ESPECIAL 8ª Semana de Comunicação Social da São Marcos Na 8ª Semana de Comunicação da Universidade São Marcos, profissionais da área de publicidade e jornalismo apresentaram um panorama do mercado e através de suas experiências relataram as atividades da profissão: Marketing direto - página 3; Jornalismo Cultural - página 4; mensagens subliminares - página 6; impressao digital - página 8; Direitos autorais - página 9; a formação do reporter - página 10. EVENTO Um anjo me dissse... O matemático e professor da Escola de Comunicação e Artes da USP, Luiz Barco, ministrou a palestra para os candidatos a iniciação cientifica da Universidade São Marcos. Mostrou a importância do saber para a formação do homem integral. E sta edição do jornal Parágrapho é muito especial porque traz a 8ª Semana de Comunicação da Universidade São Marcos que ocorreu nos dias 20, 21, 22, 23 e 24 de outubro. Diversos palestrantes compartilharam suas experiências e conhecimentos com o público, composto por estudantes e professores no auditório da Unidade Padre Chico. Quem até então acreditava que marketing direto se resumia ao envio de mala direta perceberá que está totalmente enganado ao ler matéria sobre a palestra ministrada pelo publicitário Pedro Venturini. Ele mostrou que esse segmento é muito mais que uma estratégia de negócios. É uma das principais ferramentas de relacionamento. Leia também o texto que aborda a palestra sobre Jornalismo Cultural, que está na página 4. Nela, Bruno Zeni, Heitor Ferraz, Manuel da Costa Pinto, Ronaldo Bressane deram suas opiniões sobre o conceito de jornalismo cultural, sua produção no Brasil e a existência ou não de uma crise nesta área. Fique por dentro do mundo do jornalismo cultural! Quem tem dúvidas sobre a importância da Impressão Digital na Propaganda poderá se informar melhor na pagina 8. O palestrante Willian Martins, consultor digital da Digimark, mostrou o estreitamento de laços que este meio causa entre empresas e consumidores. É a tecnologia auxiliando na descoberta das preferências por determinados produtos. ANO 6 NÚMERO 8 JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNIVERSIDADE SÃO MARCOS Fique esperto! Ao ler a matéria sobre mídia e mensagem subliminar na propaganda, você perceberá que essas mensagens estão praticamente em todos os lugares e que o uso é mais freqüente que imaginamos, pois não há leis brasileiras que protejam os cidadãos. Nesta palestra, Flavio Calazans apresentou exemplos reais em desenhos, propagandas políticas, filmes. Eles o ajudarão a treinar os olhos e a não permitir que elas influenciem a sua capacidade de escolha. Para quem não sabe que sua obra tem os direitos assegurados, pode se informar ao ler a matéria sobre os Direitos Autorais. Luiz França e Silvia Nelli mostram que essa área do direito é importante e está à disposição de todos, tanto para estudantes como para profissionais formados. A Semana de Comunicação foi encerrada com o jornalista William Waack que, em um bate papo, contou as suas experiências na profissão, sua atuação como repórter e deu muitas dicas enfatizando a importância da qualificação profissional. Leia essa matéria que é uma lição de vida profissional, ética, dignidade e honestidade. Confira também a palestra realizada pelo educador Luiz Barco no auditório do Campus João XXIII aos alunos da iniciação científica. Esta palestra nos faz refletir sobre a verdadeira importância da humanização nas atividades de graduação. Presidente da Mantendora: Ernani Bicudo de Paula Chanceler: Olavo Drummond Reitor: Ernani Bicudo de Paula CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Coordenador: Franklin Valverde Editor-chefe: Franklin Valverde Editor de Fotografia e Projeto Gráfico: Sérgio J. Almeida Editor de Arte: André Nóbrega Dias Ferreira Editora s de Reportagem: Eiko Enoki e Teresa de Sá Teixeira Reportagem, Fotografia e Diagramação: Anderson Rodrigues de Mello; Alexandre Henrique Tabone; Bruna Mendonça; Elaine dos Santos, Ivan Avivar Júnior; Renato Augusto; Shirley Marques de Azevedo; Thomas Listo e Wilson Cologni Filho (alunos do 5º semestre de Jornalismo). Distribuição: Agência Modelo Orientadores: Gisela Belluzzo de Campos, Roberto Bazanini e Rodrigo Ferreira Leite. Endereço: Av. Nazaré, 900. CEP: 04262-100 Telefone: 3471 5700, ramal 5766 E-mail: [email protected] OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES. NÃO EXPRESSAM A OPINIÃO DO JORNAL. ÍNDICE E DITORIAL anoVI — número 8 — Outubro de 2003 parágrapho SEGUNDA-FEIRA O marketing direto e a eterna corrida do ouro TERÇA-FEIRA pág. 3 pág. 4 O Jornalismo Cultural está realmente em crise? QUARTA-FEIRA NOITE Atenção: você já foi manipulado pela mensagem subliminar pág. QUARTA-FEIRA MANHÃ pág. Impressão digital na propaganda cria elo entre a empresa e o consumidor QUINTA-FEIRA A luta pelos direitos autorais 6 8 9 10 pág. SEXTA-FEIRA pág. “Sensibilidade e a preocupação com a vida humana” EVENTOS Um anjo me disse... pág. 12 O Marketing de contato e a eterna corrida do ouro WILSON COLOGNI FILHO E ANDERSON DE MELO 5º SEMESTRE - JORNALISMO O publicitário Pedro Venturini Filho, formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, com extensão pela GV e especializado pela Fundação Getúlio Vargas, foi o responsável pelo debate sobre mercado, direcionado ao marketing direto; sua especialidade. Venturini atua no atendimento em geração de negócios da agência BBRO Marketing e Comunicação, que possui clientes como Enciclopédia Britânica, TV Bandeirantes, TV Record, Senac, Unibanco e outros. Venturini iniciou o debate sobre Marketing Direto com exemplos explicativos sobre a prática e os conceitos aceitas pelo mercado. Segundo ele, o conceito de marketing direto aceito mundialmente “é um sistema interativo pelo qual se busca uma resposta, uma interação ou uma transação por meio de qualquer mídia, em qualquer lugar dó mundo.” E continua explicando: “Se você pega um anuncio em revista, um spot, um Jingle ou um filme publicitário, nem sempre se estará buscando uma transação imediata, a venda de um produto; estas ações