oferta e demanda

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A L E I D A OF E R T A E D A P RO C U R A
Gerson LIMA1
O mercado de cada produto ou serviço e, portanto, todos os mercados vistos
isoladamente ou em conjunto, funcionam sob a “Lei da Oferta e da Procura”, ou “Lei da
Oferta e Demanda”. Esta Lei é considerada como um dos princípios básicos, aliás quase
um sinônimo, da teoria econômica.
Durante algum tempo pretendeu-se eleger o mercado como um mecanismo que
teria o poder de garantir a justiça econômica, no sentido de que, se o governo não
interferisse, as forças de oferta e demanda levariam o mercado de cada produto ou
serviço a se auto-regular no sentido de garantir emprego para todos e, ao mesmo tempo,
que o salário e o lucro seriam “justos”. Porém, caso o mundo real se afastasse deste
modelo, a teoria afirmava que o governo deveria intervir para que voltassem a funcionar
as forças de oferta e demanda, assim assegurando o retorno da auto-justiça do mercado.
A perfeição dos mercados e das pessoas levaria a oferta ao nível do emprego máximo que
a economia pode oferecer. É só se e quando o mercado deixasse de ser perfeito, por
acidente ou por erro dos trabalhadores ou empresários, é que a política econômica
poderia ser usada para aumentar a produção e o emprego.
A idéia moderna é a de que a teoria de oferta e demanda dispensa a hipótese ad
hoc da perfeição do mundo e que, portanto, o mercado não é auto-regulador no sentido
da justiça ou do pleno emprego. A Lei da Oferta e Demanda assegura que o preço e a
produção e, por conseqüência, todas as demais variáveis endógenas do sistema
econômico, terão seus valores definidos pela interação entre ofertantes e demandantes e
pelos níveis das variáveis exógenas, por exemplo as compras do governo e os impostos
sobre a renda do consumidor e sobre o produto vendido, ou seja, pelas variáveis típicas
de política econômica. A política econômica pode deslocar as curvas de oferta e de
demanda e, assim, aumentar ou diminuir a produção e o ritmo de atividade da economia.
O método básico da análise econômica pode ser resumido na proposição
originalmente feita por Alfred Marshall em 1860 “a teoria geral do equilíbrio entre oferta e
demanda é uma Idéia Fundamental”. Há então dois grupos de agentes, os consumidores
e os produtores, que se relacionam mutuamente de forma tal que, dentro de certas
condições ambientais concretas, espera-se que um certo preço faça com que a
quantidade demandada seja igual à quantidade produzida. O sistema terá pois que conter
ao menos três variáveis básicas: a quantidade comprada, a quantidade produzida e o
preço. Para que este sistema funcione é necessário que a competição entre os produtores
e entre os compradores seja “livre”, o que corresponde a uma certa composição
indefinida entre concorrência acirrada e cooperação amigável das empresas entre si e dos
consumidores entre eles.
1
Doutor em Teoria Econômica pela Universidade de Paris e Professor do Curso de Ciências
Econômicas da PUCPR - Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Na sua forma mais simples, o modelo de oferta-e-demanda é composto de três
equações simultâneas, pois são três as variáveis a serem explicadas. O analista tem que
estar certo de que tem tantas equações quantas são as variáveis do problema, nem mais
nem menos. Uma destas equações é a curva de demanda, que traduz uma relação
negativa entre a quantidade consumida e o preço. A segunda relação é a curva de oferta,
que é uma relação positiva entre a quantidade produzida e o preço de venda do produto.
A terceira relação é a condição de equilíbrio, dada pela igualdade entre a quantidade
consumida e a quantidade produzida. Porém, considerando que o equilíbrio é inatingível
no mundo real, esta condição de equilíbrio é, na verdade, apenas uma construção teórica,
uma espécie de experiência de laboratório.
I. A DEMANDA
Os termos demanda e procura representam um dos conceitos mais importantes
e de uso mais freqüente na ciência econômica, sendo também utilizado, com significado
diferente, no campo do Direito. Além disso, demanda e procura são palavras tão
consagradas no uso cotidiano que às vezes elas são aplicadas, em textos introdutórios de
teoria econômica, com rigor científico menor que o desejável. Em economia, demandar ou
procurar é o mesmo que buscar, é o mesmo que solicitar, por exemplo quando alguém
pede a outro alguém que lhe dê algum objeto material como um copo de água, ou ainda
algo imaterial como uma aula de economia. Em princípio, as pessoas demandam porque,
por alguma razão fisiológica ou psicológica, estão interessadas no benefício que podem
obter, direta ou indiretamente, com a posse ou o uso daquilo que está sendo demandado.
De modo geral, não é obrigatório que, para ter o direito de demandar e de ser atendida
em sua demanda, a pessoa proponha qualquer coisa em troca daquilo que ela pede.
Esta questão passa para o universo da ciência econômica apenas quando aquele
que demanda propicia um certo pagamento, normalmente na forma de dinheiro, em troca
daquilo que recebeu, que pode ser um bem material (“produto”) ou imaterial (“serviço”).
Surge então o preço, que é a razão entre o quanto foi dado em dinheiro e a quantidade
levada em troca. Em economia, para demandar é preciso ter renda disponível para trocar
(gastar), renda esta que não aumenta pela livre e expontânea vontade do demandante.
Quando, por um motivo qualquer, acontece do preço aumentar e a renda não, tem-se
observado que a quantidade que o demandante leva é menor. Assim, como o preço não é
constante,
define-se demanda como uma relação entre duas grandezas:
o preço e a quantidade de um produto ou serviço
ou ainda de um conjunto de produtos e serviços. Além disso, esta relação tem o sinal
negativo pois, não tendo havido aumento da renda, a um preço maior o consumidor só
pode comprar uma quantidade menor.
Quem demanda produtos e serviços é o ser humano, cuja principal razão para esta
atitude está no seu conjunto de “necessidades”. As necessidades humanas, sejam elas
fisiológicas
ou
psicológicas,
reais
ou
imaginárias,
naturais
ou
induzidas,
foram
classificadas por Maslow em cinco categorias que seguem a ordem hierárquica mostrada
2
na pirâmide abaixo. A primeira preocupação do homem é a de atender às suas
necessidades em nível fisiológico, o que ele faz demandando bens de alimentação,
bebidas, vestuário, etc. Nesta etapa, os produtos e serviços demandados em geral são
consumidos diretamente, ou seja, a finalidade da demanda é a de consumir os bens em si
mesmos. A necessidade que é atendida por um produto típico da fase fisiológica
geralmente implica na sua destruição mais ou menos rápida.
A maioria das pessoas já ultrapassou esta fase inicial, mas há regiões e camadas
da população de certos países que, mesmo na era moderna, não têm renda suficiente
para satisfazer sequer estas necessidades fisiológicas, situando-se abaixo da linha de
pobreza. Neste caso, o futuro destes estratos sociais fica comprometido, pois é limitada a
possibilidade de investimento com recursos próprios, por exemplo em educação. É difícil
até mesmo pensar em política econômica autônoma numa situação como esta.
HIERARQUIA DAS NECESSIDADES HUMANAS
AUTO
REALIZAÇÃO
STATUS
PARTICIPAÇÃO
SOCIAL
SEGURANÇA ECONÔMICA
NECESSIDADES FISIOLÓGICAS
Superada esta fase, no segundo estágio o homem busca assegurar-se de que
poderá atender às suas necessidades fisiológicas no amanhã. Ele busca a segurança
econômica através, por exemplo, de um contrato de trabalho que lhe propicie um
horizonte de renda disponível para si e para sua família; busca manter-se em boa saúde
para poder trabalhar, demandando assistência médica e produtos farmacêuticos; busca
abrigar-se de modo adequado, demandando uma habitação, etc. Estes dois primeiros
degraus da pirâmide das necessidades humanas constituem a “etapa materialista” de
cada indivíduo e, por extensão, do país como um todo. Um país que tenha garantido a
segurança econômica à sua população é um país que pode investir recursos próprios,
promovendo o crescimento sua produção de forma a assegurar o pleno emprego de seus
habitantes. Trata-se de um país que pode desenvolver e implantar uma política
econômica autônoma em relação ao resto do mundo.
Seguindo a ordem, o indivíduo que ultrapassa a fase da segurança econômica
passa a ter um desejo de participação social, passa a se interessar pelo que acontece na
sociedade, chegando assim ao terceiro degrau da pirâmide. Os bens demandados podem
ser uma roupa de melhor qualidade para se ter uma boa apresentação, os serviços de um
bar onde as pessoas se encontram, o título de um clube nas vizinhanças, etc. Em
seguida, a pessoa torna-se mais egoísta, mais individual, mais interessada em si mesma
3
e em sobressair-se na sociedade. Este é o degrau do status, no qual o indivíduo busca ser
estimado e insinua que deve ser diferenciado do “cidadão comum”.
Para tanto, ele demanda praticamente os mesmos bens de sempre, mas agora
exigindo que o produto ou o serviço que adquire tenha uma marca que seja aceita pelo
resto da sociedade como sendo sinônimo de maior qualidade. Assim, não basta comer, há
que ser no melhor restaurante da cidade; não basta beber água, tem que ser uma água
mineral francesa; não basta morar, tem que ser numa mansão; não basta comprar um
carro, há que ser um Mercedes; não basta viajar, tem que ser para Paris; etc. Por fim,
atinge-se a fase da auto-realização, na qual o indivíduo deixa para trás a preocupação em
diferenciar-se na sociedade e demanda bens que em geral podem ser considerados como
sofisticados mas não necessariamente são caros, como um curso de sânscrito, uma
excursão pelo Tibete, um quebra-cabeças de cinco mil peças, um planador, etc.
A partir do momento em que atinge o degrau hierárquico do desejo de participação
social, a pessoa assume um materialismo instrumental, uma fase na qual os produtos e
serviços são demandados não como um fim em si mesmos, ou seja, os produtos e
serviços são demandados também pelos benefícios imaginários indiretos. Por extensão, a
sociedade que ultrapassa o nível do materialismo chega à sua “etapa pós-materialista”.
Nesta etapa, podem ser citados como bens típicos, por exemplo, os eletrônicos modernos
destinados ao entretenimento: vídeo cassete, CD player, fotografia digital, câmaras de
vídeo, videogames, e ainda os computadores, o forno de microondas, os celulares, etc. O
país que consegue atingir esta etapa pode dedicar parte do seu esforço de investimento
em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, novas tecnologias, novos materiais,
etc, distanciando-se cada vez mais, em termos de qualidade de vida, produtividade e
competitividade, daqueles países que seguem uma política econômica de especialização
em produtos da etapa materialista e na importação de tecnologia.
A demanda resulta do comportamento humano, individual e coletivo, que
apresenta algumas características universais e permanentes como a hierarquia das
necessidades. Mas, ele não é imutável e evolui ao longo do tempo, de forma que a
demanda está sempre associada a um determinado espaço geográfico e a um certo
período de tempo. Por exemplo, quando se fala em demanda de batatas, é necessário
que se faça uma referência implícita ou explícita à região envolvida, que pode ser o
sudoeste do Paraná, o estado do Maine ou a Alemanha. A referência temporal também é
importante, porque com o passar do tempo a demanda de alguns produtos se altera,
podendo até mesmo praticamente desaparecer como no caso das máquinas de escrever,
das adagas para haraquiri e das polainas. Contribuem para isto os produtos novos,
criados para satisfazer:
a) necessidades antigas, porém com uma qualidade superior e sem apresentar os
efeitos colaterais negativos do produto substituído, ou
b) necessidades novas, resultantes do progressivo desenvolvimento da sociedade
na hierarquia das necessidades humanas. Os produtos e serviços novos, aqueles que
eliminam problemas ou atendem à evolução do homem, podem mudar o comportamento
das pessoas e influenciar a demanda de todos os bens que lhes são de alguma forma
relacionados. Se bem que cada vez mais freqüentes, é de se esperar que tais mudanças
aconteçam num prazo relativamente longo.
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A curto prazo, pode-se observar que praticamente todas as necessidades humanas
renovam-se de um modo constante. Salvo casos excepcionais, ou específicos como as
cirurgias, as necessidades humanas não são satisfeitas de uma vez por todas, de forma a
deixarem de existir, em especial quando se trata da demanda de toda uma região
geográfica. Por isso, uma das características essenciais da demanda é a de que ela
corresponde a um fluxo por unidade de tempo: a quantidade é medida em quilos por dia,
hectolitros por semana, bilhões por mês, unidades por ano, etc. Exceto raras situações,
não se demanda um estoque de alguma coisa, no sentido de que, uma vez comprado este
estoque o indivíduo deixa de se interessar pelo produto.
