UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS - UNA-SUS PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL NA PRIMEIRA INFÂNCIA EM VISITA DOMICILIAR Karen Leticia Tarasiuk Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Fiocruz Unidade Cerrado Pantanal Una-SUS Pós-graduação em Atenção Básica na Saúde da Família Dourados, Outubro de 2011. 1 Karen Leticia Tarasiuk PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL NA PRIMEIRA INFÂNCIA EM VISITA DOMICILIAR Trabalho de Conclusão de Curso Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização de Atenção Básica na Saúde da Família, apresentada como requisito parcial para a obtenção do titulo de especialista. Orientador: Fernando Lamers Dourados, Outubro de 2011 2 RESUMO Objetivo. Este trabalho teve como objetivo promover saúde bucal em visitas domiciliares através da observação e incentivo ao aleitamento materno e às práticas de higiene bucal destinadas às crianças de 0 a 2 anos residentes na comunidade da ESF 41. Metodologia. Foram realizadas 29 visitas domiciliares no período de abril a agosto de 2011 onde realizou-se pequena entrevista, como instrumento para coleta de dados, atividade educativa em saúde bucal para a primeira infância e entrega de escovas infantis. Posteriormente os dados foram tabulados e submetidos à análise descritiva. Resultados. A maioria dos bebês (63,3%) são amamentados ao seio por 6 meses no mínimo. Boa parte das mães demora para iniciar os cuidados com a saúde bucal da criança. Apenas 28,5% dos bebês de 6 meses a 1 ano possuem escova dental e no segundo ano de vida este índice atinge somente 50%, apesar de 59% afirmarem que realizam a escovação com alguma frequência. Aos 6 meses 57% das crianças usam chupeta e este índice sobe para 75% no semestre seguinte. 41% das mães entrevistadas não realizam higiene bucal no filho e 31% não tem informações a respeito do cuidado com a saúde bucal de crianças menores de 2 anos.Conclusão. A higiene bucal praticada nas crianças está relacionada às informações das mães sobre o assunto, sendo necessárias atividades educativas ainda na gestação realizadas por uma equipe multiprofissional que deverá compreender a saúde bucal como parte integrante da saúde do indivíduo. Palavras-chave: Promoção de saúde bucal; Visita Domiciliar; Aleitamento Materno; Odontopediatria. 3 LISTA DE TABELAS Tabela1: Número de pacientes visitados segundo a faixa etária ............................................ 11 Tabela 2: Prática do aleitamento materno por no mínimo 6 meses ........................................ 11 Tabela 3: Posse de escova para os maiores de 6 meses .......................................................... 11 Tabela 4: Prevalência de hábitos deletérios ............................................................................ 12 Tabela 5: Técnica de higiene em menores de 6 meses. .......................................................... 12 Tabela 6: Frequência de escovação dentária em crianças de 6 a 24 meses ............................ 13 Tabela 7: Fonte de informações sobre saúde bucal da criança ............................................... 13 Tabela 8: Frequência de dieta cariogênica .............................................................................. 14 4 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 5 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 7 3 METODOLOGIA .............................................................................................................. 10 4 RESULTADOS ................................................................................................................... 11 5 DISCUSSÃO ...................................................................................................................... 