podem estar apenas vendendo uma imagem, um anseio, uma expectativa ou uma marca, e as vezes ele não dá sequer um canal de resposta”. A grande dúvida que circula entre estudantes está nas diferenças entre o Marketing Direto e outras atividades como Propaganda, Promoção de Vendas e Relações Públicas. No caso de sua diferença com a propaganda, é que a propaganda trata o consumidor como massa e não como indivíduo e não exige uma ação imediata. Neste caso, as pessoas ficam com sentimentos e inclinações que favorecem a tomada de decisão no momento da compra. Já com relação a Promoção de Vendas, ela é praticada, como diz o nome, para atingir um efeito imediato sobre as vendas, mesmo utilizando freqüentemente os mesmos meios utilizado pelo Marketing direto, por exemplo mala direta e ofertas especiais, como geralmente é a curto prazo, não gera relacionamento. As Relações Públicas utilizam a mídia controlada para gerar um clima favorável de opinião. É previsível que nas próximas décadas, o grande diferencial das empresas mais arrojadas será a adoção do Marketing Direto, pois esta pratica não possui medo de ser avaliado pelos resultados efetivos que produz. Mas olhando para trás, percebemos que nem sempre houve tantas facilidades tecnológicas para o desenvolvimento desta prática, mesmo sendo preciso apenas a oprtunidade de venda para que haja mkt direto. As origens do Marketing Direto remetem a tempos anteriores a industrialização, época em que os contatos com os consumidores eram diretos, a distribuição dos produtos era artesanal e não havia distribuição em massa. O processo de industrialização e o aumento da produção ocasionaram maior oferta que procura, a fabricação de produtos em excesso e a conseqüente necessidade de promoção em vendas. As necessidades a serem atendidas pela produção industrial deram origem ao Marketing de Massa, às Pesquisas, ao Serviço Especializado dos Correios como apoio aos canais de distribuição e a força de vendas através do reembolso postal e da propaganda postal. Para Pedro Venturini , o Marketing Direto “começou com a corrida do ouro no velho oeste Americano. Os Estados Unidos foi colonizado do Leste para o Oeste, e esta corrida fez com que o mkt direto nascesse e se desenvolvesse muito rapidamente. As pessoas que foram para o velho Oeste estavam precisando de vestimentas, alimentos e artigos de necessidades básicas. E o velho oeste era uma região desértica. E a costa leste era bem mais desenvolvida. Então começaram a haver as compras a distância. A costa leste percebeu a oportunidade de venda e a costa leste precisava das mercadorias. Então, após os exploradores, o primeiro canal de comunicação entre as costas foi o correio. E começou-se a vender por cartas, por catálogos. Depois começar as carruagens a carregar encomendas. Havia os assaltos que a gente conhece através dos filmes. Depois vieram as ferrovias, o que incrementou ainda mais este tipo de negócio e possibilitou às comercializações em maior escala.” Para o publicitário, Marketing direto é muito mais do que uma ferramenta de comunicação, é uma estratégia de negócios. “Claro que se comunica esperando uma resposta, uma mensura.” Segundo ele, o mkt direto está atualmente no CRM, no mkt uma a um, na impressão personalizada onde o anúncio vai com o nome da pessoa, e “os fatores atuais nos levam a imaginar que o mkt em breve estará nos cartões inteligente onde as empresas possuem todo o histórico de compra do usuário, podendo analisar suas características de consumo além de todas as informações, propaganda via Wap e SMS, a previsão de compra (modelo estatístico preditivo), eletrodomésticos inteligente que agilizarão as compras, a tv interativa que será a maior revolução da história pois permitira uma velocidade gigantesca nas ações e trocas de informações. Mesmo o advento da tecnologia não livra a possibilidade de que as ferramentas do Marketin Direto sejam utilizadas com más intensões. Venturini falou sobre o Spam que é um termo utilizado para um e-mail indesejado. Pedro Venturini disse que não concorda que e-mails não solicitados sejam caracterizados como invasão, pois se bem direcionados, atingirão o interesse do usuário receptor. Porém para funcionar tem que ser bem feito. Se não for bem feito é spam e se é spam não dá resultado. O que se espera, ao menos os consumidores que possuem o juízo no lugar, que o mercado e aqueles que atuam com marketing direto, atuem baseados em critérios e não através de condutas desenfreadas e frenétiaca em busca da decisão de compra das pessoas, afinal, mesmo que através da comunicação, não será mais tolerado a barbárie e o dispautério das coisas que aconteciam na época em que a corrid do ouro movimentava muito dinheiro e muitas confusões. FOTO: RENATO CAPI Venturi: “Marketing é uma estratégia de negócios CIDADE O Jornalismo Cultural está r Semana de Comunicação da Universidade São Marcos promove pemiação do concurso FOTOS: RENATO CAPI WILSON COLOGNI FILHO E IVAN AVIVAR PANHAN JÚNIOR anoVI — número 8 — Outubro de 2003 5º SEMESTRE - JORNALISMO No dia 21 de agosto foi realizada a segunda noite da 8º semana de comunicação da Universidade São Marcos. Na ocasião, a Unimarco Editora divulgou a premiação do concurso literário que teve como propósito não apenas estimular a criação literária e estética dos alunos como também promover a aproximação dos mesmos da editora. Além da divulgação foi realizado um grande debate sobre jornalismo cultural, onde estiveram presentes os jornalistas Manoel da Costa Pinto e Bruno Zeni, o poeta e editor Heitor Ferraz e o publicitário e também poeta Ronaldo Bressani. Para Reinaldo, o porta-voz da Unimarco Editora no evento, um dos motivos da realização do concurso deve-se ao fato dos estudantes não possuírem vínculo com o novo projeto editorial desenvolvido pela editora na Universidade. “O resultado foi muito gratificante pois, mesmo percebendo certa ingenuidade de quem está iniciando, de quem está começando a escrever, deu pra perceber que havia muita criatividade, inventividade e cuidado com a linguagem por