No caso de produtos duráveis como uma geladeira, uma televisão ou uma casa, o
que se demanda são os serviços prestados por estes estoques: gelar a cerveja, ver uma
partida de futebol ou abrigar-se e proteger a família e os bens. O fato de alguém ter
comprado um destes produtos não faz com que ele deixe de ser demandante destes
serviços, os quais poderão ser atendidos com um novo produto, seja porque o velho já
não satisfaz, seja porque o novo atende melhor às necessidades. É verdade que uma
família que compra um bem durável levará muito tempo para adquirir um outro para
substitui-lo. Entretanto, para a economia interessa o mercado como um todo onde, todo
dia, algumas famílias estão comprando produtos duráveis novos pela primeira vez ou
repondo os antigos que já não funcionam a contento.
A demanda refere-se sempre a um fluxo e não a um estoque. As pessoas
compram para usar e não apenas para guardar. Não há lógica em se demandar um
estoque, no sentido de se deixar o produto guardado em algum canto, sem serventia. É
claro que, muitas vezes, é interessante manter um certo estoque de algum produto,
durável ou não durável, por uma conveniência do consumidor. Uma pessoa pode, por
exemplo, ter em casa um certo estoque de leite, apenas para evitar o incômodo de sair
para comprar leite todos os dias. Contudo, isto não significa que esta pessoa esteja
interessada no estoque em si mesmo, ela não está guardando leite que nunca será
consumido.
Na prática, este estoque será reduzido todos os dias, renovado de tempos em
tempos, e a pessoa continuará demandando e consumindo leite a longo prazo. O estoque
de leite que assim acontece é uma certa quantidade que varia de acordo com a diferença
entre o quanto foi comprado e o quanto foi consumido. A pessoa não compra para manter
um certo estoque médio, ela compra para consumir; a sua motivação para comprar não é
estocar, mas sim a satisfação, derivada do consumo do leite, de uma necessidade
humana sua ou de sua família. Por estas razões, a noção de demanda está associada ao
conceito de fluxo, de modo que a quantidade demandada normalmente é medida em
termos de unidades por período de tempo.
É pois o comportamento humano que explica a demanda, mas a quantidade que o
consumidor pode efetivamente comprar depende de sua renda. Dado que em economia
tudo tem um custo e, portanto, um preço, o grau de satisfação das necessidades
humanas do consumidor depende de sua renda. Desta forma, a demanda de um bem ou
de um conjunto de bens é uma relação entre o seu preço e a sua quantidade, esperandose que, salvo curiosidades sem valor teórico, esta relação tenha o sinal negativo. De fato,
em condições normais o demandante não consegue aumentar sua renda à medida em
que o preço do bem aumenta. Por outro lado, quando há uma queda no preço,
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comprando a mesma quantidade o consumidor gastará menos, de sorte que sobrará
alguma renda, haverá um “ganho” de renda. Parte desta renda extra será gasta
comprando mais deste mesmo bem, reforçando desta forma o sinal negativo. Tem-se
assim um conjunto de diferentes pares (preço x quantidade) de modo que, ligando-se
estes pares tem-se uma linha negativamente inclinada: a curva de demanda.
Em sendo uma relação, a demanda pode ser lida de duas maneiras. Todavia, em
condições normais, é o vendedor que deve anunciar qual é o preço que ele quer pelo
produto que ele está tentando vender. Esta é a situação mais freqüente, quando então o
preço do produto é conhecido, cabendo aos consumidores decidir qual a quantidade que
eles estão dispostos a comprar. “Demanda” é diferente de “quantidade demandada”; a
representação matemática correta da demanda é uma função, em geral com a forma de
uma reta. O painel (a) do Gráfico 1 apresenta uma curva de demanda típica de um certo
produto ou serviço, cujo preço é P e a quantidade demandada é D. A partir do ponto A,
se o preço do produto aumentar (certamente porque há menos produto para vender) o
consumidor só poderá comprar menos. Neste caso, o consumidor caminha no sentido
indicado pela flecha, indo para a esquerda de A. Vice versa, se o preço for reduzido
(certamente porque os vendedores têm mais para vender), o consumidor poderá comprar
mais do produto, caminhando assim para a direita do ponto A, como a outra flecha
indica.
GRÁFICO 1: A CURVA DE DEMANDA
P
P
A
D1
DEMANDA
D
D
(a)
D2
(b)
A demanda, isto é, a relação entre o preço e a quantidade demandada, não é
estática. Se a renda dos consumidores aumentar, ou se surgirem novos consumidores
com renda disponível para comprar, eles poderão comprar uma quantidade maior. Ou
então, alguns dos consumidores estarão dispostos a pagar um preço maior para
assegurar que os vendedores entregarão o produto primeiro para eles e depois, o que
sobrar, para os outros. De qualquer forma, ou aumenta o preço ou a quantidade, sendo
que, em geral, aumenta um pouco dos dois. Há assim uma mudança da relação (preço x
quantidade), que passa a ter valores maiores seguindo uma proporção do aumento da
renda dos consumidores. A demanda muda então de uma posição para outra. Este
movimento é representado por um deslocamento da curva de demanda no plano P x D
(preço versus quantidade). O painel (b) do Gráfico 1 mostra um crescimento, uma
expansão da demanda, representado por um deslocamento da curva de demanda, que
passa da posição D1 para a posição D2.
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Este deslocamento pode ter sido provocado, por exemplo, por um aumento da
renda de todos os consumidores ou de apenas uma parte deles. Na prática, é quase
impossível que aumente ou diminua a renda de todos os consumidores de um certo
produto, simultaneamente; o que acontece é uma variação na renda de alguns hoje, de
outros amanhã, de outros ainda na semana seguinte, e assim por diante. Muito embora
ocasionalmente possa ser importante a informação sobre o que pode estar ocorrendo com
a renda de certos indivíduos, ou de certos grupos dentro do conjunto de todos os
consumidores, na maioria das vezes o que importa mesmo é o que está acontecendo no
universo dos consumidores, ou seja, o comportamento do mercado consumidor.
A renda do consumidor, e portanto a do mercado como um todo, não depende de
sua própria decisão, e nem tampouco os vendedores podem decidir alguma coisa a este
respeito; ela é, portanto, uma variável exógena. Quando se fala do mercado de
refrigerantes, ninguém que nele trabalha e atua tem condição de influenciar a renda do
comprador, ou seja, a capacidade de compra do mercado. Esta renda é determinada em
outra instância que em nada depende do mercado de refrigerantes; em relação a este a
renda é exogenamente definida. Mas ela é, evidentemente, muito importante para este
mercado, pois a capacidade de compra limita a quantidade que pode ser vendida a um
certo preço. Em termos matemáticos, a renda determina a posição, ou a “altura” da curva
de demanda. Na ilustração acima foi a elevação da renda que fez a curva de demanda
mudar de altura, indo da posição D1 para a posição D2. É assim que a variável exógena
renda influi na quantidade que o demandante compra - deslocando toda a escala da
demanda para uma nova posição. Dada uma certa posição da curva de demanda, o
consumidor decidirá quanto comprar a um certo preço.
Em contrapartida, o preço e a quantidade são variáveis endógenas porque o
valor de cada uma delas será determinado pelo comportamento do mercado e só será
conhecido depois que se souber o valor da renda do consumidor. Aliás, a renda é apenas
uma das variáveis exógenas; tanto na teoria quanto na prática há outras variáveis que,
como a renda, influenciam na posição da curva demanda e, por este caminho, no preço e
na quantidade demandada. Na prática, a lista das variáveis exógenas que são
importantes para um certo mercado depende da natureza do produto ou serviço em
questão. No exemplo dos refrigerantes, a estação do ano é relevante para motivar o
consumidor, pois a necessidade de consumir bebidas é maior no verão do que no inverno.
Teoricamente, o número de variáveis exógenas é infinito, mas há cinco que devem ser
mencionadas num estudo geral da demanda:
1) O governo. A política econômica influi na posição da curva de demanda de um
produto de vários modos. Uma breve listagem deve incluir pelo menos três pontos: a)
o imposto sobre a renda determina qual é a renda que o consumidor tem disponível
para gastar com todos os produtos e serviços que ele demanda; b) o governo gasta
comprando produtos e serviços para cumprir suas funções sociais. Pelo seu volume de
compras, sua decisão quanto ao gasto fiscal na compra de maior ou menor
quantidade de um certo produto pode influenciar decisivamente a posição da curva de
demanda deste produto; c) a taxa de câmbio é um fator de conversão da renda do
exterior para a moeda do país, de forma que a queda do preço do dólar causa uma
redução da renda do importador. Assim, quando o governo consegue vender dólar
barato há um deslocamento para a esquerda da curva de demanda de todos os
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produtos e serviços que podem ser exportados e, portanto, reduz-se a produção
nacional.
2) A concorrência. Um produto, ou um serviço concorrente, é aquele que o
demandante pode usar em substituição daquele que atualmente ele consome. Esta
substituição será tanto mais intensa quanto maior for o esforço de venda do
concorrente, esforço este que em geral se transforma num preço menor para o
consumidor. Podendo atender às suas necessidades humanas pagando um preço
menor, mais satisfeito ficará o demandante. Portanto, quanto menor o preço da
concorrência, menor será a demanda do produto em questão. A concorrência, através
da redução do preço do produto que ela vende, desloca a curva de demanda para
trás, para a esquerda, no sentido da posição D2 para a D1. Esta redução de preço
pode ser direta ou indireta, através de algum tipo de promoção que concede uma
espécie de prêmio a quem comprar o produto ou serviço. É claro que às vezes o preço
do bem substituto aumenta, mas esta situação deve ser um acidente e não uma
atitude deliberada de concorrência. No exemplo dos refrigerantes, uma promoção de
vendas de algum produto concorrente, como os sucos naturais ou a água mineral,
retrai a demanda, ou seja, desloca toda a curva de demanda de refrigerantes para a
esquerda.
3) O marketing. É reconhecida a capacidade da propaganda, ou de qualquer outra
forma de promoção, de convencer o potencial consumidor das vantagens do produto
(ou serviço) promovido, ou simplesmente para lembrá-lo da sua existência, antes que
ele seja tentado a experimentar o produto da concorrência. Contudo, a promoção tem
limites, e seu custo não pode ser maior que o lucro extra que ela propicia. Assim,
uma vez estabelecidos os padrões de esforço promocional de uma empresa e da sua
concorrência, para a maioria dos produtos relevantes em economia a margem de
atuação da propaganda restringe-se a campanhas localizadas no espaço e no tempo,
poucas vezes influenciando o comportamento de longo prazo do consumidor.
4) Os complementos. Há produtos que são consumidos em conjunto, como caneta
e papel, café e açúcar, automóvel e gasolina, etc. Tem-se que, se o preço de um
deles sobe, é como se subisse o preço do conjunto, de sorte que a quantidade
demandada do conjunto deve se reduzir. Assim, a altura da curva de demanda de um
bem depende também do preço de um bem que lhe seja complementar. Na vida
prática, são raros os exemplos de produtos complementares em que o preço de um
influencia o consumo do outro de modo importante, Contudo, há produtores que, num
esforço de marketing, buscam criar estes tipo de dependência para seus produtos.
Por exemplo, a Microsoft vincula seus programas entre si, de modo a forçar o cliente
a usar o seu pacote de softwares como um todo.
5) Os hábitos. Cada região do mundo tem seus particulares hábitos de consumo,
em especial no tocante à alimentação. Estes são explicados por tradições que se
perdem no tempo e, de fato, podem condicionar a escolha de quais produtos serão
demandados numa certa região para satisfazer as mesmas e universais necessidades
humanas. Por isso, os hábitos também influenciam em parte a posição da curva de
demanda regional de alguns produtos. Contudo, estes hábitos são bastante estáveis,
pois as pessoas tendem a resistir a mudanças em seus costumes, inclusive os
alimentares. Em outros termos, os hábitos de fato ajudam a estabelecer a altura
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original da curva de demanda mas, no geral, não apresentam variações que
causariam deslocamentos freqüentes da demanda.
Estas são variáveis que, por influenciarem a demanda, podem ser chamadas de
variáveis exógenas “típicas da demanda”. Juntamente com a renda do consumidor, as
duas primeiras, a concorrência e a política econômica do governo, são mais influentes que
as demais. Assim, será o conjunto de valores destas variáveis exógenas que ditará a
posição da curva de demanda, digamos a D1 acima. Para que a demanda se desloque, até
digamos D2, é suficiente que haja uma variação em uma das variáveis exógenas.