15 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 18 5 1 INTRODUÇÃO A produção do cuidado traz consigo a proposta de humanização do processo de desenvolver ações e serviços de saúde. Implica a responsabilização dos serviços e dos trabalhadores da saúde, em construir com os usuários, a resposta possível às suas dores, angústias, problemas e aflições de uma forma tal que não apenas se produzam consultas e atendimentos, mas que o processo de consultar e atender venha a produzir conhecimento, responsabilização e autonomia em cada usuário (MS, 2004). O Cirurgião Dentista inserido, hoje, nas Estratégias de Saúde da Família deve conhecer sua população adscrita, seus anseios, suas perspectivas, seus problemas, como e onde vivem. Para tanto as visitas domiciliares se fazem necessárias com a finalidade de estabelecer e manter um vínculo com sua clientela e conhecer de fato o público-alvo. Somente a partir de então será possível traçar o perfil de sua população e realizar o diagnóstico social, econômico, cultural, psicológico e de situação de saúde da mesma. E, posteriormente, com esses importantes dados em mãos a equipe terá subsídios para propor as ações necessárias para a melhoria de condições de vida de sua comunidade. O conhecimento que vem sendo adquirido desde os primórdios da odontologia possibilitou uma importante mudança no que diz respeito aos métodos de prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças que acometem os tecidos bucais. Com relação à cárie dentária, por exemplo, inicialmente acreditava-se que o seu tratamento restringia-se à extração do dente doente. A evolução das pesquisas na área levou à maior utilização de medidas preventivas e terapêuticas baseadas no conhecimento da doença. A incorporação dos princípios da cariologia e da filosofia da promoção de saúde na prevenção e tratamento de cárie tornou mais compreensível a importância do início precoce da abordagem preventivoeducativa (FLÓRIO, 2003). A educação dos pais, responsáveis pelo cuidado com a saúde dos filhos, torna-se extremamente relevante quando se quer reduzir o número de doenças bucais em crianças na primeira infância e oferecer condições para a manutenção da saúde bucal nas mesmas. Para esta promoção de saúde bucal ser efetiva torna-se importante realizá-la no ambiente onde mora esta criança, conversar com seu cuidador e oportunizar um diálogo para orientações e esclarecimentos. Neste projeto de intervenção, foram realizadas visitas domiciliares com ação educativa direcionadas para mães de crianças de 0 a 2 anos. Esta idade precoce foi escolhida por ser a 6 época em que se iniciam os cuidados com a saúde bucal que, se bem incorporados na prática cotidiana, irão proporcionar, no futuro, nível de saúde bucal adequada às crianças, adolescentes, adultos e, enfim, a todo o ciclo de vida de uma população. Os objetivos deste trabalho são de observar e incentivar o aleitamento materno, ressaltando seus benefícios às estruturas orofaciais do bebê bem como as práticas em saúde bucal (técnica e frequência da higiene além dos hábitos dietéticos) dirigidas às mães de crianças de 0 a 2 anos residentes na comunidade adscrita à Estratégia de Saúde da Família 41 da cidade de Dourados. Desta forma, o estudo poderá fornecer subsídios que irão auxiliar na elaboração de projetos e estratégias para obter melhora na saúde bucal da população pesquisada contribuindo para o bem estar geral do indivíduo e facilitando, por sua vez, a promoção e a manutenção da saúde nos demais ciclos de vida subsequentes. 7 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA O conceito ampliado de saúde deve nortear a mudança gradativa dos serviços, evoluindo de um modelo assistencial centrado na doença e baseado no atendimento a quem procura, para um modelo de atenção integral à saúde, onde haja a incorporação progressiva de ações de promoção e de proteção, ao lado daquelas propriamente ditas de recuperação (MS, 2004). Conhecer os hábitos, crenças, valores, a organização da comunidade onde os indivíduos estão inseridos, além do conceito de qualidade de vida e processo saúde/doença, permite a elaboração de estratégias coerentes com esta realidade, que poderão propiciar a aquisição e manutenção da saúde como um todo. Para isso, a mudança de atitudes é mais facilmente adquirida quando existe a orientação de profissionais qualificados que poderão construir junto com a comunidade a melhor forma de colocar em prática as informações recebidas (GUARIENTI et al., 2009). O atual modelo de Atenção Básica à Saúde privilegia uma abordagem familiar centrada na