Semana da Comunicação

Propaganda
ESPECIAL
8ª Semana de
Comunicação Social
da São Marcos
Na 8ª Semana de Comunicação da Universidade São Marcos,
profissionais da área de publicidade e jornalismo apresentaram um
panorama do mercado e através de suas experiências relataram as atividades
da profissão: Marketing direto - página 3; Jornalismo Cultural - página
4; mensagens subliminares - página 6; impressao digital - página 8;
Direitos autorais - página 9; a formação do reporter - página 10.
EVENTO
Um anjo me dissse...
O matemático e professor da Escola de Comunicação e Artes da USP, Luiz Barco,
ministrou a palestra para os candidatos a iniciação cientifica da Universidade São
Marcos. Mostrou a importância do saber para a formação do homem integral.
E
sta edição do jornal
Parágrapho é muito especial porque
traz a 8ª Semana de Comunicação
da Universidade São Marcos que
ocorreu nos dias 20, 21, 22, 23 e 24
de outubro. Diversos palestrantes
compartilharam suas experiências e
conhecimentos com o público,
composto por estudantes e professores
no auditório da Unidade Padre Chico.
Quem até então acreditava que
marketing direto se resumia ao envio
de mala direta perceberá que está
totalmente enganado ao ler matéria
sobre a palestra ministrada pelo
publicitário Pedro Venturini. Ele
mostrou que esse segmento é muito
mais que uma estratégia de negócios.
É uma das principais ferramentas de
relacionamento.
Leia também o texto que aborda
a palestra sobre Jornalismo Cultural,
que está na página 4. Nela, Bruno
Zeni, Heitor Ferraz, Manuel da Costa
Pinto, Ronaldo Bressane deram suas
opiniões sobre o conceito de
jornalismo cultural, sua produção no
Brasil e a existência ou não de uma
crise nesta área. Fique por dentro do
mundo do jornalismo cultural!
Quem tem dúvidas sobre a
importância da Impressão Digital na
Propaganda poderá se informar
melhor na pagina 8. O palestrante
Willian Martins, consultor digital da
Digimark, mostrou o estreitamento
de laços que este meio causa entre
empresas e consumidores. É a
tecnologia auxiliando na descoberta
das preferências por determinados
produtos.
ANO 6
NÚMERO 8
JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO
SOCIAL DA UNIVERSIDADE SÃO MARCOS
Fique esperto! Ao ler a matéria
sobre mídia e mensagem subliminar
na propaganda, você perceberá que
essas mensagens estão praticamente
em todos os lugares e que o uso é
mais freqüente que imaginamos, pois
não há leis brasileiras que protejam
os cidadãos. Nesta palestra, Flavio
Calazans apresentou exemplos reais
em desenhos, propagandas políticas,
filmes. Eles o ajudarão a treinar os
olhos e a não permitir que elas
influenciem a sua capacidade de
escolha.
Para quem não sabe que sua obra
tem os direitos assegurados, pode se
informar ao ler a matéria sobre os
Direitos Autorais. Luiz França e
Silvia Nelli mostram que essa área
do direito é importante e está à
disposição de todos, tanto para
estudantes como para profissionais
formados.
A Semana de Comunicação foi
encerrada com o jornalista William
Waack que, em um bate papo,
contou as suas experiências na
profissão, sua atuação como repórter
e deu muitas dicas enfatizando a
importância da qualificação
profissional. Leia essa matéria que é
uma lição de vida profissional, ética,
dignidade e honestidade.
Confira também a palestra
realizada pelo educador Luiz Barco
no auditório do Campus João XXIII
aos alunos da iniciação científica.
Esta palestra nos faz refletir sobre a
verdadeira
importância
da
humanização nas atividades de
graduação.
Presidente da Mantendora: Ernani Bicudo de Paula
Chanceler: Olavo Drummond
Reitor: Ernani Bicudo de Paula
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Coordenador: Franklin Valverde
Editor-chefe: Franklin Valverde
Editor de Fotografia e Projeto Gráfico: Sérgio J. Almeida
Editor de Arte: André Nóbrega Dias Ferreira
Editora s de Reportagem: Eiko Enoki e Teresa de Sá Teixeira
Reportagem, Fotografia e Diagramação: Anderson Rodrigues de Mello;
Alexandre Henrique Tabone; Bruna Mendonça; Elaine dos Santos, Ivan
Avivar Júnior; Renato Augusto; Shirley Marques de Azevedo; Thomas Listo e
Wilson Cologni Filho (alunos do 5º semestre de Jornalismo).
Distribuição: Agência Modelo
Orientadores: Gisela Belluzzo de Campos, Roberto Bazanini e Rodrigo
Ferreira Leite.
Endereço:
Av. Nazaré, 900. CEP: 04262-100
Telefone: 3471 5700, ramal 5766
E-mail: [email protected]
OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE
RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES. NÃO
EXPRESSAM A OPINIÃO DO JORNAL.
ÍNDICE
E DITORIAL
anoVI — número 8 — Outubro de 2003
parágrapho
SEGUNDA-FEIRA
O marketing direto e a eterna
corrida do ouro
TERÇA-FEIRA
pág.
3
pág.
4
O Jornalismo Cultural está
realmente em crise?
QUARTA-FEIRA NOITE
Atenção: você já foi manipulado
pela mensagem subliminar
pág.
QUARTA-FEIRA MANHÃ
pág.
Impressão digital na propaganda cria
elo entre a empresa e o consumidor
QUINTA-FEIRA
A luta pelos direitos autorais
6
8
9
10
pág.
SEXTA-FEIRA
pág.
“Sensibilidade e a preocupação com
a vida humana”
EVENTOS
Um anjo me disse...
pág.
12
O Marketing de contato e
a eterna corrida do ouro
WILSON COLOGNI FILHO E ANDERSON DE MELO
5º SEMESTRE - JORNALISMO
O publicitário Pedro Venturini Filho,
formado pela Escola Superior de Propaganda e
Marketing, com extensão pela GV e
especializado pela Fundação Getúlio Vargas, foi
o responsável pelo debate sobre mercado,
direcionado ao marketing direto; sua
especialidade. Venturini atua no atendimento
em geração de negócios da agência BBRO
Marketing e Comunicação, que possui clientes
como Enciclopédia Britânica, TV Bandeirantes,
TV Record, Senac, Unibanco e outros.
