Série BALANÇO PERGUNTADO - Stoa

Propaganda
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE
FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS CONTÁBEIS, ATUARIAIS E FINANCEIRAS - FIPECAFI
Série:
Balanço Perguntado
Pequenas Empresas
Autor: Prof. Dr. José Roberto Kassai
www.eac.fea.usp.br/eac/docentes/kassai/
[email protected]
Fone: (11) 3091.5820/30
2007
Índice das Publicações
Balanço perguntado: o caso da segunda aposentadoria
(Anais do XII Congresso Brasileiro de Custos, Florianópolis/SC, 2005)
(Anais do IX Congresso Internacional de Custos, Florianópolis/SC, 2005)
Pág. 02
Balanço perguntado: uma técnica para elaborar relatórios contábeis
de pequenas empresas.
(Anais do XI Congresso Brasileiro de Custos, Porto Seguro/BA, 2004)
Pág. 15
Custo de capital das pequenas empresas.
(Anais do X Congresso Brasileiro de Custos, Guarapari/ES, 2003)
Pág. 22
Termômetro de crédito: avaliação de propostas de créditos de
pequenas empresas junto à Caixa Econômica Federal.
(Anais do IX Congresso Brasileiro de Custos, São Paulo/SP, 2002)
Pág. 33
Balanço perguntado – solução para as pequenas empresas.
(Anais do VIII Congresso Brasileiro de Custos, Recife/PE, 2001)
Pág. 41
Pequenas empresas – como é difícil levantar dinheiro.
(Anais do VII Congresso Brasileiro de Custos, São Leopoldo/RS, 2000)
Pág. 51
1
Balanço Perguntado: o caso da segunda aposentadoria
José Roberto Kassai – FEA/USP
RESUMO
Balanço perguntado representa um conjunto de técnicas que permite elaborar e analisar relatórios
contábeis de pequenas empresas, tendo em vista que a maioria delas não dispõe de
demonstrações contábeis adequadas. Ao longo de uma série de artigos publicados nos anais
deste Congresso, no período de 2000 a 2004, foram abordados diversos temas sobre essa
terminologia e, curiosamente, pode-se notar que essas técnicas podem ser aplicadas
perfeitamente sobre o universo das grandes empresas e o nível de sofisticação e complexidade
desses conceitos também é crescente. Esse fato fez vir à tona um questionamento sobre a
originalidade e a importância dessas contribuições atribuídas às pequenas empresas e, sob este
pretexto, este trabalho tem por objetivo testar os conceitos implícitos nesses modelos em um caso
real e de dimensões bem reduzidas, um micro-negócio informal. Desse modo, espera-se poder
validar ou aprimorar essas contribuições para esse segmento tão significativo para as economias
de todos os bairros e cidades deste mundo.
Palavras Chaves: Balanço Perguntado – Microempresa – Continuidade – Informalidade
Balance Inquired: the case of second retirement
ABSTRACT
Balance inquired represents a set of techniques to elaborate and analyze financial reports of small
companies, in view of the fact that most of them do not have adequate financial statements. A
series of articles published in the annals of this Congress between 2000 and 2004 addressed
different subjects about this terminology. It is remarkable that these techniques can perfectly be
applied to the universe of large companies. These concepts also present rising sophistication and
complexity levels. This fact gave rise to inquiries about the originality and importance of these
contributions attributed to small companies. In this context, this study aimed to test the concepts
implied in these models to a real case of small dimensions, i.e. an informal microbusiness. We
hope to be able to validate or improve these contributions for such a significant economic segment
around the world.
Key words: Balance inquired – Micro-company – Going concern – Informality
1. Introdução
A terminologia Balanço Perguntado tem sido utilizada nesses últimos anos para expressar
uma técnica antiga adotada pelos analistas financeiros e que permite elaborar relatórios contábeis
de pequenas empresas. Essa prática, como relata KASSAI (2004), é baseada no modelo mental
das demonstrações contábeis, mais precisamente sobre o balanço patrimonial e a demonstração
do resultado de um exercício e consiste, basicamente, em um processo de entrevista entre o
analista e o empreendedor e o que dá consistência e serve de roteiro nessa conversa é
justamente a estrutura e lógica e natural existente nesses relatórios.
Para os profissionais que dominam a linguagem contábil, ou mesmo para aqueles que têm as
noções básicas, pode parecer um modelo simples e um tanto óbvio, mas é nesse momento que
se verifica um diferencial em relação aos demais profissionais. A visão patrimonial e seqüencial
das contas do ativo e do passivo permite a visualização global do empreendimento como
investimento e suas formas de financiamentos. As contas da demonstração de resultado, em sua
ordem lógica e dedutiva, servem de roteiro para o início de um orçamento. A combinação desses
com a experiência gerencial das pessoas permite falar de negócios e de planejamento. E a
lembrança de que o total do ativo tem que ser sempre igual o do passivo, proporciona segurança
nas diversas simulações.
2
Nesses últimos anos foram publicados diversos artigos relativos a essa terminologia e,
curiosamente, pode se notar que as técnicas que compõe esses modelos podem ser aplicadas
tanto a pequenas como em grandes empresas e o nível de complexidade e sofisticação também é
crescente, o que faz vir à tona um questionamento sobre a originalidade dessas contribuições
atribuídas às pequenas empresas. Seriam apenas simplificações do que já existe ou do que é
aplicado nas grandes corporações? Qual a eficácia sobre as pequenas empresas? Esses
conceitos e técnicas sofisticados estão condizentes com a realidade desses pequenos
empreendimentos?
Orientados por esses questionamentos, e postergando-se para um outro momento uma
discussão mais aprofundada do que verdadeiramente caracteriza uma pequena empresa, este
trabalho tem por objetivo aplicar o modelo balanço perguntado em uma empresa de dimensões
bem reduzidas, um micro-negócio informal, e, desse modo, validar ou aprimorar as contribuições
para esse segmento tão significativo para as economias deste mundo.
Para isso, escolheu-se como estudo de caso um empreendimento real, a Cia. Aércio (nome
fictício), e pretende-se acompanhar as principais etapas de processamento do balanço
perguntado e refletir sobre os questionamentos acima. Preocupando-se em preservar a identidade
do proprietário e seu negócio, algumas informações e valores foram ajustados, sem que isso
prejudicasse o objeto desta pesquisa.
A validação do modelo perguntado será confirmada se o produto final resultar em relatórios
adequados e que permitam análises razoáveis de desempenho econômico e financeiro.
Secundariamente, pretende-se selecionar uma lista de cinqüenta conceitos básicos extraídos das
principais publicações sobre esse modelo e, ao final, verificar quantos e quais deles foram
aplicáveis e não aplicáveis e espera-se um índice de aplicabilidade superior a cinqüenta por cento.
2. Série balanço perguntado e conceitos aplicáveis
A terminologia balanço perguntado, como já foi comentada, refere-se a uma prática utilizada
para viabilizar análises de relatórios contábeis de pequenas empresas, tendo em vista que a
maioria delas não dispõe de demonstrações contábeis adequadas.
Apesar de ser uma prática antiga e adotada por diversas instituições de créditos, selecionouse para fundamentar este trabalho um conjunto de publicações que contribuíram para ressaltar
essa terminologia denominada por KASSAI (2004) de “Série Balanço Perguntado”, onde foram
abordados os seguintes temas:
•
Sistemas de custos para pequenas empresas: experiência de uma editora.
•
Fluxo de caixa prospectivo: custos, preços e orçamento.
•
Pequenas empresas: como é difícil levantar dinheiro.
•
Balanço Perguntado: solução para as pequenas empresas.
•
Termômetro de crédito: avaliação de propostas de créditos de pequenas empresas
junto à Caixa Econômica Federal.
•
Custo de capital das pequenas empresas e escala hierárquica de risco setorial.
•
Balanço perguntado: casos práticos de pequenas empresas.
•
Balanço perguntado: uma técnica para se elaborar relatórios contábeis de pequenas
empresas.
De uma lista de cem conceitos citados nesses trabalhos, foram selecionados cinqüenta
julgados relevantes para atender aos propósitos desta pesquisa e que servirão de referências na
elaboração do balanço perguntado do caso real e nas reflexões das hipóteses levantadas.
3
1. Ágio
26. Goodwill
2. Alavancagem financeira (GAF)
27. Imposto de renda
3. Alavancagem operacional (GAO)
28. Índices de preços e inflação
4. Benchmarking
29. Índice de endividamento
5. Break even point
30. Índice de liquidez corrente
6. Ciclo de caixa
31. Lucro econômico
7. Ciclo operacional
32. Lucro inflacionário
8. Coeficiente Beta
33. Margem de contribuição objetivada
9. Custeio Absorção
34. Market value (MV)
10. Custeio Variável
35. Markup
11. Custo corrigido
36. Market value added (MVA)
12. Custo de capital (Wacc)
37. Missão da empresa
13. Custo de reposição
38. Net operating profit less adjusted taxes
(Noplat)
14. Custo do capital de terceiros (Ki)
39. Payback
15. Custo do capital próprio (Ke)
40. Precificação - compound price
16. Custo fixo
41. Precificação - target price
17. Custo histórico
42. Princípio da Entidade
18. Custo variável
43. Residual return on equity (RROE)
19. Demonstração de fluxos de caixa (DFC)
44. Residual return on investment (RROI)
20. Demonstração do resultado do exercício
(DRE)
45. Return on equity (ROE)
21. Depreciações
46. Return on investiment (ROI)
22. Deságio
47. Taxa de retorno do mercado (RM)
23. Earnings before interest and taxes (Ebit)
48. Taxa de risco
24. Earning
b.
depr/amort.(Ebitda)
49. Termômetro de Kanitz
interest,
taxes,
25. Economic value added (EVA)
50. Valor presente líquido (VPL)
3. O caso real da CIA AERCIO
O caso da CIA AÉRCIO (nome fictício) refere-se a um empreendimento que já existe
regularmente há mais de dez anos e, apenas por essa informação, pode-se inferir que se trata de
um investimento sustentável. Um analista de balanços perguntados, muito provavelmente estaria
ansioso por confirmar essa expectativa em suas análises finais e, mais do que isso, aprender e
desvendar alguns de seus segredos.
É com esse espírito que o analista inicia o processo de balanço perguntado, com humildade e
reconhecimento de que aquele empreendedor é possuidor de uma habilidade característica de
poucos e que o diferencia da maioria das pessoas que prefere trabalhar com vínculo
empregatício.
NASSIF (1999,4), em um de seus artigos publicados na Revista de Bordo da Varig, onde
comenta a importância da fusão entre a Brahma e a Antártica para o capitalismo brasileiro,
identifica dois personagens no cenário empresarial, a “pepita de maior valor” e a “pessoa com
pouca imaginação”, respectivamente o empreendedor e o gerente. A forma peculiar com que ele
intitula esses personagens é, no mínimo, interessante e provoca muitas discussões sobre o que
4
diferencia a maioria de nós (empregados) daquele empreendedor. Aliás, o leitor enquadra-se em
qual dos personagens?
Nesse mesmo artigo, o jornalista comenta:
“O empreendedor é pepita de maior valor, a pessoa que tem a intuição
do momento, a visão estratégica, a identificação da oportunidade. Em geral,
tem muita imaginação e visão do futuro. Só que, por suas próprias
características, é pouco afeito à operação do dia-a-dia. Aí entra o
complemento indispensável, o gerente, a pessoa com pouca imaginação,
mas solidamente fincado no chão, incumbido de transformar as idéias em
ação e em garantir o curto prazo da companhia.”
Em verdade, a maioria das pessoas não saberia viver sem a segurança e o conforto de
um salário no final de mês, das férias e do 13. salário anual, da cesta básica, do plano de saúde e
de outros benefícios. Uma minoria sentir-se-ia confortável em iniciar um mês sem saber o quanto
irá faturar, se sobrará bastante dinheiro no caixa ou se ao menos terá condições de pagar o
aluguel, por exemplo.
O Sr. Aércio é um desses empreendedores e que faz parte dessa minoria, está sempre com
um sorriso no rosto, chama a todos de patrãozinho e distribui inúmeros “bom-dia”, “boa-tarde”,
“como vai”. Atribui a si um honorário mensal de um salário mínimo (isso mesmo!) e orgulha-se de
ter criado e instruído três filhos na faculdade, e sente-se feliz em lembrar que conseguiu levar sua
esposa para conhecer a Grécia e países da Europa e sua história pode ser vista na figura a
seguir.
Ciclo de vida pessoal e do Empreendimento
Um Século
Nasceu
Aércio
1943
Empreendimento
Aposentadoria e em andamento
NEGÓCIO
Pesquisas
Professores
FIPE
1970
1974
Expulsória
Bradesco
1962
1994
2005
2013
2043
Os ciclos de vidas da pessoa do Sr. Aércio e de seu empreendimento estão bastante
relacionados e o conjunto da missão, crenças e valores, bem como as metas e objetivos, muitas
vezes se confundem. Nesses casos, tem-se a opinião de que essa situação é benéfica e a análise
custo versus benefícios de uma eventual segregação das entidades seria inviável.
Nasceu em 1943 em uma cidade do interior de São Paulo e veio para a capital em 1962, para
trabalhar no Bradesco onde aprendeu a digitar e perfurar cartões de computadores. Em 1970
começou a fazer alguns “bicos”, auxiliando professores de uma faculdade de renome desse país
na perfuração de cartões e tabulação de suas pesquisas e, quando da iniciativa desses
professores em criar uma fundação de pesquisas, em 1974, foi convidado a ser um dos membros
fundadores e contratado como funcionário no ano seguinte, onde trabalhou por 20 anos
ininterruptos, até a sua aposentadoria.
Ao receber as indenizações da aposentadoria e, diante das alternativas possíveis, não teve
dúvida, resolveu abrir um negócio. Começou a fazer compras no Paraguai e revender os produtos
à comunidade daquela faculdade, atendendo em torno de quatro mil pessoas entre professores,
funcionários e alunos. Para realizar essa atividade, adquiriu um veículo Belina 1982 que serve
para estocagem e exposição das mercadorias.
Ao ser questionado sobre o motivo que o levou a tomar a decisão de abrir esse negócio, o Sr.
Aécio foi categórico: “a poupança não dá nada, qualquer coisa daria mais!”.
5
Tendo ou não conhecimento das teorias de finanças e das decisões de investimentos, o Sr.
Aécio acabara de eliminar alguns dos principais cinqüenta conceitos implícitos no balanço
perguntado e mencionados no item anterior.
Como custo de oportunidade dessa decisão, ele atribuiu o rendimento da caderneta de
poupança e, como não utiliza capital de terceiros (Ki), o custo médio ponderado de capitais
(Wacc) corresponde ao custo de seu capital próprio (Ke). Ao ser indagado sobre os componentes
risco, coeficiente beta, risk free, retorno do mercado, capital asset pricing model etc., ele não
soube precisar, mas tem convicção de que a sua decisão pelo empreendimento foi melhor do que
ter deixado o dinheiro parado na caderneta de poupança. Isso poderá ser confirmado nos
números apurados neste trabalho.
Neste ano de 2005, e após mais de dez anos de atividades, o seu empreendimento está
maduro e em atividades plenas e diz que pretende continuar trabalhando muito além da
“expulsória” (na linguagem das universidades públicas, os professores e funcionários são
obrigados a se aposentarem ao completar setenta anos de idade; mesmo assim, alguns retornam
e continuam ministrando aulas e orientando alunos).
O princípio contábil da continuidade, por vezes destacado como postulado ou verdade aceita
como premissa, nesse caso é interpretado de forma diferente. Em nenhum momento da conversa,
o proprietário mostrou preocupações com a perpetuidade desse empreendimento para além de
sua própria vida, informando que não há nenhum acordo formal que garanta a sua ocupação no
espaço da Universidade e nenhuma garantia de que um concorrente se estabeleça, tudo é uma
questão de confiança conquistada nessas décadas e, provavelmente, a vida desse
empreendimento estaria limitada a de seu fundador.
Qual a missão desse empreendimento? Ao discutir a razão da própria existência dessa
empresa ou os fundamentos de sua perpetuidade, ficou evidente uma forte associação com a vida
ou missão particular de seu proprietário. E, aos 61 anos de idade, aposentado, com casa própria,
bem casado, orgulhoso de seus filhos, em harmonia com a vida e com seus princípios éticos e
religiosos, agradece a Deus e pede que possa continuar com essa vida por muitos e mais anos,
sendo útil à comunidade e atingindo os resultados financeiros almejados de seu empreendimento.
Essa inteligência e perspicácia do negócio fazem parte das características pessoais do dono
e, sem a intenção de mudar ou questionar os seus pensamentos, nem de expor os seus segredos
e pontos fracos, dois aspectos foram destacados nas discussões em torno de sua missão
empresarial: plano médico e margem de lucro zero.
A preocupação acentuada com o pagamento das mensalidades do plano médico foi um dos
pontos que despertou atenção, por ser a despesa de maior valor dos gastos mensais da família,
equivalente aos rendimentos de sua aposentadoria e, nesses anos todos, foram pagas
integralmente pelo empreendimento. Esse tem sido um termômetro para avaliação do sucesso de
seu negócio e, como solução emergencial em um cenário desfavorável, ainda restaria como
alternativa utilizar os serviços de saúde pública e viver dos rendimentos de sua aposentadoria.
Essa despesa pessoal, apesar de ser lançada na empresa mensalmente, em sua essência
poderia ser interpretada como retirada de lucros. Para o Sr. Aércio representa o custo de seu
capital, em valor e não em percentual, é a remuneração que o deixa satisfeito e, pessoalmente,
representa uma segunda aposentadoria e, como ele mesmo diz, “conseguida com menor esforço
do que a primeira!”.
Em relação aos preços praticados, o Sr. Aércio confidenciou que há muito tempo não faz
compras com regularidade no Paraguai e que, atualmente, abastece-se nos mercados da vinte e
cinco de Março (lojas semelhantes às do Paraguai) e praticando os mesmos preços
(benchmarking) de seus fornecedores, ou seja, adota como estratégia “margem de lucro zero”; os
seus preços são os mesmos praticados nas lojas da Vinte e Cinco, Galeria Pagé, Santa Efigênia,
Brás, José Paulino, Liberdade etc. Com essa política ele dificulta os agentes concorrentes e
viabiliza os seus negócios por meio de descontos obtidos devidos a sua pessoa e por comprar
tudo à vista.
6
Como se viu nesses comentários iniciais, o empreendimento do Sr. Aércio é um micro-negócio
e informal, possui um único funcionário que é ele mesmo, é o fundador e acionista majoritário e,
devido as suas habilidades e competências, ou talvez circunstância, exerce simultaneamente os
papeis de “empreendedor” e “gerente”. É responsável pelas decisões estratégicas e de
investimentos e, ao mesmo tempo, pelas atividades rotineiras de compras, estocagem, vendas,
marketing, pós-venda, planejamento entre outros. Em relação a essa atuação solitária, disse em
tom baixo: “não é bem assim, na verdade eu só faço o que a minha mulher manda!”; ele se
orgulha de contar com a assessoria desse conselho fiscal.
Apesar de ter sido pioneiro na venda de disquetes, CDs e acessórios para informática e de
conviver no meio de professores, pesquisadores e consultores das áreas de economia,
administração e de contabilidade, não utilizada computadores nem quaisquer instrumentos
sofisticados de controle.
Por esses motivos e pelos propósitos deste trabalho, o empreendimento do Sr. Aécio foi
escolhido para estudos e, após o processo de entrevista do balanço perguntado, que durou cerca
de duas horas e meia, obteve-se as demonstrações contábeis e análises a seguir.
4. Balanço Perguntado da CIA AERCIO e Análises
O processo de entrevista do balanço perguntado não tem um tempo definido como padrão ou
ideal, às vezes consegue-se bons resultados em apenas um encontro e, em outras, é necessário
repetir a conversa ou solicitar informações complementares.
A conversa com o Sr. Aércio foi bastante produtiva e os resultados foram alcançados em
apenas um encontro e isso se deve, provavelmente, a alguns fatores fortuitos e ambientais, como:
o conhecimento prévio entre as pessoas, empatia existente entre o analista e o empreendedor,
pequeno negócio e com logística simples e a intenção do empreendedor em expor a sua vida e
experiências em prol dos jovens alunos e empreendedores.
Surpreendentemente, em alguns momentos da conversa, houve lágrimas e emoções e isso
faz lembrar que não é apenas mais um personagem que está respondendo a uma série de
perguntas sobre um empreendimento qualquer. É uma pessoa humana que traz consigo
lembranças e experiências de sucessos e frustrações, e que está falando sobre uma parte
significante de sua própria vida. Esses momentos são raros na vida de um empreendedor e eles
sentem prazer em expor suas histórias.
Depois da entrevista, segue-se o processamento das informações, como a montagem dos
relatórios e as análises de consistência e, como resultados finais, foram obtidas as seguintes
demonstrações contábeis.
Balanço Perguntado da Cia AÉRCIO
Ativo
Passivo
Circulante
Circulante
Disponível
2.100
Contas a receber
300
Estoques
600
Imobilizado
Cheque especial
-
Patrimônio Líquido
Belina L 1984
4.000
Capital
5.000
Lucros retidos
Total...
7.000
2.000
Total...
7.000
Os saldos apresentados no balanço perguntado da Cia. Aércio representam valores médios
ou ideais e foram obtidos de acordo com seguinte composição:
•
Disponível: o Sr. Aércio adota uma política de saldo mínimo equivalente a três meses
de mensalidade do seu plano de saúde e de sua esposa e, segundo ele, isso lhe traz
tranqüilidade, “tranqüilidade não tem preço” disse ele.
7
•
Contas a receber: a maioria de suas vendas é efetuada a vista e o valor estimado foi
obtido em função de valores médios nos últimos meses.
•
Estoques: é representado por brinquedos, presentes e materiais de escritórios que
ficam alojados em seu almoxarifado ambulante (um veículo Belina) e foram avaliados
pelo preço de reposição. Custo histórico, custo histórico corrigido, índices de inflação
etc. são desprezados por ele, disse que o que vale é o preço do dia.
•
Imobilizado: é um veículo Belina ano 1984, cotado pela tabela Fipe de junho de 2005.
Segundo o Sr. Aércio ele possui um outro veículo e, apesar de ter sido adquirido com
recursos da empresa, não faz parte do empreendimento. Isso representa as retiradas
de lucros nesses anos de atividades.
•
Passivo Circulante: por crença própria, não admite dívidas, nem o uso de cheque
especial. Uso de capital de terceiros para alavancagem dos negócios não faz parte de
suas crenças.
•
Capital: é o valor atualizado de seu investimento inicial correspondente ao
financiamento do imobilizado e parte do capital de giro. Perguntado sobre qual o
melhor índice para atualização do capital, ele foi enfático: “o índice da Fipe, né
patrãozinho”.
•
Lucros retidos: foi obtido “por diferença” e representa a parcela de lucros que não
foram distribuídas no passado. Considerando-se que ele está sendo remunerado
adequadamente, esse saldo representa o valor agregado do empreendimento, é o
próprio economic value added (EVA) acumulado nesses anos de atividade.
DRE perguntada da Cia AÉRCIO
Mês
Faturamento
(-) Custo variável
Margem
Ano
%
3.600
43.200
100,0%
(2.160)
(25.920)
-60,0%
1.440
17.280
40,0%
(-) Plano de saúde
(700)
(8.400)
-19,4%
(-) Salários
(300)
(3.600)
-8,3%
(-) Combust. e manutenção
(200)
(2.400)
-5,6%
(+) Receita financeira
126
1.512
(-) Depreciações
(67)
(-) Alimentação
(80)
Lucro
219
3,5%
(804)
-1,9%
(960)
-2,2%
2.628
6,1%
Os saldos evidenciados na demonstração do resultado do exercício perguntada da Cia. Aércio
representam valores médios mensais e anualizados e foram obtidos da seguinte forma:
•
Faturamento: representa um valor de venda média diária de R$180,00 projetada para
20 dias de trabalho por mês.
•
Custo variável: foi calculado em função da política de desconto que é obtido
regularmente junto aos seus fornecedores, nas lojas de vinte e cinco de março (lojas
semelhantes as do Paraguai). Perguntado sobre os conceitos das formas de
custeamento das vendas (Absorção, variável, abc) ele foi claro a responder que
considera somente os custos variáveis como custo das vendas.
•
Margem de Contribuição: em virtude da política de seus fornecedores, representa o
desconto obtido. Esse valor é conservador, tendo-se em vista que outras mercadorias
comercializadas geram margens maiores, principalmente as vendas por encomenda.
Como a margem de contribuição é de 40% em média, o seu markup é de 1,67 vezes.
8
•
Plano de saúde: é o valor das despesas mensais com o plano de saúde do Sr. Aércio
e de sua esposa e são elevados em função de suas idades. O rendimento mensal de
sua aposentadoria é equivalente a essa despesa.
•
Salários: o Sr. Aércio diz não ter salário, mas resolveu-se atribuir pelo menos um
salário mínimo como remuneração de seus serviços.
•
Combustíveis e manutenção do veículo: é o valor estimado do consumo de
gasolina e eventuais manutenção de sua Belina ano 1984, por sinal muito bem
cuidada, é uma “raridade”.
•
Receita financeira: Representa o juro recebido sobre o saldo no disponível que está
aplicado em uma caderneta de poupança e, como foi comentado, representa uma
estratégia de tranqüilidade para garantir alguns meses de pagamento do plano de
saúde.
