DISCURSO PRONUNCIADO PELO DEPUTADO Dr. HÉLIO, PDT/SP, EM 05/05/2003. " Epidemia Asiática - SARS." Sr. Presidente, deputados e deputadas, Como Deputado Federal e como médico quero alertar às autoridades sanitárias de nosso país, aos profissionais de saúde que trabalham em hospitais, acerca da SARS - Síndrome da Angústia Respiratória Severa. Embora seja uma doença surgida na Ásia e presente no Canadá, ela ganhou todos os continentes, segundo a OMS Organização Mundial de Saúde. É uma doença que não conta com testes diagnósticos, tratamento ou prevenção, podendo tornar-se uma doença sazonal e prevalente no inverno. O Estado de São Paulo é uma das cidades, como Toronto, com maior densidade oriental, onde existe o estado de alerta e vigilância, dado ao grande número de clandestinos, muitos vivendo em condições sanitárias precárias. A SARS é uma doença que marca a primeira grande epidemia deste século XXI, competindo com a AIDS, fenômeno mundial do século passado e presente até os dias de hoje. 400 mortes em cinco meses, a torna mais grave que a AIDS, a malária e a tuberculose, com 6 a 7 milhões de mortes em todo mundo, devido ao seu grande potencial de contaminação e risco permanente em países pobres e destituídos de desenvolvimento sanitário. Como um "serial killer", um simples espirro ou tosse pode espalhar este vírus de forma global. Seu fator multiplicador foram viagens de negócios ou turismo e, sua disseminação em hotéis e hospitais contaminando hóspedes e pessoal de saúde. Tudo começou como uma gripe banal em novembro de 2002 na China. Somente na província de Guandgong, em Canton, sua capital fizera 100 vítimas fatais. Todos os casos e documentos foram considerados segredo de Estado. O primeiro caso registrado foi de uma cidade industrial próxima, a 25 km de Canton, onde um trabalhador de 40 anos, fornecedor de peixes para restaurantes, foi contaminado e, hospitalizado contaminou 4 enfermeiras. Um nefrologista, Dr. Liu, sai de Canton para Hongkong e contamina moradores de um hotel metrópole, retornando para seu país de origem e disseminando a doença. 50 pessoas que trabalham neste hotel contraíram a doença. Toronto sendo a 12ª em densidade chinesa, tem uma contaminação de hospital, com 144 casos e 23 mortos. Dia a dia a SARS vai se propagando através dos que estiveram neste hotel de Hongkong e que contagiam enfermeiros e médicos em hospitais onde se internam nos hospitais de Hangkong, Hanoi e Pequim. Em 29 de março, Dr. Urbani, médico italiano responsável pela identificação da SARS em Hanoi, morre da doença. Em 2 de abril a OMS dá o primeiro alerta de restrição de viagem à Hongkong e à Canton. Em 16 de março o laboratório da OMS descobre um vírus, o coronavírus, precursor da SARS. Já são mais de 6.000 pessoas contaminadas em 27 países distintos, com mais de 2/3 dos casos na China e mais de 1/4 em Hongkong. A SARS é uma doença importante no campo do conhecimento médico e também um marco político importante. O seu reconhecimento e a adoção de regras sanitárias básicas para todo mundo, deve se acelerar no sentido de impedir o risco de sua disseminação que também é global. Para tal, a transparência dos dados e de informações técnicas é vital. Da mesma forma que a AIDS, seu agente é um vírus, o coronavírus. Sua transmissão depende de condições sanitárias como higiene, contato íntimo e, sua magnitude depende da transferência de conhecimentos, da transparência como o sistema público de saúde a conhece, notifica e, combate. O único instrumento de cura é a vacina. As duas enfermidades vem despertando preconceitos. Uma a de que seria promovida por comportamento homossexual. Hoje, sabe-se que a AIDS não é exclusiva em homossexuais. Ao contrário, vem comprometendo igual número de heterossexuais, fazendo vítimas mulheres parceiras e bissexuais, bem como crianças nascidas de gravidez de risco. A SARS vem promovendo um preconceito e discriminação contra orientais imigrantes ou turistas oriundos da China, Vietnã, Hongkong, Singapura. A OMS tem alertado o mundo para evitar turismo ou trabalho