1 SOLIDARIEDADE E PARTICIPAÇÃO NO CONTEXTO DA ATUAL REESTRUTURAÇÃO CAPITALISTA: aspectos conceituais e questões pertinentes à classe trabalhadora Marina Maciel Abreu* RESUMO O texto aponta elementos para uma problematização sobre a relação solidariedade e participação, a partir da perspectiva da luta de classes como elementos constitutivos das relações de forças políticas no movimento contraditório da construção da vida social. Privilegia aspectos histórico-conceituais e configurações dessa relação no contexto da atual reestruturação capitalista em suas expressões particulares no Brasil, destacando dimensões pertinentes à classe trabalhadora. Parte do pressuposto básico de que a solidariedade intra-classe trabalhadora e entre classes sociais materializa-se enquanto ideologia e estratégia interventiva nos processos participativos nos âmbitos da produção e reprodução social. Palavras-chave: Solidariedade, participação, classes sociais, relações de força. ABSTRACT The text shows elements for a problematization about the relation solidarity and participation from a class struggle perspective as constitutive elements of the political forces relations at the contradictory movement of the social life building up. It privileges conceptual-historical elements and configurations of this relation at the present context of the capitalist restructuring on its particular expressions in Brazil, enhancing dimensions related to the working class. It starts from the basic assumption that the solidarity intra working class and among social classes materialize itself while ideology and interventive strategy at the participative processes in the scope of social production and reproduction. Keywords: solidarity, participation, social classes, force relations. 1 INTRODUÇÃO Na atualidade, nos marcos das estratégias neoliberais de enfrentamento da crise do capital a temática da solidariedade passa a ser realçada no discurso dominante na base dos processos participativos a partir dos redimensionamentos da produção e da reprodução social. Em relação à produção, a solidariedade apresenta-se como uma * Doutora em Serviço Social São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 2 condição ideológica dos processos de reestruturação tecno-organizacional do trabalho, que fundamenta estratégias de “descentralização”, “cooperação” e “colaboração” nas relações de trabalho, em que as inovações técnico-organizacionais introduzidas a partir do toyotismo/ohnismo são exemplares. No âmbito da reprodução, ocorre o deslocamento da chamada solidariedade social (solidariedade entre classes) organizada pelo Estado mediante diversificados padrões de proteção social1, para a sociedade sob a forma de solidariedade “voluntária”. Essa retransferência é mediatizada pelos processos de descentralização político-administrativa das políticas sociais, definidos e implementados no contexto da Reforma do Estado brasileiro, a partir da década de 1990, como elemento de controle social exercido sobre a classe trabalhadora. Ao mesmo tempo o apelo à solidariedade comparece nos processos organizativos e lutas sociais da classe trabalhadora (solidariedade intra-classe), seja repondo-a como elemento de unidade e fortalecimento dessa classe no enfrentamento e superação da exploração e dominação capitalista, isto é, como fundamento de alternativas de produção e de trabalho e reprodução social, contrapostas às relações de exploração e dominação que marcam os processos produtivos e a distribuição da riqueza social sob o capital; seja como eixo mobilizador de iniciativas relacionadas com a construção de formas emergenciais de enfrentamentos às necessidades imediatas materiais, integradas às estratégias filantrópicas disseminadas na sociedade. Nesses processos, a solidariedade representa um elemento na formação da vontade coletiva, vinculado às relações de força políticas integrantes do conjunto das forças antagônicas constitutivas do movimento histórico, cuja formação envolve processos orgânicos e conjunturais. Neste texto a pretensão é apresentar particularidades dos processos de constituição da solidariedade considerando as diferentes modalidades de participação da classe trabalhadora definidas a partir do movimento de reestruturação capitalista em relação à organização de uma pretensa cultura do consenso, consubstanciada na solidariedade indiferenciada entre classes, quanto à necessidade da classe trabalhadora de recuperação da solidariedade intra classe, como um desafio fundamental na luta pela emancipação humana. 