•
Depreciações: é o valor calculado tendo-se em vista uma vida útil de cinco anos de
seu veículo Belina ano 1984. O que se observa é que esses veículos não perdem
valor, são raridades pelo seu estado de conservação. A manutenção é econômica,
não utilizada seguro há muito tempo e os consertos geralmente são efetuados por ele
mesmo ou por seus muitos amigos. Na conversa inicial com o Sr. Aércio, ele disse
que não se preocupava com essa despesa e que, a partir de agora, passaria incluir
como parte de seu custo fixo.
•
Alimentação: é o valor estimado considerando-se algumas refeições no Restaurante
da Faculdade em qual exerce suas atividades e das marmitas que sua esposa lhe
prepara. Algumas vezes sua esposa lhe faz companhia no restaurante da faculdade e,
quando lhe perguntam, responde que o dia foi bom.
•
Lucro: o lucro é lucro!, segundo o Sr. Aércio e, por isso, as discussões sobre lucro
líquido, lucro operacional, Ebitda, Ebit, Noplat etc., foram em vão. Mas ressaltou a
premissa de que, no longo prazo, lucro é caixa.
5. Análises do balanço perguntado
O balanço patrimonial e a demonstração de resultado do exercício, obtidos pelo método
balanço perguntado da Cia. Aércio, podem ser considerados adequados, pois apresentam
consistências entre eles e permitem diversas análises econômicas e financeiras do
empreendimento, a seguir.
•
Investimento total: como os valores dos ativos e passivos representam situações
ideais, o total do ativo representa adequadamente o montante dos investimentos, não
necessitando ajustes de passivos não-onerosos ou de eventuais ativos não aplicados
na atividade operacional. Esse investimento é composto de capital de giro (43%) e de
capital fixo ou imobilizado (57%).
•
Financiamento do investimento: como se pode ver, 100% do montante do
investimento total é financiado por capital próprio e isso mostra uma realidade e
característica das pequenas empresas que, em sua maioria, não dispõe de recursos
de terceiros. Operações de desconto de duplicatas, hotmoney, contas garantidas,
recebíveis e outras operações de custos “abusivos” não são considerados como
capital de terceiros “sadios”; na bibliografia consultada sobre balanço perguntado,
eles são reclassificados como despesas administrativas.
•
Break even point: considerando-se o custo fixo mensal de R$1.221 e a margem de
contribuição de 40%, o ponto de equilíbrio mensal é de R$3.053 de faturamento ou
uma média R$153 por dia. Segundo o Sr. Aércio, esse valor é facilmente atingível e,
quando atinge o ponto de equilíbrio no meio da semana, tira férias com sua esposa no
restante dos dias.
9
•
Margem, Giro e Taxa de Retorno:: a margem de lucro sobre as vendas é de 6,1% e
o giro anual de seu investimento total é de 6,2 vezes e, segundo o empreendedor,
esses resultados foram apurados de forma bem conservadora. O produto entre essa
margem e esse giro resulta em uma taxa de retorno de investimento de 37,5% ao ano.
Em outras épocas o Sr. Aércio obteve margens e giros maiores, mas diz que hoje
trabalho o mínimo necessário e sempre aproveitando as épocas festivas; é comum vêlo vestido com a camisa da seleção brasileira, com chapéu de palha e camisa listrada,
com fantasias de halloween, chapéu de papai noel etc.
•
Return on investiment (ROI): é calculado dividindo-se o lucro anual (R$ 2.628) pelo
total do investimento da Cia.Aércio (R$ 7.000) e representa exatamente a taxa de
retorno calculada no item anterior (37,5%), pois se trata de um desdobramento
algébrico da ponderação da margem sobre as vendas e do giro do investimento.
Como se pode ver, é uma taxa de retorno invejável e supera quaisquer outras
alternativas disponíveis no mercado financeiro.
•
Custo de capital e spread: segundo o próprio empreendedor, seu custo de
oportunidade é equivalente ao rendimento da caderneta de poupança (6% ao ano) e,
nesse caso, o residual return on investment (RROI) seria o spread entre a taxa de
retorno de investimento (ROI = 37,5%) menos o custo de capita próprio, resultado em
31,5%.
•
Economic value added (EVA): lucro residual ou econômico, pode ser obtido
multiplicando-se o montante do investimento (R$ 7.000) pelo residual return on
investment (RROI = 31,5%), resultado em R$ 2.208 anual.
•
Economic value added (EVA) contábil: esse valor também pode ser obtido e
interpretado a partir do lucro contábil (R$ 2.628) menos a remuneração do capital
próprio (R$ 7.000 x 6% = R$ 420).
•
Market value added (MVA): é o valor presente dos EVAs futuros, descontados pela
taxa de custo de capital (6%), resultando em R$ 36.800. Essa é uma das formas de se
medir a parcela intangível da empresa ou o goodwill e, como se vê, é um
empreendimento que se compara às atividades que têm grande capacidade de
agregar valor e, se tivesse suas ações negociadas em bolsa de valores,
provavelmente estariam sendo negociadas na Association of Securities Dealer
Automated Quotation (NASDAQ).
•
Valor da empresa (VE): somando-se o investimento inicial (R$ 7.000) com o
potencial de lucro econômico futuro ou goodwill (MVA = 36.800), obtém o valor da
empresa de R$ 43.800. A empresa vale mais do que custa e, ao perguntar esse valor
ao Sr. Aércio, ele diz que tem fundamento, pois sempre acreditou que seu negócio
vale pelo menos o valor de um bom carro zero quilômetro. Com esse valor, daria para
fazer uma boa pesquisa nas principais agências e marcas de automóveis da praça.
Em outros cenários de margens e giros, bem como de custo de capital, esse valor é
crescente.
•
Ciclo operacional: o prazo médio de renovação dos estoques (PMRE) é de 8 dias e
tem coerência quando o Sr. Aércio diz que vai à vinte e cinco de março de três a
quatro vezes por mês. O prazo médio de recebimento das vendas (PMRV) é de 3 dias
e, portanto, o ciclo operacional é de 11 dias. Isso significa que entre comprar, vender
e receber levam 11 dias.
•
Ciclo de caixa: o prazo médio de pagamento das compras (PMPC) é nulo ou zero,
pois as compras são realizadas a vista e, nesse caso, o ciclo de caixa é desfavorável
em 11 dias. Ao questionar o Sr. Aércio sobre essa deficiência, ele disse que não havia
pensado no prazo de estocagem (8 dias), considerava apenas o prazo de
recebimento (3 dias). Mas, mesmo assim, a margem de lucro ainda cobre esse
financiamento interno.
10
A despesa com o plano médico lançada na demonstração do resultado do exercício, como
comentado anteriormente, pode ser tratado como a remuneração do capital próprio, dada a
estratégia e crença particular da Cia. Aércio. Nesse caso, o desempenho econômico poderia ser
visualizado da seguinte forma:
DRE perguntada da Cia AÉRCIO
Mês
Faturamento
(-) Custo variável
Margem
(-) Custo fixo
Lucro
(-) Plano de saúde (Ke)
Lucro econômico (EVA)
Ano
%
3.600
43.200
100,0%
(2.160)
(25.920)
-60,0%
1.440
17.280
40,0%
(521)
(6.252)
-14,5%
919
11.028
25,5%
(700)
(8.400)
-19,4%
219
2.628
6,1%
Como se observa, o lucro seria ainda maior (R$ 11.028) e representa uma nova taxa de
retorno de investimento (ROI = 158% ao ano) absurdamente elevada, confirmando as
expectativas do Sr. Aércio quando decidiu investir o dinheiro de sua aposentadoria nessa
empresa.
Essa e outras simulações poderiam gerar muitas outras análises e, como não é o objeto
principal dessa pesquisa, faz-se agora alguns comentários dos outros conceitos mencionados na
lista do item 2 deste trabalho e que não foram discutidos nas análises anteriores:
•
Ágio e deságio: o Sr. Aércio tem uma visão clara do que é um ágio ou um deságio e
identifica esse “valor”, por exemplo, quando compra suas mercadorias com desconto;
mesmo avaliando o seu estoque a preços de reposição, também faz algumas contas pelo
preço de venda.
•
Alavancagem financeira (GAF): não aplicável em seu empreendimento, além de evitar
dívidas, não compreende os aspectos de alavancagem financeira.
•
Alavancagem operacional (GAO): como as margens e níveis de vendas foram
considerados de forma conservadora, há espaço para otimizar o uso da estrutura de
custos fixos.
•
Demonstração de fluxos de caixa (DFC): não aplicável, mas pode ser implantado
futuramente.
•
Índice de liquidez corrente: não aplicável, pois não tem dívidas, compra tudo a vista.
•
Lucro inflacionário: ao ser questionado sobre inflação, o Sr. Aércio disse que não existe
mais, “os preços lá na vinte e cinco estão baixando!”.
•
Ebitda, Ebit e Noplat: não aplicáveis em virtude da não utilização de capital de terceiros
e, por isso, o lucro líquido tem os mesmos significados das outras medidas de lucros
antes dos impostos, juros e depreciação (Ebitda), antes dos impostos e juros (Ebit) e lucro
operacional antes dos juros (Noplat).
•
Compound price e target pricing: O Sr. Aércio adota o método target pricing para fazer
seus preços de vendas, ou seja, tem como referencial o mercado da vinte e cinco de
março. A precificação com base nos custos, impostos e margem (compound pricing) não é
utilizada e margem de contribuição é objetivada.
•
Imposto de renda: não aplicável e pode-se inferir que não cabem discussões éticas
sobre esse quesito.
11
•
Markup: não aplicável, pois faz preços por benchmarking; na verdade, a margem de
contribuição de 40% representa um fator multiplicativo de 1,67.
•
Payback: o prazo de retorno é mínimo, inferior a um ano. A preocupação é com a
continuidade e não com o retorno.
•
Termômetro de Kanitz: não aplicável, pois a estrutura da empresa é muito simples e o
termômetro de insolvência de Kanitz considera empresas com dívidas; o cálculo desse
índice seria sempre próximo a zero e sem significado. O Termômetro de crédito da Caixa
Econômica Federal, citado em um dos trabalhos da série balanço perguntado,
provavelmente teria uma indicação melhor.
•
Valor presente líquido (VPL): o Sr. Aércio adota a política de valor presente líquido
próximo à zero no longo prazo, pois, apesar de ser o negócio altamente lucrativo, pratica
os mesmos preços da vinte e cinco de março e, no longo prazo, almeja retorno mínimo
para lhe garantir a sua segunda aposentadoria. É oportuno expressar a opinião de que a
longo prazo o valor presente líquido dos projetos tende a ser próximo a zero, pois os
mercados se ajustam.
6. Considerações finais
A validação dessa pesquisa foi estruturada em duas hipóteses que poderiam ser validadas
com (1) a elaboração do balanço perguntado de forma adequada e (2) com a discussão e
aplicação de mais da metade dos cinqüenta conceitos listados no trabalho.
Como pode ser constatado, foi possível elaborar o balanço perguntado da Cia. Aércio e,
apesar da simplicidade de suas demonstrações contábeis, pode-se notar consistência entre o
balanço patrimonial, a demonstração de resultado do exercício e as análises econômicas e
financeiras. O processo ocorreu de forma natural – entrevista, processamento e análises – e não
necessitou de grandes ajustes.
Da lista dos cinqüenta conceitos selecionados e mencionados no item 2 deste trabalho, 72%
deles foram aplicáveis e serviram de roteiro para as discussões e análises desenvolvidas. Isso
mostra que mesmos os conceitos considerados como sofisticados, quando enfocados de forma
simples e objetiva, são coerentes com a lógica do empreendedor e do empreendimento.
Conceitos aplicados e discutidos (72%): ágio, alavancagem operacional, benchmarking, break
even point, ciclo de caixa, ciclo operacional, custeio Absorção, custeio variável, custo de
reposição, Ke, custo fixo, custo variável, DRE, depreciações, EVA, goodwill, lucro econômico,
margem de contribuição, market value ou valor da empresa, MVA, missão da empresa, target
price, entidade, RROI, ROI, custo corrigido, Wacc, Ki, custo histórico, deságio, markup, RROE,
ROE, VPL, Payback, compound price.
Conceitos não aplicáveis ou não discutidos (28%): alavancagem financeira, beta, DFC, Ebit,
Ebitda, IR, Inflação, endividamento, liquidez corrente, lucro inflacionário, Noplat, taxa de retorno do
mercado, taxa de risco, Termômetro de Kanitz. Mesmo não tendo sido aplicados nesse caso,
acredita-se que esses e outros conceitos mencionados nas publicações da série balanço
perguntado podem ser aprimorados e aplicados às microempresas.
As duas hipóteses foram confirmadas e, com base na metodologia estruturada dessa
pesquisa, pode-se validar a originalidade do método balanço perguntado como instrumento
aplicável ao segmento de pequenas empresas, mesmo para aquelas microempresas e de
mercados informais.
7. Referências Bibliográficas
12
•
AGUIAR, André Akio Rodrigues & KASSAI, J. R. Balanço perguntado: o caso da Cia P&G.
Monografia de graduação entregue. São Paulo: FEA/USP, 2004.
•
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. A
FEA em números. São Paulo: FEA, 2004.
•
GREBNER, Selia. Análise do PROGER concedidos às pequenas empresas. Dissertação
de mestrado: FEA/USP, 2003.
•
JACINTHO, José Roberto de Melo. Contribuição ao processo de avaliação de
desempenho patrimonial, econômico e financeiro das microempresas e pequenas
empresas. Dissertação de mestrado, PUC/SP: 2002.
•
KASSAI, J.R. Fluxo de caixa prospectivo. Caderno Temática IOB, 1994.
•
KASSAI, José Roberto. Aspectos observados na conciliação do valor presente líquido
(VPL) com o economic value added (EVA). Tese de doutorado, FEA/USP, 2001, 333p.
•
KASSAI, José Roberto. Balanço perguntado: uma técnica para se elaborar relatórios de
pequenas empresas. Anais do XXI Congresso Brasileiro de Custos, Porto Seguro/BA, 25
a 30 de julho de 2004.
•
KASSAI, José Roberto; KASSAI, S. Balanço perguntado – solução para as pequenas
empresas. Anais do VIII Congresso Brasileiro de Custos, São Leopoldo/RS, 03 a 05 de
outubro de 2001.
•
KASSAI, José Roberto; KASSAI, S. Sistema de custos para pequenas empresas –
experiência de uma editora. Anais do IV Congresso Brasileiro de Custos, Fortaleza/CE,
1998.
•
KASSAI, José Roberto; KASSAI, S. Termômetro de crédito – avaliação de propostas de
créditos de pequenas empresas junto à Caixa Econômica Federal. Anais do XIX
Congresso Brasileiro de Custos, São Paulo/SP, 13 a 15 de outubro de 2002.
•
KASSAI, José Roberto; KASSAI, S.; NAKAO, Aldo Nobuyuki. Custo de capital das
pequenas empresas. Anais do XX Congresso Brasileiro de Custos, Guarapari/ES, 15 a 17
de outubro de 2003.
•
KASSAI, José Roberto; KASSAI, S; NOSSA, V. Pequenas empresas – como é difícil
levantar dinheiro. Anais do VII Congresso Brasileiro de Custos, Recife/PE, 02 a 04 de
agosto de 2000.
•
KRAUSS, V. A. Aspectos de avaliação de empresas. Dissertação de mestrado, São
Paulo: FEA/USP, 2003.
•
MATIAS, A. B.; PONGELUPPE, Perla Kalil. O Balanço Perguntado e a Cadeia de Valor da
Informação: instrumento essencial no processo de decisão de crédito a empresas de
pequeno porte. Anais do I Seminário de Informação Corporativa, São Paulo: FEA/USP, 23
a 24 de outubro de 2003.
•
NAKAO, Aldo Nobuyuki. Escala hierárquica de risco setorial (EHRS) das pequenas
empresas – um estudo de caso. Dissertação de mestrado, São Paulo: FEA/USP, 2003,
134p.
•
NASSIF, Luís. A era das fusões. Revista de Bordo da Varig, 1999.
•
ONISHI, Leandro Hiroshi, Concessão de crédito no CEAGESP. Monografia de graduação,
São Paulo: FEA/USP, 2003.
•
www.eac.fea.usp.br/eac/docentes/kassai/ - Série Balanço Perguntado. Departamento de
Contabilidade e Atuárias da FEA/USP, 2004.
13
Balanço Perguntado: uma Técnica para elaborar Relatórios Contábeis de
Pequenas Empresas
RESUMO
Em uma pesquisa sobre o método Balanço Perguntado, nesses últimos anos, verificou-se que
esse vocábulo tem sido utilizado em artigos e teses para expressar uma prática relativamente
antiga. Com o propósito de contribuir para a divulgação dessa alternativa que permite elaborar
relatórios contábeis de pequenas empresas, este trabalho tem por objetivo evidenciar as principais
pesquisas sobre esse modelo, bem como algumas críticas quanto à metodologia empregada e as
etapas necessárias para a sua implementação. O termo “balanço” advém das teorias contábeis e
financeiras, enquanto que “perguntado” insere-se no ambiente e características das pequenas
empresas. Juntos, representam uma técnica que minimiza as dificuldades de obtenção de
informações e relatórios contábeis fidedignos e possibilita a realização de análises de
performance econômica de qualidade. Para a realização deste trabalho, expõe-se um cronograma
histórico das principais contribuições sobre esse conceito e as opiniões de alguns desses autores.
Palavras Chaves:
Balanço Perguntado – Pequenas Empresas – Análises Econômicas
1. Introdução
O termo balanço perguntado tem sido citado nesses últimos anos, com certa freqüência, para
expressar uma técnica que possibilita elaborar relatórios contábeis de pequenas empresas.
Trata-se de uma prática antiga e que consiste, basicamente, no interrogatório direto ao dono
ou pessoa responsável pelo empreendimento e, com base em suas respostas, na experiência
do perguntador e em alguns ajustes de consistência, obtém-se as informações no formato
básico das demonstrações contábeis.
Existem diversos tipos de questionários, roteiros e check list, citado por KASSAI (2000),
que orientam a elaboração de um balanço perguntado, a exemplo do modelo adotado pela Caixa
Econômica Federal que alimenta o Sistema de Análises de Risco de Crédito (SIRIC), responsável
pela análise das propostas de empréstimos. Entretanto, para aqueles que têm uma noção mínima
de contabilidade, um modelo pode ser visualizado mentalmente como o preenchimento das
principais contas de um balanço patrimonial e de uma demonstração do resultado do exercício. A
esse processo, somam-se outras perguntas e respostas que surgem naturalmente na entrevista
entre os dois personagens desse cenário e que assumem, respectivamente, os papéis de dono e
de consultor.
O dono é o proprietário de fato do empreendimento e, na sua ausência, pode ser
representado por um empregado ou pessoa de confiança que esteja assumindo o perfil de
intrapeneuring, que seja capaz de criar e buscar oportunidades de negócios. O consultor, do outro
lado, representa a postura que o entrevistador deve assumir, isto é, sendo pró-ativo e
preocupando-se não apenas em inventariar as contas e valores, mas em identificar soluções e
situações ideais para esse empreendimento.
Esses perfis são desejáveis por parte das pessoas envolvidas na elaboração de um
balanço perguntado e, embora não seja condição impeditiva, tendem a aumentar a sua qualidade.
Referindo-se a PARETO, poder-se-ia dizer que a experiência do dono (80%) prevalece sobre o
conhecimento do perguntador (20%) e o importante é que se estabeleça um sentimento mútuo de
confiança e de comprometimento nesse “bate-papo” e, depois de algumas horas ou visitas, de
reflexões e reconhecimentos, chega-se ao produto final.
O objetivo deste artigo consiste no levantamento cronológico das principais publicações
sobre esse método, na análise crítica sobre as contribuições propostas e na divulgação da opinião
obtida de alguns dos autores.
2. Cronograma Histórico sobre Balanço Perguntado
14
O gráfico seguinte ilustra a cronologia das principais publicações e menções sobre o
método balanço perguntado.
CRONOLOGIA DOS ESTUDOS SOBRE BALANÇO PERGUNTADO
FEA/USP
KASSAI
GREBNER
NAKAO
KASSAI
KASSAI
MATIAS
KASSAI
NAKAO
PONGELUPPE
NOSSA
ONISHI
FOCO-FIA
1994
2000
2001
2002
2003
2003
2003
2003
2003
2004
Os primeiros trabalhos utilizando o termo balanço perguntado foram publicados a partir do
ano 2000, com autoria atribuída a KASSAI. Entretanto, conforme pesquisas de NAKAO, em sua
dissertação de mestrado, e apesar de ser uma prática de domínio público, justiça se faz
mencionando-se outros autores que já vinham utilizando esse termo e que podem ser observados
na figura anterior e comentários seguintes.
•
1994: Diagnóstico de campo – balanço perguntado, disciplina constante do curso de
Formação de Consultores do SEBRAE (FOCO), oferecido pela Fundação Instituto
Administração da FEA/USP, no período de 1994 a 1997.
•
2000: Pequenas empresas – como é difícil levantar dinheiro, artigo de autoria de José
Roberto Kassai, em co-autoria com Sílvia Kassai e Valcemiro Nossa, publicado nos anais
do VII Congresso Brasileiro de Custos, Recife/PE, realizado no período de 02 a 04 de
agosto de 2000.
•
2001: Balanço perguntado – solução para as pequenas empresas, artigo de autoria de
José Roberto Kassai, em co-autoria com Sílvia Kassai, publicado nos anais do VIII
Congresso Brasileiro de Custos, São Leopoldo/RS, realizado no período de 03 a 05 de
outubro de 2001.
•
2002: Termômetro de crédito – avaliação de propostas de créditos de pequenas empresas
junto à Caixa Econômica Federal, artigo de autoria de José Roberto Kassai, em co-autoria
com Sílvia Kassai, publicado nos anais do XIX Congresso Brasileiro de Custos, São
Paulo/SP, realizado no período de 13 a 15 de outubro de 2002.
•
2003: Custo de capital das pequenas empresas, artigo de autoria de José Roberto Kassai,
em co-autoria com Sílvia Kassai e Aldo Nobuyuki Nakao, publicado nos anais do XX
Congresso Brasileiro de Custos, Guarapari/RS, realizado no período de 15 a 17 de
outubro de 2003.
•
2003: O Balanço Perguntado e a Cadeia de Valor da Informação: instrumento essencial
no processo de decisão de crédito a empresas de pequeno porte, artigo de autoria de
Alberto Borges Matias e Perla Kalil Pongeluppe, publicado nos anais do I Seminário de
Informação Corporativa, São Paulo/SP, FEA/USP, realizado no período de 23 a 24 de
outubro de 2003.
•
2003: Análises do PROGER concedidos às pequenas empresas, dissertação de mestrado
de autoria de Selia Grebner, apresentada ao Departamento de Contabilidade e Atuárias
da FEA/USP, São Paulo/SP, novembro de 2003.
•
2003: Escala hierárquica de risco setorial (ehrs) das pequenas empresas – um estudo de
caso, dissertação de mestrado de autoria de Aldo Nobuyuki Nakao, apresentada ao
Departamento de Contabilidade e Atuárias da FEA/USP, São Paulo/SP, dezembro de
2003.
•
2003: Concessão de crédito no CEAGESP, monografia de autoria de Leandro Hiroshi
Onishi apresentada ao Departamento de Contabilidade e Atuárias da FEA/USP, São
Paulo/SP, dezembro de 2003.
15
•
2004: Balanço perguntado, linha de pesquisa do Laboratório de Pequenas Empresas, do
Departamento de Contabilidade da FEA/USP e da Fundação Instituto de Pesquisas
Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), com o objetivo de formar banco de dados e
informações estatísticas sobre as pequenas empresas a partir de teses, dissertações,
monografias, projetos Pibic e Fapesp, JRFEA, consultorias etc.
Os professores Adelino De Bortoli Neto e Roy Martelanc, do Departamento de
Administração da FEA/USP, foram os coordenadores de um projeto em parceria com o Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e desenvolveram um treinamento
denominado Programa de Formação de Consultores (FOCO) e, no período de 1994 a 1997,
formaram 370 consultores do SEBRAE distribuídos em 15 turmas (www.fia.com.br). No conteúdo
programático desse curso consta uma disciplina chamada Diagnóstico de Campo – Balanço
Perguntado e, em contato pessoal, confirmou-se que realmente já utilizavam o termo balanço
perguntado desde aquela época. O Professor De Bortoli tem acompanhado de perto a realidade
das pequenas empresas, como mostram suas pesquisas e serviços prestados à comunidade e o
Professor Martelanc considera-se um especialista no método balanço perguntado, conforme
consta em seu currículo Lattes.
No VII Congresso Brasileiro de Custos (Recife/PE) foi apresentado o trabalho pioneiro,
utilizando-se formalmente o termo balanço perguntado como sinônimo de um método alternativo
para elaboração de relatórios contábeis de pequenas empresas e reproduz-se a seguir o resumo
da publicação:
“A difícil tarefa do cumprimento da missão das pequenas empresas, atrelada a sua
capacidade de sobrevivência é uma luta constante e facilmente observada no
testemunho de seus empreendedores. Dentre as dificuldades, muitas delas
comuns às demais empresas, destacam-se a árdua tarefa de "levantar dinheiro"
junto aos bancos para complementar o seu capital de giro ou mesmo para novos
investimentos. Este artigo trata desse processo por meio do estudo de um caso
real, evidenciando as experiências de dois profissionais diretamente envolvidos: o
"dono" da pequena empresa e o "gerente" do banco, com as devidas adaptações
para um trabalho acadêmico. Na etapa final
da aprovação de um empréstimo
bancário ambos já estão convencidos sobre a viabilidade do empréstimo e reina a
amizade e confiança mútua. Entretanto, falta transpor um último obstáculo: como
argumentar perante a matriz do banco?, se o gerente não tem autonomia e o dono
da empresa não dispõe de uma contabilidade confiável. O artigo apresenta um
modelo que permite avaliar e justificar a provável situação econômica da empresa,
obtido a partir de informações não oficiais, a exemplo do "balanço perguntado"
utilizado pela Caixa Econômica Federal. Ao final, apresentamos um apêndice
contendo um glossário dos principais conceitos abordados neste trabalho.”
