue-zague, obtém-se a composição ilustrada na Figura 6. Figura 7 – Distribuição magnética de fluxos para o filtro de sequência zero Em que: ΦD – fluxo de dispersão entre o enrolamento I e II; ΦAR– fluxo pelo caminho de ar entre o núcleo e o enrolamento I; ΦEX– fluxo entre a culatra superior e a culatra inferior pelo ar e/ou tanque; ΦNU – fluxo que circula pelo material ferromagnético. (a) Arranjo didático Como pode ser visto, cada coluna é enlaçada por dois enrolamentos, denominados por I e II, construídos com o mesmo número de espiras e ligados em zigue–zague. Desta forma, cada coluna magnética apresentará uma força magnetomotriz (FMM) resultante de duas fontes, as quais combinam os correspondentes efeitos da corrente de linha. Esta interação, aliada às considerações construtivas e operacionais do sistema elétrico, deve conduzir a um caminho de baixa impedância para as componentes de sequência zero. O motivo disto está atrelado ao fato de que esta impedância irá concorrer com a impedância do sistema de fornecimento, servindo como caminho alternativo às correntes enfocadas. Nessas condições, (a) Arranjo real Figura 6 – Arranjo físico trifásico do filtro eletromagnético de sequência zero as tensões nas bobinas I das fases A, B e C são dadas por: . V An = . V Bn = Sendo: LI,A; LI,B; LI,C – Indutância própria do enrolamento I das colunas 1, 2 . V Cn = e 3, respectivamente; LII,A; LII,B; LII,C – Indutância própria do enrolamento II das colunas 1, 2 e 3, respectivamente; LM – Indutância mútua entre os enrolamentos I e II de mesma coluna; MI,I – Indutâncias mútuas entre os enrolamentos I nas três colunas; MII,II – Indutâncias mútuas entre os enrolamentos II nas três colunas; MI,II e MII,I – Indutâncias mútuas entre os enrolamentos I e II . . . 1 jω h( L + M ).( 2 I A − I B − I C ) 3 (5) . . . 1 jω h( L + M ).( 2 I B − I C − I A ) 3 (6) . . . 1 jω h( L + M ).( 2 I C − I A − I B ) 3 (7) Aplicando as expressões anteriores (5 a 7) para uma componente particular de sequência zero, no caso h=3, obtém-se: ⋅ ( ) (8) ⋅ ( ) (9) ⋅ ( ) (10) V An ( 3) = jω (L + M ) 2 I 3∠0o − I 3∠ − 360o − I 3∠360o V Bn ( 3) = jω (L + M ) 2 I 3∠ − 360o − I 3∠360o − I 3∠0o V C n ( 3) = jω (L + M ) 2 I 3∠360o − I 3∠0o − I 3∠ − 360o Apoio O Setor Elétrico / Março de 2009 47 Apoio Filtros harmônicos eletromagnéticos 48 O Setor Elétrico / Março de 2009 Novamente, as equações (8), (9) e (10) evidenciam que as composições fasoriais das correntes harmônicas de ordem 3 resultam em tensões de terceiro harmônico nulas. Como apresentado, a interpretação física para o resultado anterior é que, para a frequência em questão, a impedância de sequência zero é igual à zero. Se esta situação ideal ocorrer, toda a corrente harmônica de sequência zero originada a partir de uma carga linear será desviada para o filtro em questão. Filtro de sequência positiva e negativa O dispositivo eletromagnético utilizado como filtro harmônico de sequência positiva e negativa fundamenta-se em um reator a Figura 9 – Arranjo elétrico para a redução/cancelamento das correntes harmônicas de sequência positiva e negativa Em que: núcleo saturado trifásico. Este dispositivo, uma vez saturado, RS, LS – Impedância do sistema de suprimento; produz componentes harmônicas de correntes que serão utilizadas iS (t) – Corrente harmônica resultante injetada no sistema de para o processo de compensação a ser discutido nesta seção. Este suprimento; equipamento, construtivamente, tem seu núcleo trifásico como iF (t) – Corrente harmônica injetada pelo filtro de sequência positiva o de um transformador, sem, no entanto, possuir o enrolamento e negativa; de potência no secundário. Outra diferença em relação aos iC (t) – Corrente harmônica gerada pela carga não-linear. transformadores está na definição de seu ponto de operação no que se refere à saturação. Nestes termos, reconhece-se que a não- podem ser escritas, genericamente, pelas equações (11) e (12). linearidade da curva B x H do material magnético do reator se As correntes harmônicas geradas pela carga não-linear e filtro iC ( t ) = iC 1 ( t ) + iC 5 ( t ) + iC 7 ( t ) constitui em fator determinante para a sua operação. De fato, a + i C 1 1 ( t ) + i C 1 3 ( t ) + ... isto se deve o expressivo conteúdo harmônico das suas correntes de alimentação e, neste ponto, concentra-se o princípio da iF ( t ) = iF 1 ( t ) + iF 5 ( t ) + iF 7 ( t ) compensação harmônica aqui focada. +i F 11 ( t ) + i F 13 ( t ) + ... Para viabilizar a citada compensação, de um modo ideal, a geração harmônica por parte do dispositivo sob análise deve apresentar a mesma magnitude, porém ângulos de fase opostos ao conteúdo harmônico produzido pela carga não-linear a ser compensada. A Figura 8 ilustra a mencionada concepção física, (11) (12) Tomando por base que as componentes a serem compensadas sejam as harmônicas de quinta e sétima ordem, fato este que se baseia na busca da atenuação daquelas mais relevantes para a grande maioria dos sistemas, tem-se: . evidenciando