Venturini iniciou o debate sobre
Marketing Direto com exemplos explicativos
sobre a prática e os conceitos aceitas pelo
mercado. Segundo ele, o conceito de
marketing direto aceito mundialmente “é um
sistema interativo pelo qual se busca uma
resposta, uma interação ou uma transação por
meio de qualquer mídia, em qualquer lugar
dó mundo.” E continua explicando: “Se você
pega um anuncio em revista, um spot, um
Jingle ou um filme publicitário, nem sempre
se estará buscando uma transação imediata, a
venda de um produto; estas ações podem estar
apenas vendendo uma imagem, um anseio,
uma expectativa ou uma marca, e as vezes ele
não dá sequer um canal de resposta”.
A grande dúvida que circula entre
estudantes está nas diferenças entre o
Marketing Direto e outras atividades como
Propaganda, Promoção de Vendas e Relações
Públicas. No caso de sua diferença com a
propaganda, é que a propaganda trata o
consumidor como massa e não como
indivíduo e não exige uma ação imediata.
Neste caso, as pessoas ficam com sentimentos
e inclinações que favorecem a tomada de
decisão no momento da compra. Já com
relação a Promoção de Vendas, ela é praticada,
como diz o nome, para atingir um efeito
imediato sobre as vendas, mesmo utilizando
freqüentemente os mesmos meios utilizado
pelo Marketing direto, por exemplo mala
direta e ofertas especiais, como geralmente é
a curto prazo, não gera relacionamento. As
Relações Públicas utilizam a mídia controlada
para gerar um clima favorável de opinião.
É previsível que nas próximas décadas, o
grande diferencial das empresas mais arrojadas
será a adoção do Marketing Direto, pois esta
pratica não possui medo de ser avaliado pelos
resultados efetivos que produz. Mas olhando
para trás, percebemos que nem sempre houve
tantas facilidades tecnológicas para o
desenvolvimento desta prática, mesmo sendo
preciso apenas a oprtunidade de venda para
que haja mkt direto.
As origens do Marketing Direto remetem
a tempos anteriores a industrialização, época em
que os contatos com os consumidores eram
diretos, a distribuição dos produtos era artesanal
e não havia distribuição em massa. O processo
de industrialização e o aumento da produção
ocasionaram maior oferta que procura, a
fabricação de produtos em excesso e a
conseqüente necessidade de promoção em
vendas. As necessidades a serem atendidas pela
produção industrial deram origem ao
Marketing de Massa, às Pesquisas, ao Serviço
Especializado dos Correios como apoio aos
canais de distribuição e a força de vendas através
do reembolso postal e da propaganda postal.
Para Pedro Venturini , o Marketing
Direto “começou com a corrida do ouro no
velho oeste Americano. Os Estados Unidos
foi colonizado do Leste para o Oeste, e esta
corrida fez com que o mkt direto nascesse e
se desenvolvesse muito rapidamente. As
pessoas que foram para o velho Oeste
estavam precisando de vestimentas, alimentos
e artigos de necessidades básicas. E o velho
oeste era uma região desértica. E a costa leste
era bem mais desenvolvida. Então
começaram a haver as compras a distância. A
costa leste percebeu a oportunidade de venda
e a costa leste precisava das mercadorias.
Então, após os exploradores, o primeiro canal
de comunicação entre as costas foi o correio.
E começou-se a vender por cartas, por
catálogos. Depois começar as carruagens a
carregar encomendas. Havia os assaltos que a
gente conhece através dos filmes. Depois
vieram as ferrovias, o que incrementou ainda
mais este tipo de negócio e possibilitou às
comercializações em maior escala.”
Para o publicitário, Marketing direto é
muito mais do que uma ferramenta de
comunicação, é uma estratégia de negócios.
“Claro que se comunica esperando uma
resposta, uma mensura.” Segundo ele, o mkt
direto está atualmente no CRM, no mkt uma
a um, na impressão personalizada onde o
anúncio vai com o nome da pessoa, e “os
fatores atuais nos levam a imaginar que o mkt
em breve estará nos cartões inteligente onde
as empresas possuem todo o histórico de
compra do usuário, podendo analisar suas
características de consumo além de todas as
informações, propaganda via Wap e SMS, a
previsão de compra (modelo estatístico
preditivo), eletrodomésticos inteligente que
agilizarão as compras, a tv interativa que será
a maior revolução da história pois permitira
uma velocidade gigantesca nas ações e trocas
de informações.
Mesmo o advento da tecnologia não livra
a possibilidade de que as ferramentas do
Marketin Direto sejam utilizadas com más
intensões. Venturini falou sobre o Spam que
é um termo utilizado para um e-mail
indesejado. Pedro Venturini disse que não
concorda que e-mails não solicitados sejam
caracterizados como invasão, pois se bem
direcionados, atingirão o interesse do usuário
receptor. Porém para funcionar tem que ser
bem feito. Se não for bem feito é spam e se é
spam não dá resultado.
O que se espera, ao menos os
consumidores que possuem o juízo no lugar,
que o mercado e aqueles que atuam com
marketing direto, atuem baseados em critérios
e não através de condutas desenfreadas e
frenétiaca em busca da decisão de compra das
pessoas, afinal, mesmo que através da
comunicação, não será mais tolerado a barbárie
e o dispautério das coisas que aconteciam na
época em que a corrid do ouro movimentava
muito dinheiro e muitas confusões.
FOTO: RENATO CAPI
Venturi: “Marketing é uma estratégia de negócios
CIDADE
O Jornalismo Cultural está r
Semana de Comunicação da Universidade São Marcos promove pemiação do concurso
FOTOS: RENATO CAPI
WILSON COLOGNI FILHO E IVAN AVIVAR PANHAN JÚNIOR
anoVI — número 8 — Outubro de 2003
5º SEMESTRE - JORNALISMO
No dia 21 de agosto foi realizada a
segunda noite da 8º semana de comunicação
da Universidade São Marcos.
Na ocasião, a Unimarco Editora divulgou
a premiação do concurso literário que teve
como propósito não apenas estimular a
criação literária e estética dos alunos como
também promover a aproximação dos
mesmos da editora.
Além da divulgação foi realizado um
grande debate sobre jornalismo cultural, onde
estiveram presentes os jornalistas Manoel da
Costa Pinto e Bruno Zeni, o poeta e editor
Heitor Ferraz e o publicitário e também poeta
Ronaldo Bressani.
Para Reinaldo, o porta-voz da
Unimarco Editora no evento, um dos
motivos da realização do concurso deve-se
ao fato dos estudantes não possuírem
vínculo com o novo projeto editorial
desenvolvido pela editora na Universidade.