parte dos alunos”. Reinaldo salientou também que os talentos literários estão muito bem distribuídos pois estudantes de todas as áreas participaram do concurso, seja de Comunicação e Letras como de Psicologia, Arquitetura, entre outros. Os três vencedores, na categoria poesia, foram os seguintes: primeiro lugar para Enfim nasce o meu silêncio, do aluno Elton Daniel; segundo lugar para Tamanho 15 por 10, da aluna Maria Salete Comar; e o terceiro lugar, Luz de Mel, do aluno Carlos Botelho. Na categoria Conto o primeiro lugar foi para A Recompensa, de Thiago Rinaldi Pele; o segundo foi para Porta Aberta, de José Roberto Campos; e o terceiro lugar, Desde Sempre para o texto de Rosemeire Barbosa Silva. Manoel da Costa Pinto conceitua jornalismo cultural Jornalismo Cultural e a imprensa brasileira (do Estadão), que traziam poesias e textos de Logo após a entrega das premiações, Reinaldo iniciou o debate sobre jornalismo cultural junto aos convidados da noite. Para Pinto, colunista do jornal Folha de São Paulo, “jornalismo cultural é o jornalismo que lida com cultura, mas há que se fazer distinções dentro desta obviedade, pois, nos últimos anos, percebe-se que há uma distinção de tratamento de cultura nos diferentes tipos de veículos”. Assim o jornalista deu introdução ao assunto da noite, discutindo o papel exercido pela imprensa do passando e como sua abordagem vem se modificando através do tempo. Segundo Pinto, “antigamente os jornais como Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo tinham simultaneamente cadernos que publicavam notícias do meio cultural e cadernos de variedades e espetáculos que traziam a programação cultural, como teatro, cinema, musica, livros e algumas críticas que discutiam os assuntos tratados. Simultaneamente, estes mesmos cadernos publicavam ensaios e reflexões mais aprofundadas”. “Estes mesmos veículos publicavam também cadernos como o folhetim (da Folha) e o Suplemento Literário ficção, cumprindo o verdadeiro papel do jornalismo literário: a difusão da cultura brasileira e em específico, no caso, de São Paulo.” É notável que, nos últimos 20 anos, veículos como Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo passaram por um profundo processo de especialização editorial, enxugando as redações e diminuindo o espaço da divulgação cultural. Para Pinto, “o espaço de poesia e de criação ficcional diminuiu muito e, conseqüentemente, a pauta diária destes veículos limitou-se à cobertura da movimentação cultural que acontece no diaa-dia das cidades. Assim, os jornais se desincumbiram de trazer uma reflexão mais aprofundada sobre a produção cultural. Cadernos culturais como a Ilustrada e o Suplemento Literário tornaram-se cadernos de reflexões de ensaística autoral, redigidas por grandes personalidades da cultura que se restringiram a temas, desenvolvidos em linhas sociológicas e filosóficas, raramente expondo um painel crítico de referência da produção cultural brasileira. Os jornais abdicaram do seu papel de refletir sobre a produção da cultura ealmente em crise? literário realizado pela Unimarco Editora e discute crise no Jornaçismo Cultural brasileira. Ou divulga-se a agenda ou se tem um espaço bastante limitado para analisar a cultura produzida aqui”. Paralelamente à imprensa cultural de grande circulação, segundo Pinto, foram surgindo algumas revistas e algumas publicações — até por que os jornais recuaram — que acabaram cumprindo a tarefa antes desempenhada pelos jornais. Estes veículos procuraram, principalmente na área de literatura, teatro e cinema, ter uma reflexão de densidade sobre a produção cultural brasileira. Para exemplificar, ele dá o exemplo das revistas Cacto e Monturo: “Foram revistas que, ao mesmo tempo, publicaram e refletiram a produção ficcional e poética, coisas que a grande imprensa já não fazia mais”. Crise institucionalizada Todos os convidados a mesa de debates foram contundentes ao afirmar que realmente existe uma crise no Jornalismo Cultural, que vem modificando a prática diária do profissional de imprensa. Para o atual editor da Pocket Livros, Heitor Ferraz, os estudantes puderam perceber de forma clara esta importante questão que está impregnada no fazer jornalístico diário. Para Ferraz, esta mudança está no fato de que nos tempos atuais a cobertura cultural se dá em grande parte por influência e pressão do mercado, que possui interesse nas publicações, no sentido de divulgação do produto cultural. Heitor explica que “a resenha, espaço crítico que existe nos jornais, foi perdendo espaço para o release — um tipo de texto fabricado pela indústria — que serve como material de divulgação do produto no mercado.” Para ele, é necessário perder a ingenuidade de acreditar que se está falando apenas de cultura e não de um produto que está ligado à cultura. A resenha ou o texto crítico, durante muito tempo, ocupou um espaço maior dentro da imprensa. Via-se artigos importantes que desempenhavam um papel crítico sobre aquilo que estava sendo colocado ao público. “Percebemos que este tipo de espaço foi ficando cada vez menor. Hoje, este espaço é ocupado pela publicidade branca, um tipo de publicidade não paga, que dá credibilidade ao produto. Ao contrário dos textos de maior densidade, o release desempenha o papel de avisar o leitor dos novos produtos existentes, fazendo uma consideração ou um comentário superficial. Assim, a crítica em jornal foi perdendo importância, pois não espelha mais a produção cultural, seja em qual área for”, comentou Ferraz. Um exemplo claro muito discutido pelos convidados sobre os mecanismos do mercado e de como ele exerce uma grande influência nas publicações da área cultural foi o lançamento do livro Budapeste, de Chico Buarque. Segundo Ferraz, “foi armado um esquema impressionante. Saíram matérias em todos os jornais, todas assinadas por nomes importantes como José Saramago, José Wisnik, Caetano Veloso, Fernando Veríssimo. Foi armado um grande esquema de propaganda junto aos jornais. A editora responsável pela publicação distribuiu para cada jornal um texto exclusivo. Isto