qualidade de vida e na relação das equipes com a comunidade. Desta forma, a Estratégia de Saúde da Família não limita o seu trabalho a intervenções epidemiológicas e sanitárias. Essa estratégia, em seu planejamento, vislumbra trabalhar com a família, da qual se deve conhecer o contexto social, político e econômico, bem como sua organização, a fim de facilitar o processo de cuidado em saúde (CAVALCANTI et al., 2010). As visitas domiciliares podem auxiliar as mães a colocarem em prática seus conhecimentos prévios em relação a saúde bucal do bebê (oferecidos em outros momentos e por outros profissionais), bem como servir de reforço educativo e esclarecer dúvidas além de ser um importante método de aproximação entre o profissional, o paciente e sua família (SIMIONI, 2005). Na infância o cuidado ampliado deve ser visto numa perspectiva multidisciplinar e de forma pactuada com a família, o que proporcionará mudança nas práticas de cuidado realizadas por profissionais e cuidadores, em busca da atenção integral da criança. O cuidado em saúde bucal deve ser oferecido à criança menor de 2 anos pelos seus pais ou cuidadores, pois os hábitos e atitude ensinados por eles serão incorporados e mais tarde praticados pela criança (OLIVEIRA, 2010). O desconhecimento sobre cuidados necessários de higiene bucal representa um fator a ser considerado sobre a saúde, uma vez que a informação, embora disponível nas grandes 8 mídias, não chega a todas as camadas da população da mesma forma e, dificilmente, é apreendida de modo a produzir conhecimento e autonomia em relação aos cuidados com a saúde. Surge então a necessidade de programas odontológicos educativos, que levantem e interpretem as necessidades das populações de menor acesso aos serviços de saúde odontológicos (PAULETO, 2004). As ações de promoção de saúde voltadas à primeira infância, devem priorizar a educação e informação aos pais, auxiliando na construção de hábitos saudáveis que irão refletir na redução da ocorrência de doenças e melhorar a saúde de toda a família. Sendo assim, apropriar-se dos conhecimentos, percepções e saberes dos pais sobre os cuidados com a saúde bucal dos seus filhos, torna-se uma ferramenta estratégica importante para avaliação e planejamento das ações em saúde para esse grupo da população (GUARIENTI, 2009). Quando os pais são informados dos prováveis efeitos negativos da utilização da mamadeira noturna com líquidos açucarados, concomitante à higiene inadequada ou ineficiente, da importância da dieta equilibrada, do uso do flúor e dos cuidados necessários à saúde bucal, assim como a necessidade da visita da criança ao cirurgião-dentista quando do irrompimento dos primeiros dentes decíduos, torna-se mais fácil impedir o estabelecimento de maus hábitos (CRUZ et al., 2004). De maneira geral, os pais revelam conhecimentos limitado sobre a saúde bucal do bebê desconhecendo os riscos de crianças pequenas desenvolverem doenças como a cárie dentária. Existe, portanto, a necessidade de serem os pais informados sobre os cuidados necessários para evitar doenças bucais contribuindo, assim, para a melhoria da qualidade de vida de seus filhos. Esta estratégia poderia se dar através da implantação de um programa educacional de saúde para bebês, abordando pontos referentes à etiologia e transmissão da cárie dentária, uso de dentifrícios fluoretados e higiene bucal na população estudada (FERREIRA et al., 2011). Em um estudo sobre a relação entre nível socioeconômico e conhecimentos das mães sobre saúde bucal de bebês constatou-se que 43% das crianças envolvidas no estudo receberam alimento cariogênico antes de completar um ano de vida sendo que a incorporação do açúcar na mamadeira ou alimentação predominou entre os 6 e 12 meses, coincidindo com o período de erupção dos primeiros dentes (THEODORO, 2007). A situação real vivenciada pelas mulheres determina as ações tomadas no período pósparto, que muitas vezes são diferentes das pretendidas durante o período gestacional. Existe a necessidade de acompanhamento do binômio mãe-filho, com relação à amamentação, supervisão da dieta, bem como do uso da mamadeira e chupeta devido às frequentes dúvidas 9 existentes