“O resultado foi muito gratificante pois,
mesmo percebendo certa ingenuidade de
quem está iniciando, de quem está
começando a escrever, deu pra perceber que
havia muita criatividade, inventividade e
cuidado com a linguagem por parte dos
alunos”.
Reinaldo salientou também que os
talentos literários estão muito bem
distribuídos pois estudantes de todas as
áreas participaram do concurso, seja de
Comunicação e Letras como de Psicologia,
Arquitetura, entre outros.
Os três vencedores, na categoria poesia,
foram os seguintes: primeiro lugar para Enfim
nasce o meu silêncio, do aluno Elton Daniel;
segundo lugar para Tamanho 15 por 10, da
aluna Maria Salete Comar; e o terceiro lugar,
Luz de Mel, do aluno Carlos Botelho. Na
categoria Conto o primeiro lugar foi para A
Recompensa, de Thiago Rinaldi Pele; o
segundo foi para Porta Aberta, de José
Roberto Campos; e o terceiro lugar, Desde
Sempre para o texto de Rosemeire Barbosa
Silva.
Manoel da Costa Pinto conceitua jornalismo cultural
Jornalismo Cultural e a imprensa brasileira (do Estadão), que traziam poesias e textos de
Logo após a entrega das premiações,
Reinaldo iniciou o debate sobre jornalismo
cultural junto aos convidados da noite. Para
Pinto, colunista do jornal Folha de São Paulo,
“jornalismo cultural é o jornalismo que lida
com cultura, mas há que se fazer distinções
dentro desta obviedade, pois, nos últimos
anos, percebe-se que há uma distinção de
tratamento de cultura nos diferentes tipos de
veículos”. Assim o jornalista deu introdução
ao assunto da noite, discutindo o papel
exercido pela imprensa do passando e como
sua abordagem vem se modificando através
do tempo.
Segundo Pinto, “antigamente os jornais
como Folha de São Paulo e o Estado de São
Paulo tinham simultaneamente cadernos que
publicavam notícias do meio cultural e
cadernos de variedades e espetáculos que
traziam a programação cultural, como teatro,
cinema, musica, livros e algumas críticas que
discutiam os assuntos tratados.
Simultaneamente, estes mesmos cadernos
publicavam ensaios e reflexões mais
aprofundadas”. “Estes mesmos veículos
publicavam também cadernos como o
folhetim (da Folha) e o Suplemento Literário
ficção, cumprindo o verdadeiro papel do
jornalismo literário: a difusão da cultura
brasileira e em específico, no caso, de São
Paulo.”
É notável que, nos últimos 20 anos,
veículos como Folha de São Paulo e O Estado
de São Paulo passaram por um profundo
processo de especialização editorial,
enxugando as redações e diminuindo o espaço
da divulgação cultural. Para Pinto, “o espaço
de poesia e de criação ficcional diminuiu
muito e, conseqüentemente, a pauta diária
destes veículos limitou-se à cobertura da
movimentação cultural que acontece no diaa-dia das cidades.
Assim, os jornais se desincumbiram de
trazer uma reflexão mais aprofundada sobre
a produção cultural. Cadernos culturais como
a Ilustrada e o Suplemento Literário
tornaram-se cadernos de reflexões de ensaística
autoral, redigidas por grandes personalidades
da cultura que se restringiram a temas,
desenvolvidos em linhas sociológicas e
filosóficas, raramente expondo um painel
crítico de referência da produção cultural
brasileira. Os jornais abdicaram do seu papel
de refletir sobre a produção da cultura
ealmente em crise?
literário realizado pela Unimarco Editora e discute crise no Jornaçismo Cultural
brasileira. Ou divulga-se a agenda ou se tem
um espaço bastante limitado para analisar a
cultura produzida aqui”.
Paralelamente à imprensa cultural de
grande circulação, segundo Pinto, foram
surgindo algumas revistas e algumas
publicações — até por que os jornais recuaram
— que acabaram cumprindo a tarefa antes
desempenhada pelos jornais. Estes veículos
procuraram, principalmente na área de
literatura, teatro e cinema, ter uma reflexão
de densidade sobre a produção cultural
brasileira. Para exemplificar, ele dá o exemplo
das revistas Cacto e Monturo: “Foram revistas
que, ao mesmo tempo, publicaram e
refletiram a produção ficcional e poética,
coisas que a grande imprensa já não fazia
mais”.
Crise institucionalizada
Todos os convidados a mesa de debates
foram contundentes ao afirmar que realmente
existe uma crise no Jornalismo Cultural, que
vem modificando a prática diária do
profissional de imprensa. Para o atual editor
da Pocket Livros, Heitor Ferraz, os
estudantes puderam perceber de forma clara
esta importante questão que está impregnada
no fazer jornalístico diário. Para Ferraz, esta
mudança está no fato de que nos tempos
atuais a cobertura cultural se dá em grande
parte por influência e pressão do mercado,
que possui interesse nas publicações, no
sentido de divulgação do produto cultural.
Heitor explica que “a resenha, espaço crítico
que existe nos jornais, foi perdendo espaço
para o release — um tipo de texto fabricado
pela indústria — que serve como material de
divulgação do produto no mercado.” Para
ele, é necessário perder a ingenuidade de
acreditar que se está falando apenas de cultura
e não de um produto que está ligado à cultura.
A resenha ou o texto crítico, durante
muito tempo, ocupou um espaço maior
dentro da imprensa. Via-se artigos
importantes que desempenhavam um papel
crítico sobre aquilo que estava sendo colocado
ao público. “Percebemos que este tipo de
espaço foi ficando cada vez menor. Hoje, este
espaço é ocupado pela publicidade branca, um
tipo de publicidade não paga, que dá
credibilidade ao produto. Ao contrário dos
textos de maior densidade, o release
desempenha o papel de avisar o leitor dos
novos produtos existentes, fazendo uma
consideração ou um comentário superficial.
Assim, a crítica em jornal foi perdendo
importância, pois não espelha mais a
produção cultural, seja em qual área for”,
comentou Ferraz.
Um exemplo claro muito discutido pelos
convidados sobre os mecanismos do mercado
e de como ele exerce uma grande influência
nas publicações da área cultural foi o
lançamento do livro Budapeste, de Chico
Buarque. Segundo Ferraz, “foi armado um
esquema impressionante. Saíram matérias em
todos os jornais, todas assinadas por nomes
importantes como José Saramago, José
Wisnik, Caetano Veloso, Fernando
Veríssimo. Foi armado um grande
esquema de propaganda junto aos
jornais. A editora responsável pela
publicação distribuiu para cada jornal
um texto exclusivo. Isto demonstra
como os jornais participam do jogo da
publicidade e da divulgação, que
precisam ser agressivas para chegar ao
consumidor. Então hoje não se tem
mais um leitor do outro lado jornal, o
que se tem é o consumidor. Um
consumidor de cultura, neste caso”.
