Antonio Carlos Gonçalves do Amaral

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL
ANTONIO CARLOS GONÇALVES DO AMARAL
A INCLUSÃO SOCIAL DE PACIENTES PSICÓTICOS:
Um enfoque educativo em psiquiatria por meio de um grupo terapêutico
Ijuí – RS
2013
1
ANTONIO CARLOS GONÇALVES DO AMARAL
A INCLUSÃO SOCIAL DE PACIENTES PSICÓTICOS:
um enfoque educativo em psiquiatria por meio de um grupo terapêutico
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação Strictu Senso
da Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, para
fins de obtenção do título de Mestre em
Educação nas Ciências.
(Linha 2. Teorias pedagógicas e dimensões
éticas e políticas da educação)
Orientador: Prof. Dr. Paulo Rudi Schneider
Ijuí – RS
2013
2
RESUMO
Esta é uma pesquisa de avaliação, de natureza qualitativa do tipo descritivo
exploratório, acrescida da análise de conteúdo nos resultados encontrados. Com
esta pesquisa viso avaliar a experiência psiquiátrica em inclusão social dos
pacientes psicóticos em tratamento no CAPS II de Ijuí/RS, operacionalizada por
meio de uma prática de ensino e aprendizagem em grupo terapêutico de atividade
multidisciplinar e sua real competência como alternativa terapêutica. Ressalto que o
grupo não pode ser visto só como um instrumento de pesquisa, mas como o próprio
meio de socialização. A população foi constituída de doentes mentais com
esquizofrenia, que frequentam regularmente os grupos terapêuticos no CAPS II, de
Ijuí/RS. Para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com
perguntas fechadas (objetivas) e abertas (subjetivas) nos três segmentos
pesquisados: pacientes, cuidadores/familiares e profissionais da saúde mental
atuantes no grupo terapêutico. Essas entrevistas foram aplicadas por um
entrevistador, que não participa do grupo, assegurando o tão importante caráter de
neutralidade. Utilizei para análise qualitativa o método de Minayo (2001) e para a
análise de conteúdo, o método de Bardin (2011). Constatei nas respostas
quantitativas o atual estágio de evolução do paciente em seu tratamento; e nas
respostas qualitativas, a competência ou não do grupo terapêutico nesse processo
evolutivo, que busca a inclusão social desses pacientes. As respostas dos pacientes
permitem perceber seu desempenho cognitivo revelando capacidade para uma
discussão reflexiva sobre as temáticas escolhidas, o que lhes propicia a apropriação
de suas emoções, do seu corpo, de sua história - elementos indispensáveis para a
constituição do indivíduo no social. Aos cuidadores/familiares, uma vivência reflexiva
sobre as referidas questões, o que podemos considerar uma experiência
(aprendizagem) que permite aproximarem-se mais de seu paciente, criando um meio
mais acolhedor e mais real para o mesmo. Aos profissionais da saúde mental, a
percepção do quanto esses pacientes têm sua capacidade cognitiva presente,
embora, inicialmente, mais limitada pela distorção da realidade. Esta capacidade
permite aos pacientes fazerem o adequado aprendizado reflexivo sobre sua doença
mental e compreender que esta não o impede de participar no social. Concluí que a
terapia de grupo foi eficiente para encontrar alternativas junto à educação que
permitam a inclusão social, oportunizando ao paciente, aos cuidadores/familiares e
profissionais da saúde mental pudessem vivenciar suas práticas de forma reflexiva,
transformando-as em experiências (aprendizagem).
Palavras-chave: Saúde Mental. Esquizofrenia. Grupo Terapêutico. Inclusão Social.
3
ABSTRACT
This paper is an evaluative research, it is qualitative, descriptive and
exploratory with a content analysis on the results. It intends to answer an inquiry on
mental health: the power of the therapy group as a treatment option, recovery and
rehabilitation in mental health. The study population consisted of patients with
schizophrenia who regularly attend therapeutic groups in CAPS II, Ijuí / RS. For data
collection were carried out semi-structured interviews with closed questions
(objective) and open (subjective) in the three studied segments: patients,
caregivers/family members and mental health professionals working in the
therapeutic group. They have been applied by an interviewer, who does not
participate in the group, giving it a great character of neutrality. The Minayo method
(2001) was used for qualitative analysis and the Bardin method (2011) for the content
analysis. It is observed in the quantitative answers the group's present stage of
evolution in their treatment and it is observed in the qualitative responses, the
competence or no of the group therapy in this evolutionary process, which seeks the
social inclusion of these patients. Patient responses allow us to perceive their
cognitive capacity empowering them for a reflective discussion on the themes
chosen, which gives them ownership of their emotions, body, history, indispensable
elements for the formation of the individual in society. For the caregivers and family
members, a reflective experience on those issues which we consider an experience
(learning) enabling them to get closer to their patient, creating a more welcoming and
more real atmosphere for them. For mental health professionals, the perception of
how much these patients have a cognitive ability present, although initially more
limited by the distortion of reality. This ability enables patients to make the suitable
reflective learning about their mental illness and how much it does not prevent them
from participating in society. It is concluded that the group therapy was effective to
find alternatives along with the education that enable a social inclusion. Allowing the
patient, caregivers/family members and mental health professionals to experience
their practices reflexively, turning them into experience (learning).
Keywords: Mental Health. Schizophrenia. Therapeutic Group. Social Inclusion.
4
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Classificação dos pacientes em relação ao Gênero ................................ 40
Gráfico 2 – Classificação dos pacientes em relação à Idade ..................................... 41
Gráfico 3 – Classificação dos pacientes em relação à Escolaridade ......................... 42
Gráfico 4 – Classificação dos pacientes em relação ao Estado Civil ......................... 43
Gráfico 5 – Classificação dos pacientes em relação à Renda Declarada .................. 45
Gráfico 6 – Classificação dos pacientes em relação ao Tempo de Participação no
Grupo ......................................................................................................................... 47
Gráfico 6.1 – Histórico dos pacientes no CAPSII ....................................................... 48
Gráfico 7 – Capacidade de identificar a doença mental no outro ............................... 50
Gráfico 8 – Autopercepção do sofrimento mental ...................................................... 53
Gráfico 9 – Sente-se afetado com o estigma e preconceito ....................................... 55
Gráfico 10 – Em casa como prefere estar .................................................................. 58
Gráfico 11 – Confiabilidade no outro .......................................................................... 60
Gráfico 12 – Capacidade de iniciativa em interações sociais ..................................... 62
Gráfico 13 – Tempo gasto com lar, trabalho, estudos ................................................ 64
Gráfico 14 – Capacidade de autonomia ..................................................................... 66
Gráfico 15 – Gênero dos cuidadores.......................................................................... 79
Gráfico 16 – Idade dos cuidadores............................................................................. 81
Gráfico 17 – Escolaridade dos cuidadores ................................................................. 82
Gráfico 18 – Estado civil dos cuidadores ................................................................... 83
Gráfico 19 – Renda declarada dos cuidadores .......................................................... 84
Gráfico 20 – Percepção da doença mental do outro .................................................. 85
Gráfico 21 – Percepção da doença mental do familiar ............................................... 87
Gráfico 22 – Sente-se afetado com o estigma e preconceito ..................................... 90
Gráfico 23 – Em casa como prefere estar .................................................................. 92
Gráfico 24 – Confiabilidade no outro .......................................................................... 94
Gráfico 25 – Capacidade de iniciativa em interações sociais ..................................... 96
Gráfico 26 – Tempo gasto com lar, trabalho, estudos ................................................ 98
Gráfico 27 – Capacidade de autonomia ................................................................... 101
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – A ponte japonesa de Giverny – Claude Monet 1840 ................................. 71
Figura 2 – O grito – Edward Münch – 1893 ................................................................ 72
Figura 3 – O quarto – Van Gogh 1888 ....................................................................... 74
Figura 4 – A Santa Ceia – Leonardo da Vinci – 1452 ................................................ 75
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 7
1 APORTES TEÓRICOS ........................................................................................... 16
1.1 CONCEITUAÇÕES DE EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO EM SAÚDE ...................... 16
1.2
INDIVIDUAÇÕES
NOS
REFERENCIAIS
PSIQUIÁTRICOS
E
PSICANALÍTICOS...................................................................................................... 18
1.3 INDIVIDUAÇÃO: CORPO E EMOÇÕES NOS REFERENCIAIS DE ANTÔNIO
DAMÁSIO E ESPINOSA ............................................................................................ 21
1.4 INDIVIDUAÇÃO EM UM GRUPO TERAPÊUTICO .............................................. 24
1.5 INDIVIDUAÇÃO NO PARADIGMA DA LINGUAGEM .......................................... 25
1.6 INCLUSÃO SOCIAL EM SAÚDE MENTAL: MEDICAÇÃO E ABORDAGENS
PSICOSSOCIAIS ....................................................................................................... 26
1.7 INCLUSÃO SOCIAL EM UM GRUPO TERAPÊUTICO........................................ 29
2 CAMINHO METODOLÓGICO ................................................................................ 31
2.1 PROBLEMATIZAÇÃO DA PESQUISA ................................................................. 31
2.2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 31
2.3 OBJETIVO GERAL .............................................................................................. 31
2.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................ 32
2.5 TIPO DE PESQUISA ............................................................................................ 32
2.6 LOCAL.................................................................................................................. 33
2.7 SUJEITOS DA PESQUISA................................................................................... 34
2.8 INSTRUMENTO DE COLETA E ANÁLISES DE DADOS .................................... 36
3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...................................... 40
3.1 CARACTERÍSTICAS DOS PACIENTES .............................................................. 40
3.2 RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS MESMOS EM RELAÇÃO AOS
PACIENTES PESQUISADOS .................................................................................... 49
3.3 ANÁLISE DAS REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS DOS PACIENTES A
RESPEITO DE SUAS EMOÇÕES ............................................................................. 68
3.4 CARACTERÍSTICAS DOS CUIDADORES .......................................................... 77
3.5 RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS SOBRE A
PARTICIPAÇÃO DOS CUIDADORES ....................................................................... 85
3.6 QUESTIONÁRIO AOS TÉCNICOS EM SAÚDE MENTAL ................................. 102
3.7 RELAÇÕES DOS ASPECTOS OBJETIVO E SUBJETIVO NOS TRÊS
SEGMENTOS PESQUISADOS QUANTO ÀS QUESTÕES APLICADAS................ 107
4 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 111
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 116
ANEXOS .................................................................................................................. 119
7
INTRODUÇÃO
Considero importante motivação para a realização deste trabalho a revisão
da prática baseada na medicalização de pacientes psicóticos, embora uma prática
indispensável para suas estabilizações. Esta prática ensinou-me que medicar não
estava sendo suficiente para ajudá-los a sair de seu isolamento e para apoiá-los na
busca de uma real inclusão social, embora estando fora das crises psicóticas.
Esta reflexão exigiu-me a mudança de paradigmas, isto é, a necessidade de
uma autenticidade na busca de novas formas de tratamento. Creio que isto só foi
possível pela interação com os pacientes, aprendendo a ouvi-los em sua linguagem
não verbal, isto é, seu isolamento gerador de inquietação na busca de algo mais
para seus tratamentos.
A importância de encontrarmos tempo para refletirmos sobre nossa
experiência pode ser considerada uma grande aprendizagem, ou seja, a reflexão
sobre a nossa própria prática, conforme nos mostra Bondía em suas assertivas
sobre a importância da reflexibilidade crítica:
A experiência é cada vez mais rara, por falta de tempo. Tudo o que se
passa, passa demasiadamente depressa, cada vez mais depressa. E com
isso se reduz o estímulo fugaz e instantâneo, imediatamente substituído por
outro estímulo ou por outra excitação igualmente fugaz e efêmera. O
acontecimento nos é dado na forma de choque, do estímulo, da sensação
pura, na forma da vivência instantânea, pontual e fragmentada. A
velocidade com que nos são dados os acontecimentos e a obsessão pela
novidade, pelo novo, que caracteriza o mundo moderno, impedem a
conexão significativa entre acontecimentos. Impedem também a memória, já
que cada acontecimento é imediatamente substituído por outro que
igualmente nos excita por um momento, mas sem deixar qualquer vestígio.
O sujeito moderno não só está informado e opina, mas também é um
consumidor voraz e insaciável de notícias, de novidades, um curioso
impenitente, eternamente insatisfeito. Quer estar permanentemente excitado
e já se tornou incapaz de silêncio. Ao sujeito do estímulo, da vivência
pontual, tudo o atravessa, tudo o excita, tudo o agita, tudo o choca, mas
nada lhe acontece. Por isso, a velocidade e o que ela provoca, a falta de
silêncio e de memória, são também inimigas mortais da experiência
(Bondía, 2002, p. 23).
Para Bondía (2002), existe diferença entre experiência e experimento: o
experimento é genérico, produz consenso; e a experiência é singular, produz
diferença. Este foi o estímulo inicial que recebi do orientador Prof. Dr. Paulo Rudi
Schneider no sentido de buscar uma reflexão sobre uma prática em saúde mental
8
para que a mesma pudesse ser vivenciada como experiência, considerando
experiência como um encontro consigo mesmo, um encontro com algo que se prova.
Procuro fazer uma breve reflexão histórica da saúde mental em nosso país,
priorizando o seu momento atual, contextualizando-a com perspectivas de diferentes
autores que a têm vivenciado com suas singulares experiências.
Penso ser adequado, neste momento destacar o papel inovador e pioneiro
para a Psiquiatria Brasileira de Nise da Silveira. Esta Alagoana, nascida em Maceió
em 1905, depois de afastada das suas atividades públicas como médica psiquiatra
por perseguições políticas, retorna ao trabalho no Centro Psiquiátrico do Engenho
de Dentro (Rio de Janeiro), funda a Seção de Terapia Ocupacional no antigo Centro
Psiquiátrico Nacional, em 1946, local onde, em 1952, funda o Museu das Imagens
do Inconsciente.
Em 1956, cria a Casa das Palmeiras, destinada ao tratamento e à
reabilitação de egressos de hospitais psiquiátricos. Nise da Silveira deu um passo
extraordinário na direção de criar algo genuíno para a psiquiatria e para a psicologia
modernas. Impôs a tarefa de exercer seu trabalho de psiquiatria integrando suas
reflexões psicológicas e sociais a um novo modelo de trabalho psiquiátrico, cujo
centro de gravidade retirava o paciente de um mundo de clausura em que a arte e
vida contrapunham-se e deslocava-o para o interior de um moderno estilo de espaço
que afugentava o mal-estar e o tédio.
Num enfrentamento aberto com a psiquiatria da época e a própria arte
conceitual, cria nos ateliês na Casa das Palmeiras e no Centro Psiquiátrico Pedro II,
no Rio de Janeiro, um tratamento de vanguarda. Jovens psiquiatras e psicanalistas,
psicólogos, poetas, críticos de arte e os próprios pacientes encontraram na médica a
inspiração para sonhar com seus projetos futuros. Com o encantamento e o rigor de
um exame crítico, que lhe era peculiar, a psiquiatra recebia estudantes e
pesquisadores de todas as áreas (Silveira, 2008).
Como poderá ser visto no texto referente à reforma psiquiátrica e às
diferentes influências do exterior e do próprio Brasil, seria injusto, por interesses
obscuros, deixar de valorizar este pioneirismo de Nise da Silveira.
No contexto atual da saúde mental no Brasil, ocorre a mudança do modelo
hospitalocêntrico para um modelo de retorno dos pacientes às suas comunidades. A
Lei nº 9.716 de 07/ 08 /92 da reforma psiquiátrica no Rio Grande do Sul criou várias
mudanças em diferentes áreas de atendimento a esses pacientes. A Lei nº 10216 de
9
06 / 04 / 01 do Ministério da Saúde, em seu artigo 1º, cria os Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS) (Brasil, 2000).
Destaco apoiado na reflexão de Pereira (2001), os importantes elementos da
retrospectiva histórica da reforma psiquiátrica no Brasil e as suas diferentes
influências, em diferentes períodos.
No Brasil, a partir da década de 1970, surgiu o movimento de Reforma
Psiquiátrica, que busca substituir os manicômios por iniciativas sociais,
culturais, políticas, científicas, jurídicas, assim como modificar os conceitos
e a relação da sociedade com os doentes mentais. A Política de Saúde
Mental no Brasil foi fortemente influenciada pela experiência italiana que
teve a frente Franco Basaglia. No entanto, na prática, não encontramos uma
aplicação efetiva das diretrizes desse modelo. As propostas expressam em
seus objetivos uma preocupação em reduzir o número de pacientes
internados e o tempo de internações dos mesmos, além de conter
referência à participação das famílias e das comunidades na assistência em
Saúde Mental, porém os papéis que competem a cada um destes parceiros
não são ainda bem definidos ou mesmo compreendidos. (Pereira, 2003;
37(4): p. 93)
Na perspectiva de melhor entender este papel e poder melhor defini-lo em
minha prática, motivei-me para repensar a minha vivência profissional em saúde
mental com pacientes psicóticos.
Ao me referir aos pacientes psicóticos nesta pesquisa, estou me referindo
especificamente aos doentes mentais com esquizofrenia. Como a esquizofrenia
pode causar grave deterioração das faculdades cognitivas, estigma social e prejuízo
funcional, a identificação e as intervenções precoces são necessárias para prevenir
o avanço da doença e buscar a máxima reabilitação do paciente. No referencial
teórico, dou atenção especial à caracterização do indivíduo psicótico, em especial o
esquizofrênico.
Considero importante buscar no D.S.M. IV (Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais) os principais sintomas que caracterizam a esquizofrenia
considerando que esses sintomas permitem uma linguagem uniformizada, elemento
indispensável para a credibilidade das pesquisas em diferentes centros mundiais
(Noto, 2012):
A. Sintomas característicos: pelo menos dois dos seguintes quesitos
presentes por um tempo significativo durante o período de um mês:
- Delírios – pensamentos falsos;
- Alucinações – percepções irreais;
10
- Fala desorganizada - alteração do pensamento;
- Comportamento desorganizado ou catatônico (total);
- Sintomas negativos – embotamento afetivo, alogia (falta de lógica) e
abulia (falta de vontade).
B. Disfunção social e ocupacional durante espaço significativo de tempo.
C. Duração: sinais contínuos que persistem no mínimo durante seis meses.
D. Exclusão de transtorno esquizoafetivo e transtorno do humor.
E. Exclusão de uso de substâncias e condição médica em geral.
A esquizofrenia é uma doença que tem seu início geralmente na
adolescência quando aparecem seus principais sintomas em função das cobranças
de desempenho pela família e pela sociedade, necessitando varias formas de
tratamento ao longo da vida.
O presente estudo surgiu na perspectiva de busca de uma nova
contextualização da psiquiatria na prática de educação em saúde mental. Busco
junto à educação métodos de ser mais acessível e efetiva no conflito que surge pelo
retorno desses pacientes às suas famílias e a suas comunidades quando não
acompanhado do devido preparo de ambas para uma efetiva inclusão social dos
pacientes psicóticos (esquizofrênicos).
Assim motivei-me para trabalhar a experiência de inclusão social dos
pacientes psicóticos em um grupo terapêutico, no qual as relações interpessoais
estão fortemente presentes. Com esse trabalho espero que eles possam refazer
seus mundos internos e assim retomar seu desenvolvimento como seres humanos.
Ressalto aqui: sempre que uso o termo inclusão social, neste trabalho, estou
me referindo à reabilitação social desses pacientes psicóticos numa experiência
humanizante a todos os envolvidos (pacientes, familiares e profissionais da saúde)
através de um grupo terapêutico, de característica operativa.
Conforme destaca Barros (2007) sobre a noção de reabilitação social, esta
implica as diferentes intervenções terapêuticas de forma planejada:
A noção da reabilitação psicossocial permite o entendimento que qualquer
processo terapêutico tem que ser parte de um projeto de intervenção
planejado por toda equipe, cujos objetivos gerais dirijam-se ao incremento
da: consciência do paciente a respeito dos seus problemas; autonomia
afetiva-material-social do paciente; incorporação do paciente na vida de
relação social e política (Barros, 2007; 41(Ésp.): 817).
11
Com esta pesquisa viso avaliar a experiência psiquiátrica em inclusão social
dos pacientes psicóticos em tratamento no CAPS II de Ijuí/RS, operacionalizada por
meio de uma prática de ensino e aprendizagem em grupo terapêutico de atividade
multidisciplinar e sua real competência como alternativa terapêutica. A necessidade
desta problematização se deve ao retorno dos pacientes psicóticos à sua
comunidade e à necessidade de práticas terapêuticas inclusivas, considerando o
despreparo da família e da própria comunidade para recebê-los.
Na pesquisa utilizei o método de pesquisa qualitativa, descritiva e
exploratória de Minayo (2001); o método análise de conteúdo de Laurence Bardin
(2011). Considero importante a abordagem desses dados de forma reflexiva e
associativa entre o objetivo e o subjetivo.
As temáticas das questões objetivo-subjetivo avaliadas são relacionadas a
seguir:
- Questão 1: Empatia com o sofrimento mental do outro
- Questão 2: Autopercepção do sofrimento mental
- Questão 3: Lidando com estigma e preconceito
- Questão 4: Socialização no ambiente familiar
- Questão 5: Confiabilidade no outro
- Questão 6: Capacidade de iniciativa em interações sociais
- Questão 7: Tempo gasto com lar, trabalho e estudos
- Questão 8: Capacidade de autonomia
Este trabalho objetiva avaliar e compreender a atual experiência de inclusão
social dos pacientes psicóticos em uma prática de ensino e aprendizagem em saúde
mental, operacionalizada por meio de um grupo terapêutico do qual faço parte,
permitindo a eles apropriarem-se de seu corpo, de suas emoções e de sua história
para sua constituição como indivíduos sociais. A ideia aqui é destacar o quanto a
subjetividade dos pacientes psicóticos pode ser construída individualmente e por
meio das relações sociais, no grupo, experimentando, assim, dois movimentos: o da
individualidade e do coletivo.
De acordo com Sullivan (1947): “não existe período evolutivo com o ser
humano existindo fora do âmbito do desenvolvimento quando a pessoa vive fora do
reino das relações interpessoais” (apud Gabbard, 1998, p.133).
12
Para Gorenstein (2000), a saúde é definida como o completo bem-estar
físico, mental e social, não apenas como ausência de doenças. Durante os últimos
anos, tem-se buscado a aferição de aspectos da saúde do doente mental no Brasil.
Atualmente, é necessário falar em qualidade de vida, que se refere ao bemestar físico, mental e social do indivíduo e a percepção geral de seu estado de
saúde, a satisfação em geral com sua vida e suas atividades e a evolução de sua
doença. A necessidade de melhor entender as limitações e o sofrimento dos doentes
mentais, em especial os pacientes psicóticos, é por si motivação para a avaliação da
qualidade de vida dessas pessoas.
Quanto aos determinantes socioculturais e a doença mental, os estudos em
saúde mental (Kaplan, 1997) mostram que os estilos de vida, a cognição, os
mecanismos de defesa e até mesmo várias doenças mentais possuem relação com
a classe social. Como o conceito de classe social pode ser formulado sobre diversos
critérios: poder econômico prestigio social, identificação religiosa ou política,
considero que pode ocorrer uma tendência a ampla generalização, levando assim a
pensamentos
estereotipados.
Como
exemplo,
relaciono
a
atribuição
de
impulsividade e adiamento de gratificações a classes sociais mais pobres. Existem,
porém, outras relações de análise que parecem ter um caráter mais científico, como
autonomia e o nível de rendimento econômico.
As pesquisas das ciências do comportamento conseguem estabelecer que
os estresses crônicos ocorrem com maior frequência na classe operária do que na
classe média. As mesmas pesquisas associam também o fato de que os transtornos
mentais, bem como sintomas de desconforto psicológico, ocorrem com maior
freqüência nas classes econômicas mais baixas, entre pessoas sem vínculos
significativos, entre aqueles que “não têm papéis sociais úteis e entre aqueles que
sofrem perdas de vínculos importantes”.
A esquizofrenia é descrita nas mais variadas culturas e nos diferentes
grupos socioeconômicos. Nos países mais industrializados, ela ocorre em um
número elevado e desproporcional nas classes econômicas mais desfavorecidas ou
ditas inferiores. Este fato pode estar relacionado à dificuldade que essas pessoas
possuem para saírem desta classe, ou seja, de terem ascensão social. Pode, porém,
ocorrer o inverso quando pessoas afetadas pela doença mental e toda a
desestruturação que ela pode causar em seu meio familiar têm seu padrão e
qualidade de vida diminuída.
13
Gorenstein (2000) destaca que, sob o aspecto de Saúde Pública, é muito
importante o estudo da qualidade de vida dos doentes mentais, tendo em vista que,
à medida que existe melhora neste campo, menores serão as taxas de internações
psiquiátricas, menor a sobrecarga para os familiares e/ou sistema de saúde. À
medida que cresce a capacidade de controlar os sintomas dos pacientes, priorizando
o seu retorno para a comunidade (inclusão social), cresce também o interesse na
avaliação de seus sintomas residuais e, consequentemente, sua qualidade de vida.
Na saúde pública, em especial na comunidade de Ijuí (RS), ao longo dos
anos de 2004 a 2012, sentimos a necessidade de diferentes intervenções
terapêuticas no tratamento em saúde mental, sempre com a finalidade da inclusão
social dos doentes mentais. Todas essas intervenções estão associadas ao
processo de ensino e aprendizagem entre profissionais da saúde, pacientes e seus
familiares.
Gonçalves (2001) expressa o que se espera da reforma psiquiátrica no
Brasil, que não seja a transferência dos muros do hospital para os muros da casa do
doente mental, mas sim:
O que se espera da reforma psiquiátrica não é simplesmente a transferência
do doente mental para fora dos muros do hospital, "confinando-o" à vida em
casa, aos cuidados de quem puder assisti-lo ou entregue à própria sorte.
Espera-se, muito mais, o resgate ou o estabelecimento da cidadania do
doente mental, o respeito a sua singularidade e subjetividade, tornando-o
sujeito de seu próprio tratamento sem a idéia de cura como o único
horizonte. Espera-se, assim, a autonomia e a reintegração do sujeito à
família e à sociedade (Gonçalves, 2001; 9(2): p.51).
A promoção da inclusão social é fundamental porque tratamento,
recuperação e reabilitação, embora diferentes entre si, não configuram fases
estanques no tratamento da doença mental. Na prática, para o melhor êxito, em
determinado momento essas três fases se entrelaçam e potencializam-se umas às
outras. Por isso, deve ser incentivado esse processo o mais cedo possível, tão logo
o indivíduo esteja apto para tal (Louzã, 1999).
Destaco aqui resumidamente o que será abordado nos capítulos que
constituem esta dissertação para, assim, termos uma sequência dos principais
temas abordados nesta pesquisa, que busca avaliar a competência do grupo
terapêutico como opção de tratamento, de recuperação e de reabilitação (inclusão)
social de pacientes psicóticos.
14
No capítulo um, incluo os principais referenciais teóricos que permitem
pensar esta prática de inclusão social dando-lhe um suporte científico com auxilio de
diferentes áreas da ciência, tais como:
- a educação que nos fornece elementos para a educação e promoção em
saúde mental;
- a psiquiatria e a psicanálise fornecem elementos para pensar o processo
de individuação no contexto do social;
- a filosofia e a neurociência nos referenciais de Espinosa e Antonio
Damásio, que enfocam o aspecto do corpo e das emoções indispensáveis
para a tomada de consciência do individuo como tal.
Neste mesmo capítulo, apresento em enfoque do grupo terapêutico como
espaço ideal para que seja trabalhada a individuação no social, destacando a
importância da linguagem verbal e não verbal dos pacientes e seus familiares no
processo de interação com os profissionais de saúde mental e a importância da
medicação e das abordagens psicossociais, especialmente no contexto da terapia
de grupo.
No capítulo dois destaco a problematização da pesquisa, sua justificativa,
seus objetivos, com um detalhamento adequado desses itens. Abordo o processo
metodológico, considerado fundamental por Bardin (2011) para uma adequada
coleta de dados e sua posterior análise de conteúdo, a metodologia de Minayo
(2001).
No capítulo três procuro fazer a apresentação e a discussão dos resultados
nos três segmentos pesquisados, inicialmente individualizada e posteriormente em
conjunto, visando dar sempre um enfoque integrativo entre os aspectos objetivo e
subjetivo, ou seja, quantitativo e qualitativo. Na análise dos resultados, reservo um
espaço para a representação gráfica dos pacientes no que se refere à simbolização
de suas emoções vivenciadas através de quadros pintados coletivamente nos
grupos.