(KASSAI, KASSAI & NOSSA, 2000)
O caso real desenvolvido, cujo nome fictício era Cia. Bilhar Brasil, obteve um empréstimo
na época no valor de R$30.000,00 e, segundo informação da gerência da agência bancária citada,
foi quitado integralmente em seus respectivos prazos, confirmando-se assim as análises geradas
por aquele balanço perguntado. Isso despertou interesse da unidade de negócio da instituição
financeira e a contratação de um treinamento para todos os gerentes daquela regional.
No VIII Congresso Brasileiro de Custos (São Leopoldo/RS), apresentou-se um trabalho
cujo título expressava o próprio método e as reações do público foram as mais diversas.
Questionaram o termo “perguntado”, mencionaram outros (“inventariado”, “questionado”), e até
propuseram um balanço “respondido”, mas ao final todos concordaram que, além de ser uma das
poucas alternativas, o método pode proporcionar relatórios de qualidade, pois os ativos e passivos
são avaliados a preços reais e de mercado e atreladas a um processo de planejamento, como
demonstra o resumo a seguir.
“A inexistência de uma contabilidade estruturada para elaborar relatórios contábeis
adequados tem sido uma dificuldade encontrada pelas pequenas empresas, tanto na
obtenção de recursos para financiamento de seus investimentos como no processo de
gestão econômica das atividades. Este artigo discute uma metodologia para elaboração
desses relatórios, denominada de “balanço perguntado”. Trata-se de uma metodologia
para o levantamento das informações por meio de um questionário previamente
elaborado e que permite diagnosticar a situação econômica e financeira de uma
16
determinada empresa, servindo também
empresarial”. (KASSAI & KASSAI, 2001)
como
instrumento
de
planejamento
No XIX Congresso Brasileiro de Custos (São Paulo/SP), foi apresentado o terceiro artigo
da série balanço perguntado e, desta vez, fruto de um treinamento proporcionado a 25 gerentes
da Caixa Econômica Federal da Unidade de negócios de Jundiaí e com base no SIRIC e
formulários internos. Nessa oportunidade, personalizou-se o modelo agregando-se conceitos de
retorno de investimento, com análises do tipo return on investment (Roi), custo de capital,
economic value added (EVA), market value added (MVA), market value etc. Aproveitando-se a
presença de representantes de todas aquelas agências, propôs-se um termômetro de crédito com
base em ferramental estatístico para auxiliar na previsão de aprovação das propostas de
empréstimos, conforme resumo do trabalho a seguir.
“AS DIFICULDADES PARA A REALIZAÇÃO DE ANÁLISES DE DESEMPENHO E RESULTADOS
DAS PEQUENAS EMPRESAS, EM ESPECIAL PELA INEXISTÊNCIA OU CARÊNCIA DE ALGUM
SISTEMA ESTRUTURADO DE INFORMAÇÕES GERENCIAIS, TÊM SIDO ENFRENTADAS DE
DIVERSAS FORMAS, A EXEMPLO DA FIGURA DO BALANÇO PERGUNTADO, UMA TÉCNICA JÁ
DIVULGADA NOS ANAIS DOS CONGRESSOS ANTERIORES E, PROVAVELMENTE, UMA
PRÁTICA INICIADA PELAS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITOS. ESTE TRABALHO SINTETIZA UMA
EXPERIÊNCIA REALIZADA JUNTO À CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, POR INICIATIVA DAS
UNIDADES DE NEGÓCIOS E COLABORAÇÃO DE 25 GERENTES DE AGÊNCIAS DA REGIÃO DE
JUNDIAÍ/SP, REUNIDOS PARA DISCUSSÃO DE CASOS E TREINAMENTO GERENCIAL. A
QUESTÃO LEVANTADA ESTABELECIA A HIPÓTESE DE QUE A APROVAÇÃO DOS CRÉDITOS
DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL PUDESSE LEVAR EM CONTA NÃO APENAS OS ASPECTOS
ECONÔMICOS E FINANCEIROS DOS RELATÓRIOS CONTÁBEIS, MAS TAMBÉM OUTROS DE
NATUREZA “POLÍTICA” E IGNORADOS PELAS AGÊNCIAS LOCAIS. ESSA HIPÓTESE FOI
RECONHECIDA PARCIALMENTE PELO LEVANTAMENTO DE DADOS EFETUADO E, APÓS
ALGUNS AJUSTES, ESTE TRABALHO APRESENTA COMO CONTRIBUIÇÃO À PROPOSIÇÃO DE
UM TERMÔMETRO DE CRÉDITO PARA AVALIAÇÃO DAS PROPOSTAS DE FINANCIAMENTOS,
NOS MESMOS MOLDES DO TERMÔMETRO DE INSOLVÊNCIA DE KANITZ.” (KASSAI &
KASSAI, 2002)
No XX Congresso Brasileiro de Custos (Guarapari/RS), apresentou-se o quarto artigo da
série balanço perguntado, com os primeiros ensaios sobre a determinação do custo de capital das
pequenas empresas e as respectivas análises dos níveis de riscos de cada um dos setores
pesquisados, conforme demonstra o resumo desse trabalho.
“A análise de riscos das empresas, em especial daquelas que têm suas ações
negociadas no mercado de capitais, evoluiu acentuadamente nessas últimas
décadas e, em países como os EUA, p.ex., índices de riscos são divulgados
regularmente, o que facilita a mensuração do custo de capital próprio. No Brasil,
onde predominam as empresas de capital fechado, estudos têm sido adaptados
sobre outras fontes, a exemplo de informações extraídas de balanços contábeis.
Este artigo tem por objetivo refletir sobre a mensuração do custo do capital
próprio das pequenas empresas que, além de não negociarem suas ações em
bolsa de valores, muitas vezes, não dispõem nem mesmo de relatórios contábeis
apropriados. Para isso, aplicou-se o método balanço perguntado sobre uma
amostra significativa de empresas e supôs-se, como hipótese, que a dispersão
em torno de suas receitas de faturamento pudesse expressar os níveis de risco.
Como contribuição desta pesquisa, propôs-se uma escala hierárquica de risco
setorial que poderá servir de referência para esse segmento e,
conseqüentemente, aprimorar-se as análises de valor e de riqueza gerada.”
(KASSAI, KASSAI & NAKAO, 2003)
No primeiro Seminário de Informações Corporativas da FEA/USP, foi apresentado um
artigo mencionando o termo balanço perguntado e de autoria de Perla Kalil Pongeluppe em coautoria com Alberto Borges Matias. Este último autor também é dos prováveis pioneiros na
utilização do termo balanço perguntado, mas, nas pesquisas e entrevistas de NAKAO (2003), não
se encontrou evidências suficientes para comprovar o fato.
17
GREBNER, ONISHI & NAKAO, em suas dissertações e monografia, desenvolveram suas
pesquisas relacionando as pequenas empresas e utilizando o termo balanço perguntado. NAKAO
(2003), nas pesquisas de sua dissertação de mestrado, teve a oportunidade de entrevistar alguns
dos autores sobre a originalidade do termo e, apesar de descobrir evidências de pioneirismo por
parte de outros autores, adotou como marco inicial a publicação de KASSAI & NOSSA (2000). Em
conversa pessoal, KASSAI relatou o fato de ter participado como professor dos cursos de
formação dos consultores do Sebrae (FOCO) e que, naquela época (1994), DE BORTOLI &
MARTELANC já faziam menção do conceito de balanço perguntado como uma forma de se
elaborar relatórios contábeis e as publicações, apesar de serem pioneiras, em verdade refletem
apenas a sua personalização desse conceito amplo; e que o mais importante, em sua opinião, é a
uso dessa ferramenta como alternativa, em alguns casos única, para as pequenas empresas.
3. O Modelo Proposto de Balanço Perguntado
O modelo adotado acompanha a série de artigos publicados nos anais dos Congressos de
Custos de 2000 a 2003 e consiste, basicamente, na elaboração de relatórios contábeis que
possibilitem efetuar análises de balanço denominadas de retorno de investimento. Na opinião de
KASSAI (2001), o processo de análises de balanço pode ser classificado em três dimensões
distintas e que relacionam a quantidade de informações com o esforço humano na interpretação
de forma inversamente proporcional.
No primeiro estágio, cita um quadro clínico de análises de balanço e que contém diversos
índices ou quocientes, tais como liquidez corrente, liquidez seca, endividamento, margem e giro
etc.. Pode-se acrescentar ou criar diversos outros indicadores, avaliar os desempenhos com
indicadores de períodos anteriores ou compará-los com os respectivos de outras empresas de
mesmo setor. Podem-se criar pesos e ponderar os resultados agrupando-se os índices de mesma
natureza, de maneira que propiciem conclusões individuais e agrupadas, conforme mostra a figura
seguinte.
Quadro Clínico de Análises de Balanço
Índice ou Quociente
Formulação
LIQUIDEZ
Liquidez Corrente (LC)
Liquidez Seca (LS)
Liquidez Imediata (LI)
Liquidez Geral (LG)
LC = AC / PC
LS = (AC – Estoque) / PC
LI = Disponível / PC
LG = (AC + RLP) / (PC + ELP)
RENTABILIDADE
Return on Assets (ROA)
Margem de Lucro (M)
Giro do Ativo (G)
Return on Equity (ROE)
ROA = LL / Ativo médio
M = Lucro Líquido / Vendas
G = Vendas / Ativo médio
ROE = LL / PL médio
ENDIVIDAMENTO
Capital de Terceiros
CT / (CT + CP)
Capital Próprio (CP = PL)
CP / (CT + CP)
Garantia do CP ao CT
CP / CT
Endividamento do PL
CT / CP
Endividamento a Curto Prazo
PC / CT
ESTRUTURA
Nível de Imobilização do CP
Imobilizado / Patrimônio Líq.
Nível de Imobilização do Ativo
Imobilizado / Ativo
Tempo de Vida do Imobilizado
Imobilizado Líq. / Deprec. Anual
ATIVIDADE
Prazo médio renovação estoques (PMRE)
(Estoque médio : CMV) × Nº.Dias
Prazo médio recebimento vendas (PMRV)
(Dupl.Rec.Médio : Vendas) × Nº.Dias
Ciclo Operacional
Prazo médio pagamento compras (PMPC)
Ciclo de Caixa
Nível de Comercialização da Produção
PMRE + PMRV
(Forn.Médio : Compras) × Nº.Dias
PMPC - Ciclo Operacional
Vendas / capac. prod. (em unid.)
OUTROS
Lucro por Ação (LPA)
Valor Patrimonial da Ação (VPA)
Índice P/L
Grau de Comercialização da Produção
Capital Circulante Líquido (CCL)
Lucro Líquido / Nº.Ações
Patrimônio Líquido / Nº.Ações
Preço da ação / LPA
Vendas / Capac. Produção (em unid)
AC – PC
18
Parâmetros
X1
X2
Análise Tendência
Neste primeiro estágio, apesar da grande quantidade de informações que se pode ter, ainda se
exige um esforço grande por parte do analista para chegar-se a conclusão ou parecer final e
adota-se como premissa a seguinte afirmação: são tantas informações que, às vezes, mais
atrapalham do que ajudam!
No terceiro estágio, destacam-se modelos estruturados, geralmente com recursos
estatísticos e informatizados, inversamente proporcional ao primeiro estágio. É o extremo oposto,
ou seja, um desses modelos pode ser complexo para se processar, mas o resultado é objetivo e
certeiro, a exemplo dos modelos de previsão de insolvência que tem como pioneiro no Brasil a
complexa formulação de KANITZ, determinada a seguir.
KANITZ= 0,05
AC+ RLP
AC− Estoques
PC+ ELP
LL
AC
+ 1,65
+ 3,55
− 1,06
− 0,33
PL
PC+ ELP
PC
PC
PL
O termômetro de insolvência de Kanitz apresenta uma escala na qual indica se a empresa
está solvente (maior do que zero), insolvente (menor do que menos três), ou na penumbra. Podese questionar o modelo, mas não o resultado!
No segundo estágio, intermediário, que se denomina neste trabalho de análises de retorno
de investimento, elege-se como a dimensão de equilíbrio e que exige um certo esforço por parte
do analista, mas os resultados apresentados são de fácil interpretação e, basicamente, procura-se
identificar a capacidade de uma empresa em gerar riquezas. Para isso, é necessário apurar as
seguintes variáveis: montante de investimento, custo do capital de terceiros (Ki), custo do capital
próprio (Ke), custo médio ponderado de capital (wacc), taxa de retorno de investimento (Roi),
spread ou residual returno on investment (Rroi), economic value added (EVA), market value added
(MVA), market valued (MV) ou valor da empresa.
Essas e outras análises, bem como as respectivas formulações, foram expostas na série
de artigos publicados nos anais dos últimos quatro Congressos Brasileiros de Custos e, por isso,
julgam-se desnecessários a repetição das mesmas.
4. Considerações Finais
O modelo proposto de balanço perguntado destaca-se, como se pôde observar ao longo
deste artigo, pelos conceitos envolvidos e características de cada pessoa e, em relação ao
ambiente das pequenas empresas e às características deste autor, destacam-se os seguintes
comentários:
•
A honestidade e experiência das pessoas envolvidas no processo de elaboração
do balanço perguntado tendem a aumentar a qualidade das análises;
•
O conhecimento de conceitos contábeis por parte do perguntador facilita na
realização de ajustes de consistências;
•
As demonstrações contábeis obtidas pelo método balanço perguntado tende a
apresentar uma qualidade elevada, se comparada ao processo de análise dos
balanços de uma grande empresa, pela simples evidência de alguns pontos:
inexistência de correção monetária de balanço ou de correção integra, não uso de
custo de mercado ou de reposição, dificuldades na apuração do montante correto
de investimentos;
•
A análise de risco das pequenas empresas, apesar de envolver uma variável de
difícil mensuração, pode ser factível; consulte-se a escala hierárquica de risco
setorial (ehrs) das pequenas empresas elaborada por NAKAO (2003);
•
Pode-se afirmar que as pequenas empresas financiam seus investimentos
basicamente (100%) com recursos próprios. Desconto de duplicatas, hot money
etc. não pode ser considerado como capital de terceiro; sugere-se reclassificar as
despesas financeiras como despesas administrativas, pois nenhuma empresa tem
condições de financiar-se regularmente com esse tipo de dinheiro;
19
•
O montante de investimento de uma pequena empresa, ao invés de ser obtido por
ajustes do balanço patrimonial, pode ser obtido em resposta à seguinte pergunta:
qual o montante necessário para se montar uma empresa dessa, hoje? Nesse
caso, considera-se não apenas o ativo operacional, mas o nível atual de
tecnologia.
5. Bibliografia e Referências Bibliográficas
•
Confederação Nacional dos Bancários CUT. O Globo critica o SIRIC da Caixa Econômica
Federal, edição n. 2193 de 08/08/2002.
•
DE BORTOLI NETO, Adelino. Tipologia de problemas das pequenas empresas e médias
empresas. Dissertação de mestrado, FEA/USP, 1980.
•
KASSAI, José Roberto; KASSAI, S. Sistema de custos para pequenas empresas –
experiência de uma editora. Anais do IV Congresso Brasileiro de Custos, Fortaleza/CE,
1998.
•
KASSAI, José Roberto; KASSAI, S; NOSSA, V. Pequenas empresas – como é difícil
levantar dinheiro. Anais do VII Congresso Brasileiro de Custos, Recife/PE, 02 a 04 de
agosto de 2000.
•
KASSAI, José Roberto; KASSAI, S. Balanço perguntado – solução para as pequenas
empresas. Anais do VIII Congresso Brasileiro de Custos, São Leopoldo/RS, 03 a 05 de
outubro de 2001.
•
KASSAI, José Roberto. Aspectos observados na conciliação do valor presente líquido
(VPL) com o economic value added (EVA). Tese de doutorado, FEA/USP, 2001, 333p.
•
KASSAI, José Roberto; KASSAI, S. Termômetro de crédito – avaliação de propostas de
créditos de pequenas empresas junto à Caixa Econômica Federal. Anais do XIX
Congresso Brasileiro de Custos, São Paulo/SP, 13 a 15 de outubro de 2002.
•
KASSAI, José Roberto; KASSAI, S.; NAKAO, Aldo Nobuyuki. Custo de capital das
pequenas empresas. Anais do XX Congresso Brasileiro de Custos, Guarapari/ES, 15 a 17
de outubro de 2003.
•
NAKAO, Aldo Nobuyuki. Escala hierárquica de risco setorial (EHRS) das pequenas
empresas – um estudo de caso. Dissertação de mestrado, São Paulo: FEA/USP, 2003,
134p.
•
MARTELANC, Roy. Proposição e avaliação de política de hierarquização de fontes e
financiamento sob restrições de capital. Tese de doutorado, São Paulo: FEA/USP, 1998.
•
GREBNER, Selia. Análise do PROGER concedidos às pequenas empresas. Dissertação
de mestrado: FEA/USP, 2003.
•
JACINTHO, José Roberto de Melo. Contribuição ao processo de avaliação de
desempenho patrimonial, econômico e financeiro das microempresas e pequenas
empresas. Dissertação de mestrado, PUC/SP: 2002.
•
KRAUSS, V. A. Aspectos de avaliação de empresas. Dissertação de mestrado, São
Paulo: FEA/USP, 2003.
•
ONISHI, Leandro Hiroshi, Concessão de crédito no CEAGESP. Monografia de graduação,
São Paulo: FEA/USP, 2003.
•
MATIAS, A. B.; PONGELUPPE, Perla Kalil. O Balanço Perguntado e a Cadeia de Valor da
Informação: instrumento essencial no processo de decisão de crédito a empresas de
pequeno porte. Anais do I Seminário de Informação Corporativa, São Paulo: FEA/USP, 23
a 24 de outubro de 2003.
•
www.fia.com.br/proced - Formação de Consultores de Pequenas Empresas (FOCO),
cursos realizados pela Fundação Instituto de Administração (FIA/USP) no período de 1994
a 1997, coordenados pelos Professores Adelino de Bortoli Neto e Roy Martelanc.
20
Custo de Capital das Pequenas Empresas
RESUMO:
A análise de riscos das empresas, em especial daquelas que têm suas ações negociadas
no mercado de capitais, evoluiu acentuadamente nessas últimas décadas e, em países como os
EUA, p.ex., índices de riscos são divulgados regularmente, o que tem facilitado a mensuração do
custo de capital próprio. No Brasil, onde predominam as empresas de capital fechado, estudos
têm sido adaptados sobre outras fontes, a exemplo de informações extraídas de balanços
contábeis.
Este artigo tem por objetivo refletir sobre a mensuração do custo do capital próprio das
pequenas empresas que, além de não negociarem suas ações em bolsa de valores, muitas vezes,
não dispõem nem mesmo de relatórios contábeis apropriados. Para isso, aplicou-se o método
balanço perguntado sobre uma amostra significativa de empresas e supôs-se, como hipótese, que
a dispersão em torno de suas receitas de faturamento pudesse expressar os níveis de risco.
Como contribuição desta pesquisa, propôs-se uma escala hierárquica de risco setorial que
poderá servir de referência para esse segmento e, conseqüentemente, aprimorar as suas análises
de valor e de riqueza gerada.
Palavras Chaves:
Balanço Perguntado – Escala Hierárquica de Risco Setorial (EHRS) – Custo de Capital – EVA –
MVA – Market Value – Risco das Pequenas Empresas
1. Introdução
O risco atribuído ao nível de incerteza de uma determinada atividade ou empresa tem sido
estudado nessas últimas décadas e merecido a atenção por parte de pesquisadores, analistas,
gestores e de investidores. Mesmo em se tratando de uma variável de natureza abstrata e, por
isso, de difícil mensuração, modelos econômicos e quantitativos têm proporcionado medidas
consideradas razoáveis.
Esse risco, uma vez mensurado, na forma de índices ou de escalas hierárquicas, é
utilizado como parâmetro para a determinação do custo do capital próprio, ou seja, a remuneração
mínima atribuída ao capital dos sócios ou investidores. Com isso, torna-se possível mensurar
adequadamente a riqueza ou o valor agregado de um empreendimento e medidas, tais como o
economic value added (EVA), market value added (MVA) e valor da empresa, são apuradas com
propriedade.
Nos EUA, p. ex., já existem uma cultura popular e um convívio maior com esse tipo de
informação e o mercado, por sua vez, possui uma sensibilidade perante os índices e taxas de
riscos, que são divulgados regularmente. Os modelos utilizados, geralmente, processam essas
informações a partir do comportamento e da evolução dos preços das ações negociadas nos
mercados de capitais. No Brasil, onde predominam as companhias de capital fechado, ou as que
não negociam suas ações nas bolsas de valores, a aplicabilidade desses estudos encontra-se em
estágio embrionário e os cálculos são adaptados e processados sobre outras fontes, a exemplo
das informações extraídas de balanços contábeis.
Este artigo tem por objetivo focalizar esses aspectos sobre o segmento das pequenas
empresas e destaca-se, de forma pioneira, pelas dificuldades adicionais e particulares desse
segmento. Financiam-se basicamente com recursos próprios, não negociam as suas ações, ou
quotas, em bolsas de valores e, muitas vezes, não dispõem nem mesmo de relatórios contábeis
apropriados.
Para atingir esse objetivo, aplicou-se um método denominado balanço perguntado sobre
uma amostra significativa de pequenas empresas e supôs-se, como hipótese, que a dispersão em
torno do comportamento de suas receitas de faturamento pudesse expressar os níveis de risco.
Como contribuição desta pesquisa, apresenta-se uma escala hierárquica de risco
setorial (EHRS) das pequenas empresas, que poderá servir de parâmetro para a mensuração do
21
custo de capital próprio e proporcionar análises mais bem apuradas de agregação de valor ou de
riqueza.
2. Conceito de risco
Imagine a situação de dois garotos que, ao compararem seus boletins escolares,
constatam que suas notas médias (6.5) são exatamente iguais. Isso significa que seus
desempenhos são equivalentes? Aparentemente sim, mas analise atentamente os seus boletins
escolares.
Quadro 1 - BOLETIM ESCOLAR
Aluno1 Aluno2
Disciplinas
(Zeka)
(Trapa)
A
8
2
B
7
3
C
8
4
D
7
5
E
7
6
F
6
7
G
6
8
H
6
10
I
5
10
J
5
10
6,5
6,5
Média.............
Desvio-Padrão.. 1,0247
2,8373
Coef. Variação..
15,8%
43,7%
Quando é que uma informação “média” torna-se útil, ou confiável, em um processo de
análise? A resposta é simples, quando a mesma é de qualidade. E isso pode ser verificado pelo
respectivo desvio-padrão que mede o seu grau de dispersão, ou ainda, pela sua variante expressa
em porcentagem, o coeficiente de variação.
Note que, apesar de apresentarem médias (6,5) iguais, o aluno1 mostra-se em vantagem,
por possui um desvio-padrão menor (1,0247). E o aluno2, apesar de ter obtido algumas notas
máximas, provavelmente tenha sido reprovado em algumas disciplinas, pois a dispersão de suas
notas (2,8373) foi maior. Poder-se-ia dizer que os alunos apresentam notas iguais, mas níveis de
riscos diferentes e, em se mantendo essas características, ceteris paribus, a probabilidade do
aluno1 ser bem sucedido (ou aprovado) naquele curso é maior do que a do aluno2.
O desvio-padrão, como visto, é a régua básica para se medir e interpretar riscos e, como
geralmente os modelos procuram avaliá-lo quantitativamente, tem sido utilizado nas fórmulas e
nos modelos existentes. Quanto maior (menor) o desvio-padrão, maior (menor) o nível de risco;
comportam-se como grandezas diretamente proporcionais.
Outra interpretação do conceito de risco pode ser verificada quando se compara o
desempenho daqueles alunos com a média geral da classe, observe o quadro seguinte.
Quadro 2 - MÉDIA GERAL DA CLASSE
Aluno1 Aluno2
Média
Disciplinas
(Zeka)
(Trapa)
da Classe
A
8
2
9
B
7
3
8
C
8
4
8
D
7
5
8
E
7
6
7
F
6
7
6
G
6
8
7
H
6
10
5
I
5
10
5
J
5
10
7
Média.............
6,5
6,5
7,0
Desvio-Padrão.. 1,0247
2,8373
1,2649
Correlação.......
0,7715
-0,8638
1,0
Essa relação pode ser estabelecida comparando-se o nível de risco de cada aluno com o
nível de risco da classe, por meio de uma razão entre os seus respectivos desvios-padrão, a
saber:
22
Aluno1 =
D.Padrão (aluno1)
1,0247
=
= 0,81
D.Padrão (classe)
1,2649
Aluno 2 =
D.Padrão (aluno 2)
2,8373
=
= 2,24
D.Padrão (classe)
1,2649
Esse número expressa um coeficiente de risco e, como se nota, mostra a situação
preferencial do aluno1. Pode ser interpretado em relação à unidade: maior, igual ou menor,
significando, respectivamente um nível de risco maior, igual ou menor do que o nível de risco geral
da classe. O aluno2, portanto, deveria se preocupar e esforçar-se um pouco mais do que a média
de seus colegas, pois a sua dispersão ou volatilidade tende a ser maior.