Por outro lado, se houver uma variação em pelo menos uma destas variáveis
exógenas, a curva de demanda será necessariamente deslocada, a menos de exemplos
forçados de compensação entre variações. Portanto, para se traçar a curva de demanda
D1 no gráfico acima, assumiu-se implicitamente um conjunto de valores destas variáveis
exógenas. A curva de demanda ficará em D1, ou seja, não sairá da posição D1, se a renda
dos compradores, as decisões do governo, os preços da concorrência, as campanhas de
marketing, os preços dos bens complementares e os hábitos dos consumidores forem
constantes. Ou seja, para que não haja deslocamento da demanda é necessário que as
variáveis exógenas não variem.
Visto de outro ângulo, para que a curva demanda seja deslocada é necessário e
suficiente que haja uma variação em uma das variáveis exógenas. A demanda não se
desloca porque os vendedores querem ou porque as pessoas assim o desejam. O
deslocamento de demanda, ou seja, a posição da demanda, depende de fatores exógenos
ao mercado. Para se construir a curva de demanda numa certa posição, adota-se a
condição “tudo o mais constante”, também chamada de ceteris paribus, que significa
que todas as variáveis exógenas têm um certo valor fixo. Mais ainda, para se analisar o
efeito de uma certa variável exógena, permite-se que só esta varie e adota-se a cláusula
ceteris paribus para todas as outras variáveis exógenas. Esta cláusula é teórica, ela nunca
ocorre no mundo real e só serve para determinar a posição de uma curva de demanda e
para isolar o efeito de uma particular variável exógena. Na verdade, não é de se esperar
que alguém, ou algum governo, possa determinar o valor de todas as variáveis exógenas
em conjunto e, portanto, determinar a posição da curva de demanda de um produto
qualquer.
Em resumo, é o ser humano que demanda produtos e serviços, e a razão de
existência da demanda é porque há necessidades humanas que precisam ser atendidas
para que o homem e a mulher possam sobreviver e evoluir. Como tudo tem preço, é
necessário ter capacidade financeira para demandar, de sorte que a quantidade
demandada por alguém não é constante nem infinita, mas sim limitada pela sua renda.
Assim, define-se demanda como uma relação entre o preço e a quantidade
demandada, relação esta que pode ser representada por uma curva de demanda com
inclinação negativa porque, dada uma certa renda, a quantidade demandada diminui à
medida em que o preço aumenta. Quando se fala em demanda, sempre se está referindo
a um certo produto ou serviço, ou conjunto de produtos e serviços e, devido aos
costumes locais, a uma certa região geográfica.
A introdução de novos produtos, e não a simples maquiagem de produtos já
existentes, pode modificar hábitos e preferências, mudando assim a forma da curva de
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demanda ao longo do tempo. Por isso, a demanda é sempre associada a uma certa
época histórica da região. A motivação para demandar é um assunto afeto à área da
psicologia, tendo como base um comportamento que, mesmo quando coletivamente
condicionado, é individual. Contudo, para a análise econômica, é mais importante a curva
de demanda de todo o universo dos consumidores do produto ou serviço, ou seja, a
demanda de mercado.
Principalmente quando visto em conjunto, pode-se imaginar que, na prática, é
impossível que estejam satisfeitas e esgotadas as necessidades humanas. De fato, as
necessidades se repetem com freqüência, de forma que a demanda se torna um fluxo.
As pessoas estão sempre demandando uma certa quantidade de um produto ou serviço
por semana, por mês, por ano, etc, regularmente. Em outras palavras, as pessoas não
demandam um certo estoque de produto que, uma vez adquirido, elimina a necessidade
delas com relação à necessidade que o produto atende.
O preço e a quantidade demandada são as variáveis endógenas do mercado,
cujos valores dependerão não só da decisão do consumidor, mas também dos níveis das
variáveis exógenas, que são determinados por fatores que estão completamente fora
de controle dos agentes do mercado, como por exemplo as medidas do governo com
relação a impostos, subsídios, taxa de câmbio, etc. Para a análise econômica, é
importante observar que as variáveis exógenas não têm porque serem constantes. É de
se esperar que no mundo real elas variem constantemente, e por causas que a teoria
econômica não tem como explicar, controlar ou prever.
O que importa é conhecer o efeito de deslocamento de cada uma das variáveis
exógenas, de modo a antecipar teoricamente o que pode acontecer com as variáveis
endógenas quando aquelas variarem. A condição ceteris paribus, uma ferramenta
indispensável em economia, é utilizada para simular o efeito deslocamento de uma
variável exógena, ou de um conjunto delas, enquanto supõe-se que as outras não
variam.
II. AS ELASTICIDADES
A análise econômica da demanda de um certo produto ou serviço, ou de um
conjunto de produtos ou serviços, consiste em obter informações estatísticas suficientes
para identificar os dois parâmetros básicos da curva de demanda, quais sejam, a sua
inclinação e a sua posição. Por um lado, dependendo das características do produto, o
comportamento das pessoas faz com que a curva de demanda seja mais inclinada (mais
próxima de uma linha vertical) ou menos inclinada (mais horizontal). Por outro lado, para
conhecer a demanda é necessário ter elementos para prever de quanto ela pode ser
deslocada, por exemplo, de D1 para D2 como no Gráfico 1 (b), em conseqüência de uma
variação em cada uma das variáveis exógenas.
As variáveis que deslocam a curva de demanda são estranhas ao consumidor
porque são exógenas, são impostas “de fora para dentro”. Com relação aos desejos e
necessidades dos consumidores, as variáveis exógenas são independentes, tendo
completa autonomia para variar. Os deslocamentos de curva de demanda são autônomos,
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eles acontecem de modo independente da vontade dos demandantes. As variáveis
exógenas agem no sentido de aumentar ou diminuir o interesse potencial do demandante,
ou a sua capacidade de compra de um determinado produto ou serviço para satisfazer
suas necessidades humanas.
Por outro lado, as variáveis exógenas não interferem na inclinação da curva de
demanda, pois muito raramente modificam a percepção que as pessoas têm quanto à
capacidade de um produto ou de um serviço satisfazerem suas necessidades. É claro que
uma estratégia eficiente de marketing pode convencer o consumidor, durante algum
tempo maior ou menor, de que o ventilador da marca Alfa é melhor do que o da marca
Beta, de que é melhor para você comprar ventiladores na loja Decima do que na loja
Debaixo.
Como a fábrica do ventilador Beta e o dono da loja Debaixo vão também fazer
promoções de vendas para concorrer e não serem expulsos do mercado, as ações de
marketing de uns e outros tendem a se compensar a longo prazo, de forma que os
consumidores continuam comprando sempre a mesma coisa em matéria de ventiladores.
Teoricamente, também é possível influenciar o comportamento do consumidor com
relação a um bem genérico e de relevância econômica situado na primeira faixa de
Maslow, como o leite por exemplo; contudo, são pouco freqüentes as situações práticas
em que a vantagem assim conseguida, em termos sociais ou privados, compensa o custo
incorrido.
Com exceção dos avanços da tecnologia, em geral as variáveis exógenas têm
pouca influência sobre o comportamento de longo prazo das pessoas, sobre a opinião que
elas têm a respeito de quanto um particular produto ou serviço pode satisfazer as suas
necessidades, enfim sobre a satisfação que elas derivam do consumo deste bem em
especial. É esta noção de satisfação que leva um demandante a escolher qual e quanto de
um produto ou serviço comprar, à medida em que o preço deste bem varia. O processo
de escolha manifesta-se num comportamento essencialmente psicológico que, apesar da
sua natureza complexa, apresenta uma notável regularidade estatística.
Na prática, verifica-se que as pessoas não têm o hábito de mudar suas decisões de
maneira imprevisível e aleatória: elas tendem a seguir um padrão estável de escolha.
Este comportamento das pessoas tem como resultado uma certa inclinação da curva de
demanda, para cada produto ou serviço, inclinação esta que em geral não muda à medida
em que as exógenas variam. Ou seja, a curva de demanda se desloca paralelamente
mas, exceto nos casos que a tecnologia permite criar produtos que alterem os hábitos das
pessoas, espera-se que a inclinação permaneça constante.
Todavia, para se traçar uma curva de demanda numa posição qualquer, é
necessário conhecer ou assumir um conjunto de valores das variáveis exógenas, dentre
estas a renda do consumidor. Dentro do rigor lógico da matemática, a relação entre a
quantidade demandada e o preço só se estabiliza quando se tem constante a renda, bem
assim como as demais variáveis exógenas. Ora, se a renda é constante, a quantidade
demandada e o preço variam em sentidos contrários, pois quando o preço aumenta a
quantidade que o consumidor demanda só pode ser menor. Conseqüentemente, a curva
de demanda tem inclinação sempre negativa, princípio este que vale para todos os
produtos e serviços.
11
O que diferencia as curvas de demanda dos milhões de produtos existentes é o
quanto uma é mais ou menos inclinada do que outra. Os dois principais fatores que
norteiam o comportamento do consumidor no processo de escolha de um particular bem
em relação a outros, determinando assim a inclinação da demanda, ou seja, o que
influencia a preferência por um certo produto ou do serviço, em comparação com todos
os outros bens conhecidos e disponíveis, são a) a essencialidade do bem demandado e b)
a possibilidade que o consumidor tem de substituí-lo.
Em primeiro lugar, a essencialidade está associada ao degrau da pirâmide das
necessidades humanas no qual está localizado o bem em questão. Em geral, produtos
situados na parte baixa da pirâmide são mais essenciais para o consumidor porque
satisfazem necessidades mais básicas da vida, satisfazem necessidades mais essenciais. É
claro que a noção do que é “essencial” é um assunto pessoal: um produto essencial para
uma pessoa pode ser supérfluo para outros. Contudo, para a comunidade como um todo,
observa-se que os produtos e serviços que atendem às necessidades mais básicas, como
por exemplo a alimentação e a moradia, são tidos como bens essenciais pela maioria das
pessoas.
O leite é um exemplo típico de produto essencial, mas há muitos deles, como o
transporte urbano, o pão, a gasolina, o óleo de soja, a margarina, o cimento, a energia
elétrica, os medicamentos, etc. Assim, se ocorrer uma alta no preço de um destes bens
essenciais porque, digamos, o governo criou um novo imposto, a queda na sua
quantidade demandada será pequena pois, já que o produto é essencial, é difícil cortar o
seu consumo. No caso dos bens essenciais, a curva de demanda tenderá a ficar mais
próxima da vertical, mostrando que grandes variações de preços estão associadas a
variações relativamente estreitas da quantidade demandada.
Na medida em que se sobe na pirâmide das necessidades passa-se a tratar de
produtos e serviços que, de um modo geral, podem ser considerados como supérfluos,
pois as pessoas concordam que podem “passar sem eles”, sempre é claro em comparação
com os bens essenciais. Visto de outro ângulo, se for obrigado a escolher um só produto,
o consumidor preferirá reter um produto essencial, ao invés de um não-essencial. Se o
consumidor tiver renda apenas para ou comprar uma entrada de cinema ou fazer uma
refeição, em condições normais a refeição será a escolhida. Em outros termos,
comparado com alimentar-se, é mais “fácil” para o consumidor decidir não ir ao cinema.
Em segundo lugar, a possibilidade de substituição de um bem por um outro
que possa trazer grau semelhante de satisfação também influi fortemente na preferência
de um consumidor. Suponha um produto que o demandante tem pouca chance de
substituir por outro, como por exemplo o cimento; neste caso, uma forte alta no preço de
venda provoca uma queda relativamente modesta na quantidade demandada, pela
simples razão de que é complicado trocar o cimento por outra coisa de modo a satisfazer
a necessidade de habitação do consumidor. Neste caso, a demanda aproxima-se de uma
linha vertical.
Por outro lado, se um produto tem muitos concorrentes que podem, aos olhos do
consumidor, igualmente satisfazer uma certa necessidade humana, este produto poderá
sofrer uma forte queda na sua quantidade demandada, no caso de uma alta qualquer de
seu preço. E a razão para isso é simples: o consumidor tem conhecimento da existência
12
de outros produtos que também o satisfazem, de sorte que, ao constatar uma alta no
preço no momento da compra ele tende a deixar de comprar, pois sabe que poderá
encontrar alternativas sem perder muito tempo na procura. Assim, para produtos e
serviços relativamente sofisticados ou supérfluos, pequenas alterações de preço estão
geralmente associadas a largas flutuações na quantidade demandada, de forma que o
gráfico da demanda aproxima-se da posição horizontal.