1 Sobre a diversidade dos sistemas de proteção social consultar: ESPING-ANDERSON, Gosta. O futuro do do Welfare State na nova ordem mundial.Lua Nova.São Paulo:Cedec/Marco Zero,n°35,1995. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 3 2 SOLIDARIEDADE E PARTICIPAÇÃO NO CONTEXTO DAS RELAÇÕES DE FORÇA POLÍTICAS Com base na análise gramsciana, as relações das forças políticas constituem uma das dimensões das forças econômico-políticas em suas relações antagônicas constitutivas do movimento histórico, e representam a base real da constituição da vontade coletiva pelas classes sociais em confronto. Para Gramsci (2000, p.36), na relação de forças, é necessário distinguir diversos momentos ou graus, que no fundamental são os seguintes: Uma relação de forças sociais estreitamente ligada à estrutura, independente da vontade dos homens, que pode ser mensurada com os sistemas das ciências exatas e físicas; [...] a relação das forças políticas, ou seja avaliação do grau de homogeneidade, de autoconsciência e de organização alcançados pelos vários grupos sociais. E a relação das forças militares imediatamente decisiva em cada oportunidade concreta, envolvendo forças militares e político-militares. A avaliação das relações de força políticas, em um dado momento histórico, dá conta do grau de homogeneidade, de autoconsciência e de organização alcançados pelos vários grupos sociais, em vários graus, que correspondem aos diversos momentos da consciência política coletiva, tal como se manifestam na história, em que se desenvolvem as condições concretas do processo de constituição da solidariedade a partir do ponto vista das classes sociais. Gramsci reconhece três momentos na constituição das relações de força: O primeiro mais elementar é o econômico-corporativo: um comerciante sente que deve ser solidário com outro comerciante, um fabricante com outro fabricante, etc. mas o comerciante não se sente ainda solidário com o fabricante; isto é, sente-se a unidade homogênea do grupo profissional e o dever de organiza-la, mas não ainda a unidade do grupo social mais amplo. Um segundo momento é aquele em que se atinge a consciência da solidariedade de interesses entre todos os membros do grupo social, mas ainda no campo meramente econômico [...]. Um terceiro momento é aquele em que se adquire a consciência de que os próprios interesses corporativos, em seu desenvolvimento atual e futuro, superam o círculo corporativo, de grupo meramente econômico, e podem e devem tornar-se os interesses de outros grupos subordinados. Esta fase é a mais estritamente política, que assinala a passagem nítida da estrutura para a esfera das superestruturas complexas, é a fase em que as ideologias geradas anteriormente se transformam em “partido”, entram em confrontação e lutam até que uma delas, ou pelo menos uma única combinação delas, tenda a prevalecer, se impor, a se irradiar por toda a área social, determinando, além da unicidade dos fins econômicos e políticos, também a unidade intelectual e moral, pondo todas as questões em torno das quais ferve a luta não no plano corporativo, mas no plano ‘universal’, criando assim a hegemonia de um grupo social fundamental sobre uma série de grupos subordinados. (GRAMSCI, 2000, p.41). O último momento representa a unidade e fortalecimento das forças no interior da classe na constituição de um projeto societário, no qual a solidariedade em seu conteúdo São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 4 ideológico e material alcança a sua expressão mais acabada. Traduz-se como um fundamento da luta pela construção de uma nova e superior sociabilidade, uma nova cultura emancipada. A constituição da solidariedade pela classe trabalhadora como um elemento inerente à sua organização como classe, em que pesem as dificuldades e equívocos do processo de sua constituição no interior dessa classe (MÉSZÁROS,1996), vem sendo historicamente tensionada pela ofensiva econômica, política e ideológica da produção e reprodução das condições necessárias da acumulação capitalista, destacando-se a inflexão provocada no contexto do Estado de Bem-Estar (Welfare State) e da sua crise assim como da atual reestruturação “flexível” sob a orientação neoliberal hegemônica em todo o mundo. Essa inflexão pode ser considerada a partir de dois planos: o primeiro plano corresponde à fragmentação da classe considerando as formas diferenciadas de inserção do trabalhador no processo produtivo e de trabalho, que alteram a base