2 na Missão Belém Na Missão Belém Deus é fiel e escreve certo por linhas tortas, que somos nós. Eis os milagres que Ele opera em nós e através de nós A história de Guilherme ANO 2010 Quando pequeno... Quando eu tinha 11 anos, a minha casa, era como se fosse uma delegacia, porque meu pai era polícia do tempo da Força da República e o meu avô participou da Revolução de 39, então era tudo polícia. Só prestava quem era polícia, em casa era regime Guilherme: “Deus me mudou de pés à cabeça. Eu, um militar. Eu acordava às cinco criminoso; uma pessoa drogada, jogada na rua que ninguém horas, começava a carpir e dava valor, tornei-me ministro da Eucaristia e agora cuido às seis horas tomava banho, de 50 irmãos que estavam na minha mesma condição” logo meu pai passava com a rádio-patrulha para nos levar para à escola. Em casa éramos 6 irmãos; minha mãe e meu pai eram muito novos. Quando meu pai vinha pedir algo para mim e meu irmão, que tinha 4 anos, já vinha com o revólver na mão, pois meu avô educou ele assim e falava muito alto e forte como um soldado no quartel: “Vai logo no mercado, senão vai ficar de castigo!”. Se falava que não... era um tiro no meio dos pés. Ele me castigava algemando-me a noite intera, junto com o cachorro (ele, também, do canil da policia). Às vezes me prendia nas celas, junto com os outros detentos, eu uma criança... filho de delegado! Quando acabaram com a Força da República, logo veio a Rota e meu pai, como tinha 36 anos de polícia, foi chamado para ingressar nessa corporação “Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar”. Desse dia em diante, meu pai ficou mais ainda fora de controle. Chegava em casa, depois de 15 dias trabalhando em São Paulo, xingando, só falando que qualquer coisa que a gente tinha feito de errado matava- nos. 3 Minha mãe, como todas as mães, contava-lhe tudo e ele nos batia com o cassetete ou com a coronha do revólver... Minha mãe morreu, quando eu tinha 14 anos, e eu fui para a rua, pois já não agüentava mais ser tratado como ladrão, sem ser. Na verdade, eu era o mais rebelde da casa e meu pai sempre pegava no meu pé. A fuga para São Paulo com 14 anos Cheguei em São Paulo, sem rumo, sem conhecer nada e me juntei à meninada de rua da zona leste. Logo iniciei a usar droga com eles. Bem cedo, acabei me envolvendo com um “irmão” da região de Capão Redondo, que vivia matando policia. Pela revolta que eu tinha contra o meu pai, não me pareceu verdade ingressar nesse grupo. Certa vez me chamaram num barraco e me fizeram usar muita cocaína, a noite toda e depois me convidaram a assassinar uma pessoa: era um policial, disfarçado de mendigo, que os próprios colegas tinham entregado a nós por dinheiro. Olhei para aquele policial amarrado e vi a cara do meu pai... apertei o gatilho sem hesitação e ai foi... Depois continuei, sem parar e, naquele morro, de Jardim Ângela, me tornei muito “respeitado”. O tempo passava, quando percebi, eu já tinha 19 anos e estava envolvido nas drogas, no crime, em tudo o que não presta. Mas essa vida não dá futuro para ninguém e todas as portas se fecharam. Virei andarilho, morador de rua, e assim acabei na calçada. Como eu era foragido e procurado, não podia entrar nem nos albergues, nem em muitas cidades. Então comecei andar nas BR, no trecho Rio/Bahia, fui para o Rio, para Caçapava, Americana, Poços de Caldas e muitos outros lugares, evitando os em que eu era procurado. Virei um “lixo” bem grande, sem tomar banho. Então fui parar em Ribeirão Preto e numa favela de lá arrumei um jeito de ganhar dinheiro, trabalhando como “segurança” na praça. Num dia de sábado, quando tinha acabado de entrar numa padaria para tomar uma cerveja, de repente, chegaram mais de 20 viaturas, cercando a favela e eu não tinha como fugir. Fui preso e parei na cadeia da Vila Branca. Ali, fiquei um ano e meio esperando para ser transferido, porque se você fez um crime no lugar e é preso em outro a justiça não sai do setor com uma viatura, só para te levar... Só quando aparecer 5 ou mais, para serem transferidos. Senão, você fica ali esperando e apodrecendo na Enfim me levaram para São Paulo, para o Carandiru e em 21 de Julho, fui julgado e condenado a dois anos de cadeia. Somando o ano e meio que já tinha ficado, deu 3 e meio sem respirar o ar livre. 4 O Carandiru foi uma experiência terrível. Conheci o raio das seitas satânicas, onde os membros se furavam as palmas da mão com ferro quente. Em outros raios a droga rolava a 3 por 4... Tomei choque, torturas, apanhei tanto... Quando o pesadelo terminou, sai e disse para mim mesmo: vou parar! Eu não conhecia a Deus e não sabia que sem a sua força nada é possível. Sem perceber, escorreguei e logo me encontrei de novo no fundo do poço: na droga e no crime. Fugi para Atibaia, depois para Jundiaí e Itatiba. No ultimo assalto fiquei baleado a uma perna. Jogava álcool nela, mas começou a inflamar. Fiquei escondido tomando pinga e jogando na ferida, até que um catador de papel me carregou no seu carrinho, junto ao papelão e me levou a uma casa para o Povo de Rua, em Itatiba. Era uma casa de gente maravilhosa, mas tudo me assustava. Eu desconfiava até da minha própria sombra. Não acreditava que alguém pudesse fazer algo de graça para um outro ser humano. Grande era a revolta que tinha dentro. Fiquei nessa casa por alguns dias até que me disseram que devia vir um Padre, que vivia com o Povo de Rua e tinha casas de acolhida... Eu não acreditava nessa história, mas pensei :”Vou manguear e vou cair fora...”. Na verdade, não conseguia ficar parado no mesmo lugar. Sempre tinha pesadelo que a policia me procurasse de novo. Enfim o Padre chegou com a Irmã Cacilda. Logo pensei: “Agora vou arrumar dinheiro!”, mas quando o Sacerdote chegou perto de mim, senti uma coisa que nunca tinha sentido na minha vida: a confiança, o amor, sem querer nada em troca. Eu nunca tinha sentido isso e me paralisei, naquela hora. Não consegui falar nada. Agora eu digo que senti o Amor de Deus, mas naquele momento estava muito confuso... mal consegui explicar a minha situação, sem mentir, pela primeira vez. Enfim, o Padre me disse: “Tá bom, meu filho. Amanhã você vem com a gente! “. Parecia que tinha falado muitas horas com ele. Enfim fui para o Sitio de Jarinu, onde recebi uma grande acolhida. Também lá, lembro do Padre, na Triagem. Pedi que abençoasse a minha perna e ficou melhor. Depois fui fazer o Jé-Shuá e lá consegui ter uma “junção” com Deus, na adoração durante a Confissão. Eu não conhecia nada, nem sabia o que era aquela bolinha branca dentro daquela coisa dourada, mas uma Paz, que nunca tinha sentido, invadiu meu coração. Quando voltei para o sitio, sentia-me leve como uma pena, parecia que flutuava, tudo era bom para mim. Aprendi a fazer o Diário espiritual e dei inicio à minha caminhada espiritual. Foi assim que Jesus me encontrou e me resgatou. Eu nunca vou esquecer daquele dia que encontrei o Padre e Cacilda, que agora são meu pai e minha mãe. Deus me mudou dos pés à cabeça. Aonde que um dia eu poderia imaginar que iria ser renovado assim: eu, um criminoso, uma pessoa que ninguém dava valor, tornei-me uma “pedra angular”, e agora um Ministro da Eucaristia, uma ferramenta das mãos de Deus. Tudo o que passei: cadeia, choque, torturas, rua, drogas, vazio... não é nada perto do que Deus fez por mim. Hoje, Ele me confia almas, para que eu, um nada, as leve para o Céus. Só tenho que agradecer. Sou um milagre de Deus Deus meu tudo GUILHERME 5 6 Na Missão Belém Deus é fiel e escreve certo por linhas tortas, que somos nós. Eis os milagres que Ele opera em nós e através de nós A história de Silviano Depois veio o Peru e a Colômbia, mas já não era só coisa de marca, foi arma... Por 6 anos foi beleza, mas chegou o dia que a Polícia Federal bateu na minha porta e assim conheci como funciona a máquina da corrupção... pagaram R$ 36.000,00 e fique livre de novo. Esse fato me fez cair na depressão, tudo estava vazio dentro e fora de mim, comecei a beber mais e mais todos os dias. Depois de meio ano parado, pensei: vou arrumar um trabalho, se não aqueles policiais voltam para me encher... Comecei a trabalhar, mais logo sai pois não me controlava mais na bebida. Fui parar debaixo de uma árvore, bêbado, perdido, sem rumo, no mais total desânimo. Por causa da bebida perdi uma linda namorada, passaram a me chamar de “nóia”, “pinguço”... Vendi um carro sem saber, para mim tinha roubado... não fui receber o dinheiro. Os meus parentes me abandonaram. Em particular, me doeu muito, uma minha prima. Crescemos juntos, e ela também me virou as costas. Cheguei criança em São Paulo, sozinho, do Ceará A Missão Belém me salvou Foi uma vida triste pois conheci o mundo das drogas muito cedo e, bem novo, sai de perto de meus pais. Bebia desde criança. Não tinha muito relacionamento com o meu pai e chegou o dia que queria matá-lo. Ele havia me pedido um trabalho nas terras dele. Fiz, mas meu tio mentiu, dizendo que eu tinha feito o trabalho errado e meu pai me colocou de castigo. Fiquei com tanta raiva que voltei para a roça, destrui a parte do açude que tinha arrumado, peguei uma arma dele e falei pro meu irmão que iria matá-lo. Ele falou com a nossa mãe, que chorando me suplicou para ir para São Paulo, junto com a irmã dela e ficar lá três meses. Assim aos meus 14 anos iniciei a minha vida, sozinho, passando do Ceará para São Paulo, era algo grande demais para minha cabeça. Em São Paulo rapidamente conheci o dinheiro. No Ceará ganhava 16 “cruzeiros” por mês e aqui 80 por semana! Pensei que iria me tornar rico em pouco tempo. Deus teve compaixão de mim e através de um amigo cheguei a Missão Belém, deprimido, revoltado, agitado e decidido a ficar no máximo 15 dias. Os irmãos falavam: reza que você vai encontrar a calma, mas era difícil para mim. Finalmente chegou o Jé-Shuá e, para minha surpresa , eu ficava, ficava, os dias passavam e os meses também... e meu coração mudava. Lembro que um dia, muito nervoso, estava decidido a ir embora, mais