1 CUIDADOS DE ENFERMAGEM AO CLIENTE COM TRAUMA RAQUIMEDULAR Viviane Almeida Dore1 João Batista Rodrigues2 RESUMO O trauma raquimedular (TRM) é uma lesão que predomina em adultos jovens do sexo masculino e, pelas características da sua etiologia, sua prevenção pode ser muito efetiva, por meio de campanhas de esclarecimentos junto à população e adoção de medidas de segurança individuais ou coletivas. O processo de assistência de enfermagem em pacientes vítimas de traumatismo raquimedular é de grande relevância na reabilitação do paciente, devido o profissional de enfermagem exercer uma assistência individualizada atuando em diferentes níveis de complexidade, tendo como objetivo prevenir e tratar das principais complicações estabelecidas pelo traumatismo raquimedular. Este processo deve ser desenvolvido pelo atendimento simultâneo e integrado de diversos profissionais de saúde. O referido artigo comenta sobre “Diretrizes de Atenção à Pessoa com Lesão Medular” estabelecidas pelo Ministério da saúde, apresentando as principais complicações após lesão medular. O método utilizado foi uma pesquisa bibliográfica e descritiva, baseada em autores da área de enfermagem. Tem como objetivo evidenciar os cuidados de enfermagem ao cliente com trauma raquimedular. Tendo tido como conclusão que o profissional de enfermagem possui métodos e conhecimentos científicos assistenciais para cuidar do paciente com lesão raquimedular, sua capacitação profissional proporciona uma maior habilidade técnica em relação às atividades desenvolvidas com o lesionado, ajudando na melhoria do quadro de evolução da consequência do trauma. Palavras-chave: Trauma raquimedular (TRM). Assistência de enfermagem. ABSTRACT The spinal cord injury (SCI) is an injury that prevails in young male adults and, due to the characteristics of its etiology, prevention can be very effective, through campaigns of clarification by the population and the adoption of individual or collective safety measures. The process of nursing care in patients of spinal trauma victims is of great importance in the rehabilitation of the patient, because the nursing professional practice individualized assistance acting at different levels of complexity, aiming to prevent and deal with major complications by spinal trauma. This process should be developed by the simultaneous and integrated service of various health 1 Graduada em Enfermagem, pela Universidade Federal da Paraíba. Pós-graduada em Saúde da Família pela Faculdade Integrada de Patos – FIP. Mestranda pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva. E-mail: [email protected]. 2 Professor Mestre pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva. E-mail: [email protected]. 2 professionals. That article says about "guidelines of attention to people with spinal cord injury" established by the Ministry of health, showing the major complications after spinal cord injury. The method used was a bibliographic and descriptive research, based on authors of nursing area. Aims to highlight the nursing care to the client with spinal cord injury. Having as a conclusion that the nursing professional has methods and assistance scientific knowledge to take care of the patient with spinal injury, your professional training provides greater technical skill in relation to activities carried out with the injured, helping in the improvement of the evolution of the outcome of the trauma. Key-words: Spinal cord injury (SCI). Nursing care. 1 INTRODUÇÃO O Trauma raquimedular (TRM) é uma lesão traumática que acarreta comprometimento da função da medula espinal em graus variados de extensão, que pode ocasionar danos neurológicos, tais como alteração das funções motora, sensitiva e autônoma. Segundo o Ministério da Saúde (2012) a lesão da medula espinal é um dos mais graves acometimentos que pode afetar o ser humano e com enorme repercussão física, psíquica e social. No Brasil 130 mil indivíduos são portadores de lesão medular, com aumento anual da incidência decorrente de acidentes automobilísticos e da violência urbana, sendo imprescindível para a reabilitação a