UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL MESTRADO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL 1º semestre de 2009 1- Disciplina: A abordagem biográfica na antropologia 2- Professora responsável: Cintya Maria Costa Rodrigues 3- Carga horária: 60 4- Duração: semestral 5- Créditos: 4.0 6- Ementa: A perspectiva biográfica e a produção de conhecimento antropológico. O método biográfico e questões epistemológicas. Biografia e etnografia. Práticas etnográficas em arquivos e acervos pessoais e institucionais. A abordagem biográfica na Antropologia O propósito central do curso é discutir os desdobramentos da perspectiva biográfica (e autobiográfica) na pesquisa antropológica. Busca-se, com esse objetivo mais amplo, abarcar as questões relacionadas à memória, aos sujeitos e aos processos narrativos, assim como, aquelas que dizem respeito à experiência antropológica da etnografia: a escrita antropológica, a reflexividade no trabalho de campo, a alteridade e as questões políticas e éticas apresentadas na pesquisa com os diferentes grupos. Assim, os textos selecionados abordam a construção do fluxo narrativo e da singularidade biográfica, bem como, o pressuposto de entrelaçamento de uma história sócio-cultural que é igualmente vivida e construída pelo biografado (e pelos antropólogos). Nas discussões sobre a experiência etnográfica discute-se a possibilidade política e intelectual de realização da etnografia pelos sujeitos e a noção de autoetnografia, que caminha nessa direção. Trazer o arquivo como outro lócus de realização da pesquisa antropológica desloca espaços tradicionais da pesquisa antropológica, faz pensar em outras possibilidades para a etnografia, com a atuação de memórias e sujeitos. O tema subjacente para mim tem sido a emergência de um segundo eu soterrado por muito tempo sob a superfície de características sociais muitas vezes habilmente adquiridas e manipuladas, pertencentes ao eu que meus pais tentaram construir, o “Edward” do qual venho falando de forma intermitente, e a maneira como um número crescente de partidas tem desarranjado minha vida desde os meus mais remotos inícios. Para mim, não há característica mais dolorosa – e, paradoxalmente, buscada – que os muitos deslocamentos entre 1 países, cidades, domicílios, línguas e ambientes que me mantiveram em movimento todos esses anos. Edward Said, Fora do lugar: Memórias Junto com a linguagem, é a geografia – especialmente na forma deslocada de partidas, chegadas, adeuses, exílios, nostalgia, saudades de casa e da viagem em si – que está no cerne das minhas lembranças daqueles primeiros anos. Cada um dos lugares onde vivi – Jerusalém, Cairo, Líbano e Estados Unidos – tem uma rede densa e complicada de valências que constitui grande parte do que significa crescer, ganhar uma identidade, formar a minha consciência de mim mesmo e dos outros. Edward Said, Fora do lugar: Memórias PROGRAMA DO CURSO A pessoa, os sujeitos e a memória RICOEUR, Paul. Da memória e da reminiscência. In: A memória, a história, o esquecimento. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2007. p. 22-142. BENJAMIN, Walter. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov e sobre o conceito de história. Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1983. MAUSS, Marcel. Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a de “eu”. 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Situação-limite e memória: a reconstrução do mundo dos familiares de desaparecidos da Argentina. São Paulo: Hucitec, Anpocs, 2001. 2 RODRIGUES, Cintya Maria C. Águas aos olhos de Santa Luzia: um estudo de memória sobre o deslocamento de sitiantes em Nazaré Paulista-SP. Campinas: Unicamp, 1999. FRANK, Gelya. Ethnography of memory: an american antrhropologist´s family story of refuge from nazism. American Anthropologist, v. 102, nº 4, december 2000. Autobiografia, escrita e memória LEJEUNE, Philippe. Autobiografia e sociedade. In: O pacto autobiográfico: de Rousseau à Internet. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. ALBERTI, Verena. Literatura e autobiografia: a questão do sujeito na narrativa. Estudos Históricos, v. 4 nº 7, p. 66-81, 1991. GAGNON, Nicole. Données Autobiographiques et práxis culturelle. Cahiers Internationaux de Sociologie. V. LXIX, 1980. O método biográfico: o uso de relatos de vida e narrativas biográficas BERTAUX, Daniel. 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Os escritores e a literatura do sudoeste de Goiás. Tese de doutorado. PPGCS/IFCH/UNICAMP, 2006. GUSSI, Alcides. Pedagogias da experiência no mundo do trabalho: narrativas biográficas no contexto de mudanças de um banco público estadual. Campinas: Tese de doutorado, Unicamp, 2004. MATOS, André Luís L. B. Darcy Ribeiro: uma trajetória (1944-1982). Campinas: Tese de doutorado, Unicamp, 2007. 3 II parte Etnografia e autobiografia: a experiência antropológica GEERTZ, Clifford. Obras e vidas: o antropólogo como autor. Rio de Janeiro: editora UFRJ, 2002. CLIFFORD, James. Sobre a autoridade etnográfica. In: A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1998. CLIFFORD, James. Sobre a alegoria etnográfica. In: A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1998. CRAPANZANO, Vicent. Diálogo. Anuário Antropológico/88, OKELY, Judith. 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FARDON, Richard. Mary Douglas: uma biografia intelectual. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2004. Perspectivas contemporâneas da etnografia: Autoetnografias? FISCHER, Michael M. J. El etnicismo y las artes postmodernas de la memoria. In: CLIFFORD, James y MARCUS, George E. (Eds.) Retóricas de la Antropologia. Madrid: Ediciones Júcar, 1991. RAMOS, Alcida Rita. Do engajamento ao desprendimento. Brasília: DAN/UNB: Série Antropologia nº 414, 2007. III - parte Etnografia, arquivos e memória CUNHA, Olívia Maria G. da. Tempo imperfeito: uma etnografia do arquivo. Rio de Janeiro: Mana v. 10 nº 2, 2004. Estudos Históricos (Antropologia e Arquivos), Rio de Janeiro, nº 36, julho-dezembro de 2005, p. 1-156. 4