um irmão me chamou para a catequese do crisma e eu fui. Então entendi como as coisas de Deus iam me acalmando. Entendi que o terço não era uma “babaquicee” e toda vez que eu rezava, as Ave-Marias tiravam a minha agitação e ansiedade e me davam paz. Logo ingressei no contrabando Depois de 5 meses um rapaz que tinha vindo do Ceará, igual eu, me convidou para conhecer o Paraguai. Mal sabia que estava me enfiando no mundo escuro do contrabando. Logo que regressamos, esse meu companheiro sumiu e o pessoal que vendia a mercadoria de contrabando no centro de São Paulo foi me procurar para eu fazer mais viagens... Eu me encontrei num redemoinho. Rodava tanto, tanto dinheiro, milhares de dólares. Eu tinha somente 15 anos, mais aceitei, organizei a viagem. Paguei bem os famosos “laranjas”, que deviam me ajudar e fui. Voltei e, com minha surpresa, eles me deram 10% de toda mercadoria. Encontrei-me com milhares de dólares na mão. Nem eu entendia. Mas a ganância não tem limites. Pensei: vou fazer outra viagem e vou me tornar rico mesmo. Ainda não sabia que o dinheiro do diabo não rende: vem fácil e vai embora mais fácil ainda. Com o dinheiro chegaram as festas, roupa de marca, muita bebida... droga(cocaína), meninas... todos os dias era farra: droga, sexo, bebida. Depois do Paraguai, quis conhecer a Bolívia e depois a Argentina, onde pegava tênis “Nike”, “Fila”... Nossa Senhora, Mãe Escondida Depois de 8 meses na Missão Belém, tinha me recuperado totalmente, mas ainda não tinha muita sintonia com Nossa Senhora, não rejeitava mas me parecia estranho vê-la com mãe e pedir sua ajuda. Sabia que meu parentes não queriam me ver nem de longe, em especial essa prima. Por isso quis fazer uma experiência com Nossa Senhora. Lancei um desafio: “Se minha prima me aceitar, eu vou acreditar de todo coração em você!” Assim criei corajem, entrei na loja onde ela trabalhava, a cumprimentei... disse: “Deixa eu guardar a bolsa no seu carro...” ela me olhou bem fixo e não falava, achava que estava morto. Depois de um pouco me respondeu: “Quero que você fale com o meu marido, toma a chave do carro e vai para o meu apartamento, eu vou chegar daqui a pouco...” Nem eu acreditava que ela havia me perdoado e confiava em mim. Peguei a chave, entrei no carro e quando estava para dar a partida vi perto do volante uma imagem de Nossa Senhora! Logo entendi. Respirei fundo e do meu coração saíram essas palavras: “Agora acredito em você Maria. A partir de hoje vai fazer parte do meu coração e nunca mais sairá! Foi Ela que me tirou da lama onde eu estava e me fez nascer de novo. Hoje é a força 7 8 Hoje sou um irmão Missionário Hoje sou feliz de fazer parte da Missão Belém, dessa maravilhosa história que Maria iniciou. Depois de 2 anos de Missão me ofereci para ser um “Irmão Missionário” e fui enviado para a cidade de Thailândia a 250Km antes de Belém do Pará, para abrir uma nova casa de acolhida, na beira da floresta Amazônica. Aqui é tudo novo para mim, não conhecia a violência do Pará. Os primeiros dois que acolhi com muito amor, me roubaram o celular-radio com o qual podia me comunicar com outras casas da Missão e agora estou mesmo sozinho, distante 2750Km dos meus “pais” de São Paulo, mas confiante em Deus. Os missionários de Belém visitam todo mês a nossa casa, que agora contam com 10 acolhidos. Estou feliz, mesmo se a nossa casa esta inacabada e não tem energia elétrica. No meio dessa natureza me encontro com Deus. Agora é o tempo melhor da minha vida, nunca me senti tão feliz. O tempo da Missão chegou e eu entreguei nas mãos de Deus o meu futuro. Silviano, hoje coordenador da Casa de Thailandia, na beira da floresta amazônica. Na Missão Belém Deus é fiel e escreve certo por linhas tortas, que somos nós. Eis os milagres que Ele opera em nós e através de nós A história do missionário José Carlos Tenho 35 anos. Nasci em Jundiaí, onde fui também criado. A minha família é muito simples: pai, mãe, 5 filhos. Sempre me mostraram o caminho certo, mas não quis dar ouvidos e bem cedo conheci o mundo das drogas e do crime. Só queria saber de ficar no meio dos meus “amigos”... E minha mãe chorando. Era essa vida louca que eu curtia: droga, rua, aventuras... O “bar” era a minha Igreja e o vício o meu Deus. Até que chegou o dia que não tinha mais forças, nem pra roubar, nem pra me alimentar. Os médicos me diziam: se você não parar você não vai chegar ao fim desse ano. Mais uma vez não quis escutar e fui me arrastando de um bar para o outro, continuando a me drogar com os meus amigos. A morte ia chegando e eu nem ligava. Deus me amava muito, sem eu merecer. Chegou uma noite, que como sempre, eu estava me drogando com os meus amigos numa biqueira perto de casa. De repente, algo dentro de mim gritava: “Vai embora, vai embora!” Sem mais nem menos dei “tchau” aos meus amigos e fui para casa. Antes de entrar, ouvi uns tiros... a minha rodinha de amigos estava sendo “executada” naquele momento todos morreram. Foi um acerto de contas. Por um minuto, Deus salvou a minha vida! Fiquei tão chocado que me tranquei no meu quarto por três dias. Dessa vez aceitei o convite da minha família e fui para a Missão Belém. Passei todos os 20 dias de triagem muito mal, mas o meu coração gritava: não quero mais drogas, eu quero é Deus. Aprendi a rezar,senti o gosto do terço, fiz todos os temas e a catequese. Uma vida nova estava nascendo em mim. Veio forte o desejo de ser batizado e receber o corpo de Cristo, aprendi a amar meus irmãos. Era tudo novo. Meu coração explodia de alegria. Finalmente chegou o dia do meu batismo e o céu se abriu para mim, uma extraordinária sensação de bem-estar, me sentia leve como uma pena. A partir daquele momento criei mais forças ainda para caminhar, para ajudar e amar. Iniciei a servir a casa como monitor e tentava dar o meu maximo para que os irmãos ficassem e crescessem, descobrissem aquele Deus que eu sentia dentro. Sem que eu me desse conta, estava nascendo em mim uma “vocação”. Sentia um grande desejo de fazer a vida dos missionários que visitavam o sítio e davam os cursos para nós. 9 Manifestei esse desejo ao diretor espiritual que me acompanhava e me orientou a passar 10 dias por mês “no barraco” fazendo em tudo a vida dos missionários. Depois de um ano vivido assim, o desejo aumentava mais e mais e assim ingressei no primeiro ano de formação missionária. Quantas coisas aprendi! Hoje, estou no começo do ano de noviciado e, se Deus quiser, vou professar os votos no final do ano. Sinto-me imensamente feliz e alegre em ver que também a minha família esta acompanhando na Igreja Católica. Quero entregar a minha vida totalmente a Deus que me salvou, tirando-me do poço escuro onde eu jazia. Desejo ser um instrumento para que Deus possa salvar muitos outros como fez comigo. Hoje posso dizer que a evangelização é uma questão “de vida ou morte”, porque se não tivesse encontrado a Missão, hoje estaria dois metros debaixo da terra, quero gritar, com a minha vida: Só em Jesus se encontra a 10 Na Missão Belém Deus é fiel e escreve certo por linhas tortas, que somos nós. Eis os milagres que Ele opera em nós e através de nós A história de Donizete... salvação! Donizetti é o Coordenador da Casa: depois de um passado turbolento, que lhe valeu 3 cirurgias graves ao coração, entregou sua vida à Nasci no Estado do Paraná e com oito anos de idade vim para São Paulo (Osasco), ali comecei a trabalhar, pegar firme nos estudos, e a querer realizar o grande sonho da minha vida que era o de ser um jogador de futebol. Cheguei ate fazer teste no “São Paulo futebol clube”, mas depois de uma fratura desisti do sonho, mas nunca deixei de trabalhar e aos 24 anos de idade já participante da Igreja, conheci uma moça. 11 Com ela, comecei a fazer coisas erradas que antes não fazia como fumar... , porém, não fiquei muito tempo com essa moça. Terminamos; e comecei outro relacionamento aonde tive um filho chamado Lucas. Dentro desse relacionamento eu já vivia uma vida de prostituição e adultério com muitas outras mulheres, inclusive com própria prima dela. Como eu trabalhava conseguia gastar quase 2.400 reais no final do mês com prostitutas, nas boates da cidade. Essa era a minha droga! Nesse meio tempo iniciou o trabalho na policia militar, buscava ser justo, mas a equipe em que eu trabalhava me fez conhecer a corrupção. Recebia propinas dos próprios companheiros de trabalho, sendo injusto e trabalhando pelo dinheiro. Mesmo com essa vida conheci a Vanessa, pela qual me apaixonei. No inicio do nosso relacionamento percebia o quanto ela era trabalhadora e honesta, no começo era tudo tranqüilo no nosso namoro, mesmo vivendo fora dos mandamentos de Deus. Tivemos duas filhas, a Mayara e a Beatriz. Passei com ela quatro anos da minha vida; me sentia feliz e amado por essa mulher, mas não sabia como controlar minha “droga afetiva” e sempre acabava traindo ela com outras mulheres. Em uma dessas traições fui pular carnaval, só que não esperava ter sido gravado por uma câmera de televisão, e que justamente nesse momento a Vanessa estivesse ali assistindo na mesma emissora. Para mim a noite continuou normalmente, mas quando chegou o outro dia, logo cedo, cheguei em casa e os visinhos já comentavam que haviam me visto na TV e com tudo isso acabamos terminando nosso relacionamento. Foi um tempo muito difícil para mim, um tempo de lutas e de percas, sentia no meu coração um grande vazio, mas o redemoinho do vício me arrastava sempre mais em baixo. Nesse tempo sofri também um gravíssimo acidente que quase me custou a morte: a viatura que eu trabalhava capotou, éramos quatro e eu tive muita sorte de ter sobrevivido, pois fiquei 48 dias na UTI. Os médicos quiseram até desligar os aparelhos, outros diziam que era melhor esperar, pois eu estava desacordado. 