Informação com Impressão digital
Reafirmando as idéias de Ferraz, o
publicitário Ronaldo Bressani falou
sobre a customização da imprensa. “Por
eu ter acompanhado as três instâncias
do mercado, como produtor de
cultura, divulgador publicitário e
jornalista, eu conheço muito bem
como o produto vai de um lado pro
outro”.
Segundo Bressani, “há alguns
órgãos de imprensa, os customer
publisher, que são veículos ligados às
marcas, como revistas como
Volkswagen, Daslu e Audi. Eles
possuem muita verba e acabam
compartimentalizando
o
conhecimento da produção cultural”.
Para o publicitário, “estas revistas,
que por sinal são produzidas com alta
qualidade técnica, acabam captando os
maiores talentos que estão no mercado,
conseguem cada vez mais espaços nas bancas
e acabam influindo diretamente na maneira
como a cultura é percebida pelo público”.
Assim, tanto para os convidados quanto
para os estudantes presentes, é necessário que
todos estejam atentos para as contemporâneas
formas de tratamento da informação. E
quando se falar em crise no jornalismo
cultural deve-se atentar para uma crise que
extrapola os limites do jornalismo; crise que
diz respeito a tudo o que vivemos. Como
afirma Ferraz: “você compra um cd, escuta
quatro ou cinco vezes e depois o encosta a
um canto e espera o próximo lançamento”.
Tudo é mastigado e direcionado ao
consumo.
Esquerda para direita: Heitor Ferraz e Ronaldo Bressani
Atenção: você já foi manipulad
REPRODUÇÕES DO MATERIAL DE
CALAZANS
Bush:
campanha suja
contra Al Gore
Lentes: logotipo da Guiness
anoVI — número 8 — Outubro de 2003
SHYRLEY MARQUES DE AZEVEDO E ELAINE DOS
SANTOS
No terceiro dia da 8º Semana de
Comunicação da Universidade São Marcos,
Flavio Calazans ministrou uma palestra sobre
mensagens subliminares. Este tipo de
mensagens estão presentes em grande número
das produções de mídia como filmes, cartazes,
anúncios publicitários, revistas, capas de CDs,
outdoors, vinhetas, entre outros. Elas são
usadas inclusive na política.
Calazans criou a Biomidiologia, por ele
definida como um ramo de pesquisa derivado
da midiologia que estuda os efeitos da mídia
nas formas de vida, na fisiologia ou no
comportamento. Analisa como o ser humano
reage à mídia.
O palestrante apresentou alguns exemplos
de mensagens subliminares que foram
veiculadas na mídia em geral. No Japão, em
dezembro de 1997, várias crianças passaram
mal após assistir o desenho animado
Pokemon. A causa diagnosticada pela
Organização Mundial de Saúde – OMS,
foram as 54 piscadas em 5 segundos das
bochechas do personagem Pikachu. De
acordo com Calazans, o objetivo era
aumentar as vendas e desse episódio surgiu a
doença epilepsia televisiva.
Um exemplo citado por ele envolve a
Disney, que assumiu publicamente ter
utilizado mensagem subliminar no desenho
Bernardo e Bianca. Esse uso ocorre aos 28
Silêncio dos inocentes: caveira de 8
mulheres nuas compõem mariposa
minutos quando as personagens principais
estão voando em um albatroz e, na janela de
um prédio, aparece uma mulher com seios
de fora. Ele contou que alguns sites da internet
denunciaram o uso de mensagens
subliminares e, comprovado, a Disney pediu
desculpas e recolheu os exemplares do
desenho.
Outro caso citado foi a última campanha
para a presidência dos EUA. O candidato
George Bush utilizou mensagens
subliminares em uma propaganda de
televisão. Nela, ele criticava o programa de
distribuição de remédios do concorrente, Al
Gore. Foi colocado em um “frame” - uma
divisão de tempo de varredura da tela
equivalente a 1/30 de segundo, a palavra rats
(ratos).
Embora os adversários tenham aberto
processo contra o Partido Republicano, Bush
ganhou a eleição e o processo foi arquivado.
Leis e processos brasileiros
No Brasil, não existem leis que
regulamentem mensagens subliminares e essa
é uma das razões pelas quais as pessoas se
tornam cada vez mais vítimas delas. Calazans
mencionou a existência de dois casos de
processos no Brasil que estabeleceram
jurisprudência sobre o tema.
O primeiro é de uma propaganda do
cigarro Free na qual, em um frame, aparece a
palavra sombra. Calazans disse que o
significado é escuro ou inconsciente. No
mesmo comercial, havia também um frame
de uma menina menor de idade que fumava
o cigarro, embora ela não aparecesse em
outras imagens.
Foi realizada perícia com três psicólogos
e dois engenheiros especializados em
montagem de vídeo. De acordo com o
palestrante, foi constatado que é impossível
ter sido feito a propaganda subliminar se não
fosse proposital.
Já no segundo caso, a MTV utilizou
mensagens subliminares em uma vinheta. “A
MTV coloca na vinheta um cara falando,
abrindo a boca e layers, que são transparências
ou camadas. Há vários frames passando por
trás. Em um deles, uma mulher amarrada
sugere uma situação sadomasoquista. Em
outro, tem pedofilia. Tem o que você quiser.
Essa vinheta da MTV foi condenada a pagar
alguns milhões e esse processo ainda está em
fase de acordo”, mencionou Calazans.
O pesquisador também afirmou que a
Irlanda foi pioneira na utilização de
mensagens subliminares em lentes de contato
em anúncio da cerveja Guinness. As
garçonetes perguntavam aos clientes a cerveja
que desejavam. Ao olhar a lente com o
logotipo da cerveja, logo eles escolhiam a
Guinness.
Calazans também afirmou ter descoberto
subliminares no cartaz do filme Silêncio dos
Inocentes. Segundo ele, Jodie Foster tem
uma mariposa na boca. Nas costas dessa
mariposa tem uma caveira e, na caveira, há
sete mulheres nuas. Quatro delas estão
tingidas de laranja. “Essa foto foi criada pelo
pintor Salvador Dali. As mulheres ficaram
em cima de uma armação de madeira. Aí a
do pela mensagem subliminar
Choque do Pikachu foi
o primeiro caso de
epilepsia televisiva
Warner comprou os direitos. Por isso, você
nunca mais a viu. Colocaram nas costas da
mariposa uma coisa que você não percebe.