No quarto capítulo busco, a partir dos resultados obtidos e de suas análises,
discutir uma conclusão que, se não definitiva, permite uma resposta à
problematização inicial desta pesquisa, isto é, o grupo terapêutico pode ser
considerado como uma competente alternativa formal de ensino e aprendizado na
psiquiatria? Esta conclusão ocorre num contexto interdisciplinar em saúde mental
15
para uma real inclusão social dos pacientes psicóticos sem deixar de considerar que
este processo é contínuo assim como é todo o processo de ensino e aprendizagem.
Finalizo com as Referências Bibliográficas e os Anexos.
16
1 APORTES TEÓRICOS
Inicio os aportes teóricos pela conceituação de educação e de promoção em
saúde. É imprescindível apresentar alguns conceitos sobre os referenciais de
individuação do paciente psicótico e associá-los às condições adequadas para ele
participar efetivamente da experiência de inclusão social.
Esta reabilitação que pretendemos ocorre em um grupo terapêutico, e está
baseada nos referenciais psiquiátricos buscando uma relação com uma prática de
ensino e aprendizagem em saúde mental, num âmbito interdisciplinar.
Parto
indispensáveis
do
pressuposto
para
entender
de
a
que
esses conceitos são
necessidade
que
o
pré-requisitos
paciente
psicótico
(esquizofrênico) tem de apropriar-se de seu corpo, de suas emoções, de sua história
e assim realizar sua individuação refazendo seu mundo interno por meio dessas
etapas que, acredito, sejam indispensáveis para sua inclusão social. Abordo na
sequência os conceitos de educação e saúde, processos de individuação, condições
indispensáveis para uma adequada reabilitação social do doente mental.
Em nossa experiência de inclusão social, através de uma prática educativa
interdisciplinar, o grupo terapêutico teve um papel fundamental permitindo que o
planejamento das tarefas operativas fosse discutido pelos profissionais, pelos
pacientes e pelos seus familiares, possibilitando a todos a consciência e
responsabilidade de sua participação no individual e no social.
1.1 CONCEITUAÇÕES DE EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO EM SAÚDE
Conforme Bondía existe a necessidade de reflexão entre a dicotomia teoria e
prática quando pensamos a educação:
Costuma-se pensar a educação do ponto de vista da relação entre a ciência
e a técnica ou, às vezes, do ponto de vista da relação entre teoria e prática.
Se o par ciência/técnica remete a uma perspectiva positiva e retificadora, o
par teoria/prática, remete, sobretudo a uma perspectiva política e crítica. De
fato, somente nesta última perspectiva tem sentido a palavra “reflexão” e
expressões como “reflexão crítica”, “reflexão sobre prática ou não prática”,
“reflexão emancipadora” etc. Se na primeira alternativa as pessoas que
trabalham em educação são concebidas como sujeitos técnicos que aplicam
com maior ou menor eficácia as diversas tecnologias pedagógicas
produzidas pelos cientistas, pelos técnicos e pelos especialistas, na
segunda alternativa estas mesmas pessoas aparecem como sujeitos críticos
que, armados de distintas estratégias reflexivas, se comprometem, com
17
maior ou menor êxito, com práticas educativas concebidas na maioria das
vezes sob uma perspectiva política (Bondía, 2002, p. 19).
Podemos entender por educação em saúde quaisquer combinações de
experiências de aprendizagem delineadas com vistas a facilitar ações voluntárias
conducentes à saúde, e por promoção em saúde, uma combinação de apoio
educacional e ambiental que visa atingir ações e condições de vida conducentes à
saúde. Candeias (1997) considera como apoio educacional e ambiental as ações
multidisciplinares que poderão conduzir os pacientes a atingir condições de inclusão
social, tais como suas vivências em um grupo terapêutico e no social em geral.
Considero que, em termos de reabilitação social, efetivas vivências em grupo
terapêutico e no social em geral devam ser refletidas para a formação de
experiências para assim o indivíduo apropriar-se delas.
Utilizando os conceitos de Ruiz (2004) sobre educação em saúde, ressalto
que os processos educativos envolvem uma comunicação bilateral ou seja, seguem
uma comunicação que envolve o educador e o educando, um processo dialógico
para o qual ambos contribuem, cada qual a sua maneira, para a construção do
conhecimento. Tais processos ocorrem com base no contexto de vida das pessoas,
dos seus cotidianos, das suas experiências e devem ter como propósito libertar as
pessoas para que estas possam ser sujeitos sociais capazes de fazer opções
construtivas para suas vidas e para a sociedade.
A educação em saúde é um trabalho dirigido para atuar sobre o
conhecimento das pessoas para que elas desenvolvam juízo crítico e capacidade de
intervenção sobre suas vidas e sobre o ambiente com o qual interagem. Assim,
podem criar condições para se apropriarem de sua existência (autonomia). Nas
palavras de Gonçalves, especificamente em relação à educação em saúde mental:
A ocorrência de uma contradição importante entre as propostas da reforma
psiquiátrica e a devolução ou manutenção do doente mental na família pôde
ser confirmada. O doente mental está sendo entregue à família sem o
devido conhecimento das reais necessidades e condições da família,
especialmente das cuidadoras em termos materiais, psicossociais, de saúde
e qualidade de vida, aspectos estes profundamente interligados.
(Gonçalves, 2001, março; 9(2): p.54).
Buscamos corrigir esta contradição apontada acima por Gonçalves (2001),
oportunizando, por meio do grupo terapêutico, as informações necessárias aos
18
pacientes e familiares para que tenham condições de lidar com uma doença crônica
que tanto sofrimento lhes traz, especialmente quando desinformados de como lidar
com ela.
1.2 INDIVIDUAÇÕES NOS REFERENCIAIS PSIQUIÁTRICOS E PSICANALÍTICOS
A psiquiatria dinâmica, para Gabbard (1998), constitui uma abordagem de
diagnóstico e tratamento, um modo de pensar acerca do paciente e do entendimento
clínico, que inclui o conflito inconsciente, os déficits e as distorções das estruturas
intrapsíquicas e as relações objetais internas. Este entendimento está fundamentado
no conhecimento e na teoria psicanalítica, a destacar: conflito, déficit e as três
escolas psicanalíticas.
O conflito origina-se a partir de intensas forças inconscientes que buscam
expressão e enfrentam resistências constantes de forças opostas que impedem sua
emergência. O déficit refere-se àqueles pacientes que, por quaisquer razões em seu
desenvolvimento, apresentam estruturas psíquicas enfraquecidas ou ausentes.
A psiquiatria dinâmica contemporânea baseia-se em “três grandes marcos
teóricos psicanalíticos” (Gabbard, 1998, p.23-4, 39-57):
a) psicologia do ego, derivada da teoria psicanalítica clássica de Freud
conceitua o mundo intrapsíquico em termos de conflito entre as
instâncias. O superego, o ego, e o id batalham entre si, ao passo que a
sexualidade e a agressividade demandam expressão e descarga. O
conflito entre as instâncias produz ansiedade, gerando-se no ego uma
defesa (sintoma neurótico);
b) teoria das relações objetais, derivada do trabalho de Melaine Klein e dos
membros da Escola Britânica. O conflito inconsciente não é apenas uma
batalha entre impulso e uma defesa; mas também um choque entre pares
opostos de relações objetais internas (relações internalizadas:” mãe
boa/mãe má”, inicialmente dissociadas e numa fase posterior integradas);
c) psicologia do self derivada da tradição interpessoal sullivaniana,
reformulada e elaborada em termos contemporâneos por Heinz Kohut.
Esta enfatiza como os relacionamentos externos ajudam a manter a
autoestima e a coesão do self, considerando self a representação que o
indivíduo tem de si próprio. Esta abordagem entende o paciente como
19
tendo uma necessidade intensa de certas respostas das pessoas para
conseguir um senso de bem-estar.
Segundo os conceitos de Zimmerman (2004), neurose é o conflito entre o
ego e as diferentes instâncias do inconsciente; psicose implica um processo
deteriorante das funções do ego a tal ponto que haja, em variáveis graus, algum
prejuízo do contato com a realidade.
O indivíduo psicótico (esquizofrênico) é aquele que tem sua noção de ego
corporal fragmentada, projetando esta fragmentação no meio externo (Escola da
Psicologia do Ego) e passando a ver o mundo externo como fragmentado, distorcido
e assim temido. Esta fragmentação tão presente em seu pensamento e em sua
linguagem causa-lhe séria repercussão em seu processo de comunicação.
Por outro lado, os conceitos relacionados ao processo de separaçãoindividuação estão muito presentes nos estudos de Mahlher (1993), que se refere ao
nascimento
psicológico
como
o
processo
de
separação-individuação:
o
estabelecimento de desligamento (ser destacado) do mundo real e da relação com
este mundo, particularmente no que diz respeito às experiências do próprio corpo do
sujeito e ao principal representante do mundo como a criança o experimenta, o
objeto primário de amor.
Para a psicanalista Mahler (1993), separação e individuação são concebidas
como dois desenvolvimentos complementares: a separação consiste na saída da
criança da fusão simbiótica com a mãe, e a individuação consiste nas aquisições
que marcam o momento em que a criança assume suas próprias características
individuais. Como qualquer processo intrapsíquico, este reverbera através do ciclo
da vida, permanece sempre ativo. Portanto, por este enfoque desenvolvimentista o
indivíduo psicótico tem uma fixação em uma fase de seu desenvolvimento.
Tomando como referência o processo de separação-individuação no
paciente psicótico, ocorre uma fixação em uma dessas etapas, ocasionando-lhe um
déficit em seu desenvolvimento psíquico. Fixação muito associada a um processo de
frustração, geralmente em seus primeiros anos de vida, com o qual não teve
estrutura psíquica adequada para lidar.
Podemos pensar a partir desses conceitos que o indivíduo psicótico tem
uma representação interna distorcida dos objetos/mundo externo, que passa a ser
visto por ele como assustador e persecutório, com forte repercussão na sua
convivência social.
20
Na visão da escola das relações objetais, que tem em Melaine Klein uma
importante precursora, esta representação de mundo externo dividido em objetos
bons e maus e sua representação no mundo interno cria uma fase de evolução,
presente em todos, chamada de esquizo-paranoide, seguida de outra fase evolutiva
chamada de depressiva, quando esses objetos bons e maus são integrados com
suas representações no mundo interno. No paciente psicótico ocorre uma fixação na
fase esquizo-paranoide com a consequente divisão e visão distorcida de realidade.
Portanto, os estudos de Melaine Klein trouxeram uma importante contribuição para o
entendimento do paciente psicótico (Gabbard, 1998, p. 39-57).
Cabe, ainda, ressaltar nessa escola a importante contribuição de W. Bion ao
estudo da psicose, especialmente pelo seu interesse pelos fenômenos do
conhecimento, pensamento, linguagem, comunicação, vínculos e aos estudos sobre
a dinâmica de grupo (Zimerman, 2004, p.121).
Com relação à terceira escola psicanalítica, chamada de escola da
psicologia do self, esta prioriza as relações interpessoais que o indivíduo tem no
mundo externo e sua representação em seu mundo interno. Gabbard (1998) destaca
o papel do psicanalista Harry StackSullivan, que dedicou sua vida a estudar os
esquizofrênicos e acreditava que a etiologia do transtorno resultava de dificuldades
interpessoais precoces (particularmente no relacionamento pai/mãe-filho) e definiu o
tratamento como um processo interpessoal em longo prazo que tenta abordar
aqueles problemas precoces.
A maternagem defeituosa, de acordo com Sullivan (1962) (apud Gabbard,
1998, p.135), produz um self carregado de ansiedade na criança e evita que a
mesma tenha suas necessidades satisfeitas.
Segundo Gabbard (1998), esquizofrenia refere-se fundamentalmente a
pessoas isoladas que não conseguem superar seu medo e descrença dos outros
devido a experiências precoces na vida, especialmente de frustrações.
Para Travis (2004) a esquizofrenia é uma doença crônica, complexa e
multifatorial:
A esquizofrenia é uma condição clínica heterogênea: o início ocorre nos
primeiros anos da idade adulta, e a doença segue um curso crônico com
recaídas e remissões. É uma patologia cujo estudo é inerentemente difícil,
uma vez que a definição da síndrome esquizofrênica varia com a época e o
local. A dificuldade em reconhecimento e avaliação afeta todas as esferas
da pesquisa da esquizofrenia e, por conseguinte, a evolução. Já os estudos
21
de história natural da doença são influenciados por fatores tais como curso
e evolução variados, bem como as definições de remissão e de
recuperação. De modo semelhante, os estudos de tratamento e intervenção
são afetados pela escolha de grupos de pacientes, a presença ou não e o
tipo de grupos controles, e a generalização dos resultados para uma dada
população de pacientes (Travis, 2004, p.ix).
Destaco a importância da associação desses diferentes referenciais
psicanalíticos, quer sejam de déficit ou conflito, quer sejam das diferentes escolas
psicanalíticas, para entender de uma forma integrada que o paciente psicótico sofre
uma fixação em determinada etapa de seu desenvolvimento, especialmente pela
limitação em lidar com frustração, causando-lhe uma visão fragmentada de mundo
externo/interno, bem como uma visão parcial de objetos/mundo externo, assim como
de relacionamentos interpessoais tumultuados e suas representações distorcidas em
seu mundo interno, resultando sempre numa visão assustadora de mundo externo.
Considero que este entendimento baseado nos aportes teóricos de Gabbard
(1998) referenciados acima possa dar sustentação teórica para que o trabalho
terapêutico em grupo ofereça ao paciente psicótico um mundo acolhedor de iguais,
permitindo assim a reconstrução de seu mundo interno num processo de
individuação no social. Para a reconstrução de seu mundo interno (individuação)
considero indispensável apropriar-se: de seu corpo, de suas emoções, de seus
sentimentos e de sua história; o que podemos compreender com os referencias de
Espinosa e de Antonio Damásio.
1.3 INDIVIDUAÇÃO: CORPO E EMOÇÕES NOS REFERENCIAIS DE ANTÔNIO
DAMÁSIO E ESPINOSA
Em seu estudo sobre as inter-relações de corpo emoções ou afetividade
humana, Damásio (2004) retoma as ideias pioneiras de Espinosa¹, que, em pleno
século XVII, que já considerava indispensável a “noção corporal” para o ser humano
vivenciar seus sentimentos e poder controlá-los adequadamente. Está ideia de
noção corporal pode ser considerada ao equivalente psicanalítico de ego corporal
dentro da escola da psicologia do ego. Chauí (1995) faz uma importante ligação
entre Espinosa e a obra de Freud, especialmente em relação aos sentimentos e
como lidar com eles.
22
Damásio (2004) procurou localizar Espinosa em seu contexto do século
XVII, incluindo suas relações com seu tempo e com seu contexto histórico religioso.
Espinosa, ao escrever seus textos filosóficos, enfrentou intensas dificuldades para
ser entendido em sua época.
Conforme Chauí observou em Espinosa, o radicalismo da razão livre e a
alegria de pensar sem submissão:
Todavia, se nos acercarmos da filosofia espinosiana sem idéias préconcebidas, descobriremos por que, afinal, Espinosa foi excluído da
comunidade judaica, da sociedade cristã e da “república dos sábios”
coerentes. (...) É o radicalismo da razão livre e da alegria de pensar sem
submissão a qualquer poder constituído-seja este religioso, político, moral
ou teórico-e a decisão de afastar tudo quanto nos cause medo e tristeza
que torna Espinosa perigoso e odiado, para uns, mas também tão amado,
para outros (Chaui, 1995, p. 12).
No enfoque de Gleizer (2005), as grandes linhas da teoria da afetividade
humana desenvolvida por Baruch Espinosa (1632-1677) em sua principal obra: “A
Ética demonstrada à maneira dos geômetras”, mostram a ruptura com o preconceito
voluntarista, com a crença de que o sujeito é senhor absoluto de suas
determinações. Isto acarretará na Ética a substituição da postura moralista pela do
cientista natural e tornará possível a elaboração de uma autêntica ciência da
afetividade humana.
Esse conhecimento, no entanto, não é apenas uma atividade intelectual
digna e prazerosa que viria satisfazer uma curiosidade científica desinteressada e
existencialmente neutra. Segundo o projeto de liberação proposto na Ética, só o
conhecimento verdadeiro das causas dos mecanismos afetivos, aos quais estamos
submetidos, permite elaborar uma técnica realista para moderar as paixões e reduzir
os efeitos naturalmente obsessivos, ambivalentes e alienantes que explicam a
experiência de desilusão de que partiu Espinosa.
Nas palavras de Osório (2013), Espinosa localiza-se em um contexto
histórico em que predominava a visão de ciência como uma relação simples entre
causa e efeito. Espinosa, baseado em sua experiência de afetividade, pode associar
outras causas que não só a mente, mas também o corpo para perceber essas
emoções; pode, assim, dar os primeiros passos em direção a uma nova ciência, que
veio a consolidar-se em meados do séc. xx. É possível, assim parafrasear Descartes
a partir de Espinosa: “Penso, sinto, logo existo.”
23
Para Osório, a forma de estudar os fenômenos de causa e efeito está
associada ao pensamento Cartesiano, muito presente até meados do séc. XX:
Em meados do século XX, emergiu, no âmbito do saber humano, uma nova
maneira de pesquisar e compreender os fenômenos que a ciência estudava.
Para se aquilatar o significado dessa verdadeira revolução epistemológica
basta recordar que, desde a mais remota antiguidade até então, a Ciência
procurava entender os fenômenos naturais que investigava segundo um
padrão que denominamos causa
efeito, ou seja, partia-se de um fato ou
evento natural (efeito) e procurava-se o que o determinara (causa). Esse
procedimento era universal e abrangia não só a natureza física, mas
também o comportamento dos seres vivos. É o que se convencionou
chamar pensamento cartesiano, por ter Descartes como seu ícone e sua
máxima “penso, logo existo” como divisa (Osório, 2013, p. 9).
Esta compreensão por Damásio (2004) cria neste uma profunda empatia por
Espinosa, pois seus trabalhos, utilizando esses referenciais de corpo e emoções ou
afetividade, mostram o pioneirismo de Espinosa ao passar do dualismo cartesiano
para um monismo, isto é, corpo e mente formados por uma única substância, no
sentido de ser que existente em si mesmo, e por si mesmo, sem depender de
nenhum outro.
Observa Damásio com auxílio da neurociência e de sua atual tecnologia de
imagens, o quanto o corpo tem representação no cérebro através de mapas
cerebrais que são traduzidos por imagens à nossa consciência. Essas imagens
formadas nos mapas cerebrais partem da “noção corporal” captada pelo senso de
percepção de nosso corpo no momento em que a emoção ou afeto é desencadeado
(Damásio, 2004, p.206-9).
Para o paciente psicótico (esquizofrênico) aprender a conhecer suas
emoções e controlá-las adequadamente, conforme abordagem acima, mão implicar
uma verdadeira experiência de inclusão social, isto é, tornar-se um indivíduo social.
Fazendo uso dessas ideias sobre corpo e emoções ou afetividade humana
apresentada anteriormente, buscamos, ao longo de uma prática de ensino
aprendizagem em um grupo terapêutico, a possibilidade de pacientes psicóticos
conhecerem suas emoções, controlá-las “adequadamente”, fazendo assim sua
individuação e, ao mesmo tempo, estabelecendo relações sociais mais amplas.
24
1.4 INDIVIDUAÇÃO EM UM GRUPO TERAPÊUTICO
Considero
importante
a
associação
desses
diferentes
referenciais
psicanalíticos e psiquiátricos, quer sejam de déficit ou de conflito, quer sejam das
diferentes escolas psicanalíticas, para entender de uma forma integrada que o
paciente psicótico sofre uma fixação em determinada etapa de seu desenvolvimento,
especialmente pela limitação em lidar com frustração, causando-lhe uma visão
fragmentada de mundo externo/interno, bem com uma visão parcial de
objetos/mundo externo, assim como de relacionamentos interpessoais tumultuados e
suas representações distorcidas em seu mundo interno, resultando sempre uma
visão assustadora de mundo externo.
Considero que este entendimento baseado nos referenciais teóricos de
Gabbard (1998) pode dar sustentação teórica para que o trabalho terapêutico em
grupo ofereça ao paciente psicótico um mundo acolhedor, de iguais, permitindo
assim a reconstrução de seu mundo interno num processo de individuação no social.
Acredito que a psicoterapia de grupo proporciona ao paciente uma oportunidade de
ele aprender como ele mesmo funciona em grupo: os papéis que desempenha, as
expectativas e fantasias inconscientes que tem sobre os grupos e os obstáculos que
encontra no convívio com os outros no trabalho e em casa. As dimensões únicas da
experiência grupal podem ser apenas parcialmente exploradas na psicoterapia
individual.
Entendo importante destacar o pioneirismo dos trabalhos de Bion (apud
Zimerman 2001, p.107) com grupos, pois os mesmos possuem relevância em sua
produção científica. Os grupos propiciaram-lhe conhecer os mecanismos psicóticos,
e isto lhe permitiu um aprofundamento nos estudos dos esquizofrênicos e em seus
problemas ligados ao pensamento, à linguagem e ao conhecimento.
Durante a II Grande Guerra mundial, a psiquiatria e a psicanálise passaram
a ter um destacado papel. Bion, atuando na atividade militar pela Inglaterra, utilizou
o recurso grupal para os programas de reabilitação e de readaptação dos militares,
tendo em vista que os distúrbios emocionais se constituíam importante causa de
inativação dos militares. Assim, em um hospital militar, realizou reuniões coletivas,
nas quais se discutiam os problemas comuns e se estabeleciam programas de
exercícios e atividades. Esse local tornou-se o berço da “comunidade terapêutica”,
25
cujo modelo, após a guerra, ganhou importante destaque principalmente nos
Estados Unidos.
No começo de 1948, Bion organizou os grupos unicamente com
terapêuticos, a partir dos quais fez importantes observações e contribuições que
permanecem inspiradoras e válidas na atualidade.
Por razões didáticas, optei por separar esses dois itens: individuação e
inclusão social em grupo, embora nos referenciais teóricos eles não ocorram
isolados, mas simultaneamente, pois a individuação só ocorre no social. Optei por
assim proceder para dar um maior destaque ao funcionamento do grupo e aos
referenciais de seu funcionamento. Destaco que a individuação só ocorre no social
com auxílio da linguagem.
1.5 INDIVIDUAÇÃO NO PARADIGMA DA LINGUAGEM
De acordo com Marques (1993, pg.84) para Jürgen Habermas ocorre na
neomodernidade a substituição do paradigma da relação sujeito-objeto pelo
paradigma da relação comunicativa baseada na relação entre sujeitos, ou seja,
mudança da filosofia da consciência para a filosofia da linguagem. Além disso,
Habermas baseia-se numa razão argumentativa com vistas ao entendimento e à
estruturação de três universos: o objetivo das coisas, o subjetivo das vivências, e o
social das normas.
Habermas associa a linguagem a três funções e às respectivas aplicações
filosóficas a elas associadas, a saber: a função da reprodução cultural na qual
Gadmer desenvolve sua hermenêutica; a função social na qual Marques destaca a
teoria do agir comunicativo; a função de socialização a partir da qual S.H.Mead
projetou sua psicologia social. Ocorre uma forte articulação através da linguagem
entre o objetivo, o social e o individual ou subjetivo relacionado através do processo
de socialização e individuação (Marques, 1993, p.76).
Marques (1993, pg.84), em seu “diálogo” com Habermas, destaca como este
entende o próprio processo de socialização como também de individuação. Afirma
ser necessário perceber a língua “como meio que inclui simultaneamente a todos os
participantes em interações, como membros numa comunidade de comunicações, e
os submete a uma severa individualização”. Neste diálogo, acentua a sua teoria da
ação comunicativa sob o aspecto funcional do entendimento. A ação comunicativa
26
serve à tradição e à renovação do saber cultural; sob o aspecto da coordenação,
serve à integração social e à criação da solidariedade; e sob o aspecto da
socialização, finalmente, serve à formação das identidades pessoais (HABERMAS
1988 II: 195-6 apud Marques, 1993, pg.87)
A arte como linguagem ocupa um espaço importante para permitir aos
pacientes psicóticos expressarem seus sentimentos, usando assim uma linguagem
indispensável para sua constituição como indivíduos no social, conforme já
havíamos destacado em Marques.
Conforme Monteiro, para Jung a arte é a linguagem da alma; permite escutar
a alma de outrem:
A arte é a linguagem da alma. Jung revela um universo repleto de mitos,
símbolos, sonhos, religiosidade, arte e alquimia. Compreende o homem na
sua totalidade e traz uma percepção de que a criação está dentro de nós e
que, se quisermos conhecer o mundo, devemos mergulhar mais em nós
mesmos. Se o processo analítico visa a “escutar” a alma de outrem, a arte
será um veículo que torna essa “escuta” possível. Se visarmos compreender
o social, um grupo de pessoas deveremos estar abertos às suas músicas,
aos poemas, as pinturas, as danças, e as outras manifestações da alma.
Tudo que se faz com arte se faz com alma. Por meio da expressão artística,
realiza-se uma comunicação que está além das fronteiras, que não precisa
estar baseada restritamente no código verbal (Monteiro, 2009, p.21).
No grupo terapêutico em questão, temos a pretensão de relacionar a arte
como uma maneira de os pacientes expressarem suas emoções, algo que se
constitui como indispensável para sua individuação no social (grupo terapêutico). O
verbal não transmite todos os conteúdos internos. Muito antes de o homem escrever,
ele desenhava. A arte sempre foi uma função estruturante da consciência do
individuo.
1.6 INCLUSÃO SOCIAL EM SAÚDE MENTAL: MEDICAÇÃO E ABORDAGENS
PSICOSSOCIAIS
Barros apresenta a necessidade de um novo olhar por parte dos
profissionais que trabalham em saúde mental para a reabilitação social dos doentes
mentais:
27
A necessidade de se construir um novo olhar para o cuidado baseado no
diálogo e na criatividade possibilita a transformação social do papel dos
profissionais no exercício da sua prática. [...] cuidar é mais que um ato: é
uma atitude. Além disso, arcabouço conceitual da reabilitação psicossocial é
um instrumental que pode possibilitar a construção desse novo olhar. Nesta
perspectiva, cuidar é considerar a importância da construção de projetos de
vida, significativos para cada usuário, como eixo central da ação
terapêutica. As transformações necessárias na prática em saúde mental na
enfermagem psiquiátrica estão avançando, pois os conhecimentos
produzidos nesta área incorporam estratégias de acolhida e continência que
consideram, em todos os momentos, o exercício da cidadania ativa dos
doentes mentais (Barros, 2007; 41(Esp): p.815).
Apesar de estar bem estabelecido que o tratamento medicamentoso, com a
utilização
de
antipsicóticos,
tem
seu
papel
fundamental,
as
abordagens
psicossociais, com enfoque multidisciplinar, são indispensáveis para que ocorra uma
efetiva inclusão social do paciente psicótico. Essas abordagens podem estar
incluídas em um conceito mais amplo, considerado como psicoeducação.
No que se refere à medicação antipsicótica, para que a participação do
paciente psicótico seja efetiva no grupo terapêutico, consideramos indispensável
que ele esteja estável, isto é, que seus sintomas psicóticos estejam controlados.
Esta estabilidade, para ocorrer, requer o uso regular de medicação antipsicótica.
Até a década de 50 não havia medicamentos específicos para o tratamento
da psicose. Muitos pacientes precisavam ser internados por tempo prolongado ou
até por tempo indefinido. Com o surgimento da Clorpromazina, primeiro
medicamento capaz de atuar e diminuir as alucinações e os delírios, principais
sintomas psicóticos, começa o efetivo tratamento medicamentoso, que possibilita
que sejam dados os primeiros passos para o tratamento da psicose fora do modelo
tão estigmatizado até essa época.
A medicação, por meio dos processos biológicos, isto é, através da
intervenção nos mediadores químicos cerebrais, consegue corrigir esse desequilíbrio
químico. No caso do paciente psicótico (esquizofrênico) caracterizado pelo excesso
de dopamina, permite corrigir seu delírio e sua alucinação de fragmentação corporal
tão presentes em suas crises psicóticas.
Atualmente existem os chamados antipsicóticos de última geração,
denominados atípicos, pois causam menos efeitos colaterais, permitindo melhor
adesão ao tratamento e o controle adequado dos sintomas psicóticos, que tanto
sofrimento causa ao paciente e aos seus familiares. Dentre esses medicamentos
28
ressalto a medicação Clozapina, pois esta, além de causar menos efeitos colaterais,
contribui para permitir ao paciente melhor condição de inclusão social.