12 Sobrevivi e graças à persistência de um medico, comecei a me movimentar e a dar sinais de vida, depois de quase dois meses. Tinha varias fraturas pelo corpo, no braço no joelho, na perna... Precisei fazer duas cirurgias no coração onde colocaram em mim uma válvula metálica que ainda carrego Quando sai do hospital, voltei para a casa dos meus pais, mas quando me senti melhor voltei para a bagunça e a prostituição, já não tinha uma pessoa do meu lado e o grande vazio que eu sentia me obrigava a procurar esse tipo de prazer e a situação na casa dos meus pais também não era das melhores. Quando me dei conta disso, o meu pai já estava em cima de uma cama e quando menos esperei estava nos meus braços, morto! Foi grande a dor, mas maior foi o vício. Continuei no caminho da prostituição mesmo com a morte do meu pai. Seguramente do céu, Ele intercedia por mim: em uma daquelas noites, sem explicação, me senti sujo, um lixo e comecei a pensar nas besteiras que estava fazendo, estragando a minha própria vida e o meu corpo. Também havia feito mal a muitas mulheres que acabei destruindo com o sexo descontrolado. Fiquei tão decepcionado comigo mesmo, que resolvi pedir ajuda em uma casa de “Restauração” chamada: “Casa Amor”. Foi mais um tempo difícil que tive que aceitar, pois eu era um compulsivo por sexo, mais foi ali naquela casa que eu pude encontrar a verdadeira alegria, CONHECI JESUS DE VERDADE, CONHECI A ALEGRIA DE AJUDAR OS OUTROS, de doar o que eu tinha de precioso dentro de mim. Decidi fazer parte da Missão Belém e hoje cuido de uma casa de idosos em Bragança paulista e junto com uma equipe, cuidamos de 72 idosos e a maior alegria da minha vida é sentir em cada irmão a presença do meu Pai. Sem muitos meios cuidamos dos irmãos mais debilitados, quase terminais, que chegam da rua. Mais de 40 faleceram na nossa casa. Muitos em meus braços. O amor que eu não soube dar para o meu pai, agora tento dar para eles. Com três cirurgias no coração, sei que não vou agüentar uma quarta e o tempo que me resta quero doá-lo a Deus e aos meus irmãos. 13 14 Já faz 4 anos que estou nessa caminhada. Hoje me sinto feliz de verdade. Diante do Cardeal de São Paulo pronunciei os meus “votoscompromissos” a dedicar a minha vida a Deus para sempre. Amém! Na Missão Belém Deus é fiel e escreve certo por linhas tortas, que somos nós. Eis os milagres que Ele opera em nós e através de nós A história de Francisco Donizete, primeiro a direita está pronunciando os seus “votoscompromissos”, com Eliseu, Jaqueline e Abdias, diante do Cardeal de São Paulo, se empenhando a servir os pobres na Missão Belém. A casa de Bragança (70 irmãos doentes terminais ou mentais, cuidados por 20 irmãos de rua em restauração. É o milagre doamor! Meu nome é Francisco, venho de uma família tradicionalmente católica. Minha mãe é um mulher de muita oração e dedicada à família. Tenho 10 irmãos. Quando pequeno, me lembro que morávamos todos no interior da Paraíba. Quando eu tinha 10 anos, viemos todos morar em São Bernardo do Campo, em busca de algo melhor. Aos 12 anos comecei trabalhar numa industria metalúrgica como ajudante geral. :Foi aí que conheci as drogas. Comecei a fumar e beber, escondido de minha família. Fui morar com uma tia, por ela estar mais perto da minha fábrica, mas na verdade eu tinha vergonha do nosso barraco de maderite, dentro da favela. Assim, sozinho, conheci mais drogas: maconha, cocaína... Mas logo chegou a hora de voltar a morar com meus pais, na favela. Não parei de usar, escondido de meus pais. Fui crescendo naquela vida errada com um grande ódio, no coração. Aos 16 anos ingressei no movimento gótico, era uma seita satânica, com a qual me envolvia mais e mais a cada dia. Dormia em cemitérios, entrava nos túmulos para ter relações sexuais com meninas dentro dos caixões, violando assim o solo sagrado. Também entravamos dentro das Igrejas para zombar e praticar blasfêmias. Se os padres soubessem o que fazíamos, seguramente cuidariam mais da Santa Eucaristia. 15 Meus amigos chegavam a roubar as hóstias, recebendo-as nas mãos e depois fazia sexo em cima da hóstia consagrada. Não dá nem para lembrar tudo o que acontecia nessa seita que me envolvia a cada dia mais. Freqüentemente, nos reuníamos numa casa para usar droga e nos prostituir reciprocamente. Eu e meus colegas, usávamos roupas escuras, maquiagem escura, como lápis preto nos olhos e batom preto. Era de verdade uma coisa horrível! Foi assim até os meus 20 anos. Me lembro que, um dia, durante uma festa, na casa de um amigo que estava na rua da Igreja, eu estava drogado e sentado no calçada. Naquele momento passou um moça que me disse: “Jesus te ama!” Eu pouco entendi, mas algo entrou no meu coração. Era um aviso do céu. De repente explodiu uma briga na festa. Todo mundo estava louco. Um jovem apontou uma arma contra mim e disse que iria me matar. Eu abaixei a cabeça e, nessa hora me lembrei de Deus. Sentia que eram os meus últimos momentos de vida. Mas quando levantei a cabeça, ele tinha ido embora. Eu não sei de nada, mas a menina, que estava do meu lado, disse que as últimas palavras dele foram: “Seu anjo é maior que o meu!”. A partir desse momento, a minha vida começou a mudar. Com muito custo, aquela moça que me disse: “Jesus te ama!” começou a me levar para a Igreja. Comecei a conhecer o grupo da paróquia, que era da Renovação Carismática. Não consegui entender como se divertiam sem usar drogas! Fui conhecendo e me apaixonando sempre mais, mas não podia sair dos góticos porque estava ameaçado. Na minha grande confusão, fui me envolvendo com uma outra menina e ela acabou ficando grávida e fomos morar junto, mas a minha vida “louca” continuou. Não durou muito: depois de três anos nos separamos. Fui morar sozinho e aquela moça sempre me convidando, sem cansar. Eu também, dessa vez buscava algo mais sério. Participei de um retiro de jovens e me apaixonei por Deus! Eu não conhecia nada dele, mas, dessa vez com coragem, me afastei dos góticos e iniciei a freqüência assídua às Missas, até decidi não estudar por dois anos por não encontrar mais esses colegas que me 16 Fiz a Catequese para a Primeira Comunhão e o Crisma. Lutava com todas as minhas forças, mas ainda não conseguia me libertar das drogas. Devagar, porém, iniciei a amar mais a minha família, ficar mais em casa, sorrir mais. Fui me envolvendo sempre mais na Igreja, até me libertar totalmente. Cheguei a coordenar um grupo de jovens. Sentia que tudo isso ainda não bastava. Nós que conhecemos a vida errada, sempre buscamos coisas fortes que nos envolvam totalmente. Com um grupo de amigos, iniciamos a evangelizar as prostitutas e os homossexuais de São Bernardo, Santo André, Diadema... Depois de pouco, conhecemos a Missão Belém e sentimos que Deus nos chamava ao mesmo carisma, por isso unimos os nossos caminhos. Deus me chamou a fazer uma experiência profunda de formação dentro dessa comunidade por dois anos. Foi fantástico: sentir Deus no pobre, no irmão de rua, nos mais lascados, naquele que ninguém quer. Antes sentia nojo e dificuldade com esses irmãos, mas agora os abraço, os beijo, sinto que são verdadeiros irmãos. Na comunidade, Deus me curou de toda raiva, ódio e inveja. De jovens que fazia rituais satânicos, me tornei adorador do Corpo e Sangue de Cristo. Todo dia fazíamos 2 ou 3 horas de adoração! Era a minha maior alegria. Tornei-me Ministro da Eucaristia. Depois desse tempo, tive claro que o meu chamado era de leigo comprometido no mundo, ativo e missionário, ligado à comunidade, mas no mundo. Na Missão Belém, falamos “Raio de luz”. Sai, portanto da Comunidade de vida e iniciei uma experiência com uma moça, muito boa, que se chama Aline e, se Deus quiser, o próximo ano iremos casar. Assumi plenamente a minha filha, sentia que esse era o meu chamado. Como podia cuidar dos meninos de rua, quando a minha filha arriscava de se tornar um deles. Era necessária a minha presença de pai. Aqui, em São Bernardo formamos uma equipe de Jé-Shuá (retiro querigmático para jovens). Com a namorada que Deus me deu, nos sentimos muito unidos nessa missão e nos jogamos, de corpo e alma, na evangelização e na formação dos jovens da nossa paróquia e de outros lugares. Por exemplo, nesse mês, vamos fazer um Jé-Shuá em Pindamoiangaba (SP). Aqui em São Bernardo animamos cerca de 130 jovens divididos em 6 grupos (a lógica do Jé-Shuá é se multiplicar a cada 4-5 meses). O trabalho é tanto e a alegria de trabalhar na vinha do Senhor ainda maior! Aline é, na minha vida, um grande presente de Deus porque me dá força e me anima nos momentos mais difíceis. Ela estuda teologia e me ajuda muito. Deus abençoou o nosso trabalho porque nasceram dentro dos nossos grupos 4 vocações à Vida consagrada dentro da Missão Belém. Se Deus quiser, o próximo ano, eu e Aline vamos casar. É maravilhoso trabalhar na Vinha do Senhor, no lugar que Ele nos confiou! 17 18 Na Missão Belém Deus é fiel e escreve certo por linhas tortas, que somos nós. Eis os milagres que Ele opera em nós e através de nós. A história de Miguel de Oliveira Filho “Cheguei a beber álcool do tanque de um carro, hoje Deus sacia a minha sede e me satisfaz totalmente!” Nasci em Campo Limpo Paulista, cidade do interior de São Paulo, fui criado numa fazenda, onde vivi até os meus 13 anos de idade. Com o progresso meu pai decidiu morar mais perto da cidade, juntou suas economias, com a ajuda de minha mãe e comprou um terreno no Bairro Parque Internacional (Campo Limpo-São Paulo). Logo tive que trabalhar para ajudar em casa. No começo era meio “caipira”, não conversava com quase ninguém, depois fui me soltando. Logo comecei a namorar, sair de final de semana. O tempo foi passando eu me firmei no meu serviço, virei ajudante de padeiro, permaneci nesse serviço cinco anos. Nesse meio tempo meu pai faleceu. Teve câncer na garganta. Infelizmente fumava dois maços de cigarro por dia e isso acelerou a doença. Eu tinha quase dezoito anos. A princípio não fumava e nem bebia, mas com a morte do meu pai, senti muito, então comecei a beber mais do que devia, virou um vício. Ajudava minha mãe, mas já não era como antes, sentia que algo me faltava e fui me afundando na bebida, ao ponto de ir deixando aos poucos minhas responsabilidades de filho e de funcionário. Não demorou muito e fui mandado embora. Na época já tinha 21 anos e por causa da bebida não conseguia parar em serviço nenhum. Só fazia bico, “ora aqui, ora ali”. Foi quando minha mãe se amigou com um homem chamado Aparecido, muito trabalhador e honesto, que trabalhava num depósito de material de construção e me arrumou um serviço de ajudante de caminhão, mesmo bebendo, consegui ficar bastante tempo nesse depósito. Com 30 anos me amiguei com uma mulher com a qual vivi durante dois anos, enquanto eu tinha dinheiro, pois quando o dinheiro foi acabando, foi “acabando” também seu amor para comigo. Aos poucos fui bebendo cada vez mais. Minha família já não queria nem saber de mim, fiquei sozinho, bebendo dia e noite, na rua. Miguel, numa das casas por ele coordenadas, em Bragança, com os doentes e os velhinhos acolhidos, em 2008: “náufrago salvando náufrago!”