O que leva à existência de produtos substitutos é a concorrência entre as
empresas produtoras, as quais criam produtos e serviços diferenciados na tentativa de
aumentar as vendas. A possibilidade de substituição de produtos agrada ao consumidor,
que tem uma natural necessidade de diversificação. É difícil encontrar alguém que gosta,
eternamente, de consumir os mesmos produtos, da mesma marca, sem variação. Alguns
produtos são de difícil substituição, como o cimento, a energia elétrica, a insulina, etc.
Mas, na sua grande maioria, há muitos produtos que podem atender a uma mesma
necessidade do consumidor.
De modo geral, quanto menos essencial, ou seja, quanto mais supérfluo for o
produto ou o serviço, maior será a possibilidade de substituição, maior será a
concorrência entre os produtores. Na prática, observa-se que a essencialidade e a
dificuldade de substituição andam juntas. Normalmente os bens mais essenciais são de
difícil substituição e vice-versa: bens supérfluos em geral têm mais substitutos porque
atendem necessidades menos urgentes e mais sofisticadas das pessoas, necessidades
estas que, especialmente em nível de pós-materialismo, podem ser satisfeitas de muitas
maneiras alternativas.
Ilustrando, o Gráfico 2 ilustra estas duas situações limites da inclinação da curva
de demanda, podendo-se notar que, no caso de um bem supérfluo, variações
relativamente modestas nos preços dos bens podem ser suficientes para provocar
grandes oscilações nas respectivas quantidades demandadas, de modo que o gráfico da
curva de demanda torna-se mais próximo da horizontal. Um exemplo de alta sensibilidade
do consumidor ao preço do produto devida à possibilidade de substituição pode ser dado
pelo guaraná Brahma.
A curva de demanda de mercado deste produto
deve ser bastante próxima da
horizontal porque se trata de um refrigerante de uma certa marca que pode, aos olhos
dos consumidores, ser facilmente substituído por guaraná Antarctica, Kuat ou de outra
marca, ou por um outro refrigerante qualquer, ou por chá, ou suco natural, ou água, etc.
Além disso, também é fácil substituir este produto porque os pontos de venda de guaraná
Brahma são freqüentemente pontos de venda de quase todos os seus concorrentes, seja
ou não para consumo no local.
É o comportamento das pessoas, nos seus processos de escolha dos bens que
satisfazem suas necessidades, que determina a inclinação da curva de demanda, de
forma que cada produto tem uma inclinação diferente dos outros produtos. De fato, o que
a inclinação da curva de demanda mostra é a forma como os consumidores reagem
quando os preços dos produtos variam. As pessoas sempre reduzem o consumo de um
produto cujo preço aumentou, mas esta redução não é a mesma para todos os produtos.
No caso de um produto essencial e de baixa possibilidade de substituição, como por
exemplo a água na torneira de casa, é sempre difícil reduzir o consumo. Já quando o
13
produto é supérfluo e tem muitos substitutos, como por exemplo os filmes em tela
grande, em geral é fácil reduzir o consumo.
GRÁFICO 2: INCLINAÇÃO DA DEMANDA
P
BENS SUPÉRFLUOS OU COM
MUITOS SUBSTITUTOS
BENS ESSENCIAIS OU COM
POUCOS SUBSTITUTOS
D
Assim, se o preço da água aumenta, seu consumo deve se reduzir, mas “pouco”.
Do outro lado, se o preço do cinema sobe, o consumo cai “bastante”. Para medir o quanto
varia o consumo quando o preço do produto varia, e de uma forma que se possam
comparar variações de consumo de produtos diferentes entre si, os economistas criaram
o conceito de elasticidade. O papel da elasticidade é, portanto, o de indicar qual é a
flexibilidade ou rigidez da quantidade demandada em relação ao preço, ou seja, qual é a
variação de quantidade associada a uma certa variação do preço.
II.1. ELASTICIDADE PREÇO
A elasticidade é a medida da reação do consumidor com relação a aumentos ou
quedas do preços de um produto. Como esta reação é indicada pela inclinação da curva
de demanda e, por sua vez, a inclinação da demanda depende da essencialidade e da
possibilidade de substituição do produto, a elasticidade retrata as características do
produto ou do serviço em termos de essencialidade para o consumidor e em termos de
possibilidade de se substituir o bem em questão por outros bens que possam satisfazer
de modo igualmente aceitável as necessidades humanas do comprador. Assim, a
elasticidade acaba por ser uma informação condensada sobre a característica da própria
demanda, tanto em nível de mercado quanto da empresa individual. Assim, chamando-se
a elasticidade de ep, pode-se escrever que a variação percentual da quantidade
demandada %D será mais ou menos proporcional à variação percentual do preço %P,
dependendo de qual seja a elasticidade da demanda. Formalmente:
%D = ep . %P
Esta expressão indica que, se a demanda é elástica, ou seja, se a elasticidade ep é
maior do que um, a quantidade varia mais do que o preço, ou seja, a variação da
quantidade demandada é mais do que proporcional à variação do preço. Por outro lado,
se a demanda é inelástica, isto é, se a elasticidade é menor do que um, a variação de
quantidade é menor do que a do preço, isto é, a quantidade varia menos do que
proporcionalmente à variação do preço.
14
Se ep > 1, então a demanda é elástica.
Se ep < 1, então a demanda é inelástica.
A descrição, por mais precisa que seja, das características de um produto, não é
suficiente para se deduzir qual seja a elasticidade da sua demanda, mesmo porque o que
de fato a determina é o comportamento do consumidor. Para ser conhecida, a
elasticidade de um produto, que aliás pode variar de região para região e de tempos em
tempos, precisa ser estimada a partir de dados estatísticos. Na prática, a elasticidade é
calculada pela divisão da variação percentual da quantidade pela variação percentual do
preço, ceteris paribus as variáveis exógenas que deslocam a curva de demanda:
ep = %D / %P
A elasticidade está naturalmente associada à inclinação da curva de demanda, de
forma que, quanto mais próxima da linha horizontal estiver a curva de demanda, maior
será a elasticidade da demanda em relação ao preço. Quanto menor a inclinação, mais
horizontal é a curva de demanda e mais elástica é a demanda. Quanto maior a
inclinação, mais vertical é a curva de demanda e menor é a elasticidade da demanda em
relação ao preço. Quanto maior a inclinação, mais inelástica é a demanda. Portanto, da
mesma forma que a inclinação, a elasticidade está ligada a duas características básicas
que os consumidores percebem nos produtos e serviços: a essencialidade e a dificuldade
ou facilidade de se encontrar produtos substitutos.
bens essenciais ou com poucos substitutos  demanda inelástica
bens supérfluos ou com muitos substitutos  demanda elástica
De modo geral, tendem a ser inelásticos os bens essenciais, aqueles que têm
poucos substitutos e que estão associados aos primeiros degraus da pirâmide das
necessidades humanas. No sentido contrário, tendem a ter demanda elástica os bens
supérfluos, com muita concorrência, e que estão nos estágios superiores da pirâmide de
Maslow. O Gráfico 3 resume estas idéias.
Além destes dois principais fatores que condicionam a elasticidade da demanda,
pode-se ainda fazer uma referência à importância do produto ou serviço para o
orçamento do consumidor. É de se esperar que, se o bem tem pouco peso nos gastos do
consumidor, como os fósforos e o sal por exemplos, a sua demanda seja inelástica. A
razão para isso é que os aumentos de preços deste tipo de produto abalam tão pouco o
orçamento do demandante que, então, quase nada muda nas quantidades consumidas.
15
GRÁFICO 3: INCLINAÇÃO E ELASTICIDADE DA DEMANDA
P
MAIS ELÁSTICA
MAIS INELÁSTICA
D
A elasticidade é uma noção importante, por três razões principais. Em primeiro
lugar, ela facilita perceber a implicação do aumento do preço de um produto no
orçamento de uma família. Quando a demanda é inelástica, um aumento de preço está
associado a uma queda menor na quantidade comprada. A redução da quantidade não
compensa o aumento de preço, de forma que o consumidor gasta mais dinheiro na
compra de um produto inelástico. Por exemplo, uma elevação do preço do transporte
coletivo significa que o consumidor-passageiro será obrigado a gastar mais em
transporte, reduzindo assim sua disponibilidade de dinheiro para poupar ou para gastar
em outros itens de seu orçamento.
Por isso, é natural que haja um interesse dos vendedores de produtos de demanda
inelástica no sentido de constituir um cartel, isto é, fazer um acordo pelo qual todas as
empresas concorrentes reduzam a produção de modo a provocar uma escassez artificial e
elevar o preço de venda. O contrário acontece quando a demanda é elástica. Neste caso,
o interesse de cada vendedor é o de abaixar o preço de venda, pois assim o aumento de
vendas que se consegue é maior do que a perda no preço e, por conseqüência, o
faturamento e o lucro serão maiores.
Em segundo lugar, a elasticidade é crucial para o marketing, pois a estratégia
mercadológica da empresa tem obviamente que considerar o comportamento do
consumidor, e a elasticidade mostra um aspecto relevante deste comportamento. A
campanha de venda de um produto de demanda inelástica é completamente diferente do
planejamento de vendas de produtos de demanda elástica. Em terceiro lugar, as
conseqüências
econômicas
de
mudanças
nas
variáveis
exógenas
dependem
das
elasticidades das demandas de todos os produtos existentes. Por exemplo, quando há um
excesso de produção, quem vende produtos de demanda elástica precisa fazer uma
redução menor de preço do que aquele que vende produtos de demanda inelástica. Nos
países que ainda não atingiram o nível do materialismo, a demanda concentra-se em
produtos inelásticos, de sorte que, em decorrência de variações na produção, os preços lá
são mais instáveis. Nestes países, a inflação tem uma tendência a ser mais elevada do
que nos países industrializados que estão acima da linha de materialismo.
Esta é a versão mais freqüentemente citada e utilizada de elasticidade, a tal ponto
que “elasticidade da demanda” passou a ser sinônimo de “elasticidade-preço da
demanda”, deixando-se implícito que se refere à variação da quantidade em relação a
uma variação de uma variável específica: o preço. Trata-se, neste caso, de uma relação
16
especial entre duas variáveis que são endógenas: a quantidade e o preço. A variação da
quantidade é vista como conseqüência, que teria então como causa a variação do preço.
Contudo, por ser uma variável endógena, o preço não varia sem que para isso haja uma
explicação exógena, uma razão externa, uma causa alheia à vontade do consumidor.
Deve-se, pois, estender a noção de elasticidade para as causas exógenas.
II.2. ELASTICIDADE PREÇO CRUZADA
O conceito de elasticidade foi ampliado de forma a ser aplicado para qualquer
relação entre duas variáveis econômicas. A idéia é sempre a mesma, qual seja, a de
medir o efeito de uma variável sobre uma outra. No caso da demanda, pode-se definir a
elasticidade da quantidade demandada não só com relação ao preço do próprio produto,
mas também com relação a qualquer das variáveis exógenas que, por deslocar a
demanda, influenciam na quantidade que o consumidor está interessado em comprar.
Neste sentido, uma das elasticidades importantes na análise econômica é a cruzada. A
pergunta que busca responder neste caso é “qual a reação do consumidor do produto A,
carne bovina por exemplo, quando cai o preço de um produto concorrente, a carne de
frango, por exemplo”? A expressão matemática correspondente é a seguinte:
%D = epc . %Pc
onde epc é a elasticidade cruzada de um produto com relação ao seu concorrente, D é a
quantidade demandada deste produto, e Pc é o preço do concorrente. Em princípio, não
há informação alguma sobre qual seria o valor desta elasticidade para um par qualquer
de produtos. De modo geral, contudo, o que se pode esperar é que, quanto mais
semelhantes forem os produtos, aos olhos do consumidor, maior será esta elasticidade. A
elasticidade cruzada depende, dado um certo produto, de qual é o produto concorrente.
Na prática, a elasticidade cruzada é estimada a partir de informações estatísticas, sendo
calculada pela divisão da variação percentual da quantidade do produto sob análise pela
variação percentual do preço do concorrente, ceteris paribus a produção e as demais
variáveis exógenas que deslocam a curva de demanda:
epc = %D / %Pc
A elasticidade cruzada é importante na área de marketing de uma empresa, que
precisa conhecer o efeito das campanhas promocionais do concorrente sobre suas
próprias vendas para decidir qual atitude tomar. Se a elasticidade é baixa é porque a
concorrência não é tão forte e, neste caso, é provável que o melhor a fazer seja não fazer
nada, mesmo porque as campanhas costumam ser temporárias e não permanentes.
Contudo, em alguns setores industriais e no varejo dos produtos de consumo a
concorrência costuma ser intensa. Nestes casos, os concorrentes vigiam-se mutuamente
acompanhando de perto as promoções dos outros porque sabem que estas promoções
reduzem em muito as suas vendas.