material de sua organização, principal referência da constituição da solidariedade intra-classe; o segundo, reforçando o anterior, diz respeito à organização e crise da chamada solidariedade social organizada pelo Estado, isto é da solidariedade entre classes, e sua reinserção na sociedade sob a forma de solidariedade “voluntária”, como elemento de despolitização e desarticulação das lutas dessa classe. Tais mudanças ganham particularidades na sociedade brasileira, considerando a forma subalterna como o país se reinsere na “nova” ordem da produção mundializada de mercadorias, submetido aos ajustes macro econômicos, reestruturação do padrão produtivo e gestão do trabalho, além das reformas institucionais; processos esses ditados pelos organismos financeiros internacionais, com destaque para o Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, que penalizam profundamente a classe trabalhadora, mediante desemprego, redução dos salários, perda de direitos conquistados e reconcentração da renda e enfraquecem suas formas de luta e resistência à ordem do capital. Essa realidade reflete, como assinala Alves (2000, p.275) “no plano políticoideológico, a debilitação estrutural do mundo do trabalho organizado, o surgimento de um novo (e precário) mundo do trabalho”. 3 SOLIDARIEDADE NA BASE DOS PROCESSOS PARTICIPATIVOS: apontamentos sobre questões e desafios atuais em relação à organização e luta da classe trabalhadora . São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 5 As transformações no mundo trabalho na sociedade brasileira são marcadas pela superexploração da força de trabalho, a partir das estratégias de terceirização e programas de qualidade total (DRUCK,1998) que visam a reestruturação econômica do capital em crise ao mesmo tempo em que investem na fragmentação e debilitação das formas de organização, resistência e luta da classe trabalhadora. As inovações técnicoorganizacionais referenciadas no toyotismo/ohnismo fundam-se no colaboracionismo entre capital e trabalho, em que as parcerias e as soluções negociadas constituem a base da “nova” relação entre dominantes e dominados. (ABREU, 1999), e contraditoriamente intensificam-se as estratégias de mobilização e participação popular tendo em vista a formação de uma vontade corporativa entre os trabalhadores. Trata-se de uma vontade corporativa ancorada, como bem assinalou Mota (1995), na derrocada das experiências coletivistas do socialismo real e numa suposta democratização das relações entre capitais e entre estes e o trabalho, numa clara tentativa de ocultamento dos antogonismos entre classes – base material e ideológica em que se estabelecem as relações de força. Deste modo, evidenciam-se então nítidos refluxos no movimento organizativo da classe trabalhadora, em especial o movimento sindical, em relação aos avanços alcançados nos anos 1980, isto é, em relação as suas concepções classistas, socialista e anticapitalista, mediante uma postura identificada por Antunes (1999) como “acomodação dentro da ordem”. Trata-se da substituição do sindicalismo de resistência pelo sindicalismo de resultados, em que são exemplares, nos anos 1990, a criação da Força Sindical, em 1991, e as mudanças operadas nos rumos e práticas da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Assim como a recente reorientação do Partido dos trabalhadores (PT) ao conquistar o governo federal, “não só referendou o processo de reformas neoliberais do governo que o antecedeu [...] mas efetivou reformas tentadas e não consolidadas por aquele governo que não conseguiu vencer a resistência da luta social respaldada e implementada por este partido no Congresso.” (LOPES;ABREU, 2004, p.6). Merecem destaque processos regressivos em relação aos chamados movimentos sociais populares que proliferaram nos anos 1980, na medida em que parte significativa desses movimentos vem reestruturando-se, tendendo a substituir o caráter contestatório e reivindicativo frente ao Estado por um formato mais identificado com organizações propositivas e executoras de programas sociais. Transformam-se muitas vezes em ONG´s2 produtivas, tradução de um novo perfil organizacional. Mas, não se pode perder de 2 Importa situar aqui que, na década de 1970, essas organizações tiveram atuação decisiva na luta contra as ditaduras militares em todo o continente latinoamericano. Todavia, na contracorrente dessa perspectiva, a São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 6 vista o protagonismo histórico das ONG´s que se mantém como