Encontros Culturais entre Galegos e Portugueses nos Séculos XIX e

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Notícias 2002/03/12
Encontros Culturais entre Galegos e
Portugueses nos Séculos XIX e XX, por
José David S. Araújo
Isaac Alonso Estraviz
Segui atentamente o trabalho do mestrando José David Santos Araújo
desde os seus inícios até ao final e li-o depois de seguido integralmente. Quer
dizer: li-o primeiramente por partes e no final todo ele em conjunto. E se,
segundo se ia elaborando, gostava da sua abordagem, ao ter uma perspectiva
de conjunto ainda gostei muito mais.
Trata-se de um trabalho que tem uma focagem completamente nova do
jeito de interpretar a história cultural da Galiza e Portugal. É certo que estes
temas foram tratados por uns ou por outros. Eu mesmo também os tenho
tratado. Mas como ele o fez ninguém até ao presente o tem feito.
A matéria era muito complexa. Os autores de uma e outra parte
inúmeros, tanto os que estão a prol da unidade cultural e linguística como os
que estão em contra. Por isso ante este mar imenso e revolto, ele optou por
escolher aqueles pontos e autores que considerou fulcrais para conhecer o
pensamento e a filosofia de vida galaicoportuguesa. E se o nosso antepassado
Paulo Orósio, foi, na cultura universal, o primeiro filósofo da História, David
Araújo é o primeiro filósofo da História da cultura portugalaica.
O trabalho de David Araújo supõe uma pesquisa ampla e demorada
sobre todo o acontecer cultural lusogalaico. Como pensador e filósofo
estruturou muito bem o seu trabalho, procurando em todo momento descobrir
coincidências ou contrapartidas entre personagens de um e outro lado.
Ao lado do Renascimento Galego trata da Renascença Portuguesa; ao
de historiadores portugueses os historiadores galegos; ao de viajantes
portugueses à Galiza o de viajantes galegos a Portugal; ao de etnógrafos e
literatos portugueses os etnógrafos e literatos galegos; ao de filósofos
portugueses os filósofos galegos; aos galegos que defendem a unidade
fundamental da língua e cultura galega com a portuguesa a de portugueses
que defendem as mesmas teses.
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O seu trabalho é lúcido, claro, didáctico, pedagógico. Qualquer pessoa
que o ler, percebe imediatamente os seus conteúdos: somos um mesmo povo,
proprietários da mesma língua, desfrutamos da mesma paisagem, possuimos a
mesma filosofia, temos um mesmo jeito de contemplar a vida.
Põe ao descoberto personagens desconhecidas ou não o
suficientemente conhecidas pola maioria das gentes de cultura de ambas as
partes, ou que, conhecidas no seu tempo, foram votadas ao esquecimento.
Consultou quase toda a bibliografia existente sobre o tema. Digo quase,
porque estão a surgir constantemente novos descobrimentos de autores que
defendem o mesmo dos aqui comentados.
O seu trabalho corrige teorias ou afirmações que se davam já por
definitivas como ao falar do passo que deu Vicente Risco para o nacionalismo,
através justamente de personagens portuguesas.
Em todo o trabalho David Araújo tenta penetrar nas raízes dos porquê,
das razões que levam as pessoas a afirmar ou negar certas doutrinas, de
comprovar quem foi a pessoa ou pessoas que derom os primeiros passos.
Apesar do seu apaixonamento pola matéria por ele estudada, o seu
juízo procura ser imparcial e aceitar a realidade como vem imposta pola
Historia de um povo comum, dividido por um destino histórico faltal, mas que
terminará -ou deveria terminar- por formar uma só realidade.
Parece a sua a posição de um deus que paira nas nuvens e contempla
desde o alto as lutas inúteis e estéreis de irmãos que formam uma una e única
família, como crianças que lutam por um mesmo brinquedo.
Tem-se escrito muito sobre relacionamento entre galegos e
portugueses, tem-se mesmo tentado elaborar um estudo de uma filosofia
comum, tem-se escrito muito a prol e em contra do reintegracionismo, mas
acho que ninguém o fez com tanta claridade e tão diafanamente exposto como
ele o fez.
Só espero que este trabalho seja em breve publicado para a sua difusão
na Galiza e em Portugal, nomeadamente em Portugal, para desfazer
preconceitos e aproximar-se a uma realidade que está aí e que não pode ser
alheia nem a Galegos nem a Portugueses. Todos somos necessários para
voltar à unidade da que fomos privados há já bastantes séculos.
Como o mestrando teve que cingir o seu trabalho às 130 folhas aqui
apresentadas, animo-o a que retome o tema para o tratar mais amplamente na
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sua tese de doutoramento. O caminho está já em parte aberto e trilhado, as
fontes conhecidas, simplesmente acrescentar alguma mais e dar mais
amplitude ao que aqui teve que sintetizar para não ultrapassar o número de
páginas sinalado.
Braga, 22 de Fevereiro de 2002
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