Afirma Gabbard (1998) que a não aceitação da medicação prescrita é um
problema contínuo no tratamento de muitos pacientes esquizofrênicos (psicóticos
crônicos). Terapeutas envolvidos no tratamento de pacientes que sofrem de
esquizofrenia (psicose crônica) devem considerar a aceitação da medicação uma
preocupação ao longo do tratamento. Cada paciente deve ser educado em relação à
probabilidade de recaída se a medicação for interrompida, lembrando que sempre
em uma recaída, sempre ocorre um empobrecimento de seu mundo interno.
A prescrição de medicação antipsicótica deve ocorrer no contexto de uma
aliança
terapêutica entre
terapeutas das diferentes áreas e
o
paciente,
cuidadosamente construída ao longo do tratamento. Essas abordagens podem estar
incluídas em um conceito mais amplo considerado como psicoeducação.
A psicoeducação, para Noto (2012), pode ser definida como um conjunto de
informações sistemáticas, estruturadas e didáticas sobre um transtorno mental e seu
tratamento, além de priorizar os aspectos emocionais no sentido de capacitar os
participantes: pacientes, familiares e profissionais da saúde mental a enfrentar as
situações práticas criadas pela doença. Criam-se assim as condições e a
necessidade para um diálogo efetivo entre os diferentes saberes em saúde mental,
cujo foco principal passa a ser a vivência social do paciente e seus familiares.
Essa patologia atinge aproximadamente 1% da população mundial.
Enquanto não houver alternativas sociais e públicas suficientes para suprir
tal demanda de tratamento, que ocasiona custos financeiros e emocionais
elevadíssimos, cada indivíduo e cada família necessitam realizar sua própria busca
de um ambiente de estudo ou de trabalho que permitam a possibilidade de sua
plena inclusão social. As associações de familiares de doentes mentais devem atuar
buscando suprir as lacunas institucionais. Esta capacidade de participação dos
pacientes e dos familiares deve ser considerada, seja por iniciativa própria ou
estimulada ativamente pela estrutura da saúde pública na área da saúde mental em
todas as etapas de sua desejada reabilitação social.
Em seu trabalho sobre Esquizofrenia, Louzã (1999): “Dois Enfoques
Complementares” destaca a atuação da ASSOCIAÇÃO NACIONAL PRÓ-SAÚDE
MENTAL, a qual desenvolve um projeto denominado “Projeto Fênix”, em São Paulo.
Este projeto é mantido por uma entidade civil, sem fins lucrativos, dirigida por
29
doentes mentais e seus familiares, com o apoio da comunidade e de destacados
profissionais de diversas áreas de atuação. O trabalho desta associação revela o
quanto os pacientes e os familiares podem desempenhar um papel ativo em sua
reabilitação social, cabendo à sociedade ter a sensibilidade para percebê-lo.
Louzão: O “Projeto Fênix” por sua vez segue os seguintes princípios:
a) Os doentes mentais e seus familiares têm o direito à qualidade de vida, à
cidadania e à dignidade moral, espiritual, social e econômica, conforme
valores humanitários universais enunciados em declarações internacionais
de direitos, constituições nacionais e estaduais e demais leis e dispositivos
legais, priorizando para tal fim a defesa do direito ao tratamento intra e
extra-hospitalar, a recuperação de saúde e reintegração social dos doentes
mentais.
b) O Projeto Fênix assume a responsabilidade inalienável de defesa de tais
princípios, propondo-se a articular, em conjunto com representantes do
Estado e entidades da sociedade civil, o desenvolvimento de atividades
direcionadas à conquista e ao usufruto pelos doentes mentais e seus
familiares dos direitos acima enunciados, comprometendo-se a defendê-los
em todos os foros pertinentes até os limites e recursos (Louzã, 1999, p.59).
O referido autor, em outro momento comenta que há poucas opções
institucionais adequadas à plena inclusão social de pacientes esquizofrênicos e que
o preconceito social é grande. Poucos são os ambientes realmente adequados,
embora o doente mental em boa recuperação tenha pleno potencial adaptativo e
produtivo em situações acolhedoras. Entre estes ambientes adequados a inclusão
social discute-se, a seguir, a competência do grupo terapêutico na referida tarefa.
1.7 INCLUSÃO SOCIAL EM UM GRUPO TERAPÊUTICO
Na opinião de Zimermann & Osório (1997), existem dois tipos de grupo: os
grupos operativos, que exercem a função básica de ensino e aprendizagem,
institucionais,
comunitários
e
os
grupos
psicoterapêuticos.
Os
grupos
psicoterapêuticos, que podemos considerar um subtipo do operativo, destinam-se a
produzir insight no indivíduo ou no grupo. O nosso estudo foi realizado comum grupo
operativo, cuja tarefa de ensino e aprendizagem esteve relacionada ao processo de
individuação e inclusão social dos pacientes psicóticos, ou seja, a constituição do
indivíduo no social.
O indivíduo psicótico não perde sua capacidade de aprender a vivenciar
suas emoções e assim aprender a viver em grupo, no social. Segundo Riviére
30
(2009), o grupo é um local ideal para o paciente reaprender a vivenciar suas
emoções, mas isto só pode ocorrer após ele ter uma imagem corporal não
fragmentada, isto é, uma realidade não distorcida, mas recuperada e reorganizada
ao longo do tratamento. A medicação e o atendimento individual nas diferentes
áreas têm importante papel, além do atendimento em grupo, na recuperação de ego
corporal. Após refazer a sua imagem corporal (ego corporal), o paciente psicótico
poderá vivenciar suas emoções em grupo, e assim, reconstruir um código de
convivência social, indispensável na sua reabilitação social.
Para Yalom (2006), o grupo permite uma importante experiência emocional
corretiva, isto é, a mudança. No nível comportamental e no nível mais profundo de
imagens internalizadas de relacionamentos passados, não ocorre principalmente por
meio de interpretação e do insight, mas por uma significativa experiência relacional
no aqui-e-agora, que rejeita as crenças patogênicas do paciente. A vivência das
emoções no grupo é variada, desde as ansiedades com as mudanças (resistências)
e o seu confronto com a motivação para tal numa dialética educativa: resistências
versos mudanças.
Igualmente, os aspectos operativos (tarefas específicas) em um grupo
terapêutico de aprendizagem nos mostram a importância do aprendizado das
mudanças (Riviére, 2009). Esta técnica baseia-se no E.C.R.O. (Esquema Conceitual
Referencial e Operativo), técnica desenvolvida pelo psicanalista argentino Enrique
Pichon-Riviére. Essa técnica é baseada no estabelecimento de tarefas a serem
trabalhadas terapeuticamente em um ambiente grupal. Ressalto que esta
conceituação teórica (aspectos operativos) poderá referendar a prática buscada pela
psiquiatria de ensino e aprendizagem que vem ocorrendo de forma autônoma, sem
estar controlada e mecanizada em uma teoria única. Ela poderá reforçar a
universalidade de determinados temas nesse processo de inclusão social de
pacientes psicóticos, tais como individuação no social.
31
2 CAMINHO METODOLÓGICO
2.1 PROBLEMATIZAÇÃO DA PESQUISA
Alternativas terapêuticas em psiquiatria associadas a um processo de ensino
e aprendizagem, buscando a inclusão social de pacientes psicóticos em seu retorno
à comunidade. A terapia de grupo consegue ser competente para realizar a inclusão
social dos pacientes psicóticos em sua comunidade?
2.2 JUSTIFICATIVA
A avaliação-validação ou não da competência do grupo terapêutico neste
processo de inclusão social e as diferentes intervenções nos permitirão ver o quanto
esta experiência pode constituir-se num processo pedagógico de psicoeducação
neste tema tão atual e que tende a constituir-se cada vez mais em uma prioridade
em saúde mental.
O meu estudo se propõe a avaliar as diferentes intervenções em diferentes
momentos da reabilitação social, bem como a integração multidisciplinar ao longo
desse processo.
A pesquisa pretende ouvir os três segmentos (pacientes, familiares e
profissionais de saúde mental) envolvidos e fazer uma reflexão sobre o processo de
ensino e aprendizagem ao longo dessa trajetória além da própria adequação ou não
dos referenciais teóricos. Pode oportunizar a todos os envolvidos uma oportunidade
de crescimento, e também de dividir com outros campos das ciências a nossa
vivência.
O conflito sócio familiar gerado pelo despreparo deste meio para acolher o
paciente psicótico crônico grave em seu retorno à comunidade após a
desintitucionalização, constitui-se numa forte motivação para a realização deste
trabalho.
2.3 OBJETIVO GERAL
Compreender e avaliar a experiência psiquiátrica em inclusão social dos
pacientes psicóticos em tratamento no CAPS II de Ijuí/RS, operacionalizada por
32
meio de uma prática de ensino e aprendizagem em grupo terapêutico de atividade
multidisciplinar e sua real competência como alternativa terapêutica.
2.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Analisar sob o foco a prática de ensino e aprendizagem nas diferentes
fases de constituição do indivíduo social, por meio de diferentes
intervenções multidisciplinares.
- Descrever as etapas vivenciadas pelos pacientes em sua experiência de
individuação: apropriação de seu corpo, de suas emoções e de sua
história, através de seu registro gráfico e de imagens.
- Demonstrar a relação entre individuação e constituição do indivíduo social
baseadas nos aportes teóricos escolhidos, por meio de registros de suas
atividades no grupo, bem como o registro de sua própria história, na sua
visão.
- Compreender a visão dos familiares e dos profissionais envolvidos sobre
o atual momento desta experiência de inclusão social.
2.5 TIPO DE PESQUISA
Este projeto de pesquisa utilizou o método de pesquisa qualitativa, descritiva
e exploratória proposto por Minayo (2001), o método análise de conteúdo proposto
por Laurence Bardin (2011).
A pesquisa foi direcionada aos pacientes psicóticos, seus familiares e aos
profissionais técnicos participantes do grupo terapêutico, em uma prática
multidisciplinar do CAPS II Ijuí (RS). Os familiares responderam a um questionário
semiestruturado sobre sua participação no atual momento de inclusão social dos
pacientes. E os profissionais em saúde mental responderam a perguntas em aberto
sobre suas diferentes contribuições no grupo terapêutico de reabilitação social dos
pacientes psicóticos.
Aos pacientes participantes do estudo foram aplicados questionários
semiestruturados, questões subjetivas e também foram feitas análises de
representações gráficas ou imagens plásticas obtidas durante as atividades
desenvolvidas no individual ou no coletivo; especialmente através da arte terapia
33
como linguagem para expressar emoções e afetividade dentro de um grupo
terapêutico.
Os cuidadores/familiares responderam a um questionário semiestruturado e
a questões subjetivas, sobre sua participação no atual momento de inclusão social
dos pacientes, seus familiares.
Os profissionais em saúde mental, participantes no grupo terapêutico,
responderam a perguntas em aberto sobre suas diferentes contribuições no grupo
terapêutico de reabilitação social.
Devo considerar em nossa metodologia também um componente filosófico
da hermenêutica por ela oportunizar uma reflexão interpretativa e compreensiva,
pois a mesma está presente à medida que o trabalho representa uma configuração
de teorias psiquiátricas, psicanalíticas e de outras áreas das ciências humanas
constituídas por conceitos e práticas.
Apresenta também a importante expressão e interpretação das opiniões de
pacientes e familiares, inclusive traduzidos em termos de gráficos matemáticos. Este
é mais um elemento objetivo que possibilita a participação das ciências exatas no
auxílio da interpretação do subjetivo na doença mental.
Para todos os participantes do estudo foi solicitada assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (T.C.L.E.), o qual foi assinado em duas vias de
igual teor, ficando uma em posse do responsável pela pesquisa e outra com o
participante. No T.C.L.E dos pacientes participantes da pesquisa, além da assinatura
destes, deve constar também a do seu respectivo responsável.
Em relação aos aspectos éticos, os participantes da pesquisa tiveram o
direito de recusar-se a participar bem como de retirar sua participação a qualquer
momento, sem qualquer prejuízo. Além disso, foi assegurado a cada participante
total sigilo e anonimato de sua participação.
A pesquisa teve início tão logo foi emitido o parecer favorável e a
autorização pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unijuí. (Nº C.A.A.E.:
08417512.70000.5350).
2.6 LOCAL
A pesquisa foi realizada no Centro de Atenção Psicossocial: CAPS II Ijuí/RS,
o qual é um serviço público em saúde mental, em consonância com a Portaria nº
34
366, de 19 de fevereiro de 2002, do Ministério da Saúde, que oferece tratamento
institucional às pessoas com sofrimento psíquico.
O serviço propõe ações de intervenções por meio de acolhimento,
atendimentos clínicos especializados em equipe multidisciplinar que compreende:
Psiquiatria,
Psicologia,
Terapia
Ocupacional,
Nutrição,
Equipe
Matricial,
Enfermagem, Serviço Social, Farmacêutica, Serviço de Higienização, Serviço
Administrativo, Pedagogia, Serviço de Recepção, Arte-Terapia, Central Municipal de
Regulação de Leitos e Coordenação Municipal de Saúde Mental. As modalidades de
atendimento são: individual, grupos terapêuticos, oficinas terapêuticas, grupos de
familiares e visitas domiciliares.
O CAPS II Ijuí possui um grupo terapêutico cuja metodologia operativa
baseia-se no E.C.R.O. (Esquema Conceitual Referencial e Operativo), técnica
desenvolvida pelo psicanalista argentino Enrique Pichon-Riviére. Essa técnica é
baseada no estabelecimento de tarefas a serem trabalhadas terapeuticamente em
um ambiente grupal. Sua passagem da psicanálise para a psicologia social
configurou-se como uma experiência rica e enriquecedora sobre o processo de
aprendizagem de mudanças.
2.7 SUJEITOS DA PESQUISA
No CAPS II, há três grupos terapêuticos que realizam encontros semanais,
com duração de aproximadamente uma hora. No 1º encontro de cada mês, os
pacientes contam com a participação de seus familiares. Desses grupos, fizeram
parte da amostra vinte pacientes, vinte familiares e cinco profissionais técnicos
vinculados a esta instituição.
Todos os participantes da pesquisa foram adequados aos seguintes critérios
de seleção:
a) Pacientes:
- ter idade igual ou superior a 18 anos e ser alfabetizado;
- ser paciente em tratamento prévio no CAPS II, de Ijuí;
- ser doente mental com psicose crônica (esquizofrênicos), não responsiva
aos tratamentos medicamentosos prévios;
- fazer uso de medicação antipsicótica atípica, preferencialmente clozapina.
Quando do uso de clozapina, deverá ser considerada avaliação clínica
35
prévia para excluir condições clínicas que contra indiquem o seu uso bem
como a realização de exames periódicos de controle hematológico;
- aceitar participar e apresentar condições psíquicas de responder ao
instrumento de coleta de dados;
- participar de uma reunião semanal, com duração de uma hora, realizada
com o grupo de pacientes;
- estar acompanhado de um familiar na 1ª reunião do mês realizada com o
grupo de pacientes;
- o participante do estudo não pode apresentar três faltas consecutivas sem
justificativa nas reuniões, conforme normas estabelecidas na constituição
do grupo, pois isto implicará o seu desligamento do grupo.
b) Familiares:
- ter idade igual ou superior a 18 anos e ser alfabetizado;
- acompanhar regularmente o paciente em seu tratamento;
- aceitar participar e apresentar condições psíquicas de responder ao
instrumento de coleta de dados.
c) Profissionais técnicos:
- ter vínculo com o CAPS II;
- estar atuando efetivamente junto ao grupo terapêutico;
- aceitar participar e apresentar condições psíquicas de responder ao
instrumento de coleta de dados.
Os pacientes, familiares e profissionais que não preencheram os critérios de
seleção foram excluídos do estudo.
d) Riscos:
- caso o paciente, familiar ou profissional, durante a aplicação do
instrumento de coleta de dados, tiver qualquer alteração fisiológica ou
psíquica, esse receberá imediatamente atendimento adequado e poderá
continuar como participante da pesquisa em outro momento, se assim o
desejar;
- caso algum dos participantes da pesquisa se sinta constrangido ou
desconfortável em responder a qualquer uma das questões que compõem
o instrumento de pesquisa, esse poderá, a qualquer momento,
interromper sua participação no referido estudo;
36
- caso algum dos participantes sentir dificuldade em responder a qualquer
uma das questões do instrumento de pesquisa, esse poderá solicitar
auxílio do aplicador.
e) Benefícios:
- estabelecer uma prática de ensino e aprendizagem aplicada à inclusão
social de pacientes psicóticos, a qual possa servir de reflexão para outros
CAPS;
- propiciar ao paciente psicótico a construção do processo de individuação
no seu contexto social;
- permitir ao paciente um momento de reflexão sobre o seu atual estágio de
inclusão social;
- permitir aos familiares e aos profissionais técnicos um momento de
reflexão sobre a sua participação na experiência de reabilitação social dos
pacientes;
- propiciar a instituição (CAPS II) uma reflexão sobre a prática aplicada
atualmente na experiência de inclusão social de pacientes psicóticos.
2.8 INSTRUMENTO DE COLETA E ANÁLISES DE DADOS
Os dados dos pacientes foram obtidos por meio de uma entrevista guiada
por um questionário semiestruturado, podendo essas ser gravadas. As entrevistas
foram realizadas no CAPS II, em salas individuais, e conduzidas por um
entrevistador (enfermeira não participante do grupo). Os questionários individuais
continham os dados de cada paciente e perguntas referentes ao atual momento de
sua inclusão social durante o tratamento no CAPS II, no período de 2004 a 2012. As
questões que compuseram o questionário foram baseadas na Escala de Qualidade
de Vida (Gorenstein, 2000, p.249).
Na consideração de Gorenstein (2000), a avaliação da qualidade de vida de
pacientes esquizofrênicos (psicóticos crônicos) é hoje um elemento essencial a ser
levado em consideração no plano terapêutico, na definição da resposta à medicação
antipsicótica e no planejamento de ações em saúde pública. Em sua opinião, não
há, porém, uma única definição para qualidade de vida. Esta pode ser medida
subjetivamente ou objetivamente, significando a impressão do próprio paciente
sobre como está a situação de vida, ou avaliação objetiva de seu estado
37
ocupacional, a relação do paciente com outras pessoas, inclusive familiares, seu
acesso aos recursos de saúde, nível de funcionamento.
Foram também analisadas representações gráficas e/ou imagens, pinturas
confeccionadas por cada paciente ou de forma coletiva durante as atividades
realizadas pelo grupo terapêutico. Essas produções foram registradas pelos
pacientes através de suas observações e interpretações das obras como uma forma
linguagem de comunicação de seu mundo interno com o mundo externo, permitindo
assim expressar os seus mais variados sentimentos e emoções, elementos
indispensáveis em sua reabilitação social.
Um questionário semiestruturado também foi aplicado para os familiares, e
apenas questões subjetivas aos profissionais, tendo como objetivo a reflexão de
ambos sobre sua efetiva participação no atual momento de reabilitação social dos
pacientes.
Todo o material utilizado na pesquisa será armazenado no local de
realização das mesmas por cinco anos, sob a guarda da coordenação do CAPS II.
Após esse período, deverá ser encaminhado ao arquivo morto da instituição e
destruído no prazo determinado pelas normas da mesma.
A privacidade de cada participante foi preservada conforme as normas do
Comitê de Ética da UNIJUÍ e a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde
(Brasil, 2000).
A análise dos dados foi feita de forma diferenciada para pacientes, familiares
e profissionais de modo a permitir a percepção desses três segmentos.
Inicialmente, foi feita a caracterização da amostra, com dados de
identificação básicos (nível socioeconômico e cultural) que permitiram demonstrar o
contexto social preliminar de cada participante da pesquisa. Para pacientes e
familiares, foi feita análise das respostas do questionário semiestruturado de acordo
com temáticas específicas, as quais foram divididas em duas partes: a primeira
constituiu uma visão do atual estado do tratamento (questões objetivas), e a
segunda, uma percepção pessoal da evolução do tratamento com o grupo
terapêutico (questões subjetivas).
As questões objetivas tiveram a intenção de criar indicadores quantitativos,
enquanto as questões subjetivas serviram como indicador qualitativo e fonte de
citações abertas de suas opiniões:
38
As temáticas das questões objetivas/subjetivas foram as seguintes:
- Questão 1: Empatia com o sofrimento mental do outro;
- Questão 2: Autopercepção do sofrimento mental;
- Questão 3: Lidando com estigma e preconceito;
- Questão 4: Socialização no ambiente familiar;
- Questão 5: Confiabilidade no outro;
- Questão 6: Capacidade de iniciativa em interações sociais;
- Questão 7: Tempo gasto com o lar, trabalho e estudos;
- Questão 8: Capacidade de autonomia.
A análise das representações gráficas e/ou imagens, confeccionadas por
cada paciente durante as atividades realizadas pelo grupo terapêutico, foi inspirada
na técnica projetiva presente no estudo de Furegato e Farias (2005).
Os profissionais tiveram um questionário diferenciado, composto apenas por
questões subjetivas, no qual descreveram a influência de sua área de atuação no
tratamento em grupo e as atividades desenvolvidas, bem como os objetivos dessas
atividades. Além disso, tiveram a possibilidade de descrever sua percepção do
processo evolutivo do tratamento como um todo.
A amostra compõe-se de 21 pacientes com psicose crônica (esquizofrenia
paranóide).
No momento da pesquisa todos os pacientes mostram-se estáveis em seu
tratamento, isto é, fora de surto (período de agudização da doença).
São todos participantes de tratamento em grupo. (grupo terapia). Existem
três grupos terapêuticos com uma media de oito participantes em cada grupo.
Do total de 24 participantes, três não preencheram as condições mínimas
para participar da pesquisa. A duração do grupo é de aproximadamente 1 hora,
sendo os grupos distribuídos na segunda, terça e quinta feira. Destaca-se que cada
grupo escolheu seu próprio nome: o da segunda-feira: Amanhecer; o da terça-feira:
Unidos pela vida; e o de quinta-feira: Grupo-terapia.
Os participantes foram numerados de 1 a 21, para preservar a sua
privacidade, sendo assim identificados por número quando expressam sua fala nos
diferentes temas.
Na abordagem dos diferentes temas pesquisados, busquei conceituá-los de
acordo com referencial bibliográfico utilizado.
39
Com relação aos profissionais que acompanham o grupo, existe um
terapeuta e um coterapeuta. Após as reuniões, esses profissionais procuram discutir
o andamento de cada grupo em sua tarefa operativo-educacional, ou de construção
da individuação no social, isto é, o indivíduo no social.
40
3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
3.1 CARACTERÍSTICAS DOS PACIENTES
O gráfico a seguir caracteriza os 21 pacientes entrevistados em relação ao
gênero.
Os dados obtidos mostram que 17 dos pacientes com transtorno mental
(81%) são do sexo masculino, e quatro (19%) são do sexo feminino.
Gráfico 1 – Classificação dos pacientes em relação ao Gênero
Durão (2004) em sua pesquisa com 11 entrevistados, oito do sexo masculino
e três do sexo feminino, ressalta que a esquizofrenia nas mulheres está associada a
um melhor prognóstico: doses menores de medicação, menos hospitalizações,
menos recaídas e melhor funcionamento social. Portanto poderá ser esta a
explicação para os resultados semelhantes entre os dados de Durão (2004) e os
nossos: a maior gravidade da doença e suas manifestações nos homens.
A esquizofrenia tem igual prevalência entre homens e mulheres, entretanto
os dois sexos mostram diferenças no início e no curso da doença. Os homens têm
um início mais precoce da doença que as mulheres. Em geral, o resultado para as
mulheres tem uma melhor evolução terapêutica que o resultado para os pacientes
masculinos (Kaplan, 1997).
41
Em relação à idade dos pacientes observados neste estudo, o gráfico mostra
que: a elevada participação dos pacientes em idade produtiva pode estar
relacionada ao início da doença em idade precoce, geralmente na adolescência, daí
a gravidade de uma doença crônica que gera sofrimento e prejuízo em vários
aspectos no individual e no social.
20 a 30 anos
5%
(uma pessoa)
30 a 40 anos
19%
(quatro pessoas)
40 a 50 anos
38%
(oito pessoas)
50 a 60 anos
33%
(sete pessoas)
> 60 anos
5%
(uma pessoa)
Gráfico 2 – Classificação dos pacientes em relação à Idade
Kaplan (1997) enfatiza que o início da doença antes dos 10 anos ou após os
50 anos é extremamente raro. Cerca de 90% dos pacientes com esquizofrenia têm
entre 15 e 55 anos. Considerando, conforme OMS, 65 anos a entrada na 3ª idade,
nós temos 5% da amostra que poderíamos considerar no período de menor inserção
no mercado de trabalho. Temos 95% de nossos pacientes que estão fora da 3ª
idade, considerado esse período em nosso sistema capitalista como altamente
produtivo nesta faixa etária. Esses dados nos fazem refletir o quanto a doença
funciona como um forte fator excludente para a inserção do paciente no mercado de
trabalho.
42
A cronicidade desta doença se manifesta ao longo da vida, daí a importância
de intervenções terapêuticas precoces, visando à inclusão social e à prevenção do
deterioro sociofamiliar tão frequente em uma doença crônica.
Com relação à escolaridade dos pacientes, o gráfico abaixo indica:
76% 16 pacientes
apresentam 1º Grau incompleto
9% dois pacientes apresentam 1º Grau completo
10% dois pacientes apresentam 2º Grau incompleto
5% um paciente
apresenta
2º Grau completo
Esta baixa escolaridade verificada em nossos pacientes pode estar
associada a um déficit cognitivo tão presente nesta doença mental crônica. Suas
implicações são discutidas a seguir.
Gráfico 3 – Classificação dos pacientes em relação à Escolaridade
Pelas sérias repercussões na capacidade cognitiva do doente mental com
esquizofrenia, podemos questionar como a baixa escolaridade é consequência da
doença: pelo início precoce da doença, geralmente na adolescência e sua limitação
cognitiva, como consequência de um processo de exclusão sociofamiliar do
ambiente escolar. Ambos os fatores podem ser abordados em um processo
educativo pelo grupo terapêutico.
Destaco, que neste enfoque multidisciplinar, estes três grupos de pacientes
psicóticos (esquizofrênicos) vêm tendo, há três anos, acesso às aulas de
“alfabetização” e reforço escolar com professores cedidos pela Secretaria de
43
Educação do Município de Ijuí, trabalhando a acentuada deficiência cognitiva,
característica intensa na esquizofrenia. Os principais déficits cognitivos atingem:
memória de trabalho, aprendizado/memória verbal, aprendizado/memória visual,
velocidade de processamento, funções executivas, atenção/vigilância, cognição
social.
A meta principal deste processo de intervenção é o restabelecimento ou a
estimulação das habilidades cognitivas dos indivíduos para assim melhorar sua
qualidade de vida.
No aspecto de exclusão sociofamiliar do ambiente escolar, a abordagem
com os familiares sobre a doença constitui-se num importante elemento educativo
para o grupo terapêutico trabalhar o estigma que acompanha a doença mental.
No gráfico relativo ao estado civil dos pacientes, os dados são os seguintes:
71%
Solteiros
14%
Separados
10%
Casados
5%
Viúvas
Esse resultado permite-nos questionar sobre a sua capacidade de formar e
manter vínculos.
Gráfico 4 – Classificação dos pacientes em relação ao Estado Civil
44
Como 85% de nossos pacientes são solteiros ou separados, isso nos
permite inferir que existe uma relação direta entre a doença esquizofrenia e um dos
seus principais sintomas o isolamento, que repercute direta e intensamente na
capacidade de essas pessoas terem relacionamentos, especialmente fora da família
de origem. Isto posto, permitimo-nos pensar a esquizofrenia como uma doença
vincular, isto é, relacionada à capacidade de formar vínculos.
Segundo Gabbard (1998), esquizofrenia refere-se fundamentalmente a
pessoas isoladas que não conseguem superar seu medo e descrença dos outros
devido a experiências precoces na vida, especialmente de frustrações. Constiuindo,
essa limitação nos vínculos num acentuado isolamento, ela terá repercussão em
todas as suas etapas de socialização, relações pessoais, escola, trabalho, ou seja,
um déficit crônico desde a pré-adolescência e que perdura por toda vida. Daí a
necessidade de intervenção precoce, associando os conhecimentos sobre a doença
e sua evolução a um processo metodológico para educação e promoção em saúde,
especialmente numa doença crônica como esta, com tamanho sofrimento para todos
os envolvidos.