II.3. ELASTICIDADE PREÇO INDIVIDUAL
Quando se fala em marketing, como no caso da elasticidade cruzada, quem está
no centro do problema é a empresa individual. Assim, o que de fato interessa analisar é a
elasticidade vista pela empresa, que não é a mesma coisa que a elasticidade da demanda
17
do mercado como um todo. Por exemplo, quando uma particular empresa individual i
decide promover a venda de um produto de sua linha e reduz o seu preço de venda,
diretamente ou através de bonificações, o resultado esperado em termos de vendas
dependerá da elasticidade da demanda deste produto, mas apenas naquela parte dirigida
a esta empresa. Chamando esta elasticidade da empresa individual de epi, pode-se
escrever formalmente:
%Di = epi . %Pi
O sucesso da promoção de uma particular empresa, medido pelo aumento
percentual de % nas vendas (Di), será dado pela intensidade da promoção, medida pelo
desconto de % no preço de venda Pi, multiplicada pela elasticidade da demanda epi do
produto desta particular empresa. Se a demanda do produto desta empresa for elástica,
as vendas crescerão mais do que proporcionalmente à redução feita no preço, desde que
as empresas concorrentes não façam promoção também.
Para cada uma das empresas existentes no mercado, o ponto chave de uma
promoção de vendas é, portanto, a elasticidade da demanda do seu produto, e não da
demanda de todo o mercado. Observou-se, no estudo deste problema, que a elasticidade
da demanda individual da empresa é inversamente proporcional à participação desta
empresa no mercado total, podendo-se escrever:
epi = ep / s
onde s é a participação da empresa no mercado deste produto, obtida pela divisão das
vendas da empresa pelo total das vendas de todas as empresas concorrentes. Isto
significa que, quanto menor a empresa, maior será a elasticidade de demanda do produto
que ela vende. Assim, mesmo no caso dos produtos com demanda inelástica, a
elasticidade da demanda vista por um particular vendedor pode ser elevada e, portanto,
maior o seu sucesso em atrair clientes baixando preços.
Por exemplo, no caso da gasolina, a demanda total de mercado é bastante
inelástica (ep é pequeno) já que a gasolina é produto essencial e difícil de ser substituída.
Entretanto, como a gasolina é vendida por muitos postos, cada consumidor tem muitos
postos para escolher onde abastecer o carro. Assim, cada posto de gasolina é um
pequeno fornecedor, não atingindo talvez 0,1% (ou um milésimo) do total, de forma que
a demanda de gasolina em cada posto é muito elástica (epi é grande). Por isso, cada
posto que reduz o preço de venda em 1%, enquanto os concorrentes nas redondezas não
conseguem ou não querem baixar seus preços, consegue aumentar suas vendas em
muito mais de 1%. Como o aumento de quantidade é maior do que a redução no preço, o
faturamento mensal aumenta. Supondo que o custo mensal não aumente, o lucro ao final
do mês é maior. Neste caso, a promoção de preços significa maiores lucros.
Aliás, a experiência indica que esta situação de baixa elasticidade total e elevada
elasticidade individual é a regra de mercado e não a exceção. Portanto, como regra geral
as empresas concorrem baixando seus preços de venda. A motivação para esse
comportamento não é social, não é apenas para fazer os clientes mais felizes, mas
principalmente para ganhar mais clientes e aumentar o lucro mensal.
18
A questão pode ser colocada na ordem inversa, com a empresa se perguntando
qual é o desconto % que ela precisa fazer no preço de venda Pi para aumentar sua
participação no mercado ou simplesmente livrar-se de um certo estoque excedente,
fazendo assim uma promoção tal que aumente as vendas em %Di (digamos 10%)
durante o tempo que for necessário. Neste caso, transpõe-se a expressão da elasticidade
acima para obter a resposta: o desconto necessário será dado pela divisão do aumento
percentual desejado nas vendas pela elasticidade do produto. A conta a fazer é:
%Pi = (%Di) / epi
Esta fórmula mostra que há uma relação inversa entre a elasticidade da demanda
da empresa e o desconto a se fazer. Quanto maior a elasticidade da demanda individual,
menor será o desconto necessário para que a empresa atinja seu objetivo de um certo
aumento das vendas. Quanto menor a participação da empresa no mercado, menor será
a promoção de preço necessária para conquistar novos clientes. Em outros termos, para
um mesmo desconto, por exemplo de 10%, a empresa menor consegue aumentar mais
as vendas do que a empresa grande.
II.4. ELASTICIDADE RENDA
Dentre as variáveis exógenas relevantes para a economia e para cada empresa em
particular, certamente a renda do consumidor ocupar um lugar de destaque. A pergunta
que se faz neste caso é “como o consumidor reage a um aumento de sua renda”? A
resposta segue o mesmo método anterior, podendo-se escrever a expressão:
%D = ey %Y
onde ey é a elasticidade renda e Y é a renda do consumidor. Sabe-se que, quando o
consumidor fica mais rico, as vendas de qualquer produto ou serviço aumentam. Mas, o
quanto aumentam as vendas depende da elasticidade renda. Quanto maior for a
elasticidade renda da demanda de um produto, maior será o aumento de vendas em
decorrência do aumento de renda do consumidor.
A relação entre o consumo e a renda não é direta, ou seja, o consumo não é uma
função simples da renda do consumidor, ceteris paribus o preço e outras exógenas pois,
quando varia a renda, o preço não pode ficar constante, ou seja, o preço não pode
logicamente atender à condição ceteris paribus. Ao variar a renda, que é uma variável
exógena, haverá um deslocamento da curva de demanda. O novo ponto de equilíbrio
estará então sobre a nova curva de demanda, isto é, o nível deste novo ponto de
equilíbrio dependerá também do que acontece com a produção.
De modo geral, a elasticidade renda da demanda de um produto depende de sua
posição na pirâmide da hierarquia das necessidades humanas e segue o mesmo padrão
da elasticidade preço. Pode-se repetir o quadro anterior, simplesmente adicionando que
agora se trata da elasticidade renda:
bens essenciais ou com poucos substitutos  baixa elasticidade renda
bens supérfluos ou com muitos substitutos  elasticidade renda elevada
19
Como sempre, a elasticidade renda de um produto ou de um conjunto de produtos
pode ser estimada a partir de informações estatísticas, sendo calculada pela divisão da
variação percentual da quantidade vendida do produto pela variação percentual da renda
dos consumidores, ceteris paribus a produção e as demais variáveis exógenas que
deslocam a curva de demanda:
ey = %D / %Y
A elasticidade renda, ou qualquer outra elasticidade, é medida, ex-post, como a
relação entre as variações de duas variáveis econômicas. Ou seja, ela não é uma
característica imutável de um produto, hábitos de consumo, região, época, etc. A
elasticidade é uma resultante de um processo, ela é sempre calculada depois que houve a
interação entre a oferta e a demanda do produto. Por exemplo, suponha que num certo
mês o consumidor teve um aumento de 10% no seu salário, sendo então observado que
ele consumiu mais 5% de gasolina. Isto não significa que sempre que a sua renda subir
10% ele consumirá mais 5% de gasolina. Isto só acontecerá se a condição ceteris paribus
puder ser atendida, ou seja, se ficarem constantes os preços dos automóveis, os salários
dos frentistas, o preço das oficinas de automóveis, etc. Contudo, não é realista a hipótese
de que nada mais varia quando a renda do consumidor muda de patamar.
A fórmula acima:
%D = ey %Y
serve também para mostrar o sucesso de vendas de uma empresa, ou de um setor da
economia, ou ainda de um país, quando o consumidor tem uma renda maior. Mas este
sucesso dependerá do ofertante continuar com a mesma política de vendas. Se, por
exemplo, o vendedor eliminar a sua tabela de descontos, o sucesso de vendas não
dependerá mais só da elasticidade renda. A mesma coisa acontece quando o aumento de
renda do consumidor é acompanhado de um aumento do imposto de renda cobrado pelo
governo, de forma que, na soma dos dois eventos, a renda chega a reduzir, e não
aumentar. Uma situação parecida pode acontecer, exemplificando, quando o consumidor
externo fica mais rico mas ao mesmo tempo a taxa de câmbio é valorizada. Neste caso o
consumidor pode ficar menos rico na moeda do país exportador, embora tenha
aumentado sua renda na moeda do seu país. Se o governo brasileiro valoriza o real
(deixa o dólar mais barato), o aumento da renda do importador, em dólares, pode acabar
sendo uma redução de renda, em reais.
Pode-se concluir por esta fórmula que o aumento de vendas de um produto,
quando cresce a renda dos consumidores em potencial, depende da natureza do produto.
De modo geral, neste caso crescerão mais as vendas dos produtos mais sofisticados do
que dos produtos essenciais. Ilustrando, na medida em que aumenta a renda dos
europeus eles tenderão a importar mais produtos japoneses, ou seja, tenderão a gastar
mais no Japão, cujos produtos são industrializados, do que do Brasil, cuja pauta de
exportações é predominantemente composta de produtos agropecuários e de matérias
primas.
20
III. A OFERTA
Em economia distinguem-se o “curto prazo”, o “longo prazo” e também o
“mercado diário”, que é o período no qual são realizadas as transações reais de compras
e vendas, inclusive as contratações de mão de obra e outros fatores de produção que
serão utilizados no próximo período. Considerando que no mercado diário o preço pode se
adaptar às condições vigentes mas a produção não, pois ela sempre leva um certo tempo
para ser obtida, o preço e a produção podem resultar de diferentes modelos de decisão,
parcialmente independentes entre si.
É a demanda que “puxa” o mercado. Primeiro é preciso que a demanda varie, para
que depois a empresa se ajuste ao novo tamanho do mercado. Se a demanda não se
altera, uma empresa não toma uma decisão de diminuir a produção porque isto
significaria dar espaço para os concorrentes no mercado e assim reduzir o seu lucro. O
mesmo aconteceria, isto é, o lucro cairia se, com a mesma demanda, uma ou várias
empresas decidissem aumentar a produção.
Como a demanda é uma relação negativa, para vender esta produção extra as
empresas teriam que reduzir o preço de venda sem que tivesse havido redução no custo
de produção. Mesmo custo e menos preço é igual a menos lucro e as empresas não agem
propositadamente de maneira a cortar seus lucros. Por isso, para que mude a produção é
necessário que a demanda mude antes.
Neste processo de ajustamento da oferta à demanda, as ferramentas das
empresas são as decisões de produção e a política de marketing. São as empresas que
buscam adaptar-se às limitações de renda, hábitos e preferências do consumidor. Os
ofertantes aceitam a demanda como uma realidade dada e buscam nesta realidade obter
o maior lucro possível, sem destruir o mercado. O modelo de comportamento da oferta é
então dividido em duas componentes, o processo de decidir sobre o preço de venda, que
cabe ao Departamento de Marketing,
e a tomada de decisão sobre a produção, que
compete ao Departamento de Produção.
III.1. A FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA
As empresas interagem com seus clientes no mercado diário propondo (e não
impondo) preços que não são preços de equilíbrio. O mercado só estaria em equilíbrio se
e quando todas as variáveis exógenas parassem de variar, parassem de deslocar as
curvas de demanda e de oferta. O preço de um produto não é determinado apenas pelo
seu custo de produção ou apenas pela força da demanda. Em particular, no mercado
diário, ou quanto mais curto o período considerado, os preços são determinados
principalmente pela relação entre a demanda e o estoque disponível para entrega. Os
custos de produção também fazem parte importante do processo de decisão dos
produtores a respeito dos preços, de acordo com o princípio de que a quantidade que
cada vendedor oferece à venda a um dado preço é determinada pela sua necessidade de
capital de giro para financiar parte do próximo ciclo de produção.
O mercado diário nunca ocorre uma única vez, ele é uma instituição permanente.
Portanto, a explicação do comportamento dos ofertantes no mercado diário deve ser
buscada no longo prazo. Os preços de venda, no curto prazo, seguem movimentos
21
rápidos e aparentemente caóticos, mas as causas verdadeiras destes movimentos são
aquelas se mantêm por longos períodos. Uma destas causas foi batizada por Marshall de
“receio de queimar o mercado”, um comportamento que impede que as empresas tenham
o costume de fazer concorrência predatória. Por exemplo, após uma queda da demanda o
ofertante não reduzirá o preço ao ponto de vender todo o seu estoque, seja porque ele
receia “queimar” sua própria chance de obter um preço melhor mais tarde, seja porque
cada produtor quer evitar incorrer no ressentimento de seus concorrentes, o que
aconteceria se ele vendesse a um preço que queima o mercado que é o mesmo para
todos.