. É o lema da Missão Belém Um certo dia andando no bairro, vi uma oficina e resolvi entrar. Qual não foi a minha surpresa?! Quando eu vi, estava lá o Luizinho, um antigo conhecido que na época que eu trabalhava no depósito, sempre levava areia lá. Como ele já me conhecia pedi que me arrumasse um serviço. Eu estava bem acabado devido ao uso do álcool e vendo a minha situação disse que só seria possível me ajudar se eu me comprometesse a parar com o vício. De imediato me comprometi a parar, afinal precisava de ajuda e queria mudar de vida. Comecei a trabalhar com ele e dormir na oficina. Consegui ficar uma semana sem beber. Fui aprendendo durante esta semana, a lavar motor, desmontar... mas precisava de bem mais que um trabalho para me levantar. Era tudo uma ilusão. Uma noite fiz uma experiência que nunca tinha feito: com uma mangueira puxei de dentro do tanque de um carro (Puma) álcool e misturei com água... Daí em diante foi assim toda noite. Eu me reduzi a um “carro” que só funciona a álcool! Tudo tem seu fim. Depois de uma semana que o carro estava encostado para conserto o dono veio buscar. O motor tinha voltado da retífica, tudo certo para funcionar, mas quando foram ligar o carro não funcionava, perceberam que estava sem combustível. O tanque estava vazio! Me lembro como se fosse hoje, a cara do Luizinho, olhando para mim, decepcionado. Depois desse acontecimento ele não me mandou embora, mas perguntou se eu queria ajuda. Como aceitei, levou-me para uma casa de acolhida para pessoas de rua que tinham problemas com álcool e droga. Avisou minha mãe e lá fiquei 19 Os primeiros dias foram difíceis, até então nunca tinha rezado tanto na minha vida. Três terços por dia, fora a pregação do coordenador, chamado Diego. Foram passando as semanas, fui fazendo amizades. Beto, Paulinho, Leandro e muitos outros irmãos. A casa era humilde, passávamos por muitas dificuldades, até mesmo de comida. Já faziam seis meses que estava lá quando chegou um padre (Padre Gianpietro). Todos ficaram felizes, ainda mais quando ele começou a fazer a casa “rodar”, no lado espiritual, na providência de alimentos e até na água que antes não tinha. Quando sai da casa, voltei para a oficina novamente, agora já não era mais aquele Miguel que não conhecia a Deus, pois aprendi graças ao padre quem é Jesus. Voltei a conversar com minha família. Arrumei serviço na prefeitura, mas não passou muito tempo, o mundo me sugou, fui esquecendo umas coisas importantes na vida da gente: humildade, oração, ser verdadeiro, e DEUS. Cai no mundo novamente, só que pior. Sabia que o remédio era o “caminho”, mas, orgulhoso, não queria voltar para a Missão. Lutei por muito tempo, mas, enfim, me rendi e fui. Fiquei nessa casa um ano e meio para reconstruir o meu espírito interior e me sentir forte com Deus. Foi nesse momento que Paulinho veio e me convidou para ajudá-lo. Disse não, duas vezes. Na terceira fui a capela e fiz para Deus um pedido estranho: se o Senhor quiser que eu vá, faça com que o Paulinho venha me buscar de carro! Foi impressionante. Mal sai da Capela e para surpresa minha, o Paulinho e o Manuel estavam no portão, de carro, me esperando então não pude dizer não. Era de Deus! Hoje faz oito meses que coordeno a Casa São Damião de Molokai, no Nova Conquista e me sinto muito feliz, caminhando na vontade de Deus. Estou pronto a ir aonde Deus me mandar. Entendi que aqui está o meu caminho. O mundo lá fora não consegue me dar a força que eu preciso para caminhar. Aqui eu sou pobre, mas posso estender a mão a centenas de pobres igual eu e levantá-los para o céu. A alegria maior que sinto é ver um irmão “renascer”, se encontrar consigo mesmo e com Jesus. Sempre me lembro a que ponto eu cheguei: beber álcool de um carro, de noite, às escondidas! Hoje sou gente, sou uma outra pessoa, com Deus no coração, Posso ajudar dezenas de pessoas... eu que não conseguia nem ficar em pé! Me sinto um milagre de Deus e percebo que, através de mim, Deus pode operar tantos outros milagres no coração dos pobres “lascados” que o procuram sem saber. 20 Na Missão Belém Deus é fiel e escreve certo por linhas tortas, que somos nós. Eis os milagres que Ele opera em nós e através de nós A história de CLEYTON E ADRIANA A força dos leigos! Casal da Missão Belém: 4 filhas biológicas e 10 do “coração”, empenhados na Evangelização dos afastados Cleyton: “...nos conhecemos 15 anos atrás. Eu era de família evangélica, roqueiro, cabeludo, cheio de piercing e tatuagem. Ela, a mais velha de quatro irmãos enfrentava o recente e dolorido falecimento da mãe.” Adriana: “Foi mesmo numa ‘festa de garagem’ que nos encontramos a primeira vez e já iniciamos a ficar juntos. Deus uniu os nossos caminhos apesar deles estarem muito tortos. Cleyton tinha problemas com bebidas, cigarro, drogas... Eu não era muito santa! Entre ‘beijos e tapas’, ‘términos e recomeço’, ‘brigas e discussões’, o relacionamento continuava, daquele jeito do mundo. Cleyton: faltava Deus no meio de nós. Nos amávamos, mas não era suficiente o nosso amor humano. Hoje entendemos que só a graça de Deus pode segurar um casamento. De qualquer forma continuávamos até que a Adriana engravidou da nossa primeira filha. Não tínhamos princípios de fé, mas resolvemos assumir as nossas responsabilidades e ir morar juntos num quartinho de meus pais. Adriana: Logo em seguida, alugamos uma casa e começou a batalha dura contra as drogas. Cleyton se libertava do craque, mais caia no álcool e em outras drogas... Era briga e luta todo dia. Nesse “clima” nasceu a nossa segunda filha, mais sofrida ainda pelo clima que se encontrava. Em um momento parecia que Cleyton parasse, mas depois descobri que usava cocaína, escondido de mim. Cleyton: Eu lutava e não conseguia. Experimentei na minha carne que, sem Deus, não se consegue sair do túnel escuro da droga. Pela misericórdia de Deus, iniciaram a vir os primeiros convites a participar de um “ENCONTRO DE CASAIS COM CRISTO”. Agradeço a Deus pela perseverança e paciência de quem nos convidava. Foram necessários 2 anos de convites. Éramos tão cegos que não imaginávamos existir luz. Não acreditávamos em nada. 21 Adriana: O milagre aconteceu, p articip amos desse ret iro e Deus iniciou a entrar na nossa vida, mas ainda não conseguimos nos libertar de todo o rastro de pecado: cervejinha, cigarrinho, baseadinho de vez em quando. . . (Cleyt on) Até que um dia participamos de um encontro carismático de “Cura e libertação”. Dessa vez Deus conseguiu entrar de cheio na nossa vida. Cleyton O Casal Acolhedor da Missão Belém: Cleyton e tirou todos os piercings, já tin- Adriana. A família é composta pelo casal, 4 filhas ha cortado o cabelo, parou de biológicas e 10 filhos “do coração” acolhidos com fumar e nos firmamos na cami- amor e carinho. nhada. Assim chegou a nossa 3ª filha e nós chegamos ao CASAMENTO NA IGREJA. Cleyton: Caminhando com Deus, descobri que podia colocar ao seu serviço as minhas “capacidades” musicais: entrei num ministério de “reggae” na igreja e conheci a Missão Belém por uma evangelização que fizemos na “FEBEM”. Logo depois vieram outras missões: na praça Silvio Romero (SP) com 500 jovens que se reuniam para usar drogas, sem que ninguém fizesse nada; com o povo de rua... Adriana: Caminhávamos com alegria sempre mais profunda. Em mim e no Cleyton crescia o desejo de orar. Antes do trabalho, ele dava um jeito de passar na capelinha da Missão Belém, no Belenzinho e fazer um pouco de adoração. Iniciamos a fazer juntos o Diário Espiritual. Nesse clima de paz veio a nossa 4ª filha. Cleyton: de um lado nos preocupava esse “crescimento” da família: será que damos conta? Adriana trabalhava no banco e eu como técnico da internet. Do outro lado, Deus nos fazia sentir forte a sua voz. Apesar dos medos, sentíamos que as paredes da nossa casa deviam se abrir, 4 filhas eram muitas...mas não bastavam! Adriana: Começamos a freqüentar a Casa Nazaré da Missão Belém, que acolhe os meninos que vem da rua. Isso nos dava uma alegria imensa e até as nossas filhas gostavam, não sentiam receio que alguém roubasse o nosso “carinho”, 22 amavam ver as crianças, que vinham da rua, felizes, faziam amizade e os laços se estreitavam sempre mais. Cleyton: Depois de um tempo que eu freqüentava a casa Nazaré, tendo deixado até o trabalho A grande família de Cleyton e Adriana com as filhas naturais e todos para oferecer os meninos acolhidos da rua, junto ao Bispo Dom Pedro, grande “pai” e a minha dispo“amigo” da Missão Belém desde o início. nibilidade total, houve na casa uma “ mini-rebelião”, uma explosão de rebeldia inesperada, mais que contra nós, contra a vida sofrida e judiada que as crianças haviam passado. Todos pensavam que a gente se retirasse, vendo como era difícil mas, pelo contrário, Deus colocou em nós uma força imensa e eu e Adriana falamos uns aos outros: “Essas crianças precisam mesmo de um pai e de uma mãe!” e assim nos decidimos a fazer da nossa casa uma “CASA DE FAMÍLIA ACOLHEDORA”. Hoje estamos com 15 filhos: 4 da “barriga” e 11 “do coração”. Adriana: É grande a alegria de ser