Com relação à renda dos pacientes, podemos ver no gráfico a seguir:
33% sete pessoas
recebem auxílio doença (um SM)
9%
recebem pensão (um SM)
duas pessoas
29% seis pessoas
são aposentados (um SM)
5%
é aposentado (dois SM)
uma pessoa
14% três pessoas
não apresentam renda
5%
uma pessoa
recebe dois SM
5%
uma pessoa
recebe um SM
45
Gráfico 5 – Classificação dos pacientes em relação à Renda Declarada
O gráfico acima nos leva a questionar por que a grande ou absoluta maioria
está fora do mercado de trabalho. Os fatores econômicos (auxílio doença, pensão,
aposentadoria) tornam-se um limitante ao trabalho, pelo medo de perder o benefício.
Além disso, esta limitação estende-se pela baixa escolaridade associada ao baixo
preparo profissional. Há uma efetiva discriminação no mercado de trabalho aos
doentes mentais, fazendo com que estes busquem essas rendas-benefício, inclusive
por processos de interdição para assim auxiliarem no seu sustento mínimo ou ser
complemento indispensável na renda familiar e para alívio financeiro do cuidador.
Este grupo pertencente ao alto percentual de 95% em plena idade produtiva
está totalmente afastado do trabalho, atividade indispensável para o pleno exercício
de sua cidadania e forte elemento na constituição de sua identidade.
Percebemos que, este grupo, quando se refere ao trabalho, refere-se ao
trabalho “informal”, isto é, pequenas tarefas junto ao lar.
Na pesquisa de Rosa (2011) com doentes mentais com diferentes
diagnósticos que não só esquizofrenia:
32,71% - esquizofrenia residual;
19,63% - esquizofrenia paranóide;
12,15% - transtorno mental decorrendo do uso de álcool
Esta pesquisa foi realizada em Teresina, Piauí; com pacientes com
transtorno mental (Rosa, 2011, p. 240), e seus resultados mostram: 45,79%
46
trabalham fora de casa e 36,45% recebem benefício da Previdência. A diferença
entre a pesquisa de Rosa (2011) e a minha revela resultados significativamente
diferentes, quanto à inserção no mercado de trabalho do doente mental; pode
também permitir especulações, de que este mercado de trabalho talvez não seja tão
exigente quanto o de Ijuí, ou que essas pessoas sofram menos preconceitos em
suas regiões que os nossos pacientes, ou que já estejam em um estágio mais
avançado em seus tratamentos.
Com relação à inserção no mercado de trabalho, Noto (2012, p.241) enfatiza
as baixas taxas de emprego dos sujeitos com esquizofrenia e indica que essas taxas
podem relacionar-se a uma combinação de dificuldades sociais e econômicas,
barreiras psicológicas e sociais, estigmas entre os empregadores de maneira geral e
uma acentuada falta de estrutura para apoiar a reinserção profissional.
Nesta pesquisa associo baixa escolaridade do grupo e seu baixíssimo índice
de trabalho a constatação de que a inclusão social só ocorre efetivamente quando
esses
dois
elementos
forem
considerados:
educação
e
trabalho,
fontes
indispensáveis para o exercício de uma cidadania plena. Esta situação evidenciada
pela amostra permite ver o quanto nossa experiência vem deixando a desejar no
que se refere aos aspectos: educação e trabalho.
O gráfico abaixo registra o tempo dos pacientes no grupo terapêutico:
14% 0 a 2 anos
(três pacientes)
38% 2 a 4 anos
(dois pacientes)
9%
4 a 6 anos
(dois pacientes)
10% 6 a 8 anos
(seis pacientes)
29% 8 a 10 anos
(seis pacientes)
47
Gráfico 6 – Classificação dos pacientes em relação ao Tempo de
Participação no Grupo
No caso em estudo, após a iniciação no grupo terapêutico, e em um tempo
de participação no mesmo, a grande maioria permanece vinculada a ele. Daí o
importante papel de socialização que ele exerce no que se refere à sua
regularidade, à sua referência a um lugar e à construção de vínculo, o que, para o
paciente psicótico (esquizofrênico), representa um grande desafio, da mesma forma
que é para os profissionais da saúde a construção, a manutenção e a ampliação
desses vínculos com os doentes com transtorno mental, nesta prática de
individuação no social.
Histórico das diferentes fases de tratamento dos pacientes representado no
gráfico: em cor azul, o período antes do tratamento no CAPS II; em cor vermelha, o
período de tratamento no CAPS II, mas fora do grupo; e na cor verde, o período de
tratamento no grupo terapêutico.
48
Gráfico 6.1 – Histórico dos pacientes no CAPSII
Destaco aqui uma preocupação já referida anteriormente por Noto (2012) o
(durationofuntreatedpsycosis-DUP), ou seja, o tempo de psicose não tratada,
definido como o período entre o início dos sintomas psicóticos e o primeiro contato
com algum tipo de tratamento. Quanto maior este período, pior é o prognóstico
(evolução mais grave).
Pelo quadro que apresentam, possivelmente antes de terem iniciado seus
tratamentos no grupo terapêutico do CAPS II, os nossos pacientes já tenham tido
importante período de tratamento neste local. Em relação a este aspecto, existe a
possibilidade e a pertinência de sua participação no grupo ter ocorrido mais cedo e
assim desfrutarem dos benefícios desta participação, bem como seus familiares e os
próprios profissionais participantes nesta prática de ensino e aprendizagem dentro
de uma possível experiência de inclusão social em uma nova visão da psiquiatria
associada à educação. No entanto esta afirmação não desconsidera a importância e
a necessidade de outras alternativas de tratamento.
49
3.2
RESULTADOS
E
DISCUSSÃO
DOS
MESMOS
EM RELAÇÃO
AOS
PACIENTES PESQUISADOS
No registro das manifestações dos pacientes, há repostas na 1ª pessoa, e
outras na 3ª pessoa, quando o entrevistador anota as respostas dos pacientes pela
sua baixa escolaridade, sempre procurando preservar ao máximo o pensamento do
entrevistado. Esta baixa escolaridade será motivo de reflexão ao longo desta prática
de inclusão social de pacientes psicóticos, através do grupo terapêutico.
No aspecto qualitativo, respostas subjetivas apresentam um contraditório de
opinião entre os pacientes, evidenciando-se assim a representatividade das
mesmas, sem um viés indutor de resultados.
Buscarei associar os aspectos ligados à subjetividade nas respostas dos
pacientes ao fator aprendizagem (cognitivo) presentes nas associações das
mesmas.
TEMA 1: Quando o paciente é questionado sobre sua capacidade de
identificar se uma pessoa está com algum tipo de sofrimento psíquico (doença
mental),o gráfico mostra os seguintes resultados:
No “aspecto quantitativo”, que num total de 21 pacientes, 12 (57%)
responderam que apresentam certa dificuldade em identificar se uma pessoa está
com algum tipo de sofrimento psíquico enquanto nove (43%) pacientes
demonstraram não ter dificuldade de identificar o sofrimento mental do outro.
Este aspecto quantitativo e seus resultados passam a ter maior significado
quando associados às respostas qualitativas, que permitem, de forma subjetiva,
avaliar a cognição e o quanto o grupo foi ou não competente no processo de ensino
e aprendizagem, especialmente quando analisei, de forma específica, cada tema e o
relacionei com o processo de inclusão social dos pacientes psicóticos.
50
Gráfico 7 – Capacidade de identificar a doença mental no outro
A maioria dos pacientes relatou que a sua participação no grupo terapêutico
melhorou neste aspecto. Quando questionados (perguntas em aberto) sobre
influência do grupo terapêutico para o entendimento do sofrimento psíquico do outro,
os pacientes relataram que a participação do grupo os ajudou a reconhecer quando
alguém está em sofrimento mental e também melhorou o entendimento dos que
conseguem reconhecer tal sofrimento com mais facilidade, como podemos perceber
no registro de suas falas, ao responderem às questões qualitativas ou subjetivas:
P.6 – “Ajudou porque antes não conhecia nada sobre isto, sobre a doença,
aqui começou a ver conversar com as pessoas e aprender a identificar”.
P.7 – “Normalmente a pessoa com problema psíquico tem a ver com sua
aparência”.
P.11 – “De tanto vir no CAPS, conviver eu já conheço, vejo de longe”.
P.12 – “Quando comecei no grupo dava para notar que os pacientes
estavam mais debilitados com o tempo e vi suas melhoras”.
P.21 – “Ouvindo as explicações dos profissionais aprendeu a entender
melhor as coisas”.
Ao buscar fazer uma análise de conteúdo, isto é, interpretar subjetivamente
as respostas dos pacientes, opto por analisar a capacidade de aprender, a qual
procuro relacionar com as oito temáticas abordadas através de associações de
palavras presentes em suas respostas, tais como no tema um:
- Conhecer (conversar/identificar);
- Observar (aparência/doença);
- Conviver (conheço/longe);
51
- Mudar (debilitados/melhora);
- Entender (explicações/profissionais).
Predominantemente
em
suas
respostas
aparecem
os
elementos
indispensáveis para que ocorra o aprendizado de reconhecimento da doença mental
no outro, embora as suas dificuldades cognitivas. Destaco aqui algumas
observações vivenciadas em minha prática como terapeuta junto aos grupos como
outras possíveis contribuições a essas dificuldades cognitivas do paciente dentre
elas o seu isolamento, próprio da doença, que lhe propicia uma visão limitada do
mundo externo; a sua capacidade de ego comprometida (ex: capacidade de
identificação) que dificulta diferenciar o “normal e o anormal” no mundo externo; a
participação da família que pode contribuir para seu isolamento a fim de não
enfrentar o estigma social da doença mental.
Considero necessário recuperar o pensamento de Barros (2007) “Em
práticas inovadoras para o cuidado em saúde”, que considera indispensável que o
paciente possa ter consciência de seu problema, e que em sua experiência de
ensino e aprendizagem em grupo o outro lhe sirva como espelho.
Ressalto o papel do grupo como espaço que permite a identificação para
pacientes e familiares, conforme Durão (2004), pela possibilidade de reconhecerem
que não são os únicos e não estão sozinhos a enfrentar a doença mental:
No grupo, pacientes e familiares reconhecem que não são os únicos a
terem problemas, percebem que outros membros do grupo possuem
problemas iguais ou maiores que os seus. Percebem que não estão
sozinhos em seus sentimentos e problemas (DURÃO, 2004, p.104).
O processo de reconhecimento da doença mental no outro e por
espelhamento em si através de sua participação no grupo constitui um processo de
identificação, indispensável para a consciência de sua doença, constituindo-se
assim um processo educativo e preventivo para novas crises, que tantos sofrimentos
causam ao paciente e aos seus familiares.
Em relação à capacidade de identificar o sofrimento mental no outro,
considero indispensável referenciar alguns conceitos, tais como capacidade de
identificação, conduta normal e patológica, processo terapêutico em saúde mental.
Destaca Zimerman (2000) que a capacidade de identificação está relacionada à
função do ego. É útil lembrar que para Freud o ego é, antes de tudo, corporal.
52
Dessa forma, assim como o corpo com as respectivas fantasias e
significações contidas nas distintas zonas corporais está representado no ego,
também o ego processa a formação das identificações e do sentimento de
identidade. Refiro-me também á capacidade de reconhecer-se no outro (identifica-se
com o outro no social), sendo este outro igual a si com importantes limitações e
qualidades.
Julgo oportuno registrar aqui importante opinião psicanalítica sobre conduta
normal e patológica no enfoque de Rivière:
A partir da vertente da psiquiatria, falamos de conduta normal e patológica,
incluindo assim outro par conceitual saúde e doença que definimos como
adaptação ativa ou passiva à realidade [...], ou seja, a doença implica uma
perturbação no processo da aprendizagem da realidade, um déficit no
circuito de comunicação processos estes (aprendizagem e comunicação)
que se realimentam mutuamente (Reviére, 2009, p. 198).
A dificuldade dos pacientes de identificar a doença mental no outro nos leva
a considerar as palavras anteriores de Revière (2009) para quem a doença implica
uma perturbação no processo de aprendizagem de realidade, a qual pode
acrescentar uma possível relação com sua baixa capacidade cognitiva tão afetada
pela sua doença e por algum tipo de medicação. Esta baixa capacidade cognitiva
também pode estar relacionada à sua baixa escolaridade.
Portanto, refazer seu mundo interno, em um local acolhedor (grupo
terapêutico), permite que o paciente veja o mundo externo menos distorcido,
facilitando assim o seu processo de aprendizagem.
TEMA 2: Quando o paciente é questionado a respeito de sua capacidade de
identificar o seu próprio sofrimento psíquico (autopercepção da doença mental)
encontramos os seguintes resultados:
De um total de 21 pacientes que foram questionados no aspecto quantitativo
sobre sua capacidade de identificar o seu próprio sofrimento psíquico, 18 (86%)
responderam que sim, que são capazes, e apenas três (14%) de que não são
capazes, ou seja, apresentam dificuldade com relação a este item.
Esta expressiva autopercepção não invalida, pelo contrario, valoriza a sua
participação no grupo como um processo de aprendizagem, aceitação e melhor
adesão ao tratamento, como poderemos analisar em suas respostas qualitativas.
53
Gráfico 8 – Autopercepção do sofrimento mental
Quando questionados (perguntas em aberto) sobre a influência do grupo
terapêutico para o entendimento de seu próprio sofrimento, os pacientes
responderam que o grupo os ajudou a reconhecer seu próprio sofrimento ou a
entendê-lo melhor com o auxílio do outro.
Destaco as falas de alguns deles a esse respeito:
P.1 – “Noto que quando estou com dificuldade de me expressar com as
pessoas é porque não estou bem, fico muito quieto distante”.
P.2 – “O grupo ajudou a ficar mais forte, entender melhor as coisas”.
P.14 – “Conversando sobre o sofrimento deles e o meu e assim me ajudou a
me entender melhor”.
P.15 – “Pelas conversas no grupo, o que os profissionais falam”.
P.17 – “O grupo se preocupa em mostrar quando não estou bem, eles notam
a diferença”.
Em suas respostas, busco fazer associações que permitam uma
interpretação da sua subjetividade relacionado-a a sua capacidade de aprender à
autopercepção de sua doença:
- Notar (expressar/quieto);
- Entender (forte/melhor);
- Conversar (sofrimento/igual);
- Falar (grupo/profissionais);
- Mostrar (eu/diferença).
54
Como já visto, trata-se de uma doença que tem seu início geralmente na
adolescência quando aparecem seus principais sintomas em função das cobranças
de desempenho pela família e pela sociedade. Existe capacidade cognitiva nestes
pacientes, porém sua capacidade de aprendizagem é mais lenta, o que não é
considerado em tais cobranças de desempenho, na maioria das vezes pelo
desconhecimento da doença e suas limitações.
É possível que, antes de terem iniciado seus tratamentos no grupo
terapêutico no CAPS II, já tenham tido crises anteriores e, por isso, terem tido
contato com serviço de saúde ambulatorial ou hospitalar. O seu importante período
de tratamento no CAPS II, também antes de iniciar sua participação no grupo
terapêutico, é um fator que auxilia no seu conhecimento sobre sua autopercepção
da doença. Penso, porém, que suas respostas qualitativas e a análise subjetiva das
mesmas clarificam o importante papel do grupo terapêutico nesta tarefa de ensino e
aprendizagem, buscando a inclusão social dos pacientes psicóticos.
Conforme Yalon, ao longo da última década, a psicoeducação passou a ser
um processo formal em terapia de grupo.
De um modo geral o processo educacional é implícito. A maioria dos
terapeutas de grupo não oferece instrução didática explicita em terapia de
grupo interacional. Todavia ao longo da ultima década, muitas abordagens
de terapia de grupo fizeram da instrução formal ou psicoeducacional, uma
parte importante do programa (Yalon, 2006, p. 29).
O grupo deve ser incluído na categoria geral de compartilhamento de
informações, as quais incluem a instrução didática sobre a saúde mental, doenças
mentais e a psicodinâmica geral fornecida pelos terapeutas, bem como o
aconselhamento, as sugestões ou orientações diretas do terapeuta ou outros
membros do grupo (Yalon, 2006).
Com relação à identificação do sofrimento mental, nas palavras de Gleiser
com relação à afetividade humana o seu conhecimento permite ao paciente lidar
melhor a mesma:
Este conhecimento da afetividade humana, no entanto, não é apenas uma
atividade intelectual digna e prazerosa que viria satisfazer uma curiosidade
científica desinteressada e existencialmente neutra; segundo o projeto de
liberação proposto na Ética de Espinosa, só o conhecimento verdadeiro das
causas dos mecanismos afetivos aos quais estamos submetidos permite
elaborar uma técnica realista para moderar as paixões e reduzir os efeitos
55
naturalmente obsessivos, ambivalentes e alienantes que explicam a
experiência de desilusão de que partiu o filósofo (Gleiser, 2005, p. 9).
Espinosa (apud Gleiser, 2005, p.9) colabora na reflexão sobre a importância
do paciente ter uma adequada autopercepção de sua doença mental, para assim
poder melhor lidar com ela, buscando um tratamento adequado, que lhe ajude a
despertar o desejo de estar incluído no social e não submeter-se ao isolamento,
componente tão forte nesta doença mental.
TEMA 3: Quando os pacientes foram questionados sobre como você se
sente afetado pelo que os outros pensam ( preconceito ) de você frequentar o grupo
terapêutico do CAPS II, as suas respostas, que se encontram no gráfico abaixo,
revelaram:
De um total de 21 pacientes que foram questionados no aspecto quantitativo
sobre sentir-se afetado pelo que os outros pensam, 17 (81%) responderam que não,
e apenas quatro (19%) de que são afetados, ou seja, apresentam dificuldade com
relação a este item.
Gráfico 9 – Sente-se afetado com o estigma e preconceito
Este índice de 81% de pacientes que não se sentem afetados pelo estigma e
preconceito refere-se a estes locais de proteção: família e CAPS II, pois mais
adiante poderemos ver um limitado grau de socialização fora desses locais de
proteção mencionados.
O aspecto qualitativo relaciona-se ao preconceito antes de participar do
grupo, e mostra o quanto este contribuiu no aspecto educativo sobre o preconceito a
56
respeito da doença mental, como podemos observar nos índices quantitativos a
posterior.
P.7 – “Eu me sentia inferior aos demais, pessoas. Tinha medo de tudo”.
P.1 – “Eu aceitava que tinha que me tratar de alguma coisa, mas não
aceitava a doença que eu tinha”.
P.3 – “O grupo ajudou a lidar com a doença dele e dos colegas”.
P.6 – “No começo me incomodava com o que as pessoas pensavam, que
CAPS era lugar de louco, que não fazia nada.”.
P.9 – “Antes do tratamento era amigo das pessoas. Hoje o chamam de louco
porque vou ao CAPS. Sente-se acusado, maltratado”.
P.11 – “Antes de fazer tratamento também tinha preconceito, como a
sociedade tem os loucos”.
“Sente que existe preconceito, porém já se acostumou”.
No aspecto subjetivo que envolve sua capacidade de aprender a respeito do
estigma social que acompanha a doença mental observo:
- Sentir (inferior/pessoas);
- Aceitar (doença/tratamento);
- Ajuda (grupo/colegas);
- Incomodado (CAPS II/louco);
- Preconceito (também/loucos/acostumou).
Em relação ao item três, encontrei nas falas dos pacientes aquilo que eles
pensam sobre estigma e preconceito, especialmente ao procurar um lugar de
referência para tratamento da doença mental.
Pude constatar nas respostas quantitativas que o grupo teve uma
participação positiva no questionamento do tema “preconceito” em relação à doença
mental. Mas é também importante valorizar suas respostas qualitativas, as quais
revelam que sua participação CAPS II, através do grupo terapêutico proporcionou
uma evolução, pois inicialmente, sentiam-se discriminados pelo meio externo,
considerados como loucos, e o CAPS como lugar de quem não faz nada.
Portanto, esse aspecto é possivelmente um decisivo fator de resistência
para tratamento em saúde mental, mas também reforça a competência do grupo
para discutir o tema “preconceito” em relação à doença mental, ocasião em que o
paciente pode encontrar outras pessoas com quem se identificar, dar e receber
solidariedade. Percebi essa mudança em suas falas de modo subjetivo, mas
57
também de forma clara nas palavras que usam. Portanto, isto reforça a ideia de que
a capacidade de aprender está presente nesses pacientes e que melhora quando
corrigem a distorção que têm de mundo externo.
Isso também faz pensar: De onde vem este preconceito tão presente e tão
forte para quem procura tratamento em locais de referência para doença mental?
Obviamente tal preconceito provém da nossa sociedade, que não tem contato com
esta realidade por sua omissão ou até por nossas omissões como profissionais, que
não levamos este tema para discussão fora de nossas barreiras de proteção.
Noto (2012) destaca textualmente o duplo desafio que o doente mental
enfrenta:
Descreve que pessoas que sofrem de transtornos mentais graves enfrentam
um duplo desafio: lidar com os sintomas e as incapacidades resultantes da
doença e com os estereótipos e preconceitos gerados pela falta de
informações e concepções erradas sobre as doenças mentais. (Noto, 2012,
p. 81)
Em sua opinião, Noto (2012) considera que o estigma associado às doenças
mentais é tão antigo quanto à própria noção de sofrimento mental. Ressalta que
pesquisas realizadas em todos os cinco continentes mostraram resultados que, no
geral, são consistentes e indicam que não há sociedade ou cultura em que pessoas
com enfermidade mental sejam consideradas como tendo o mesmo valor que
pessoas sem enfermidade mental.
Afirma ainda o autor que a cultura vigente conceba as doenças
expressando-se, sobretudo, pela dor e por alguma incapacidade física. Por isso, é
difícil compreender um sofrimento que, além de não se apresentar nessas formas de
dor ou incapacidade física, surge confrontando as percepções do social sobre o que
é real, verdadeiro e palpável.
TEMA 4: Ao serem questionados: quando você está em casa, as respostas
fornecidas pelos pacientes apresentam-se no gráfico a seguir:
No item quatro, referente à socialização no ambiente familiar, 13 pacientes
(65%) responderam que preferem ficar com a família, o que representa um nível que
considero satisfatório quanto à sua interação em seu ambiente familiar; sete
pacientes (35%) evidenciaram um grau limitado de socialização, especialmente em
relação ao isolamento e/ou interação familiar, ao responderem que preferem ficar
isolados. Um paciente não respondeu a esta questão.
58
Gráfico 10 – Em casa como prefere estar
Quando questionados (perguntas em aberto) sobre seu relacionamento
familiar antes do tratamento, após suas respostas, passei a ter uma ideia mais clara
do seu tipo de dificuldade e de que forma o grupo pôde ter contribuído para a sua
melhora.
A respeito do papel das relações interpessoais, suas falas revelam:
P.1 – “Sempre gostei da família, mas devido à doença que eu não entendia,
tive momentos de dificuldade no relacionamento com os familiares”.
P.5 – “Sempre ficava sozinho sem muito contato com familiares,
trabalhavam fora”.
P.6 – “Antes do tratamento bebia, saia à noite, a Mãe não gostava”.
P.7 – “Eu não tinha tanta liberdade para falar sobre o tratamento. Hoje
consigo me abrir mais”.
P.9 – “Antes o relacionamento era ruim, achava que o pai queria matá-lo.
Hoje ele percebe que isto não era verdade”.
P.10 – “Grupo ajuda, conversando sobre o tratamento, mas não ajuda no
relacionamento familiar (isolamento)”.
Ao analisar o aspecto subjetivo, percebi nos pacientes uma dificuldade para
inserirem-se no ambiente familiar, reforçando a importância do grupo para trabalhar
educativamente com pacientes e com os familiares esse aspecto. Registro algumas
associações:
- Entender (dificuldade/relacionamento);
- Isolamento (sozinho/fora);
- Ausência (bebia/saía);
59
- Liberdade (falar/tratamento);
- Distorção (pai/matá-lo);
- Limitação (sim tratamento/não relacionamento).
A presença dos familiares junto ao grupo terapêutico com os pacientes
permite um novo processo de comunicação, baseado numa visão mais real entre
ambos: paciente e familiar.
Noto (2012) destaca uma mudança de modelo, antes baseado em famílias
disfuncionais que contribuíam para o adoecimento de um familiar. Este modelo
sobrecarregava a família com um forte componente de culpa. Em contraposição a
este modelo, nasceram, os chamados modelos educativos ou psicoeducativos de
intervenção familiar e os enfoques recentes de práticas colaborativas entre
profissionais e familiares. Percebi que 33% de pacientes que preferem ficar sozinhos
em casa são um número expressivo, mostrando que esta mudança de modelo de
maior participação da família é ainda incipiente e que o uso deste modelo
psicoeducativo de intervenção familiar ainda não constitui uma prática rotineira.
Considera Noto (2012) que fatores como adesão ao tratamento, prevenção
de recaída, reinternacão, diminuição da sobrecarga e custo de provisão de serviços
parecem não se articular como questão de colaboração entre família e profissionais,
para trabalharem nos itens acima, bem como nos contextos específicos de estigma e
inclusão social. Essa observação reforça a ideia levantada na problematização da
minha pesquisa de conflito sociofamiliar ao receberem o paciente psicótico em seu
meio sem o devido preparo e por que não dizer educação sobre a doença.
A importância do grupo nesta tarefa educativa pode ser reforçada pelo
pensamento do importante terapeuta de grupo que viveu toda sua vida profissional
na Argentina. Conforme Revière o paciente pode ter uma visão totalmente distorcida
de seu ambiente familiar, dificultando assim o seu processo de comunicação,
trazendo-lhe mais isolamento sociofamiliar:
O paciente tem uma visão de seu grupo primário (família) totalmente
diferente do que este é na realidade, produzindo-se então uma
intensificação do processo de incomunicação provocada pelo desajuste ou
desarticulação entre ambas as imagens (Reviére, 2009, p. 74).
Com relação à terceira escola psicanalítica, chamada de Escola da
Psicologia do Self, esta prioriza as relações interpessoais que o indivíduo tem no
60
mundo externo e sua representação em seu mundo interno. Gabbard (1998) destaca
o papel do psicanalista Sullivan (apud Gabbard, 1998, p.135), que dedicou sua vida
a estudar os esquizofrênicos e acreditava que a etiologia do transtorno resultava de
dificuldades interpessoais precoces (particularmente no relacionamento pai/mãefilho) e definiu o tratamento como um processo interpessoal em longo prazo o qual
tenta abordar aqueles problemas precoces.
TEMA 5: Quando questionados a respeito do item confiabilidade: Se lhe
acontecesse algo importante ou interessante, você contaria isso a alguém. Verifiquei
as seguintes respostas, registrados no gráfico 11, a seguir.
Com relação ao item cinco, referente à confiabilidade no outro quatro
pacientes (20%) têm dificuldade, e 16 (80%) não apresentam essa dificuldade em
confiar no outro. Observação: um paciente não respondeu a esse item.
Gráfico 11 – Confiabilidade no outro
Pude observar, no aspecto qualitativo, se antes do “tratamento” esta
dificuldade estava presente ou não nos pacientes desta pesquisa.
Alguns de seus relatos que permitem inferir sua subjetividade em confiar no
outro:
P.1 – “Sentia-se apático e se isolava, não queria conversa com ninguém”.
P.3 – “Era mais fechada, agora se relaciona melhor”.
P.5 – “Tenho relações mais limitadas”.
P.6 – “Não tenho amigos”.
P.7 –“Hoje a minha família e eu acreditamos mais no tratamento, pois
estamos vendo mais progresso”.
61
P.12 – “Só com a esposa”.
P.14 – “Minha relação era boa, mas de longe não tinha muitos amigos,
estava em depressão forte, ninguém me entendia, o grupo me ajudou através das
conversas eu me sinto melhor”.
P.21 – “Era ruim, não conseguia conservar as amizades no trabalho,
ninguém queria trabalhar junto”.
Quanto ao aspecto subjetivo, percebi nos pacientes dificuldade para confiar
no outro, verificando-se assim a importância do grupo para trabalhar educativamente
com eles e com os familiares esse aspecto, á medida que o paciente tende a ver o
mundo externo como hostil. Algumas associações possíveis são registradas a
seguir:
- Sentir (apático/isolava-se);
- Mudança (fechada/relacionamentos);
- Limitação (relações/limitadas);
- Crença (família/tratamento);
- Companhia (só/esposa);
- Entendimento (depressão/não entendimento);
- Conservar (amizades/trabalho).
Essas associações permitem inferir o quanto o grupo foi efetivo no processo
educativo, o que pode associar-se aos resultados quantitativos obtidos.
Em relação ao item cinco, Yalon (2006) destaca o quanto os pacientes
sentem-se singulares em sua desgraça, que apenas eles têm. Suas dificuldades
interpessoais impedem a possibilidade de uma intimidade profunda. Eles têm
dificuldade em confidenciar seus sentimentos e de se sentirem melhor aceitos pelos
outros. Na terapia de grupo, acontece a invalidação do sentimento de singularidade
ocorrendo-lhes o sentimento de estarem bem mais compreendidos pelos seus
colegas; relatam sentir-se mais em contato com o mundo e descrevem o processo
como uma experiência de “bem vindos para a raça humana”.