Porque é para ir para o seu inconsciente. Isso
é subliminar”, explicou.
Acrescentou que “2% das pessoas vêem a
caveira, e ninguém vê as mulheres brancas e
cor de laranja, porque elas são imperceptíveis”.
As mensagens subliminares também
podem ser usadas para ajudar o ser humano
em problemas como fobias, tensão prémenstrual, aprendizado de línguas, obesidade,
entre outros. Inclusive grandes empresas as
utilizam para aumentar a produtividade de
seus funcionários.
Calazans assumiu que já usou subliminar
para eleger políticos e em videotextos. “Eu
não sou santo. Eu já fiz. Eu fiz duas vezes em
eleições e deu certo. Os candidatos foram
eleitos”, afirmou.
Na Universidade Católica de Santos, ele
desenvolveu o projeto de implantação de
mensagens subliminares em videotexto. De
acordo com ele, o pessoal lia textos no
site da emissora universitária sem
interagir. Então, decidiram
aumentar a interatividade,
o tempo da pessoa e a
freqüência de cliques.
“A
idéia
era
aumentar uns 20%, mas
no primeiro mês teve
50%. No terceiro mês
alcançamos 550% e
travamos a Telesp, que
era o provedor na época.
Ela mandou carta escrita para a Católica de
Santos perguntando o que estava
acontecendo, e porque aumentou a audiência
a esse ponto. Mantivemos durante três meses,
conversamos e então decidimos cancelar o
sistema. Era para durar um ano e durou tão
pouco porque logo conseguimos atingir o
objetivo de aumento de tráfego”, conta.
Essa palestra teve como finalidade mostrar
ao público que as mensagens subliminares
estão praticamente em todos os lugares. Elas
são captadas inconscientemente pelo cérebro
e fazem com que adquiramos determinado
produto impulsivamente. Portanto, é preciso
muita atenção, pois a propaganda subliminar
existe, e conforme demonstrado por
Calazans, funciona muito bem.
Mensagens subliminares são as que
Transgressão da MTV gera
primeira jurisprudência no Brasil
entram no limiar da consciência. Calazans
alertou que a manipulação feita através das
mensagens subliminares é constante e
perigosa. As pessoas são influenciadas sem
saber, o que fere o livre arbítrio. As suas
possibilidades de livre escolha ficam
totalmente comprometidas.
Palestrante Flávio Calazans, criador da Biomidiologia
FOTO: RENATO CAPI
Disney se desculpa
pelo uso de imagem
subliminar
FOTO: ADILSON BARELLI
EVENTOS
Impressão digital na
propaganda cria elo entre a
empresa e o consumidor
THOMAS LISTO
anoVI — número 8 — Outubro de 2003
5º SEMESTRE - JORNALISMO
Dando continuidade a 8ª Semana de
Comunicação da Universidade São Marcos,
esteve presente, no dia 22 de outubro, o
palestrante William Martins, consultor digital
da Digimark. Martins abordou as vantagens
do uso da Impressão Digital e como este
recurso pode aumentar o contato entre
empresas e consumidores.
A impressão digital é uma nova
tecnologia que possibilita adequar um
produto ao seu cliente. Isto é possível graças
a facilidade em mudar os arquivos prédeterminados anteriormente. Uma vez que
tudo é feito em computador, por meio de
softwares, cada pessoa pode receber tratamento
individualizado. Este tratamento é facilitado
devido à vasta pesquisa que a empresa
interessada faz junto aos seus consumidores.
Estas pesquisas são feitas por e-mail e,
quando retornadas, são arquivadas em
formato Excel. Nesta etapa, são cruzadas as
informações e é gerada uma planilha contendo
todas as alternativas possíveis. Martins relata
que este processo facilita as vendas por estar
relacionado com a vaidade humana. “É
natural as pessoas serem levadas pela vaidade
e pela emoção. Não basta apenas o
convencimento. E, quando nós fazemos
nossos folders personalizados, em um
processo chamado one by one, abrem-se
inúmeras portas. O cliente sente-se satisfeito
com o trabalho realizado e, além de comprar
o produto, torna-se fiel a ele”, diz.
Existem alguns aspectos importantes
para diferenciar a impressão em offset e a
digital. Na offset, o trabalho é mais demorado
e as tiragens são muito maiores.
Normalmente este é utilizado para campanhas
de cunho nacional. Já a impressão digital é
um processo rápido e com tiragem limitada.
Martins: “em 10 anos, 90% dos publicitários estarão utilizando este procedimento”.
Rápido porque tudo está digitalizado. Os
arquivos, depois de prontos, são impressos
imediatamente, necessitando apenas de uma
impressora especial conectada à máquina.
Limitado pois é um artifício utilizado para
campanhas de persuasão. “A impressão digital
tem que ser just in time, ou seja, para agora.
Nós normalmente recebemos o pedido de
nossos clientes em um dia para entregar no
outro. Tudo tem que ser muito ágil para
atender às expectativas de todos”, explica
Martins.
A evolução dos papéis
Quem também participou da palestra
foi Rosanna Fagilde, gerente de materiais da
Print & Pack. Seu foco foi a utilização de
substratos – superfícies utilizadas para a
impressão – para cada tipo de ferramenta
publicitária. Fagilde explicou que a escolha
do material a ser usado para impressão é de
vital importância. “Cada papel possui uma
peculiaridade, portanto para cada campanha,
deve-se prestar atenção para escolher o que
melhor se adapte ao objetivo em questão”,
declara. Ela ainda comentou que a utilização
de certos substratos podem agregar valores à
campanha. “Hoje em dia temos de tudo. Do
simples sulfite a papéis que não rasgam.
Existem laminados, brilhantes, foscos,
texturados. Enfim, é uma gama interminável
de opções”, relata.
Ao final da palestra, Martins fez
questão de enfatizar que o crescimento da
impressão digital está cada vez maior e que
daqui a 10 anos, 90% dos publicitários
devem estar utilizando este procedimento.
BRUNA MARTINHO
5º SEMESTRE - JORNALISMO
No quarto dia da 8ª Semana de
Comunicação, a palestra foi sobre “O direito
autoral no Jornalismo e na Publicidade e
Propaganda”. Os palestrantes, Luiz França,
jornalista e fotógrafo, fundador da Associação
Brasileira para a Proteção da Propriedade
Intelectual dos Jornalistas – APIJOR e Silvia
Neli, advogada que também trabalha na
APIJOR. O público presente na palestra era
composto por estudantes de Jornalismo e
Publicidade.