Pois bem, suponha-se, agora, que aqueles dois alunos representassem, em verdade,
duas empresas e aquela classe o mercado empresarial como um todo. Certamente, o coeficiente
calculado anteriormente seria reconhecido como uma espécie de índice “beta”, ou, segundo
LEITE & SANVICENTE (1995:77), índice de risco total (IRT).
Esse índice não é exatamente o tradicional Beta (β), conhecido e aplicado nas análises
financeiras, mas aproxima-se bastante de seu conceito. Para o seu cálculo, é necessário
multiplicar esse número (IRT) pelo respectivo índice de correlação, como se demonstra a seguir.
β (aluno1) =
Dpadrão (aluno1)
× Correlação (aluno1; classe) = 0,81 × 0,7715 = 0,62
Dpadrão (classe)
β (aluno 2) =
Dpadrão (aluno 2)
× Correlação (aluno 2 ; classe) = 2,24 × − 0,8638 = − 1,93
Dpadrão (classe)
Enquanto que o IRT representa o risco total de uma empresa, o índice beta expressa
somente a parcela de risco considerada não diversificável (ou risco sistemático). Esse ajuste de
cálculo é promovido quando se multiplica pelo respectivo índice de correlação que,
essencialmente, tem a função de eliminar a parcela de risco considerada diversificável (ou risco
não-sistemático).
Essa eliminação do risco é compreendida, intuitivamente, quando se interpreta o próprio
índice de correlação, que varia de uma escala de menos um até mais um. Um índice próximo a +1
entre o comportamento de uma empresa e o mercado significa que tendem no mesmo sentido;
quando um sobe, o outro também. Um índice próximo a -1 significa que tendem em sentidos
contrários, quando um sobe, o outro desce, e vice-e-verça. Quando o índice é próximo a zero é
interpretado como correlação baixa, ou seja, não há forte influência entre eles.
É por isso que os investidores têm certo interesse em agregar papéis ou ações que
contenham baixa correlação, ou se possível negativa. Com isso, estarão otimizando o
desempenho de suas carteiras, não apenas pela maximização da rentabilidade, mas, também, por
meio da minimização do nível de risco.
Em um grupo empresarial, poder-se-ia traçar uma estratégia de redução do seu nível
global de risco com a atuação de empresas que tivessem comportamentos inversos, de
correlação baixa ou negativa. Em um exemplo simples, mas que expressa esse efeito, uma
empresa de “sorvetes” poderia adquirir outra de “chocolate quente”. Assim, quando uma estivesse
enfrentando situações de prejuízos, a outra estaria equilibrando a situação do grupo, pela provável
situação favorável.
Uma empresa poderia fazer o mesmo com a escolha de seus produtos e reduzir o seu
nível de risco ponderando-se o volume de algum deles que tivesse correlação baixa ou até
negativa. Se todos os produtos forem fortemente correlacionados, em uma situação adversa, os
prejuízos poderão ser mais acentuados. Obviamente, em uma situação favorável, os lucros seriam
maiores, mas o empreendimento estaria exposto a um maior nível de risco.
Então, o que é melhor, lucro maior com alto risco, ou lucro menor com baixo risco? Em
verdade, não se trata desta questão; quando se discute risco, não está se discutindo se é algo
bom ou ruim; risco é simplesmente risco. O que se busca é o ponto ótimo, ou seja, o equilíbrio
entre os ganhos almejados e o nível de risco que os investidores ou administradores estejam
dispostos a assumirem, de acordo com seus respectivos graus de propensão ao risco.
23
Isto é justamente o que está implícito no conceito do custo do capital próprio, ou Ke
(equity) de um empreendimento. O retorno mínimo do capital investido deve abranger não apenas
o custo de oportunidade das outras alternativas, mas, também, o seu respectivo nível de risco.
Não se pode simplesmente dizer que duas empresas que apresentam, igualmente, taxas
de rentabilidade de 20%, p.ex., são semelhantes. Elas somente seriam comparáveis se tivessem
os mesmo níveis de risco.
Até mesmo as diversas alternativas de aplicações existentes no mercado não são
comparáveis entre si. Não se pode comparar uma caderneta de poupança com outro papel de
renda fixa, nem mesmo com um fundo de ações, pois seus níveis de riscos são diferentes. É
aceitável, intuitivamente, que quem investe em ações tem uma expectativa maior de ganhos do
que aqueles que preferem papéis de renda fixa e estes, por sua vez, esperam ganhos superiores
aos da caderneta de poupança. Esse comportamento é natural e justo; se não, ninguém,
racionalmente, investiria em papéis de maiores riscos, todos seriam clientes das aplicações
lastreadas em títulos do Governo (aliás, há quem se lembre do Plano Color e ainda prefira deixar
seu dinheiro de baixo do colchão!).
As pequenas empresas, igualmente, somente são comparáveis se tiverem o mesmo nível
de risco. Como saber, então, esse nível de risco? Quem tem maior risco, uma padaria, uma
escola, um restaurante ou uma loja de informática? Um comércio tem maior ou menor risco em
relação a uma indústria ou a uma prestadora de serviços?
Em verdade, esse nível de risco é específico para cada empresa, mas supõe-se, com
base nas teorias desenvolvidas nessas últimas décadas, e a serem explanadas no tópico
seguinte, que essa medida pode ser apurada com base no setor de atividade em que a empresa
atue, ou seja, com base no seu índice de risco setorial.
Retomando-se a história daqueles dois alunos, outros aspectos deveriam ser observados
na comparação de suas notas médias. O aluno1 apresenta um índice de risco (IRT de 0,63)
menor do que um e, portanto, espera-se que tenha maior chance de ser aprovado do que seus
colegas. O aluno2, com índice de risco (IRT de 2,24), terá que se esforçar mais do que seus
colegas, se quiser ser aprovado.
De outra forma, há quem interprete que o aluno2 possa ser mais criativo e, quando
estiverem competindo no mercado de trabalho e, caso estivessem disputando uma vaga na área
de publicidade, p.ex., teria maiores chances. Nesse caso, o seu índice beta “negativo” (-1,94) até
poderia explicar esse fenômeno que, talvez, pudesse agregar mais idéias e criatividade ao grupo
do que a média de seus colegas, como mostra o seu índice de correlação negativo (-0,86).
Resumindo-se este item, procurou-se enfocar, de forma didática e sem aprofundar nas
discussões teóricas, os seguintes conceitos: retorno médio, desvio-padrão, coeficiente de
variação, índice de correlação, índice de risco total (IRT), índice Beta, risco sistemático, risco não
sistemático, propensão ao risco e custo do capital próprio (Ke).
3. Breve histórico e estudos sobre risco
Os estudos e abordagens sobre riscos tiveram crescimento acentuado basicamente
nessas últimas décadas e, mantendo-se coerência com as discussões apresentadas no tópico
anterior, apresenta-se uma cronologia das principais obras, identificadas na figura a seguir.
Figura 3 - Cronologia dos Estudos sobre Risco
2003
1990
1976
1964
1952
Utilização do
CAPM para
cálculo do
Ke
MARKOWITZ
compartilha
de Prêmio
Nobel com
SHARPE e
MILLER
Criação do
APT por
ROSS
Criação do
CAPM por
SHARPE
Doutorado
sobre Risco
MARKOWITZ
Carl
Friedrich
GAUSS
1777-1855
Fonte: adaptado de KASSAI, J.R. Aspectos ob servados na conciliação entre os métodos valor
presente líquido (VPL) e economic value added (EVA). Tese de doutorado FEA/USP, 2001., p.128.
24
Inicia-se por Carl Friedrich GAUSS (1777-1855), criador do cálculo do desvio-padrão que,
como se expôs anteriormente, refere-se à régua básica para se medir risco. Nos livros de história
da matemática, a exemplo de BOYER (1999:343), conta-se a seguinte lenda sobre esse
personagem, ao criar a fórmula da somatória de uma progressão matemática (PA):
“Um dia, para ocupar a classe, o professor mandou que os alunos somassem
todos os números de um a cem, com instruções para que cada um colocasse sua
ardósia sobre a mesa logo que completasse a tarefa. Quase imediatamente,
Gauss colocou sua ardósia sobre a mesa dizendo. Aí está! O professor olhou-o
com desdém enquanto os outros trabalhavam diligentemente. Quando o instrutor
finalmente olhou os resultados, a ardósia de Gauss era a única com a resposta
correta, 5050, sem outro cálculo. O menino de dez anos ...”
Em 1952 um jovem de 25 anos chamado Harry MARKOWITZ defendia sua tese de
doutorado e fora duramente criticado, como ilustra BERNSTEIN (1992:68) em seu livro:
“Harry, eu não vejo nada de errado com esta matemática, mas eu tenho um
problema. Esta não é uma tese em economia e nós não podemos lhe dar um
Ph.D. em economia por uma tese que não é economia. Isto não é matemática,
não é economia, isto não é nem mesmo administração de empresas.”
Alguns anos mais tarde, MARKOWITZ publicou um artigo de quatorze páginas e,
contrariando a realidade das pesquisas daquela época, havia poucas citações e dez páginas
repletas de cálculos. Em verdade, ele mostrou que a variância ou desvio-padrão de uma carteira,
considerada em sua totalidade, é diferente da variância ou desvio-padrão de seus títulos
individuais, mesmo que se calcule uma média ponderada. Mostrou que esse fenômeno é
influenciado pela relação desses títulos entre si, ou seja, por suas covariâncias. E quanto menor
essa relação, ou se possível até negativa, menor será o risco total da carteira.
Não se sabe o real motivo, talvez pela inexistência de meios de processamento eletrônico
de dados (naquela época não existiam as planilhas eletrônicas, nem a calculadora financeira HP
12C!), ou pela própria incredibilidade perante essas teorias, mas a realidade é que esses estudos
ficaram esquecidos.
Enfim, em 1964, o próprio MARKOWITZ, preocupado com a operacionalização de sua
teoria, obteve ajuda de outro jovem estudante de doutorado, seu orientando, William SHARPE
que, com base em seus estudos, criou outro modelo chamado Capital Assets Pricing Models
(CAPM).
A solução matemática de SHARPE permitiu simplificar os cálculos; por isso, o CAPM é
relativamente muito. Em vez de calcular as covariâncias entre todos os títulos de uma carteira
entre si, com uso intenso de matrizes, de arranjos e combinações, a solução simplificadora foi
estimar a variação de cada título em relação a todo o mercado.
Quatro décadas após o início de seus estudos, em 1990, MARKOWITZ foi contemplando
com o Prêmio Nobel de Economia, compartilhados por SHARPE e Merton H. MILLER, como se
pode ver no site www.nobel.se que descreve a história do inventor da dinamite que, arrependido
desse seu feito, cedeu seus bens e patentes para que a Fundação Alfred Nobel criasse esse
prêmio para a humanidade.
O modelo CAPM é determinado pela seguinte formulação:
CAPM = RF + β ( RM − RF )
onde:
RF ou risk free é taxa livre de risco,
RM é a taxa média de retorno do mercado, e
β é o coeficiente beta, abordado no tópico anterior.
Atualmente, utiliza-se essa fórmula para o cálculo do custo do capital próprio (Ke) que,
teoricamente, satisfaz adequadamente os conceitos discutidos no tópico anterior; considera o
custo de oportunidade do mercado (RM) e, também, uma remuneração adicional para compensar
o nível de risco, evidenciada pelo produto do coeficiente beta (β), ou risco sistemático, pelo prêmio
do mercado (RM – RF).
25
Tem-se utilizado, como RF, o rendimento de títulos governamentais de longo prazo e,
como RM, o comportamento de uma carteira “virtual” formada, p.ex., de ações, renda fixa, imóveis
etc., ou, alternativamente, índices como Bovespa, SP500.
Outros modelos alternativos se propõem calcular a remuneração mínima e adequada de
um investimento, a exemplo do arbitrage pricing theory (APT), criado por Stephen ROSS
(1995:231) em 1976. Esse modelo, diferentemente do CAPM, que pode ser obtido por meio de
uma regressão simples, descreve uma equação múltipla, com vários coeficientes aplicados sobre
variáveis que procuram explicar o comportamento de uma determinada empresa, p.ex., produto
interno bruto (PIB), inflação, preço do petróleo, salário mínimo, juros etc.
4. Tabelas de coeficientes de riscos setoriais
Em países como os EUA, p.ex., informações sobre níveis de riscos são regularmente
publicadas e, por isso, o mercado possui melhor sensibilidade sobre esses índices e coeficientes
e até um senso comum. Exemplificativamente, mostram-se a seguir duas tabelas com coeficientes
betas de empresas americanas, elaboradas por DAMODARAN, COPELAND, COLLER e
MURRIN.
Elas identificam as principais atividades, classificadas hierarquicamente em ordem
decrescente de nível de risco pelos respectivos coeficientes betas médios desses setores
empresariais.
Figura 4 - Betas de Indústrias Americanas (Autor: DAMODARAN)
Ramo de Atividade
1º
2º
3º
4º
5º
6º
7º
8º
9º
10º
11º
12º
13º
14º
15º
16º
17º
18º
19º
20º
21º
22º
23º
24º
25º
26º
27º
28º
29º
30º
31º
32º
33º
ROE
Farmacêutico
Qumímico
Software & Serviços Correlatos
Serviços de Saúde
Computadores e Equip. Escritórios
Eletrônico de Consumo
Entretenimento (TV e Cinema)
Bancário e Financeiro
Restaurante e Similares
Serviços Telefônicos
Varejista
Fumo
Transportes
Outros Bens de Consumo Duráveis
Atacadista
Construção Civil
Fabris diversos
Bens de Consumo
Outros Serviços
Produção de Papel e de Plásticos
Equipamentos
Automobilismo e Correlatos
Editorial
Têxtil e Vestuário
Bebidas
Móveis
Seguros
Produção de Alimentos
Produtos Agrícolas
Imobiliário
Mineração
Produção e Refino de Petróleo
Eletricidade e Gás
28,40%
18,64%
20,66%
14,33%
14,84%
15,00%
23,00%
17,09%
17,51%
16,10%
14,04%
32,65%
12,79%
17,51%
16,50%
11,84%
16,42%
28,81%
18,11%
15,48%
13,89%
18,12%
17,34%
13,45%
17,55%
14,73%
23,62%
17,31%
15,28%
19,69%
11,07%
13,35%
11,41%
15,44%
Média...
Fonte: DAMODARAN (1997:103)
Endivid.
Beta
33,83%
37,61%
9,18%
27,78%
30,49%
26,65%
49,20%
29,37%
46,70%
31,94%
33,12%
50,39%
48,29%
30,04%
29,18%
35,04%
35,51%
44,78%
39,39%
42,96%
36,47%
34,41%
39,69%
27,42%
41,14%
25,34%
37,87%
30,66%
37,67%
38,44%
40,21%
44,43%
58,35%
40,35%
1,36
1,34
1,33
1,32
1,27
1,26
1,25
1,23
1,20
1,20
1,19
1,11
1,10
1,08
1,08
1,08
1,07
1,06
1,05
1,03
1,02
0,99
0,99
0,98
0,95
0,93
0,85
0,85
0,74
0,69
0,64
0,59
0,58
1,03
Os setores considerados de maior (menor) risco apresentam coeficientes betas superiores
(inferiores) à unidade e aqueles com betas próximos a um têm nível de risco próximo ao do
mercado.
26
Figura 5 - Betas de empresas americanas ( autor: COPELAND, KOLLER e MURRIN )
Ramo de atividade
Beta
1º
Corretoras
1,55
Restaurantes
1,41
2º
3º
Hotéis
1,36
4º
Construção civil
1,32
5º
Máquinas elétricas
1,26
6º
Instrumentos científicos
1,25
7º
Aviação civil
1,24
8º
Máquinas (exceto elétricas)
1,18
Cinema
1,16
9º
10º
Varejo
1,16
11º
Produtos têxteis
1,14
12º
Imóveis
1,14
Produtos químicos
1,09
13º
14º
Alimentos e produtos similares
1,04
15º
Bancos
1,01
16º
Papel e produtos similares
0,98
17º
Lojas de alimentação
0,96
18º
Mineração de metais
0,88
19º
Refinação de petróleo
0,86
Concessionárias de energia e gás
0,73
20º
21º
Ferrovias
0,71
Fonte: COPELAND, KOLLER e MURRIN, (2000:299).
Como se nota, as tabelas não são coincidentes e isso mostra a flexibilidade (ou
subjetividade) desses modelos, mesmo em se tratando de cálculos matemáticos. Em casos de
índices muito diferentes, ou até conflitantes, esses mesmos autores orientam que se escolha o
mais confiável ou, então, que se calcule e utilize uma média aritmética deles.
Quando não existem referenciais, como no caso de empresas de capital fechado, ou de
alguma atividade específica, COPELAND, KOLLER e MURRIN recomendam o seguinte
procedimento. Reúna alguns gerentes e apresente uma dessa tabelas com setores e respectivos
coeficientes de risco. Não importa se tenham ou não conhecimento sobre o assunto, peça para
que identifiquem o setor que mais se aproxima da atividade analisada, segundo a intuição de cada
um deles. Faça uma média aritmética e passe a utilizar esse novo coeficiente.
Seguindo essa recomendação, KASSAI (2001:256) realizou uma pesquisa junto a
executivos de empresas brasileiras. Listou os principais setores de atividade, segundo a
classificação da edição especial Melhores e Maiores da Revista Exame, da Editora Abril, e pediulhes que classificassem, também segundo a sua intuição, os níveis de riscos em baixíssimo (R1),
baixo (R2), médio (R3), alto (R4) e altíssimo (R5). Como resultado, obteve-se a seguinte tabela de
risco, segundo a experiência gerencial.
Figura 6 - Escala de Risco Setorial das Empresas Brasileiras (experiência gerencial)
Nº
SETORES
1º
2º
3º
4º
5º
6º
7º
8º
9º
10º
11º
12º
13º
14º
15º
16º
17º
18º
19º
20º
21º
22º
23º
24º
25º
26º
27º
28º
Tecnologia e Computação
Fumo
Seguradoras
Eletroeletrônico
Mecânica
Serviços de Transportes
Agrícola
Automotivos
Construção
Atacado e Comércio Exterior
Confecções e Têxteis
Serviços Diversos
Plásticos e Borrachas
Farmacêutica
Siderurgia e Metalúrgica
Materiais de Construção
Telecomunicações
Química e Petroquímica
Fundos de Pensão
Mineração
Papel e Celulose
Bancos
Comércio Varejista
Comunicações
Higiene, Limpeza e Cosmético
Bebidas
Alimentos
Serviços Públicos
Classificação dos Questionários
R1
R2
R3
R4
R5
Maior
0%
19%
29%
23%
R4
29%
10%
19%
23%
3%
R4
45%
3%
39%
13%
0%
R4
45%
0%
13%
29%
6%
R3
52%
0%
23%
32%
0%
R3
45%
0%
19%
26%
0%
R3
55%
3%
19%
19%
0%
R3
58%
0%
32%
16%
0%
R3
52%
3%
29%
19%
0%
R3
48%
0%
42%
16%
0%
R3
42%
0%
35%
6%
0%
R3
58%
0%
42%
13%
0%
R3
45%
0%
42%
3%
0%
R3
55%
13%
29%
16%
0%
R3
42%
16%
29%
13%
0%
R3
42%
3%
45%
0%
R3
52%
10%
26%
19%
0%
R2
45%
3%
16%
19%
0%
R2
61%
19%
23%
23%
0%
R2
35%
10%
32%
13%
0%
R2
45%
0%
45%
0%
0%
R2
55%
13%
10%
23%
0%
R2
55%
3%
35%
0%
0%
R2
61%
13%
39%
0%
0%
R2
48%
16%
16%
0%
0%
R2
68%
19%
16%
0%
0%
R2
65%
16%
6%
0%
0%
R2
77%
39%
23%
0%
0%
R2
39%
Fonte: KASSAI (2001:256)
27
Apesar do tratamento empírico e subjetivo, trata-se de um recurso para a mensuração do
nível de risco das empresas brasileiras, como orientaram os autores mencionados.
Em uma outra pesquisa, desta vez reunindo mil empresas brasileiras, em sua maioria de
capital fechado, e respectivos balanços de quatro anos consecutivos, KASSAI (2001:273) calculou
os coeficientes angulares, segundo o conceito do índice de risco total (IRT), conforme sugestão de
LEITE & SANVICENTE (1995:77) e obteve a seguinte tabela de risco.
Figura 7 -
Escala de Risco Setorial das empresas brasileiras (Coeficiente Angulares)
Ordem
1º
2º
3º
4º
5º
6º
7º
8º
9º
10º
11º
12º
13º
14º
15º
16º
17º
18º
19º
20º
21º
22º
23º
24º
25º
Setor
Eletroeletrônico
Comunicações
Bebidas
Serviços Diversos
Serviços de Transporte
Mecânica
Construção
Telecomunicações
Tecnologia e Computação
Plásticos e Borracha
Automotivo
Comércio Varejista
Confecções e Têxteis
Farmacêutico
Alimentos
Diversos
Atacado e Comércio Exterior
Higiene, Limpeza e Cosméticos
Serviços Públicos
Materiais de Construção
Fumo
Papel e Celulose
Mineração
Siderurgia e Metalurgia
Química e Petroquímica
Índice de Risco Total
3,11
2,62
2,24
1,80
1,72
1,66
1,60
1,42
1,38
1,14
1,10
1,07
1,07
1,05
1,02
0,96
0,93
0,90
0,89
0,82
0,70
0,65
0,52
0,36
0,28
Base: 1000 empresas brasileiras e balanços contábeis de 1996 a 1999
Fonte: KASSAI (2001:271)
Essas informações são úteis para identificar o nível de risco de uma empresa e permitem
que se calcule o seu custo do capital próprio ou Ke. Para isso, pode-se recorrer a modelos
tradicionais, como o CAPM, ou ainda utilizar-se de algum método de interpolação, quer seja uma
simples regra de três, uma regressão linear ou uma análise discriminante.
O objetivo deste artigo resume-se em retratar uma pesquisa semelhante a esta, mas
aplicada sobre o ambiente de pequenas empresas. É o que se segue.
4. O balanço perguntado e as pequenas empresas
O balanço perguntado, segundo KASSAI & KASSAI (2001:1), é um método que permite
elaborar relatórios contábeis de pequenas empresas, adequados para as análises econômicas e
financeiras. Essa é uma prática antiga e surgiu, provavelmente, da constatação de que os
relatórios tradicionais, quando eles existem, não retratam a realidade.
Consiste basicamente de um questionário, com perguntas previamente elaboradas, de
naturezas quantitativas e qualitativas, monetárias e físicas, e relacionam-se basicamente com as
contas do balanço patrimonial (BP) e da demonstração do resultado do exercício (DRE), com suas
interligações e outras informações que permitam identificar o conjunto da missão, crenças e
valores, fatores críticos e de sucessões, pontos fracos e fortes etc.
Essas informações são obtidas por meio de uma entrevista, com a duração de duas ou
três horas, e é facilitada quando uma das partes é o próprio dono do negócio e a outra adota uma
postura de consultor, propiciando um clima de confiança e comprometimento.
No processamento das informações e na elaboração dos relatórios, são possíveis realizar
algumas checagens e análises de consistência e o produto final, embora possa ser limitado pelas
circunstâncias, geralmente é de boa qualidade, pois os ativos são reais e a preços de reposição,
os passivos são os realmente exigíveis, o capital próprio é representado pelos recursos
efetivamente investidos, o faturamento é condizente com o custo das vendas, as despesas e
custos fixos são coerentes com estrutura da empresa e os preços são facilmente identificados
com o mercado.
28
É comum, durante esse processamento, o dono mudar a sua postura e estratégias diante
de seus negócios e, mesmo partindo-se de uma situação deficitária, projetarem situações reais e
superavitárias. Nesse envolvimento, profissional e de “amizade”, há trocas de experiências, o
refinamento das técnicas de consultoria e da linguagem de negócios.
A presente pesquisa foi realizada na região da “grande Cuiabá/MT” e reuniu, inicialmente,
300 balanços perguntados de pequenas empresas, cedidos por três instituições financeiras e,
após uma análise criteriosa onde se verificou a qualidade dessas informações, formou-se um
banco de dados de 231 empresas, classificadas respectivamente em 31 setores.
Diante da impossibilidade de se obter informações que possibilitassem cálculos confiáveis
de taxas de rentabilidade, e conforme discussões de MARTELANC (1998:2) e ROSS,
WESTERFIELD e JAFFE (1995:250), optou-se por calcular os coeficientes angulares com base
na variação do faturamento médio de cada um desses setores, estando implícita a hipótese de
que o seu comportamento cíclico pudesse exprimir os níveis de riscos das pequenas empresas.
O quadro a seguir apresenta o banco de dados formado para o processamento desta
pesquisa.
Figura 8 - Banco
Nº
Setores
de Dados da pesquisa
Faturamento Médio Mensal (R$mil)
NºEmp.