Se, ao preço vigente no mercado diário, o produtor não vende toda a quantidade
disponível, então aumentam os estoques, de sorte que, no momento da próxima decisão,
terá um peso maior o aspecto de “livrar-se” do produto, mas sempre sem cortar o preço
em excesso. Desta forma, o princípio de não “queimar” o mercado está associado à noção
de estoques, e o estoque impõe uma pressão baixista sobre os preços. Para livrar-se dos
estoques, ou para evitar que eles subam demais, além de reduzir a produção em geral
será necessário fazer promoções de vendas, o que corresponde a baixar os preços.
Estas noções são equivalentes à proposição de que o ajustamento de mercado não
é instantâneo, implicando em que estoques existem e que o estoque é uma conseqüência
da decisão de não-vender ao preço vigente. Todavia, nenhuma empresa deseja ter
estoques de produtos invendáveis e busca fazer promoções para se livrar do eventual
estoque. Por isso, de modo geral os estoques elevados estão relacionados a baixos
preços.
Quando a demanda cresce os estoques se reduzem, e vice versa. Para uma
empresa em particular, o estoque diminui quando aumenta a demanda do seu produto,
seja porque o consumidor ficou mais rico, seja porque os concorrentes aumentaram os
preços de venda deles. O nível de estoque de uma empresa mede, portanto, a força, a
intensidade, o estado da demanda do seu produto, o que depende da renda do mercado e
do que a concorrência está fazendo.
Em suma, nem o custo nem a demanda, cujo efeito aparece no estoque, são
suficientes para explicar o preço, ambos são necessários. O preço de oferta, ou seja, o
preço P pedido pelo vendedor a cada período depende do custo de produção Z e do
estoque E existente no momento. A fórmula matemática desta função é:
preço de oferta:
Pt = f ( Zt, Et-1 )
Nesta equação, a relação entre o preço pedido e o custo de produção é positiva,
pois quando os custos sobem a empresa se vê obrigada a aumentar a sua tabela de
preços de venda. Por outro lado, a relação entre o preço pedido e os estoques é negativa,
pois quanto maior o estoque existente menos intensa é a demanda do produto da
empresa e, portanto, menor o preço que se pode pedir.
O preço e o custo de produção estão associados a um certo período de tempo t,
por exemplo um mês. O estoque, contudo, é aquele que existia no final do mês anterior
e, por isso, ele está associado ao tempo t-1. Para decidir qual o preço a pedir hoje a
empresa leva em conta o estoque que ela tem no momento, mas este estoque é o
resultado final do que a empresa fez no período anterior.
22
III.2. A DECISÃO DE PRODUÇÃO
A decisão sobre o quanto produzir complementa o comportamento da oferta. A
produção industrial ou agrícola é naturalmente complexa e em geral exige em certo
período de tempo para ser obtida. Apesar disto, todas as decisões sobre produção são
transformadas em realidade no mercado diário, através da compra e da contratação de
funcionários e fornecedores. A margem de lucro, tanto a esperada quanto a obtida no
mercado diário, é o principal argumento na decisão de produção: quanto maior o lucro
maior será o capital alocado no setor, aumentando a produção no curto prazo e a
capacidade instalada a longo prazo. Este relacionamento entre o lucro e a alocação de
capital e, portanto, a determinação do nível de produção, reflete a própria mobilidade do
capital, sendo esta uma noção de fundamental importância para a teoria econômica.
É possível que, durante um certo período de mercado diário, o preço seja tal que a
margem de lucro seja “insuficiente”. Entretanto, numa certa média de longo prazo, a
margem deve ser considerado no mínimo como “aceitável” pois, se o preço não for
suficiente para cobrir os custos totais do negócio, a longo prazo, a produção será reduzida
e algumas empresas provavelmente quebrarão. A margem de lucro é o retorno sobre o
capital total aplicado, e depende também do giro do capital. Pode-se simplificar a questão
e definir a margem de lucro R obtida no mercado diário como a diferença simples entre
preço de venda P e o custo de produção Z. A fórmula da margem de lucro ficaria então a
seguinte:
margem: Rt = ( Pt - Zt )
Adicionalmente, a produção depende também dos estoques, pois o ato de estocar
é percebido como conseqüência de uma queda na demanda do produto. Neste caso, cada
empresa, agindo individualmente ou segundo um acordo de cooperação com suas
concorrentes, reduz a produção com a finalidade de evitar a pressão sobre os preços que
seria exercida por uma estocagem excessiva. Em caso contrário, ou seja, se há uma
redução nos estoques, as empresas compreendem que a procura por seu produto
aumentou e cada uma delas faz planos de investimentos e de aumentos de produção,
todas tentando garantir para si próprias a maior parte possível do crescimento do
mercado.
Resumindo, o segundo componente do comportamento da oferta, a decisão de
produzir a quantidade Q, pode ser proposta como sendo uma função do lucro R realizado
no período passado e do estoque E então disponível. A correspondente fórmula
matemática geral é:
decisão de produção: Qt = h ( Rt-1, Et-1 )
onde a relação entre a produção e os lucros é positiva, enquanto que a relação da
produção com os estoques tem sinal negativo. O fluxo de produção está associado a um
certo período de tempo t, por exemplo em toneladas por mês. O estoque, contudo, é
aquele que existia no final do mês anterior e, por isso, ele está associado ao tempo t-1. A
produção é um fluxo que ocorre durante um certo período enquanto que o estoque é
contado num certo dia. Os tempos em que produção e estoque são anotados são
necessariamente diferentes. Assim, os tempos de uma e outra variável têm que ser
diferentes: t para a produção e t-1 para o estoque.
23
Em resumo, alterando suas decisões de preço e produção as empresas seguem um
processo de ajustamento da oferta à demanda, mas este processo não é instantâneo. A
produção sempre leva um certo tempo para ser obtida, depois de adquirida a matéria
prima e os outros insumos necessários. Por outro lado, na prática é quase impossível a
uma empresa produtora alcançar uma agilidade tal que dê para ajustar, diariamente, o
preço de venda à demanda. Mesmo assim, as empresas podem alterar seus preços com
maior flexibilidade do que conseguem ajustar a produção.
Em conseqüência, o preço que prevalece no mercado diário pode estar próximo do
que a empresa aspira, mas a produção é resultado de decisões passadas. O preço que a
empresa pratica num certo período não é aquele que prevalecerá quando mais tarde for
completado o ajustamento da produção à demanda. Isto significa que, no mercado diário,
não existe curva de oferta. Para se conceituar a curva de oferta de um produto é
necessário que se esteja numa situação de equilíbrio, isto é, numa situação em que tanto
o preço quanto a produção já se ajustaram à demanda. Por isso, a definição de oferta é
feita no próximo item, quando se trata de oferta e demanda juntas.
IV. A LEI DA OFERTA-E-DEMANDA
O comportamento dinâmico do modelo de decisão dos ofertantes pode ser assim
resumido: uma variação ocorrida numa variável exógena, como por exemplo a renda do
consumidor, leva a uma alteração na posição da curva de demanda, daí ao consumo e daí
aos estoques. Por sua vez, a variação havida nos estoques induz os produtores a mudar,
simultaneamente, o preço e a produção, cada um buscando o maior lucro que a
intensidade da concorrência e o grau de cooperação entre eles lhe permite obter. Baseado
nestes princípios pode-se formalizar um modelo de mercado com a seguinte estrutura
geral:
MODELO DE MERCADO
Demanda: Dt = g ( Pt, Ft )
preço de oferta: Pt = f ( Zt, Et- )
decisão de produção: Qt = h ( Rt-, Et- )
onde Rt = ( Pt - Zt ) é a margem de lucro, e
Et = Et-1 + Qt - Dt é o estoque.
O modelo tem três equações, uma definição e uma identidade de natureza
contábil, perfazendo cinco relações para explicar as cinco variáveis endógenas: a
quantidade demandada D, o preço de mercado P, a produção Q, o lucro R e o estoque E.
As variáveis exógenas são o fator F de deslocamento da demanda (que representa aui a
renda do consumidor, o preço de produto concorrente, o imposto de renda, etc.) e o fator
Z de deslocamento da oferta (por exemplo a tecnologia, o preço dos insumos, o ICMS, a
CPMF, etc).
24
Dada uma situação teórica de equilíbrio, após uma mudança nas variáveis
exógenas ocorrida no momento t o modelo levará aos valores de todas as variáveis
endógenas nos momentos t, t+1, t+2, etc. Se o choque exógeno fosse dado uma única
vez, então os sucessivos ajustes promovidos pelos produtores fariam com que as
variáveis endógenas seguissem uma trajetória amortecida em direção a uma nova
posição de equilíbrio. Contudo, considerando que no mundo real os choques exógenos são
numerosos e aleatoriamente distribuídos, é de se esperar em termos teóricos que esta
trajetória seja constantemente perturbada, de modo que o equilíbrio seria sempre
inalcançável. Por fim, na teoria da oferta e demanda não se assume a priori, e nem há a
expectativa, que as variáveis endógenas venham a assumir alguns valores notáveis. Por
exemplo, a teoria não afirma que todos que querem trabalhar conseguirão emprego. Pelo
contrário, a teoria afirma que oferta e demanda levarão ao equilíbrio da produção num
nível tal que não se pode garantir que haja emprego para todos aqueles que desejam
trabalhar.
Dado que os valores presentes são conseqüências de decisões passadas, neste
modelo geral os produtores levam em conta uma série dos valores anteriores do lucro
realizado e do estoque, o que é indicado pela estrutura indefinida representada pelo
conjunto [, , ]. As empresas decidem sobre preço e produção considerando toda uma
história passada de seus sucessos e fracassos, história esta que é contada pelos lucros
obtidos no passado e pelos anteriores erros de decisão que no passado levaram à
eventual formação de estoques no armazém ou no pátio.
Os produtores tomam suas decisões de alterar preço e produção quando o
mercado está fora do equilíbrio e as decisões levam a uma particular situação de
equilíbrio. Quando o mercado por acaso estivesse em equilíbrio não haveria porque tomar
estas decisões. Em termos teóricos, a condição necessária e suficiente para que haja
equilíbrio no mercado é que a quantidade produzida seja igual à quantidade consumida,
ou seja, sendo pouco ou sendo muito, tudo que é produzido é vendido. No mercado
prático do dia-a-dia, entretanto, produção e consumo nunca são iguais. Isto significa que
no mercado diário, período no qual as transações comerciais reais são realizadas, não há
equilíbrio entre oferta e demanda. Coerentemente, não há curva de oferta no mercado
diário. Faz-se assim uma distinção entre, por um lado, o mercado diário desequilibrado e,
por outro lado, a noção de equilíbrio de mercado pela igualdade entre a quantidade
ofertada e a quantidade demandada. A teoria afirma que, na prática, a oferta e a
demanda de um produto não estão equilibradas todo dia; o equilíbrio é apenas uma
construção teórica, indispensável para se analisar o que acontece no mercado numa
trajetória de longo prazo independente dos acidentes de percurso e desvios de curto
prazo.
O equilíbrio pode ser visto como uma construção teórica, feita a partir dos dados
da vida real. A dificuldade do mercado diário para atingir o equilíbrio deve-se ao
comportamento das variáveis exógenas, por exemplos o custo de produção, a renda do
consumidor e a política econômica praticada pelo governo, que variam continuamente,
sem dar tempo ao ofertante para ajustar a produção. O mercado estará sempre se
movendo em direção ao equilíbrio, mas ele só chegaria a esta situação se as variáveis
exógenas permanecessem constantes durante um certo intervalo mínimo de tempo. O
25
equilíbrio do mercado é uma abstração, um estado imaginário de negócios, uma
construção teórica.
A característica principal deste modelo é o comportamento da oferta, composto da
decisão sobre o preço de oferta e da decisão de produção, sendo estas decisões
aparentemente independentes entres si. Orientados pelo que ocorre com seus estoques,
os produtores procedem, independentemente da concorrência ou da falta de concorrência
entre eles, ao ajustamento da oferta à demanda. O comportamento da oferta a curto
prazo é tal que uma variação nos estoques induz variações simultâneas no preço e na
produção, e na mesma direção, posto que ambos os coeficientes respectivos têm o
mesmo sinal negativo. Este processo está representado no lado (a) do Gráfico 4, onde há
uma situação de equilíbrio indicada pelo ponto A. Se houver um deslocamento da curva
de demanda para a direita, os estoques serão reduzidos, assim indicando aos produtores
que eles devem aumentar a produção e preço de venda, “andando” então na direção da
seta da direita.