demonstra como os jornais participam do jogo da publicidade e da divulgação, que precisam ser agressivas para chegar ao consumidor. Então hoje não se tem mais um leitor do outro lado jornal, o que se tem é o consumidor. Um consumidor de cultura, neste caso”. Informação com Impressão digital Reafirmando as idéias de Ferraz, o publicitário Ronaldo Bressani falou sobre a customização da imprensa. “Por eu ter acompanhado as três instâncias do mercado, como produtor de cultura, divulgador publicitário e jornalista, eu conheço muito bem como o produto vai de um lado pro outro”. Segundo Bressani, “há alguns órgãos de imprensa, os customer publisher, que são veículos ligados às marcas, como revistas como Volkswagen, Daslu e Audi. Eles possuem muita verba e acabam compartimentalizando o conhecimento da produção cultural”. Para o publicitário, “estas revistas, que por sinal são produzidas com alta qualidade técnica, acabam captando os maiores talentos que estão no mercado, conseguem cada vez mais espaços nas bancas e acabam influindo diretamente na maneira como a cultura é percebida pelo público”. Assim, tanto para os convidados quanto para os estudantes presentes, é necessário que todos estejam atentos para as contemporâneas formas de tratamento da informação. E quando se falar em crise no jornalismo cultural deve-se atentar para uma crise que extrapola os limites do jornalismo; crise que diz respeito a tudo o que vivemos. Como afirma Ferraz: “você compra um cd, escuta quatro ou cinco vezes e depois o encosta a um canto e espera o próximo lançamento”. Tudo é mastigado e direcionado ao consumo. Esquerda para direita: Heitor Ferraz e Ronaldo Bressani Atenção: você já foi manipulad REPRODUÇÕES DO MATERIAL DE CALAZANS Bush: campanha suja contra Al Gore Lentes: logotipo da Guiness anoVI — número 8 — Outubro de 2003 SHYRLEY MARQUES DE AZEVEDO E ELAINE DOS SANTOS No terceiro dia da 8º Semana de Comunicação da Universidade São Marcos, Flavio Calazans ministrou uma palestra sobre mensagens subliminares. Este tipo de mensagens estão presentes em grande número das produções de mídia como filmes, cartazes, anúncios publicitários, revistas, capas de CDs, outdoors, vinhetas, entre outros. Elas são usadas inclusive na política. Calazans criou a Biomidiologia, por ele definida como um ramo de pesquisa derivado da midiologia que estuda os efeitos da mídia nas formas de vida, na fisiologia ou no comportamento. Analisa como o ser humano reage à mídia. O palestrante apresentou alguns exemplos de mensagens subliminares que foram veiculadas na mídia em geral. No Japão, em dezembro de 1997, várias crianças passaram mal após assistir o desenho animado Pokemon. A causa diagnosticada pela Organização Mundial de Saúde – OMS, foram as 54 piscadas em 5 segundos das bochechas do personagem Pikachu. De acordo com Calazans, o objetivo era aumentar as vendas e desse episódio surgiu a doença epilepsia televisiva. Um exemplo citado por ele envolve a Disney, que assumiu publicamente ter utilizado mensagem subliminar no desenho Bernardo e Bianca. Esse uso ocorre aos 28 Silêncio dos inocentes: caveira de 8 mulheres nuas compõem mariposa minutos quando as personagens principais estão voando em um albatroz e, na janela de um prédio, aparece uma mulher com seios de fora. Ele contou que alguns sites da internet denunciaram o uso de mensagens subliminares e, comprovado, a Disney pediu desculpas e recolheu os exemplares do desenho. Outro caso citado foi a última campanha para a presidência dos EUA. O candidato George Bush utilizou mensagens subliminares em uma propaganda de televisão. Nela, ele criticava o programa de distribuição de remédios do concorrente, Al Gore. Foi colocado em um “frame” - uma divisão de tempo de varredura da tela equivalente a 1/30 de segundo, a palavra rats (ratos). Embora os adversários tenham aberto processo contra o Partido Republicano, Bush ganhou a eleição e o processo foi arquivado. Leis e processos brasileiros No Brasil, não existem leis que regulamentem mensagens subliminares e essa é uma das razões pelas quais as pessoas se tornam cada vez mais vítimas delas. Calazans mencionou a existência de dois casos de processos no Brasil que estabeleceram jurisprudência sobre o tema. O primeiro é de uma propaganda do cigarro Free na qual, em um frame, aparece a palavra sombra. Calazans disse que o significado é escuro ou inconsciente. No mesmo comercial, havia também um frame de uma menina menor de idade que fumava o cigarro, embora ela não aparecesse em outras imagens. Foi realizada perícia com três psicólogos e dois engenheiros especializados em montagem de vídeo. De acordo com o palestrante, foi constatado que é impossível ter sido feito a propaganda subliminar se não fosse proposital. Já no segundo caso, a MTV utilizou mensagens subliminares em uma vinheta. “A MTV coloca na vinheta um cara falando, abrindo a boca e layers, que são transparências ou camadas. Há vários frames passando por trás. Em um deles, uma mulher amarrada sugere uma situação sadomasoquista. Em outro, tem pedofilia. Tem o que você quiser. Essa vinheta da MTV foi condenada a pagar alguns milhões e esse processo ainda está em fase de acordo”, mencionou Calazans. O pesquisador também afirmou que a Irlanda foi pioneira na utilização de mensagens subliminares em lentes de contato em anúncio da cerveja Guinness. As garçonetes perguntavam aos clientes a cerveja que desejavam. Ao olhar a lente com o logotipo da cerveja, logo eles escolhiam a Guinness. Calazans também afirmou ter descoberto subliminares no cartaz do filme Silêncio dos Inocentes. Segundo ele, Jodie Foster tem uma mariposa na boca. Nas costas dessa mariposa tem uma caveira e, na caveira, há sete mulheres nuas. Quatro delas estão tingidas de laranja. “Essa foto foi criada pelo pintor Salvador Dali. As mulheres ficaram em cima de uma armação de madeira. Aí a do pela mensagem subliminar Choque do Pikachu foi o primeiro caso de epilepsia televisiva Warner comprou os direitos. Por isso, você nunca mais a viu. Colocaram nas costas da mariposa