Os dois tinham chegado de um
Congresso de dois dias de palestras sobre
gestão coletiva de direito autoral. França
começou a palestra falando sobre o projeto
da APIJOR e passou à Silvia Neli, que
começou a discursar sobre os direitos autorais.
Segundo ela, a luta pelos direitos autorais é
antiga e seu objetivo é defender o criador, suas
características pessoais e sua independência.
“Essa luta não pode ser vista como uma coisa
banal”, afirmou Neli. “O autor deve ter o
monopólio da sua produção intelectual”,
completou.
Após a palestra, França comentou sobre
um dos projetos da APIJOR, que é trazer o
conhecimento dos direitos autorais para as
faculdades, como parte do currículo. Eles
pretendem começar com os
alunos de direito, e depois com
os estudantes de jornalismo,
para que eles possam sair da
faculdade com uma formação
mais completa e com base, para
que tenham uma noção dos seus
direitos e para que possam
defendê-los.
Neli também comentou
sobre o direito de imagem, a lei
de imprensa, e o mais
importante para o público:
como o estudante pode
proteger os seus direitos
autorais? Ela respondeu que o
direito autoral não tem
distinção, vale tanto para os
estudantes como para os
jornalistas formados. Eles
podem registrar em cartório de
títulos e documentar todos os seus trabalhos.
Durante a palestra, foi debatido sobre a
pessoa que pega o trabalho de duas outras e
faz um terceiro, dizendo que é seu. Neli
afirmou que os direitos das obras
permanecem o mesmo, e você deve citar
mesmo que tenha modificado ou utilizado
alguma parte dele. Porque qualquer
modificação ou utilização depende da
autorização do criador da obra.
Segundo ela, nós temos uma lei própria
e além disso, todos os países seguem a
FOTO: RENATO CAPI
A luta pelos direitos autorais
Sílvia Neli defende os direitos autorais
Convenção de Berna, menos os EUA e a
Inglaterra.
Hoje em dia, os textos que circulam na
Internet, nos jornais e não têm o seu devido
crédito e são copiadas sem nenhum critério, o
que infringe totalmente a lei. A APIJOR foi
criada com o intuito de defender esses direitos
e tentar fazer com que a lei seja cumprida,
segundo Neli, ”no Brasil, os veículos se unem
e tentam sempre um jeito de burlar a lei para
não pagar pelos direitos”. Mais informações,
no site www.autor.org.br.
ALEXANDRE TABONE
5º SEMESTRE - JORNALISMO
A obra publicitária recebe proteção da Lei dos Direitos Autorais,
e também como propriedade industrial, sendo recomendável o registro
no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), em casos
específicos. O Código de Propriedade Industrial entende por propaganda
toda legenda, anúncio, reclame, palavras, combinação de palavras,
desenhos, gravuras, originais e característicos que se destinem a emprego
como meio de recomendar quaisquer atividades lícitas, realçar qualidades
de produtos, mercadorias ou serviços, a atrair atenção dos consumidores
ou usuários.
Além desses dispositivos, existe também legislação específica da
área publicitária. Essas consideram como propaganda qualquer forma
remunerada de difusão de idéias, mercadorias, produtos ou serviços, por
parte de um anunciante identificado.
E ainda delimita-se como atividade artística, todos os trabalhos gráficos,
plásticos e outros, de expressão estética, destinados a difundir pela
imagem, palavra ou som a propaganda de produtos e serviços.
Mas afinal? Quem é o legítimo titular dos direitos autorais sobre
a obra publicitária?
A legislação publicitária estabelece que as criações pertencem a
agência de propaganda criadora, e estas não podem ser exploradas sem
que as agências de propaganda se beneficiem.
Para tanto, é necessário conceber a publicidade como obra coletiva
criada pela participação de diferentes autores, cujas contribuições se
fundem uma peça única. Sendo assim a proteção concebida ao autor é
aplicada às pessoas jurídicas nos casos previstos.
O cliente da agência de propaganda, nada tem a pleitear como
titular de direito autoral. O fato de ter encomendado uma obra
publicitária não o torna detentor dos direitos autorais que dela decorrem.
“Sensibilidade e a preocupac
Algumas das ferramentas básicas para a formaç
ANDERSON DE MELLO
5º SEMESTRE - JORNALISMO
Waack definiu a função de repórter como a
de “um bom contador de história. No sentido
clássico da palavra é a função de jornalismo que
continua cercada de certo ‘romantismo’, uma
das últimas na qual o profissional, no caso o
repórter, tem uma considerável margem de
ação, de decisão, de definir o que ele quer, como
quer, como vai fazer”, afirmou.
Waack afirmou que considera as
editorias de Polícia e Esportes como as
grandes escolas de reportagem. Para ele,
“nenhum outro campo oferece para o jovem
profissional a possibilidade tão rápida de
adquirir tudo aquilo que o jornalista precisa
para ser um bom repórter”.
Sobre a de Esportes, ele disse que o
repórter “é obrigado a sintetizar de maneira
muito rápida e concisa algo que muitas
pessoas estão vendo e que vão poder comparar
com o que foi escrito. E, se o repórter não
tratar aquilo de forma muito humana, não
será lido, ouvido ou visto. O profissional é
obrigado a desenvolver “fontes” com muita
rapidez, pois não tem informação exclusiva
quando não está havendo jogo de futebol. É
disso que vive um bom repórter de Esportes,”
declarou.
Na editoria de Polícia, ele frisou a
importância, para o repórter, “do contato
com a ‘sujeira da sociedade’, como diziam os
velhos romancistas franceses do século XIX.
É importantíssimo do ponto de vista do
endurecimento pessoal do repórter. Não há
repórter que consiga escrever bem se ele
emociona-se ao escrever.”
FOTOS: RENATO CAPI
anoVI — número 8 — Outubro de 2003
A palestra do repórter especial da Rede
Globo de Televisão e apresentador eventual
do Jornal da Globo, William Waack, 51,
encerrou a 8ª Semana de Comunicação da
Universidade São Marcos, no dia 24 de
outubro, sexta-feira, no auditório da Unidade
Padre Chico. Em janeiro de 2004 completará
34 anos de profissão. Sua palestra apresentou,
a partir de suas experiências, a profissão de
jornalista, principalmente nas atividades
realizadas como repórter.