Se, pelo contrário, houver uma queda da demanda os estoques aumentarão,
obrigando as empresas a reduzirem preço e produção. Neste caso os produtores
“andarão” na direção contrária, indo para a esquerda como indica a outra flecha. São os
deslocamentos da demanda que fazem com que os produtores medem mais para a direita
ou mais para a esquerda, desenhando assim uma linha positivamente inclinada, definida
como curva de oferta. Por outro lado, a posição da curva de oferta, por exemplo aquela
identificada por Q1 no Gráfico 4, lado (b), depende do custo de produção. Se o custo
aumentar, por conta de um aumento do ICMS, por exemplo, a curva de oferta será
deslocada para a esquerda, na direção indicada pela seta, indo então para a posição Q2.
GRÁFICO 4: A CURVA DE OFERTA
P
P
Q
OFERTA
Q
A
Q
(a)
2
1
Q
(b)
A curva de oferta deve ser o resultado do comportamento dos produtores nas suas
decisões de preço e produção, o que significa que ela contém todos e apenas os níveis de
preço e produção considerados interessantes pelos produtores. Comparando, a curva de
demanda é uma relação entre preço e quantidade consumida que pode ser deslocada
paralelamente por algumas variáveis exógenas “típicas do consumidor” como a sua
renda, a aposentadoria recebida do INSS ou o imposto de renda. Da mesma forma, a
curva de oferta é uma relação positiva entre o preço P e quantidade produzida Q que
pode ser deslocada paralelamente por algumas variáveis exógenas “típicas do lado do
26
produtor” como o custo de produção e os impostos indiretos que incidem sobre as
empresas.
As empresas têm algum poder discricionário sobre o mercado, admitindo-se que,
na busca do melhor resultado em termos de retorno do capital aplicado, elas podem
influir nos preços variando a produção, e vice versa. Em qualquer caso, esta influência
está limitada pela posição da curva de demanda, ou da renda do consumidor, de forma
que o nível de equilíbrio teórico não resulta de uma imposição unilateral dos produtores o ponto de equilíbrio depende dos consumidores também.
A curva de oferta é uma construção teórica, a partir do modelo dinâmico do
mercado diário, que liga pontos imaginários de equilíbrio de preço e produção. Assim, o
modelo pode descrever tanto o comportamento de curto prazo, mais próximo à realidade
do dia-a-dia, quanto a estrutura de longo prazo, que é uma abstração teórica daquela
realidade. O custo de produção é a variável exógena que determina a posição da curva de
oferta, enquanto sua inclinação pode ser derivada de seus dois componentes: o preço de
oferta, que depende do estoque, e a decisão de produção, que depende do lucro e
também do estoque. Com isso, a inclinação da curva de oferta decorre da propensão a
investir de todos os produtores em conjunto e das reações das empresas individuais às
variações em seus estoques.
A inclinação da curva de oferta, que é uma noção de longo prazo, fica assim
composta de duas partes: a primeira reflete a decisão de produzir em relação ao lucro
obtido, lucro este que depende do preço de venda. Em outros termos, esta componente
traduz a propensão a investir no setor, ou a medida da mobilidade do capital em direção
a este setor, o que não deixa de ser também um resultado do comportamento
concorrencial de longo prazo entre empresas que estão instaladas e das que pretendem
entrar no mercado. Por outro lado, observando que o estoque individual de uma empresa
é uma conseqüência não só do nível da demanda de mercado mas também do
desempenho da sua concorrência, pode-se dizer que a segunda componente indica o
comportamento de competição de curto prazo. Esta parte da oferta combina a decisão de
ajustar a produção em resposta às variações dos estoques com a sensibilidade da
empresa aos estoques quando da decisão de propor um preço aos seus consumidores.
De um modo geral, a inclinação da curva de oferta é condicionada por alguns
aspectos físicos, como a perecibilidade do produto, a tecnologia de produção, a logística
de distribuição, a capacidade administrativa, a disponibilidade total de capital próprio, etc.
Além disso, esta inclinação depende do perfil pessoal do administrador, como por
exemplo seu conhecimento geral e do mercado específico, sua reação a expectativas, sua
aversão ao risco, sua agressividade nas vendas, sua disponibilidade de caixa e, muito
importante, sua atitude em relação à concorrência. Por sua vez, a concorrência está
sujeita não só a aspectos psicológicos, mas também a considerações objetivas como a
noção de que não faz sentido que uma só empresa carregue o estoque de todo o setor.
Combinando-se então oferta e demanda tem-se o mercado de um certo produto, que se
representa de modo mais claro por um gráfico, como este apresentado em seguida, o
qual se tornou tradicional.
O preço de mercado e a produção, determinados no ponto A do gráfico, terão seus
valores definidos por dois fenômenos de natureza diferente:
27
a) a interação entre ofertantes e demandantes, ou seja, o encontro entre as curvas de
oferta e demanda, cujas inclinações dependem de condições objetivas, psicológicas
e históricas do lado da oferta e das idiossincrasias dos consumidores;
b) os níveis das variáveis exógenas, que deslocam as curvas de oferta e de demanda,
deixando claro que há forças extra-econômicas que regem os valores das variáveis
endógenas econômicas e que, em princípio, nada justifica a expectativa de que
estas variáveis exógenas sempre assumam ou sejam de algum modo forçadas a
assumir valores tais que fiquem assegurados o pleno uso das máquinas, o emprego
para todos que precisam trabalhar e a justiça na distribuição da renda resultante da
produção feita por todos. Dentre as variáveis exógenas, certamente as mais
interessantes são aquelas associadas à política econômica, por exemplo os gastos
do governo e os impostos.
GRÁFICO 5: OFERTA E DEMANDA
P
Q
B
P0
A
D0
D1
Q0
Q
No Gráfico 5 ilustra-se também uma expansão da demanda, causada por exemplo
por um aumento da renda do consumidor, possivelmente porque houve um aumento dos
gastos do governo na compra destes produto, ou então uma correção da tabela do
imposto de renda. Em conseqüência, o ponto teórico de equilíbrio passou de A para B,
onde a produção é maior mas o preço também. Dado que a oferta é ascendente, não há
com aumentar a produção sem que os preços também aumentem.
Já no Gráfico 6 o que houve foi uma contração da oferta, causada por um aumento
dos custos de produção, internos ou externos à empresa. Isto ocorre, por exemplo, em
conseqüência de um aumento dos impostos indiretos, do tipo ICMS. Assim, o equilíbrio
teórico passa do ponto A para o ponto B, onde o preço é maior (porque o custo é maior),
mas a produção caiu porque, a um preço maior, e com a mesma renda do consumidor, as
vendas caem. Quando a economia passa do ponto A para o B mudam os valores de todas
as demais variáveis endógenas do sistema econômico, pois todas elas dependem direta
ou indiretamente do preço de venda e do volume da produção.
28
GRÁFICO 6: A RETRAÇÃO DA OFERTA
P
Q1
B
Q
P0
A
D0
Q0
Q
Tanto quanto a curva de demanda, a curva de oferta é uma relação entre duas
variáveis endógenas, o preço e a quantidade, relação esta que é deslocada paralelamente
por todas as variáveis exógenas relevantes para o custo de produção, em especial a
política econômica do governo. Por sua vez, os efeitos de quaisquer outras variáveis
endógenas que possam ser explicativas, seja do preço seja da quantidade, estarão
sempre naturalmente incluídos na estimativa da derivada do preço em relação à
quantidade. A curva de oferta é uma abstração teórica, uma equação reduzida, uma
construção hipotética a partir das equações de decisão das empresas sobre preço e
produção, dentro do procedimento delas de ajustar a oferta à demanda.
Se este ajuste é necessário é porque, a cada momento em que uma decisão é
posta em prática, há um desequilíbrio entre oferta e demanda, o que significa que os
dados coletados para análise são dados de desequilíbrio. As decisões das empresas são
baseadas em valores passados de variáveis endógenas, necessariamente desequilibrados,
que medem o desempenho do empresário, em especial o lucro e o excedente de produção
estocado. A empresa é um ser dinâmico, que está sempre retificando seus objetivos, suas
metas e seus métodos, em função das expectativas sobre a demanda e de seus próprios
erros e acertos passados, ou seja, em função de sua própria história. Mas, na prática, o
equilíbrio não chega nunca.
Pode-se dizer, atendo-se à equação do preço de oferta, que o preço resulta de um
política de mark-up, na qual a margem não seria rígida mas sim variável de acordo com a
intensidade da demanda. Neste caso, o estoque é um indicador da intensidade da
demanda individual, a qual varia não só em função da renda do consumidor, mas também
em conseqüência das políticas de marketing dos concorrentes. O estoque funcionaria pois
como uma espécie de indicador da formação de expectativas sobre o estado da demanda
individual.
Este é um modelo dinâmico que naturalmente tem uma solução matemática de
equilíbrio associada, mas apenas no plano teórico. As decisões atuais dependem dos
resultados das decisões passadas, ou seja, as decisões de hoje dependem das decisões
de ontem. Por exemplo, a decisão de hoje sobre o quanto produzir no curto prazo
depende do estoque existente, o qual, por sua vez, resulta da diferença entre a venda
29
efetiva e as decisões anteriores sobre a produção. A quantidade produzida é um fluxo
mas o estoque não; por isso, ambos não podem ser simultâneos. Eles se sucedem no
tempo criando uma seqüência de causação interminável produção-estoque-produçãoestoque ... e assim sucessivamente.
V. A INTERVENÇÃO DO GOVERNO
A essência da política econômica é a intervenção no mercado. O governo pode
intervir, e de fato intervém nos mercados, buscando regulamentar a atividade econômica
de acordo com algum objetivo social. Assim, criam-se normas que visam assegurar o
direito do consumidor, proteger o meio ambiente, reduzir os efeitos negativos da
poluição, manter um padrão sanitário que evite doenças, reservar o subsolo à nação,
organizar a ocupação e o uso do solo, garantir a qualidade da água, etc. Todas estas
normas certamente influenciam os custos das empresas e deslocam a curva de oferta de
modo mais ou menos sensível.
No geral, a intervenção do governo no mercado se dá pelo deslocamento da oferta
ou da demanda, mas podem ocorrer intervenções diretas pela imposição simples de níveis
pré-determinados de produção ou de preço de venda. Com relação à produção, o governo
pode estabelecer quotas, em geral quotas máximas. Por exemplo, na época de
reprodução dos peixes, o governo pode limitar a pesca ou até mesmo proibi-la. Contudo,
as intervenções mais conhecidas são aquelas que se aplicam aos preços – os
tabelamentos e os preços mínimos.
V.1. PREÇOS MÍNIMOS
Esta política já foi no passado largamente utilizada no Brasil, mas apenas para os
produtos agrícolas como arroz, feijão, milho, soja, algodão, etc. O objetivo da política era
incentivar a produção quando o preço de mercado estava baixo, oferecendo então ao
produtor um preço tal que, embora mínimo, era o suficiente para convencê-lo a plantar.
Não fosse este incentivo, no ano seguinte a colheita seria menor e os preços subiriam
acima do “normal”. O preço mínimo funcionava, portanto, como um regulador de safras.
É claro que, se o preço de mercado estava baixo, era porque a oferta havia sido
anormalmente elevada naquele ano. Dada esta oferta, a demanda determinava um preço
de mercado, por exemplo o preço P0 no Gráfico 8, que poderia levar a uma queda
excessiva na área plantada para o próximo ano. Por isso, era oportuno que o governo
oferecesse um preço mínimo de garantia de compra da safra, por exemplo o preço P MIN
no Gráfico 7.
Com um preço mais elevado, a produção era maior do que sem a política de preço
mínimo, estando à direita da quantidade de equilíbrio Q0. Por outro lado, com este preço
maior, o consumidor comprava menos, ou seja, uma quantidade à esquerda de Q 0. A um
preço maior os produtores produzem mais, mas os consumidores compram menos. O
volume a maior entre a produção e a venda ao consumidor final, isto é, o excesso de
oferta, era comprado pelo governo e adicionado aos estoques reguladores. Se o governo
não comprasse, o mercado praticaria o mesmo preço P0 de sempre e a produção não
aumentaria acima de Q0.
30
GRÁFICO 7: O PREÇO MÍNIMO
P
PMIN
P0
Q0
Q
Portanto, para que um preço mínimo decretado pelo governo seja obedecido na
prática, é necessário que o governo compre a produção excedente. No caso de produtos
agrícolas, pode ser que o preço mínimo seja teoricamente igual ao preço de mercado.