uma coisa que você não percebe. Porque é para ir para o seu inconsciente. Isso é subliminar”, explicou. Acrescentou que “2% das pessoas vêem a caveira, e ninguém vê as mulheres brancas e cor de laranja, porque elas são imperceptíveis”. As mensagens subliminares também podem ser usadas para ajudar o ser humano em problemas como fobias, tensão prémenstrual, aprendizado de línguas, obesidade, entre outros. Inclusive grandes empresas as utilizam para aumentar a produtividade de seus funcionários. Calazans assumiu que já usou subliminar para eleger políticos e em videotextos. “Eu não sou santo. Eu já fiz. Eu fiz duas vezes em eleições e deu certo. Os candidatos foram eleitos”, afirmou. Na Universidade Católica de Santos, ele desenvolveu o projeto de implantação de mensagens subliminares em videotexto. De acordo com ele, o pessoal lia textos no site da emissora universitária sem interagir. Então, decidiram aumentar a interatividade, o tempo da pessoa e a freqüência de cliques. “A idéia era aumentar uns 20%, mas no primeiro mês teve 50%. No terceiro mês alcançamos 550% e travamos a Telesp, que era o provedor na época. Ela mandou carta escrita para a Católica de Santos perguntando o que estava acontecendo, e porque aumentou a audiência a esse ponto. Mantivemos durante três meses, conversamos e então decidimos cancelar o sistema. Era para durar um ano e durou tão pouco porque logo conseguimos atingir o objetivo de aumento de tráfego”, conta. Essa palestra teve como finalidade mostrar ao público que as mensagens subliminares estão praticamente em todos os lugares. Elas são captadas inconscientemente pelo cérebro e fazem com que adquiramos determinado produto impulsivamente. Portanto, é preciso muita atenção, pois a propaganda subliminar existe, e conforme demonstrado por Calazans, funciona muito bem. Mensagens subliminares são as que Transgressão da MTV gera primeira jurisprudência no Brasil entram no limiar da consciência. Calazans alertou que a manipulação feita através das mensagens subliminares é constante e perigosa. As pessoas são influenciadas sem saber, o que fere o livre arbítrio. As suas possibilidades de livre escolha ficam totalmente comprometidas. Palestrante Flávio Calazans, criador da Biomidiologia FOTO: RENATO CAPI Disney se desculpa pelo uso de imagem subliminar FOTO: ADILSON BARELLI EVENTOS Impressão digital na propaganda cria elo entre a empresa e o consumidor THOMAS LISTO anoVI — número 8 — Outubro de 2003 5º SEMESTRE - JORNALISMO Dando continuidade a 8ª Semana de Comunicação da Universidade São Marcos, esteve presente, no dia 22 de outubro, o palestrante William Martins, consultor digital da Digimark. Martins abordou as vantagens do uso da Impressão Digital e como este recurso pode aumentar o contato entre empresas e consumidores. A impressão digital é uma nova tecnologia que possibilita adequar um produto ao seu cliente. Isto é possível graças a facilidade em mudar os arquivos prédeterminados anteriormente. Uma vez que tudo é feito em computador, por meio de softwares, cada pessoa pode receber tratamento individualizado. Este tratamento é facilitado devido à vasta pesquisa que a empresa interessada faz junto aos seus consumidores. Estas pesquisas são feitas por e-mail e, quando retornadas, são arquivadas em formato Excel. Nesta etapa, são cruzadas as informações e é gerada uma planilha contendo todas as alternativas possíveis. Martins relata que este processo facilita as vendas por estar relacionado com a vaidade humana. “É natural as pessoas serem levadas pela vaidade e pela emoção. Não basta apenas o convencimento. E, quando nós fazemos nossos folders personalizados, em um processo chamado one by one, abrem-se inúmeras portas. O cliente sente-se satisfeito com o trabalho realizado e, além de comprar o produto, torna-se fiel a ele”, diz. Existem alguns aspectos importantes para diferenciar a impressão em offset e a digital. Na offset, o trabalho é mais demorado e as tiragens são muito maiores. Normalmente este é utilizado para campanhas de cunho nacional. Já a impressão digital é um processo rápido e com tiragem limitada. Martins: “em 10 anos, 90% dos publicitários estarão utilizando este procedimento”. Rápido porque tudo está digitalizado. Os arquivos, depois de prontos, são impressos imediatamente, necessitando apenas de uma impressora especial conectada à máquina. Limitado pois é um artifício utilizado para campanhas de persuasão. “A impressão digital tem que ser just in time, ou seja, para agora. Nós normalmente recebemos o pedido de nossos clientes em um dia para entregar no outro. Tudo tem que ser muito ágil para atender às expectativas de todos”, explica Martins. A evolução dos papéis Quem também participou da palestra foi Rosanna Fagilde, gerente de materiais da Print & Pack. Seu foco foi a utilização de substratos – superfícies utilizadas para a impressão – para cada tipo de ferramenta publicitária. Fagilde explicou que a escolha do material a ser usado para impressão é de vital importância. “Cada papel possui uma peculiaridade, portanto para cada campanha, deve-se prestar atenção para escolher o que melhor se adapte ao objetivo em questão”, declara. Ela ainda comentou que a utilização de certos substratos podem agregar valores à campanha. “Hoje em dia temos de tudo. Do simples sulfite a papéis que não rasgam. Existem laminados, brilhantes, foscos, texturados. Enfim, é uma gama interminável de opções”, relata. Ao final da palestra, Martins fez questão de enfatizar que o crescimento da impressão digital está cada vez maior e que daqui a 10 anos, 90% dos publicitários devem estar utilizando este procedimento. BRUNA MARTINHO 5º SEMESTRE - JORNALISMO No quarto dia da 8ª Semana de Comunicação, a palestra foi sobre “O direito autoral no Jornalismo e na Publicidade e Propaganda”. Os palestrantes, Luiz França, jornalista e fotógrafo, fundador da Associação Brasileira para a Proteção da Propriedade Intelectual dos Jornalistas – APIJOR e Silvia Neli, advogada que também trabalha na APIJOR. O público presente na palestra era composto