intervenção fisioterapêutica precoce (SISCÃO, 2007). O amparo ao paciente com TRM abrange um conjunto de ações de uma equipe multidisciplinar que começa no primeiro atendimento e permanece até a sua reintegração social. O processo de assistência de enfermagem em pacientes vítimas de traumatismo raquimedular é de grande relevância na reabilitação do paciente, devido o profissional de enfermagem exercer uma assistência individualizada atuando em diferentes níveis de complexidade, tendo como objetivo prevenir e tratar das principais complicações estabelecidas pelo traumatismo raquimedular. Este processo deve ser desenvolvido pelo atendimento simultâneo e integrado de diversos profissionais de saúde. 3 O método utilizado foi uma pesquisa bibliográfica e descritiva, baseada em autores da área de enfermagem, singularmente sobre os “Cuidados de enfermagem ao cliente com trauma raquimedular”. O referido artigo teve como objetivo evidenciar os cuidados de enfermagem ao cliente com trauma raquimedular. Embora a enfermagem tenha um papel fundamental nessa assistência, ainda tem-se uma deficiência grande quanto ao aspecto literário, por falta de estudos e publicações desenvolvidas nesta área. Diante disso, emergiu o seguinte questionamento: Qual o papel do enfermeiro na assistência de enfermagem em paciente vítima de traumatismo raquimedular?. 2 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO 2.1 Coluna Vertebral Segundo o Dr. Druazio Varella (2013) a coluna vertebral é uma pilha de ossos chamados vértebras ligadas por articulações e separadas por discos de cartilagem. Essa pilha de vértebras foi organizada pela evolução da espécie para servir de apoio a outros ossos do esqueleto e proteger a medula espinhal, que passa por um canal no interior da coluna e de onde saem os nervos responsáveis por todos os nossos movimentos e sensações. A coluna é composta por 33 vértebras: sete cervicais, doze torácicas, cinco lombares, cinco sacrais e quatro coccígeas. Nos intervalos entre uma e outra, saem os nervos que, de cima para baixo, vão enervar os vários segmentos do corpo. Um acidente ou um trauma continuado podem romper uma vértebra e pressionar, seccionar ou destruir a circulação interna da medula espinhal em alguma altura da coluna vertebral. Como consequência, a parte do corpo que fica abaixo da lesão irá sofrer comprometimento da motricidade e a pessoa perderá muito dos movimentos e sensações. Esse é um problema gravíssimo de saúde e, o que é lastimável, bastante prevalente em nosso meio (VARELLA, 2013). 2.2 Trauma Raquimedular O trauma raquimedular (TRM) é uma lesão que predomina em adultos jovens do sexo masculino e, pelas características da sua etiologia, sua prevenção pode ser 4 muito efetiva, por meio de campanhas de esclarecimentos junto à população e adoção de medidas de segurança individuais ou coletivas. A abordagem terapêutica do TRM deve ser multidisciplinar, desde o momento do resgate e remoção dos pacientes até a sua fase final de reabilitação (DEFINO, 1999). Bruni et. al., (2004) aborda que o trauma raquimedular (TRM) é uma agressão à medula espinhal que pode ocasionar danos neurológicos, tais como alterações da função motora, sensitiva e autônoma, ocorrendo predominantemente nos homens em idade produtiva (18-35 anos). Siscão et. al., (2007) cita que o trauma raquimedular (TRM) é uma lesão traumática, caracterizada por um conjunto de situações que acarretam comprometimento da função da medula espinal em graus variados de extensão A lesão medular espinhal é definida como um agravo ao tecido medular que se encontra no interior do canal da coluna vertebral. As lesões medulares podem ser divididas, de acordo com a sua etiologia, em lesões congênitas, traumáticas, degenerativas, tumorais, infecciosas, por doenças neurológicas, por doenças sistêmicas e por doenças vasculares (GREVE et. al., 2001). Flores et. al., apud Creôncio et. al., (2012) comentam que a lesão medular ocorre devido à morte dos neurônios da medula espinhal, consequentemente causando a quebra da comunicação entre os axônios oriundos do cérebro e suas conexões com