O mesmo autor destaca o papel do altruísmo constituído no grupo, que
podemos relacionar com a capacidade de iniciativa em interações sociais. Ressalta
que muitos pacientes psiquiátricos, no início do grupo-terapia, sentem-se
desmoralizados e possuem um sentimento de não ter nada de valor para oferecer
aos outros. Consideram-se um peso. A experiência de descobrir que podem ser
importantes para outras pessoas é renovadora e aumenta sua autoestima. Em suas
62
palavras percebi uma importante reflexão sobre o papel que a terapia de grupo
desempenha, pois é peculiar por ser a única que oferece aos pacientes a
oportunidade de beneficiar outras pessoas, e também estimular a versatilidade de
papéis exigindo que os pacientes se alternem nesses papéis de receber e dar ajuda,
se estes se constituírem importantes elementos para suas interações sociais,
incluindo trabalho e estudo.
Conforme o referencial da Escola da Psicologia do Ego, o psicótico passa a
ver o mundo externo como fragmentado, distorcido e, assim, temido.
O indivíduo psicótico tem sua noção de ego corporal fragmentada e projeta
essa fragmentação no meio externo. Essa fragmentação tão presente em seu
pensamento e em sua linguagem se manifesta aponto de lhe causar séria
repercussão em seu processo de comunicação externa no que se refere à
confiabilidade no outro.
Reforço o papel decisivo que o grupo pode ter para corrigir esta distorção de
mundo externo, tão presente nos pacientes esquizofrênicos.
TEMA 6: Ao serem questionados a respeito do quanto têm vontade de
realizar alguma atividade recreativa e interação social, obtive as seguintes
respostas, registradas no gráfico abaixo:
No item seis, ao avaliar a capacidade de interação social, constatei que 11
pacientes (52%) apresentaram limitação significativa para esta interação, enquanto
que 10 (48%) não mostraram essa dificuldade.
Gráfico 12 – Capacidade de iniciativa em interações sociais
63
Em relação ao aspecto qualitativo, os pacientes expressaram suas opiniões
a respeito do auxílio do grupo em sua interação social:
P.20 – “O grupo me ajudou a conviver com as pessoas que frequentam o
CAPS”.
P.21 – “Melhorei bastante no grupo, aprendi a ter uma vida normal, descobri
o que é ter amor entre amigos”.
P.19 – “O grupo ajuda a conversar mais com as pessoas dando conselho
para o colega sobre o tratamento”.
P.18 – “Exercito minha audição”.
P.17 – “O grupo é muito importante, quero bem a todos e me sinto bem, pois
são todos amigos”.
P.15 – “Hoje se aproxima mais das pessoas”.
P.6 – “Bastante, antes não conversava com ninguém, não saia, se escondia,
só dormia. Hoje consegue sair bastante, conversa”.
Quanto ao aspecto subjetivo, percebi nos pacientes dificuldade para
interações sociais, revelando a importância do grupo para trabalhar educativamente
com os pacientes e os familiares esse aspecto, à medida que o paciente tende a ter
sérios prejuízos neste aspecto, que está diretamente relacionado à sua socialização.
Apresento algumas associações possíveis:
- Convivência (grupo/ajuda);
- Aprender (amor/amigos);
- Conversar (conselho/colegas);
- Empoderamento (minha/audição);
- Sentir (bem/amigos);
- Aproximação (hoje/pessoas);
- Mudanças (esconder-se/conversar).
Em relação aos efeitos do grupo em sua convivência/comunicação com as
pessoas (interação social), identifiquei em suas respostas um papel do aprendizado
ao conviver com os colegas de grupo, aprendendo assim a superar uma dificuldade
básica, que é o de se relacionar com os demais e o seu consequente isolamento,
tão presente na esquizofrenia.
Inserir-se em uma atividade de lazer é também fundamental, pois permite
condições para satisfação das necessidades de socialização, valorização pessoal e
desenvolvimento de suas potencialidades.
64
TEMA 7: Ao serem questionados sobre quanto do seu tempo dedica a
trabalho/estudos/atividades domésticas, obtive as seguintes respostas, registradas
no gráfico 13 a seguir.
Em relação ao tempo gasto com lar, trabalho, estudos constatei que 62%, 13
dos pacientes, gastam metade ou mais de seu tempo com essas atividades,
enquanto que 38%, oito pacientes, gastam menos da metade de seu tempo. Isto me
leva a questionar o quanto a inclusão social, através do grupo precisa trabalhar
esses aspectos para permitir aos pacientes uma maior autonomia em sua vida
diária.
Gráfico 13 – Tempo gasto com lar, trabalho, estudos
Com relação à importância do grupo em realizar ou não mudanças nesses
aspectos, registro os seguintes depoimentos:
P.1 – “Sim, voltei a estudar, passei para 5ª série, hoje moro num sítio com
minha irmã e trabalho bastante, é muito bom estar ocupado”.
P.2 – “Continua ajudando pouco em casa”.
P.3 – “Estando fora da crise, consegue realizar mais atividades”.
P.6 – “Aumentou bastante, antes não fazia atividades domésticas. Antes não
tinha vontade, não tinha ânimo”.
P.7 – “Sim gosto muito das minhas tarefas, me sinto útil”.
P.12 – “O grupo era no começo mais triste e agora está mais alegre,
transmite mais alegria, dá mais vontade de viver e fazer as coisas”.
P.21 – “Mudou completamente, antes se considerava uma pessoa muito
difícil de conviver”.
65
No aspecto subjetivo, percebi nos pacientes dificuldade em relação ao
tempo para o lar, para o trabalho e para estudos, reforçando assim a importância do
grupo para trabalhar educativamente com os pacientes e os familiares esse aspecto,
à medida que eles tendem a ter sérios prejuízos neste aspecto, diretamente
relacionado às condições adequadas para obter sua inclusão social plena. Registro
algumas associações possíveis em suas respostas:
- Motivação (estudar/ocupado);
- Inalterado (ajudando/pouco);
- Estável (sem crises/mais atividades);
- Empoderamento (minhas/tarefas);
- Mudanças (triste/alegre);
- Convivência (antes/difícil).
Em relação à escolaridade, por exemplo, 85% dos pacientes que
participaram deste estudo possuem o 1º grau (incompleto ou completo), o que se
relaciona fortemente à exclusão das melhores condições para que eles possam ter
um trabalho e melhor inserção nas interações sociais, como visto anteriormente.
A partir dessa constatação, entendi que poderia questionar sobre os
seguintes aspectos: baixa escolaridade, capacidade cognitiva, exclusão social, bem
como as possíveis relações a partir desses aspectos. Se a baixa escolaridade é
consequência da doença, que tem sérias repercussões na capacidade cognitiva do
doente mental, ou consequência do início precoce da doença, geralmente na
adolescência afastando-o do convívio escolar, ou, ainda, consequência de um
processo de exclusão sociofamiliar do ambiente escolar pelo preconceito com a
doença mental, ou a soma desses diferentes aspectos.
Para muitos pacientes, o fato de estarem excluídos do mundo do trabalho e
da geração de renda significa também estar excluído das relações sociais. A
possibilidade de inserção do doente mental no mercado de trabalho surge a partir do
desejo deste de trabalhar e também a partir do enfrentamento dos obstáculos
impostos pela sociedade para que esse desejo se realize.
Em relação a essa questão, Noto (2012) destaca que em nossa organização
social o trabalho é um dos principais elementos de inclusão, fazendo parte da
construção da subjetividade e da posição social de cada um. O trabalho pode ser
compreendido como um mediador de integração social, seja pelo seu valor
econômico ou cultural.
66
TEMA 8: Quantas das seguintes atividades você realizou no último mês: ler
jornal, fazer compras, ler um livro/revista, comer fora de casa, participar de uma
reunião pública, assistir a um jogo, usar transporte público, pagar uma conta ou ligar
para alguém.
Quinze pacientes (71%) indicaram a ausência total de autonomia ou uma
autonomia limitada. Seis pacientes (29%) apresentam uma capacidade de
autonomia que lhes permite realizar um maior número de variedade de atividades,
como mostra o gráfico abaixo.
Gráfico 14 – Capacidade de autonomia
Em relação ao auxílio do grupo para realizar um número maior e de mais
variedade de atividades (autonomia), suas respostas foram:
P.20 – “Eu estou com mais vontade de fazer as coisas como, por exemplo: ir
a jogos, igreja.
P.21 – “Hoje se sente mais tranqüilo, mais calmo, antes não tinha paciência
para atividades”.
P.22 – “Antes refere que tinha mais atividades, hoje não sai mais sozinha, a
não ser para fazer compras perto de casa”.
P.15 – “Pouca mudança”.
P.14 – “Sim, estou feliz, é bom fazer coisas novas”.
P.12 – “Não houve mudanças”.
P.9 – “Hoje vem ao CAPS de ônibus, faz algumas compras”.
67
Com os elementos que possam estar subjetivamente associados ao
processo de ensino e aprendizagem na construção de sua autonomia, procedi a
algumas associações a partir de suas respostas:
Motivação (fazer/coisas);
Estável (paciência/atividade);
Limitação (sozinha/casa);
Expectativa (pouca/mudança);
Felicidade (coisas/novas);
Negação (não/não);
Autonomia (CAPS II/ônibus).
Essas expressões mostram que o grupo tem sido a principal referência, para
esses pacientes, porém, indicam a necessidade de um questionamento sobre o
quanto, fora do grupo (CAPS II), essas condições de referência se reproduzem
adequadamente. Se melhoraram significativamente no ambiente familiar, se
continuam a não se reproduzir no social como um todo.
A dificuldade de realizar atividades fora do grupo ou do ambiente familiar
mostra o quanto esses pacientes possam ter dificuldade de formar novos vínculos, o
que também pode estar associado a sua dificuldade de lidar com a frustração.
Tomando como referência o processo de separação-individuação no paciente
psicótico, ocorre uma fixação em uma dessas etapas, ocasionando-lhe um déficit em
seu desenvolvimento psíquico. Esta fixação está associada a um processo de
frustração, geralmente ocorrida em seus primeiros anos de vida e com a qual não
teve estrutura psíquica adequada para lidar.
Sua autonomia está sendo conquistada no grupo terapêutico (CAPS II) e na
família onde aprendem a lidar melhor com a frustração, mas não no social, fora
desses dois importantes referenciais para os pacientes. Porque esta autonomia está
tão limitada fora desses dois ambientes?
Penso que importantes elementos devem ser considerados nesta reflexão, a
partir da experiência de inclusão social deste grupo:
- existe uma baixa escolaridade e uma baixíssima participação no mercado
de trabalho formal;
- existe um estigma/preconceito social significativo para sua efetiva
socialização;
68
- existe um nível de satisfação no grupo (CAPS II) com o atual estágio de
socialização;
- existe na família um sentimento de que assim já está bem, quando fora
das crises e com melhor relacionamento;
- existe no paciente uma limitação cognitiva que lhe produz um prejuízo na
sua capacidade de ter seus próprios desejos de mais autonomia.
Ou/e
a
necessidade/dependência
de
referenciais,
atualmente
mais
confiáveis, como a família e o CAPS II (grupo).
3.3 ANÁLISE DAS REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS DOS PACIENTES A
RESPEITO DE SUAS EMOÇÕES
Este trabalho de arte-terapia desenvolvido no grupo terapêutico me permitiu
encontrar algumas respostas à vivência no social, o que foi visto em suas opiniões
sobre as diferentes obras desenvolvidas. Valorizamos o grupo como uma importante
opção terapêutica para os pacientes tomarem contato com suas emoções, etapa
indispensável para sua individuação e posterior inclusão social.
A arte-terapia no grupo esteve inserida, num contexto multidisciplinar. Os
trabalhos de pinturas (releituras) desenvolvidos junto aos grupos não foram
individuais, mas sim pinturas coletivas, através das quais foram trabalhados
sentimentos e emoções dos pacientes. Essas atividades trouxeram resultados
altamente positivos aos grupos e a cada paciente individualmente, com significativas
melhoras no sentido de suas observações do mundo externo, vivência de
sentimentos e verbalização dos mesmos através de diferentes linguagens.
Afirma Monteiro (2009) que para Jung o artista, ao pintar, está plasmando a
si mesmo, pois o que pinta são fantasias ativas do que está mobilizado dentro de si,
assim como em sonhos. Por meio dessas imagens, é possível estabelecer um
intercâmbio
com
o
inconsciente,
pois
elas
desempenham
uma
função
compensadora, autorregulam posições conscientes unilaterais.
Após cada pintura apresentada, serão expressas as opiniões de alguns
pacientes do grupo terapêutico, como forma de excercício de sua impressão,
observação e de expressão de seus sentimentos, tomando assim contato com seu
mundo interno, algo indispensável para a construção de sua identidade
69
Ao final de cada obra, procuro dar uma avaliação subjetiva sobre os
sentimentos
e
emoções
despertados
nos
pacientes
e
suas
respectivas
representações gráficas, suas subjetividades, que, em alguns momentos, ficam
claramente evidenciadas nas suas falas, possibilitando, assim, que num contexto de
ensino e aprendizagem possam aprender a sentir suas emoções e nomeá-las, isto é,
apoderar-se das mesmas em um contexto reflexivo no grupo terapêutico.
Antes de iniciar a apresentação das obras dos pacientes e a análise de
conteúdo subjetivo presente em suas observações, em suas emoções e em seus
sentimentos, considero adequado examinar alguns conceitos básicos sobre a arteterapia.
Arte-terapia como linguagem possibilita expressar emoções dentro de um
grupo terapêutico por suas representações gráficas.
Sobre a relação entre arte-terapia e linguagem, trago inicialmente o inovador
pensamento de Silveira:
Um dos caminhos menos difíceis que encontrei para o acesso ao mundo
interno do esquizofrênico foi dar-lhe a oportunidade de desenhar, pintar ou
modelar com toda liberdade. Nas imagens assim configuradas teremos
auto-retratos da situação psíquica, imagens muitas vezes fragmentadas,
extravagantes, mas que ficam aprisionadas no papel, tela ou barro,
poderemos sempre voltar a estudá-las (Silveira, 1992, p.93).
Com relação aos conceitos de arte-terapia e linguagem, Nise da Silveira
comenta que outra forma de leitura de imagens está ligada aos métodos da
chamada Arte-Terapia. De início, ela afirma que não aceita a denominação de arteterapia, que é muito empregada atualmente. Para ela, a palavra arte tem significado
de valor, de qualidade estética. Frisa, no entanto, que nenhum terapeuta tem por
objetivo que o doente produza obra de arte, de que nenhum psicótico desenhe ou
pinte achando-se que é um artista. O que ele busca é uma linguagem para poder
exprimir suas emoções mais profundas. A terapia de grupo procura buscar nas
configurações plásticas o problema afetivo de seu paciente, seus sofrimentos e
desejos
sob
a
forma
não
proposicional,
utilizando-se
para
tanto
da
linguagem/expressão plástica. Por isso o terapeuta deveria ter o cuidado de alertar
para que os ateliers, entre nós, não fiquem apenas como setores recreativos.
Silveira, citando Margaret Naumburg, define:
70
A arte-terapia dinamicamente orientada baseia-se no reconhecimento de
que os pensamentos e sentimentos fundamentais do homem derivam do
inconsciente e freqüentemente exprimem-se melhor em imagens do que em
palavras. As técnicas de arte-terapia baseiam-se no conhecimento de que
todo indivíduo, tenha ou não treinamento em arte, possui capacidade latente
para projetar seus conflitos internos sob forma visual (Silveira 1992, p.93).
Neste espaço, julgo adequado dar um destaque de como foram trabalhadas
as emoções através da pintura em um atelier baseado nas ideias de Nise da Silveira
dentro de um grupo terapêutico, mas também como forma de os pacientes tomarem
contato com as suas emoções através de seu corpo. Assim, eles têm a oportunidade
vivenciarem os elementos teóricos, destacados por Damásio e Espinosa (2004), no
sentido de perceber o corpo como elemento indispensável para que os pacientes
tenham acesso às suas emoções. Conseguem então associar corpo e emoções
como fazendo parte de um todo, utilizando-se assim de uma linguagem, inicialmente,
não verbal.
A mesma linguagem plástica pode posteriormente ser verbalizada
conceitualmente através de suas opiniões, nas diferentes obras trabalhadas. Cabe
aqui destacar que Nise da Silveira foi uma profunda estudiosa de Espinosa,
observando o quanto este contrariou o principio filosófico cartesiano do dualismo
mente corpo. Esta posição lhe possibilita o pioneirismo dos estudos sobre a
afetividade humana.
Observa Damásio (2004), com auxílio da neurociência e da sua atual
tecnologia de imagens, o quanto o corpo tem representação no cérebro através de
mapas cerebrais, que são traduzidos por imagens à nossa consciência. Essas
imagens formadas nos mapas cerebrais partem da “noção corporal” captada pelo
senso de percepção de nosso corpo no momento em que a emoção ou afeto são
desencadeados.
O fato de o paciente psicótico aprender a conhecer suas emoções e
controlá-las adequadamente, conforme abordagem anterior, poderá implicar uma
verdadeira vivência de inclusão social, isto é, de se tornar um indivíduo social.
Utilizando-se dessas ideias sobre corpo e emoções ou afetividade humana
apresentadas anteriormente, podemos perceber como, ao longo de uma prática de
ensino aprendizagem em um grupo terapêutico, pacientes psicóticos poderão
conhecer suas emoções, controlá-las “adequadamente” fazendo assim sua
individuação e ao mesmo tempo estabelecendo relações sociais mais amplas.
71
Dou início à apreciação dos trabalhos realizados pelos pacientes pela obra
de Monet: A Ponte Japonesa.
A Fig. 1 de Claude Monet, artista francês, faz parte da Série “Ninféias”,fase
em que o autor pintava flores do jardim de sua própria casa. Neste momento de sua
vida, ele reflete em seus quadros um ambiente de paz, natureza, vida,luz.
Figura 1 – A ponte japonesa de Giverny – Claude Monet 1840
Seguem as impressões de alguns pacientes sobre a obra:
P.13:” Eu acho a ponte muito bonita ela expressa a beleza da natureza, dos
peixes, lambari e a ave purue.
P.12: “ A ponte para mim é a travessia de rio de um lado para outro.”
P.7: “ O quadro a ponte para mim significa alegria, ele é colorido e muito
lindo.”
P. 6: “A ponte lembra o tempo que e eu era criança,”
P.11: “A ponte é um máximo de alegria, chegar no rio e ter uma ponte para
passar pro outro lado.”
P.19: “A ponte para mim significa a passagem de uma margem para outra.
Significa volta para o passado. A gente vê flores no rio.”
P.17: “A ponte me passa entusiasmo, alegria, sinal de paz e amor.”
P. 10: “É uma passagem para um mundo bom. Uma passagem para o
passado.”
72
Foi possível tomar contato com a impressão que a obra causou aos
pacientes, auxiliando-os assim a expressar seus sentimentos. Observo de forma
subjetiva, os sentimentos de:
- Empoderamento (eu acho/para mim);
- Apoio para mudanças (ponte/passagem);
- Ser tocado (me passa);
- Nostalgia (passado/bom).
Tais sentimentos podem nos dar uma ideia de contato, de apropriação de
seu corpo, de suas emoções e, porque não, de sua própia história. Esses
sentimentos podem alimentar o processo de discussão entre os participantes do
grupo, reforçando a ideia de um contínuo processo de ensino e aprendizagem e a
possibilidade de formação continuada de experiência.
A Fig.2 Münch, pintor expressionista, estilo em que se preservam mais a
expressão das ideias e os sentimentos do artista do que a própria realidade.
A obra parece retratar fielmente o que Münch sentia no momento, retrato de
sua revolta frente aos infortúnios que a vivência terrena lhe proporcionou.
Figura 2 – O grito – Edward Münch – 1893
73
Eis a impressão de alguns pacientes do grupo terapêutico sobre a obra:
P.13: “O grito parece um pedido de ajuda, por um mundo melhor, sem
poluição, com ar puro. Onde tudo consegue viver muito bem”.
P.12: “Eu acho que ele está em pânico em cima da ponte”.
P.7: “O quadro o grito significa talvez uma pessoa triste, pensativa, ele pode
estar refletindo ou rezando sobre a sua vida”.
P. 6: “O quadro do grito me lembra quando eu estava doente no meu quarto.
Eu passava muita dificuldade”.
P. 11: “O quadro o grito lembra quando estava no hospital pedi para a
enfermeira me dar uma injeção para dormir, eu não aguentava mais”.
P. 19: “O grito para mim significa tristeza porque o homem está sem orelha e
está numa escuridão perto do mar, numa ponte. O mar parece estar agitado com
ondas fortes”.
P.17: “O grito me passa curiosidade o que está acontecendo?”.
P.10: “Eu acho que o mundo está acabando para esta pessoa doente da
cabeça. Não sabe o que está acabando ao fica doente. Não vê o mundo ao redor”.
Percebo que os pacientes, ao expressarem seus sentimentos sobre esta
obra, mostram também sua subjetividade:
- Perigo (mundo em destruição);
- Medo (cair da ponte);
- Tristeza (pessoa triste);
- Identificação (passava dificuldade);
- Dor (não aguentava mais);
- Pertencimento (para mim);
- Curiosidade (o que acontece);
- Finitude (mundo acabando).
Esses sentimentos podem expressar, de forma subjetiva, sua adequada
capacidade cognitiva de observação da realidade; sua capacidade de curiosidade
por esta realidade; sua tristeza frente à finitude das coisas; mas também sua
capacidade de pertencimento à espécie humana. O quanto está presente esta
capacidade de falar desta vivência, que pode ser transformada através do grupo
numa experiência, que lhe permita a apropriação de seu corpo e de suas emoções e
porque não de sua história.
74
Monteiro (2009) vê em Van Gogh o desejo de tornar a sua obra
compreensível aos outros, preocupando-se em impressionar pessoas. Ele queria
uma arte do povo e para o povo. A biografia de Vincent Van Gogh é extraordinária e
humanamente comovedora em muitos aspectos. Além do fato notável que apesar da
falta de reconhecimento profissional por parte de seus conterrâneos, desenvolveu
uma ideia artística própria até alcançar uma grandiosa obra vital, sua enfermidade
mental e a influência desta em sua obra.
Figura 3 – O quarto – Van Gogh 1888
Registro a observação de alguns pacientes do grupo terapêutico sobre esta
obra:
P.13: “Esse quarto é bem bonito. Tem cadeira, mesa, quadro, cobertas,
travesseiro, copo e jarra”.
P.12: “Eu acho que ele desancava.”
P. 7: ”O quadro do quarto de Van-Gogh para mim significa aconchego, paz e
tranquilidade e amor”.
P. 6: “O quarto lembra um lugar de descanso, repouso”.
P. 11: “O quarto me lembra muita coisa que eu nem gosto de me lembrar,
por exemplo, quando eu estava doente”.
75
P. 19: “O quarto é um lugar de descanso para dormir. Um lugar íntimo para
cada um”.
P. 17: “O quarto me passa sentimento de conforto, vejo privacidade”.
P. 10: “É uma expressão de uma vida de uma pessoa pobre”.
Neste quadro os pacientes, em atividades no grupo terapêutico, podem
perceber um sentimento subjetivo de:
- Beleza (mundo material);
- Subjetividade (eu acho);
- Pertencimento (para mim/vejo privacidade);
- Apropriado (quarto/repouso);
- Tristeza (estar doente);
- Privacidade (quarto/cada um);
- Pobreza (vida pobre).
Embora a subjetividade desses sentimentos dos pacientes, percebo na
diversidade dos mesmos uma adequada percepção da realidade e suas
capacidades de apropriarem-se desta realidade através de suas emoções e
sentimentos.
Da Vinci é considerado um dos maiores pintores de todos os tempos, o
maior gênio da história da humanidade devido a sua multiplicidade de talentos.
Figura 4 – A Santa Ceia – Leonardo da Vinci – 1452
76
Seguem a seguir as opiniões de alguns pacientes do grupo terapêutico
sobre a obra:
P.13: “A ceia é a nova aliança de Deus com o povo na terra. Jesus subiu ao
céu e sentou a direita do Deus Todo poderoso e prometeu voltar para buscar seu
rebanho”.
P.12: “Eu acho é um encontro com os apóstolos”.
P.7: “O quadro da santa ceia é muito lindo, a mesa e todos em volta é união
é troca, esperança para uma vida melhor”.
P.6: Não respondeu.
P.11: “A santa ceia é uma reunião com Jesus e seus discípulos, um almoço
de confraternização”.
P. 19: “O quadro da santa ceia está com os apóstolos reunidos numa mesa,
comendo alguma coisa e estão fazendo uma reunião”.
P. 17: “A santa vejo muita força e me inspira amizade e paz”.
P. 10: “Eu acho sobre a Santa Ceia é que ela abençoe o mundo e as casas
de cristo Deus”.
Além de poderem expressar seus sentimentos religiosos, os pacientes
puderam perceber um local de reunião, de encontro, como revelam algumas de suas
impressões:
Religiosidade (aliança: Deus/povo);
Realidade (encontro/apóstolos);
Beleza (união/troca);
União (Jesus/Discípulos);
Intensidade (muita força).
Através da subjetividade de suas emoções e sentimentos, podemos
perceber a intensidade e a força nesses sentimentos de união, que permitem trocas.
Faz- nos lembrar da metodologia de trabalho no grupo terapêutico, local onde
podem ocorrer trocas entre os participantes do grupo, permitindo assim apropriaremse de suas emoções, de seus corpos e de suas próprias histórias, o que considero
indispensável para uma individuação no social.
Os pacientes puderam, ao longo dessas criações, fazer uma reflexão e
expressar seus sentimentos, que podem estar relacionados à alegria (A PONTE), à
tristeza (O GRITO), ao isolamento (O QUARTO) e, finalmente, a uma forma de sair
deste isolamento e, em um grupo terapêutico, poder expressar livremente seus
77
sentimentos (A SANTA CEIA), elemento indispensável para sua individualização no
social (grupo).
Constatei, ao longo deste trabalho de arte- terapia nos grupos, a importância
que a arte tem para auxiliar os pacientes a tomar contato com suas emoções e
sentimentos, mesmo que na forma de lembranças, de curiosidades, de desejos, de
identificação com o sentimento do artista. Além disso, percebi as suas mais variadas
maneiras de verbalizar esses sentimentos e o quanto para esses pacientes tomar
contato com seus sentimentos é indispensável para a reconstrução de seu mundo
interno, construindo, assim, sua individuação no social (grupo terapêutico), através
de um processo educativo, indispensável para sua inclusão social.
Percebi, também, o quanto as ideias pioneiras de Espinosa sobre a
afetividade humana puderam, através de uma prática integradora com as vivências
ousadas da psiquiatra Nise da Silveira, possibilitar a expressão do paciente
psicótico, de seus sentimentos em um grupo terapêutico. Seus estudos permitem ao
psiquiatra da atualidade ver e aprender diferentes alternativas em seu trabalho
multidisciplinar para reintegrar o paciente psicótico ao social, permitindo a este
adquirir o sentimento de pertencimento ao humano.
3.4 CARACTERÍSTICAS DOS CUIDADORES
Uso o termo cuidadores e não familiares para lembrar que nem sempre o
cuidador é um familiar. Isso pode ocorrer por incapacidade deste para exercer suas
funções de cuidador, o que geralmente ocorre pelo seu despreparo, reforçando a
necessidade de apoio educacional para o familiar estar mais bem preparado para
esta importante tarefa de cuidador. Este aspecto constitui-se num importante reforço
para a problemática desta pesquisa, pois o despreparo do familiar para lidar com o
seu doente mental é um dos focos de conflito; o outro é o próprio estigma social que
existe em nossa sociedade sobre a doença mental.
Conforme Pereira nas ultimas décadas, os olhares em saúde mental têm- se
voltado para o papel da família no acolhimento de seu doente mental:
O problema era colocado sempre “fora”, em um espaço longínquo, alheio ou
estranho, o que pode ser interpretado como indício do real afastamento
frente à consideração do processo saúde/doença, havendo olhares voltados
apenas à doença, não contemplando a pessoa com sua história e seu
contexto. A partir da década de quarenta, cinqüenta do século passado,
78
acentuando-se mais na década de sessenta, pesquisas de estudiosos na
Europa e Estados Unidos voltaram olhares para a família e efetuaram
estudos que buscavam compreender como as relações familiares estariam
diretamente ligadas ao surgimento dos transtornos mentais. O término da
Segunda Guerra Mundial trouxe inúmeras transformações na sociedade e
estas se refletiram também na assistência psiquiátrica, havendo grande
interesse pelos aspectos sociais e familiares. (Pereira, 2003; 37(4): p. 93)
Cabe destacar as mudanças no olhar da psiquiatria para o processo
saúde/doença, voltando-se mais para família, ao mesmo tempo em que, em vários
países ocidentais, começava a luta contra os hospitais psiquiátricos, reforçando
assim o papel da família, embora sem as condições adequadas para exercer esta
função. Criou-se assim a necessidade da psiquiatria aproximar-se da educação para
encontrar métodos psicoeducativos de educar as famílias e a comunidade a fim de
receberem o paciente de forma inclusiva em seu meio.