por estudantes de Jornalismo e Publicidade. Os dois tinham chegado de um Congresso de dois dias de palestras sobre gestão coletiva de direito autoral. França começou a palestra falando sobre o projeto da APIJOR e passou à Silvia Neli, que começou a discursar sobre os direitos autorais. Segundo ela, a luta pelos direitos autorais é antiga e seu objetivo é defender o criador, suas características pessoais e sua independência. “Essa luta não pode ser vista como uma coisa banal”, afirmou Neli. “O autor deve ter o monopólio da sua produção intelectual”, completou. Após a palestra, França comentou sobre um dos projetos da APIJOR, que é trazer o conhecimento dos direitos autorais para as faculdades, como parte do currículo. Eles pretendem começar com os alunos de direito, e depois com os estudantes de jornalismo, para que eles possam sair da faculdade com uma formação mais completa e com base, para que tenham uma noção dos seus direitos e para que possam defendê-los. Neli também comentou sobre o direito de imagem, a lei de imprensa, e o mais importante para o público: como o estudante pode proteger os seus direitos autorais? Ela respondeu que o direito autoral não tem distinção, vale tanto para os estudantes como para os jornalistas formados. Eles podem registrar em cartório de títulos e documentar todos os seus trabalhos. Durante a palestra, foi debatido sobre a pessoa que pega o trabalho de duas outras e faz um terceiro, dizendo que é seu. Neli afirmou que os direitos das obras permanecem o mesmo, e você deve citar mesmo que tenha modificado ou utilizado alguma parte dele. Porque qualquer modificação ou utilização depende da autorização do criador da obra. Segundo ela, nós temos uma lei própria e além disso, todos os países seguem a FOTO: RENATO CAPI A luta pelos direitos autorais Sílvia Neli defende os direitos autorais Convenção de Berna, menos os EUA e a Inglaterra. Hoje em dia, os textos que circulam na Internet, nos jornais e não têm o seu devido crédito e são copiadas sem nenhum critério, o que infringe totalmente a lei. A APIJOR foi criada com o intuito de defender esses direitos e tentar fazer com que a lei seja cumprida, segundo Neli, ”no Brasil, os veículos se unem e tentam sempre um jeito de burlar a lei para não pagar pelos direitos”. Mais informações, no site www.autor.org.br. ALEXANDRE TABONE 5º SEMESTRE - JORNALISMO A obra publicitária recebe proteção da Lei dos Direitos Autorais, e também como propriedade industrial, sendo recomendável o registro no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), em casos específicos. O Código de Propriedade Industrial entende por propaganda toda legenda, anúncio, reclame, palavras, combinação de palavras, desenhos, gravuras, originais e característicos que se destinem a emprego como meio de recomendar quaisquer atividades lícitas, realçar qualidades de produtos, mercadorias ou serviços, a atrair atenção dos consumidores ou usuários. Além desses dispositivos, existe também legislação específica da área publicitária. Essas consideram como propaganda qualquer forma remunerada de difusão de idéias, mercadorias, produtos ou serviços, por parte de um anunciante identificado. E ainda delimita-se como atividade artística, todos os trabalhos gráficos, plásticos e outros, de expressão estética, destinados a difundir pela imagem, palavra ou som a propaganda de produtos e serviços. Mas afinal? Quem é o legítimo titular dos direitos autorais sobre a obra publicitária? A legislação publicitária estabelece que as criações pertencem a agência de propaganda criadora, e estas não podem ser exploradas sem que as agências de propaganda se beneficiem. Para tanto, é necessário conceber a publicidade como obra coletiva criada pela participação de diferentes autores, cujas contribuições se fundem uma peça única. Sendo assim a proteção concebida ao autor é aplicada às pessoas jurídicas nos casos previstos. O cliente da agência de propaganda, nada tem a pleitear como titular de direito autoral. O fato de ter encomendado uma obra publicitária não o torna detentor dos direitos autorais que dela decorrem. “Sensibilidade e a preocupac Algumas das ferramentas básicas para a formaç ANDERSON DE MELLO 5º SEMESTRE - JORNALISMO Waack definiu a função de repórter como a de “um bom contador de história. No sentido clássico da palavra é a função de jornalismo que continua cercada de certo ‘romantismo’, uma das últimas na qual o profissional, no caso o repórter, tem uma considerável margem de ação, de decisão, de definir o que ele quer, como quer, como vai fazer”, afirmou. Waack afirmou que considera as editorias de Polícia e Esportes como as grandes escolas de reportagem. Para ele, “nenhum outro campo oferece para o jovem profissional a possibilidade tão rápida de adquirir tudo aquilo que o jornalista precisa para ser um bom repórter”. Sobre a de Esportes, ele disse que o repórter “é obrigado a sintetizar de maneira muito rápida e concisa algo que muitas pessoas estão vendo e que vão poder comparar com o que foi escrito. E, se o repórter não tratar aquilo de forma muito humana, não será lido, ouvido ou visto. O profissional é obrigado a desenvolver “fontes” com muita rapidez, pois não tem informação exclusiva quando não está havendo jogo de futebol. É disso que vive um bom repórter de Esportes,” declarou. Na editoria de Polícia, ele frisou a importância, para o repórter, “do contato com a ‘sujeira da sociedade’, como diziam os velhos romancistas franceses do século XIX. É importantíssimo do ponto de vista do endurecimento pessoal do repórter. Não há repórter que consiga escrever bem se ele emociona-se ao escrever.” FOTOS: RENATO CAPI anoVI — número 8 — Outubro de 2003 A palestra do repórter especial da Rede Globo de Televisão e apresentador eventual do Jornal da Globo, William Waack, 51, encerrou a 8ª Semana de Comunicação da Universidade São Marcos, no dia 24 de outubro, sexta-feira, no auditório da Unidade Padre Chico. Em janeiro de 2004 completará 34 anos de profissão. Sua palestra apresentou, a partir de suas experiências, a