Formado em Jornalismo pela ECA,
Universidade de São Paulo – USP, Waack é
mestre em ciências políticas pela Universidade
de Mainz, Alemanha. Ele começou no
jornalismo em 1970 e desde então trabalhou
em vários veículos: O Globo, Jornal do Brasil,
Veja, Estadão, Jornal da Tarde e TV Globo.
Repórter a maior parte do tempo, foi
correspondente internacional por 20 anos,
chegou a cobrir guerras e revoluções em alguns
países e algumas destas reportagens
transformou em 4 livros. Venceu por duas
vezes o Prêmio Esso de Jornalismo. Na Rede
Globo, onde trabalha atualmente Waack é dos
poucos repórteres que editam suas notícias.
Waack iniciou a palestra lembrando do
início do seu trabalho, aos 16 anos de idade,
como repórter da editoria de Geral, do jornal
O Globo. Passando pela Editoria de Polícia e
depois, praticamente por todas as funções da
redação de um jornal.
Formação do repórter
Para Waack, isso tudo “não tem nada a
ver com especialização”. O repórter pode ser
perfeitamente especializado em esporte e
ignorar o que ele “considera como ferramentas
básicas para que a sua história realmente
capture as pessoas”.
Preparação para a reportagem
Um dos pontos abordados por Waack
durante a palestra foi a preparação do repórter
para desempenhar sua função. “Nenhum
repórter pode chegar e abordar qualquer
assunto, de qualquer relevância, sem ter
alguma informação prévia. Quem entra
numa entrevista sem saber nada, sai sem saber
nada. Quem entra sabendo alguma coisa,
arranca alguma coisa. São regras simples, que
parecem assim uma repetição do óbvio mais
estúpido que vocês possam imaginar, mas que
tem uma praticidade enorme”, declarou ele.
Ele acrescentou que para alcançar a
realização profissional, o repórter precisa ter
uma considerável dose de informação e de
cultura em termos gerais. E ainda investir na
sua formação e dominar mais de um idioma.
“O inglês não se conta mais. É tão obrigatório
como o português,” afirmou.
Waack enfocou também a má preparação
dos jornalistas ao abordarem determinados
assuntos. Segundo ele, “é a receita fatal para a
chamada falsa informação. O profissional que a
leva ao público nem sabe que ela é falsa,
simplesmente não é capaz de diferenciá-la”. É o
caso nos dias de hoje, “quando a denúncia vale
pela denúncia. Denunciar qualquer coisa sem se
preocupar com a apuração,” disse.
Segundo Waack, essas são ferramentas
básicas que muitas vezes são ignoradas. O
resultado disso são, a despreocupação com
padrões éticos, a despreocupação com o seu
objeto da reportagem e a preocupação
excessiva consigo mesmo.
Comprometimento com a notícia
Publico acompanha atentamente a palestra de William Waack
Na sua maneira de ver, Waack acredita que
o repórter não deve ser notícia. “Sou de uma
velha geração. O repórter tem que estar atrás
da notícia e não na frente dela”, afirmou.
Waack contou sua experiência quando,
em 1991, ao final da primeira Guerra do
Golfo, foi capturado junto com o
fotojornalista Hélio Campos Mello pelo
cao com a figura humana”
ção do grande repórter
exército iraquiano. Na época, ambos
trabalhavam no jornal o Estado de São Paulo.
Ele diz que, como prisioneiros, os dois
pensavam da mesma maneira nas conversas que
mantinham. “Cometemos um erro horrível, não
tinha que estar acontecendo. Nós não tínhamos
que ser notícia,” disse, “Bem diferente do que
pensam boa parte dos repórteres. Sobretudo o
de televisão, na qual a presença do repórter é mais
importante que o fato”. Para Waack, quando o
profissional de imprensa se coloca como o mais
importante e resolve aparecer mais do que a
notícia, ele está no caminho errado.
Conquista das fontes
“A conquista da fonte é essencial para o
trabalho de reportagem”, afirmou Waack. Ele
lembrou de dois exemplos extremos de
repórteres traídos pela fonte: “É a pior situação
que um repórter pode viver. O caso do norteamericano Daniel Pearl no Paquistão e Tim
Lopes, traídos pela fonte.”
Para ilustrar, contou um causo de
reportagem ocorrido em 1980, quando os
operários do estaleiro Lenin, na cidade de
Gdansk, se levantaram contra o regime
comunista que então prevalecia na Polônia.
Waack contou que trabalhava com um
repórter espanhol, do qual ficou muito amigo,
e que ajudavam um repórter austríaco, um
senhor um pouco adoentado e que não
conseguia sequer carregar a máquina de escrever.
“Naquele tempo, o repórter andava com a
máquina de escrever na mão”, comentou.
Juntos, eles carregavam o equipamento
do austríaco. Este conhecia todo mundo,
falava polonês e os levava a todos os lugares.
Além disso, ele era muito apaixonado por uma
moça polonesa. Naquela época, era muito
importante para os grupos clandestinos fazer
contato com a imprensa de fora.
Quando em 1989, o comunismo acabou
na Polônia, Waack e o amigo espanhol
descobriram que o austríaco era um espião
que, envolvido sentimentalmente pela
polonesa, comprometeu-se com o outro lado
e fez um acordo com o serviço secreto
polonês. Ele informava o que os jornalistas
ocidentais faziam, com quem se encontravam
e, em troca, a namorada polonesa ganharia o
visto para sair da Polônia.
Waack disse que encontrou o austríaco
dois anos depois em Viena. Afirmou que não
tinha raiva dele, mas disse: “Pôxa, cara! Eu
carreguei sua máquina...” E o agente falou
então: “Vocês eram legais. Aí eu maneirei.”
Segundo Waack, não há o correspondente de guerra e sim, o repórter que cobre
uma situação de conflito, o que não é
basicamente diferente de cobrir outras situações.
Existe o risco físico. “Seria ridículo
ignorar, que por estar num lugar conflagrado,
o jornalista ‘involuntariamente’ poderia se
transformar num alvo ou, até mesmo,
‘voluntariamente’ poderia tornar-se alvo se
quiser. É isso o que separa o repórter responsável
do repórter irresponsável”, concluiu.
Grandes repórteres
Para Waack é impossível ser um bom
repórter se o profissional não tiver interesse
pelas pessoas. São condições essenciais
“Colocar-se no lugar do outro, ter a
preocupação com o ser humano em primeiro
lugar e ter uma alta dose de sensibilidade, “
afirmou.