Evolução % do Faturamento
1º
Construtora
8
993,5
661,0
692,5
576,6
514,6
569,7
-33,5%
4,8%
-16,7%
-10,8%
10,7%
2º
Calçados
7
246,1
240,3
288,4
290,0
266,6
265,8
-2,4%
20,0%
0,5%
-8,1%
-0,3%
3º
Bebidas
5
509,9
475,0
562,3
528,5
508,8
511,8
-6,8%
18,4%
-6,0%
-3,7%
0,6%
4º
Confecção
17
540,9
612,0
645,6
600,9
690,7
653,0
13,1%
5,5%
-6,9%
14,9%
-5,4%
5º
Equip. p/ escritório e informática
8
721,9
615,9
649,5
717,3
708,0
762,7
-14,7%
5,5%
10,4%
-1,3%
7,7%
6º
Consultoria contábil e Informática
8
276,6
320,1
308,5
340,3
335,4
318,3
15,7%
-3,6%
10,3%
-1,4%
-5,1%
7º
Corretora de seguros
7
199,2
206,8
210,1
231,1
206,1
228,4
3,8%
1,6%
10,0%
-10,8%
10,8%
8º
Clínica de odontologia
6
304,0
317,7
348,7
308,0
328,5
348,4
4,5%
9,8%
-11,7%
6,6%
6,1%
9º
Lanchonete e padaria
6
179,3
192,1
183,7
204,1
192,4
212,9
7,2%
-4,4%
11,1%
-5,7%
10,6%
10º
Imobiliária
5
174,1
178,2
161,9
175,9
166,7
181,7
2,4%
-9,1%
8,6%
-5,3%
9,0%
11º
Perfumaria e cosméticos
7
472,3
551,6
558,4
617,9
615,5
622,0
16,8%
1,2%
10,7%
-0,4%
1,1%
12º
Material de Construção
10
1.461,3
1.499,2
1.493,5
1.507,6
1.408,7
1.604,8
2,6%
-0,4%
0,9%
-6,6%
13,9%
13º
Artefatos de madeira
9
647,4
671,9
674,9
598,2
618,7
669,7
3,8%
0,5%
-11,4%
3,4%
8,2%
14º
Papelaria e livraria
9
1.667,3
1.268,0
1.151,0
976,6
845,4
762,3
-24,0%
-9,2%
-15,2%
-13,4%
-9,8%
15º
Farmácia e drogaria
9
489,5
507,8
554,6
517,0
524,7
521,1
3,8%
9,2%
-6,8%
1,5%
-0,7%
16º
Automóveis autopeças
7
440,0
444,4
458,6
439,4
415,5
452,6
1,0%
3,2%
-4,2%
-5,5%
8,9%
17º
Serviço de limpeza
4
354,7
354,4
349,6
370,4
343,8
362,5
-0,1%
-1,4%
5,9%
-7,2%
5,4%
18º
Armarinhos
7
894,1
935,5
888,2
880,5
942,1
942,1
4,6%
-5,1%
-0,9%
7,0%
0,0%
19º
Clínica Média
7
155,2
154,5
148,9
153,7
162,3
153,2
-0,4%
-3,6%
3,2%
5,6%
-5,6%
20º
Confecção infantil e brinquedos
6
305,6
289,8
292,4
308,4
310,7
298,2
-5,2%
0,9%
5,5%
0,7%
-4,0%
21º
Publicidade e propaganda
5
400,7
396,2
405,8
432,3
411,1
418,0
-1,1%
2,4%
6,5%
-4,9%
1,7%
22º
Combustíveis e lubrificantes
8
1.794,7
1.964,7
1.962,8
2.094,8
2.093,8
2.174,8
9,5%
-0,1%
6,7%
0,0%
3,9%
23º
Medicina Computadorizada
7
339,9
337,5
343,7
365,0
348,3
340,6
-0,7%
1,8%
6,2%
-4,6%
-2,2%
24º
Agência de viagens
6
386,0
387,9
387,0
396,5
433,6
462,2
0,5%
-0,2%
2,5%
9,3%
6,6%
25º
Serviço de transporte
5
387,5
391,3
383,1
398,0
383,1
362,7
1,0%
-2,1%
3,9%
-3,7%
-5,3%
26º
Automóveis garagens
8
1.001,0
1.030,8
1.046,0
1.005,3
1.050,0
1.054,9
3,0%
1,5%
-3,9%
4,5%
0,5%
27º
Restaurante
8
420,2
438,9
443,8
462,6
473,9
464,6
4,4%
1,1%
4,2%
2,4%
-2,0%
28º
Mercearia e armazéns
6
433,5
437,5
443,7
471,6
490,2
492,3
0,9%
1,4%
6,3%
3,9%
0,4%
29º
Escola
10
569,7
575,8
573,9
583,7
605,1
596,3
1,1%
-0,3%
1,7%
3,7%
-1,5%
30º
Cabeleireiro
7
138,0
138,4
138,9
138,8
145,0
148,2
0,3%
0,4%
-0,1%
4,4%
2,3%
31º
Alimentação diversos
9
666,1
672,1
694,2
712,0
713,6
732,4
0,9%
3,3%
2,6%
0,2%
2,6%
231
17.570
17.267
17.444
17.403
17.253
17.688
-1,7%
1,0%
-0,2%
-0,9%
2,5%
Total
Fonte: Balanços Perguntados obtidos de três Instituições Financeiras
5. Escala hierárquica de risco setorial (EHRS) das pequenas empresas
Os coeficientes angulares (IRT) foram calculados pela razão do desvio-padrão de cada
setor em relação ao desvio-padrão do total dessas empresas, estabelecido como um mercado de
referência. Como o procedimento adotado é uma adaptação à realidade das pequenas empresas,
os índices obtidos, obviamente, não podem ser comparados com índices betas obtidos de
empresas que têm suas ações negociadas em bolsa de valores. Entretanto, acredita-se que são
de qualidade e que podem expressar os níveis de riscos deste segmento.
Outra coluna é evidenciada neste quadro (Escala) e representa esse mesmo índice de
risco total (IRT), mas de forma padronizada. Projetaram-se, exemplificativamente, níveis de
remuneração do capital próprio (Ke) das pequenas empresas, calculados em função de uma
“faixa” sugerida de 15 a 25% e os respectivos níveis de risco.
Nos EUA, conforme a STERN STEWART & Co (2002:site), o custo de capital das
empresas americanas está inserido em uma faixa de 6% a 16% e, no Brasil, de 10% a 20%.
Certamente, independentemente do método utilizado, essas taxas não podem diferir muito dessas
faixas consideradas normais.
29
O quadro a seguir evidencia os resultados obtidos.
Figura 9
- Escala Hierárquica de Risco Setorial (EHRS) das Pequenas Empresas
Nº
Setores
Dpadrão
IRT
Escala
Ke
1º
Construtora
15,7%
10,6
2,8
23,4%
2º
Calçados
9,5%
6,4
1,7
20,1%
3º
Bebidas
9,3%
6,3
1,7
20,0%
4º
Confecção
9,1%
6,1
1,6
19,9%
5º
Equip. p/ escritório e informática
9,0%
6,0
1,6
19,8%
6º
Consultoria contábil e Informática
8,3%
5,6
1,5
19,4%
7º
Corretora de seguros
7,8%
5,2
1,4
19,2%
8º
Clínica de odontologia
7,6%
5,1
1,3
19,0%
9º
Lanchonete e padaria
7,3%
4,9
1,3
18,9%
10º
Imobiliária
7,3%
4,9
1,3
18,9%
11º
Perfumaria e cosméticos
6,7%
4,5
1,2
18,6%
12º
Material de Construção
6,7%
4,5
1,2
18,6%
13º
Artefatos de madeira
6,6%
4,4
1,2
18,5%
14º
Papelaria e livraria
5,3%
3,6
0,9
17,8%
15º
Farmácia e drogaria
5,2%
3,5
0,9
17,8%
16º
Automóveis autopeças
5,2%
3,5
0,9
17,8%
17º
Serviço de limpeza
4,8%
3,2
0,9
17,6%
18º
Armarinhos
4,2%
2,9
0,8
17,3%
19º
Clínica Média
4,2%
2,8
0,7
17,2%
20º
Confecção infantil e brinquedos
3,8%
2,6
0,7
17,1%
17,0%
21º
Publicidade e propaganda
3,8%
2,6
0,7
22º
Combustíveis e lubrificantes
3,8%
2,5
0,7
17,0%
23º
Medicina Computadorizada
3,7%
2,5
0,7
17,0%
24º
Agência de viagens
3,7%
2,5
0,7
17,0%
25º
Serviço de transporte
3,3%
2,2
0,6
16,8%
26º
Automóveis garagens
2,8%
1,9
0,5
16,5%
27º
Restaurante
2,4%
1,6
0,4
16,3%
28º
Mercearia e armazéns
2,2%
1,5
0,4
16,2%
29º
Escola
1,8%
1,2
0,3
15,9%
30º
Cabeleireiro
1,7%
1,1
0,3
15,9%
31º
Alimentação diversos
1,2%
0,8
0,2
15,6%
6. Análises da riqueza e valor agregados
As empresas que atuam em países de economias estáveis financiam-se
preferencialmente com capitais de terceiros e uma menor parcela é formada por capital próprio.
Fazem uso, assim, dos benefícios implícito no conceito de alavancagem financeira.
No Brasil, os financiamentos são escassos e o acesso a recursos de longo prazo, com
taxas mais competitivas, é privilégio de um pequeno número de empresas. Por este motivo, e
também pelas próprias características das pequenas empresas brasileiras, os seus investimentos
são financiados basicamente por recursos próprios.
Apesar da disponibilidade de empréstimos, tais como desconto de duplicatas, contas
garantidas e hot money, na opinião destes autores, não se caracterizam como capitais de
terceiros, pois são “abusos” que deveriam ser utilizados “eventualmente” pelas empresas e, nesse
caso, classificados como despesas administrativas. Uma empresa, quiçá uma de pequeno porte,
em país algum conseguiria financiar-se regulamente com essas fontes de recursos.
Por isso, a mensuração do custo do capital próprio (Ke), especialmente das pequenas
empresas, é de suma importância para que se possam efetuar análises de retorno de
investimentos. Não basta ter lucro líquido, este deve remunerar adequadamente o capital
investido, a uma taxa apropriada (Ke), e sobrar um valor residual ou economic value added (EVA)
positivo.
O potencial futuro dessa riqueza econômica pode ser mensurado a valor presente,
caracterizando uma medida de goodwill ou market value added (MVA) que, somado ao capital
investido, obtém-se o valor econômico ou market value (MV) da empresa.
30
Esse valor econômico deve ser maior do que o custo de seus investimentos, diz-se,
assim, que a empresa vale mais do que custa. Maiores informações e um roteiro completo dessas
análises podem ser visto no artigo Lucro gasoso: uma abordagem sobre o EVA, de autoria de
KASSAI (2003:1).
7. Considerações finais
As premissas e hipóteses estabelecidas nesta pesquisa foram necessárias e permitiram
que se pudesse produzir uma tabela de risco, denominada escala hierárquica de risco setorial
(EHRS) das pequenas empresas.
Sua utilidade, diante das limitações inerentes aos métodos de mensuração desta variável
de natureza subjetiva (risco), é mais relevante. Permite que se iniciem análises mais profundas de
negócios e empreendimentos de pequeno porte.
Ao expor o resultado desta pesquisa, esses autores esperam que as críticas e discussões
possam popularizar o conceito de risco e, num futuro esperado, que se forme um senso comum
sobre esta medida.
8. Bibliografia
•
ASSAF NETO, Alexandre. Finanças corporativas e valor. São Paulo, Atlas, 2003.
•
BERNSTEIN, Peter L. Capital ideas. New York: Free Press, 1992
•
BERNSTEIN, Peter L. Desafio aos deuses: a fascinante história do risco. 5ª edição, Rio de
Janeiro: Campus, 1997. (tradução do original Against the dos, publicado por John Wiley,
1996).
•
BOYER, Carl B. História da matemática. São Paulo: Blücher, 1999. (traduzido por Elza E.
Gomide, do original A history of mathematics, editado pela John Wiley & Sons, Inc.)
•
COPELAND, KOLLER e MURRIN. Avaliação de empresas valuation: calculando e
gerenciando o valor das empresas. São Paulo: Makron Books, 2000.
•
DAMODARAN, Aswath. Avaliação de investimentos: ferramentas e técnicas para a
determinação do valor de qualquer ativo. Rio de Janeiro: Quality Mark, 1997.
•
KASSAI, et alli. Criando seu próprio negócio. SEBRAE: edição nacional, 1995. Capítulo de
livro organizado pelo professor Sílvio Aparecido dos Santos, FIA/USP & SEBRAE.
•
KASSAI, José Roberto. Aspectos observados na conciliação entre o valor presente líquido
(VPL) e o economic value added (EVA). Tese de doutorado entregue ao departamento de
contabilidade da FEA/USP, 2001, 333p.
•
KASSAI, José Roberto; KASSAI, Sílvia. Balanço perguntado: uma solução para as
pequenas empresas. São Leopoldo/RS: Anais do VIII Congresso Brasileiro de Custos,
2001.
•
KASSAI, José Roberto; KASSAI, Sílvia. Lucro gasoso: uma interpretação do EVA. Artigo
submetido ao Enanpad/2003.
•
KASSAI, José Roberto; KASSAI, Sílvia. Termômetro de crédito: avaliação de propostos de
empréstimos de pequenas empresas junto à Caixa Econômica Federal. São Paulo/SP:
Anais do XIX Congresso Brasileiro de Custos, 2002.
•
KASSAI, José Roberto; KASSAI, Sílvia; NOSSA, Valcemiro. Pequenas empresas: como é
difícil levantar dinheiro. Recife/PE: Anais do VII Congresso Brasileiro de Custos, 2000.
•
KASSAI, José Roberto; KASSAI, Sílvia; SANTOS, Ariovaldo; ASSAF NETO, Alexandre.
Retorno de investimento: abordagem matemática e contábil do lucro empresarial. 2ª
edição, São Paulo: Atlas, 2000.
•
LEITE, Hélio de Paula; SANVICENTE, Antonio Zoratto. Índice bovespa: um padrão para
os investimentos brasileiros. São Paulo: Atlas, 1995.
31
•
MARTELANC, Roy. Passos para avaliação de uma empresa de pequeno porte pelo
método do valor presente do fluxo de caixa contante. São Paulo: IOB, Boletim 46, 1998.
•
NAKAO, Aldo Nobuyuki. Escala hierárquica de risco setorial das pequenas empresas: um
estudo na região da grande Cuibá. Dissertação de mestrado submetida a FEA/USP, 2003.
•
ROSS, Stephen A.; WESTERFIELD, Randolph W.; JAFFE, Jaffe F. Administração
financeira – corporate finance. 3ª edição, São Paulo: Atlas, 1995.
•
SECURATO, José Roberto. Decisões financeiras em condições de risco. São Paulo:
Atlas, 1996.
•
www.nobel.se
•
www.eva.com (site da Stern Stewart & Co. Ltd.), acessado em 2002.
32
Termômetro de Crédito: avaliação de propostas de empréstimos de
pequenas empresas junto a Caixa Econômica Federal
RESUMO:
As dificuldades para a realização de análises de desempenho e resultados das pequenas
empresas, em especial pela inexistência ou carência de algum sistema estruturado de
informações gerenciais, têm sido enfrentadas de diversas formas, a exemplo da figura do balanço
perguntado, uma técnica já divulgada nos anais dos congressos anteriores e, provavelmente, uma
prática iniciada pelas instituições de créditos.
Este trabalho sintetiza uma experiência realizada junto à Caixa Econômica Federal, por iniciativa
das unidades de negócios e colaboração de 25 gerentes de agências da região de Jundiaí/SP,
reunidos para discussão de casos e treinamento gerencial.
A questão levantada estabelecia a hipótese de que a aprovação dos créditos da Caixa Econômica
Federal pudesse levar em conta não apenas os aspectos econômicos e financeiros dos relatórios
contábeis, mas também outros de natureza “política” e ignorados pelas agências locais. Essa
hipótese foi reconhecida parcialmente pelo levantamento de dados efetuado e, após alguns
ajustes, este trabalho apresenta como contribuição à proposição de um Termômetro de Crédito
para avaliação das propostas de financiamentos, nos mesmos moldes do Termômetro de
Insolvência de Kanitz.
Palavras Chaves:
Balanço Perguntado – SIRIC – Termômetro de Crédito
1. Introdução
Este trabalho tem por objetivo relatar a experiência realizada em um treinamento dirigido a
gerentes e profissionais da Caixa Econômica Federal (CEF) em torno do “balanço perguntado”,
uma figura divulgada nos anais dos Congressos anteriores (KASSAI, 2001 e 2000) 1 e referente a
uma técnica de elaboração dos relatórios contábeis por meio de questionários e ajustes de
consistências.
A CEF dispõe de um sistema de avaliação de risco de crédito (SIRIC), alimentado
basicamente pelas informações desse balanço perguntado e a questão levantada pelos gerentes
das agências estabelecia a hipótese de que a aprovação (ou reprovação) das propostas de
créditos pudesse levar em consideração não apenas aspectos econômicos e financeiros, mas,
também, outros de natureza “política” e ignorados por eles.
Essa pesquisa foi conduzida por meio do estudo de casos reais, selecionados
aleatoriamente no banco de dados existente, reunindo um conjunto de propostas que obtiveram a
aprovação dos empréstimos solicitados e, em igual número, de outras que foram recusadas pela
CEF. Como método de investigação adotou-se a análise discriminante e cálculos estatísticos para
analisar a correlação entre os dados imputados e a decisão proferida pelo SIRIC.
Como antítese da suspeita dos gerentes, este trabalho analisa a possibilidade da criação
de uma escala de avaliação de propostas de créditos, nos mesmos moldes do Termômetro de
Insolvência de Kanitz 2 .
2. Sistema de Análise de Risco de Créditos da Caixa Econômica Federal (SIRIC)
Atualmente as propostas de linhas de créditos oferecidas pela Caixa Econômica Federal
passam pelo crivo do sistema de análise de risco (SIRIC) e a atuação do gerente de agência, por
vezes, fica restrita ao preenchimento do balanço perguntado e esse descontentamento é
1
KASSAI, José Roberto & KASSAI, Silvia. Balanço perguntado: uma solução para as pequenas empresas.
Artigo apresentado e constante dos anais do VIII Congresso Brasileiro de Custos, São Leopoldo/RS, 2001.
KASSAI, José Roberto; KASSAI, Silvia; NOSSA, Valcemiro. Pequenas empresas: como é difícil levantar
dinheiro. Trabalho apresentado e constante dos anais do VII Congresso Brasileiro de Custos, Recife/PE,
2000.
2
KANITZ, Stephen Charles. Como prever falência de empresas. Revista EXAME, p. 95-102, dez/1974.
33
compartilhado pela opinião da Federação Nacional das Associações de Pessoal da Caixa
(FENAE), a saber:
“O movimento dos empregados não é contrário a instrumentos de controle nas garantias
das operações. Mas a Caixa não pode engessar as operações, pois todo crédito tem risco.
O processo acaba sendo tão mecânico que o gestor corre o risco de se tornar obsoleto”.
A reclamação não se restringe apenas ao desenvolvimento pessoal e profissional do
corpo funcional da CEF, mas principalmente em relação à perda de capacidade competitiva,
conforme relata outro periódico:
“Uma ferramenta que deveria ser importante instrumento de política gerencial tornou-se
um intransponível limitador à atuação do segmento de ponta da Caixa. A forma como vem
sendo utilizado, o sistema de análise de risco de crédito (SIRIC) reduz a capacidade da
empresa de competir no mercado, em busca de um público que vem sendo disputado a
tapa pela concorrência: o dos pequenos e médios tomadores de empréstimos, incluindo
pequenas empresas... O SIRIC é um terror... já se tornou sinônimo de restrição,
impedimento, marginalização...a migração dos clientes para a concorrência é um
fenômeno que tende a se acentuar. Se lá estão sendo bem avaliados, o mais provável é que
o problema esteja no SIRIC e não na real capacidade dos clientes...” 3
Os gerentes alegam que muitos candidatos com renda suficiente comprovada e sem
impedimento de créditos como protestos, registros em SPC e Serasa, são injustamente
reprovados, sem nenhuma justificativa.
Antes da implantação do sistema atual, as análises eram feitas por meio de planilhas
eletrônicas, o que permitia a realização de simulações, às vezes até com a intenção de “forçar”
uma situação de aprovação. Atualmente, o registro dos dados é realizado em tempo real em
sistema único e não permite a alteração dos dados já cadastrados.
Essas e outras dificuldades estimularam os vinte e cinco gerentes de agências e das
unidades de negócios da região de Jundiaí a realizarem um treinamento que abordasse com
maior profundidade os conceitos contábeis, econômicos e financeiros implícitos no balanço
perguntado, bem como o questionamento da classificação atribuída pelo SIRIC.
3.Estrutura e desenvolvimento da pesquisa
O processo e o desenvolvimento da pesquisa iniciou-se com a discussão dos conceitos
envolvidos nas análises econômicas e financeiras do balanço perguntado, 4 das experiências
relatadas dos participantes na aplicação dos recursos e, em seguida, pediu-se que cada um dos
gerentes selecionasse, de forma aleatória, duas propostas, uma aprovada e outra reprovada pela
Caixa Econômica Federal (SIRIC).
A tabulação dos respectivos balanços perguntados abrangeram as seguintes informações:
COMPM – Compras médias mensais
CREC – Contas a receber
DESPD – Despesas diversas
DISP – Disponível
ESTOQ – Estoques
FAV – Faturamento médio à vista
FORN – Fornecedores
IMOB – Imobilizado
IMPOS – tributos e contribuições
PMPC – Prazo médio de pagamento das compras (em dias)
3
www.fenae.org.br - FENAE NOTÍCIAS – ano 30 nº 122 de novembro de 2001.
4
Maior aprofundamento, vide KASSAI, Op. Cit, 2001.
34
PMRV – Prazo médio de recebimento das vendas (em dias)
VENDM – Vendas médias mensais
Seguindo este então, e após a depuração dos dados e a omissão do nome das pequenas
empresas por razões óbvias, chegou-se a seguinte tabela:
Figura 1 - Tabulação dos dados do Balanço Perguntado
(Valores em Milhares de R$)
EMPRESA
RESULTADO
DADOS DE ENTRADA DO BALANÇO PERGUNTADO
nº
Setor
FAV
DISP
VENDM
FORN
COMPM
IMPOS
DESPD
Empresa-01
Com.
69
15
146
60
80
13
24
DO SIRIC
Empresa-02
Com.
38
3
102
28
70
7
7
Aprovado
Empresa-03
Com.
12
70
75
33
40
3
23
Aprovado
Empresa-04
Com.
26
5
29
18
15
0
3
Aprovado
Empresa-05
Com.
26
2
40
18
25
1
5
Aprovado
Empresa-06
Com.
13
2
55
30
40
1
7
Aprovado
Empresa-07
Com.
47
30
99
12
47
3
14
Aprovado
Empresa-08
Com.
67
71
100
75
60
7
9
Aprovado
Empresa-09
Com.
39
105
96
47
51
7
16
Aprovado
Empresa-10
Ind.
28
0
63
20
28
3
12
Aprovado
Empresa-11
Ind.
16
105
70
20
40
6
15
Aprovado
Empresa-12
Ind.
27
13
63
16
30
3
13
Aprovado
Empresa-13
Ind.
82
2
135
60
60
8
26
Aprovado
Empresa-14
Serv.
12
18
40
2
13
4
12
Aprovado
Empresa-15
Serv.
31
3
57
8
13
4
20
Aprovado
Empresa-16
Serv.
13
6
30
0
14
1
6
Aprovado
Empresa-17
Com.
3
6
42
8
18
0
13
Reprovado
Empresa-18
Com.
35
30
300
0
200
4
17
Reprovado
Empresa-19
Com.
4
3
12
2
6
0
3
Reprovado
Empresa-20
Com.
4
0
27
9
17
1
5
Reprovado
Empresa-21
Com.
3
0
38
10
25
0
4
Reprovado
Empresa-22
Com.
3
6
10
6
5
0
1
Reprovado
Empresa-23
Com.
65
0
95
83
50
7
15
Reprovado
Empresa-24
Com.
1
0
17
2
8
0
4
Reprovado
Empresa-25
Com.
9
4
26
9
10
1
7
Reprovado
Empresa-26
Com.
3
1
9
3
3
0
1
Reprovado
Empresa-27
Com.
5
4
28
4
10
1
9
Reprovado
Empresa-28
Com.
9
7
47
22
20
1
10
Reprovado
Empresa-29
Com.
9
15
150
20
100
2
10
Reprovado
Empresa-30
Com.
8
3
69
26
45
2
5
Reprovado
Aprovado
Empresa-31
Ind.
10
4
45
2
13
4
17
Reprovado
Empresa-32
Serv.
15
2
37
3
9
0
14
Reprovado
0.52
0.40
0.14
0.34
0.07
0.48
0.36
Correlação
1.00
Para atingir os objetivos propostos, utilizar-se-á a análise discriminante por meio de
cálculos de regressões matemáticas constantes da planilha Excel da Microsoft, nos mesmos
moldes apresentados por KASSAI em seu trabalho “Desvendando o Termômetro de Insolvência
de Kanitz), 5 que consiste nos seguintes passos:
1) Obter os dados e montar o problema.
2) Efetuar cálculos de regressão linear e definir a equação discriminante.
3) Construir uma coluna chamada escore discriminante e calcular o ponto de corte.
4) Analisar o grau de precisão do modelo.
5) Construir o termômetro de crédito.
5
KASSAI, José Roberto & KASSAI, Silvia. Desvendando o termômetro de insolvência de Kanitz. Trabalho
apresentado no ENANPAD, Foz do Iguaçu/PR, 1998.
35
Para efetuar os cálculos de regressão linear, é necessário converter os dados não numéricos
da coluna “Resultado do SIRIC” em números e, nesse caso, adotou-se 1 para as empresas
classificadas como reprovadas e 2 para as aprovadas.
Ao clicar a tecla OK, os cálculos da regressão linear são apresentados a seguir:
RESUMO DOS RESULTADOS
Estatística de regressão
R múltiplo
0.78
R-Quadrado
0.60
Observações
32
Coeficientes
Interseção
1.290489
FAV
0.040459
DISP
0.006300
VENDM
-0.050605
FORN
-0.020466
COMPM
0.062157
IMPOS
-0.013864
DESPD
0.072143
O grau de significância da reta de regressão linear é explicado pelo R2 ou R-Quadrado e,
como se pode ver, a equação resultante envolve apenas 60% das empresas. 6 Isso justificaria o
questionamento dos gerentes?
