BRISA S. FERNANDES AIRTON TETELBOM STEIN INTRODUÇÃO O processo diagnóstico atual considera os princípios básicos da medicina baseada em evidências: estudos com validade científica, experiência clínica individual e preferências do paciente. Sob essa perspectiva, a justificativa mais importante para a solicitação de um exame complementar é a de redefinir a probabilidade de uma doença, ou seja, a decisão de realizar um teste parte do pressuposto de que os resultados irão modificar de forma clinicamente relevante a probabilidade de que a doença esteja presente ou ausente. Dessa forma, diante de um problema clínico qualquer, o processo diagnóstico baseado em provas científicas necessariamente envolve: Probabilidade pré-teste Razão de probabilidades Probabilidade pós-teste ABORDAGEM DIAGNÓSTICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS Abordagem diagnóstica baseada em evidências PROBABILIDADE PRÉ-TESTE ◗ É a probabilidade de a doença existir antes do teste ser realizado (é igual à prevalência da doença na população). Para que possamos combinar a probabilidade pré-teste com a informação do teste diagnóstico, é necessário estimá-la de forma quantitativa. Essa estimativa deriva basicamente de quatro fontes: − Experiência clínica individual − Estudos transversais com enfoque diagnóstico − Estudos de prevalência e estatísticas nacionais − Estudos de predição clínica ESTUDOS COM ENFOQUE DIAGNÓSTICO ◗ O delineamento mais utilizado para a avaliação dos testes diagnósticos é o transversal, no qual se utilizam pacientes com suspeita da doença, mas não ainda com um diagnóstico confirmado. Idealmente, inclui pacientes com apresentações leves a graves, além de tratados e não tratados ◗ O novo teste diagnóstico deve ser comparado com o padrão-ouro, que representa de forma mais acurada a presença ou não de doença. 1 ABORDAGEM TRADICIONAL ◗ Um teste diagnóstico deve ser capaz de distinguir pessoas doentes de saudáveis, ajudando a confirmar ou refutar o diagnóstico. Para isso, inicialmente, é necessário conhecer-se as propriedades do teste, sendo as mais tradicionalmente usadas a sensibilidade, a especificidade e os valores preditivos positivos e negativos. SENSIBILIDADE, ESPECIFICIDADE, VALORES PREDITIVOS POSITIVOS E NEGATIVOS ◗ Quando o teste é positivo em indivíduos doentes, chamamos o teste de verdadeiro-positivo e quando é negativo em indivíduos sem a doença chamamos o teste de verdadeiro-negativo. Contudo, nem sempre isso ocorre na prática, de modo que o resultado do teste pode ser normal em um indivíduo doente (falso-negativo) e anormal em um indivíduo hígido (falso-positivo). Essas situações são demonstradas na Tab. 1. A partir dessa tabela, podemos definir as características de desempenho de um teste, que são: sensibilidade, especificidade, falsos-positivos, falsos-negativos, valores preditivos e, também, a razão de probabilidades. Tabela 1 RELAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS DE UM TESTE DIAGNÓSTICO E A OCORRÊNCIA DA DOENÇA Soares_Parte01__001-043.indd 1 Doentes Não doentes Teste positivo Verdadeiro-positivos a Falso-positivos b Teste negativo Falso-negativos c Verdadeiro-negativos d 08/02/12 08:48 ABORDAGEM DIAGNÓSTICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS ACURÁCIA ◗ A acurácia de um teste diagnóstico informa que uma proporção dos testes teve diagnóstico correto, ou seja, positivo naqueles com a doença e negativo naqueles sem a doença. Essa proporção pode ser obtida por: Testes com resultados correto/total de resultados a d/(a b c d) SENSIBILIDADE ◗ É a proporção de indivíduos doentes que tem teste positivo. As sensibilidade é determinada pela proporção: Indivíduos com a doença e com teste positivo/total de doentes a/(a c) ◗ Um teste sensível raramente deixa de diagnosticar a doença, sendo o teste de escolha