Uma regra de ouro para desempenhar a
função, segundo ele, é “ter sempre na cabeça
que basicamente os repórteres estão ou terão
que estar preocupados com seres humanos’’.
Para ele, as pessoas não querem ser apenas
informadas. “Elas querem se sentir levadas
para um contexto, para uma realidade, ou,
para um assunto. Quem consegue passar este
clima é o repórter. É muito mais relevante,
do ponto de vista da atividade da reportagem,
se confrontarem com as versões dos fatos do
que propriamente com os fatos”. Na opinião
de Waack, “aquilo que as pessoas fazem da
realidade, aquilo que entra na cabeça delas e
aquilo no que elas passam a acreditar é que
tem importância decisiva para aquilo que os
jornalistas vão fazer. Entender o que é uma
versão, entender o que ficou na cabeça das
pessoas, saber separar isso é realmente a arte
da reportagem”.
“Sempre se diz que a figura do grande
repórter vai acabar e nunca acaba”, afirmou
Waack. “Apenas alguns ganham destaques e
são conhecidos como tais. Muitas vezes o
leitor abre as páginas dos jornais porque quer
ler o texto deste jornalista. São poucos, e
não só no Brasil, como também em outros
países do mundo”. Para estes, “ a
sensibilidade, o respeito pelo outro e a
preocupação essencial com a figura humana
com os seres humanos é o que acontece na
cabeça delas,” é o ponto em comum.
ANDRESON DE MELLO E WILSON COLOGNI FILHO
5º SEMESTRE - JORNALISMO
O educador Luiz Barco, que fez a palestra
no II Encontro de candidatos à Iniciação
Cientifica da Universidade São Marcos, no
auditório do campus João XXIII, na noite
de 28 de outubro último, nos remete à figura
do “bom velhinho”.
“Tenho barriga grande, barba grande. A
universidade fez meu saco de brinquedo. Eu
sou o próprio papai Noel,” afirmou.
Como Descartes no passado que ao ser
interpelado pelos homens do saber e poder
dizia que suas descobertas eram ditas por um
anjo ironizando-os. Desta forma mostrou seu
lado provocador, escolheu o nome da palestra
para que os participantes possam refletir o tipo
de saber que forma o ser. Sua palestra é isso:
uma pausa para reflexão dos alunos e professores.
Formado em Matemática pela USP Universidade de São Paulo, hoje professor da
entidade, Barco têm todos os títulos que o mundo
acadêmico pode oferecer: mestrado, doutorado,
livre docência, adjunção - que não existe mais - e
cátedra, hoje chamada professor titular.
Como ele mesmo disse o “handcap” para
poder ser uma pessoa importante era quase zero,
pois o pai falecera quando ele tinha 5 anos de
idade e a mãe era uma simples empregada
doméstica. Mas, a mãe o educou com liberdade
e hoje ele é capaz de ir a qualquer lugar onde
quer que lhe convidem e falar o que pensa. Para
Barco, o que realmente importa não são os
títulos e sim “a busca da interatividade humana.
As ciências e as artes desprovidas da condição
humana são estúpidas”, afirmou.
Lembrou as guerras do golfo e as
tecnologias inventadas para destruição da
figura humana. “Quem desenvolveu não
foram os políticos, foram pessoas como vocês,
que estudaram em faculdades de boa
qualidade que não entendem nada de ética e
de sentimento do coração”, disse.
anoVI — número 8 — Outubro de 2003
Uso social da inteligência
O professor contou que a universidade
não deve premiar a esperteza, tampouco a
inteligência e, sim, a sabedoria.
Na definição de Barco, sabedoria é “o uso
social da inteligência. Quando você usa a
inteligência não para proveito próprio ou
pequenos grupos, mas para engrandecimento
do homem, você está sendo sábio”, disse.
Para ele, existe uma enorme hipocrisia
dentro de quase todas as universidades, que
não formam seres inteiros, íntegros e
cidadãos. “Não faz parte explícita ou implícita
da universidade um paradigma do homem
bom, justo, feliz e alegre,” afirmou.
“É preciso primeiro formar homens
inteiros e dele fazer um cientista, seja físico,
biólogo, matemático, advogado, médico,
engenheiro ou jornalista” contou.
Para Barco, formar cientistas é fácil. Mas
ter que humanizá-los depois é extremamente
difícil. “Você pode fazer ciência de boa
qualidade, mas não precisa desumanizar-se.
Não precisa jogar fora a sua capacidade de ser
feliz e alegre,” relatou.
Segundo ele, quem pensa que a vida
precisa ser uma grande farra para ser feliz
Barco observa o público presente
também está enganado. “Até a farra
desprovida de valores éticos mais profundos
acaba sendo um negócio cansativo e chato”,
falou.
Somos seres humanos
Barco afirma que é preciso que os
professores universitários “atravessem” uma
lição. “Ter a coragem de dizer: Eu não sei”.
Ele diz que nenhum aluno espera que os
professores sejam semideuses, apenas por dominar
um ou outro conhecimento e ter um ou outro
título. E que tenham respostas para tudo.
“Se eles tiverem coragem de dizer: “Eu não
sei, mas já que te interessa vamos aprender
juntos”. Eles estarão devolvendo ao professor a
dimensão humana. Todos nós somos homens,
mulheres. Somos seres humanos,” falou.
Ele explicou que ao invés de perder o
respeito, o professor ganhará muito mais
respeito do aluno. “É mais fácil corrigir, punir,
dar nota baixa ou alta do que ser amigo,” disse.
Barco comentou “que mesmo com todos
os defeitos que nós, os seus professores, temos
ainda não os estragamos por completo. Não
permita que esta ou qualquer universidade
os estrague,” afirmou.
Segundo ele, os alunos ao chegarem a
universidade têm uma grande sinceridade,
mas aos poucos a própria vida profissional
os obriga a “certas incoerências com o seu
íntimo, com sua essência. Lutem para não
perderem sua autenticidade”.
“Venham aqui, assistam suas aulas,
discutam conosco, ponham em dúvida nosso
conhecimento, nossa sabedoria. Mas, por
favor, não ponham em dúvida nossa
integridade”, afirmou.
Luiz Barco disse que é “preferível ter
idéias, ainda que errôneas do que ser
caudatário da vontade dos outros. Seja partido
político, religioso ou de uma pedagogia.
Tudo aquilo que faz mal a liberdade intrínseca
do homem, não nos devolve a esperança. É
preciso não perder a esperança”, concluiu.
FOTO: ANDERSON MELLO
Um anjo me disse...
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