A amostra dos cuidadores de doentes com transtorno mental (Esquizofrenia
Paranóide) quanto ao gênero apresenta, no gráfico 15, a seguir, os seguintes
resultados:
86%
Sexo feminino
(18 pessoas)
14%
Sexo masculino
(três pessoas)
Gonçalves (2001) afirma textualmente sobre o papel da família e
especialmente das mulheres como cuidadoras do doente mental:
Enquanto a sociedade não dispõe de equipamentos sociais para a
assistência e cuidados dos egressos de instituições ou daqueles que
chegaram a ser encaminhados para elas, grande parte da tarefa de
cuidados desses pacientes fica cometida às mulheres o que abre uma
questão não desprezível para discussão (Gonçalves, 2001, p. 51).
79
Gráfico 15 – Gênero dos cuidadores
Na minha pesquisa, aproximadamente 86% dos cuidadores pertencem ao
sexo feminino. Sobre este fato pude perceber sérias repercussões, especialmente
por serem os cuidadores do sexo feminino, com idade jovem e com idade mais
avançada.
Para as jovens:
Assumir o papel de cuidadora significa comprometer sua qualidade de vida
nos mais diferentes aspectos, como, por exemplo, profissional - renda, relações
sociais, filhos, sua própria capacidade de lazer e recreação.
Para as mais idosas:
Assumir o papel de cuidadora significa comprometer os cuidados com sua
própria saúde que a idade requer.
Em ambas as situações, a grande maioria dos pacientes que participaram
deste estudo recebem um benefício, e este, possivelmente, passa a complementar a
renda familiar, gerando neste meio um ciclo vicioso com a pobreza e uma perversa
exclusão propiciada pelo sistema capitalista. Este aspecto econômico será
novamente abordado em sua temática correspondente.
A presença de doente mental podem gerar, na família três tipos de
sobrecarga (Borba, 2008):
- a sobrecarga financeira, relacionada aos gastos de consultas e
medicamentos;
80
- a sobrecarga de cuidados, pois estes ficam sob a responsabilidade de
uma única pessoa;
- a sobrecarga física e emocional representada pela tensão e pelo
nervosismo.
A autora Gonçalves (2001) refere-se ao fato de que, na prática, os
cuidadores dificilmente estão disponíveis ou dispostos a encarar a dimensão
subjetiva e objetiva do cuidado com o doente mental. Considerando os resultados
provindos da prática com o grupo terapêutico e os cuidadores/familiares, julgo que
cabe aos profissionais, através de uma prática educativa interdisciplinar, mudar esta
dimensão que poderá caracterizar-se pelo trabalho de apoio e orientação à família
para que aceite o doente mental.
A reflexão da mesma autora, em seu trabalho de mestrado sobre a reforma
psiquiátrica e a sua repercussão na família, destaca que esta reforma no Brasil vemse apresentando como um movimento com diferentes graus de entendimento e
adesão pelos profissionais e alguns segmentos da sociedade. Promover a
desospitalização sem oferecer as condições necessárias para viabilizar uma efetiva
proposta de inclusão/reabilitação social reflete-se de forma negativa sobre a família,
pois neste lugar é que ocorre o embate com a realidade cotidiana do cuidado com o
doente mental especialmente atribuído as mulheres.
Penso ser indispensável reproduzir textualmente as palavras de Gonçalves:
Se não é mais aceitável estigmatizar, excluir e reincluir os loucos, também
não se pode reduzir a reforma psiquiátrica a devolução destes à família
como se fossem indistintamente capazes de resolver a problemática da vida
cotidiana acrescida das dificuldades geradas pela convivência, pela
manutenção e pelo cuidado do doente mental.
Isto implica uma progressiva mudança de mentalidade e comportamento da
sociedade para com o doente mental em todos os níveis e posturas mais
criticas dos órgãos formadores de profissionais, principalmente os de saúde
e os da educação (Gonçalves, 2001, p. 51).
Todas essas vivências mencionadas anteriormente pelos diferentes autores
reforçam o quanto em nossa experiência de ressocialização devemos considerar a
atenção e o apoio à família através de uma educação adequada, para que ela esteja
melhor preparada para acolher seu doente mental.
81
Quanto à idade dos cuidadores, na minha pesquisa, foram identificados os
seguintes resultados, registrados no gráfico abaixo:
20 a 30 anos
10%
(duas pessoas)
30 a 40 anos
14%
(três pessoas)
40 a 50 anos
14%
(três pessoas)
50 a 60 anos
29%
(seis pessoas)
> 60 anos
33%
(sete pessoas)
Gráfico 16 – Idade dos cuidadores
No momento da entrevista, considerei um índice de 67 % dos entrevistados,
ou seja, pessoas cuidadores em plena idade produtiva, sendo, então, a presença do
doente mental uma interferência em sua atividade laboral, considerando o tempo
que terá que dedicar aos cuidados de seu doente mental. Os demais 33%, já na
terceira idade (segundo a OMS 65 a), não terão que abrir mão de cuidados com sua
própria saúde para poder exercer sua função de cuidador do doente mental.
O resultado da escolaridade dos cuidadores entrevistados se expressa nos
seguintes dados:
76%
(16 pessoas)
1º Grau incompleto
5%
(uma pessoa)
1º Grau completo
5%
(uma pessoa)
2º Grau incompleto
82
9%
(duas pessoas)
2º Grau completo
5%
(uma pessoa)
3º Grau completo
Gráfico 17 – Escolaridade dos cuidadores
O nível de escolaridade dos cuidadores pode estar relacionado com outros
itens, tais como:
- baixa escolaridade – baixa renda familiar;
- baixa escolaridade – baixo preparo para lidar com os cuidados físicos e
emocionais do doente com transtorno mental.
Especificamente, podem estar relacionadas entre si a baixa escolaridade e a
sobrecarga financeira que o doente mental pode gerar em seu meio familiar, já
limitado neste item; a sobrecarga para buscar e assimilar meios adequados para
lidar com o seu doente mental. Esses dados podem estar relacionados entre si, pois
como vimos anteriormente em relação à idade os níveis de sobrecarga financeira,
sobrecarga de cuidados, sobrecarga física e emocional estão presente.
Quanto ao estado civil dos cuidadores dos pacientes participantes do grupo
terapêutico, são os seguintes os resultados:
Solteiro
5%
(uma pessoa)
Solteira
14%
(três pessoas)
Casado
9%
(duas pessoas)
Casada
43%
(nove pessoas)
83
Viúva
14%
(três pessoas)
Separada
10%
(duas pessoas)
União estável
5%
(uma pessoa)
Gráfico 18 – Estado civil dos cuidadores
O estado civil dos cuidadores revela um dado importante, ou seja, 57% são
casados ou estão em união estável. Porém, se considerarmos o papel da mulher
como cuidadora, esse percentual torna-se significativamente elevado (86%).
Portanto, mesmo casada, é ela que exerce o papel de cuidadora. Esse resultado nos
mostra o quanto o cuidado do doente mental em sua grande maioria recai sobre a
mulher.
Isso na opinião de Rosa (2011), mostra uma tendência histórica da
feminização do papel de promover cuidados ao doente mental. Em sua opinião, a
maioria das mulheres, além de prover os cuidados com o doente mental, exerce uma
atividade remunerada fora de casa, dividindo seu tempo em cuidar do doente mental
e gerar renda.
O gráfico a seguir informa sobre a renda dos cuidadores dos pacientes
participantes do grupo terapêutico.
84
5%
(uma pessoa)
Meio SM
24%
(cinco pessoas)
Um SM
14%
(três pessoas)
Dois SM
19%
(quatro pessoas)
Bolsa Família
9%
(duas pessoas)
Sem renda
24%
(cinco pessoas)
Em branco
5%
(uma pessoa)
Variável
Gráfico 19 – Renda declarada dos cuidadores
Tendo uma média baixa na renda do cuidador do doente mental, a renda do
doente mental, embora em sua grande maioria proveniente da Previdência Social,
passa a ser uma efetiva contribuição para a renda familiar.
Estes dois aspectos, baixa renda familiar e ausência do mercado de trabalho
por parte dos doentes mentais na minha pesquisa contribuem para um processo de
exclusão social associada a um cruel estado de pobreza, pois inexistem maiores
investimentos do estado para a inclusão das famílias do paciente e do doente mental
no mercado de trabalho. No entanto é indispensável para a criação de sua
identidade social, uma experiência para sua real inclusão social, sem a qual este
processo fica comprometido.
85
3.5 RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS SOBRE A PARTICIPAÇÃO
DOS CUIDADORES
Os resultados quantitativos, associados aos qualitativos, dos oito temas
abordados me permitem subjetivamente inferir o quanto o grupo pode, ou não, ser
efetivo no processo de ensino aos cuidadores de pacientes psicóticos, sobre a
doença mental e suas repercussões.
No aspecto subjetivo destaco a ideia de ação presentes nas falas dos
cuidadores/familiares,
presente
nos
diferentes
temas
associado
a
uma
cognição(aprendizagem):
TEMA 1: Capacidade de percepção da doença mental no outro por parte
dos cuidadores após sua relação com o grupo, 90% (19 cuidadores) responderam
que não apresentam dificuldade em perceber a doença mental no outro.
10% (dois cuidadores) apresentam algum tipo de dificuldade de identificar a
doença mental no outro.
Subjetivamente esses resultados permitem inferir o quanto o grupo pode ser
efetivo no processo de ensino aos cuidadores de pacientes psicóticos no
reconhecimento da doença mental no outro.
Gráfico 20 – Percepção da doença mental do outro
Ao serem questionados sobre os efeitos do grupo em seu entendimento
sobre sua percepção, seguem aqui alguns de seus relatos, presentes em suas
respostas abertas:
86
F.1 – “Pela maneira de agir, de se portar parece muitas vezes que eles nos
olham dizendo: precisamos de amor, carinho, compreensão, não só de remédios”.
F.2 – “A convivência com as pessoas ensinou a agir de forma certa nas
situações delicadas”.
F.3 – “Nos ajudou no sentido de podermos ouvir a opinião de cada paciente,
onde eles conseguem ter sua liberdade de expressão”.
F.6 – “Pelo que passou com o filho o grupo a ajudou pela própria melhora do
filho”.
F.8 – “Ânimo para gente, pois se vê que tem mais pessoas que estão
sofrendo”.
F.9 – “Conviver com o próprio grupo me ajudou a identificar o problema das
pessoas”.
F.11 – “De acompanhar meu marido nos encontros e dos outros pacientes
falarem a respeito do mesmo e de ver que às vezes não são iguais, mas passam
pelas mesmas dificuldades”.
F.13 – “Sim a pessoa que tem doença mental e toma medicação não
demonstra a doença, mas aquele que não faz tratamento demonstra”.
F.15 – “A convivência com o grupo, ver as pessoas contar seu sofrimento,
suas histórias”.
Percebi que o processo educativo no grupo vem ocorrendo informalmente,
pois os familiares convivem com a doença mental dos seus familiares. De maneira
formal, o grupo tem tido um papel ativo importante, conforme suas falas.
Subjetivamente, destaco a ideia de ação presente nas falas dos
cuidadores/familiares associada a uma cognição:
- Comportamento (maneira de agir/carentes);
- Convivência (aprendizado/ser delicado);
- Audição (ouvir o outro/dar liberdade);
- Evolução (melhora/grupo);
- Visão (pessoas/sofrimento);
- Identificação (problema/pessoas);
- Acompanhar (falar com/ver o outro);
- Observação (medicação/melhora);
- Contar (suas/histórias).
87
A ação expressa através de suas palavras pode estar associada a um
pensamento, e este é o que lhes permite vivenciar sua ação transformando-a em
uma cognição (conhecimento).
Noto (2012) propõe o grupo como “Modelo Educativo” em termos formais.
Falando sobre os modelos de intervenção familiar, ele afirma que estes partem de
uma premissa disfuncional da família, o que, invariavelmente, causava muita culpa
aos familiares de doentes mentais. Essa situação levou ao surgimento de outros
modelos. Nasceram, assim, os chamados modelos educativos ou psicoeducativos
de intervenção familiar e os enfoques recentes de práticas colaborativas entre
profissionais e familiares.
Em outro trecho, Noto (2012, p.252) destaca que fatores como adesão ao
tratamento, prevenção de recaídas, re-hospitalização, diminuição da sobrecarga e
custo de provisão de serviços necessitam se articular com questões de colaboração
entre famílias e profissionais, contexto dos serviços, empoderamento, cidadania,
estigma e inclusão social. O enfoque grupal que proponho não desconsidera o papel
familiar, mas, pelo contrário, estimula a participação em reuniões, utilizando esses
modelos educativos através de um grupo operativo, diminuindo, assim, a sobrecarga
familiar, conforme a experiência do autor acima mencionado.
TEMA 2: Percepção da doença mental em seu ‘familiar” após sua
participação no grupo.
Os resultados apresentam as seguintes indicações: 86% (18 cuidadores)
responderam que têm facilidade, e 14% (três cuidadores) que apresentam
dificuldade para identificar a doença mental em seu familiar.
Gráfico 21 – Percepção da doença mental do familiar
88
Com relação à participação do grupo quanto ao para seu entendimento,
percepção do sofrimento psíquico em seu “familiar”. Apresento a fala dos mesmos
através de seus registros.
F.21 – “O grupo ajuda, pois eu observo os outros pacientes, o jeito de olhar,
falar, sentar, os cacoetes (balanço do corpo, mãos se movimentando, pernas
balançando)”.
F.19 – “Sim aprendeu a compreender, a aceitar e a conviver com a doença
da filha”.
F.18 – “Porque no grupo explicaram sobre ele, sobre o que acontece na
doença dele”.
F.15 – “Ouvi os outros familiares contarem sobre os pacientes, perceber que
estes tinham os mesmos sintomas, isto ajudou a entender melhor seu familiar”.
F.11 – “Quando ele está assim passa até para mim, porque eu vejo nos
olhos, no modo de agir, na tristeza que se abate nele, isto é uma coisa que dói até
mesmo para aquele que ama e está perto”.
F.10 – “Antes de eu participar do grupo não aceitava a doença dele, hoje eu
aceito o problema dele”.
F.2 – “Ensinou a perceber quando ele está diferente, sua maneira de agir”.
F.1 – “Me ajudou a ser mais paciente, porque agora entendo que ele têm
limitações e que ele não está doente porque quer”.
Subjetivamente, destaco que a ideia de ação presente nas falas dos
cuidadores/familiares está associada a uma cognição
- Observação (ajuda/grupo);
- Aceitação (convivência/doença);
- Explicação (ele/doença);
- Contar (percepção/igualdade);
- Empatia (solidariedade/sofrimento);
- Aceitação (aceita/problema);
- Ensinamento (diferente/no agir);
- Entendimento (limitação/doença).
Experiência difere de adestramento, pois naquela há necessidade da ação
ser vivenciada, enquanto neste apenas repetição da ação “sem ser tocada por ela”.
O que observei, subjetivamente, em suas falas é o quanto os cuidadores/familiares
são tocados por suas vivências compartilhadas nos grupos terapêuticos, o que
89
revela uma real experiência de ensino e aprendizagem, que lhes será de intensa
utilidade para reconhecer os mínimos sinais de recaídas da doença e como lidar
com elas.
A esquizofrenia é uma doença, em geral, de curso crônico. Toda doença
crônica necessita de acompanhamento familiar e especializado por tempo
indeterminado. Este acompanhamento visa à identificação da doença, seus
aspectos evolutivos e a prevenção de recaída.
Como qualquer doença, quanto menos recaídas ocorrerem, menor será o
comprometimento, no caso da esquizofrenia, de ocorrer um “deterioro mental”.
O doente mental e a família (cuidador) têm de ser orientados em uma ação
psicoeducativa para que aos primeiros sintomas da doença busquem ajuda. Daí a
importância de o doente mental e a família terem formação e informação para
identificar o sofrimento em si ou através de seu familiar.
Verifiquei no grupo terapêutico, o decisivo papel educativo desse grupo, no
caso o grupo operativo. Como sua tarefa é a de inclusão social de pacientes
psicóticos, mostrou-se indispensável à prevenção de crises, evitando assim todo o
sofrimento que as acompanha.
Scazufca (2012), ao enfocar a abordagem familiar em esquizofrenia, destaca
que as intervenções psicossociais para familiares de doentes com esquizofrenia têm
dois objetivos principais:
- reduzir ou prevenir os sintomas da esquizofrenia;
- melhorar a qualidade de vida de toda família.
Estes pressupostos são evidenciados em uma prática educativa realizada no
grupo com os pacientes e com os familiares que se evidenciam na fala dos
familiares no item um e dois (reconhecer a doença mental no outro e no seu
familiar), o que os capacita para intervenções adequadas.
Em outro momento de seu texto, Scazufca (2012) chama a atenção para as
intervenções psicossociais (ações educativas) que considera indispensáveis para
mostrar que a presença de um membro com doença esquizofrênica na família
relaciona-se à sobrecarga em vários aspectos de vida da família e de seus membros
como os relacionamentos, lazer, saúde física e saúde mental.
TEMA 3: Os cuidadores, quando questionados sobre sentir-se ou não
afetados pelo preconceito ou estigma da doença mental ao frequentar o grupo
terapêutico apresentaram sua opinião sobre o tema preconceito ou estigma ao
90
frequentar o grupo terapêutico revelada nos seguintes números: 86% (18 pessoas)
responderam que não se sentem afetados, e 14% (três pessoas) responderam que
sim.
Gráfico 22 – Sente-se afetado com o estigma e preconceito
Na pergunta em aberto sobre o mesmo tema, antes de participar do grupo
suas falas revelavam:
F.2 – “Não senti preconceito, os vizinhos e amigos apoiam”.
F.4 – “Como as pessoas se referem ao CAPS II, que as que se tratam no
CAPS II são loucas”.
F.5 – “Não se sentia afetado”.
F.6 – “Fica incomodada quando a familiar larga seu doente mental”.
F.8 – “Não é ele que quer ser assim, a família tem que aprender a suportar”.
F.9 – “Não queria muito participar, foi com diálogo, conversa e conselho, ele
tinha muita vergonha do que os outros iriam pensar dele, mas enfim está em
tratamento”.
F.10 – “Nunca me afetou e o que os outros pensam não me interessa, o
importante é eu e meu marido, e o que eu posso fazer para contribuir com o bem
estar e saúde dele”.
F.14 – “Tem pessoas que falam por preconceito, tem pessoas que
estimulam a procurar tratamento”.
F.15 – “Antes se sentia nervosa, porque não tinha apoio, não entendia qual
era o problema dele”.
91
F.19 – “Antes as pessoas falavam que ela era drogada, não sabiam que era
doença, hoje as pessoas entendem”.
No aspecto subjetivo, destaco a ideia de ação presente nas falas dos
cuidadores/familiares, associada a uma aprendizagem (cognição):
- Sentir (apoio/vizinhos);
- Referenciar (CAPS II/loucos);
- Negação (não/sentia);
- Abandonar (incomodada/família);
- Aprendizagem (suportar/doença);
- Motivação (diálogo/tratamento);
- Afetar-se (interesse/marido);
- Reconhecimento (preconceito/tratamento);
- Desconhecimento (problema/apoio);
- Preconceito (droga/doença).
Ao verificar subjetivamente as principais ideias de ação ligadas ao tema
preconceito, aparece a percepção que os cuidadores/familiares têm de que mesmo
existe na doença mental e de forma significativa está presente em seu cotidiano,
causando um duplo sofrimento: lidar com a doença e com o preconceito que a
acompanha. Neste ambiente familiar muito conflitos se fazem presentes,
especialmente quando há desconhecimento da doença por parte dos familiares, pela
falta de ações educativas, bem como pela gravidade das crises que se estabelecem,
especialmente quando não há uma adesão adequada ao tratamento pelo paciente
(surtos psicóticos), reforçando assim o estigma à doença mental.
Esses conflitos podem estar relacionados ao desenvolvimento limitado que
esses pacientes podem ter, inclusive por déficit cognitivo que a doença causa ou até
por disposição genética para o desenvolvimento da doença, especialmente nos
momentos de cobranças sociofamiliares de desempenho.
Novamente destaco o papel educativo do grupo terapêutico mostrado
através do registro anterior dos cuidadores, o quanto eles aprendem a lidar com a
doença mental, ser mais tolerantes com seus pacientes e especialmente reconhecer
seu comportamento anormal precocemente e especialmente que suas crises não
são uma alteração decorrente de sua vontade, mas sim de alteração química
(mediadores químicos) que ocorrem em seu cérebro. Essas alterações nos
mediadores químicos podem ser corrigidas pela medicação, aliviando ou prevenindo
92
novas crises, isto os motiva a ter maior adesão e cuidados nos diferentes
tratamentos de seu paciente, e não só no grupo terapêutico.
Nas palavras de Yalon (2006), referindo-se ao papel terapêutico do grupo
em relação aos conflitos familiares, o importante é que esses conflitos sejam
revividos de forma corretiva no grupo, pois uma nova exposição sem reparos,
apenas torna pior uma situação que já era ruim. Deve-se, pelo contrário, explorar e
desafiar continuamente os papéis fixos, estabelecendo regras básicas que
incentivem a investigação de relacionamentos e o teste de novos comportamentos.
Novamente usando as indicações de Scazufca (2012), entendo que ela
incentiva a que os programas de intervenção que têm mostrado sucesso incluam
elementos de educação sobre a esquizofrenia, atitudes acolhedoras do terapeuta
em relação à família, procurando auxiliá-la a negociar soluções ou adotar novas
formas para lidar com os problemas e reconhecendo junto à família a importância da
medicação para adesão no tratamento de seus pacientes.
TEMA 4: Quando seu “familiar/paciente” está em casa,
Os índices indicam:
48% (10 cuidadores) responderam que os pacientes preferem ficar com a
família.
52% (11 cuidadores) responderam que os pacientes preferem ficar sozinhos.
Gráfico 23 – Em casa como prefere estar
Suas respostas, após a participação no grupo, mostram que um percentual
expressivo prefere ficar em casa com a família, em proporção semelhante embora
estando em casa, um ambiente geralmente mais acolhedor, grande parte dos
93
pacientes preferem o isolamento, forte característica da esquizofrenia. Essa
constatação vem motivando o grupo terapêutico a refletir sobre a necessidade de
buscar outras tarefas educativas, tais como melhorar seus níveis educacionais e
melhorar seus acessos às oportunidades no mercado de trabalho, possivelmente
auxiliando-os a diminuírem seus isolamentos e terem uma melhor inserção na
sociedade, condição indispensável para construírem suas identidades e assim o
exercício de suas cidadanias no meio social.
Com referência às relações dos cuidadores com o paciente antes do
tratamento em grupo, registro algumas falas e seus registros:
F.20 – “Não era bom! Havia muitos desentendimentos e discussão com a
família”!
F.19 – “Brigava, maltratava todos, queria matar a mãe. Era muito difícil de
conviver”.
F.18 – “Antes ele brigava, queria mandar matar a mãe”.
F.15 – “Ficava só deitado, se isolava da família, fugia não gostava de sair”.
F.14 – “Grupo ajuda, antes era agressivo, não havia conversa”.
F.13 – “O relacionamento era bom, porém, ele tinha períodos agressivos”.
F.11 – “Ele era mais retraído pouco conversava, saía pouco, costumava não
ter amigos”.
F.1 – “Antes apático, se isolava, não saia de casa, nem da própria higiene
pessoal cuidava, quarto todo desarrumado, parecia estar mal com o mundo”.
A ideia de ação baseada na interpretação subjetiva das respostas dos
cuidadores manifesta-se em determinados termos:
- Desentendimento (discussão/família);
- Violência (convivência/difícil);
- Riscos (brigas/morte);
- Isolamento (isolar/fugir);
- Evolução (grupo/mudanças);
- Educativas (antes/agressivo);
- Recaídas (períodos/agressivo);
- Conversar (pouco/amigos);
- Apatia (higiene/desarrumado).
94
Com relação ao item quatro, os cuidadores mostraram em suas respostas
sobre a situação dos seus pacientes o quanto estava presente e aparece em seus
registros a preocupação com o comportamento agressivo, embora expressem sua
compreensão de que isto faz parte da doença, até incluindo neste aspecto a
dificuldade que o paciente tem de confiar no outro. Considero oportuno comentar
que, embora o potencial para a violência que esses pacientes possuem em suas
crises, a grande maioria dos crimes envolvendo indivíduos com doença mental não
está relacionada com a esquizofrenia.
O que representa em nossa experiência de inclusão social este isolamento e
esta improdutividade dos doentes mentais?
- uma carga que passa esta responsabilidade para a família, com os
cuidados ao seu doente mental;
- esta sobrecarga está também relacionada ao papel que o doente mental
representa no núcleo familiar, quer seja filho, esposo, irmão, pai, mãe.
TEMA 5: Confiabilidade no outro por parte do paciente, na visão de seu
cuidador/familiar.
Pude constatar no gráfico a seguinte relação: 81% (17 cuidadores)
responderam que o paciente apresenta uma percentagem significativa para contar
quando algo importante lhe acontece; já 19% (quatro cuidadores) informaram que o
paciente não conta se algo significativo lhe acontece. Dados registrados no gráfico
abaixo.
Gráfico 24 – Confiabilidade no outro
95
Com relação a este aspecto de relacionamento (confiabilidade) antes do
tratamento, transcrevo algumas respostas:
F.1 – “Não queria ver ninguém, se escondia no quarto”.
F.4 – “Sempre que está em dificuldade ele fala para alguém”
F.6 – “Ele era mais isolado normalmente”.
F.8 – “Consegue falar com família, antes do tratamento causava medo aos
familiares, com expressões de ódio, com alguns momentos de agressividade”.
F.10 – “Amigos se afastaram dele”.
F.11 – “Nunca foi muito de ter amigos, sempre foi calado e eram pouca às
vezes de ir ou receber alguém lá em casa”.
F.12 – “Depois que ele entrou no grupo melhorou o relacionamento com os
amigos”.
F.14 – “Antes muito fechado, muito agressivo vivia na rua com os catadores,
agora vai do CAPS II para casa e de casa para o CAPS II”.
A pergunta em aberto refere-se ao aspecto da confiabilidade antes do grupo,
mas alguns cuidadores/familiares referem-se em suas respostas após a participação
no grupo. A ideia de ação baseada na interpretação subjetiva das respostas dos
cuidadores manifesta-se também nesse aspecto:
- Isolamento (esconder/quarto);
- Dificuldade (falar/alguém);
- Mudança (era/isolado);
- Perigo (causava/medo);
- Afastamento (amigo/dele);
- Convivência (isolado/só);
- Grupo (relacionamentos/amigos);
- Confiança (de casa/para casa).
Percebi através do registro de suas falas que houve uma significativa
mudança, após sua participação no grupo terapêutico.
Na esquizofrenia paranoide apresenta-se, especialmente nas crises do
paciente, um marcante delírio persecutório, sendo este muitas vezes, causa de
graves episódios agressivos. Há uma impactante distorção da realidade.
Novamente trago as palavras de Rivière:
96
[...], ou seja, a doença implica uma perturbação no processo de
aprendizagem da realidade, um déficit no circuito de comunicação,
processos estes (aprendizagem e comunicação) que se realimentam
mutuamente (Rivière, 2009, p.199).
Portanto o grupo tem um papel fundamental para mostrar que, em sua forma
de pensar, o paciente pode estar distorcendo a realidade e vendo o mundo de forma
assustadora. Ao vivenciar no grupo, uma nova forma de relacionar-se sem esta
distorção da realidade, essa experiência pode refletir-se nos índices de minha
amostra.
Isto implica considerar que esta prática de aprendizagem de uma realidade
distorcida pode ser refeita através de um processo de comunicação com alguém
igual que pode entendê-lo e ser entendido por ele, criando-se condições de
aprendizagem, de construção de vínculos.
TEMA 6: Capacidade de iniciativa em interações sociais
Os cuidadores responderam que 33% dos seus “familiares/pacientes” não
apresentam problemas de iniciativa para interação social, ou seja, possuem
iniciativa, enquanto que 67% (14 pessoas) julgam que seus “familiares/pacientes”
não possuem iniciativa em interações sociais.