profissão de jornalista, principalmente nas atividades realizadas como repórter. Formado em Jornalismo pela ECA, Universidade de São Paulo – USP, Waack é mestre em ciências políticas pela Universidade de Mainz, Alemanha. Ele começou no jornalismo em 1970 e desde então trabalhou em vários veículos: O Globo, Jornal do Brasil, Veja, Estadão, Jornal da Tarde e TV Globo. Repórter a maior parte do tempo, foi correspondente internacional por 20 anos, chegou a cobrir guerras e revoluções em alguns países e algumas destas reportagens transformou em 4 livros. Venceu por duas vezes o Prêmio Esso de Jornalismo. Na Rede Globo, onde trabalha atualmente Waack é dos poucos repórteres que editam suas notícias. Waack iniciou a palestra lembrando do início do seu trabalho, aos 16 anos de idade, como repórter da editoria de Geral, do jornal O Globo. Passando pela Editoria de Polícia e depois, praticamente por todas as funções da redação de um jornal. Formação do repórter Para Waack, isso tudo “não tem nada a ver com especialização”. O repórter pode ser perfeitamente especializado em esporte e ignorar o que ele “considera como ferramentas básicas para que a sua história realmente capture as pessoas”. Preparação para a reportagem Um dos pontos abordados por Waack durante a palestra foi a preparação do repórter para desempenhar sua função. “Nenhum repórter pode chegar e abordar qualquer assunto, de qualquer relevância, sem ter alguma informação prévia. Quem entra numa entrevista sem saber nada, sai sem saber nada. Quem entra sabendo alguma coisa, arranca alguma coisa. São regras simples, que parecem assim uma repetição do óbvio mais estúpido que vocês possam imaginar, mas que tem uma praticidade enorme”, declarou ele. Ele acrescentou que para alcançar a realização profissional, o repórter precisa ter uma considerável dose de informação e de cultura em termos gerais. E ainda investir na sua formação e dominar mais de um idioma. “O inglês não se conta mais. É tão obrigatório como o português,” afirmou. Waack enfocou também a má preparação dos jornalistas ao abordarem determinados assuntos. Segundo ele, “é a receita fatal para a chamada falsa informação. O profissional que a leva ao público nem sabe que ela é falsa, simplesmente não é capaz de diferenciá-la”. É o caso nos dias de hoje, “quando a denúncia vale pela denúncia. Denunciar qualquer coisa sem se preocupar com a apuração,” disse. Segundo Waack, essas são ferramentas básicas que muitas vezes são ignoradas. O resultado disso são, a despreocupação com padrões éticos, a despreocupação com o seu objeto da reportagem e a preocupação excessiva consigo mesmo. Comprometimento com a notícia Publico acompanha atentamente a palestra de William Waack Na sua maneira de ver, Waack acredita que o repórter não deve ser notícia. “Sou de uma velha geração. O repórter tem que estar atrás da notícia e não na frente dela”, afirmou. Waack contou sua experiência quando, em 1991, ao final da primeira Guerra do Golfo, foi capturado junto com o fotojornalista Hélio Campos Mello pelo cao com a figura humana” ção do grande repórter exército iraquiano. Na época, ambos trabalhavam no jornal o Estado de São Paulo. Ele diz que, como prisioneiros, os dois pensavam da mesma maneira nas conversas que mantinham. “Cometemos um erro horrível, não tinha que estar acontecendo. Nós não tínhamos que ser notícia,” disse, “Bem diferente do que pensam boa parte dos repórteres. Sobretudo o de televisão, na qual a presença do repórter é mais importante que o fato”. Para Waack, quando o profissional de imprensa se coloca como o mais importante e resolve aparecer mais do que a notícia, ele está no caminho errado. Conquista das fontes “A conquista da fonte é essencial para o trabalho de reportagem”, afirmou Waack. Ele lembrou de dois exemplos extremos de repórteres traídos pela fonte: “É a pior situação que um repórter pode viver. O caso do norteamericano Daniel Pearl no Paquistão e Tim Lopes, traídos pela fonte.” Para ilustrar, contou um causo de reportagem ocorrido em 1980, quando os operários do estaleiro Lenin, na cidade de Gdansk, se levantaram contra o regime comunista que então prevalecia na Polônia. Waack contou que trabalhava com um repórter espanhol, do qual ficou muito amigo, e que ajudavam um repórter austríaco, um senhor um pouco adoentado e que não conseguia sequer carregar a máquina de escrever. “Naquele tempo, o repórter andava com a máquina de escrever na mão”, comentou. Juntos, eles carregavam o equipamento do austríaco. Este conhecia todo mundo, falava polonês e os levava a todos os lugares. Além disso, ele era muito apaixonado por uma moça polonesa. Naquela época, era muito importante para os grupos clandestinos fazer contato com a imprensa de fora. Quando em 1989, o comunismo acabou na Polônia, Waack e o amigo espanhol descobriram que o austríaco era um espião que, envolvido sentimentalmente pela polonesa, comprometeu-se com o outro lado e fez um acordo com o serviço secreto polonês. Ele informava o que os jornalistas ocidentais faziam, com quem se encontravam e, em troca, a namorada polonesa ganharia o visto para sair da Polônia. Waack disse que encontrou o austríaco dois anos depois em Viena. Afirmou que não tinha raiva dele, mas disse: “Pôxa, cara! Eu carreguei sua máquina...” E o agente falou então: “Vocês eram legais. Aí eu maneirei.” Segundo Waack, não há o correspondente de guerra e sim, o repórter que cobre uma situação de conflito, o que não é basicamente diferente de cobrir outras situações. Existe o risco físico. “Seria ridículo ignorar, que por estar num lugar conflagrado, o jornalista ‘involuntariamente’ poderia se transformar num alvo ou, até mesmo, ‘voluntariamente’ poderia tornar-se alvo se quiser. É isso o que separa o repórter responsável do repórter irresponsável”, concluiu. Grandes repórteres Para Waack é impossível ser um bom repórter se o profissional não tiver interesse pelas pessoas. São condições essenciais “Colocar-se no lugar do outro, ter a preocupação com o ser humano em primeiro lugar e ter uma alta dose de