neurônios da medula, impedindo assim a comunicação entre o cérebro e todas as partes do corpo abaixo da lesão. A lesão ocorre, preferencialmente, no sexo masculino, na proporção de 4:1, na faixa etária entre 15 a 40 anos. Acidentes automobilísticos, queda de altura, acidente por mergulho em água rasa e ferimentos por arma de fogo têm sido as principais causas de traumatismo raquimedular (TRM). A frequência dos TRM em decorrência de ferimentos por projéteis de arma de fogo tem aumentado de modo considerável, refletindo o alto nível de violência nos grandes centros, e a relação entre a velocidade dos veículos no momento da colisão e a ocorrência de fraturas da coluna toracolombar foram demonstradas em estudos de perícia técnica, realizados após os acidentes automobilísticos (DEFINO, 1999). A medula pode ser lesada por corpos estranhos ou por processos relacionados a uma vascularização deficiente, levando à isquemia, hipóxia, edema e causando danos à mielina e aos axônios (BRUNI, 2004). 5 Frequentemente, as vértebras mais envolvidas são a 5ª e a 7ª cervicais, a 12ª torácica e a 1ª lombar. Tais vértebras são as mais suscetíveis pois há uma grande faixa de mobilidade nestas áreas da coluna(BRUNI, 2004). O dano à medula espinhal varia de uma concussão transitória, da qual o paciente recupera-se completamente (contusão, laceração e compressão da substância da medula) até uma transecção completa da mesma, tornando o paciente paralisado abaixo do nível da lesão traumática (BRUNI, 2004). De acordo com Bruni et. al., (2003) a lesão pode ser: Lesão completa: as funções motora e sensitiva estão ausentes abaixo dos 3 segmentos caudais consecutivos ao nível da lesão; Incompleta sensitiva: a atividade motora está presente e permanece certa sensibilidade; Incompleta motora não funcional: a função motora está ausente ou com o mínimo uso funcional; Incompleta motora funcional: a função motora está preservada e há funcionalidade abaixo do nível da lesão (PORTO, 2000). O TRM envolve uma série de complicações, dentre elas o choque medular, que representa uma repentina perda da atividade reflexa na medula espinhal (arreflexia) abaixo do nível do trauma. Nesta condição os músculos enervados pela parte do segmento da medula situada abaixo do nível da lesão ficam completamente paralisados e flácidos e os reflexos são ausentes. A pressão arterial cai e as partes do corpo abaixo do nível da lesão ficam paralisadas e sem sensibilidade (BRUNI, 2004). De acordo com Slucky e Eismont (1994) localização anatômica da lesão está diretamente relacionada ao mecanismo de trauma e cerca de 2/3 das lesões medulares estão localizadas no segmento cervical. Lesões da medula na região torácica ocorrem em 10% das fraturas desse segmento e em 4% das fraturas da coluna toracolombar (SLUCKY; EISMONT, 1994 apud DELFINO, 1999). 2.3 Etiologia A lesão medular traumática tem sido considerada um problema de saúde pública, tanto no Brasil quanto no exterior, pois sua incidência vem aumentando nos últimos anos. E, diante disso, as políticas públicas têm direcionado atenção para seus aspectos preventivos (MANCUSI-FARO, 2003). 6 De acordo com o Ministério da Saúde a incidência mundial anual de trauma raquimedular é da ordem de 15 a 40 casos por milhão de habitante. Nos EUA a incidência é de aproximadamente 12.000 novos casos por ano, sendo que destes 4.000 vão a óbito antes de chegarem ao hospital e outros 1.000 irão falecer durante a hospitalização (BRASIL, 2012). As estatísticas mundiais indicam que de 30 a 40 pessoas a cada 1 milhão de habitantes são acometidas pela lesão medular, por ano. De acordo com National Spinal Cord Injury Statistical Center, há aproximadamente 10.000 novos casos de lesão medular a cada ano nos Estados Unidos (YASUDA, S. et. al., 2002). No Brasil, a incidência da lesão medular é desconhecida. Porém, quando as estatísticas mundiais são aplicadas à população brasileira, esse número representa cinco a seis mil novos casos de lesão medular a cada ano. A população mais afetada encontra-se na faixa etária dos 30 anos, sendo que 80% dos indivíduos são do sexo masculino, segundo