No gráfico abaixo apresento a relação quanto à capacidade de interações
sociais dos pacientes, na visão de seus familiares:
Gráfico 25 – Capacidade de iniciativa em interações sociais
Com relação ao papel do grupo no aspecto de iniciativa para interação
social, é indispensável associá-lo ao registro das falas dos familiares.
97
F.19 – “Sim hoje ela está mais calma, consegue se relacionar com os outros,
sem se isolar, mas não consegue estabelecer um diálogo”.
F.15 – “Dentro do grupo, se sente mais acolhido, conta depois em casa, as
atividades realizadas, o que não acontece quando freqüenta outros lugares que não
o CAPS”.
F.14 – “Mesmo com tais limitações (não quer sair muito) o grupo o ajudou a
comunicar-se mais”.
F.11 – “Agora de uns tempos para cá ele está mais aberto a convites tem
aceitado e gosta de convidar os poucos amigos de agora ele fez”.
F.6 – “Este aspecto de relacionamento fora do grupo não mudou, foi
ensinamento familiar para ser mais reservado”.
F.3 – “Acha que o P.3 fica mais alegre e falante depois do encontro com o
grupo”.
Aqui a ideia de ação baseada na interpretação subjetiva das respostas dos
cuidadores permite associar:
- Limitação (mais calmo/sem diálogo);
- Acolhimento (confiança/grupo);
- Comunicação (grupo/comunicar-se);
- Mudanças (convidar/amigos);
- Inalterado (relacionamento/fora do grupo);
- Contagiante (grupo/alegre/falante).
Em suas respostas transparece, de forma subjetiva, uma forte vinculação ao
grupo, local onde mostram suas limitações para mudanças. Pude perceber no grupo
terapêutico uma significativa capacidade de comunicação, elemento indispensável
para formação de novos vínculos e o quanto conseguem exercitar esta capacidade
no próprio grupo.
Cabe ao grupo a tarefa educativa de fazer com que os pacientes possam,
além de ter um comportamento adequado ao seu contexto familiar e social, viver
como um ser com capacidade de se comunicar e sentir-se pertencente ao mundo.
As palavras de Gonçalves (2001) destacam o papel que os cuidadores dão á
medicação como forma de contenção do comportamento, tornando o doente mental
mais adaptado ao seu contexto social. Ressalta ainda: “A idéia de reabilitação ou
reintegração não deve ser entendida como uma adaptação do doente mental a um
determinado padrão de normalidade, mas sim como reintegrar-se a si próprio e a
98
rede intersubjetiva; tal situação possibilita ao sujeito o sentimento de estar no
mundo” (Gonçalves, 2001).
TEMA 7: Tempo gasto com lar, trabalho, estudos pelos pacientes, na visão
dos cuidadores
O gráfico permite visualizar a seguinte situação:
57% dos cuidadores (12 pessoas) destacaram que metade ou mais do
tempo dos pacientes é dedicado a atividades mencionadas.
43% (nove pessoas) informam que seus pacientes dedicam menos da
metade do tempo a essas atividades.
Gráfico 26 – Tempo gasto com lar, trabalho, estudos
Com relação ao papel do grupo terapêutico para promover mudanças
nesses aspectos, registro algumas de suas falas:
F.3 – “Sim também despertou a leitura”.
F.2 – “Continua ajudando raramente”.
F.12 – “Depois que começou a participar no grupo ficou mais responsável,
começou a ter mais interesse nas atividades”.
F.5 – “Hoje ele limpa a casa, aquece sua própria alimentação”.
F.8 – “O grupo não o ajudou, ainda está parado nesta parte”.
F.10 – “Antes não fazia nada, hoje ele faz mais atividades”.
F.15 – “Muito pouco, permanece ajudando pouco e mesmo assim quando é
solicitado”.
F.13 – “Hoje ele ajuda a fazer as atividades em casa, por ex.: lavar sua
própria roupa”.
99
F.11 – “Sim é pouco, mas ele começou a ter vontade, mesmo pouco, em
fazer trabalhos em casa é limitada ainda, mas em vista de antes é melhor”.
Aqui a ideia de ação baseada na interpretação subjetiva das respostas dos
cuidadores permite associar:
- Despertar (também/leitura);
- Continuação (ajuda/raramente);
- Responsabilidade (grupo/atividade);
- Autonomia (aquece/ alimentação);
- Inalterado (parado/grupo);
- Mudança (fazia nada/faz mais);
- Indiferente (pouco/solicitado);
- Motivação (vontade/melhor).
Ao longo do processo de observação subjetiva que realizei sobre os
diferentes temas abordados, percebi que na maioria dos pacientes esta capacidade
de simbolizar, vivenciar suas ações ou emoções está preservada, ou seja, sua
capacidade cognitiva, isto é, de adquirir novos conhecimentos (aprendizagem).
Conclui que essas pessoas não têm indicação de adestramento (ser produtiva), mas
sim ter a concepção de estudo e trabalho como direito e como meio de reflexão e de
conquista da cidadania.
Foi-me possível inferir do exposto acima o quanto a inclusão no mercado de
trabalho e no mundo escolar requer uma preparação adequada, sempre respeitando
o tempo e a limitação cognitiva do paciente para assimilar cada nova tarefa
proposta.
Rosa (2011) destaca em sua pesquisa que na esfera particular de cada
cuidador e doente mental o impacto econômico para prover cuidado é muito variável,
sobretudo em função dos vínculos que tem com o mercado de trabalho e com o
sistema previdenciário. Em sua amostra, encontrou 45,79% dos doentes mentais
que trabalham fora de casa, e 36,45% que recebem benefício da previdência. Entre
os cuidadores, 60,38% exercem atividade remunerada.
No caso desta pesquisa, os resultados são muito diversos daqueles de
Rosa, citados anteriormente, considero indispensável destacar que existem
importantes diferenças entre esses dois universos.
100
Com relação ao estudo, o CAPS II conta há, três anos, com uma professora
de reforço escolar para esses pacientes, o que poderá ser uma ponte para que eles
voltem, de forma inclusiva, à vida escolar. Com relação ao trabalho, notei uma forte
tendência dos pacientes e dos cuidadores ao benefício previdenciário, o que pode
constituir-se numa forte resistência à sua volta ao mercado de trabalho formal.
Considero importante refletir sobre a opinião de Noto (2012) a respeito dos
benefícios relacionados ao trabalho para indivíduos com esquizofrenia:
1. Facilita a circulação em sociedade;
2. Amplia a rede social;
3. Rompe com o isolamento;
4. Valoriza o potencial produtivo e a produção, aumentando a autoestima;
5. Proporciona a mudança de papel: de doente/incapaz para alguém que
contribui no âmbito familiar e social;
6. Estimula o desenvolvimento de novas habilidades;
7. Participa economicamente da vida social, adquirindo certa autonomia
para sua subsistência;
8. Favorece o exercício de cidadania.
Novamente, com base na opinião dos cuidadores e na minha análise
subjetiva do item sete desta pesquisa sobre inclusão social, pude perceber o quanto
é possível avançar além dos limites do CAPS II e do ambiente familiar. Destaco que
os trabalhos realizados em casa não possuem o caráter de regularidade e
intensidade formal, necessitando do frequente estímulo do cuidador/familiar para
que eles ocorram.
TEMA 8: Capacidade de Autonomia.
No gráfico a seguir está registrada a capacidade de autonomia percebida
pelos familiares em relação aos seus pacientes. Essa capacidade apresenta-se com
os seguintes percentuais: 33% (sete pessoas) consideram boa a capacidade de
autonomia dos pacientes, e 67% responderam ser limitada sua capacidade de
iniciativa dos mesmos.
101
Gráfico 27 – Capacidade de autonomia
Com relação ao papel do grupo terapêutico para promover mudanças neste
aspecto, registro algumas de suas falas:
F.4 – “Concordo com o grupo nesta parte, só não ajudou na parte de
higiene”.
F.2 – “Continua saindo só com os familiares”.
F.12 – “O grupo ajudou a ser mais independente em suas atividades”.
F.8 – “O grupo não o ajudou, ainda está parado nesta parte”.
F.14 – “Vem ao CAPS de ônibus quando necessário”.
F.15 – “Sim antes não se interessava nem de assistir um jogo ou novela,
tinha medo de sair, não saía sozinho, tinha que ser sempre acompanhado”.
F.21 – “Sim, pois os amigos do grupo e os profissionais explicam que essas
atividades e outras ajudam na própria recuperação”.
F.13 – “Não”.
F.20 – “Ele é bem mais prestativo, ele vai ao mercado, padaria e paga
contas para mim quando eu não posso sair”.
No item autonomia, a avaliação de ação baseada na interpretação subjetiva
das respostas dos cuidadores permite associar:
- Discordância (grupo/higiene);
- Continuidade (sai/só com familiar);
- Independência (grupo/atividades);
- Limitada (CAPS II/ônibus);
- Mudanças (sem/com interesse);
- Educação (atividades/recuperação);
102
- Negação (não/não);
- Atuação (prestativas/sair para mim);
Neste jogo de subjetividade, questiono: será que o paciente deseja sua
autonomia ou está bem (acomodado) com estes dois locais de proteção (CAPS II e
familiar)?
- Será que o cuidador/familiar deseja realmente a autonomia do seu paciente
ou este lhe é útil com suas limitações?
- Será que o profissional de saúde está preparado para dar alta ao seu
paciente?
- A sociedade como um todo deseja a autonomia do doente mental ou
precisa dele (estigmatizado) para garantir a sua sanidade?
Esses dados indicam que no CAPS II de Ijuí e no seu grupo terapêutico fazse necessária uma reflexão sobre o quanto o desejo de uma inclusão social que
culmine na autonomia do paciente ainda é passível de realização, exigindo que
saíssemos dos limites de nossos “muros”, CAPS II e família, e passemos a promover
uma psicoeducação no social como um todo.
3.6 QUESTIONÁRIO AOS TÉCNICOS EM SAÚDE MENTAL
O questionário sobre este item foi aplicado aos técnicos que atuam junto ao
CAPS II, especialmente aos que intervêm mais sistematicamente no grupo de
terapia. Este questionário foi composto por perguntas em aberto, referentes à sua
participação junto ao grupo de pacientes e junto ao grupo de familiares, sempre com
a tarefa educativa de auxiliar na promoção da individuação no social (grupo).
1-
De que forma sua área de atuação profissional pode contribuir em
um grupo terapêutico de inclusão social de pacientes psicóticos?
Farmacêutica: “Viabilizando o acesso a medicamentos que apresentam
uma resposta satisfatória, diante da demanda de um número considerável de
pacientes esquizofrênicos, mantê-los fora de surto, com uma melhor qualidade de
vida na família e na sociedade”.
Auxiliar de Assistência Social: “Quando iniciei na saúde mental (trabalhar
“com loucos” como diziam há 25 anos) eram só medicamentos e hospício; ao passar
dos anos foi então se transformando e eu sem formação nenhuma acompanhando,
foram se formando equipes, assim eu vi encantada a evolução na saúde mental: o
103
quanto é importante um grupo de inclusão social, o potencial de cada um, a
capacidade, a alegria ,o sorriso voltando em seus rostos”.
Assistente Social: “A família do paciente que participa dos grupos também
é atendida pelos profissionais do CAPS e pelo Serviço Social; a rede familiar é um
dos eixos de sustentação do tratamento, sendo o resgate de vínculos, a
conscientização do tratamento medicamentoso, e a importância do comparecimento
ao CAPS. O Serviço Social trabalhou no grupo questões referentes aos direitos e
deveres dos pacientes, tais como: Benefícios Assistenciais, Auxílio Doença,
Aposentadoria, Moradias, Habitação, entre outras...”.
Artista Plástica: “Da experiência que tenho enquanto artista plástica
considero toda forma de ARTE como uma verdadeira terapia. Arte-terapia atua como
facilitador, abrindo um caminho de reequilíbrio interior, resgate de identidade,
autoestima, refletindo na melhora de sua conduta nas relações com o seu grupo,
meio, sociedade”.
Terapeuta Ocupacional: “Através de uma visão mais ampliada de sujeito.
Acolhendo e respeitando as diversidades e tirando o foco do patológico. É pensar
que o indivíduo doente mental é acima de tudo um sujeito que tem desejos, medos e
potencialidades que se manifestam tanto no social quanto no coletivo”.
Técnica de Enfermagem 1: “Com minha experiência de técnica de
enfermagem posso contribuir, realizando medicações, orientação de enfermagem,
olhando o paciente num todo, escutando, ouvindo, dialogando, sinais vitais”.
Nutricionista: “Atualmente, vem se observando na população em geral um
considerável aumento de pessoas acima do peso em sobrepeso ou em obesidade.
Nota-se que isso está ocorrendo nos grupos em que trabalhamos no CAPS
Colméia”.
Técnica de Enfermagem 2: “De várias formas, é só ter boa vontade, gostar
de saúde mental, ex: Nos grupos nos passeios e alimentações feitas no CAPS II”.
2-
Neste sentido, quais atividades foram e podem ser desenvolvidas
no grupo?
Farmacêutica: “Observei a realização de técnicas para conhecimento,
estruturação e cuidados com o corpo. Oficinas e palestras de esclarecimento com
profissionais em diversas áreas. Esclarecimento e aceitação da doença com
participação dos familiares. A realização de atividades de lazer, cultura e
participação em atividades fora do CAPS. Inclusive o estímulo à alfabetização”.
104
Auxiliar de Assistência Social: “Todas as atividades foram desenvolvidas
envolvendo os pacientes, sempre elevando sua autoestima, deixando falar a sua
história, contando-lhe histórias; a participação deles em tudo durante o grupo é de
grande importância”.
Assistente Social: “Atividades de vídeos, passeios, assembléias, maior
participação dos familiares, alta para as unidades básicas quando necessário”.
Artista Plástica: “Sob minha responsabilidade a atividade desenvolvida foi à
pintura em tela. Ao pintar consegue ”expressar-se” não em palavras, mas de forma
“simbólica”, ajudando na eliminação de bloqueios psicológicos, completando,
auxiliando em todo processo terapêutico. Ao pintar o paciente expressa satisfação
plena”.
Terapeuta Ocupacional: “Realização de atividades de desenho, escrita,
passeios, dinâmicas de grupo, expressão corporal. A formação do indivíduo se dá
pela relação do seu corpo com o meio social mediado tanto pelas ações (atividades),
quanto pela palavra. A proposição de atividades deve direcionar e trilhar para
constituição desse indivíduo social.”
Técnica de Enfermagem 1: “Passeios, caminhadas, orientação de
enfermagem (palestras), diálogo, atividades em grupo com a participação de
pacientes para estimular a autoestima. Reunião com familiares. Oficinas
culturais(músicas, festas, desenhos).”
Nutricionista: “O trabalho é desenvolvido a partir do que é demandado nas
reuniões dos grupos de pacientes e/ou familiares e do que é demandado pelos
profissionais que solicitam um assunto a ser trabalhado com os pacientes e/ou
familiares na área da nutrição. Trabalhamos assuntos como Alimentação saudável;
Patologias crônicas não degenerativas decorrentes da má alimentação: Diabetes
Mellitus, Hipertensão, Arteriosclerose, Infarto; Higiene dos alimentos, higiene
corporal, higiene do ambiente, entre outros. Foram utilizadas varias formas de se
trabalhar esses temas: álbuns seriados, vídeos educativos, palestras, visitas à Feira
do Produtor, entre outras.”
Técnica
de
Enfermagem
2:
“Desenvolvidas:
passeios,
ginásticas,
palestras, higiene, filmes, escutas diariamente, alfabetização, pinturas em oficinas.
Pode ser mais escuta dos familiares e pacientes e profissionais em Plano
Terapêuticos juntos, etc.”
105
3-
De que forma essas técnicas auxiliaram no processo de
individuação/socialização?
Farmacêutica: “Compreender e aceitar as limitações e lidar com o
preconceito. Aprender a cuidar do corpo, da sua casa, participar de atividades no
seu grupo social. Desenvolver potencialidades, mostrando-se um ser capaz de
cuidar de si próprio e contribuir para conviver melhor junto a família e á sociedade.”
Auxiliar de Assistência Social: “A desenvoltura deles é percebida, eles
ficam diferentes, participativos, mais confiantes.”
Assistente Social: “Na medida em que eles são estabilizados, começam a
se dar conta da realidade, do mundo exterior, e aí as coisas começam a acontecer,
mas é preciso ter suporte familiar para estar junto.”
Artista Plástica: “O Indivíduo ao entrar em contato com a pintura representa
vivências a nível consciente/inconsciente. É um caminho lúdico de resgate de sua
identidade; é e pode ser o seu processo de INDIVIDUAÇÃO segundo a psicologia
analítica de Carl Jung.”
Terapeuta Ocupacional: “O processo de individuação/socialização se dá a
partir da atividade proposta e as representações tanto individual quanto social frente
ao que está sendo abordado. Nesse setting terapêutico simbólico, subjetivo,
consciente, inconsciente, individual e coletivo se relaciona e provoca transformações
que favorecem individuação/socialização.”
Técnica de Enfermagem 1: “Ajudam o paciente a melhorar no dia a dia no
diálogo, no comportamento do mesmo.”
Nutricionista: “O conhecimento adquirido, tanto pelos pacientes como pelos
familiares, contribuirá no sentido de pôr em prática esse conhecimento, em qualquer
ambiente em que eles estiverem inseridos, tanto na instituição como nas suas
residências. Em termos individuais, o paciente ou o familiar poderá formar seus
hábitos alimentares e de saúde, também como uma forma de auxiliar no seu
tratamento.
Como
conseqüência,
esse
indivíduo
poderá
repassar
esse
conhecimento adquirido para outras pessoas que estão á sua volta, como uma forma
de socialização”.
Técnica de Enfermagem 2:
profissional”.
“Dentro das possibilidades de cada
106
4-
Como você tem percebido a evolução dos participantes do grupo
após o desenvolvimento dessas atividades?
Farmacêutica: “A estabilização do quadro clínico, sem surtos e internações.
Melhora da convivência familiar. Descoberta de capacidades de realizar várias
atividades. Melhora no cuidado com a aparência. Iniciativa de participar ativamente
de eventos principalmente de lazer fora do Caps”.
Auxiliar de Assistente Social: Não respondeu este item
Assistente Social: “Tiveram uma evolução muito satisfatória”.
Artista Plástica: “Maior socialização, trazendo como consequência sobre
sua autoestima, uma maior preocupação consigo mesmo, melhor na noção de
“corpo físico”. Uma preocupação com vestimenta, arrumar e cuidar da saúde bucal,
autoestima, enfim é algo muito perceptível, com um reflexo “imediato” como
consequência de uma melhora na organização interna”.
Terapeuta Ocupacional: “Os pacientes têm se sentido cada vez mais
seguros de si. Diminuem-se os medos e a expressão passa a ser mais livre. O
paciente passa a ter um local seguro onde pode experienciar sua capacidade de se
relacionar com o outro, de ser um sujeito social. E isso tem repercussão na vida e na
rotina do paciente”.
Técnica de Enfermagem 1: “ Mais facilidade em dialogar, realizar tarefas,
tornando um convívio melhor”.
Nutricionista: “Desde que começamos a trabalhar sobre assuntos
referentes à alimentação e à saúde houve um aumento no interesse, tanto por parte
dos pacientes quanto por parte dos familiares sobre esses assuntos, principalmente
porque eles tem o Profissional Nutricionista como referência para sanar suas
dúvidas; geralmente os pacientes e/ou familiares comentam que assistiram na
televisão sobre determinado assunto, questionam sobre mitos ou tabus alimentares,
se tal alimento “misturado” com outro faz mal ou não, se determinado alimento faz
bem para a saúde ou auxilia em determinado tratamento dentre outros”.
Técnica de Enfermagem 2: “Da melhor maneira possível. Ex: Sentem-se
respeitados com seu espaço de falar, valorizados em grupos e a amizade entre
eles.”
Percebi nas manifestações dos diferentes profissionais que trabalham no
CAPS II Ijuí um olhar voltado para o indivíduo como um todo: seu corpo, suas
emoções, suas histórias. Revelaram uma preocupação constante com os familiares.
107
Chama a atenção a liberdade e a criatividade dos profissionais para lidar com os
diferentes temas, todos direcionados e preocupados com a constituição do indivíduo
no social, portanto uma prática em educação e promoção para a saúde mental, com
um enfoque humano e social para suas atividades profissionais, estas, muitas vezes,
tão carentes de valorização neste trabalho, cujo sucesso não pode prescindir deste
idealismo.
5-
Como você tem percebido a evolução dos participantes do grupo
de modo geral (pacientes/familiares/profissionais)?
As respostas dos profissionais a este item encontram-se no item ANEXOS,
pois aparece na forma de escrita textual, podendo assim ser mais expressiva.
Penso que a vivência dessa experiência de inclusão social dos pacientes
psicóticos através dessa prática de ensino e aprendizagem que ocorreu ao longo
desses anos com os pacientes psicóticos (esquizofrênicos) integrados a um grupo
terapêutico no CAPS II de Ijuí teve na sensibilidade e na disponibilidade dos
profissionais de diferentes áreas de formação que atuam em saúde mental uma
importante base para uma vivência multidisciplinar de ensino e aprendizagem. Ao
darem a sua contribuição nas diferentes etapas do tratamento dos pacientes, de
acordo com as suas necessidades de reabilitação social,deram importante
contribuição aos pacientes na busca de sua autonomia no social, operacionalizadas
em um grupo terapêutico.
3.7 RELAÇÕES DOS ASPECTOS OBJETIVO E SUBJETIVO NOS TRÊS
SEGMENTOS PESQUISADOS QUANTO ÀS QUESTÕES APLICADAS
Com relação aos temas empatia com a doença do outro e autopercepção de
sua própria doença mental, tanto paciente quanto cuidadores evidenciam no aspecto
quantitativo um índice variável, tendo os cuidadores um menor desconhecimento da
doença mental, mas sempre mostrando que já existe um contato prévio, limitado e
informal sobre a mesma.
Em suas respostas qualitativas, evidencia-se o papel formal e esclarecedor
do grupo que permite a eles (cuidadores) verem a doença não como um processo
gerador de culpa e isolador, mas como uma possibilidade de dividir com outros
cuidadores suas experiências. Para o doente mental ter consciência de sua doença
108
e aprender a lidar com ela, o grupo possibilita uma vivência de aprendizagem e uma
experiência que se incorpora à sua vida de forma definitiva.
Por último, o conhecimento da doença mental por parte dos doentes mentais
e de seus cuidadores permite a prevenção das crises, tão empobrecedoras e a
promoção em saúde mental.
Os profissionais, por estarem próximos dos doentes mentais e de seus
cuidadores nos encontros semanais, têm oportunidade de refletir e intervir de forma
adequada, mesmo que algumas intervenções exijam um planejamento a médio e
longo prazo, mas sempre baseadas nas necessidades dos pacientes e de seus
familiares, numa prática educativa-operativa baseada nessas tarefas.
No item estigma mental, revela-se sob o aspecto quantitativo (momento
atual), um índice próximo entre pacientes e cuidadores, ou seja, um elevado número
que não se sente atingido pelo preconceito, mas no aspecto qualitativo (momento
anterior ao grupo) suas respostas acentuam neste fator um limitante para pacientes
e familiares buscarem ajuda/tratamento, até mesmo um forte gerador de conflito,
pois pacientes e cuidadores não passam imunes por este preconceito associado ao
que previamente ocorria com mais intensidade: a culpabilização da família como
geradora da doença mental em seu familiar. Isso indica um expressivo papel
educativo do grupo para ajudar pacientes e cuidadores a lidarem com o estigma da
doença mental.
Os profissionais têm uma oportunidade de refletir sobre como este tema está
tão próximo de nós, trabalhadores em saúde mental, e isto não nos torna imune ao
mesmo, exigindo coragem para revisarmos nossos conceitos e nossas posturas.
Esta flexibilidade nos permite uma experiência de aprendizado de algo tão complexo
e universal, que é o preconceito não só sobre doença mental, mas também a
respeito de outros temas em nossa sociedade, também relacionados á exclusão
social das “ditas minorias”.
Com relação à socialização no ambiente familiar, embora no aspecto
quantitativo esses dados mostrem um índice expressivo de limitação tanto para
pacientes como para cuidadores, verifiquei em suas respostas qualitativas um
importante papel educativo do grupo, à medida que o conhecimento sobre a doença
mental e suas repercussões permite um diálogo mais próximo da realidade e sobre
como lidar com as limitações associadas à doença mental.
109
Uma associação desse dado (ambiente familiar) com a sua participação no
CAPS II, permite refletir sobre como esses locais se mostram os mais confiáveis aos
pacientes. Isto é um claro indicativo de como fora desses locais se faz necessária a
reflexão com pacientes, cuidadores e profissionais para que se criem alternativas de
intervenções que possam propiciar uma verdadeira inclusão social.
No item confiabilidade no outro, tanto pacientes quanto familiares e
profissionais estão profundamente implicados nesse processo, daí o decisivo papel
educativo que o grupo pode exercer, em relação aos pacientes ao aproximarem-se
de outros com o mesmo problema; aos familiares, de perceberem que não estão
sozinhos; aos profissionais, ao estabelecerem esta proximidade que permite a
criação de vínculos terapêuticos com os pacientes, dando a estes condições para
refazerem seu mundo interno, o que lhes possibilita ver o mundo externo menos
hostil.
A respeito da capacidade de iniciativa em interações sociais, encontrei
elementos que permitem concluir que, embora em suas respostas qualitativas se
constate um acentuado avanço, especialmente pela aproximação com os cuidadores
e pelas inúmeras iniciativas de atividades de que eles e os familiares tenham
participado fora do CAPS II, tais como passeios, visitas a diferentes instituições,
jogos e atividades que estimulem a socialização, no aspecto quantitativo há um
expressivo índice de limitação, especialmente nas respostas dos cuidadores.
Isso mostra a necessidade de discutir com os três segmentos esta aparente
contradição, pois a melhora expressa nas suas respostas subjetivas refere-se
predominantemente ao CAPS e ao ambiente familiar, o que indica que é necessário
considerar o processo de inclusão social como um processo contínuo, que exige
constantes reflexões em seu percurso, sempre levando em conta os desejos e as
limitações de todos os implicados, sem desconsiderar que suas limitações, antes do
grupo, pudessem ser mais intensas no aspecto quantitativo (cuidadores).
Ao analisar seu tempo gasto em trabalho e estudo, suas respostas mostram
um nível “satisfatório”, especialmente no aspecto qualitativo, mas significativamente
limitante no aspecto quantitativo, daí a necessidade de algumas reflexões, pois este
limitante pode estar associado ao nível de satisfação dos diferentes segmentos
pesquisados como também ao nível de preconceito que existe na escola e no
trabalho em relação a estes pacientes. Refletir, vivenciar e experienciar outras
alternativas de intervenções terapêuticas são ações fundamentais para se
110
construírem caminhos para uma maior e mais digna inclusão social dos doentes
mentais.
Em relação à autonomia dos pacientes, penso que devemos não só
considerar os dados quantitativos e os qualitativos dos pacientes e familiares, mas,
além desses, incluir os profissionais numa profunda e ampla discussão para
entender que autonomia é possível e desejada por todos. Esse fator está
diretamente ligado à inclusão social a ser pensada, vivenciada e experimentada,
facilitando assim a escolha da opção terapêutica, associada ao ensino e ao
aprendizado, mais adequada para determinado momento desse contínuo processo
de inclusão social.
111
4 CONCLUSÃO
Na caracterização dos participantes: pacientes e cuidadores ou familiares os
dados revelaram um baixo nível escolar, uma baixa renda, embora os dois
segmentos pesquisados estejam, predominantemente em idade produtiva, mas fora
do mercado de trabalho. Esses fatores contribuem para a perpetuação da exclusão
social.
A esses fatores se soma uma limitação cognitiva dos pacientes em função
da própria doença e da dificuldade dos familiares em compreenderem este
componente tão significativo na doença esquizofrênica. A pesquisa aponta, assim,
os elementos que contribuem para a exclusão social desses participantes e também
para mantê-los nesta perversa linha de pobreza, pois pacientes e familiares
procuram priorizar a obtenção de suas rendas via benefícios governamentais,
situação que neste grupo se mostra em um percentual significativo.
Em relação à formação de vínculos (estado civil) verifica-se em ambos os
participantes, pacientes e cuidadores ou familiares, um acentuado fator limitante pela
doença, que os isola tendo assim sua sobrecarga acentuada, sobremaneira nos
cuidadores, pois estes têm que cuidar dos pacientes e de suas próprias questões
pessoais.