nesta época que naturalmente advém com o exercício das ações como, por exemplo, técnica da higienização bucal (SIMIONI, 2005). Todas as orientações dadas às gestantes devem ser reforçados após o nascimento do bebê. Hábitos em relação à dieta, por exemplo, devem ser bem esclarecidos já que sua utilização inadequada tem relação direta com a cárie dentária. Na primeira infância um dos alimentos de maior utilização é o leite daí a importância do esclarecimento sobre seu poetencial cariogênico. Para uma maior eficácia na prevenção de saúde bucal a participação dos médicos ginecologistas, obstetras é, sem dúvida, muito importante (MAGALHÃES et al., 2009). O desmame precoce pode levar à ruptura do desenvolvimento motor-oral adequado, prejudicando as funções de mastigação, deglutição, respiração e articulação dos sons da fala. A falta da sucção fisiológica ao peito pode interferir no desenvolvimento motor-oral, possibilitando a instalação de má oclusão, respiração oral e alteração motora-oral (NEIVA, 2003). A maioria dos trabalhos de pesquisa demonstra que a amamentação por período de tempo prolongado e em livre demanda está associada à menor prevalência de hábitos de sucção não nutritivos em crianças (sucção de chupetas, dedos, lábios, língua, bochechas e objetos) e a presença destes hábitos de sucção não nutritivos pode ocasionar o desmame precoce (QUEIROZ et al., 2010). A duração insuficiente do aleitamento materno está associada à presença de hábitos de sucção persistentes em crianças com a dentição decídua completa e a presença destes hábitos (chupeta, onicofagia, sucção digital e morder objetos) está associada à ocorrência da maloclusão (SOUSA et al., 2004). 10 3 METODOLOGIA Para a execução deste projeto, que tem caráter descritivo e educativo, foram realizadas 29 visitas domiciliares em micro-áreas correspondentes à ESF 41 do município de Dourados MS no período de abril a agosto de 2011. Estas visitas tinham o objetivo de observar os hábitos de saúde bucal praticados pelos pais ou responsável na criança menor de 2 anos de idade, bem como a prática do aleitamento materno. No momento dessa abordagem foram realizadas entrevista, como instrumento para a coleta de dados (conforme roteiro), atividade educativa para a mãe ou o cuidador da criança sobre como proceder com a higiene bucal dos pequenos e explanação sobre os benefícios do aleitamento materno pelo menos até os 6 meses de idade. Os responsáveis também foram informados sobre cariologia, consequências de hábitos deletérios (uso de chupetas e dos dedos) e técnica adequada para higienizar a cavidade bucal na idade em questão. Para tanto foram utilizados arcada dentária articulada, escova e fio dental além de um álbum seriado. As famílias visitadas não foram identificadas e não foram submetidas a nenhum risco de dano físico ou moral durante a realização do trabalho tendo em vista que tratou-se de uma rotina existente nas equipes de ESF cujas atividades foram direcionadas para a faixa etária pretendida. Após a coleta de dados, as respostas referentes às questões da entrevista foram tabuladas e submetidas a análise descritiva. Roteiro da entrevista 1- Qual a idade em meses do bebê? 2- Você ainda o amamenta ao seio, se não, por quanto tempo o amamentou? 3- Você já recebeu informações sobre como cuidar da saúde bucal do bebê? 4-Como você realiza a higiene bucal do seu bebê menor de 6 meses? 5- Seu filho ( acima de 6 meses) possui escova dental? 6- Com que frequência você escova os dentes da criança? 7- Seu filho faz uso de chupeta ou sucção digital? 8- Que tipo de alimentos você oferece a seu filho? Com que frequência? 