quando o risco ocasionado por se deixar de diagnosticar a doença é alto. Torna-se mais útil quando seu resultado é negativo, porque fortalece a ideia de que o indivíduo realmente não tem a doença, afastando o diagnóstico (p. ex., teste de ELISA [enzyme linked immunosorbent assay] negativo na suspeita de infecção pelo HIV). ESPECIFICIDADE ◗ É a proporção de indivíduos sem a doença que tem teste negativo, determinada pela proporção: Indivíduos sem a doença e com teste negativo/total de indivíduos não doentes d/(b d) ◗ Um teste com alta especificidade raramente é positivo na ausência de doença, devendo ser usado para se confirmar uma hipótese diagnóstica (p. ex., teste de Western blot positivo na infecção pelo HIV). VALOR PREDITIVO POSITIVO 2 ◗ A probabilidade pós-teste positivo é a probabilidade de o indivíduo ter a doença quando o teste é positivo; ou seja, daqueles indivíduos com teste positivo, quem realmente tem a doença. Esse parâmetro pode ser calculado pela proporção: Indivíduos doentes com teste positivo/total de indivíduos com teste positivo a/(a b) VALOR PREDITIVO NEGATIVO ◗ É a probabilidade de o indivíduo não ter a doença quando o seu teste é negativo; ou seja, daqueles indivíduos com teste negativo, quem realmente não é doente. Esse parâmetro pode ser obtido pela equação: Indivíduos sem a doença e com teste negativo/total de indivíduos com teste negativo d/(c d) RAZÃO DE PROBABILIDADES (LIKELIHOOD RATIO) ◗ A expressão dos resultados apenas pela sensibilidade e especificidade nos fornece uma ideia muito restrita (teste positivo ou negativo). Foi desenvolvida, então, uma medida denominada razão de probabilidades, também chamada de razão de verossimilhança, derivado do termo likelihood ratio. A razão de probabilidades para um teste positivo expressa o quanto é mais provável o indivíduo ter a doença se o teste for positivo. Dessa forma, a razão de probabilidades fornece uma informação mais ampla do que a abordagem dicotômica obtida com a sensibilidade e a especificidade. Isso é particularmente útil quando são avaliados testes diagnósticos que representam variáveis contínuas. ◗ A razão de probabilidades para um teste positivo pode ser calculada da seguinte forma: Probabilidade de um teste positivo em indivíduos com a doença Probabilidade de um teste positivo em indivíduos sem a doença A partir da Tab. 1, teríamos: a/(a c) b/(b d) Soares_Parte01__001-043.indd 2 08/02/12 08:48 Probabilidade de um teste negativo em indivíduos com a doença Probabilidade de um teste negativo em indivíduos sem a doença A partir da Tab. 1, teríamos: c/(a c) d/(c d) INTEGRANDO AS INFORMAÇÕES ◗ Os valores preditivos (e logo as probabilidades pós-teste) são afetados pela prevalência da doença. Já a razão de probabilidades independe da prevalência da doença. Se estiverem disponíveis a prevalência (probabilidade pré-teste) e a razão de probabilidades, pode-se estimar facilmente a probabilidade pós-teste da doença (valores preditivos), utilizando um nomograma (Fig. 1). Para utilizar o nomograma, traça-se uma reta na qual a probabilidade pré-teste cruza com a razão de probabilidades. Estendendo essa reta até a próxima coluna, tem-se a probabilidade pós-teste. No exemplo fornecido, se um paciente com acidente vascular cerebral (AVC) prévio, que possui probabilidade pré-teste de ter estenose carotídea 35% e não possui sopro carotídeo, sua probabilidade pós-teste de ter estenose carotídea 35% aumenta para cerca de 45%. Já, se ele possui sopro carotídeo, sua probabilidade pós-teste aumenta para quase 99%. % 99 0,1 ABORDAGEM DIAGNÓSTICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS ◗ Seguindo o mesmo raciocínio, pode-se calcular a razão de probabilidades para um teste negativo, que informa quantas vezes é mais provável o indivíduo ter a doença se o teste for