Por outro lado, o elevado índice de cuidadores do sexo feminino levanta uma
outra problemática: se esta tarefa é uma herança maternal do papel da mulher ou é
um despreparo por parte do homem. Os cuidados da família e de seus problemas
ainda cabem à mulher, ao homem, no sistema capitalista primitivo e patriarcal, o
papel de provedor financeiro, tão somente.
Em relação à participação dos profissionais no grupo percebi através de
suas respostas, o quanto suas participações foram enriquecedoras no aspecto do
ensino e aprendizagem e nas suas vivências profissionais, permitindo, assim,
experienciar outras alternativas terapêuticas.
Questiono, ao observar o gráfico 6.1 (histórico dos pacientes no CAPS II),se
as intervenções através de uma terapia de grupo focada no aprendizado da doença
e das necessidades básicas dos pacientes e de seus cuidadores não poderiam ser
feitas de forma mais precoce, diminuindo assim a cronificação da doença e seus
intensos prejuízos, embora fora do grupo possam estar tendo outros tipos de
intervenções terapêuticas importantes.
112
Essa trajetória consolida a prática do ensino e aprendizagem de forma
contínua e mútua, isto é, entre profissionais, pacientes e familiares, ao longo dessa
prática de tratamento de pacientes psicóticos, em um grupo terapêutico, no CAPS II
de Ijuí - RS. Este pode ser considerado como uma importante opção terapêutica
para a inclusão social de doentes mentais (esquizofrênicos).
Criaram-se desse modo as condições necessárias para o paciente aprender
a vivenciar a apropriação de seu corpo e de suas emoções, elementos
indispensáveis em seu processo de individuação, o que, por sua vez, pode ser visto
como um contínuo aprendizado, reforçado em diferentes momentos e em diferentes
etapas do tratamento através de intervenções multiprofissionais.
Fica evidente essa evolução no relato dos pacientes que consideram o
grupo como uma segunda família para eles. Ao serem cuidados de forma adequada,
isto é, sendo-lhes permitido expressar suas necessidades, mesmo que de maneira
inconsciente, e podendo ser escutados em relação a essas necessidades no
momento adequado, revelam quando uma aprendizagem de valorização das fases
iniciais da vida do ser humano quando a educação adequada, lembrando
Rousseau1, implica cuidados adequados, incluindo a noção de limites, sem tirar-lhes
a liberdade elemento fundamental em seu crescimento humano.
Percebi assim a possibilidade de o grupo ser um ambiente acolhedor e não
excludente, ao contrário do que muitos pacientes possam ter vivenciado em suas
famílias de origem, o que lhes permite uma experiência emocional corretiva, isto é, a
possibilidade de introjetarem novas imagens em seus mundos interiores.
Os aspectos de reeducação familiar, porém, não foram descuidados e
ocorreram de forma regular e permanente nas reuniões mensais com familiares,
pacientes e profissionais, juntos.
Nesses encontros, criamos as condições para que pacientes e familiares,
mediados por profissionais de diferentes áreas, pudessem ter um local de diálogo,
de disputas, de fala de suas diferenças, mas também de reaproximação, refazendo
assim, em seu mundo interno, essas figuras parentais, indispensáveis para sua
inclusão social. A prática ensina que essa reabilitação social tem que passar
primeiro pelo lar de origem, e quando isso não ocorre pela deficiente estrutura
1
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) Em sua obra Emilio a qual trata sobre educação nos primeiros
anos de vida. DianéCollinson (2009).
113
familiar, pode ser indispensável a criação de lares substitutos, mesmo que
temporários.
Criando essas condições básicas de ensino e aprendizagem entre
pacientes, familiares e profissionais, passamos a vivenciar a necessidade de esses
pacientes poderem falar de suas emoções, de seus sentimentos e de sua visão
distorcida de realidade, ampliada pelas suas angústias de isolamento e pelo estigma
social.
Essa prática reflexiva em um grupo terapêutico, e porque não dizer essa
experiência constituída ao longo desses anos de tratamento, estimulou o grupo a
desejar que essa prática de ensino e aprendizagem em saúde mental pudesse se
consolidar como um processo de cura, entendendo-se como cura a experiência de
inclusão social desses pacientes, que com essas experiências podem sair de seu
isolamento social, completando assim sua constituição como individuo, ou seja, um
sujeito social.
Penso que, como toda prática de ensino e aprendizagem, esta também seja
contínua e flexível a novas mudanças, e que para os profissionais educadores em
saúde mental, a aceitação, através do controle de suas ansiedades, num trabalho
que é acima de tudo, uma aposta, uma escolha em lugar de outra, devemos
considerar as inúmeras opções terapêuticas no tratamento de reabilitação social
desses pacientes psicóticos, sem desconsiderar as mudanças profundas e
paradigmáticas que ocorrem ao longo dos tempos, como refere Osório (2013).
A “Mudança do Padrão Determinista” para o modelo do “Paradigma
Sistêmico-Relacional” motiva uma reflexão que pode ser um fio condutor para as
nossas reflexões teóricas a partir de uma vivência prática. Pode ser uma experiência
a ser socializada em saúde mental, sem a pretensão de impô-la como modelo
dogmático.
Construímos uma particularização da universal prática de ensino e
aprendizagem, que sempre será uma aposta, sem garantias de resultados ou tempo
de duração. No entanto, construímos uma certeza de que esta foi uma maravilhosa
oportunidade de estarmos sendo autênticos e éticos em nossa função social de
educadores
em
saúde,
abertos
para
vivenciar
aperfeiçoarmos e com coragem para socializá-las.
novas
experiências,
nos
114
Considero indispensável lembrar as ideias de Louzã (1999), para quem os
doentes mentais e seus familiares têm direito à qualidade de vida, à cidadania e à
dignidade moral, espiritual, social e econômica, conforme valores humanitários
universais, enunciados em declarações internacionais de direito, constituições
nacionais e estaduais e demais leis e dispositivos legais, priorizando para tal fim a
defesa do direito ao tratamento intra e extra-hospitalar, a recuperação de saúde e a
reintegração social dos doentes mentais.
O grupo mostra-se competente para refletir sobre os aspectos objetivos e
subjetivos de seus pacientes, especialmente sobre a cognição, elemento
indispensável para que ocorra o aprendizado. Esta capacidade cognitiva lhe permite
conhecer: sua doença com suas repercussões, suas emoções-sentimentos e sua
maneira de agir (sua história). Estes conhecimentos refletidos no grupo permitem
uma vivência mais adequada destes aspectos. A apropriação dessas vivências
torna-se uma experiência (aprendizado).
Concluí que a terapia de grupo pode ser usada formalmente no processo de
educação dos pacientes psicóticos e seus familiares, visando à sua inclusão social.
Os pacientes sentem-se com importantes vínculos no CAPS II e em suas
famílias, mas fora desses meios percebo que há muito a fazer para uma real
inclusão social, o que possivelmente implica trabalhar educativamente o estigma que
acompanha a doença mental.
Acredito que este desafio possa ser mais bem abordado de forma
interdisciplinar.
Considero, que se trata de uma particularização da universal prática de
ensino e aprendizagem, o que sempre será uma aposta para uma problematização
possível em saúde mental.
Considero de suma importância de que esta prática possa servir de reflexão
nas instituições envolvidas: o Poder Público Municipal, por meio da Secretária
Municipal de Saúde, e a UNIJUI, por seu Mestrado em Educação nas Ciências,
possibilitando que essa prática possa ser apropriada como experiência na área de
Saúde Mental. O processo contínuo de troca entre as referidas instituições pode
produzir alternativas para que as Ciências possam cumprir a sua função social em
seu meio.
115
- Reflexão sobre a formação acadêmica
•
Ainda é grande a defasagem da formação acadêmica de graduação em
relação às competências demandadas para uma atuação profissional
condizente com os princípios do SUS e da Reforma Psiquiátrica. Tal
defasagem se mostra presente em todos os cursos que fazem interface
no trabalho em saúde mental: medicina, psiquiatria, psicologia,
enfermagem, serviço social, terapia ocupacional, fisioterapia etc.
Infelizmente,
é
preciso
admitir
que
pouco
flexível
na
conservadora
e
necessárias,
tem
grande
a
universidade,
incorporação
responsabilidade
na
das
em
geral
mudanças
produção
dessa
defasagem (Passos, 2010).
- Reflexão Final
Identifiquei-me com o pensamento de Luis Carlos Osório
[...] Sumariamente, essa é a essência da mutação no pensamento científico
que deu origem ao que vamos referir como paradigma sistêmico-relacional. A práxis
interdisciplinar é a resultante desse paradigma que postula que só com a interação
das disciplinas criaremos um contexto capaz de levar o conhecimento científico a
transcender
o
plano
bidimensional,
linear,
em
que
operou
até
agora.
Metaforicamente poderíamos dizer que é como acrescentar uma terceira dimensão
ao conhecimento, que nos permite visualizar os fenômenos, quer da natureza física,
quer da natureza humana, em uma perspectiva mais próxima da realidade com que
se nos apresentam (Osório, 2013, p.9).
“Parafraseando Cecília Meireles:” Tudo isso é aprender. “E aprender é
sempre adquirir uma força para outras vitórias, na sucessão interminável da vida”.
116
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119
ANEXOS
120
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Prezado (a) Senhor (a)
Estamos desenvolvendo uma pesquisa cujo título é “PROCESSO DE
RESSOCIALIZAÇÃO
DE
PACIENTES
PSICÓTICOS:
UMA
PRÁTICA
DE
EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO EM SAÚDE MENTAL”. Este trabalho é fruto de
estudos de pós-graduação stricto sensu (Mestrado) em Educação nas Ciências na
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e tem como
objetivo geral compreender e avaliar o atual momento na ressocialização dos
pacientes psicóticos em tratamento no CAPS II de Ijuí, operacionalizados através de
um grupo terapêutico em atividade. E como objetivos específicos:
- analisar o processo de ensino aprendizagem nestas diferentes fases de
constituição do indivíduo social, por meio de diferentes intervenções
multidisciplinares;
- descrever as etapas vivenciadas pelos pacientes em seu processo de
individuação: apropriação de seu corpo, de suas emoções e de sua
história, através de seu registro gráfico e de imagens;
- demonstrar a relação entre individuação e a constituição do indivíduo
social, baseados nos aportes teóricos escolhidos, por meio de registros de
suas atividades no grupo, bem como o registro de sua própria história, na
sua visão;
- compreender a visão dos familiares e dos profissionais envolvidos sobre o
atual momento desta prática de ressocialização.
A metodologia utilizada para a realização da pesquisa restringe-se aos
pacientes psicóticos atendidos pela equipe multidisciplinar do CAPSII Ijuí (RS). Os
dados serão obtidos por meio de um questionário semi-estruturado, acompanhado
do termo de consentimento livre e informado aos participantes do grupo de estudo. E
também por meio de análises de representações gráficas ou imagens obtidas
durante as atividades desenvolvidas com os pacientes pelo grupo terapêutico. Os
familiares e os profissionais que atuam junto ao grupo terapêutico serão
entrevistados, através de questionário semi-estruturado e perguntas em aberto,
sobre o atual momento de ressocialização dos pacientes psicóticos.
121
Esta pesquisa será feita através de um questionário semi-estruturado e
análises de representações gráficas ou imagens desenvolvidas pelos pacientes e
cujos dados, posteriormente, serão tabulados e analisados. Os instrumentos de
coleta: o questionário semi-estruturado e as análises de representações gráficas ou
imagens desenvolvidas pelos pacientes ficarão sob nossa responsabilidade por um
período de cinco anos e serão utilizadas apenas para fins científicos vinculados ao
presente projeto de pesquisa, após serão deletados e/ou incinerados.
Nós pesquisadores garantimos que as informações obtidas serão utilizadas
apenas para fins de pesquisa podendo você ter acesso as suas informações e
realizar qualquer modificação no seu conteúdo, se julgar necessário.
Seu nome e o material que indique sua participação não serão divulgados.
Você não será identificada (o) em qualquer publicação tais como a dissertação de
Mestrado e ou artigos científicos que possam resultar deste estudo.
Você tem liberdade para recusar-se a participar da pesquisa, ou desistir dela
a
qualquer
momento,
podendo
solicitar
que
suas
informações
sejam
desconsideradas no estudo, sem constrangimento. Mesmo concordando em
participar da pesquisa poderá recusar-se a responder as perguntas ou a quaisquer
outros procedimentos. Como sua participação é voluntária e gratuita, está garantido
que você não terá qualquer tipo de despesa ou compensação financeira durante o
desenvolvimento da pesquisa.
Eu, ANTONIO CARLOS GONÇALVES DO AMARAL, bem como PAULO
RUDI SCHNEIDER assumimos a responsabilidade na condução da pesquisa e
garantimos que suas informações somente serão utilizadas para esta pesquisa,
podendo os resultados vir a ser publicados.
Caso ainda haja dúvidas você poderá pedir esclarecimentos a qualquer um
de nós, nos endereços e telefones abaixo:
Rua 13 de maio, 337 Bairro Centro – Fone: (55) 3332-8171; e-mail:
[email protected] ou ao Comitê de Ética em Pesquisa da UNIJUI - Rua do
Comércio, 3.000 - Prédio da Biblioteca - Caixa Postal 560 - Bairro Universitário Ijuí/RS CEP 98700-000. Fone/fax (55) 3332-0301; e-mail: [email protected].
O presente documento é assinado em duas vias de igual teor, ficando uma
com o sujeito da pesquisa e outra arquivada com o pesquisador responsável.
122
Eu ,_____ NOME DO ENTREVISTADO _______ CPF _______________,
ciente das informações recebidas concordo em participar da pesquisa, autorizando a
utilização das informações por mim concedidas e/ou os resultados alcançados.
____________________________________________
(Assinatura do entrevistado)
Ijuí, ___ de _______________ de 2013.
_____________________________________________
Assinado por:
Antonio Carlos Gonçalves do Amaral
(pesquisador principal)
CPF 32305478020
123
APÊNDICE B – Questionário Semi-Estruturado para Coleta de Dados
Referentes à Evolução dos Pacientes
Projeto de Pesquisa Vinculado ao Programa de Pós-graduação em
Educação nas Ciências, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul (UNIJUÍ), sob a orientação do Profº Dr. Paulo Rudi Schneider.
PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO DE PACIENTES PSICÓTICOS:
UMA PRÁTICA DE EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO EM SAÚDE MENTAL
Questionário Semi-estruturado sobre o atual momento de evolução no
processo de ressocialização dos pacientes participantes nos grupos terapêuticos do
CAPS II de Ijuí (RS).
Você concorda em participar da entrevista sobre seu tratamento:
SIM: _______
NÃO: _______
Em caso positivo você assinará o TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO de acordo com a Resolução CNS196/96.
O referido processo de pesquisa foi cadastrado junto ao MINISTÉRIO DA
SAÚDE – Plataforma Brasil.
Em 05 de setembro de 2012 foi autorizado pela Secretária de Saúde do
município de Ijuí Sra. Alexandra Freias Lentz e pela coordenadora do CAPS II de Ijuí
Sra. Jussara Bohrer Garay.
Espera-se que esta pesquisa possa contribuir com o trabalho em saúde
mental na rede pública de Ijuí, os referidos resultados serão disponibilizados junto à
Secretaria de Saúde do município, bem como à coordenação do CAPS II de Ijuí;
preservando sempre a privacidade dos pacientes, seus familiares e dos profissionais
envolvidos em seus tratamentos.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Nome completo: _____________________________________________________
Sexo: ______________________________________________________________
Data de Nascimento (dia/mês/ano): ______________________________________
Local de Nascimento (cidade): __________________________________________
124
Nome do Pai: ________________________________________________________
Nome da Mãe: _______________________________________________________
Escolaridade (até que série estudou): _____________________________________
Profissão: __________________________________________________________
Em caso de não estar trabalhando recebe algum benefício: ___________________
Em caso positivo, que tipo: _____________________________________________
Qual sua renda atual: _________________________________________________
Estado civil: _________________________________________________________
Atualmente você mora com quem: _______________________________________
Você está em tratamento no CAPS II desde que data: ________________________
Você está em tratamento no grupo desde que data: __________________________
Qual o familiar/amigo que tem acompanhado o seu tratamento: ________________
Escreva o nome completo do mesmo: ____________________________________
ORIENTAÇÕES
As perguntas de 1 a 8 deverão ser respondidas duas vezes. Sendo uma
objetiva (acima) onde se deve assinalar a resposta que mais lhe parece adequada
no momento atual de seu tratamento e outra discursiva (abaixo) onde haverá um
espaço para que descreva com suas palavras sua evolução após o ingresso no
grupo. Na pergunta de número 9 você poderá manifestar a sua opinião sobre algo
que achar interessante comentar a respeito do seu tratamento no CAPS.
1. É capaz de identificar se uma pessoa está com algum tipo de sofrimento psíquico
(doença mental)?
( ) tem dificuldade de analisar as emoções dos outros
( ) raramente
( ) normalmente sim
( ) sim, com facilidade
De que forma o grupo influenciou seu entendimento de que uma pessoa possa estar
em sofrimento psíquico (doença mental)?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
125
2. Você é capaz de identificar o seu próprio sofrimento psíquico (doença mental)?
( ) tem dificuldade de analisar as suas emoções
( ) raramente
( ) normalmente sim
( ) sim, com facilidade
De que forma o grupo influenciou seu entendimento de que você possa estar em
sofrimento psíquico (doença mental)?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3. Você se sente afetado pelo que as outras pessoas pensam de você frequentar o
grupo terapêutico do CAPS (preconceito)?
( ) sim
( ) às vezes
( ) normalmente não
( ) não
Como você encarava o preconceito antes do tratamento?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4. Quando você está em casa:
( ) gosta de estar sozinho e sem interagir com os familiares
( ) prefere ficar só, mas tem um bom relacionamento com a família
( ) gostaria de ter um relacionamento mais íntimo com a família
( ) tem um relacionamento íntimo satisfatório com os familiares
Descreva sua relação com os familiares antes do tratamento.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
126
5. Se lhe acontecesse algo importante ou interessante, você contaria isso a alguém?
( ) não conta o que lhe acontece a ninguém
( ) raramente conta o que lhe acontece a alguém
( ) as vezes conta a alguém
( ) sempre conta a alguém
Descreva sua relação com os amigos antes do tratamento.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
6. Quando tem vontade de realizar alguma atividade recreativa em grupo:
( ) sempre espera ser convidado
( ) apesar de estar com vontade, normalmente não convida
( ) tem receio de convidar, mas geralmente convida
( ) convida outras pessoas
Descreva a influência do grupo na sua convivência/comunicação com as pessoas.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
7. Quanto do seu tempo dedica a trabalho/ estudos/ atividades domésticas?
( ) praticamente nenhum
( ) menos da metade
( ) metade do tempo ou mais
( ) procura sempre estar ocupado com alguma atividade
Após o ingresso no grupo, houve alguma mudança no tempo gasto com atividades
educativas/profissionais/domésticas?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
127
8. Quantas das seguintes atividades você realizou no último mês:
Ler jornal, fazer compras, ler um livro/revista, comer fora de casa, participar de uma
reunião pública, assistir a um jogo, passear, usar transporte público, pagar uma
conta ou ligar para alguém.
( ) nenhuma
( ) 3 a 4 atividades
( ) 6 a 8 atividades
( ) mais de 8
Após o ingresso no grupo, houve alguma mudança no tempo gasto com as
atividades acima.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
9. Você gostaria de fazer algum comentário pertinente sobre a evolução do seu
tratamento no grupo terapêutico do CAPS.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
128
APÊNDICE C – Questionário Semi-Estruturado para Coleta de Dados
Referentes à Evolução dos Pacientes – Aplicado aos Familiares
Projeto de Pesquisa Vinculado ao Programa de Pós-graduação em
Educação nas Ciências, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul (UNIJUÍ), sob a orientação do Profº Dr. Paulo Rudi Schneider.
PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO DE PACIENTES PSICÓTICOS:
UMA PRÁTICA DE EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO EM SAÚDE MENTAL
Questionário Semi-estruturado sobre o atual momento de evolução no
processo de ressocialização dos pacientes participantes nos grupos terapêuticos do
CAPS II de Ijuí (RS).
Você concorda em participar da entrevista sobre o tratamento de seu
familiar/paciente:
SIM: _______
NÃO: _______
Em caso positivo você assinará o TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO de acordo com a Resolução CNS196/96.
O referido processo de pesquisa foi cadastrado junto ao MINISTÉRIO DA
SAÚDE – Plataforma Brasil.
Em 05 de setembro de 2012 foi autorizado pela Secretária de Saúde do
município de Ijuí Sra. Alexandra Freias Lentz e pela coordenadora do CAPS II de Ijuí
Sra. Jussara Bohrer Garay.
Espera-se que esta pesquisa possa contribuir com o trabalho em saúde
mental na rede pública de Ijuí, os referidos resultados serão disponibilizados junto à
Secretaria de Saúde do município, bem como à coordenação do CAPS II de Ijuí;
preservando sempre a privacidade dos pacientes, seus familiares e dos profissionais
envolvidos em seus tratamentos.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO CUIDADOR/FAMILIAR
Nome completo: _____________________________________________________
Sexo: ______________________________________________________________
Data de Nascimento (dia/mês/ano): ______________________________________
129
Local de Nascimento (cidade): __________________________________________
Nome do Pai: ________________________________________________________
Nome da Mãe: _______________________________________________________
Escolaridade (até que série estudou): _____________________________________
Profissão: __________________________________________________________
Em caso de não estar trabalhando recebe algum benefício: ___________________
Em caso positivo, que tipo: _____________________________________________
Qual sua renda atual: _________________________________________________
Estado civil: _________________________________________________________
Atualmente você mora com quem: _______________________________________
Seu familiar/paciente está em tratamento no CAPS II desde que data: ___________
Seu familiar/paciente está em tratamento no grupo desde que data: _____________
Qual o grau de parentesco com o familiar/paciente que você tem acompanhado em
seu tratamento no CAPS II (Grupo Terapêutico): ____________________________
Escreva o nome completo do mesmo: ____________________________________
ORIENTAÇÕES
As perguntas de 1 a 8 deverão ser respondidas duas vezes. Sendo uma
objetiva (acima) onde se deve assinalar a resposta que mais lhe parece adequada
no momento atual do tratamento de seu familiar/paciente e outra discursiva (abaixo)
onde haverá um espaço para que descreva com suas palavras a evolução após o
ingresso no grupo de seu familiar/paciente. Na pergunta de número 9 você poderá
manifestar a sua opinião sobre algo que achar interessante comentar a respeito do
tratamento de seu familiar/paciente no CAPS II.
1. É capaz de identificar se uma pessoa está com algum tipo de sofrimento psíquico
(doença mental)?
( ) tem dificuldade de analisar as emoções dos outros
( ) raramente
( ) normalmente sim
( ) sim, com facilidade
130
De que forma o grupo influenciou seu entendimento de que uma pessoa possa estar
em sofrimento psíquico (doença mental)?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2. Você é capaz de identificar quando seu familiar/paciente está em sofrimento
psíquico (doença mental)?
( ) tem dificuldade de analisar as suas emoções
( ) raramente
( ) normalmente sim
( ) sim, com facilidade
De que forma o grupo influenciou seu entendimento de que seu familiar/paciente
possa estar em sofrimento psíquico (doença mental)?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3. Você se sente afetado pelo que as outras pessoas pensam de você frequentar o
grupo terapêutico do CAPS –reunião dos familiares - (preconceito)?
( ) sim
( ) às vezes
( ) normalmente não
( ) não
Como você encarava o preconceito antes de participar da reunião dos familiares no
grupo terapêutico?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4. Quando seu familiar/paciente está em casa:
( ) gosta de estar sozinho e sem interagir com os familiares
( ) prefere ficar só, mas tem um bom relacionamento com a família
( ) gostaria de ter um relacionamento mais íntimo com a família
( ) tem um relacionamento íntimo satisfatório com os familiares
131
Descreva sua relação com o familiar/paciente antes do tratamento no grupo
terapêutico:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
5. Se acontecesse algo importante ou interessante ao seu famíliar/paciente ele
contaria isso a alguém?
( ) não conta o que lhe acontece a ninguém
( ) raramente conta o que lhe acontece a alguém
( ) as vezes conta a alguém
( ) sempre conta a alguém
Descreva a relação de seu familiar/paciente com os amigos antes do tratamento no
grupo terapêutico:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
6. Quando seu familiar/paciente tem vontade de realizar alguma atividade recreativa
em grupo:
( ) sempre espera ser convidado
( ) apesar de estar com vontade, normalmente não convida
( ) tem receio de convidar, mas geralmente convida
( ) convida outras pessoas
Descreva a influência do grupo na convivência/comunicação de seu familiar/paciente
com as pessoas.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
7. Quanto de tempo seu paciente/familiar dedica a trabalho/ estudos/ atividades
domésticas?
( ) praticamente nenhum
( ) menos da metade
132
( ) metade do tempo ou mais
( ) procura sempre estar ocupado com alguma atividade
Após o ingresso no grupo terapêutico de seu familiar/paciente, houve alguma
mudança no tempo gasto com atividades educativas/profissionais/domésticas?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
8. Quantas das seguintes atividades seu familiar/paciente realizou no último mês:
Ler jornal, fazer compras, ler um livro/revista, comer fora de casa, participar de uma
reunião pública, assistir a um jogo, passear, usar transporte público, pagar uma
conta ou ligar para alguém.
( ) nenhuma
( ) 3 a 4 atividades
( ) 6 a 8 atividades
( ) mais de 8
Após o ingresso no grupo, houve alguma mudança no tempo gasto de seu
familiar/paciente com as atividades acima.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
9. Você gostaria de fazer algum comentário pertinente sobre a evolução do
tratamento de seu familiar/paciente após o ingresso no grupo terapêutico do CAPS.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
133
APÊNDICE D – Questões Abertas sobre a Atuação dos Profissionais no
Processo de Ressocialização de Pacientes Psicóticos
Projeto de Pesquisa Vinculado ao Programa de Pós-graduação em
Educação nas Ciências, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul (UNIJUÍ), sob a orientação do Profº Dr. Paulo Rudi Schneider.
PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO DE PACIENTES PSICÓTICOS:
UMA PRÁTICA DE EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO EM SAÚDE MENTAL
Questões abertas sobre a atuação dos profissionais no processo de
ressocialização de pacientes psicóticos participantes nos grupos terapêuticos do
CAPS II de Ijuí (RS).
Você concorda em participar da entrevista:
SIM: _______ NÃO: _______
Em caso positivo você assinará o TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO de acordo com a Resolução CNS196/96.
O referido processo de pesquisa foi cadastrado junto ao MINISTÉRIO DA
SAÚDE – Plataforma Brasil.
Em 05 de setembro de 2012 foi autorizado pela Secretária de Saúde do
município de Ijuí Sra. Alexandra Freias Lentz e pela coordenadora do CAPS II de Ijuí
Sra. Jussara Bohrer Garay.
Espera-se que esta pesquisa possa contribuir com o trabalho em saúde
mental na rede pública de Ijuí, os referidos resultados serão disponibilizados junto à
Secretaria de Saúde do município, bem como à coordenação do CAPS II de Ijuí;
preservando sempre a privacidade dos pacientes, seus familiares e dos profissionais
envolvidos em seus tratamentos.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Nome completo: _____________________________________________________
Sexo: ______________________________________________________________
Data de Nascimento (dia/mês/ano): ______________________________________
Formação: __________________________________________________________
134
Área de atuação: _____________________________________________________
Possui alguma formação em saúde mental: ( ) sim ( ) não
Em caso positivo, que tipo: _____________________________________________
Período que está atuando em saúde mental: _______________________________
ORIENTAÇÕES
Este questionário é composto por 5 (cinco) perguntas em aberto, referentes
a sua participação junto ao grupo de pacientes e junto ao grupo de familiares do
CAPS II de Ijuí. As respostas devem ser claras e objetivas, refletindo sua percepção
sobre a influência que sua atuação e o grupo de profissionais exercem sobre o
paciente e familiar, permitindo a individuação/ressocialização.
1. De que forma sua área de atuação pode contribuir para um grupo terapêutico de
ressocialização?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2. Nesse sentido, quais atividades foram e podem ser desenvolvidas no grupo?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3. De que forma essas técnicas auxiliam no processo de individuação/socialização?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
135
4. Como você tem percebido a evolução dos participantes do grupo após o
desenvolvimento dessas atividades?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
5. Como você tem percebido a evolução dos participantes do grupo de modo geral
(pacientes/ familiares/ profissionais)?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
136
137
138
139
140
141
142
143
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