levantamento realizado pela Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) em 2000 (CASALIS, 2003 apud CEREZETTI, et. al., 2012). O rápido e desordenado crescimento urbano no Brasil, sobretudo nos grandes centros, bem como o aumento da violência urbana, contribuíram para o aumento da lesão medular (MANCUSI-FARO, 2003). Esse aumento se deve principalmente às lesões traumáticas (80%) provocadas por ferimentos com arma de fogo, acidentes de trânsito, mergulhos e que- das. Dentre as causas não traumáticas (20%), destacam-se os tumores, doenças infecciosas, vasculares e degenerativas, conforme dados da AACD (CASALIS, 2003 apud CEREZETTI, et. al., 2012). Apesar do aumento nos índices de vítimas de lesão medular nos últimos anos, tem havido paralelamente uma diminuição nos óbitos4, e consequentemente o aumento de pessoas que apresentam incapacidades decorrentes dessa condição, o que leva à importância dos estudos sobre as técnicas e processos de reabilitação para pessoas que sofreram lesão medular. (CEREZETTI, et. al., 2012). 2.4 Classificação O Ministério da Saúde apresenta a classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) (BRASIL, 2012): 7 S14 Traumatismo de nervos e da medula espinhal ao nível cervical. S14.0 Concussão e edema da medula cervical. S14.1 Outros traumatismos e os não especificados da medula cervical. S24 Traumatismo de nervos e da medula espinhal ao nível do tórax. S24.0 Concussão e edema da medula espinhal torácica. S24.1 Outros traumatismos da medula espinhal torácica e os não especificados. S34 Traumatismo dos nervos e da medula lombar ao nível do abdome, do dorso e da pelve. S34.0 Concussão e edema da medula lombar. S34.1 Outro traumatismo da medula lombar. S34.3 Traumatismo de cauda equina. G82 Paraplegia e tetraplegia. G82.0 Paraplegia flácida. G82.1 Paraplegia espástica. G82.2 Paraplegia não especificada. G82.3 Tetraplegia flácida. G82.4 Tetraplegia espástica. G82.5 Tetraplegia não especificada. 2.5 Consequências da Lesão Medular O Ministério da Saúde aborda e comenta “Diretrizes de Atenção à Pessoa com Lesão Medular” apresentando as principais complicações após lesão medular. As consequências são: Dor Neuropática. Alterações musculoesqueléticas: Ossificação Heterotópica (OH), Osteoporose. Alterações Vasculares: Hipotensão postural, Disreflexia autonômica, Trombose venosa profunda. Bexiga Neurogênica. Intestino neurogênico. Úlceras por Pressão e Espasticidade (BRASIL, 2012). 8 2.5.1 Dor Neuropática A ocorrência de dor após a lesão medular é muito frequente, 60% dos casos terão dor em alguma fase da vida. Cerca de um terço dos pacientes desenvolve dor crônica de forte intensidade. A International Association of Study of Pain (IASP) classifica a dor após a lesão medular em nociceptiva (visceral ou osteomuscular) e neuropática e o correto diagnóstico do fator causal é fundamental para o sucesso do tratamento (BRASIL, 2012). A dor neuropática caracteriza-se por sensação desconfortável geralmente imprecisa em queimação, choque ou formigamento em região na qual há perda ou diminuição da sensibilidade. Devemos diagnosticar e tratar a dor o mais precocemente possível para que diminua a chance de cronificação (BRASIL, 2012). A abordagem terapêutica deve se embasar em quatro recursos: medicamentoso-cirúrgico, reabilitação física, posicionamento e aconselhamento comportamental-afetivo (BRASIL, 2012). 2.5.2 Alterações músculo-esqueléticas 2.5.2.1 Ossificação Heterotópica (OH) É a formação de osso em tecidos moles em locais onde normalmente este não existe. Ocorre sempre abaixo do nível de lesão, mais comumente nos quadris, mas pode ocorrer em outras grandes articulações como joelho, ombro e cotovelo. Pode levar à formação de grandes massas ósseas peri-articulares e diminuir a amplitude articular ou até mesmo bloquear completamente a articulação, o que pode prejudicar a realização das Atividades de Vida Diária(BRASIL, 2012). O diagnóstico da OH ocorre, geralmente, entre o primeiro e o sexto mês após a injúria medular, sendo a maior frequência de detecção nos primeiros dois meses após a lesão. Os achados clínicos mais comuns são a redução da amplitude de movimento articular associada ou não à crepitação ao movimento ativo ou passivo. Os sinais inflamatórios, como edema periarticular, eritema, aumentam de temperatura local e dor (quando há sensibilidade preservada) usualmente estão presentes (BRASIL, 2012). 