negativo. Assim, tem-se: % 0,2 0,5 1 95 Sopro carotídeo bilateral 1.000 2 100 5 CI 10 0 40 1 0,1 60 90 80 60 Sem sopro 80 90 10 40 AVC 3 20 10 5 0,01 2 0,001 95 1 0,5 0,2 99 Probabilidade pré-teste 0,1 Razão de probabilidades Probabilidade pós-teste Figura 1 Nomograma para estimativa da probabilidade pós-teste de estenose carotídea interna 35%, conforme a presença ou não de sopro carotídeo, considerando a prevalência (probabilidade pré-teste) de estenose carotídea em pacientes com cardiopatia isquêmica ou AVC prévio. As linhas em azul indicam pacientes com sopro bilateral, e as tracejadas, os sem sopro audível. CI, cardiopatia isquêmica; AVC, acidente vascular cerebral. Fonte: Chambers e Norris (1985). Soares_Parte01__001-043.indd 3 08/02/12 08:48 ABORDAGEM DIAGNÓSTICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS CURVA ROC (RECEIVER OPERATOR CHARACTERISTICS) ◗ A curva ROC constitui uma outra forma de integrar as informações obtidas pela sensibilidade e especificidade para um determinado teste. Ela é construída plotando-se a taxa de verdadeiro-positivos (sensibilidade) contra a taxa de falso-positivos (1 – especificidade) ao longo de uma faixa de pontos de corte. Os valores nos eixos vão de uma probabilidade de 0-1,0. ◗ Os testes com melhores sensibilidade e especificidade, ou seja, aqueles que prestam maior auxílio diagnóstico, encontram-se no canto superior esquerdo da curva. Para esses teste, um aumento da sensibilidade é obtido à custa de pouca ou nenhuma perda da especificidade. ◗ Testes de menor poder discriminatório têm curvas mais próximas da diagonal, que vai do canto inferior esquerdo ao canto superior direito. ◗ A curva ROC pode ser usada para se decidir onde se localiza o melhor ponto de corte para um determinado teste diagnóstico. De uma forma geral, o melhor ponto de corte é o correspondente ao “ombro” da curva, a não ser que exista uma razão clínica para minimizar resultados falso-positivos ou falso-negativos. ◗ Também é útil para se comparar o desempenho de diferentes testes diagnósticos, pois a acurácia global do teste corresponde à área sob a curva ROC. ◗ Na Fig. 2, vemos um exemplo de curva ROC para o desempenho do Questionário para Avaliação da Adesão ao Tratamento Antirretroviral em pacientes com infecção pelo HIV. Curva ROC 100 Sensibilidade 80 4 60 40 20 0 0 20 40 60 80 100 Especificidade Sensibilidade: 79,2 Especificidade: 57,1 Critério (ponto de corte): 76 Figura 2 Curvas ROC obtidas para o questionário CEAT-VIH e indicadores de sensibilidade e especificidade. Fonte: Remor, Milner-Moskovics e Preussler (2007). LEMBRETES ◗ Um dos maiores motivos para a solicitação de exames complementares é a redefinição da probabilidade de doença, visando auxiliar a conduta clínica. ◗ Os testes também podem ser utilizados para auxiliar na estimativa prognóstica de uma doença já diagnosticada. ◗ Os valores preditivos negativos e positivos dependem da probabilidade pré-teste da doença para um determinado paciente; por esse motivo, é importante conhecer a prevalência da doença em questão. REFERÊNCIAS CHAMBERS, B. R.; NORRIS, J. W. Clinical significance of asymptomatic neck bruits. Neurology, v. 35, n. 5, p. 742-745, 1985. Soares_Parte01__001-043.indd 4 08/02/12 08:48 LEITURAS SUGERIDAS FLETCHER, R. W.; FLETCHER, S. E. Epidemiologia clínica: elementos essenciais. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. JAESCHAKE, R.; GUYATT, G.; SACKETT, D. L. Users’ guides to medical literature. III. How to use an article about a diagnostic test. A. Are the results of the study valid? Evidence-based medicine working group. JAMA, v. 271, n. 5, p. 389-391, 1994. JAESCHAKE, R.; GUYATT, G.; SACKETT, D. L. Users’ guides to medical literature. III. How to use an article about a diagnostic test. B. What are the results and will they help me in caring for my patients? JAMA, v. 271, n. 9, p. 703-707, 1994. REID, M. C.; LACHS, M. S.; FEINSTEIN, A. R. Use of methodological standards in diagnostic test research: getting better but still not good. JAMA, v. 274, n. 8, p. 645-651, 1995. ABORDAGEM DIAGNÓSTICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS REMOR, E.; MILNER-MOSKOVICS, J.; PREUSSLER, G. Brazilian adaptation of the assessment of adherence to antiretroviral therapy questionnaire. Rev Saúde Pública, v. 41, n. 5, p. 685-694, 2007. SACKETT, D. L.; STRAUS, S. On some clinically useful measures of the accuracy of diagnostic tests. ACP J Club, v. 129, n. 2, p. A17-19, 1998. 5 Soares_Parte01__001-043.indd 5 08/02/12 08:48 Soares_Parte01__001-043.indd 6 08/02/12 08:48 PARTE I Métodos laboratoriais “You see only what you look for. You recognize only what you know.” — MERRIL SOSMAN Soares_Parte01__001-043.indd 7 08/02/12 08:48 ÁCIDO 5-HIDROXI-INDOLACÉTICO, DOSAGEM URINÁRIA DE Ácido 5-hidroxi-indolacético, dosagem urinária de LENISE VALLER JOSÉ LUIZ MÖLLER FLÔRES SOARES INDICAÇÕES ◗ Diagnóstico de tumor carcinoide e suspeita de síndrome carcinoide MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Urina de 24 h (coleta em 24 h é necessária devido à variabilidade – concentrações maiores pela manhã) Metodologia ◗ Cromatografia líquida de alto desempenho (high-performance liquid chromatography – HPLC) INTERPRETAÇÃO Valores normais ◗ 6 mg/24 h Valores aumentados 8 ◗ Valores até 30 mg/dia: − Síndrome de má absorção (doença celíaca e doença de Whipple) − Após ingesta de alimentos ricos em triptofano − Síndrome carcinoide ◗ Valores 30 mg/dia: − Maioria dos casos de síndrome carcinoide − Tumor carcinoide metastático Os valores também podem estar aumentados em ◗ Ingesta de alimentos: abacate, abacaxi, bananas, kiwi, ameixa, beringela, nozes. ◗ Uso de medicamentos: paracetamol, fenobarbital, reserpina, efedrina, nicotina, cafeína, fenacetina, fluorouracil. ◗ Outras condições (aumentos discretos): gestação, ovulação, após estresse cirúrgico. Os valores podem estar diminuídos em ◗ Uso de medicamentos e de outras substâncias: etanol, imipramina, levodopa, inibidores da MAO, fenotiazinas, aspirina, isoniazida, heparina, metildopa, clorpromazina. LEMBRETES Acurácia do teste ◗ Para síndrome carcinoide: sensibilidade de 73% e especificidade próxima a 100%. ◗ Para tumor carcinoide: sensibilidade de 52-98%, especificidade de 88%, valor preditivo positivo de 87% e valor preditivo negativo de 90%. ◗ Nível plasmático em jejum de 5-HIAA também tem sido usado como marcador laboratorial. Um estudo recente mostrou sensibilidade e especificidade de 89 e 97% respectivamente. − Há boa correlação entre a massa tumoral/prognóstico e os níveis urinários de 5-HIAA. Níveis geralmente tornam-se normais após tratamento cirúrgico. − O ácido 5-HIAA é o produto final do metabolismo da serotonina. − Os tumores carcinoides brônquicos e gástricos geralmente não produzem serotonina. A maioria dos casos tem elevações mínimas ou valores normais de 5-HIAA. − Cromograninas (A, B e C) são proteínas que podem estar aumentadas em tumores neuroendócrinos. Como regra, a concentração de cromograninas é paralela à excreção de 5-HIAA. Soares_Parte01__001-043.indd 8 08/02/12 08:48 LEITURAS SUGERIDAS CARLING, R. S. et al. Evaluation of whole blood serotonin and plasma and urine 5-hydroxyindole acetic acid in diagnosis of carcinoid disease. Ann Clin Biochem, v. 39, n. 6, p. 577-582, 2002. KEMA, I. P. et al. Serotonin, catecholamines, histamine, and their metabolites in urine, platelets, and tumor tissue of patients with carcinoid tumors. Clin Chem, v. 40, n. 1, p. 86-95, 1994. MØLLER, J. E. et al. Factors associated with progression of carcinoid heart disease. N Engl J Med, v. 348, n. 11, p. 1005-1015, 2003. WALLACH, J. Interpretation of diagnostic tests. 