Sem o propósito de esgotar as alternativas de tratamento dos dados, ou de formular um
modelo 100% eficaz, segue-se com os procedimentos que poderão contribuir para a obtenção de
6
Após algumas tentativas, esse foi o melhor resultado. Na formatação original dos dados dos balanços
perguntados, o R2 situava-se próximo a 30%;
36
modelos cada vez mais aprimorados. Veja, então, a função discriminante a partir dos coeficientes
da equação linear:
Y = 1.290489 + 0.040459FAV + 0.0063DISP – 0.050605VENDM – 0.020466FORN +
0.062157COMPM – 0.013864IMPOS + 0.072143DESPD
O terceiro passo indica o cálculo da função discriminante (escore), identificada acima,
para cada uma das empresas, a saber:
Cálculo do Score Discriminante
(Valores em Milhares de R$)
EMPRESA
DADOS DE ENTRADA DO BALANÇO PERGUNTADO
FAV
DISP
VENDM
FORN
RESULTADO
ESCORE
DO SIRIC
DISCRIM
24
2
2.08
7
2
1.91
3
23
2
1.87
0
3
2
1.71
5
2
1.84
7
2
1.36
14
2
1.98
7
9
2
2.12
7
16
2
1.94
28
3
12
2
1.39
40
6
15
2
2.16
13
2
1.67
26
2
2.01
nº
Setor
COMPM
IMPOS
DESPD
Empresa-01
Com.
69
15
146
60
80
13
Empresa-02
Com.
38
3
102
28
70
7
Empresa-03
Com.
12
70
75
33
40
Empresa-04
Com.
26
5
29
18
15
Empresa-05
Com.
26
2
40
18
25
1
Empresa-06
Com.
13
2
55
30
40
1
Empresa-07
Com.
47
30
99
12
47
3
Empresa-08
Com.
67
71
100
75
60
Empresa-09
Com.
39
105
96
47
51
Empresa-10
Ind.
28
0
63
20
Empresa-11
Ind.
16
105
70
20
Empresa-12
Ind.
27
13
63
16
30
3
Empresa-13
Ind.
82
2
135
60
60
8
Empresa-14
Serv.
12
18
40
2
13
4
12
2
1.46
Empresa-15
Serv.
31
3
57
8
13
4
20
2
1.70
Empresa-16
Serv.
13
6
30
0
14
1
6
2
1.64
Empresa-17
Com.
3
6
42
8
18
0
13
1
1.18
Empresa-18
Com.
35
30
300
0
200
4
17
1
1.32
Empresa-19
Com.
4
3
12
2
6
0
3
1
1.38
Empresa-20
Com.
4
0
27
9
17
1
5
1
1.29
Empresa-21
Com.
3
0
38
10
25
0
4
1
1.13
Empresa-22
Com.
3
6
10
6
5
0
1
1
1.24
Empresa-23
Com.
65
0
95
83
50
7
15
1
1.51
Empresa-24
Com.
1
0
17
2
8
0
4
1
1.22
Empresa-25
Com.
9
4
26
9
10
1
7
1
1.27
Empresa-26
Com.
3
1
9
3
3
0
1
1
1.21
Empresa-27
Com.
5
4
28
4
10
1
9
1
1.25
Empresa-28
Com.
9
7
47
22
20
1
10
1
0.80
Empresa-29
Com.
9
15
150
20
100
2
10
1
0.62
Empresa-30
Com.
8
3
69
26
45
2
5
1
0.83
Empresa-31
Ind.
10
4
45
2
13
4
17
1
1.35
Empresa-32
Serv.
15
2
37
3
9
0
14
1
1.56
O ponto de corte pode ser obtido pela média das médias dos escores discriminantes de
todas as empresas, a saber:
Resultados dos Escores Discriminantes:
Média do grupo 2
Média do grupo 1
Média das médias (ponto de corte)
1.80
1.20
1.50
0.25
0.25
Desvio-padrão do grupo 1
Desvio-padrão do grupo 2
37
Este ponto segrega as empresas em dois grupos: aprovados e reprovados.
O quarto passo consiste na análise do grau de precisão e, como pode ser constatado no
quadro anterior, o modelo classificou incorretamente 5 empresas. Então,
GRAU DE PRECISÃO =
27
= 84.4%
32
Para um modelo preditivo, 84.4% de grau de precisão é bastante razoável, visto que nem
o modelo de previsão de insolvência de Kanitz apresentava tal eficácia.
Assim, o quinto passo e etapa final, consiste no desenho do “termômetro” de crédito, para
análise de risco ou probabilidade de uma pequena empresa obter um empréstimo junto a Caixa
Econômica Federal, ou transpor as barreiras do “temido” SIRIC. Acompanhe.
reprovados
0.95
1.2
aprovados
1.45
1.55
1.8
2.05
Findas as etapas desta pesquisa, apresenta-se no tópico seguinte o termômetro de
crédito para avaliação de propostas de obtenção de linhas de crédito junto a Caixa Econômica
Federal e sua interpretação.
4. O Termômetro de Crédito para avaliação de propostas da CEF
Nos mesmos moldes do modelo de Kanitz, pode-se desenhar um termômetro
representativo do modelo proposto, a saber:
Termômetro de Crédito
2.05
1.55
1.45
0.95
Portanto, o modelo consiste na aplicação da fórmula, apresentada anteriormente, sobre os
dados obtidos do balanço perguntado de uma empresa que supostamente estaria pleiteando uma
nova linha de crédito.
Y = 1.290489 + 0.040459FAV + 0.0063DISP – 0.050605VENDM – 0.020466FORN +
0.062157COMPM – 0.013864IMPOS + 0.072143DESPD
Onde: Y = Fator de Crédito
38
FAV = faturamento médio à vista
DISP = Disponível
VENDAM = Vendas médias mensais
FORN = Fornecedores
COMPM = Compras médias mensais
IMPOS = Tributos e contribuições
DESPD = Despesas diversas
Após o cálculo do Fator de Crédito (Y), a identificação nas áreas correspondentes indica a
probabilidade de obtenção daqueles recursos ($). A área verde (superior) indica que há grandes
probabilidades de aprovação do empréstimo; a área vermelha (inferior) indica que a proposta
deverá ser reprovada. A área cinza (intermediária) corresponde à classificação simultânea de
ambos os grupos e, estatisticamente, significa que não há bases para qualquer análise e, a
exemplo de Kanitz, pode ser denominada também de penumbra. A classificação de uma proposta
nesta área não permite afirmar que seja aprovada, tampouco reprovada.
As outras informações constantes do balanço perguntado, que não são identificadas no
modelo, foram excluídas por não apresentarem correlação significativa com a classificação do
SIRIC e, nas simulações dos cálculos de regressão, os coeficientes apresentavam-se
insignificantes.
5. Conclusões
A questão estabelecida no início desta pesquisa, de certa forma, foi confirmada, pois o
grau de significância da reta de regressão linear, representado pelo coeficiente de correlação
elevado ao quadrado apresentou-se relativo baixo (0,60), ao final das simulações. 7
Observou-se, também, que as análises discutidas durante o treinamento e constante das
referências mencionadas, como o cálculo do custo médio ponderado de capital (WACC), da taxa
de retorno de investimento (ROI) e do spread entre esses (RROI), seriam muito mais informativas
do que as análises constantes do sistema tradicional da CEF.
Como contribuição adicional deste trabalho, propôs-se um Termômetro de Crédito que
pudesse ser utilizado pelos gerentes, sem grandes esforços de análises, e possibilitasse saber,
com antecedência, o resultado da avaliação do SIRIC. Sem dúvida, trata-se de um modelo
preditivo, e um incentivo ao uso de métodos quantitativos.
Obviamente, tal modelo tem suas restrições e, apesar de poder ser ainda melhorado, com
a obtenção de novos dados, simulações de novas propostas, acompanhamento nas agências
durante certo tempo, aplicação em outras instituições de créditos, utilização de outras ferramentas
estatísticas etc, é importante ressaltar que se trata de uma técnica probabilística, direcionada para
adivinhar o que pode ocorrer no futuro. E o futuro, a Deus pertence. Mas, certamente, desprezar a
indicação desses modelos, é ignorar o grau de risco envolvido.
6. Bibliografia
KANITZ, Stephen Charles. Como prever a falência de empresas. Revista EXAME, 1974.
KASSAI, José Roberto & KASSAI, Silvia. Balanço perguntado: uma solução para as
pequenas empresas. Artigo apresentado e constante dos anais do VIII Congresso
Brasileiro de Custos, São Leopoldo/RS, 2001.
KASSAI, José Roberto & KASSAI, Silvia. Desvendando o termômetro de insolvência de
Kanitz. Artigo apresentado no ENANPAD de Foz do Iguaçu/PR, 1998.
7
Durante o treinamento mencionado, um dos participantes perguntou o significado do R2 e por que estaria
tão baixo nas simulações iniciais (0.3). Depois das explicações, a de que, estatisticamente, o balanço
perguntado não fosse suficientemente capaz de explicar a decisão do SIRIC... a classe caiu em gargalhadas!
“quer dizer que eu investi o meu dinheiro e tempo neste curso, para ouvir o que já sabia!!!”
39
KASSAI, José Roberto. Aspectos observados na conciliação entre os métodos valor
presente líquido (VPL) e economic value added (EVA). Tese de doutorado apresentado ao
Departamento de Contabilidade da FEA/USP, 2001.
KASSAI, José Roberto; KASSAI, Silvia et. alli. Criando seu próprio negócio. SEBRAE:
edição nacional, 1995. capítulo de livro organizado pela FIA/USP e Sebrae.
KASSAI, José Roberto; KASSAI, Silvia; NOSSA, Valcemiro. Pequenas empresas: como é
difícil levantar dinheiro. Artigo apresentado e constante dos anais do VII Congresso
Brasileiro de Custos, Recife/PE, 2000.
KASSAI, José Roberto; KASSAI, Silvia; SANTOS, Ariovaldo; ASSAF NETO, Alexandre.
Retorno de investimento – abordagem matemática e contábil do lucro empresarial. 2ª.
Edição, São Paulo: Atlas, 2000.
KASSAI, Sílvia. A contabilidade e as empresas de pequeno porte. Dissertação de
mestrado entregue ao Departamento de Contabilidade da FEA/USP, 1996.
www.fenae.org.br - FENAE NOTÍCIAS – ano 31 nº 125 de abril de 2002 – ano 30 nº 122
de novembro de 2001.
40
Balanço perguntado: uma solução para as pequenas empresas
RESUMO:
A inexistência de uma contabilidade estruturada para elaborar relatórios contábeis adequados tem
sido uma dificuldade encontrada pelas pequenas empresas, tanto na obtenção de recursos para
financiamento de seus investimentos como no processo de gestão econômica das atividades.
Este artigo propõe uma metodologia para elaboração desses relatórios, denominada de “balanço
perguntado”. Trata-se de uma metodologia para o levantamento das informações por meio de um
questionário previamente elaborado e que permite diagnosticar a situação econômica e financeira
de uma determinada empresa, servindo também como instrumento de planejamento empresarial.
PALAVRAS CHAVES:
Balanço Perguntado – Balanço Inventariado – Diagnóstico Econômico e Financeiro – Pequenas
Empresas – RROI – EVA – MVA – Valor da Empresa.
1. INTRODUÇÃO
A tarefa de “levantar dinheiro” junto às instituições financeiras enfrentada pelas micro e
pequenas empresas tem sido uma missão difícil, como já foi abordado em trabalhos anteriores. 8
As principais causas apontadas giram em torno das elevadas taxas de juros praticadas na
economia brasileira e da inexistência de uma contabilidade devidamente estruturada para gerar as
informações necessárias para facilitar o processo de captação de recursos financeiros e,
obviamente, também para minimizar o custo desse capital, pois é diretamente proporcional ao
nível de risco identificado nas análises.
No exterior é comum o gerente de um banco especializar-se em determinado segmento
de pequenas empresas e servir como consultor e conselheiro para que financie suas atividades,
tendo algumas instituições desenvolvido inclusive softwares de apoios para essa finalidade. No
Brasil, essa prática começa a aparecer a exemplo das planilhas utilizadas pela Caixa Econômica
Federal.
O objetivo deste artigo é justamente abordar uma metodologia alternativa para a
elaboração de análises contábeis e financeiras, denominada de balanço perguntado e prestar-se
não apenas para o financiamento dos investimentos, mas também para auxiliar no processo de
gestão econômica das empresas pequenas.
2. BALANÇO PERGUNTADO
Balanço perguntado é uma prática existente no mercado e surgiu, provavelmente, da
constatação de que os relatórios contábeis apresentados por uma micro e pequena empresa
pudessem não espelhar a sua realidade.
A suspeita inicial é de que essa divergência estivesse relacionada com os atos de
sonegação fiscal ou dos meios ilícitos de não pagamento de impostos. Não é objetivo discutir
neste trabalho os aspectos éticos dessa situação, 9 mas tem-se a opinião de que é uma prática
generalizada e, em alguns casos, até como um “fator crítico de sucesso” das pequenas empresas.
Alguém, em algum dia, começou a sonegar. Mas ao invés de guardar o produto deste ato
nos bancos da Suíça, resolveu baixar os preços e começou a vender mais que os seus
concorrentes. Outro concorrente, obedecendo às forças de mercado, também passou a adotar a
mesma “estratégia”, até que aquele determinado setor estivesse complemente prostituído. Hoje,
depois de 30 anos, por exemplo, e de toda uma vida de trabalho árduo dedicado a sua empresa,
sente-se traído; o consumidor é que supostamente ficou com o “produto” e restam-lhe apenas a
“culpa” e o risco de um dia ser incriminado.
8
KASSAI, Sílvia; KASSAI, José Roberto Kassai; NOSSA, Valcemiro. Pequenas empresas – como é difícil
levantar dinheiro. Recife/PE: Anais do VII Congresso Brasileiro de Custos, 2000.
9
Nem sempre os atos considerados legais são também morais e, em algumas situações, um ato ilegal pode
não estar em desacordo com o senso moral. Nesse contexto, os conceitos de ética, de elisão versus evasão,
dividem-se entre as práticas de convicção e de responsabilidade social e parecem justificar os chamados
planejamentos tributários.
41
Não obstante a essa fragilidade dos números apresentados nos relatórios contábeis,
quando esses existem, o balanço perguntado justifica-se por meio de outros argumentos, pois
mesmos os relatórios contábeis elaborados dentro dos princípios éticos e também de acordo com
as normais contábeis e societárias, podem não expressar a realidade dos negócios. 10
Assim, o balanço inventariado, outra atribuição que pode ser dada ao balanço perguntado,
pelo fato de ser levantado diretamente das transações e do testemunho do dono da empresa,
permite que sejam adotados critérios simples e objetivos, e os mais próximos possíveis da
realidade econômica da empresa. Rompe-se a rigidez dos princípios fundamentais de
contabilidade, usa-se preço de reposição, por exemplo, e, certamente, o respondente estará
obrigado a pensar “pra frente”, visualizando o futuro e uma estrutura ideal para seus negócios.
É um processo de planejamento empresarial e tanto o respondente como o questionador
estão fortemente envolvidos na elaboração desse diagnóstico empresarial. O balanço perguntado,
portanto, é um método que pode ser utilizado para a elaboração de relatórios contábeis, por meio
de um questionário previamente elaborado, visando análises econômicas e financeiras.
No trabalho mencionado anteriormente, 11 exemplificou-se um questionário adotado pela
Caixa Econômica Federal. Naquele caso, a entidade estabelece um sistema de pontuação de
ranking, com objetivo de analisar propostas de linhas especiais de crédito para empresas de
pequeno porte.
Neste trabalho, não se pretende explicitar as questões que deverão ser inseridas
previamente no questionário, mas discutir alguns aspectos que poderão determinar uma
metodologia. E, se não bastassem as características e experiências individuais de cada consultor,
o diagnóstico pretendido envolve o futuro, a incerteza e o risco temporal.
Se o questionador é um gerente de banco, por exemplo, e o respondente do questionário
é o próprio dono, após um período de relacionamento profissional e de “amizade”, ambos já estão
convencidos da viabilidade econômica da empresa e buscam, em verdade, números que
confirmem seus sentimentos.
Assim, propõe-se não desprezar o bom senso das pessoas envolvidas, acreditar e,
também, averiguar o grau de honestidade das informações prestadas (testes de consistências) e
buscar a fluência dos conceitos envolvidos.
A metodologia proposta resume-se na elaboração de questões que possibilitem, entre
outras, nas análises de retorno de investimento da empresa, aqui considerado como um estágio
intermediário do processo de análises de balanço.
3. ANÁLISES DE RETORNO DE INVESTIMENTO
O modelo proposto distingue o processo de análises de balanços, aplicável à realidade
brasileira, em três estágios: inicial, intermediário e avançado.
No estágio inicial, abordam-se as técnicas tradicionais de análises percentuais
(horizontal, vertical e ponderada) e por meio de indicadores ou quocientes de análises de balanço
(liquidez, endividamento, estrutura, rentabilidade, etc.). 12
No estágio intermediário, considerado fundamental por estes autores, identifica a
capacidade de gerar riqueza do empreendimento, entendida neste trabalho como análises de
retorno de investimento. Trata-se basicamente de identificar a genuína taxa de retorno operacional
da empresa e confrontá-la com o seu custo de capital.
O return on investiment (ROI) é a ferramenta eleita como a genuína taxa de retorno de
investimento empresarial e o custo de capital do empreendimento é estabelecido pelo weighted
10
A exemplo das avaliações de empresas que consideram, principalmente, outras informações obtidas por
meio de processos de simulações e análises de sensibilidade relacionados com cenários futuros; e não
simplesmente os balanços contábeis.
11
KASSAI; KASSAI; NOSSA, op. cit.
12
Mais informações, consulte KASSAI, José Roberto. Aspectos observados na conciliação entre os métodos
VPL e EVA; item 2.3- Principais métodos contábeis de análises de balanço. Tese de doutorado entregue ao
departamento de contabilidade da FEA/USP, 2001.
42
average cost of capital (WACC). O spread entre o ROI menos o WACC é denominado de residual
return on investment (RROI) e, quando positivo, indica que a empresa está agregando valor.
O aumento da riqueza, ou a agregação de valor referida, pode ser medida pelo economic
value added (EVA), apurado simplesmente pela multiplicação do RROI vezes o montante de
investimentos do respectivo empreendimento.
Em se considerando as análises para a situação ideal e conservadora da empresa, o valor
presente do potencial de riqueza futura (EVA), a uma taxa de desconto pelo seu custo de capital
(WACC), é interpretado como market value added (MVA), ou goodwill. Ao somarmos esse valor
excedente (goodwill) ao investimento inicial, obtém-se o valor da empresa (market value).
Assim, se uma empresa apresenta RROI positivo, significa que é um empreendimento que
gera riqueza, que agrega valor e, simplesmente, viável economicamente. Portanto, vale mais, ou
muito mais, do que o montante que o seu proprietário investiu (ágio).
As técnicas classificadas como estágio inicial podem vir a complementar as referidas
como estágio intermediário, mas, se aplicadas isoladamente e sem as análises de retorno de
investimento, tem-se a opinião de que, às vezes, pode até confundir ou iludir as interpretações.
Finalmente, o estágio avançado de análise de balanço é considerado, aqui, como um
sistema estruturado e que, por si só, emite uma opinião final sobre a situação analisada.
Geralmente utilizam-se recursos de cálculos matemáticos e estatísticos e, primordialmente, de
processamento eletrônico de dados (análises discriminantes, redes neurais, análises por
envoltória de dados – DEA etc.) 13
4. CONCEITOS E TERMINOLOGIAS
Para ordenar didaticamente a metodologia proposta na elaboração do balanço
perguntado, faz-se a seguir breves comentários dos principais conceitos e terminologias
implícitos.
BETA: é um índice que mede o nível de risco sistemático, ou não diversificável, de um
determinado título ou empresa em relação a um mercado como um todo. Se for maior (menor)
do que a unidade, possui um grau de risco maior (menor) do que o mercado. Pode ser
apurado pela razão entre os desvios-padrão da empresa e do mercado, multiplicado pela
índice de correlação entre eles.
Capital: é o suposto valor investido até o momento pelos proprietários da empresa, em moeda
de poder aquisitivo constante. Pode ser apurado pelos registros históricos da empresa
(contabilidade), ou simplesmente pela diferença entre o total do ativo menos o passivo antes
dessa conta. Nesse caso, o capital representa os investimentos dos sócios até o momento
mais (ou menos) os lucros (prejuízos) retidos.
CAPM: capital assets pricing models, é um modelo econômico desenvolvido por Willian
Sharpe (1964), com base nos estudos de Harry Markowitz (1952), que analisa
simultaneamente as variáveis risco e retorno de um investimento. Tem sido adotado como
alternativa do cálculo do custo de capital próprio (Ke). É dado pela fórmula Ri = RF +β(RM RF), onde Ri é o retorno mínimo exigido, RF é a taxa livre de risco, RM é a taxa de retorno do
mercado e o β é o coeficiente beta, que representa o risco sistemático.
Contas a pagar: é o montante das contas a pagar estimado em função da estrutura de custos
e dos prazos de pagamentos (PMPC).
Disponíveis: inventário dos valores em dinheiro da empresa (e também dos sócios),
disponíveis no caixa, bancos ou em aplicações financeiras e considerados os montantes
ideais e necessários para o desempenho das atividades da empresa.
Estoques: é o montante de estoques da empresa, preferencialmente avaliado a preços de
reposição.
13
Mais informações consulte: (1) KASSAI, Sílvia. Análises por envoltória de dados aplicadas na
contabilidade. Tese de doutorado entregue ao departamento de contabilidade da FEA/USP, 2001; (2)
KASSAI, José Roberto; KASSAI, Sílvia. Desvendando o termômetro de insolvência de Kanitz. Foz do
Iguaçu/PR: Anais do ENANPAD/1998.
43
EVA – formulação contábil do LL: cálculo do EVA deduzindo-se do lucro líquido (LL) o
montante relativo à remuneração do capital próprio. Isso é possível pelo fato de já estar
computado no LL a remuneração do capital de terceiros.
EVA – formulação contábil do LO: cálculo do EVA deduzindo-se do lucro operacional
(NOPLAT) as parcelas de remuneração do capital de terceiros e do capital próprio.
EVA – formulação financeira do RROI: cálculo do EVA aplicando-se o percentual do residual
return on investment (RROI) sobre o montante dos investimentos (total capital).
EVA – formulação financeira do WACC: cálculo tradicional do EVA deduzindo-se do lucro
operacional (NOPLAT) a parcela resultante do weight average cost of capital (WACC) sobre o
montante dos investimentos (total capital).
EVA (economic value added): é uma marca registrada nos EUA, no Brasil e em outros países,
de propriedade da empresa de consultoria Stern Stewart & Co., adotada como conceito de
valor econômico agregado e, também, como um sistema amplo de gestão de empresas
baseada nesse conceito.
Quadro de dívidas da empresa/sócios: é o montante dos financiamentos onerosos obtidos
para financiar os investimentos e capital de giro da empresa, avaliado pelo valor atual da
dívida, ou seja, acrescido dos juros devidos até o momento.
Goodwill: para fins deste artigo, adota-se a definição de goodwill nos mesmos moldes
implícitos no conceito de market value added (MVA). É apurado a partir do valor de mercado
(market value) menos o montante dos investimentos (total capital) de uma companhia. Por
medida de simplificação, tem-se utilizado o custo contábil dos ativos em substituição ao
respectivo custo de reposição.
Imobilizado: é o valor atual dos bens e direitos utilizados no processo produtivo, tais como
imóveis, equipamentos, veículos etc., preferencialmente avaliados a valores de mercado.
Impostos: tributos incidentes sobre o faturamento, tais como ICMS, Pis, Cofins, ISS etc.
Investimentos: é o montante do investimento total de uma companhia, relacionado com os
ativos necessários para o desempenho de sua atividade operacional. Difere do conceito
tradicional de total de ativo, pois este acumula itens não operacionais ou ainda não
destinados. Pode ser apurado a partir do total do ativo menos os passivos não onerosos ou de
funcionamentos e eventuais ativos considerados não operacionais.
Lucro operacional: É o resultado genuíno atribuído à atividade principal de uma empresa, aqui
considerado antes dos efeitos provocados pela estrutura de financiamento de seus
investimentos, e em consonância com o termo em inglês net operating less adjusted taxes
(NOPLAT).
Market value: é o valor de mercado de uma companhia, representado pelo somatório do
montante de seus investimentos (total capital) mais o goodwill. É obtido, geralmente,
computando-se o valor atual do capital de terceiros mais o valor do patrimônio líquido avaliado
pelo número de ações e das respectiva cotação no mercado de capitais (stock prices).
MVA (market value added): é uma marca registrada nos EUA, no Brasil e em outros países,
de propriedade da empresa de consultoria Stern Stewart & Co. Representa, segundo seus
autores, o próprio goodwill da companhia, obtido deduzindo-se de seu valor de mercado
(market value) o respectivo montante dos investimentos (total capital).
NOPLAT (net operating profit less adjusted taxes): é o conceito genuíno de lucro operacional,
considerado o resultado de uma empresa sem o efeito das despesas financeiras e deduzido
pelo imposto de renda proporcional. É o mesmo valor apurado pela multiplicação do earnings
before interest and taxes (EBIT) pela expressão (1 – alíquota de imposto de renda).