11 4 RESULTADOS Os dados percentuais sobre cuidados em saúde bucal de crianças de 0 a 2 anos referentes à entrevista realizada em 29 visitas domiciliares são apresentados nas tabelas a seguir. Tabela1: Número de pacientes visitados segundo a faixa etária Idade da criança Número de pacientes visitados O a 6 meses 7 6 meses a 1 ano 8 1 a 2 anos 14 Tabela 2: Prática do aleitamento materno por no mínimo 6 meses Idade da criança Aleitamento materno por 6 meses no mínimo 6 a 24 meses 14 - 63,4% Atenção: considerando que a informação solicitada é de no mínimo 6 meses de aleitamento materno, apenas os bebês com mais de 6 meses completos foram incluídos nesta tabela. Tabela 3: Posse de escova para os maiores de 6 meses Idade da criança Percentagem daPosse de escova 6 meses a 1 ano 2 - 28,5% 1 a 2 anos 7 - 50% 12 Considerando que a escova passa a ser usada somente após a erupção dos primeiros dentes decíduos que acontece por volta dos 6 meses foram incluídos nesta tabela somente os bebês a partir desta idade. Tabela 4: Prevalência de hábitos deletérios Idade da criança Prevalência de hábitos deletérios Até 6 meses 4 - 57% 6 meses a 1 ano 6 - 75% 1 a 2 anos 9 - 64% Dentre os vários tipos de hábitos deletérios existentes (sucção digital, chupetas e/ou outros objetos) o único encontrado nesta pesquisa foi o uso de chupetas, sendo utilizado pela maioria das crianças principalmente na idade de 6 meses a 1ano. Tabela 5: Técnica de higiene em menores de 6 meses. Técnica utilizada Percentuais de crianças Gaze ou fralda 2 – 28,5% Nenhuma técnica 5 – 71,5% Dentre as várias formas de se higienizar a cavidade oral de um bebê com idade até 6 meses (utilizando cotonete, algodão, gaze, fralda ou até escova) as únicas citadas na entrevista foram gaze e fralda. 13 Tabela 6: Frequência de escovação dentária em crianças de 6 a 24 meses Frequência da escovação Número absoluto Uma vez a cada dois dias 1 - 4,5% Uma vez ao dia 5 - 22,7% Duas vezes ao dia 4 - 18,2% Três vezes ao dia 3 - 13,6% Não escovam 9 – 41,0% Sobre a tabela anterior é interessante lembrar que apenas 9 crianças acima de 6 meses possuiam escova, no entanto ao serem questionadas sobre a frequência da escovação 13 mães relataram praticar a higiene bucal dos filhos. As crianças que não possuiam escova própria utilizavam a escova de algum membro da família geralmente algum irmão segundo relato das mães. Tabela 7: Fonte de informações sobre saúde bucal da criança Fonte de informações em saúde bucal Percentagem Dentista da ESF 6 - 20,7% Médica/Enfermeira da ESF 2 - 6,9% Saúde particular/convênio 5 - 17,3% Televisão 3 - 10,3% Outros: vizinhos, escola, revistas, etc 4 - 13,8% Não tem informação 9 - 31,0% Nesta tabela é possível notar que a ESF foi responsável em informar sobre saúde bucal da criança apenas em 27% das mães e/ou responsáveis. Mais de 40% que possuem informação a respeito do tema obtiveram-na por outras fontes. 14 Tabela 8: Frequência de dieta cariogênica Frequência de dieta cariogênica Percentagem Não ingere 4 - 13,8% Uma a duas vezes na semana 3 - 10,4% Três a quatro vezes na semana 5 - 17,2% Uma vez ao dia 9 - 31,0% Duas vezes ou mais ao dia 8 – 27,5% Foram considerados alimentos cariogênicos utilizados pelas famílias: bolachas recheadas, leite adoçado, salgadinhos e guloseimas em geral ( balas, pirulitos e outros doces). 15 5 DISCUSSÃO Conforme pode ser visualizado na tabela 2, 63,4% das crianças entre 6 e 24 meses foram amamentadas no peito exclusivamente por pelo menos 6 meses o que choca com os 46,03% da amostra estudada por Souza et al. (2004), isso indica que as mães destas microáreas seguem os conselhos médicos da equipe quanto à dieta adequada a puericultura. Através da sucção na mama, nos primeiros meses de vida, o RN obterá o desenvolvimento adequado dos órgãos fonoarticulatórios e as funções exercidas por eles (NEIVA et al., 2003). Sobre hábitos deletérios (tabela 4) é interessante afirmar que já no primeiro semestre de vida 57% dos bebês já utilizam chupetas oferecidas pelas mães, dados semelhantes aos de Simioni (2005) que constatou a utilização deste artifício por 55% dos bebês que no início não aceitavam mas acostumaram-se ao uso devido insistência da mãe, que relata como motivos para sua introdução a supressão do choro, uma vez que a criança se acalma. No estudo de Souza et al. (2004), os pesquisadores encontraram, entre bebês que foram amamentadas ao seio por mais de 6 meses, prevalência de 41% de crianças com hábitos deletérios. Quanto às crianças que foram amamentadas por menos de 6 meses ao seio este índice atingiu 59%. De acordo com Magalhães (2009) a orientação é de que, nos primeiros 6 meses de vida, o leite materno seja o alimento de escolha, pois além de permitir a