canais de denúncia, de organização e politização sobre a problemática social e de construção de possíveis alternativas na sociedade, como é exemplar a luta relacionada à etnia e raça, ao ambientalismo, às questões de gênero, geração etc., e especialmente, a articulação mundial de forças progressistas no enfrentamento ao neoliberalismo em que o Fórum Social Mundial é uma das principais expressões. No âmbito da reprodução, tem-se a crise da solidariedade social cuja expressão mais acabada ocorreu nos países centrais como base dos princípios que comandam a chamada redistribuição via sistemas de seguridade; enquanto nos países periféricos, onde sequer foi vivenciada minimamente a experiência do Estado de BemEstar, como é o caso do Brasil, a solidariedade se materializa no padrão assistencial que se instaura no país a partir dessa influência, traduzida nas tradicionais formas de “ajuda”, consubstanciadas nas relações de “favor” - principal marca das relações entre dominantes e dominados a partir da mediação das políticas estatais. As mudanças no âmbito das políticas socais implementam-se na contracorrente dos direitos conquistados e ampliados na CF/1988, na medida em que reatualizam e fortalecem a chamada filantropia estatal (Oliveira, 1998) como padrão assistencial que historicamente marca intervenção estatal em relação ao atendimento às necessidades da classe trabalhadora; ao mesmo tempo estimulam na sociedade o desenvolvimento de ações filantrópicas tradicionais fortalecendo suas funções históricas e conferindo-lhes novas configurações, como é o caso da filantropia empresarial. Equivale dizer que no processo de redefinição das políticas sociais reestrutura-se o chamado pacto de solidariedade social sob a organização estatal fundada em princípios redistributivistas (via sistemas de proteção social) em solidariedade “voluntária” consubstanciada em princípios humanistas de “ajuda” centrados na filantropia – base da institucionalização do chamado “terceiro setor”. Por outro lado, a luta da classe trabalhadora norteada pelos ideais emancipatórios da sociedade, repõe a participação como estratégia de politização das relações sociais e de intervenção crítica dessa classe no movimento histórico; isto é como principal eixo do processo concreto de constituição da classe como força contraposta à ordem do capital, na medida em que este processo impõe a criação/recriação de partir dos anos 1980, elas passaram a ser, em grande parte, “organizações voltadas para a elaboração e aplicação de projetos de desenvolvimento econômico social, abandonando a função de organizar ou subsidiar a luta operária e popular.”(BOITO JR.1999,p.83). O que se questiona, pois, não é o crescimento nem a intervenção das ONG´s no atendimento das necessidades imediatas da classe trabalhadora, mas, o deslocamento desta intervenção da condição de complementariedade para centralidade no processo de prestação de serviços em resposta a essas necessidades. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 7 mediações de organização e luta, na perspectiva da construção de alternativas à sociedade capitalista. São mediações de articulação/reaticulação de forças no interior da própria classe e entre classes, no movimento de constituição da vontade coletiva nacional popular em que a recuperação da solidariedade é uma exigência fundamental (MÉSZÁROS, 1996). Neste sentido, inscreve-se o protagonismo do Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), como uma mediação de organização e luta políticas, que de acordo com Antunes (1999, p.248) representa o mais importante movimento social e político do Brasil atual, fazendo renascer e ressurgir a luta dos trabalhadores do campo e convertendo-a no centro da luta política brasileira e da nossa luta de classes, é o nosso mais significativo exemplo de força e da necessidade de retomada, em bases novas, da centralidade das lutas sociais no Brasil. Esse movimento pode ser considerado o “principal catalizador e impulsionador das lutas sociais recentes e, pelos laços fortes que mantém com setores urbanos, tem possibilitado visualizar a retomada de ações sociais de massa no Brasil” (ANTUNES,1999, p.248), mediatizando uma “síntese que aglutina e articula experiências e formas de sociabilidade oriundas do mundo do trabalho rural e urbano” (ANTUNES, 1999, p.248). Aponta, assim, para a “construção de um projeto popular para o Brasil, ao mesmo tempo nacional e internacionalista”. (LOPES;ABREU, 2004, p.7). É possível entender que nas próprias