sensibilidade, “ afirmou. Uma regra de ouro para desempenhar a função, segundo ele, é “ter sempre na cabeça que basicamente os repórteres estão ou terão que estar preocupados com seres humanos’’. Para ele, as pessoas não querem ser apenas informadas. “Elas querem se sentir levadas para um contexto, para uma realidade, ou, para um assunto. Quem consegue passar este clima é o repórter. É muito mais relevante, do ponto de vista da atividade da reportagem, se confrontarem com as versões dos fatos do que propriamente com os fatos”. Na opinião de Waack, “aquilo que as pessoas fazem da realidade, aquilo que entra na cabeça delas e aquilo no que elas passam a acreditar é que tem importância decisiva para aquilo que os jornalistas vão fazer. Entender o que é uma versão, entender o que ficou na cabeça das pessoas, saber separar isso é realmente a arte da reportagem”. “Sempre se diz que a figura do grande repórter vai acabar e nunca acaba”, afirmou Waack. “Apenas alguns ganham destaques e são conhecidos como tais. Muitas vezes o leitor abre as páginas dos jornais porque quer ler o texto deste jornalista. São poucos, e não só no Brasil, como também em outros países do mundo”. Para estes, “ a sensibilidade, o respeito pelo outro e a preocupação essencial com a figura humana com os seres humanos é o que acontece na cabeça delas,” é o ponto em comum. ANDRESON DE MELLO E WILSON COLOGNI FILHO 5º SEMESTRE - JORNALISMO O educador Luiz Barco, que fez a palestra no II Encontro de candidatos à Iniciação Cientifica da Universidade São Marcos, no auditório do campus João XXIII, na noite de 28 de outubro último, nos remete à figura do “bom velhinho”. “Tenho barriga grande, barba grande. A universidade fez meu saco de brinquedo. Eu sou o próprio papai Noel,” afirmou. Como Descartes no passado que ao ser interpelado pelos homens do saber e poder dizia que suas descobertas eram ditas por um anjo ironizando-os. Desta forma mostrou seu lado provocador, escolheu o nome da palestra para que os participantes possam refletir o tipo de saber que forma o ser. Sua palestra é isso: uma pausa para reflexão dos alunos e professores. Formado em Matemática pela USP Universidade de São Paulo, hoje professor da entidade, Barco têm todos os títulos que o mundo acadêmico pode oferecer: mestrado, doutorado, livre docência, adjunção - que não existe mais - e cátedra, hoje chamada professor titular. Como ele mesmo disse o “handcap” para poder ser uma pessoa importante era quase zero, pois o pai falecera quando ele tinha 5 anos de idade e a mãe era uma simples empregada doméstica. Mas, a mãe o educou com liberdade e hoje ele é capaz de ir a qualquer lugar onde quer que lhe convidem e falar o que pensa. Para Barco, o que realmente importa não são os títulos e sim “a busca da interatividade humana. As ciências e as artes desprovidas da condição humana são estúpidas”, afirmou. Lembrou as guerras do golfo e as tecnologias inventadas para destruição da figura humana. “Quem desenvolveu não foram os políticos, foram pessoas como vocês, que estudaram em faculdades de boa qualidade que não entendem nada de ética e de sentimento do coração”, disse. anoVI — número 8 — Outubro de 2003 Uso social da inteligência O professor contou que a universidade não deve premiar a esperteza, tampouco a inteligência e, sim, a sabedoria. Na definição de Barco, sabedoria é “o uso social da inteligência. Quando você usa a inteligência não para proveito próprio ou pequenos grupos, mas para engrandecimento do homem, você está sendo sábio”, disse. Para ele, existe uma enorme hipocrisia dentro de quase todas as universidades, que não formam seres inteiros, íntegros e cidadãos. “Não faz parte explícita ou implícita da universidade um paradigma do homem bom, justo, feliz e alegre,” afirmou. “É preciso primeiro formar homens inteiros e dele fazer um cientista, seja físico, biólogo, matemático, advogado, médico, engenheiro ou jornalista” contou. Para Barco, formar cientistas é fácil. Mas ter que humanizá-los depois é extremamente difícil. “Você pode fazer ciência de boa qualidade, mas não precisa desumanizar-se. Não precisa jogar fora a sua capacidade de ser feliz e alegre,” relatou. Segundo ele, quem pensa que a vida precisa ser uma grande farra para ser feliz Barco observa o público presente também está enganado. “Até a farra desprovida de valores éticos mais profundos acaba sendo um negócio cansativo e chato”, falou. Somos seres humanos Barco afirma que é preciso que os professores universitários “atravessem” uma lição. “Ter a coragem de dizer: Eu não sei”. Ele diz que nenhum aluno espera que os professores sejam semideuses, apenas por dominar um ou outro conhecimento e ter um ou outro título. E que tenham respostas para tudo. “Se eles tiverem coragem de dizer: “Eu não sei, mas já que te interessa vamos aprender juntos”. Eles estarão devolvendo ao professor a dimensão humana. Todos nós somos homens, mulheres. Somos seres humanos,” falou. Ele explicou que ao invés de perder o respeito, o professor ganhará muito mais respeito do aluno. “É mais fácil corrigir, punir, dar nota baixa ou alta do que ser amigo,” disse. Barco comentou “que mesmo com todos os defeitos que nós, os seus professores, temos ainda não os estragamos por completo. Não permita que esta ou qualquer universidade os estrague,” afirmou. Segundo ele, os alunos ao chegarem a universidade têm uma grande sinceridade, mas aos poucos a própria vida profissional os obriga a “certas incoerências com o seu íntimo, com sua essência. Lutem para não perderem sua autenticidade”. “Venham aqui, assistam suas aulas, discutam conosco, ponham em dúvida nosso conhecimento, nossa sabedoria. Mas, por favor, não ponham em dúvida nossa integridade”, afirmou. Luiz Barco disse que é “preferível ter idéias, ainda que errôneas do que ser caudatário da vontade dos outros. Seja partido político, religioso ou de uma pedagogia. Tudo aquilo que faz mal a liberdade intrínseca do homem, não nos devolve a esperança. É preciso não perder a esperança”, concluiu. FOTO: ANDERSON MELLO Um anjo me disse...