9 Cuidados simples levam à prevenção das microlesões vasculares associadas à ossificação heterotópica. A cuidadosa mobilização articular nos extremos do arco de movimento, em especial no quadril. Tais cuidados, que incluem também evitar realizar punções venosas abaixo do nível de lesão devem ser tomados por todos os membros da equipe de saúde (BRASIL, 2012). 2.5.2.2 Osteoporose A osteoporose pode reconhecidamente ser uma consequência da lesão medular. Um acentuado declínio na densidade mineral óssea já pode ser detectado radiologicamente nos membros inferiores dos pacientes desde a sexta semana após a lesão medular, sendo descrita uma progressão deste até um a dois anos após a lesão, com subsequente estabilização do quadro. Tal fato torna-se relevante na medida em que resulta numa fragilidade óssea e portanto com maior risco de fraturas nessa população(BRASIL, 2012). Recentemente, tem sido proposto o uso de bifosfonados e cálcio para o tratamento da osteoporose no paciente com lesão medular, apesar deste tema ainda ser controverso (SISCÃO, et. al., 2007). Portanto, deve-se orientar o paciente quanto aos riscos de fratura, ensinar técnicas corretas de transferências e demais atividades de vida diária e frente a suspeita de lesão óssea (hiperemia, encurtamento de membros, dor), que procure serviço de pronto atendimento para diagnóstico e tratamento corretos (BRASIL, 2012). 2.5.3 Alterações Vasculares De acordo com o Ministério da Saúde que aborda as Diretrizes de Atenção à Pessoa com Lesão Medular, são três principais complicações no sistema circulatório, que podem ocorrer após a lesão medular, que são (BRASIL, 2012): Hipotensão postural - A hipotensão postural é consequência da vasodilatação abaixo do nível de lesão medular e consequente represamento de sangue nos membros inferiores, além da ausência ou diminuição dos reflexos vasomotores posturais. A prevenção é feita com treinamento progressivo de elevação de decúbito, 10 ingesta hídrica adequada, uso de meias elásticas compressivas e faixas elásticas abdominais. Disreflexia autonômica - A disreflexia autonômica é uma crise hipertensiva, definida como aumento de 20 mmHg na pressão arterial sistólica e diastólica basal. Vale lembrar que a PA destes pacientes, em especial os tetraplégicos, tende a ser baixa (pela vasoplegia). O tratamento é a resolução ou retirada do estímulo nociceptivo, sendo desnecessário, na maioria dos casos, o uso de antihipertensivos. Como medida imediata, sempre se recomenda o esvaziamento vesical com sonda de alívio e colocação do paciente na posição sentada. Trombose venosa profunda - A trombose venosa profunda é decorrente da hiper-coagulabilidade sanguínea, das alterações endoteliais e da estase venosa (tríade de Virchow). A prevenção deve ser feita com uso precoce de anticoagulantes, movimentação passiva dos membros inferiores e uso de meias elásticas compressivas. 2.5.4 Bexiga Neurogênica As repercussões urológicas causadas pela lesão na medula espinhal constituem umas das maiores preocupações para a equipe de reabilitação, pois o mau funcionamento vesical pode, quando assistido inadequadamente, acarretar complicações que vão desde a infecção urinária, cálculos vesicais até fístulas penoescrotais, refluxo vésico-ureteral, hidronefrose e em casos extremos, perda da função renal (BRASIL, 2012). Torna-se indispensável a avaliação periódica do trato urinário do paciente lesado medular durante toda a sua vida (semestral ou anualmente, de acordo com a necessidade) através de exames laboratoriais e de imagem, bem como o acompanhamento com médico urologista que dará as diretrizes para a melhor forma de esvaziamento vesical e realizará procedimentos cirúrgicos quando necessário (REES et. al., 2001). 