a carga geradora de harmônicos, o compensador ou I C5 = I C 5 θC 5 F 5 = IF 5 (14) C7 = I C 7 θC 7 (15) F7 = I F 7 θF 7 (16) (13) filtro e a rede de suprimento. . I . I . I 5 θF Em consonância aos princípios físicos estabelecidos para o processo de compensação, para proporcionar, idealmente, o cancelamento das componentes anteriormente definidas, torna-se Figura 8 – Instalação típica do filtro eletromagnético de sequência positiva e negativa Para fins de entendimento do princípio da compensação das correntes de sequência positiva e negativa, a Figura 9 sintetiza um arranjo equivalente que auxilia o entendimento do mecanismo aqui empregado. Este é constituído, basicamente, pela associação de uma carga não-linear, do dispositivo eletromagnético em questão e da rede de suprimento. necessário o atendimento das seguintes condições: IC5 = IF 5 θ C 5 = (θ F 5 ± π ) IC7 = I F 7 θ C 7 = (θ F 7 ± π ) (17) (18) (19) (20) Apoio O Setor Elétrico / Março de 2009 49 As Figuras 10 (a) e (b) ilustram tais situações: Figura 10 – Compensação harmônica das correntes de ordem 5 e 7 por meio do filtro de sequência positiva e negativa Objetivando caracterizar o arranjo físico eletromagnético a ser empregado para os fins aqui delineados, o qual possui similaridade com aqueles empregados na tecnologia dos reatores a núcleo saturado para a compensação de reativos, é apresentado o arranjo da Figura 11 como ponto inicial para as discussões. Figura 11 – Arranjo físico trifásico do filtro eletromagnético de sequência positiva e negativa Voltando o foco para a questão da modelagem matemática do dispositivo, como objetivo de, entre outros aspectos, obter a corrente de alimentação do reator e a respectiva avaliação de seu conteúdo harmônico, ressalta-se que, diferentemente do produto anteriormente discutido, o reator saturado já possui uma base de modelagem bem estabelecida. Iniciando pela consideração de um arranjo monofásico, no qual um reator se encontra suprido por uma fonte de tensão senoidal, tem-se a Figura 12 (a), que é indicativa do circuito elétrico equivalente a tal arranjo. Entretanto, a Figura 12 (b) representa, de modo bastante simplificado, a relação entre o fluxo e a corrente no reator. Finalmente, a Figura 12 (c) ilustra as correlações entre as grandezas elétricas e magnéticas envolvidas no processo. Apoio 50 Filtros harmônicos eletromagnéticos O Setor Elétrico / Março de 2009 (b) Ponto comum-estrela isolado Figura 13 – Configurações para os reatores trifásicos De forma a propiciar a defasagem necessária entre os harmônicos produzidos pelo reator saturado e aqueles gerados pelas cargas não-lineares, torna-se imperativo a incorporação de um mecanismo defasador que venha introduzir um deslocamento angular no fluxo concatenado e, por conseguinte, na corrente de alimentação do reator. Um ajuste adequado da defasagem pode, portanto, produzir o ângulo de fase oposto àquela harmônica que se deseja atenuar, como sugere o diagrama fasorial ilustrado na Figura 14, o qual enfoca o deslocamento necessário para o cancelamento da quinta ordem harmônica. Figura 12 – Características de operação do reator saturado (a) Circuito equivalente; (b) Relação fluxo versus corrente; (c) Formas de ondas da tensão, corrente e fluxo Figura 14 – Diagrama fasorial da compensação harmônica Avançando agora na direção da topologia eletromagnética mais diretamente afeita ao filtro para compensação das componentes harmônicas de sequência positiva e negativa, as Figuras 13 (a) e (b) destacam duas possibilidades. Na primeira, a conexão é em estrela aterrada, fato este que viabiliza a produção de componentes harmônicas de sequência zero em adição às demais. Na segunda, com a eliminação do aterramento do neutro, apenas as componentes de sequência positiva e negativa passam a existir. Observa-se que as propostas ilustradas utilizam núcleos magnéticos trifásicos similares àqueles empregados para os filtros de sequência zero. Com vistas a adequar os valores das correntes harmônicas ao processo de compensação, torna-se também essencial o ajuste do nível de saturação baseado nos parâmetros geométricos e na curva BxH. É importante destacar que o ponto ótimo de operação será definido pela maior relação porcentual entre a componente harmônica que está sendo ajustada e a componente fundamental. Isto garantirá a melhor solução para o fator de deslocamento final do conjunto. O próximo capítulo abordará as análises computacionais e experimental do funcionamento do filtro de sequência zero diante de situações ideais de funcionamento. (a) Ponto comum-estrela aterrado FERNANDO NUNES BELCHIOR é engenheiro eletricista e docente da Universidade Federal de Itajubá, Grupo de Estudos em Qualidade da Energia Elétrica. Dr. JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA, PhD é docente da Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia Elétrica. LUIS C. ORIGA DE OLIVEIRA é docente da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Ilha Solteira (SP).