Outras obrigações: provisões do montante das obrigações normais da empresa, tais como
impostos, salários e encargos, pró-labore, contas a pagar, aluguéis, água, luz e telefone etc.
PMPC: prazo médio de pagamento das compras (em dias), ou prazo de pagamentos. O ciclo
de caixa da empresa é determinado pelo ciclo operacional (PMRE + PMRV) menos o prazo de
pagamento (PMPC). Se o ciclo de caixa é favorável, significa que a empresa está recebendo
antes de pagar.
44
PMRE: prazo médio de renovação dos estoques (em dias), ou simplesmente prazo de
estocagem.
PMRV: prazo médio de recebimento das vendas (em dias), ou simplesmente prazo de vendas.
O ciclo operacional da empresa compreende os prazos de estocagem (PMRE) mais o prazo
de vendas (PMRV).
ROI (return on investment): é a taxa de retorno genuína da empresa, atribuída à sua
capacidade geradora de resultados, independente de sua estrutura de financiamento. É obtido
pela divisão do lucro operacional (NOPLAT) pelo respectivo valor do investimento (total
capital).
RROI (residual ROI): É o spread entre a taxa de retorno de uma empresa (ROI) menos o seu
respectivo custo de capital (WACC).
Valores a receber: é a estimativa das vendas ainda não recebidas, calculadas em função do
valor médio de faturamento e dos prazos de vendas (PMRV).
WACC (weighted average cost of capital): custo médio ponderado de capital, ou,
simplesmente, custo de capital. Representa o custo de oportunidade da empresa obtido pela
ponderação dos custos do capitais próprio (Ke) e de terceiros (Ki) com as respectivas
participações no total de capital (passivo + patrimônio líquido).
5. EXEMPLO DE UM QUESTIONÁRIO PREVIAMENTE ELABORADO
Algumas instituições de créditos para pequenas empresas e órgãos ligados ao Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), destacam os seguintes itens sob a
forma de um balanço perguntado, a saber:
Dados cadastrais: nome, CGC, garantias reais, certidões negativas, idade da empresa ou
do negócio, árvore genealógica, sua missão, imagem no mercado, clientes em carteira,
produtos e serviços, quantidade de empregados, registros públicos, alvarás de
funcionamentos etc.
Dados econômicos e financeiros: disponibilidades da empresa e dos sócios, saldo atual e
saldo médio de contas a receber, faturamento nos últimos meses, tributos incidentes
diretamente sobre as vendas, prazo de vendas, valor do estoque atual e de anos
anteriores, investimentos em outras sociedades, imobilizado e bens em uso na atividade,
participação das vendas à vista e a prazo, prazo de pagamentos, adiantamentos de
clientes, obrigações fiscais e encargos trabalhistas, folha de pagamento, despesas gerais
e administrativas, serviços de terceiros, aluguéis, receitas e despesas financeiras etc.
Quadro das dívidas da empresa/sócio: capital de giro, contas garantidas e cheques
especiais, leasing, financiamento de veículos, parcelamento de tributos etc., bem como
detalhamentos de valor, prazos de vencimento, taxas de juros, provisões e
comprometimentos mensais etc.
Perspectivas do negócio a médio e longo prazo: visão do dono da empresa sobre o futuro
de seu empreendimento, pontos fortes e fracos, principais dificuldades e ameaças,
histórico e trajetória de seus concorrentes diretos, etc.
Profissionais não fluentes em contabilidade, ou que não dominam a linguagem econômica
e financeira dos negócios, eventualmente, podem estranhar o significado de algumas questões.
Por exemplo, para que servem as informações de prazos de estocagem, de vendas e de
pagamentos?
Esses números de dias são importantes para dimensionar o capital de giro da empresa,
bem como checar a consistência desses dados. O investimento operacional do empreendimento
consiste não apenas do conjunto de bens em uso (capital fixo), mas também dessa parcela
necessária para que o ciclo operacional flua com normalidade. Se o ciclo de caixa é desfavorável,
por exemplo, a empresa precisará de mais capital de giro para financiar seus clientes; em caso
contrário, quando o ciclo de caixa é favorável, parte dos investimentos necessários estará sendo
financiada por seus fornecedores. Muitas vezes, consegue-se equacionar as quebras de caixa e
as necessidades de capital de giro, simplesmente equacionando-se esses prazos.
Outra dúvida sobre a eficácia desses questionários é em torno da veracidade dos dados
informados e como proceder a uma checagem de consistência? Não há uma fórmula mágica, o
45
feeling do analista e seu bom senso não devem ser desprezados e, nesse segmento, onde o grau
de mortalidade das pequenas empresas é elevado, o simples fato da empresa ter sobrevivido até
o momento é, sem dúvida, uma informação relevante.
Naturalmente que a checagem de consistência deve ser feita e, apesar dos comentários
anteriores, a própria estrutura contábil permite verificar se os números são ou não absurdos;
afinal, o ativo tem que “bater” com o passivo!. O total do ativo deve ter uma relação com a
estrutura de investimentos, o capital circulante líquido deve ser coerente com os prazos
informados, a margem de lucro apurada deve ser compatível com o histórico das retiradas e prólabore e as taxas de retorno apuradas tem como referência as taxas praticadas no mercado
financeiro e de capitais.
Geralmente, diante de uma empresa de pequeno porte “madura”, com idade superior a
dez anos, eventuais problemas financeiros são decorrentes ou da falta de controles gerenciais, ou
de novas ameaças relacionadas com o futuro e missão do empreendimento. No primeiro caso, a
simples realização do diagnóstico econômico pode sinalizar as soluções; no caso mais grave, as
posturas do questionador, respondente e analista podem servir como um processo de
planejamento econômico e estratégico.
Finalizando, tem-se a opinião de que um questionário bem elaborado não depende da
quantidade de perguntas, mas sim a qualidade das mesmas. A metodologia proposta neste artigo,
como já foi dito, baseia-se na identificação da capacidade de gerar riquezas do empreendimento,
por meio das análises de retorno de investimentos.
5. UM EXEMPLO PRÁTICO: O CASO DA CIA. PIKACHU
Para exemplificar a metodologia proposta, desenvolveu-se um exemplo numérico com as
simplificações necessárias para uma exposição didática. Após a tabulação dos dados de um
suposto questionário, a Cia. Pikachu apresentou o seguinte balanço perguntado:
Balanço Patrimonial da Cia. Pikachu
Ativo
Passivo
Circulante
Circulante
Caixa
1 000
Fornecedores
20 000
A receber
Pessoal
Estoques
10 000
Impostos
Financiamentos
31 000
Outros
24 000
1 600
1 500
13 000
900
41 000
Imobilizado
Móveis e Utensílios
Equipamentos
Veículos
12 000
13 000
25 000
Total
81 000
Patrimônio Líquido
Capital Social
Lucros Retidos
Total
40 000
81 000
Demonstração de Resultados
da Cia. Pikachu
Faturamento
50 000 100.0%
(-) Impostos
(10 825) -21.7%
(30 000) -60.0%
(-) Compras Mercadorias
18.4%
Margem de Contribuição
9 175
(-) Despesas Pessoal
(-) Despesas Gerais
(-) Outras Despesas
(-) Depreciações
Lucro operacional
(-) Despesas financeiras
Lucro líquido
(1 600)
(3 800)
(1 500)
417
2 692
-3.2%
-7.6%
-3.0%
0.8%
5.4%
(260)
2 432
-0.5%
4.9%
As análises tradicionais de balanço, tratadas neste artigo como de estágio inicial,
evidenciam as seguintes análises.
PMRE
PMRV
Ciclo operacional
PMPC
Ciclo de caixa
LC
Endividamento
Garantia CP ao CT
10 dias
12 dias
22 dias
24 dias
2 dias
0.76
0.51
0.98
O índice de liquidez corrente é menor do um e, ao contrário do que a literatura em geral de
análise de balanço indica, pode não ser tão ruim assim. Veja que o ciclo de caixa é favorável e a
Cia. Pikachu está financiando parte de seu capital de giro com recursos de fornecedores. Nesses
casos, os pagamentos ocorrem depois dos recebimentos, uma empresa pode apresentar saúde
financeira, mesmo com um índice de liquidez corrente menor do que a unidade. 14 O
14
Obviamente, considerando-se ser esta uma situação constante ao longo do tempo e, mesmo assim, sujeito a
riscos de mudanças.
46
endividamento geral (51%) é típico da economia brasileira, cuja estrutura de capital próprio
praticamente garante (98%) o uso de capital de terceiros.
E, como ênfase da metodologia proposta neste trabalho, importa-se em identificar a
viabilidade econômica da Cia. Pikachu. Acompanhe a sua análise de retorno de investimento
Primeiro é necessário apurar o montante de investimento e, contrariamente ao que
informa o balanço contábil tradicional, não se trata do total do ativo, pois este acumula valores
ainda não destinados durante a vida em marcha da Empresa. Pode ser obtido a partir do total do
ativo ($81.000) menos os passivos de funcionamento ou não-onerosos ($24.000 + $1.600 +
$1.500 +$900), ou ainda somando-se o valor atual das respectivas parcelas de capital próprio
(dono) e capital de terceiros (financiamentos).
Capital próprio
Capital de terceiros
Investimentos
40 000
13 000
53 000
75.5%
24.5%
100%
Note que esse valor é equivalente ao montante necessário para, se fosse o caso, abrir novamente
a Cia. Pikachu; não sendo necessário o total do ativo, pois os prazos do atual ciclo operacional
permitem isso. Portanto, esse é o valor base para as análises de investimentos e, como se
observa, foi financiado em sua maior parte com capital próprio (75.5%).
A primeira análise consiste na identificação do custo de capital da empresa (WACC), ou
seja, quanto custa o total de capitais utilizados para financiar os investimentos ($53.000) da Cia.
Pikachu. Considerou-se que o custo de capital de terceiros (Ki) é de 2% ao mês e, como não
podia ser diferente, o dono deseja um retorno maior (Ke), de 3%, obviamente para compensar os
riscos de seu capital em relação ao capital do banco. 15
Ki (custo cap.terc.)
Ke(custo cap.próprio)
WACC (custo capital)
2.00%
3.00%
2.75%
Assim, o custo de capital da Cia. Pikachu (WACC) é de 2.75% ao mês, calculado pela
simples ponderação da participação dos capitais utilizados com os respectivos custos envolvidos.
Isso significa que, para a empresa ser viável economicamente, necessariamente precisa ter um
retorno de investimento superior a esse custo. Vejamos:
ROI
RROI
EVA
MVA
Valor da Empresa
5.08%
2.32%
1 232
44 711
97 711
Felizmente, a Cia. Pikachu é viável economicamente, a taxa de retorno de investimento
(ROI) é superior ao seu custo de capital (WACC), apresentando até uma folga (RROI) que permite
aumentar a riqueza da Empresa. A partir daqui, quaisquer outras análises podem enriquecer ou
complementar as análises do balanço perguntado. Veja que a metodologia implícita no modelo
proposto não importa com as escalas do ROI ou do WACC, mas sim no spread gerado entre eles
(RROI); uma empresa com baixo retorno pode ser mais viável que outra com maior taxa, desde
que o custo de capital (WACC) seja compatível. 16
A riqueza gerada na Cia. Pikachu deste período pode ser traduzida em valor monetário na
figura do economic value added (EVA). Observe que o EVA calculado ($1.232) é inferior ao lucro
contábil demonstrado ($2.432). Isso pode ser facilmente demonstrado, lembrando-se de que o
lucro contábil remunera somente o capital de terceiros (despesas financeiras). Essa diferença
($1.200) corresponde justamente à remuneração prometida ao dono (Ke = 3%) pelo uso de seu
capital ($40.000).
15
Na prática, principalmente em países com mercado de capitais expressivos (ex.: EUA), o custo do capital
próprio pode ser obtido pelo método CAPM, que considera um excedente em relação à taxa média de
mercado, denominado prêmio de risco. Esse cálculo é efetuado por meio do índice Beta de riscos.
16
No Brasil é comum projetos considerados inviáveis tornarem-se rentáveis quando se consegue alguma
linha de financiamento subsidiada.
47
Significa que aquele aumento de riqueza indicado pelo RROI (2.32%) equivale ao valor
monetário do EVA ($1.232). A Cia. Pikachu aumentou sua riqueza neste período o equivalente ao
valor do EVA.
Quanto vale a Empresa hoje? Sem a pretensão de esgotar as teorias de valuation, podese afirmar que seu market value é uma função do potencial futuro de lucratividade, ou seja, é o
valor presente da riqueza a ser gerado durante toda a sua vida. De forma simplificada, e
atendendo os objetos deste artigo, pode-se calcular o goodwill da Cia. Pikachu, considerando-se
que o atual nível de riqueza gerada (EVA) se repita nos períodos subseqüentes (ceteris paribus).
Assim, utilizando-se a fórmula de cálculo de valor presente de uma perpetuidade, segundo uma
taxa de desconto equivalente ao seu custo de capital (WACC), o valor da riqueza futura
corresponde à figura do market value added (MVA).
O MVA da Cia. Pikachu ($44.711) é o correspondente ágio de seus investimentos
($53.000) e, portanto, o valor da empresa ou market value corresponde ao somatório desses
valores ($97.711).
Como se vê, esse tipo de análise pode confortar um analista de crédito, pois a viabilidade
da Empresa está comprovada (ROI = 5.08% ao mês). Esse é o referencial de limite máximo a ser
cobrado em eventuais novos empréstimos e, de forma consciente, tanto um gerente de banco
como o próprio dono, podem trabalhar de forma responsável.
Em verdade, o retorno do dono da empresa (ROE = 6.08%) é maior do que o retorno
genuíno da Cia. Pikachu (ROI = 5.08%), graças ao efeito da alavancagem financeira. Isso se
explica pelo fato de ter optado em financiar parte de seus investimentos com capital mais barato
(Ki = 2%) do que o custo de suas retiradas (Ke = 3%) e, nesse caso, conseguiu alavancar seus
ganhos 1.2 vezes o que ganharia se tivesse optado pelo financiamento de 100% com recursos
próprios.
ROE
GAF
RROE
6.08%
1.2 vezes
3.08%
Finalizando, o enfoque para essas análises, denominada neste trabalho de estágio
intermediário das técnicas de análises de balanço, pode confortar as análises tanto por parte de
analistas de créditos como a do próprio dono de uma empresa de pequeno porte.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O balanço perguntado é um método praticado no mercado e consiste na elaboração
prévia de um questionário que permite a elaboração de relatórios contábeis adequados e
possibilite as análises desejadas.
Este artigo não serviu para explicitar quais e quantas seriam as questões que poderiam
fazer parte desse questionário. Ao contrário, contribuiu com reflexões para propor uma
metodologia que pudesse orientar a aplicação do método mencionado. O modelo proposto
focalizou a análise de retorno de investimento, distinguido neste trabalho, como estágio
intermediário no processo de análises de balanço.
Se por um lado esse método pode apresentar-se como uma técnica de levantamento de
dados não tão rigorosa, a figura do balanço perguntado, apesar de não ser exata, pode se libertar
das amarras e limitações dos excessos de objetividade da contabilidade tradicional e aproximarse, cada vez mais, da linguagem do mundo dos negócios.
E, talvez um dia, quando os empreendedores das micros e pequenas empresas
convencerem-se de que a prática de subfaturamento não lhes trazem benefícios reais, possam,
todos juntos, promoverem a evolução da contabilidade aplicada a esse segmento.
7. BIBLIOGRAFIA
1. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Avaliação básica de crédito microempresa e pequena
empresa. Material obtido utilizado pela CEF, 2000.
2. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Planilha de análises de crédito, 2000.
48
3. KASSAI, José Roberto; KASSAI, Sílvia et alli. Criando seu próprio negócio. SEBRAE:
edição nacional, 1995. capítulo de livro organizado pelo professor Sílvio Aparecido dos
Santos, FIA/USP & SEBRAE.
4.
KASSAI, José Roberto et alli. O que é lucro operacional? Goiânia/GO: Anais do XVI
Congresso Brasileiro de Contabilidade, 2000.
5. KASSAI, José Roberto; KASSAI, Sílvia. Balanço perguntado: uma solução para as
pequenas empresas. São Leopoldo/RS: Anais do VIII Congresso Brasileiro de
Contabilidade, 2001.
6. KASSAI, José Roberto. Alguns aspectos que contribuem para a conciliação entre a taxa
interna de retorno (TIR) e o return on investment (ROI). Dissertação de mestrado entregue
ao departamento de contabilidade da FEA/USP, 1996.
7. KASSAI, José Roberto. Aspectos observados na conciliação do valor presente líquido
(VPL) com o economic value added (EVA). Tese de doutorado entregue ao departamento
de contabilidade da FEA/USP, 2001.
8. KASSAI, José Roberto; KASSAI, Sílvia. Desvendando o termômetro de insolvência de
Kanitz. Foz do Iguaçu/PR: Anais do ENANPAD/1998.
9. KASSAI, José Roberto; KASSAI, Sílvia; SANTOS, Ariovaldo; ASSAF NETO, Alexandre.
Retorno de Investimento – abordagem matemática e contábil do lucro empresarial.
2ªedição, São Paulo: Atlas, 2000.
10. KASSAI, Sílvia. A contabilidade e as empresas de pequeno porte. Dissertação de
mestrado entregue ao departamento de contabilidade da FEA/USP, 1996.
11. KASSAI, Sílvia; KASSAI, José Roberto Kassai; NOSSA, Valcemiro. Pequenas empresas –
como é difícil levantar dinheiro. Recife/PE: Anais do VII Congresso Brasileiro de Custos,
2000.
49
Pequenas Empresas - Como é difícil "Levantar Dinheiro"!
Resumo
A difícil tarefa do cumprimento missão das pequenas empresas atrelada a sua capacidade
de sobrevivência é uma luta constante e facilmente observada no testemunho de seus
empreendedores. Dentre as dificuldades, muito delas comuns às demais empresas, destacamos a
árdua tarefa de "levantar dinheiro" junto aos bancos para complementar as suas necessidades de
capital de giro ou mesmo para novos investimentos. Este artigo trata desse processo por meio do
estudo de um caso real, evidenciando as experiências de dois profissionais diretamente
envolvidos: o "dono" da pequena empresa e o "gerente" do banco, e com as devidas adaptações
para um trabalho acadêmico. Na etapa final
da aprovação de um empréstimo bancário ambos
já estão convencidos sobre a viabilidade do empréstimo e reina a amizade e confiança mútua.
Entretanto, falta transpor um último obstáculo: como argumentar perante a matriz do banco?, se o
gerente não tem autonomia e o dono da empresa não dispõe de uma contabilidade confiável. O
artigo apresenta um modelo que permite avaliar e justificar a provável situação econômica da
empresa, obtido a partir de informações não oficiais, a exemplo do "balanço perguntado" utilizado
pela Caixa Econômica Federal. Ao final, apresentamos um apêndice contendo um glossário dos
principais conceitos abordados neste trabalho.
1. APRESENTAÇÃO
Em uma economia estável as empresas não teriam dificuldades na obtenção de recursos
de terceiros; ao contrário, o dinheiro é que estaria a procura de empresas rentáveis. Da mesma
forma que uma empresa busca o retorno de seus investimentos, as de intermediação financeira
querem garantir os juros necessários para remunerar seus capitais.
Na Europa, no EUA ou no Japão, uma boa empresa conseguiria dinheiro facilmente para
financiar seus investimentos e, o mais contrastante, a custos bastantes reduzidos se comparados
aos níveis de taxas de juros praticados no Brasil. O nível de endividamento das empresas
brasileiras é baixo conforme relata KASSAI 17 :
Endividamento das Empresas
(Passivo:Ativo)
80%
75%
64,3%
42,8%
Europa
Japão
EUA
Brasil
Fonte: Kassai et.al. Retorno de Investimento. SP:Atlas.
Esse reduzido nível de endividamento tem uma explicação óbvia: a elevada taxa de juros
e, além disso, são poucas as ofertas de linhas de créditos de longo prazo. Enquanto no Brasil o
aumento do endividamento é sinal de "risco", contrariamente nos outros países é uma questão de
estratégia financeira.
Em uma situação natural o capital próprio é (ou deveria ser) mais caro do que o capital de
terceiros. Este custa o equivalente a taxa de juros praticada no mercado financeiro, aquele custo o
equivalente à expectativa de ganho do investidor. Portanto, se as expectativas do dono da
empresa não forem maiores do que as taxas praticadas no mercado financeiro, não haveria
justificativas para investir nessa empresa.
E, quando se financia uma empresa com capital de terceiros, teoricamente a um custo
menor, a empresa estaria agregando valor por meio de uma alavancagem financeira favorável.
17
KASSAI et. al. Retorno de investimento - abordagem matemática e contábil do lucro empresarial. São
Paulo: Atlas, 2ª edição, 2000. Página182.
50
Isso ocorre quando a taxa de retorno de investimento operacional da empresa, ou return on
investment (ROI) 18 , é maior do que o custo do capital de terceiros (Ki).
Essa estratégia financeira é consagrada pelas teorias de finanças como prática saudável
para as empresas, aumentando seu economic value added (EVA), seu market value added (MVA)
e seu goodwill.
Entretanto, aqui no Brasil a realidade é bem diferente, a taxa de retorno agrega um outro
componente que é taxa de risco do país. E, dependendo da proporção de capitais de terceiros
utilizados, pode comprometer a própria continuidade de uma empresa. Um desequilíbrio entre os
prazos de estocagem, vendas e pagamentos pode comprometer seriamente o ciclo de caixa e
absorver eventuais margens de lucros.
O saldo negativo do fluxo de caixa pode estar sendo financiado por altas taxas de juros,
os empréstimos e saldos devedores sendo "rolados" para os meses seguintes e, de uma hora
para outra, a empresa encontrar-se em uma situação quase que incontrolável. Aí começa uma
caminhada árdua com destino às agências bancárias.
Este artigo tem por objetivo retratar esse tipo de situação das empresas, com enfoque
especial para as empresas de pequeno porte. Nesse ambiente a habilidade e conhecimentos em
finanças das pessoas envolvidas são limitados e os recursos disponíveis são ainda mais
escassos, tornando mais desgastante a relação entre o dono da empresa e o gerente do banco.
O dono, que normalmente assume as principais atividades operacionais de sua empresa,
como produzir, vender, fazer acontecer as coisas... também assume a atividade de obter dinheiro
junto aos bancos. O gerente do banco, por sua vez, responsável pela carteira de pequenas
empresas e clientes especiais pessoas físicas, tem sua rotina bastante agitada em busca do
cumprimento de suas metas mensais.
2. O AMBIENTE DAS PEQUENAS EMPRESAS
As pequenas empresas ocupam lugar de destaque no cenário econômico e social dos
países. Segundo KASSAI 19 representam mais de 90% do número de empresas em todo o mundo.
No Brasil, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(SEBRAE), representam um universo de 4,5 milhões de estabelecimentos industriais, comerciais e
de serviços, responsáveis por 48% do total da produção nacional, 42% dos salários pagos, 59%
dos postos de trabalho e cerca de 30% do Produto Interno Bruto 20 . Estima-se que 75% das
empresas brasileiras tenham até 10 funcionários, ou seja, são microempresas e a participação do
dono e seus funcionários é bastante ativa. A estrutura organizacional dessas empresas é atípica e
as atividades funcionais das pessoas são melhor correlacionadas com as habilidades individuais
do que propriamente com o cargos definidos na carteira profissional 21 .
Para melhor ilustrar a representatividade desses números, preparamos os Gráficos 1(a) Participação da MPME na Geração de Empregos e 1(b) - Participação da Pequena Empresa na
Economia Brasileira:
18
Ao final apresentamos um apêndice contendo um glossário dos principais conceitos abordados neste
trabalho.
19
KASSAI, Sílvia. A contabilidade e as pequenas empresas. São Paulo: FEA/USP, 1996. Dissertação de
mestrado entregue ao departamento de contabilidade da FEA/USP.
20
JORNAL DO BRASIL. Rio de Janeiro, 30 dez. 1994, p. 8. Apud. PINHEIRO, Maurício. Gestão e
Desempenho das Empresas de Pequeno Porte. São Paulo: Departamento de Administração, 1996. Tese
(Doutorado em Administração) - FEA - USP.
21
...isso, supondo-se que tal funcionário seja regularmente registrado em sua carteira profissional !.
51
Gráfico 1a - Participação da MPME na Geração de
Em pregos
57%
81%
71,9%
59%
34%
EUA
Itália
Brasil
Gráfico 1b - Participação da Pequena Em presa na Econom ia
Brasileira
Pequena Empresa
Grande Empresa
70%
48%
58%
52%
59%
41%
42%
30%
Produção
Nacional
Salários
Ocupação
Mão de Obra
PIB
Modelos recentes e sofisticados adotados nas grandes corporações que versam sobre
participação dos empregados nos lucros da empresa, agency theory, sistema de bônus ilimitado
do EVA etc. já são tratados naturalmente no ambiente das empresas de pequeno porte. Se um
funcionário é bom tem uma série de regalias traduzidas em benefícios morais e financeiros 22 ;
caso contrário, provavelmente já tenha sido demitido.
Nesse contexto holístico o dono da empresa e seus funcionários têm uma participação
intensa 23 e procuram contradizer a maioria das previsões estatísticas sobre o índice de
mortalidade das pequenas empresas.
Retornando à questão de desequilíbrios no fluxo de caixa, a situação encontrada na
pequena empresa é semelhante àquela em que passam as famílias em dificuldades financeiras,
que recorrem ao uso do limite do cheque especial, cartões de créditos etc... até se depararem
com uma situação insustentável. Aliás, antes da pequena empresa chegar a essa situação, os
recursos da pessoa física já se exauriram.