para estes países da Ásia e mesmo para o Canadá ( este com recomendação já suspensa). Outro paralelo entre as duas enfermidades é a de que a AIDS se tornou uma enfermidade fora de controle durante anos na África, um país pobre. A SARS, encontra-se fora de controle na China, sobretudo em Pequim. Vale lembrar, o país mais populoso do mundo e um país emergente economicamente. A revista científica Lancet demonstra em seu editorial a diferença na evolução biotecnológica entre AIDS e SARS. Nos anos 80 a identificação do vírus HIV levou dois anos. Em contraposição, em duas semanas o coronavírus foi descoberto e, em menos de um mês, o seu genoma- ordem seqüencial genética. O caminho para cura através de uma vacina deverá ser descoberta em 18 meses, enquanto não se vislumbra a curto prazo a cura da AIDS. A SARS promove hoje no mundo oriental uma crise de ordem econômica. Já se investiu mais de 750 milhões de dólares no combate à doença com grande perda econômica. Hotéis foram transformados em hospitais improvisados, centros de diversões e espetáculos foram fechados. A praça celestial está vazia de turistas... Não é à-toa que o novo presidente Hu Jintao declarou guerra contra a pneumonia asiática, transformando-a em uma "prioridade imperativa nacional". A SARS já derrubou o Ministro da Saúde, o prefeito de Pequim e o governo que assumiu em março culpa a precariedade encontrada do sistema sanitário e à falta de informação transparente, pelo controle da epidemia, iniciada em novembro do ano passado e só conhecida publicamente em março deste ano. Convém chamar atenção que esta doença que promove mudança de comportamento hoje na China, promove a necessidade de uma revolução sanitária e estimula a pesquisa, podendo se transformar em marco estratégico de mudanças profundas no campo político no país. A OMS tem recomendado que se universalize o conhecimento técnico sobre a SARS. Esta tem um período de incubação de 3 a 5 dias estendendo-se a um máximo de 10 dias. O Mecanismo de transmissão se dá pessoa a pessoa e são medidas simples de contenção, lavar as mãos, usar luvas, máscara e avental ao contato com suspeito da doença. Os sintomas iniciais se confundem com uma gripa e são febre maior que 38 graus, calafrios, dores musculares e mal-estar geral. Dois a três dias depois, tosse seca, falta de ar e dificuldade respiratória. Como antecedentes, em 10 dias prévios à doença, deve o paciente ter viajado a uma nação onde se dá a enfermidade ou tido contato com alguém contaminado. É recomendável evitar quando possível viagens a China, incluindo Hongkong, e Taiwan, Singapura, Hanoi no Vietnã e Toronto no Canadá. Nas epidemias com potencial de contaminação globalizante é preciso ter total transparência nas informações, agilidade e precisão no diagnóstico e, sobretudo atuação preventiva eficaz para não permitir a sua disseminação. Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Deputados, quero sugerir às autoridades de saúde do país que mantenha uma central de informação técnica e de registros, contendo também orientação básica aos profissionais de saúde de todo país. Estamos nos aproximando do inverno e com este o número de pneumonias aumenta, evitando-se dessa forma o pânico. Os casos suspeitos devem ter estudos epidemiológicos, já que o suporte diagnóstico e laboratorial é precário em nosso meio. É necessária uma integração com o Ministério de Relações Exteriores e o Itamaraty, para oferecer orientações aos que chegam de países de risco, mas principalmente aos que por questão profissional se dirigem a estes países. Em São Paulo onde existe uma grande comunidade oriental o alerta deve ser mantido e acompanhado de medidas epidemiológicas e sanitárias que garantam precoce diagnóstico e segurança na prevenção, tendo em conta o grande número de clandestinos orientais que chegam e saem do país pelas nossas fronteiras. Por último, é necessário um alerta de proteção ao pessoal que trabalha nos hospitais, principalmente os que atuam no atendimento a urgência e emergência no país. Era o que tinha a dizer.