contradições inerentes ao movimento social encontram-se a necessidade e a possibilidade históricas de elaboração de um programa de lutas direcionado para a construção de uma alternativa societária contraposta à ordem do capital, a partir da ótica do conjunto dos trabalhadores. Para Antunes (1999, p.243), cabe a esse programa responder às reivindicações imediatas do mundo do trabalho, mas tendo como horizonte uma organização societária fundada em valores socialistas e efetivamente emancipadores e que não tenha ilusões quanto ao caráter destrutivo da lógica do capital. Segundo o mesmo autor, trata-se de um projeto com “um sentido universalizante e socialista, num espaço que necessariamente transborda o espaço nacional”, isto é, que recoloca “a importância decisiva da criação de novas formas de organização internacional dos trabalhadores” (Antunes, 1999,p.244); e destaca alguns desafios fundamentais em relação a reestruturação do movimento sindical - como uma das principais mediações da constituição e luta da classe trabalhadora -, tendo em vista São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 8 romper com enorme barreira social que separa os trabalhadores ‘estáveis’ em franco processo de redução, dos trabalhadores em tempo parcial, precarizados, subproletarizados em significativa expansão no atual cenário mundial; [...] romper radicalmente com todas as formas de neocorporativismo que privilegiam suas respectivas categorias profissionais e com isso diminuem ou abandonam os conteúdos mais acentuadamente classistas [...]; romper com a barreira imposta pelo capital, entre a luta sindical e luta parlamentar, entre luta econômica e luta política, articulando e fundindo as lutas sociais, extra-parlamentares, autônomas, que dão vida às ações de classe. (ANTUNES,1999, p.244). Assim, assinala como imperativo para os movimentos sociais dos trabalhadores, avançar na direção de um desenho societal estruturado a partir da perspectiva do trabalho emancipado e contrário ao capital, com sua nefasta divisão social e hierárquica do trabalho. Articular ações que tenham como ponto de partida dimensões concretas da vida cotidiana e os valores mais gerais que possam possibilitar a realização de uma vida autêntica, dotada de sentido. (ANTUNES,1999,p. 245). Tal perspectiva supõe o avanço da consciência mundial dos trabalhadores em torno da necessidade e da possibilidade de construção de um mundo que seja de todos e não de uma minoria – da elite proprietária dos meios de produção e controladora do poder e do Estado. (LOPES;ABREU,2004). 4 CONCLUSÃO Com base nesta discussão, é possível concluir reafirmando a pertinência da tese de que a emancipação, como necessidade e como projeto fundado na solidariedade intra classe trabalhadora tem “vigência histórica e está demandando outras formas de organização e de luta, enquanto a classe trabalhadora se repõe como classe, reconstrói ou constrói suas instituições de mediação política”.(LOPES;ABREU,2004, p.8). Todavia são grandes as questões que se colocam, na atualidade, em relação ao projeto histórico de emancipação humana, inclusive quanto ao atual papel da classe trabalhadora na construção do mesmo, considerando as condições materiais e subjetivas de sua constituição histórica gestadas a partir contradições decorrentes das saídas destrutivas à crise do capital, sob a orientação neoliberal, sobretudo em suas manifestações em países periféricos como é o caso do Brasil. As atuais configurações do mundo do trabalho nos marcos da produção mundializada de mercadorias alteram as condições materiais e político-ideológicas da participação do trabalhador nos processos de produção e reprodução social e da São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 9 constituição da solidariedade como elemento inerente a esses processos. Equivale dizer, de acordo com Mészáros (1996), que a base material da constituição da solidariedade intra-classe trabalhadora sofreu um profundo revés em seu sentido histórico, desde a expansão imperalista da acumulação do capital nos marcos do Welfare State, colocando como um desafio fundamental a recuperação da solidariedade pela classe trabalhadora em sua dimensão nacional e internacional. REFERÊNCIAS ABREU, Marina Maciel. A relação entre o Estado e a sociedade civil: a questão dos conselhos de direitos e a participação do Serviço Social. Serviço Social & Movimento Social, São Luís, v.1, n.1, p. 61-76, jul./dez.1999. ALVES, Giovanni. 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