transmissão dos anticorpos da mãe para o bebê, também favorece o desenvolvimento crânio-facial e psicológico da criança. Após este período, deve ser introduzida a alimentação complementar, para que, por volta dos 12 meses, ocorra o desmame, e a criança passe a tomar o leite no copo. Conforme a tabela 5 somente 28,5% das crianças com menos de 6 meses recebem higiene bucal (gaze e/ou fralda), em contrapartida, 50% das mães, no estudo de Cruz (2004) iniciaram a higiene oral antes da erupção do primeiro dente decíduo. Considerando que um dos principais fatores etiológicos para o estabelecimento da doença cárie é a presença de biofilme, a higiene bucal assume um papel de extrema importância, uma vez que a remoção do biofilme ainda é considerada o mais efetivo e acessível meio de prevenção à cárie (GUARIENTI, 2009). Na questão sobre a frequência de escovação (tabela 6) obsevou-se que 31,8% das crianças de 6 a 24 meses recebiam a higiene bucal de 2 a 3 vezes por dia o que vai de encontro aos dados coletados por Cruz (2004) onde 30, 5% das mães faziam o procedimento 3 vezes ao dia. Segundo este mesmo autor 27,1% das entrevistadas realizavam a higiene bucal dos bebês somente uma vez ao dia ao passo que para este item foram encontrados 22,7% no 16 presente trabalho. Segundo Buischi (1999), a remoção do biofilme dental, através da higienização, é uma das medidas mais importantes e acessíveis para se evitar a cárie precoce na infância, pois, se realizada precocemente, aumenta a probabilidade de a criança apresentarse livre de cárie aos anos. Na tabela 7 chama-nos atenção o índice alto de mães sem informações a respeito da saúde bucal das crianças tendo em vista que trata-se de uma comunidade em que há presença de ESF e há priorização no atendimento às gestantes e à puericultura.Constatou-se, portanto, que apenas 69% das mães haviam recebido anteriormente as informações a cerca de cuidados em saúde bucal de crianças. Guarienti (2006) observou que 83% das entevistadas já a possuiam e ainda que estas informações foram obtidas principalmente por livros, revistas e televisão (49%) . Na tabela 8 observamos uma alto índice de crianças ingerindo alimento cariogênico no mínimo uma vez ao dia (58,6%). Crianças que ainda não ingerem tais alimentos representam apenas 13,8% neste estudo e como bebês de 0 a 6 meses perfazem um total de 24% percebese que pouco mais da metade das crianças desta idade ainda não ingeriram alimentos açucarados.Um estudo de Theodoro (2007) verificou que 43% das crianças receberam alimento cariogênico antes de completar um ano de vida e a incorporação do açúcar na mamadeira ou alimentação predominou entre 6 e 12 meses. 17 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Sobre os temas abordados na pesquisa conclui-se que: A prática em saúde bucal realizada em crianças de 0 a 2 anos está fortemente relacionada às informações que as mães possuem a respeito do assunto e também à importância que as mesmas conferem à questão. As mães necessitam de mais estímulos para a realização da prática em saúde bucal dos filhos de 0 a 2 anos e isto pode se dar por atividades educativas realizadas ainda na gestação e por um cuidado continuado que poderá ser realizados através de visita domiciliar. É importante intensificar o trabalho multidisciplinar onde todos os profissionais da equipe poderiam contribuir para a promoção da saúde bucal compreendendo-a como parte integrante da saúde e bem estar do indivíduo em todos os ciclos de vida. 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Saúde/Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal. Brasília, 2004. BUISCHI, Yvone de Paiva; AXELSSON, Per; Controle mecânico da placa dental realizado pelo paciente. In: KRIGER, Léo. Promoção de saúde bucal. São Paulo: Artes Médicas; 1999 p. 113-127. CAVALCANTI, Yuri Wanderlei et al. Motivações, práticas e percepções de cirurgiõesdentistas sobre o trabalho na Atenção Básica de João Pessoa – PB. RFO UPF, Passo Fundo, v. 15, n. 3, 2010. CRUZ, Ana Amélia Gomes; et al. Percepção Materna Sobre a Higiene Bucal de Bebês: Um Estudo no Hospital Alcides Carneiro, Campina Grande-PB. 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