11 2.5.5 Intestino neurogênico A função intestinal estará afetada nos pacientes com LM. A motilidade do cólon é basicamente autônoma recebendo pouca influência do sistema nervoso central (BRASIL, 2012). Compete à equipe multiprofissional orientar o paciente com lesão medular a ingerir dieta não obstipante (rica em fibras), realizar manobras como massagens abdominais, seguir as medidas laxativas prescritas, orientar, prescrever ou realizar, se for o caso, o “toque retal” conjuntamente, com o objetivo de atingir uma rotina de esvaziamento que não prejudique seu cotidiano ou acarrete na formação de fecaloma (BRASIL, 2012). 2.5.6 Úlceras por Pressão As úlceras de pressão (UP) conhecidas como feridas são lesões desenvolvidas por pacientes hospitalizados, de acordo com Jorge e Dantas (2003, p.70) “ferida é definida como qualquer lesão no tecido epitelial, mucosas ou órgãos com prejuízo de suas funções básicas”. A úlcera por pressão é uma complicação facilmente evitável que leva a uma série de comprometimentos sociais, econômicos e que atrasa o processo de reabilitação. Os indivíduos com lesão medular devem ser orientados quanto ao cuidado adequado com a pele, desde a fase aguda (BRASIL, 2012). Jorge e Dantas (2003) comentam que é um problema que afetam pacientes hospitalizados e a pacientes com problemas crônicos de saúde, em decorrência da perda da mobilidade e da sensibilidade do paciente, sendo difícil de tratar e frequentemente resulta em dor, desfiguramento e prolonga a hospitalização. Entretanto, um tratamento imediato e eficaz, pode minimizar esses efeitos nocivos e tornar mais rápida a recuperação. De acordo com o Ministério da Saúde que aborda as Diretrizes de Atenção à Pessoa com Lesão Medular, as principais medidas para se evitar essa complicação são a adequação postural da cadeira de rodas e o alívio da pressão nas áreas de maior descarga de peso (em média a cada 2 horas). Isso deve ser realizado em qualquer posição, como, por exemplo, através da realização de push up e mobilizações ativas ou passivas (BRASIL, 2012). 12 2.5.7 Espasticidade A espasticidade é uma expressão clínica da lesão do sistema piramidal na qual ocorre aumento do tônus muscular (hipertonia) caracterizado por aumento da resistência ao estiramento muscular passivo e dependente da velocidade angular (BRASIL, 2012). Geralmente está associada a automatismos (movimentos involuntários em flexão ou extensão). Classifica-se pela Escala Ashworth modificada (Tabela 1). Tabela 1: Escala de Ashworth. Grau 1 Tônus muscular normal Grau 2 Discreto aumento do tônus, com pequena resistência ao movimento passivo Grau 3 Tônus aumentado com facilidade para realizar o movimento passivo Grau 4 Tônus bastante aumentado com dificuldade para realizar o movimento passivo Grau 5 Tônus muito aumentado com articulação fixa em extensão ou flexão Fonte: Ministério da Saúde, Brasil, 2012. A espasticidade também pode ser causadora de deformidades articulares. Estas, se não corrigidas, podem afetar o prognóstico funcional. 2.6 Assistência de Enfermagem em Paciente Vítima de Traumatismo Raquimedular Os pacientes vitima de traumatismo raquimedular apresentam mobilidade física diminuída, o déficit de sensibilidade, as repercussões geniturinárias e gastrointestinais e as alterações circulatórias presentes no lesado medular tornamno vulnerável a uma série de complicações graves, que limitam ainda mais o seu processo reabilitatório e sua reinserção social. A assistência de enfermagem em paciente vítima de traumatismo raquimedular pode ocorrer em vários momentos devendo ser individualizada, progressiva e continua. A assistência tem grande responsabilidade quanto ao prévio reconhecimento das necessidades humanas que estão afetadas no individuo portador de lesão medular. 