reconhecidos como pai e mãe. Parece quase que as crianças renascem pelo carinho que sentem. Penso, por exemplo, em Helí, que chegou em casa sem falar uma palavra, só chorava e queria colo, hoje corre feliz, apronta e não tem medo de nada... Cleyton: É uma grande satisfação ver todas as crianças, nossos filhos, se tratando como irmãos, cuidando uns dos outros... e de nós. As vezes, poucas vezes, acontece que o juiz ”desabriga” uma criança e ela deve voltar para casa. Quando isso é bom, estamos felizes, mesmo com um grande aperto no coração. Mas a maior alegria é saber que estamos respondendo a um chamado de Deus como casal de leigos, cumprindo nossa missão nessa sociedade sofrida e sentimos Deus, bem perto, cuidando de nós todo dia! 23 24 Da Itália: Missão Belém Deus é fiel e escreve certo por linhas tortas, que somos nós. Eis os milagres que Ele opera em nós e através de nós A história de MATTIA E SILVIA Exemplo de leigos comprometidos com Cristo: são responsáveis, perto de Veneza, de um grupo “Ruah”, organizam retiros querigmáticos para irmãos afastados da Igreja E acolhem crianças em sua própria família MATTIA: Cresci numa família católica, sou o primeiro de 5 irmãos; freqüentava a paróquia, mas chegou o momento em que percebi que ia na Igreja somente por costume e não por paixão. Amava ficar com meus amigos do mundo, que pareciam se divertir pra caramba, enquanto o ambiente de Igreja me parecia velho, parado e triste. Fiz muita viagens para o exterior, esperando encontrar um lugar onde se vivesse mais alegre... Visitei a Europa, o Brasil, a África, a Argentina, Costarica, Cuba, Estados Unidos. A conversão de alguns amigos me levou a me aproximar novamente da Igreja de forma diferente. Aprendi a tocar violão para animar o coro paroquial. Dessa forma conseguia levar melhor a alegria da qual sentia falta. Por vários anos, todos os sábados, ia com outros jovens no “Bairro Aneis” (era um dos pontos de maior tráfico, na Itália), para fazer voluntariado e ajudar as família obrigadas a morar nesse lugar. Mas quando encontrávamos os drogados e os traficante, ou as prostitutas, percebia que não tínhamos força para dar algo de concreto para eles. Fiz também um mês nas missões da periferia de Rio de Janeiro com os missionários de Pádua. Quando voltei, o ambiente de casa e do trabalho pareciam “apertados” para mim. Em 2004 tive uma crise pessoal, não entendia o sentido de tudo o que fazia; mais por instinto do que raciocinando, resolvi pedir a conta e fui, por dois meses, para a periferia de Manila, nas Filipinas. Ajudava uma irmã franciscana num ambulatório por ela criado para curar os doentes de tuberculose. Tive impressão que esse não fosse o meu caminho. Voltando, comecei a namorar com Silvia, que já conhecia antes. SILVIA: Nasci e cresci numa família cristã, praticante, serena e unida. Sou a mais velha de 3 filhos. Vivi num ambiente paroquial, antes como animadora de grupos, depois como catequista; desde criança no coro paroquial. Desde sempre conheci bons padres dos quais recebi força e exemplos. Tive, porém, também algumas dificuldades em família causadas pelo mal exemplo de um tio que pertencia a um movimento religioso e que minaram não pouco as minhas convicções e a minha fé. Tudo isso, junto ao cansaço e à falta de estímulos, iniciei a deixar todas as atividades nas quais estava engajada e comecei a me enturmar com amigos bem longe de Deus e da Igreja. A única coisa que nunca faltou foi a S. Missa, no domingo. Apesar de cansada das coisas de Deus, não conseguia ficar sem Ele. Depois de algumas experiências de namoro, que foram grandes fracassos, cheguei à paz comigo mesma: estou bem sozinha! Deus... sabia que existia, mas não me criava grandes problemas... Levava a vida da melhor forma possível ! 25 Mas... para jogar todos os meus planos e a minha “paz” para o alto, apareceu Matia! Era maior que eu, com nenhuma vontade de se envolver, simpático, inteligente, sobretudo uma pessoa que me inspirou confiança e com o qual podia me confrontar de questões profundas. Assim foi... Conhecemo-nos no final de 2003, no início tudo parecia fácil e bonito. Em comum, tínhamos as mesmas bases: duas famílias bem estruturadas, raízes cristãs, unidas. Economicamente não precisávamos de ninguém... Acabamos nos apaixonando reciprocamente (lentamente) e casamos no mês de abril de 2005. Somente depois nos conhecemos melhor e aqui começaram os problemas porque as bases comuns não foram suficientes para unir-nos. A participação à vida religiosa e o modo com o qual enfrentávamos os problemas espirituais foram o primeiro problema; o primeiro de muitos outros... O elemento que fez explodir a crise foi o convite para o “Ruah” (retiro querigmático, que hoje coordenamos), três meses antes de casar. Eu não tinha nenhuma vontade de me empenhar, de enfrentar coisas e pessoas novas. Para mim os grupos de oração eram como fumaça nos olhos, ainda tinha as feridas daquele meu tio. Por isso rejeitei o convite e toda vez que via Matia partir para o Ruah, esperava que voltasse cansado e feliz e fazia de tudo para estragar-lhe a festa! Tudo isso se arrastou por anos, entre tentativas fracassadas de encontrar um ponto de encontro. MATTIA: Foi um momento difícil, de grande incompreensão, brigas, onde prevalecia o caráter de cada um e não o amor que nos havia unido. Uma noite, sai com a Pastoral de rua. Fomos numa região de prostituição de Pádua. No meu grupinho estava também Chiaretta (uma jovem missionária que tinha feito uma experiência no Brasil). Dela aprendi a falar de Jesus para os pobres que encontrávamos e a dar uma benção impondo as mãos. Sendo que as prostitutas rejeitavam de rezar pela vergonha que sentiam, então ela propunha de fazer somente um sinal de cruz na testa e rezar um pouco, enquanto nós intercedíamos. Isso me entusiasmou muitíssimo porque entendi que a única coisa útil de verdade era dar Jesus! O sábado seguinte quis sair de novo e me uni ao grupinho de Tommaso e Anna Raquel, na mesma região do sábado anterior. Logo fui ao encontro de uma prostituta e, fazendo o “sinal de cruz” na testa, iniciei a oração. A outra mão estava apoiada no meu coração. Tommaso e Raquel oravam em silêncio atrás de mim. De repente escutei uma voz que falava “Com as duas mãos!” Então coloquei também a esquerda sobre a cabeça da irmã e conclui a oração. Quando nos afastamos um pouco, agradeci Tommaso e Raquel pelo aconselhamento. Eu estava convencida que a voz fosse deles. Mas Raquel disse: “nós não falamos nada!”. Fiquei sem ação: aquela voz, eu a ouvi, caso contrário, não teria colocado a outra mão em cima da cabeça! 26 No verão de 2008, depois de uma milésima briga com a minha esposa (que durou a noite inteira), prometi a Nossa Senhora que teria rezado o terço todos os dias até o fim da minha vida. Em setembro 2008, devia participar da última Missa do Pe Giampietro, antes de regressar no Brasil, para ajudar com o violão. Pedi a minha esposa para me acompanhar, falando para ela que teríamos feito cantos bonitos. Sabia que ela gostava de cantar e assim veio. Na entrada da Igreja encontrei Paola, que me convidou a uma reunião para novos coordenadores do Ruah, dizendo-me que, em oração, teve a inspiração de me convidar com a esposa. Respondi sublinhando que, em primeiro lugar, minha esposa não tinha ainda participado do Ruah e, ainda pior, não queria nem ouvir falar de Ruah! No final da S. Missa, apresentei minha esposa ao Pe Giampietro, que nos abençôo, impondo as mãos. Voltando, no carro, falei para Silvia: Paola me convidou para uma reunião quarta-feira, mas você também deve vir... Com minha surpresa, respondeu: “Tudo bem, significa que devo fazer essa experiência do Ruah!” Assim participou do Ruah seguinte e depois de um outro, na sala dos encontros e, a partir de Agosto 2009, somos coordenadores da Equipe Ruah Juan Diego. SILVIA: Não é que eu tivesse muito convencida no começo! A experiência que me fez mudar mesmo foi trabalhar na sala, ver as emoções dos cursistas, a mudança das pessoas ao meu redor, tudo isso me fez entender o poder e a força de Deus e do Espírito Santo, se abrirmos o coração. Nesse tempo, também a nossa vida familiar tinha tomado seu rumo. Desde o namoro, havíamos decidido de colocar o nosso tempo a disposição de quem precisasse e, em especial das crianças, às quais faltava uma família, mesmo se por pouco tempo. Cultivávamos no coração a esperança de ter filhos nossos, mas fizemos o curso para “Casal acolhedor” e, em 2009 nos foram confiados Luca e Julia, dois irmãozinhos de 11 e 7 anos, de origem romena, filhos de pais separados, mãe com problemas psiquiátricos e judiciários, por 2 anos! Apesar da disponibilidade e das motivações fundamentais, a caminhada com essas duas crianças não foi fácil: reuniões com psicólogos, assistentes sociais que tinham opiniões diferentes das nossas, especialistas... problemas escolares... tudo dentro da nossa rotina (eu sou coordenadora de uma creche, Mattia é técnico de uma firma que produz mármores) e os RUAH, que continuavam sem parar, com todos os encontros “pós”. Tivemos momentos de desespero, mas, dessa vez, a oração nos sustentou e, com o tempo, aprendemos a trabalhar juntos, ainda mais nas dificuldades. MATTIA: Com todos os compromissos que tínhamos foi difícil encontrar tempo para rezar juntos. Em março de 2009, os nossos vizinhos, albaneses e 27 28 nos pediram para sermos padrinhos de Batismo das suas duas meninas. Para eles era algo a mais que ofereciam a suas filhas, para nós uma ocasião a mais para explicar às nossas duas crianças (provenientes de uma família atéia) o que era o Batismo, a Fé, o Paraíso, as orações, a Missa... Até que chegou o momento, foi uma noite que Luca nos pediu: “Podemos rezar o terço juntos?” Era a festa da Assunção de Nossa Senhora e as crianças continuaram dizendo: “Maravilhoso! Podemos rezar toda noite?!” A partir daquele dia, o terço à noite é o momento para concluir o dia! SILVIA: Sempre com a idéia de fazer algo de útil e de