A partir de um primeiro momento de dificuldades de caixa, o dono da empresa (que é
também o chefe de uma família) passa a se relacionar mais intensamente com um profissional: o
gerente do banco.
Outrora, esse gerente era das pessoas mais agradável, visitava regularmente a empresa,
patrocinava até alguns almoços, vinha pessoalmente buscar os depósitos na sede da empresa,
tratava diretamente do estudo das apólices de seguros, planos de previdência, aplicações etc... E
agora, em que a empresa mais precisa, está sempre ocupado...
Na verdade, simplesmente torna-se claro que aquele gerente não tem autonomia. As
instituições financeiras criaram grandes estruturas de investimentos no passado e tiveram grandes
ganhos de floating oriundo da inflação e, atualmente, estão passando por mudanças radicais e
reduções de custos. O gerente que trata da carteira de pequenas empresas, normalmente, é
aquele com experiência na carteira de pessoas físicas e, ao contrário daqueles gerentes de
"primeira linha", tem conhecimento limitado e desconhece as estratégias financeiras.
22
Lembramos o caso de um funcionário de um relojoaria que trabalhou por mais de 20 anos sem registro em
carteira. Ao aposentar-se e diante da impossibilidade de pagar os direitos trabalhistas, o dono da empresa
"deu-a" ao seu funcionário. Dessa forma, resolveu outro problema que era o da sucessão empresarial e o
funcionário obteve a perpetuidade de seu emprego.
23
Adotamos essa posição em relação ao inter-relacionamento positivo entre os funcionários e patrão,
considerando-se tratar de uma necessidade para a garantia da continuidade da pequena empresa.
52
A operação de desconto de duplicatas é a modalidade de empréstimo mais utilizada. E,
obviamente, sabe-se o motivo: a garantia é dada não apenas pela empresa, mas também pelo
seu cliente, e há muitas pessoas que ainda não distinguem juros descontados de juros efetivos 24 .
Contas garantidas e hot money são outras alternativas e, certamente, o risco dessas operações
estão refletidos na taxa de juros.
Ilustrativamente, vejamos uma taxa de 10% ao mês que (apesar de absurda) é usual nas
operações de cheques especiais e outras modalidade capital de giro. Essa taxa corresponde a
uma taxa equivalente anual de 214%. A empresa somente deveria utilizar esse tipo de
empréstimo em suas operações se a taxa de retorno de investimento (ROI) fosse superior ao
custo anual do empréstimo. Conclusão: é uma meta considerada impossível, visto que retorno
médio das empresas brasileiras é em torno de 5% ao ano.
O dono, por também não dominar os conhecimentos e análises financeiras 25 , parte para
um relacionamento mais pessoal com o gerente. E, após estabelecida uma "grande amizade"
ambos já estão convencidos da viabilidade e importância do empréstimo, e passam a trabalhar
juntos para a liberação do empréstimo.
De um lado, a pequena empresa não dispõe de uma contabilidade confiável 26 e do outro,
o gerente tem seu grau de autonomia em relação a liberação do empréstimo muito reduzido. E
passam a levantar e "produzir" informações na tentativa de convencer o sistema bancário a
liberar o empréstimo. Esse sistema chega, muitas vezes, ser tão rigoroso que, para o empréstimo
ser liberado, a empresa tem que demonstrar que não precisa dele ...
Essas empresas, cujas contabilidades não refletem a situação real, encontram mais essa
dificuldade no processo de obtenção de empréstimo. Acabam, por vez, sendo obrigadas a
fornecer mais informações cadastrais, sofrerem visitas locais para averiguações, apresentarem
garantias reais superavaliadas e, consequentemente, arcam com taxas de juros mais elevadas.
Outra prática existente no mercado é o "balanço perguntado", que consiste no
levantamento de informações extra-contábeis que, após algumas análises de consistência,
permitem ao banco analisar a viabilidade de um determinado empréstimo.
3. BALANÇO PERGUNTADO - UMA REALIDADE
Diante da impossibilidade de liberar os empréstimos solicitados a partir de balanços
contábeis reais, o mercado adota como praxe o levantamento dessas informações extracontabilmente. Muitas instituições financeiras 27 adotam essa prática, desenvolvendo inclusive
sistemas informatizados para armazenamento e análise dessas informações.
São perguntas em forma de questionário que irão, na verdade, montar os tradicionais
relatórios contábeis e possibilitar a análise da provável situação da empresa. Obviamente, como
visto em alguns modelos reais, existem algumas amarrações e checagem de consistência, que
visam impedir que o gerente (juntamente como o dono da empresa) manipulem os dados 28 .
Alguns desses modelos foram desenvolvidos inicialmente por meio de planilhas eletrônicas
(Excel) e, posteriormente, na forma de sistemas travados, não permitindo ao gerente realizar
simulações.
A seguir ilustramos um desses modelos:
24
Eventualmente pode-se até dominar os cálculos de matemática financeira, mas nem sempre tem
argumentos para discutir com o banco. Às vezes necessita-se tanto do dinheiro naquele momento que a taxa
de juros é o menos importante...
25
Contabilidade, finanças, estatísticas, avaliação de riscos.
26
A propósito, o próprio Secretário da Receita Federal disse publicamente que todas as empresas "sonegam",
e a prática do "caixa dois" é generalizada.
27
A exemplo da CEF.
28
Exemplos de amarrações: margem de lucros excessiva, redutor aplicado ao projeto, correlação entre as
vendas reais e o "caixa dois", nível de endividamento, CAF, evolução da receita, ranking etc....
53
54
O modelo ilustrado acima é um exemplo de ferramenta de análise econômica e financeira
desenvolvido por meio de planilhas eletrônicas e com recursos avançados de macros especiais.
Compõe as análises um questionário com os seguintes quadros: identificação da empresa, quadro
societário, caráter, experiência com a instituição, débitos bancários, dados financeiros, dados
econômicos e financeiros e crédito proposto.
Após o preenchimento do questionário e digitação, a planilha efetua os cálculos e, de
acordo com parâmetros previamente definidos, atribui uma nota e estabelece um ranking
classificatório, que determina a aceitação ou não do empréstimo proposto.
Essa nota é apurada pela ponderação de uma série de variáveis consideradas
importantes no modelo utilizado, por exemplo endividamento (20%), alavancagem financeira
(10%), margem de lucro (35%), evolução da receita (5%), cadastro (30%). Em seguida, o ranking
pode ser definido em função de uma escala a partir da nota obtida, a exemplo:
NOTA
CONCEITO
55
0
C
45
CC
55
CCC
65
B
75
BB
85
BBB
90
A
95
AA
100
AAA
A partir dos dados imputados é feita uma análise de consistência e segurança que
permitem a elaboração de um quadro chamado dinâmica da empresa, a partir do qual é atribuído
o conceito final da proposta. Na ilustração acima, o modelo atribuiu a nota "74,72" e o conceito "B"
indicando a aceitação da proposta.
Ocorre, muitas vezes, que o processo de solicitação de empréstimo torna-se lento e o
gerente do banco não consegue liberar o financiamento, mesmo já tendo o felling de que seu
cliente é viável e irá honrar seus compromissos nos prazos devidos. E por um motivo simples: a
planilha (ou outro meio de análise de crédito) não atribui um anota adequada, nem um ranking
considerado satisfatório. Aí começam as "simulações"...
Algumas instituições financeiras terceirizam o serviço de levantamento e análise dos
dados dos clientes (a exemplo dos consultores do Sebrae) e incluem o preço desses serviços no
valor do empréstimo.
Apresentamos a seguir a experiência de um caso real, com as devidas adaptações para
esse trabalho acadêmico, e enfocando uma situação muito especial e que julgamos ser muito
comum no ambiente das pequenas empresas: o dono da empresa sem conhecimentos profundos
na gestão financeira de seus negócios e o gerente do banco, igualmente, sem as habilidades
daqueles responsáveis por carteiras de grandes clientes pessoas jurídicas. E, ambos se
esforçando para que o dinheiro seja liberado.
4. O CASO DA BILHAR BRASIL
A Bilhar Brasil (nome fictício) é uma pequena empresa que atua no segmento de diversão
e lazer e tem como produto principal a locação de mesas (bilhar, pebolin 29 ). Possui um patrimônio
equivalente a 400 mesas distribuídas em uma região de 1 milhão de habitantes, que geram um
faturamento médio de R$29,9mil mensais.
Tem dois sócios e irmãos que se dedicam integralmente a empresa, sendo um deles
responsável pela gestão administrativa e financeira e o outro pela área comercial e logística.
Contam com o apoio de mais sete funcionários, sendo um auxiliar administrativo, dois na
manutenção e marcenaria e quatro nos serviços comerciais e logísticos.
O imóvel é alugado (R$800,00 por mês) e os serviços comerciais e de cobrança são
realizados por três veículos de propriedade da empresas, avaliados em R$ 25mil. O custo fixo gira
em torno de R$20mil, incluindo uma folha de pagamento nominal de R$5,5mil e tem, ainda,
prestações fixas no valor de R$4mil de financiamentos a longo prazo, relativas a veículos,
refinanciamentos e parcelamento de impostos. O pró-labore mensal dos sócios é de R$6mil.
O negócio funciona da seguinte maneira: a Bilhar Brasil adquire uma mesa de jogo e a
deixa em comodato em algum local de lazer (bares, restaurantes, clubes etc.), realizando também
as benfeitorias necessárias como piso e cobertura. Esse investimento corresponde a um valor
médio de R$2,5mil e é o que garante a exclusividade do "ponto". Não há nenhum contrato formal
entre as partes e perdas são muito raras nesse setor; as mesas normalmente ficam do lado
externo do bar e a probabilidade de roubo ou destruição é praticamente inexistente.
29
... ou totóbol!
56
As cobranças são efetuadas quinzenalmente e correspondem a 50% do valor cobrado
pela ficha (R$0,50). Assim, o bar recebe o equivalente a R$0,25 por ficha e a Bilhar Brasil recebe
um valor mensal médio em torno de R$75,00 (300 fichas por mês). Essa receita média é
constante, com desvio padrão de 10%.
Os sócios já estão no mercado há mais de 10 anos e a empresa ocupa lugar de destaque
entre os concorrentes. Entretanto, a empresa está passando por uma situação difícil. O saldo
atual (e devedor) devido aos bancos é de R$35mil e o esforço dos sócios não está sendo
suficiente para reverter a atual situação, os juros bancários são debitados todo mês. A rotina de
um dos sócios tem sido preenchida com as visitas constantes aos bancos. Como ajudá-los?
5. DIAGNÓSTICO CONTÁBIL DA SITUAÇÃO
Um levantamento rápido nos saldos bancários demostram que a taxa média de juros
cobrada é de 11,8% ao mês. Isso mesmo!. E consistem de operações de curtíssimo prazo,
cheque especial, conta garantida... sendo utilizados acima do limite. E para as renovações, os
juros são debitados mensalmente.
Uma providência imediata seria quitar esse endividamento de curto prazo ou substituí-lo
por outro de melhor qualidade, com prazos maiores e taxas mais condizentes. A taxa condizente é
aquela que provoca um efeito de alavancagem financeira favorável para empresa, ou seja, o custo
desse endividamento tem que ser menor que a taxa de retorno de investimento operacional da
empresa.
No entanto, essas providências são tão óbvias que o próprio gerente do banco já havia
sugerido ao dono da empresa. E este, buscava incessantemente alguma linha de crédito sem
sucessos. Os relatórios contábeis não condiziam com a realidade dos negócios e nenhum gerente
assumia o risco dessa operação. E, enquanto isso, os juros absorviam toda a margem de lucro...
O que e como fazer? Primeiramente um diagnóstico da situação econômica e financeira
da Bilhar Brasil, depois simulações das alternativas possíveis e definição das prioridades. Como a
Empresa não dispunha de uma contabilidade ordenada, faz-se necessário a elaboração dos
relatórios "por inventário", a exemplo do "balanço perguntado" mencionado anteriormente.
A seguir os primeiros relatórios contábeis gerados.
Pontos Fortes e Fracos do Negócio
•
Pontos Fortes: setor de lazer promissor, receita fixa, estrutura de custos relativamente
simples e previsível (predominantemente custos fixos), reduzida carga tributária,
possibilidades de expansão dos negócios, estudo de negócios paralelos para aproveitar a
carteira de bares etc.
•
Pontos Fracos: Concorrência, retorno dos investimentos a longo prazo, dificuldades de
obtenção de empréstimos e financiamentos (há duplicatas) etc.
Balanço Patrimonial
Num processo inverso elaborou-se o balanço patrimonial da Bilhar Brasil a partir de um
inventário dos bens, direitos e obrigações em determinada data. Para melhor qualidade dos
números, utilizou-se valores a vista, custos correntes de reposição e ajustes a valor presente dos
financiamentos pelas respectivas taxas pactuadas.
57
BALANÇO PATRIMONIAL (inventariado em Jul/99)
ATIVO
Circulante
Bco. Boavista
Cheque Pré
A Receber - giro (15?d)
1.300
3.000
14.500
18.800
0,5%
1,2%
5,8%
7,5%
PASSIVO
Circulante
Conta garantida
Financ. CP
A Pagar - giro (20?d)
A Pagar - invest (20?d)
Exig. Longo Prazo
Financ. LP
Imobilizado
Mesas (400)
Instalações Ponto
Móveis e Utensílios
Telefone
Ferramentas
Veículos
Total
100.000
100.000
1.000
1.000
5.000
25.000
232.000
39,9%
39,9%
0,4%
0,4%
2,0%
10,0%
92,5%
250.800
100,0%
Patrimônio Líquido
Capital inicial
Aquisição Pontos
Lucros Retidos
Total
17.000
21.000
15.600
5.000
58.600
6,8%
8,4%
6,2%
2,0%
23,4%
44.000
17,5%
20.000
100.000
28.200
148.200
8,0%
39,9%
11,2%
59,1%
250.800
100,0%
Observe que o índice de liquidez corrente (0,32) confirma a situação financeira da
empresa; o grau de endividamento é razoável (59%), mas com predominância de dívidas de curto
prazo (57%), o que agrava a gestão dos fluxos de caixa.
Demonstração do Resultado do Exercício
Elaborou-se a estrutura de resultados da Bilhar Brasil a partir da estimativa média das
receitas, que é bastante confiável em virtude do comportamento constante do faturamento, e dos
custos e despesas operacionais, de comportamento predominantemente fixos.
DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO - mensal
Receita de Locação
29.900 100,0%
(-) Custos operacionais
(22.200) -74,2%
25,8%
= Lucro Operacional
7.700
(-) Juros
(1.200)
-4,0%
21,7%
= Lucro Líquido
6.500
A margem de lucro operacional da Bilhar Brasil é boa (25,8%) e o lucro líquido após as
despesas financeiras também permanece num patamar aceitável (21,7%). Nota-se que as
despesas financeiras mencionadas (4%) são inerentes à gestão dos fluxos de caixa e da rolagem
dos saldos bancários devedores.
Demonstração do Fluxo de Caixa
Apesar da margem de lucro positiva, o saldo negativo do capital circulante líquido tem se
originado a partir de desembolsos que são facilmente demonstrados pela demonstração do fluxo
de caixa, a seguir.
DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA - mensal
6.500 100,0%
(-) Invest. em novos pontos
(4.100) -63,1%
(-) imobilizado
(400) -6,2%
(-) veículos
(3.000) -46,2%
= Geração de Caixa
(1.000) -15,4%
Lucro Líquido
O lucro mensal está sendo absorvido por novos investimentos (pontos e imobilizado) e,
principalmente (46,2%) pelo pagamento dos financiamentos de veículos, de uso particular do
58
sócios. Provavelmente, considerando-se os níveis atuais da atividade, os sócios estão
antecipando as retiradas de lucros por meio de operações de leasing 30 .
Analisando-se as possibilidades de reduções ou eliminações de custos chegou-se a
conclusão que essas seriam variáveis pouco sensíveis. Alguns ajustes são possíveis como
redução dos gastos com pessoal e do pró-labore.
Retorno de Investimento
A análise da taxa de retorno de investimento das atividades da Bilhar Brasil permite
algumas reflexões sobre a compatibilidade dos níveis de investimentos com os níveis de
resultados operacionais. Vejamos:
B IL H A R B R A S IL – R E T O R N O D E IN V E S T IM E N T O
4 3 0 B ares
P es so al
R $ 8 .0 0 0
R eceitas
R $ 2 9 .9 0 0
R $ 6 9 ,5 3 /B ar
M = 2 1 ,7 %
Pr ó -L ab o r e
R $ 5 .1 0 0
M an /V eic .
R $ 4 .7 0 0
D espesas
R $ 2 3 .4 0 0
O u tr as
R $ 4 .4 0 0
R O I = 3 1 ,1 %
D esp .F in .
R $ 1 .2 0 0
R eceitas
R $ 3 5 8 .8 0 0ano
C aixa
R $ 1 .3 0 0
G = 1 ,4 3
A tiv o
R $ 2 5 0 .8 0 0
A R eceber
R $ 1 7 .5 0 0
M esas e Inst.
R $ 2 0 0 .0 0 0
V eícu lo s
R $ 2 5 .0 0 0
O utro s
R $ 7 .0 0 0
O quadro demonstrativo da taxa de retorno de investimento da Bilhar Brasil, conhecido
também por modelo Dupont, fornece um explicação clara e abrangente das variáveis que compõe
esta taxa. A empresa apresenta um ROI (31,1%) que é a ponderação de sua margem (21,7%)
com o giro de seus investimentos (1,43 vezes).
Em princípio esses níveis são razoáveis, desde que a empresa administre o custo de seu
endividamento de curto prazo (11,8% ao mês, ou 281% ao ano). Apesar da superficialidade
desses números 31 , pode-se imaginar o futuro dessa empresa caso não resolva seus problemas de
fluxo de caixa...
As análises do modelo Dupont são interessantes, mas é necessário avaliarmos outros
aspectos relacionados com o valor econômico agregado da Bilhar Brasil. Vejamos:
Supondo-se que a empresa elimine aquele saldo bancário negativo, pode-se considerar
como lucro líquido o montante do lucro operacional apurado na demonstração de resultado de
R$7,7mil e, para calcular-se o economic value added (EVA) é necessário deduzir a remuneração
do capital próprio. De forma conservadora vamos adotar a taxa de juros da caderneta de
30
Por ocasião desse diagnóstico ainda faltavam 30 prestações...
31
Em virtude da qualidade das informações obtidas nesse levantamento inicial. A rigor, esses números
teriam que ser revistos.
59
poupança 32 (6,17%ao ano) e calcular o montante máximo de investimentos compatível com os
níveis de resultados atuais.
Investimento
(-) Redução
Investimento ajustado
Lucro
Ke (6,17%ao ano)
EVA
258.800
134.003
124.797
7.700
7.700
-
Conclusão: apesar dos relatórios anteriores terem demonstrados lucros razoáveis
e possibilidade de equilíbrio do fluxo de caixa, o nível informado dos investimentos da empresa
(R$258,8mil) está incompatível com a estrutura de lucro atual (R$7,7mil). A longo prazo a
empresa estará destruindo valor. O cálculo acima demonstra que o nível atual dos investimentos
está superavaliado em R$ 134mil.
Essa análise é preocupante e gera alguns questionamentos:
•
Estariam os valores apurados dos investimentos superavaliados? É possível que sim,
visto que muitos pontos foram adquirido de empresas concorrentes.
•
Se a empresa não agrega valor diante dos níveis atuais de resultados, o goodwill ou
market value added (MVA) também deve estar comprometido. Diante do elevado nível
de investimento da atividade, é necessário, então, reduzir ainda os custos e gerar
mais receitas. Estaria essa atividade passando por um momento crítico em seu ciclo
de vida?
•
Como qualquer outro negócio, é necessário inovar. Não seria o momento de
diversificar (ou sofisticar) os produtos? Não haveria uma forma de aproveitar essa
"rede" de 400 bares da Bilhar Brasil?
FLUXO DE CAIXA PROSPECTIVO
Projetando-se a situação atual em função de algumas premissas (nº de mesas, taxa de
juros, renovação dos empréstimos) a Bilhar Brasil irá equilibrar seu fluxo de caixa daqui a 12
meses, conforme ilustra o gráfico a seguir:
BILHAR BRASIL
Fluxo de Caixa Prospectivo 1999/2000
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
-5,0 Ago/99 Set/99 Out/99 Nov/99 Dez/99 Jan/00 Fev/00 Mar/00 Abr/00 Mai/00 Jun/00 Jul/00 Ago/00 Set/00
-10,0
-15,0
-20,0
-25,0
-30,0
Outros relatórios e informações foram omitidos neste estudo de caso por motivos de
privacidade da Bilhar Brasil.
32
Também por medida de simplificação, pois o conceito da taxa de remuneração do capital próprio engloba
também uma taxa de risco do negócio. Além do mais, soube-se que o pró-labore está deduzido na
demonstração de resultado como custos operacionais e uma parte dele é retirada de lucros.
60
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo procurou abordar uma situação especial vivida pelas pequenas empresas, a de
dificuldades de fluxo de caixa. Apesar das excessões, adotamos como premissa que o dono da
empresa que se responsabiliza pelas negociações financeiras, juntamente com o gerente do
banco responsável pela carteira de pequenas empresas não são especialistas nos assuntos
contábeis e financeiros.
Assim sendo, as discussões caminham para um lado pessoal e, tanto o dono da empresa
como o gerente do banco, buscam juntamente validar a solicitação de um empréstimo. Os
conceitos apresentados, ao nosso ver, poderão ser úteis não apenas para justificar a aprovação
dos pedidos de empréstimos, mas, principalmente, como instrumento de gestão empresarial 33 .
9. BIBLIOGRAFIA
•
Kassai, J.R & Kassai, Sílvia & Santo, Ariovaldo dos & Assaf Neto, Alexandre - Retorno de
investimento - abordagem matemática e contábil do lucro empresarial. São Paulo: Atlas, 2000,
2ª edição.
•
Laboratório de Pequenas Empresas da Fipecafi/FEA/USP. Relatórios gerenciais de pequenas
empresas. São Paulo: USP, 1999.
•
Kassai, Sílvia. A contabilidade e as pequenas empresas. São Paulo: USP, dissertação de
mestrado entregue a FEA/USP, 1996.
•
Kassai, et. al. Criando seu próprio negócio. Sebrae edição nacional, 1995.
•
Caixa Econômica Federal. Planilha de análise de crédito. 1999.
•
Kassai, JR & Silvia. Fluxo de caixa prospectivo. São Paulo: IOB, caderno temática contábil.
APÊNDICE - GLOSSÁRIO
Apresentamos os principais conceitos mencionados neste texto e que são úteis para um
melhor entendimento, a saber:
•
Alavancagem Financeira: é o efeito provocado sobre a rentabilidade dos investidores em virtude do financiamento
dos investimentos com capital de terceiros.
•
Balanço Perguntado: é uma técnica de levantamento das informações contábeis por meio de questionários e
entrevistas, normalmente utilizado para empresas que não apresentam uma contabilidade regular.
•
Desconto de Duplicatas: operação de empréstimo capital de giro em que a instituição financeira adianta o valor de
uma duplicata vincenda mediante a cobrança de juros antecipados (nominais) e a garantia contra eventuais riscos é
suportada pela empresa e também seu cliente.
•
EVA: economic value added, ou valor econômico agregado é uma marca registrada de propriedade da Stern Stewart e
que representa o "lucro" de uma atividade após remunerar inclusive seu capital próprio. Além dessa medida é utilizada
como sistema de gestão empresarial baseado em valor, como política de participação nos lucros etc.
•
Fluxo de Caixa Prospectivo: é uma técnica de estimativa dos fluxos de caixa mediante a simulação de um conjunto
de premissas sensíveis de uma empresa.
•
Goodwill: é o valor de uma empresa e que engloba todos os componentes do patrimônio de uma empresa, inclusive
os de difícil mensuração. Também conhecido como market value added (MVA).
•
Juros Efetivos: é o custo verdadeira de uma operação, considerando-se o comportamento dos juros compostos.
•
Ke: sigla que convenciona a remuneração do capital próprio, ou o custo do capital próprio. É representado pelas
expectativas de ganho do investidor em relação ao seu capital.
•
Ki: sigla que convenciona a remuneração do capital de terceiros, ou custo do capital de terceiros. É a taxa de juros
cobradas nas operações.
33
... A propósito, soubemos que a Bilhar Brasil posteriormente obteve a aprovação de um empréstimo no
valor de R$30mil da CEF, equilibrando seu fluxo de caixa. Soube-se que o gerente digitou os dados dos
relatórios contábeis apresentados e o sistema indicou a aprovação do empréstimo. Provavelmente, hoje, estão
se ocupando de outras preocupações inerentes ao cumprimento de sua missão e perpetuidade e com novos
instrumentos de controle gerencial.
61
•
Lucro Operacional: é o resultado contábil oriundo da atividade principal de uma empresa, sem considerar os efeitos
do uso de capitais de terceiros.
•
Modelo Dupont: técnica de análise da taxa de retorno de investimento de uma empresa (ROI) com o desdobramento
dos principais elementos como margem, giro, lucro, receitas, despesas, ativo etc.
•
MVA: market value added, ou valor de mercado de uma empresa. Pode ser entendido como o valor presente dos
fluxos de lucros futuros, ou goodwill.
•
Risco: é a probabilidade da não realização de um evento esperado. No ambiente empresarial, as operações de riscos
são compensadas com um retorno esperado maior.
•
ROI: return on investment, ou taxa de retorno de investimento de uma empresa ou projeto e serve de parâmetros para
a utilização de capitais de terceiros. Quando o ROI é maior do que o Ki tem-se uma alavancagem financeira favorável,
e vice-versa.
62
Download