Neste caso, o excesso de produção de um ano será estocado, assim evitando que o preço
recebido pelo produtor caia e desestimule o plantio na próxima safra. No caso inverso,
quando faltar produto porque houve frustração na colheita, o governo poderá vender
produto de seus estoques, assim impedindo que o preço de mercado suba em demasia.
Entretanto, em casos como o das políticas de proteção à agricultura feitas pela
Europa e Estados Unidos, o governo pode comprar sistematicamente, pois o preço
praticado é sempre superior ao do mercado. Nesta situação, o governo estará
continuamente aumentando o estoque do produto. Ou seja, esta política causa uma
tendência matematicamente explosiva do mercado a qual, para ser evitada ou
amenizada, exige medidas exógenas ao mercado.
Uma das saídas para este problema é criar, e impor legalmente, outros usos para
o produto. Mas isto pode criar problemas ainda mais graves. Por exemplo, a Europa
pratica uma política de proteção ao produtor de leite, fixando um preço para o produto
que está acima do equilíbrio normal de mercado. Em conseqüência, o estoque de leite
seria crescente se não fossem adotadas algumas saídas para o produto. Suspeita-se de
que, neste caso, uma das medidas tenha sido a imposição, pelo governo, do uso do leite
em pó na ração animal, o que acabou levando à doença bovina conhecida como “vaca
louca”.
Em geral, contudo, os estoques excedentes da Europa e dos Estados Unidos têm
servido como moeda política internacional, classificados então com programas de ajuda
humanitária. Nesta linha, estes estoques são vendidos a preços baixos, ou até doados, a
países pobres. Alternativamente, o governo pode conceder subsídios aos produtores para
que eles mantenham a produção excedente estocada e fora do mercado, por exemplo,
exportando para países emergentes. Uma outra medida é remunerar o produtor para que
ele não produza, deixando a terra e outros recursos produtivos ociosos.
De qualquer sorte, o peço mínimo fixado só pode ser efetivamente praticado se,
direta ou indiretamente, o governo garante demanda para o produto ou para um outro
31
produto obtido a partir dele. Por exemplo, pode interessar para a sociedade solicitar ao
governo que estabeleça um preço mínimo para o frango. Todavia, como não é possível
estocar frango vivo por prazo e custo razoáveis, o produto que o governo compraria seria
a carne de frango, congelada e estocada em câmaras frigoríficas.
O importante é o governo garantir a compra direta ou indireta do produto. Esta
demanda por parte do governo faz com que a demanda do produto amparado fique à
direita da demanda normal de mercado, como mostra o Gráfico 8. Neste caso, o preço de
equilíbrio de mercado fica igual ao preço mínimo, por vezes deixando a impressão de que
o mercado está “livre”. A forma da intervenção pode induzir a idéia de que é o próprio
mercado, sem participação do governo, que determina o preço do produto. Na realidade,
entretanto, o mercado livre compra a quantidade indicada pelo preço mínimo, cabendo ao
governo comprar, ou pagar para alguém comprar, o excedente de produção, que é dado
pela distância entre as duas curvas de demanda, a antiga e a nova.
GRÁFICO 8: EFEITO DEMANDA DO PREÇO MÍNIMO
P
P0
PMIN
Q0
Q
Se o governo nada fizer de prático, a lei que determina o preço mínimo será letra
morta para o mercado. Se o governo não compra ao preço que ele mesmo estipula,
ninguém o fará. A única maneira de se assegurar um certo preço para um produto é o
mercado consumidor ter renda para compra-lo a este preço. Ao estabelecer e garantir um
preço mínimo para um produto, o que o governo faz é assegurar a demanda num certo
nível superior ao do mercado. Tudo o mais constante, a fixação de um preço mínimo
equivale a criar renda, equivale ao aparecimento no mercado de um novo consumidor,
com mais renda para gastar.
Com isso, aumentam o lucro e a produção no setor amparado pela política de
preço mínimo, o que faz aumentar a renda das pessoas nele empregadas. Este aumento
de renda conduz a um aumento da demanda deste produto e, principalmente, de outros
produtos, levando a um crescimento generalizado da produção e do emprego no país,
apesar dos preços terem subido. O exemplo histórico deste sucesso no Brasil é dado pela
política de proteção ao café na década de 1930.
Há, todavia, problemas legais a considerar, pois o subsídio ao produtor, implícito
no preço superior ao do equilíbrio livre do mercado, induz a fraudes. Por exemplo, pode
ser forjada uma compra de um produto inexistente, ou pode haver um incêndio no local
32
onde supostamente estaria armazenado um produto comprado pelo governo mas que, na
realidade não mais estava lá.
V.2. PREÇOS MÁXIMOS
Apesar do preço ser dado pela oferta e demanda, ou seja, pelo custo de produção
e pela renda do consumidor, prevalece no imaginário popular a idéia de que o vendedor
pode ditar o preço que bem entende, independentemente do consumidor ter ou não
dinheiro para comprar. Por isso, a população sempre apóia uma decisão do governo no
sentido de tabelar os preços dos produtos de consumo, em especial no nível fisiológico.
Neste caso, o preço fixado pelo governo fica abaixo do preço de equilíbrio normal de
mercado, como mostra o Gráfico 9.
A conseqüência imediata de um preço tabelado é o excesso de demanda. Isto
acontece porque, tendo baixado o preço, o consumidor quer comprar mais, mas o
fabricante quer produzir menos. Reduz-se a produção e aumenta o consumo. Algumas, ou
muitas, pessoas perdem o emprego mas aqueles que continuam empregados são
favorecidos pelo preço menor do produto. Dada a queda da quantidade ofertada, cabe
então ao governo providenciar o abastecimento do mercado, buscando produto onde
houver.
GRÁFICO 9: O PREÇO MÁXIMO
P
P0
PMAX
Q0
Q
Em geral, o que acontece é a importação do produto, ou de produtos substitutos.
Esta política pode, portanto, causar uma tendência matematicamente explosiva da dívida
externa, a qual, para ser evitada ou amenizada, exige outras medidas de política
econômica. Além disso, reduz-se o emprego no país e aumenta no exterior. Mais ainda,
esta importação será feita a um nível de preços maior do que o tabelado. Isto se deve ao
fato de que, se o preço normal do produto importado fosse inferior ao máximo decretado,
o tabelamento seria dispensável. Portanto, para manter o preço tabelado o governo será
obrigado a subsidiar a importação. Ocorre então um gasto do governo com o subsídio, ou
seja, o contribuinte de impostos paga para que haja uma redução do emprego
internamente e um estímulo à produção no exterior.
Este estímulo à oferta externa está mostrado no Gráfico 10, onde há uma
expansão da oferta. Neste caso, o preço de equilíbrio de mercado fica igual ao preço
33
máximo, por vezes deixando a impressão de que o mercado está “livre”, ou seja, é
induzida a idéia de que é o próprio mercado, sem interferência do governo, que fixa o
preço do produto. Na realidade, entretanto, o mercado livre produz e vende a quantidade
indicada pelo preço máximo, cabendo ao governo importar, ou pagar para alguém
importar, o excedente de demanda, que é dado pela distância entre as duas curvas de
oferta, a antiga e a nova.
Quando o governo fixa o objetivo de garantir ao consumidor que o preço não será
maior do que o tabelado, ele se obriga a produzir a um custo maior e vender a um preço
menor. Em outros termos, o governo só pode oferecer preços menores se ele usa os
impostos arrecadados para produzir e vender com prejuízo. Ou então, ele subsidia os
fornecedores, o que dá na mesma. Se o governo nada fizer de prático para assegurar o
produto ao consumidor ao preço tabelado, a força do mercado fará com que seja
praticado o preço de equilíbrio livre, o que implica em ilícito penal, que pode ser mais ou
menos tolerado pelo governo e pela sociedade.
GRÁFICO 10: EFEITO OFERTA DO PREÇO MÁXIMO
P
P0
PMAX
Q0
Q
Surge neste caso o mercado negro, o atravessador, o mercado paralelo, o ágio,
etc, que são mecanismos ilegais de distribuição da produção. Se o governo não produzir e
vender ao preço que ele mesmo estipula, ou se ele não subsidiar o fornecedor, poucas
empresas desavisadas – ou estreitamente vigiadas - venderão o produto ao preço
tabelado. A única maneira de se assegurar a queda do preço de venda de um produto é a
redução do custo de produção. Para tanto, o governo deve subsidiar a produção ou
importação.
Tanto na política de preços mínimos quanto na política de preços máximos, a ação
do governo não se torna efetiva pela promulgação de uma lei. Ela só pode tornar-se
realidade após deslocar a curva de demanda ou a curva de oferta, ou ambas. Em termos
gerais, esta observação vale para qualquer política governamental. Como no caso do
preço mínimo, a garantia de um preço máximo também equivale a criar subsídios. Em
geral, a política econômica, ou seja, a intervenção do governo na economia, gera
penalidades e subsídios.
Os subsídios costumam ser fonte de atos ilegais, na medida em que pessoas e
empresas podem forjar situações para receberem os subsídios que de outra forma não
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receberiam. A diferença entre uma e outra situação é que a política de preço mínimo para
produtos de consumo cria empregos e renda para a população que, portanto, pode ter
dinheiro para comprar mais caro. Por outro lado, a política de controle de preços reduz o
emprego e a renda do consumidor nacional que, assim, pode não ter dinheiro para
comprar, apesar do preço menor.
RESUMO
Dentre os pontos mais relevantes da Lei da Oferta e Demanda, destacam-se os
seguintes:
1.
O nível de produção não depende só da engenharia, ou da capacidade instalada
da empresa, mas também do que os consumidores querem e podem comprar do
produto.
2.
Oferta e demanda referem-se a fluxos e não a estoques. Os consumidores
demandam o produto porque vão consumi-lo, durante um certo intervalo de
tempo. Não se demanda produto para estoca-lo na dispensa para o resto da vida.
O produtor produz uma certa quantidade, durante um certo período de tempo,
para vender e não para estocar.
3.
Os custos de produção são o fator mais importante na determinação do preço de
venda da empresa, mas a taxa de lucro que se pode adicionar ao custo depende
da posição da demanda individual da empresa que, por sua vez, depende da
renda do consumidor, dos impostos e do que a concorrência está fazendo.
4.
As promoções de venda funcionam melhor quanto maior for a elasticidade preço
da demanda individual da empresa.
5.
As vendas crescem mais quanto maior for a elasticidade renda do produto e, é
claro, quanto mais crescer a renda do consumidor.
6.
Para que a empresa venda mais, é necessário que o consumidor tenha mais
renda, mais dinheiro disponível para gastar. Só pode haver aumento de produção
se houver mais dinheiro na economia.
7.
Dadas as posições das curvas de oferta e demanda, é a interação entre
consumidores e produtores que determina, no mercado, o preço e a quantidade
produzida. Todas as demais variáveis endógenas da economia dependem do
preço ou da quantidade ou das duas coisas. Portanto, toda a economia depende
de oferta e demanda.
8.
As posições das curvas de oferta e demanda são determinadas pelas variáveis
exógenas, dentre elas a política econômica do governo. Não é o mercado que
determina sozinho e automaticamente o preço e a produção, mas sim as variáveis
exógenas e a política econômica.
9.
O governo impõe certos custos às empresas, além da regulamentação da
atividade comercial ou industrial, através dos impostos e, principalmente, pela
elevação da taxa de juros e pela falta de investimento em infra-estrutura de
transporte, em educação e saúde para os trabalhadores, em planos adequados de
aposentadoria, etc. Estes custos deslocam a curva de oferta da empresa e do
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mercado para trás, reduzindo as vendas e o preço, líquido destes custos, que as
empresas recebem.
10. O governo pode intervir diretamente nos mercados fixando preços mínimos para
alguns produtos. A intervenção só terá sucesso se a ação do governo deslocar a
curva de demanda. Se a política for consistente, haverá formação de estoques,
aumento da produção e geração de empregos.
11. O governo também pode intervir diretamente nos mercados fixando preços
máximos para alguns produtos. Esta intervenção só produz resultados se a ação
do governo deslocar a curva de oferta. Se esta política for consistente, serão
concedidos subsídios para importação e haverá queda da produção e do emprego.
12. Intervenções do governo no mercado podem gerar tendências explosivas, o que
exige medidas exógenas corretivas que nem sempre são satisfatórias.
13. Intervenções do governo no mercado podem implicar na concessão de subsídios,
os quais podem induzir a ações fraudulentas.
14. Toda e qualquer intervenção do governo no mercado afeta o preço ou a produção
e, portanto, a economia como um todo, por meio de deslocamentos da oferta ou
da demanda.
Curitiba, julho de 2005.
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