ampliar a nossa família, em janeiro desse ano, iniciamos o curso para “adoção”. É uma caminhada que nos pedirá tempo e forças, mas também uma ulterior confirmação do que estamos buscando. A experiência de ser coordenadores de uma equipe do Ruah é muito forte e coloca à prova sob muitos aspectos, porém eu e Mattia estamos mais unidos no Senhor e procuramos ser a sua Presença viva no meio dos outros para os outros. Mattia e Silvia Esse nosso testemunho deseja somente relatar o que Deus realizou através de nós: nada é impossível para Deus!” Lucélio, depois de sua caminhada no Sitio São Miguel Arcanjo, onde coordenou a construção da Casa Josué, se torna Padrinho de Batismo de um acolhido. Eis o seu testemunho. Hoje , vive feliz com sua família e tem uma empresa edil. Testemunho Antonio Lucélio Pereira Testemunho de um irmão que encontrou uma vida nova na nossa casa. Saiu há mais de dois anos atrás, montou uma empresa de construção, está bem, freqüentando a Santa Missa com a esposa, todo domingo. Durante a permanência na Missão, construiu a Casa Josué, que se encontra no sítio São Miguel Arcanjo. Hoje está tentando abrir uma casa de Acolhida para o Povo de rua, em Francisco Morato. Grande no mal... grande no Bem! “Tenho 40 anos e nasci no sertão do Ceará. Aos 19 anos deixei meus pais e vim para São Paulo. Na casinha de meu pai e da minha mãe sempre fui obediente e trabalhador. Meu pai agricultor um exemplo de homem, minha mãe professora. Um momento de fraternidade do Núcleo Ruah, coordenado por Matia e Silvia, que já envolveu centenas de leigos no anúncio querigmatico e no acompanhamento catequetico 29 Quando cheguei em São Paulo em 1990 conquistei muitas coisas trabalhando. Me casei. Com 6 anos que estava em São Paulo já tinha minha 30 A História de Eudes casa, carro e era dono de uma empresa com 12 funcionários. Tinha muito dinheiro, mas eu com meu orgulho fui esquecendo meu pai, minha mãe, minha esposa e meus irmãos biológicos. E caí no mundo, jogando, conclusão Padre: perdi tudo que Deus me deu. Eu ainda com um pouco de dinheiro em vez de me apegar em Deus, decidi comprar armas, formei um grupo de “amigos” e fui roubar para reconquistar tudo aquilo que tinha perdido. O negócio estava bom meu orgulho era tão grande para não me retirar perante a sociedade. Em 2000, 2001 conheci a cocaína e aí a coisa complicou porque achei que a cocaína preenchia tudo que me faltava. (Ah coitada da minha esposa) já passava de 3 a 4 dias que eu estava no mundo. Já não era mais só roubar também era cheirar a cocaína. Em 2004 minha filha nasceu. Aí cheirava por ter tido uma filha bonita, eu já estava naquela fase de tudo era motivo para cheirar. O dinheiro acabou. Aquelas supostas armas as vendia ou trocava por cocaína. Minha esposa já não agüentava mais foi buscar ajuda na Igreja Católica. Lá, foi encaminhada para um grupo de apoio para dependentes químicos. Ela pegou o endereço de várias casas de recuperação entre elas a casa (São Miguel Arcanjo) da Missão Belém. Em quanto minha esposa rezava, eu cheirava cocaína. Em 2007 veio minha queda a cocaína tirou tudo que tinha, perdi minha casa, minha dignidade. Mas minha esposa uma mulher de oração, e muita fé em Deus. Me levou para a Missão Belém. Eu também tinha consciência que em minha vida só Deus poderia dar tudo aquilo que o encardido me tirou. Deus me protegeu de muitas ciladas, porque quantas vezes me livrou da morte. E mesmo vivendo com o crime nunca matei ninguém, mas cheirava cocaína e vendia armas e munição. Meu Deus, meu Deus, meu Deus, caído sem forças para nada, aceitei de ir para São Miguel Arcanjo. No dia 14/04/2007, eu me rendia e um novo homem estava nascendo em mim. Fiz minha caminhada na missão Belém, ainda através de uma confissão com o Padre GianPietro Carraro confessei tudo aquilo que eu era, coisa que o mundo via, mas eu não admitia. Olhei com coragem dentro de mim e senti o perdão de Deus me lavar completamente. Hoje faz 3 anos e 2 meses que renasci em Cristo e que sou filho da Missão Belém. “Deus escolheu o que é louco aos olhos do mundo para confundir os sabios... Deus escolheu os fracos, para confundir os fortes... Deus escolheu o baixo e o desprezível... o que não vale nada” (1 Me chamo Eudes, estou com 52 anos e nasci na cidade de Jequié (BA). Sai de lá com 13 anos, pois éramos uma família muito pobre, com 13 filhos! Meu pai era policial e, uma vez aposentado, trabalhou como barbeiro, mas todos os dias voltava em casa bêbado pois gostava de sinuca e bares. Bebia sempre mais e nesses momentos me batia porque via em mim algo de esquisito (uma tendência homossexual). À noite eu fugia e ia dormir nas minhas tias. Eu era o caçula dos homens. Todos os meus irmãos saíram espalhando-se para o Brasil e eu acabei ficando sozinho, fazendo os trabalhos de casa. As perseguições continuavam e me obrigava a dormir na rua. Certo dia, uma minha irmã mais velha não suportou as atitudes de meu pai para comigo e deu queixa na delegacia. Eu fiquei com pena do meu pai e fui contra a minha irmã, mas o juiz resolveu dar duas passagens para Rio de Janeiro. Lembro ainda a última saudação do meu pai. Depois de uma caminhada de Restauração à luz da Palavra de Disse “Porque vocês Deus, Eudes recebe o Crisma com o Dom José Maria, Bispo fizeram isso emerito de Bragança, grande amigo da Missão Belém. 31 comigo?”. Choramos juntos, como estou chorando agora pois foi a última vez que eu o vi! Saindo de casa, fiquei um pouco como uma bolinha de ping-pong: Rio, Minas, São Paulo... Nessa capital fiquei com a minha mãe que estava doente e precisava de tratamento. Com 14 anos comecei a trabalhara numa fabrica de “macarrão” onde aprendi a fazer “capellet”, “fuzile”, tudo era feito manualmente; “raviole” era na maquina... à noite estudava. Dessa forma comecei a fazer “amizades noturnas” no Centro de São Paulo, com garotos que tinham o meu mesmo problema de homossexualismo. Lá no centro, havia uma rua, chamada Marconi, que, naquele tempo era dos “gays”. Sem ninguém que me desse uma direção, sozinho, largado no mundo, comecei a fazer como todos: me prostituir para ganhar dinheiro, escondido. Passava os fim de semana fora e só voltava na segunda. Nesse tempo faleceu também meu pai, de cirrose e minha mãe, pelas doenças que tinha. Fique totalmente só. Fui trabalhar numa ótica e, infelizmente, um cliente, me deu um cartão de uma casa, chamada “ relex for man” . Ali iniciei a trabalhar como recepcionista... As portas do mal se abriram. Vários clientes me escolham para manter relações sexuais com eles, ás vezes devia manter com o marido e a esposa também. Enfim virei um “rapaz de programa” e comecei a atuar como bar-man e garçon. Contando tudo, ganhava muito bem e o diabo me prendia sempre mais. Foram 7 longos anos. Sai, viciado na maconha e na bebida, na maldita pedra e na cocaína. Arrumei trabalho como porteiro e segurança numa faculdade do Pacaembu, mas foi pouco tempo. Logo retornei para a “casa de massagens”... Tudo em mim estava descontrolado. Tive uma grande decepção com o “amigo” que me prejudicou muito. Deixou maconha na casa que estava sob a minha responsabilidade e que tinha sido premiada como a “melhor casa” de Ibirapuera. A policia chegou, quando eu não estava presente e a casa foi lacrada. Fique com tanto ódio, que num domingo, de madrugada, pulei o muro, entrei e fiz o maior estrago, quebrei tudo: lustres, portas de vido, mesas... Depois disso, iniciei a beber bastante, fui atropelado, fiquei internado por 9 meses, por causa de uma infecção hospitalar, que me deixou a hepatite B. A droga era um vicio de família. Na casa do meu irmão havia 11 drogados e 32 Seu pai, meu irmão, estava viciado em heroína, maconha, cocaína, mas se “converteu”, tornando-se pastor, depois de ter tirado a vida de um homem. Outro filho se suicidou por causa de maconha e cachaça. A filha e o marido eram viciados: o marido morreu pela droga e a filha deles, de 13 anos ganhou um tiro de um traficante na cabeça e se foi ela também! Quanto estrago não fez a droga nessa família e na minha vida. Saindo da Baia, pelo caminho, perdemos tudo, a começar pelos valores. Não tinha nada que norteasse a nossa vida. São Paulo para nós foi a fossa, o fim de tudo. Depois do hospital, fui parar num albergue, onde conheci um amigo que me indicou uma casa de recuperação evangélica, onde fiquei um ano e meio. Ali, pela primeira vez, senti quanto Deus nos ama e nos chama para uma Vida Nova. Sai, sendo “diácono evangélico”, depois de ter feito 6 meses de “teologia”. Infelizmente não mudei o meu costume antigo. Arrumei um trabalho, mas nos fim de semana ia para a “maloca” e lá ficava até a madrugada da segunda feira quando voltava para o trabalho. Tive que sair do emprego e só a “maloca” sobrou para mim. Deus é tão bom que mandou uma alma santa, que tinha conhecido na casa evangélica e juntos fomos para a “Missão Belém”. A casa se chamava “Sede Santos” (SBC) e foi a coisa mais linda que eu tenha encontrado. Lá a gente se aprofundava na Palavra. Chegue ruim, muito fraco, sem força mais, mas fui retomando alento e me entreguei, até que fui escolhido como “monitor”. Para dizer a verdade, rejeitei duas vezes, mas a terceira senti que A casa se chamava “Sede Santos” (SBC) e foi a coisa mais era Deus que me linda que eu tenha encontrado. Lá a gente se aprofundava chamava e que eu na Palavra. 