13 Segundo Paes et. al., (2012) a enfermagem tem um papel importante na prevenção, ensino, proteção e recuperação da saúde do indivíduo, da família e da coletividade. De acordo com Reppetto e Souza (2005) para a implantação e operacionalização do cuidar o enfermeiro usa o método da Sistematização da Assistência de Enfermagem-SAE. Esta sistematização possibilita que os enfermeiros identifiquem a presença das necessidades humanas básicas afetadas nos pacientes internados nas unidades específicas e, assim, com consequentes diagnósticos classificados e respectivas intervenções de enfermagem estabelecidas, que podem caracterizar essas unidades, a equipe de enfermagem consegue prestar uma assistência planejada fundamentada em conhecimentos, viabilizando um cuidado objetivo e individualizado. Moraes e Peniche (2003) a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é um método de trabalho fundamental para nortear os cuidados, onde a SAE implica na utilização de uma metodologia de trabalho, qualquer que seja o referencial teórico utilizado, e requer do enfermeiro interesse em conhecer o paciente como indivíduo, utilizando para isto seus conhecimentos e habilidades, além de orientação e treinamento da equipe de enfermagem para a implementação das ações sistematizadas. De acordo com Cafer et. al., (2005) foi encontrado concordância dos diagnósticos de enfermagem apresentados. Além dos diagnósticos o autor também pesquisou em relação às intervenções da NIC apontadas para os diagnósticos de enfermagem mais frequentemente indicados para o paciente com lesão medular são as seguintes: Terapia com exercícios: deambulação; Terapia com exercícios: mobilidade articular; Posicionamento; Banho; Assistência no autocuidado: banho e higiene; Vestir; Cuidados com os cabelos; Assistência no autocuidado: vestirse/arrumar-se; Aconselhamento sexual; Controle de infecção; Proteção contra infecção; Controle de pressão sobre áreas do corpo; Prevenção de úlcera de pressão; Cuidados na incontinência urinária; Controle da constipação/impactação; Redução da ansiedade; Cuidados com local de incisão; Supervisão da pele; Cuidados com lesões; Controle da disreflexia; Alimentação; Assistência no autocuidado: alimentação; Ensino: processo da doença; Cateterização vesical; Cuidados na retenção urinária; Controle da dor (CAFER et. al., 2005). 14 A enfermagem tem papel importante no processo de reabilitação desse paciente à medida que tem como uma de suas principais atividades a orientação do mesmo quanto aos cuidados de prevenção e tratamento necessários. É através do conhecimento dos fatores etiológicos que o profissional enfermeiro vai elaborar o seu plano de cuidados, visando a prevenção e tratamento dos sintomas como também as instruções às pacientes em relação aos sinais e sintomas presentes que devem ser imediatamente informados. 3 Considerações Finais A assistência de enfermagem é um procedimento eficaz no atendimento pré e pós-hospitalar minimizando sequelas com a finalidade de prestar uma assistência especializada ao paciente lesado medular, promovendo a recuperação da sua saúde, auxiliando na reabilitação e prevenindo complicações futuras. O profissional de enfermagem possui métodos e conhecimentos científicos assistenciais para cuidar do paciente com lesão raquimedular, sua capacitação profissional proporciona uma maior habilidade técnica em relação às atividades desenvolvidas com o lesionado, ajudando na melhoria do quadro de evolução da consequência do trauma. É indispensável também a adoção de mecanismos estratégicos para conduzir o profissional de enfermagem envolvido com a assistência individualizada ao lesionado, fazendo com que os mesmos desenvolvam suas atividades de maneira eficiente, planejada e contínua, através de programas estabelecidos e adequados as reais necessidades do seu cliente. Compete aos profissionais de enfermagem, entre outras responsabilidades o conhecimento no atendimento ao paciente com lesão raquimedular, a manutenção da integridade, sendo necessário para isto, que se estabeleçam condutas que garantam a ausência ou que minimizem a ação dos fatores que contribuem para a alteração dessa integridade. 15 Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes de Atenção à Pessoa com Lesão Medular. Tiragem: 1. ed. – 2012. Disponível em: <bvsms.saude.gov.br/bvs/.../diretrizes_atencao_pessoa_lesao_medular.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2013. BRUNI, Denise Stela et.al. 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