33 devia retribuir um pouco o seu amor. Compreendi o Plano de Deus sobre cada um de nós: Deus me fez “homem” e me deu a missão de ser “homem”. Eu não posso inverter a minha sexualidade porque seria trair o sonho de Deus me presenteou com muitos “filhos”, que estão iniciando a Deus sobre mim: caminhada de Restauração, igual eu muitos anos atrás. Obrigado a Deus! ele me deu um corpo de homem para eu cumprir a minha missão de homem. Hoje sou feliz, mesmo se a vida passada, às vezes volte com suas tentações, eu sei qual é a Vontade de Deus sobre mim e desejo me entregar a ele corpo e alma. Passando o tempo, me tornei coordenador de uma casa para homossexuais em Jarinu. Foi lá que o Padre bateu nas minhas costas e me disse: “ Irmão você foi escolhido para fazer uma missão em Belém do Para!” . Aqui estou, tentando me entregar a Deus, mesmo com os problemas no meu coração. Depois de ter trabalhado numa casa de primeira acolhida, hoje estou montando uma pequena “fabriqueta” de artesanato que quis se chamasse “São José”. Antigamente pedia muito a Deus uma mulher que me desse um filho. Mulher tive, hoje não tenho mais, mas Deus me presenteou com muitos “filhos”, que estão iniciando a caminhada de Restauração, igual eu muitos anos atrás. Obrigado a Deus pela Missão Belém existir e também por eu existir até hoje, pela misericórdia de Deus. Estou muito feliz que Deus possa usar da minha pequenez na sua obra. 34 35 36 Na Missão Belém Deus é fiel e escreve certo por linhas tortas, que somos nós. Eis os milagres que Ele opera em nós e através de nós A história de Frank O sofrimento da infância Nasci na divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Com 4-5 meses de vida, minha mãe me abandonou e fui parar em um orfanato. Aos meus 8 meses, um casal simples e humilde me adotou, dando-me amor e carinho. Sentia os meus pais as pessoas mais felizes do mundo. Tinha duas irmãs: a Lilia e a Liliane, que gostavam muito de mim, brincavam e cuidavam de mim como seu fosse filho delas A minha vida era uma maravilha: família unida e alegre. Eu gostava de jogar futebol e sonhava ser grande jogador. Mas de repente veio o meu primeiro sofrimento consciente: a separação da minha mãe e meu pai adotivos. Foi o segundo grande golpe da vida, que me machucou muito. Senti um pedaço do meu coração sendo arrancado. Minha mãe, com que eu fui morar, conheceu outra pessoa e meu pai foi levar a sua vida com outra mulher; a minha irmã mais nova foi morar com meu pai e a mais velha se casou. Num só momento tudo foi destruído, mais uma vez. Lembro-me que, aos 12 anos, comecei a andar com pessoas “diferentes”, a correr atrás de meninas para namorar, a sair no final de semana, a fumar o cigarro... Comecei a me acorrentar aos poucos. Passei a beber bebidas alcoólicas: uma cerveja aqui e uma pinga ali... tudo era “festa”. Quando percebi já estava paralisado. Eu sentia alegria, na hora, mais depois algo me incomodava. Era muito vazio em mim. Me lembro que comecei a assistir muitos filmes de pornografia . Não conseguia viver sem a pornografia. Vivia trancado em casa. Tornei -me escravo da masturbação, do álcool, do cigarro, do sexo, da maconha... Minha Irma começou a desconfiar e não quis que eu ficasse lá mais. Fui morar com meu pai e aí me afundei de vez nas baladas e na vida errada. Eu precipitava em queda livre! Agora, entre os meus escravizadores se acrescentou o crak, mas a dominante era o álcool. Escravo dos vícios: preferia a pinga à minha namorada! Em 2005 quis buscar outras coisas: o dinheiro que ganhava não dava mais para mim. Tinha me tornado um autêntico alcoólatra escravo. Lembro que eu conheci uma menina chamada Aline e me apaixonei por ela. Namorei durante 6 meses, mas sempre que eu ia ver ela estava bêbado. Chegou o dia que essa moça falou para mim: “Você prefere a maldita pinga mais do que eu! Vai embora!” Assim acabou tudo e eu comecei a beber mais ainda, a dormir na sarjeta para ser dono do meu nariz... Tornei-me traficantenoia Um dia me pediram para guardar droga e assim comecei a queFRANK, no dia de sua Primeira Comunhão. Sua vida é um rer ser traficante, testemunho vivo do poder de Jesus, capaz de transformar um ganhar dinheiro fácil. “noia” perdido em um “discípulo-missionário”, que, hoje, é coordenador de uma casa da Missão Belém, no Paraná, e cuida Ia buscar cocaína, como laranja... o famoso dos irmãos que buscam sair dos vícios da rua. avião, e pegava um pouco. Me sentia o cara! Comecei a cheirar bastante. Em pouco tempo meu nome se espalhou e toda a cidade sabia que eu vendia. O mal é um “redemoinho” que nunca para. Chegou o dia que me ofereceram o crack para vender e eu aceitei. Mesmo que eu não admitisse, tinha me tornando um “nóia”! Numa noite fumei tudo o crack! Fiquei em desespero: e agora para eu pagar o que eu faço? Fiquei em casa uma semana escondido e logo minha irmã desconfiou e me perguntou. Falei a verdade. Ela chorou muito e falamos para a minha mãe. Com muito sofrimento minha mãe pegou 640,00 e me deu para pagar. Fui, paguei, falei que nunca mais ia fazer isso, que ia mudar de vida... palavras de um nóia! Na mesma noite estava bebendo e me drogando. Até Deus me ajudou, mas eu não sobe aproveitar das oportunidades e continuei a fazer sofrer as pessoas 37 38 Dom Pedro Luiz, atual Bispo de Franca, confere o Sacramento do Crismo a Frank.: “ESSE MEU FILHO ESTAVA MORTO E VOLTOU A VIDA , ESTAVA PERDIDO E FOI ENCONTRADO... E assim eu renasci!” que me amavam. Minha família se decepcionou e eu não tinha mais razão para viver: sentia nojo de mim, queria sair daquela escravidão, mas não conseguia. Estava acorrentado ao vicio. De repente, fui trabalhar para fora do triangulo mineiro, em Araxá. Pensei que indo para outra cidade ia mudar, mas esqueci que era eu que tinha que mudar e não a cidade. Também lá eu trabalhava só para manter os vícios. Na cidade onde moravam os meus pais, todos diziam que estava morto, mas eu continuava aprontando e usando drogas. Conheci varias meninas, até que fui morar com uma e com o tempo fui virando um preguiçoso: não quis mais trabalhar e abri uma casa de jogos de fliperama. Aquele também virou um ponto de trafico. Comecei a cheirar tudo de novo. Saia todo fim de semana e virava a noite em baladas... Fui de mal para pior até chegar no fundo do poço, na lama: morava num barracão, vendia crack, fumava bastante, vivia pelos bares, bebendo e chorando. E minha mãe rezava por mim! Quando voltava em casa, encontrava sempre minha mãe rezando o terço e nem sabia o que era. Um dia perguntei a ela o por que e ela me respondeu: é para Nossa Senhora te proteger, é uma promessa que eu fiz. Hoje sei que, se ainda estou vivo, é graças àquele terço. Tornei-me ladrão Mas ainda eu devia apanhar bastante para entender. Fiquei sabendo que a minha filha, fruto do um antigo relacionamento, havia nascido. Quis vê-la. Com muito custo juntei dinheiro e fui. Chegando lá, na festa, gastei todo dinheiro com droga e mulheres. Não sobrou nada para a minha filha e nem para eu voltar. Eu era dominado pelo álcool, pela droga, pelo sexo. Fiquei por lá mesmo e comecei a vender drogas. Como sempre, vacilei. Fiquei devendo a um traficante e o pior era que, dessa vez, não estava ninguém perto de mim, nem pai, nem mãe para encharcar... só ficava roubar para pagar... Assim foi que me tornei “ladrão”. Na primeira tacada foi 1.600,00 em prazo de 10 minutos. Paguei o que devia, ficou muita coisa, me senti o rei naquele final de semana, mas logo acabou o dinheiro e o Frank lá na rua largado, com fome e frio, sem tomar banho, me sentia um lixo. Estava me tornando um verdadeiro mendigo. O roubo para mim era a única forma de manter o vicio. Comecei a entrar em mansões e a roubar notebook e tudo o que vinha na frente, um dia estava. Um dia a policia me pegou. Já estava “caguetado”, mas não sabia. Me levaram para a delegacia e eu apanhei, apanhei, apanhei ...fiquei com o corpo roxo o braço. O dono que havia roubado, chegou lá e eu apanhei mais ainda. Era um mendigo, mas continuava a roubar. A policia começou a ficar em cima e já não tinha sossego: quando me pegava, me levava para a delegacia e me batia, batia, batia. Era muita humilhação, mas não parava. Deus nunca desistia de mim Chegou o dia que a policia me pegou no fragrante. Comecei a correr e correr e eles me perseguindo, gritando: “pega o ladrão, pega o ladrão”. Naquele dia eu não agüentava mais correr, acho que tinha corrido uns três quilômetros. Falava em pensamento a Jesus: me perdoe, eu não vou correr mais, não agüento, me proteja. Quando menos esperei, cai no chão: era um lago cheio de mato eu me abaixei e cobri a cabeça de mato e naquela hora comecei a rezar. Pedir para Jesus me livrar. A policia chegou e o cara me procurando. Eu via ele, mas ele não me via. Eu, dentro da água, escutava o barulhos de seus passos, mas não me encontravam. Depois de duas horas e meia, todos foram embora. Deus estava sempre perto de mim, mas eu sempre me afastava dele. De novo estava na rua largado, mendigando... Só esperava a morte. Já estava me tornando um louco. Via as pessoas falarem no celular, já corria, com medo, pensando que estavam chamando a policia ou estavam armando para me matar. Eu mesmo tinha nojo de mim, só pensava na morte. Não via mais solução... estava acorrentado à sarjeta! Era um lixo cabeludo, barbudo, fedido, largado. Quando todos me abandonaram, Deus continuava ao meu lado, sem desistir, mas eu não percebia. Um raio de luz na minha vida De onde estava, consegui uma passagem para Jundiaí e lá Deus me esperava. Procurei o S.O.S. para o povo de rua. Enquanto esperava a janta, fui fumar um cigarro lá fora. De repente, encostou um carro e desceram algumas pessoas estranhas: moças alegres, com saias compridas e cabeça careca... achei esse povo louco e me assustei. 39 40 Mas eles iniciaram a louvar na capela do S.O.S. e uma mulher me convidou para ir entrar. Iniciei a ouvir uma a música e senti algo no meu coração, algo inexplicável. Rezaram por mim e, no final, falaram da “Missão Belém”, de um “sítio de oração” para as pessoas se “restaurarem”... Eu precisava disso mesmo: um lugar calmo, afastado do mundo pois já tinha nojo do mundo. Aceitei e fui para Jarinu. Me acolheram com calor. Pude tomar um banho e me deram uma roupa para eu vestir. Quando tirei a minha, levei um susto: nunca tinha ficado tão sujo e largado, eu estava no fim mesmo! Na Triagem, primeira acolhida, me convidaram a rezar o terço. Fui, mas passei vergonha pois não conhecia a Ave Maria e nem o Pai Nosso. Não desanimei, fiquei, persisti. Devagar aprendi a rezar o terço, fazer o Diário espiritual, fazer adoração... Foi uma revolução para mim, que mal sabia o que era uma igreja. A alegria de me doar ! Encontrei a solução da minha vida: Jesus! Depois de um tempo, me convidaram a trabalhar na casa Josué com os idosos. Aceitei porque não tinha coragem de falar não. Quando cheguei, me assustei: não sabia, dar banho, trocar frauda, dar comida na boca... não imaginava que fosse assim. Sentia até um certo nojo e pensa va já em fugir, durante a noite. Tentei, me lembro que subia para cima, onde está o portão e voltava, subia e voltava... de repente, me lembrei que tinha prometido de servir a Jesus o resto da minha vida se Ele me tirasse da fossa onde estava. Deus estava tocando no meu coração. Por que eu devia me negar mais uma vez? Persisti e fui pegando amor para aqueles velhinhos. De repente iniciei a enxergar essas pessoas piores do que eu e me dizia: elas precisam de mim, não posso ir embora! O senhor Messias, de 100 anos era o meu xodó. O dia que minha irmã veio me visitar, lhe perguntou: “o Frank cuida bem do senhor?”. E ele respondeu: “Sim, ele cuida muito bem!”. Ouvir isso de uma pessoa de 100 anos, que não tem mais nada, me deu um nó na garganta... senti que lá era o próprio Jesus que falava para mim. Comecei a reconhecer o rosto de Jesus em cada idoso. Fiquei na casa Josué por seis meses, conheci como e gratuito o amor. Nesse período morreram 4 velinhos nos meus braços. Não posso esquecer do Moacir que tinha um câncer na língua, saia bicho, precisava de cuidados contínuos. Foi nele, pela primeira vez, que eu vi Jesus. Tudo isso mexia com a minha vida. Eu achava que estava ajudando e na rea lidade esses velhinhos estavam fazendo uma revolução na minha vida! Chegou o dia da minha 1ª Comunhão: foi um sonho. Fiquei acordado desde às 3 da manhã, meditando, adorando. Não tenho como descrever minha alegria. Foi a maior riqueza que Deus me deu. Marcou muito a minha vida, por isso que estou aqui até hoje. Iniciei a dar testemunho nos retiros, para outros irmãos que estavam chegando e me fortalecia sempre mais. Enfim fui visitar a minha família, que ficou imensamente feliz em me ver daquele jeito. Via a alegria deles, mas optei pela Missão Belém. Voltei, fiz o Crisma. Depois de uma ano, Deus me chamou para fundar uma nova casa no Paraná, onde estou até hoje. Quando ninguém mais confiava em mim, nem eu mesmo, Deus não desistia e tinha um plano bem claro. A frase que mais gosto de meditar, no Santo Evangelho é Lc 15,24 “ESSE MEU FILHO ESTA VA MORTO E VOLTOU A VIDA , ESTAVA PERDIDO E FOI ENCONTRADO... E assim eu renasci! Nella Missione Belém Dio è fedele e scrive diritto su righestorte, che siamo noi. Ecco i miracoli che Lui opera in noi e at- La storia di Nobertino Nobertino: “un bambino di strada” evangelizzando sulla rua No diário desse mês vamos conhecer o testemunho de um pequenino de Deus. È uma das nossas primeiras crianças acolhidas na Casa Nazaré. Ele chegou a mais de 3 anos, quando nossos missionários faziam pastoral de rua. O seu irmão menor pediu ajuda e, através dele que hoje mora com uma irmã, Nobertinho também saiu da rua e veio para nossa casa. Nobertinho (nome fictício) sentiu muitas dificuldades devido o vício da droga. Tinha crises que o deixavam desnorteado, mas o amor de Deus passado através dos tios da casa o ajudaram muito a não desistir e a permanecer firme lutando pela libertação dos vícios. Na Missao de rua, ele deu o seu testemunho: Pe. Giampietro: Comece contando um pouco do que você sofreu, como começaram os seus problemas? Nobertinho: Começou quando eu tinha 5 anos de idade e minha mãe morreu, depois também o meu pai morreu e eu fui morar na casa da minha tia. Fiquei lá por um tempo e não gostei de lá não. Então eu fui para as ruas e comecei a usar droga. Comecei a me viciar, aqui neste lugar mesmo, aqui usei por muito tempo droga, me perdi mesmo. Pe. Giampietro: Você tinha quantos anos quando foi parar nas ruas? Nobertinho: 9 anos Pe. Giampietro: E você já usava droga com 9 anos! Que tipo de coisa você usou? Nobertinho: Quase todo tipo de droga: cola, maconha, tinner, todo tipo de droga que os adultos usam. 41 42 Pe. Giampietro: Quanto tempo você ficou sofrendo pela rua? Nobertinho: 5 anos Pe.Giampietro: E como é que foi quando voce resolveu... O que aconteceu... Como é que você veio para a nossa casa? Na Missão Belém Nobertinho: Vim quando a tia... Thais missionária... me evangelizou. Eu fui para a casa mas nao tinha no pensamento a intenção de ficar, porque è assim que se faz. Fiquei 2 dias e voltei para as ruas, para o mesmo estado em que estava. Comecei a usar droga de novo. Agora eu parei de usar, mas demorou muito para eu parar de usar droga porque eu me viciei muito usando drogas, morando no Vale Pe. Giampietro: Então, você gostaria de dizer alguma coisa de coração para os amigos que estão aqui nos escutando, a Maria que tem 18 anos, bem mais que 13. O que você queria dizer? Qual a mensagem para esses amigos nossos, irmaos, todos que estão aqui? Nobertinho: Queria dizer que nao vale apena ficar nessa vida só de usar droga, porque usar droga não te leva a nada. Pe. Giampietro: Então o que deveria fazer? Nobertinho: Ir para a casa de Deus, rezar, se apegar a Deus Pe. Giampietro: Você esta feliz? O que tem nessa casa? Conta um pouco... Nobertinho: Tem meu pai que cuida de nós, tem minha mãe, Maria Judite. Pe. Giampietro: Vamos bater palma para ele que conseguiu sair das ruas… Hoje, ele já é um adolescente que estuda, faz esporte, e ajuda em casa como todas as crianças. Gosta de estudar e se empenha em fazer uma boa caminhada. É decidido, pois sempre diz que drogas nunca mais. Nobertinho é muito feliz com sua grande família do coração. Mora com um dos nossos casais acolhedores, que com muito amor e carinho o acolheram como filho. Tem mais 07 irmãos (são mais seis crianças acolhidas e a filha biológica do casal que acabou de nascer). Lá vivem como família; uma verdadeira família cristã que buscam viver juntos a rotina do dia-a-dia com um olhar voltado para os ensinamentos de Jesus. Seu desejo é ser feliz ao lado de Deus e que todas as crianças e adolescentes de rua possam experimentar a paz e alegria que ele vive hoje. Deus é fiel e escreve certo por linhas tortas, que somos nós. Eis os milagres que Ele opera em nós e através de nós A história do Sr Zé Eu nasci em Araçatuba, interior de São Paulo. Venho de uma família pobre mais bastante honesta, cristã, que todos os domingos ia à missa. Lembro que meus pais levavam eu e meus irmãozinhos na missa e ensinavam como amar os irmãos. Aos treze anos mudamos para capital onde consegui meu primeiro emprego registrado em uma metalúrgica e recebia todas as sextas-feiras. Logo conheci alguns amigos que freqüentavam as noites e as baladas. Daí veio a primeira namorada, o primeiro cigarro, o primeiro gole de cuba... foram só aumentando os goles e diminuindo os dias de trabalho. Eu comecei a desandar mesmo, mas é muito longo contar tudo. O pior veio aos meus 29 anos, quando conheci a maconha. Foi muito rápido o envolvimento e acabei perdendo vários empregos ao ponto de entrar para o trafico para me sustentar. A roda foi girando sempre mais, cheguei a controlar 4 biqueiras de cocaína, e quando não recebia o dinheiro de quem devia eu pagava para matar ou eu mesmo matava. Tudo isso é muito duro, até para eu lembrar. Em 1995 já tinha sido preso varias vezes, mais a fiança do patrão me tiravam. Meus pais faleceram, meus irmãos já não eram mais os mesmos, tinham medo e vergonha de mim. Em 1999 eu sofri um acidente de moto que causou seqüelas graves. Foi como se tirassem o chão de debaixo de meus pés e me encontrei sozinho. 43 Gastei tudo o que havia construído para sobreviver, mais continuei na droga a ponto de não saber mais o que queria ou o que fazer. Assim fui parar “no fundo do poço”, nas ruas do centro de São Paulo onde conheci o verdadeiro inferno, cheguei a pedir a morte. Mas foi lá que ouvi falar da Missão Belém, e sem conhecer nada, senti grande desejo te mudar, queria ajuda. Em 9 de setembro de 2009 eu vim para o sitio de São Miguel Arcanjo, e foi no Je-Shua que ouvi Jesus falar: “ A partir daqui Eu vou estar contigo porque você esta me aceitando, mas eu sempre te segui ate você chegar aqui.” Com o tempo eu fui vendo que tudo era muito bonito: os irmãos que chegavam e logo mudavam, eu comecei a pedir a Deus que me deixasse ajudar esses irmãos e Deus me deu um coração chorão, que chora e sofre por cada irmão. Hoje eu não sei o que Deus fez ou o que Deus quer, mais aprendi que Jesus veio para pagar os nossos pecados, e só quer que nos amemos uns aos outros e o resto Ele faz. Hoje sou muito feliz pelo que Deus me deu e por poder partilhar essa felicidade que eu fiquei buscando onde não existia. Vejo a felicidade nos rondando por todos os lados, em cada gesto de amor que vejo nos irmãos que vieram da rua, chegam com sua tristeza e hoje conseguem sorrir. Isso é de Deus! “Eu não me conheço mais...” Eu que tinha o revolver tão fácil, hoje me encontro chorando por um irmão que aceita a Restauração, que faz um gesto de conversão. Ontem conversei com um irmão que, entre as lágrimas, me dizia: “ Eu não conhecia Deus. Para mim, o meu Deus era a boca do meu revolver. Não tinha dor de ninguém, era um bicho. Meu pai foi-se embora de casa nos dia dos pais e minha mãe morreu entre os meus braços no dia das mães, enquanto eu levava um buque de flores para ela. Para mim a vida era só matar e roubar, mas aqui eu conheci Deus. Eu sou uma outra pessoa, não sou mais o mesmo!” Enquanto esse irmão falava, parecia a minha história. Eu peço a cada dia que Deus me de sabedoria para saber como posso ajudar esses irmãos a conhecerem esse amor que sinto por Jesus e Maria nossa Mãe. Obrigado Senhor... Hoje estou ajudando no sitio como coordenador e sei que se não fosse por Deus eu não conseguiria e estaria na mesma ou pior situação que antes.Quero e peço a Deus todos os dias que me use para que seja também canal de graça. Obrigado Deus. 44