8th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007. WESTBERG, G. et al. Prediction of prognosis by echocardiography in patients with midgut carcinoid syndrome. Br J Surg, v. 88, n. 6, p. 865-872, 2001. ÁCIDO DELTA-AMINOLEVULÍNICO (ALA), DOSAGEM URINÁRIA DE − Quando os resultados da excreção urinária de 5-HIAA são duvidosos, a determinação dos níveis séricos de serotonina pode ser usada. − A doença cardíaca carcinoide, que ocorre em mais de 50% dos casos de síndrome carcinoide e pode ser a manifestação inicial, permanece sendo a principal causa de morbimortalidade. Esses pacientes geralmente têm valores mais elevados (2-4 vezes) de 5-HIAA urinário. A excreção urinária de 5-HIAA também prediz a progressão da doença cardíaca carcinoide. Ácido delta-aminolevulínico (ALA), dosagem urinária de ALICE GALLO DE MORAES INDICAÇÕES ◗ Diagnóstico de porfirias ◗ Teste indireto de exposição e intoxicação por chumbo 9 MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Urina, amostra de 24 h; é necessário que seja refrigerada, pois cerca de 50% do ALA é degradado em urina não refrigerada. ◗ Não é necessário nenhum preparo especial do paciente. Metodologia ◗ Espectrofotometria INTERPRETAÇÃO Valores normais ◗ Até 4,5 g/g de creatinina (em amostra) ◗ 1,3-7,0 mg/24 h (em urina de 24 h) Os valores podem estar elevados em ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ Soares_Parte01__001-043.indd 9 Porfiria aguda intermitente, durante crise Coproporfiria hereditária, durante crise Porfiria variegata, durante crise Terceiro trimestre da gestação Tirosinemia hepatorrenal Tirosinemia hereditária Intoxicação por chumbo 08/02/12 08:48 ÁCIDO FÓLICO, DOSAGEM SÉRICA DE Os resultados podem ser alterados pelo uso de ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ Barbitúricos Clordiazepóxido Cloroquina Clorpropramida Diazepam Ergotamina Estrogênios Etanol Hidantoinatos Sulfamídicos LEMBRETES ◗ Em crianças, a determinação do ALA é mais sensível na avaliação de intoxicação por chumbo do que a determinação da plumbemia. ◗ O ALA está aumentado significativamente durante os ataques de porfiria aguda intermitente, apresentando-se normal nos períodos assintomáticos da doença. ◗ Pode estar apenas levemente aumentado na corproporfiria hereditária e na porfiria variegata. ◗ Níveis normais de ALA, associados a níveis normais de porfobilinogênio e porfirinas totais, excluem a possibilidade da sintomatologia do paciente tratar-se de qualquer uma das porfirias agudas. LEITURAS SUGERIDAS ANDERSON, K. E. et al. Recommendations for the diagnosis and treatment of the acute porphyrias. Ann Intern Med, v. 142, n. 6, p. 439-450, 2005. FAUCI, A. S. et al. Harrison´s principles of internal medicine. 17th ed. New York: McGraw-Hill, 2008. 10 GOLDMANN, L.; AUSIELLO, D. (Ed.). Cecil medicine. 23rd ed. Philadelphia: Saunders, 2008. KAUPPINEM, R. Porphyrias. Lancet, v. 365, n. 9455, p. 241-252, 2005. NATIONAL Academy of Biochemistry: the academy of AACC. Washington: AACC, [c2011]. Disponível em: http://www.aacc.org/members/nacb/pages/default.aspx. Acesso em: 03 jun. 2011. Ácido fólico, dosagem sérica de LENISE VALLER JOSÉ LUIZ MÖLLER FLÔRES SOARES INDICAÇÕES ◗ Avaliação de deficiência de ácido fólico ◗ Útil no diagnóstico etiológico de anemias MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro; jejum mínimo de 4 h ◗ A amostra deve ser mantida protegida da incidência da luz Metodologia ◗ Fluoroimunoensaio Soares_Parte01__001-043.indd 10 08/02/12 08:48 Valores normais ◗ 5-15 ng/mL (valores limítrofes entre 3-5 ng/mL) Os valores podem estar elevados em ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ Coleta após alimentação ou reposição de ácido fólico Dieta apenas com alimentos não cozidos Transfusão sanguínea Alguns casos de anemia perniciosa e síndrome da alça cega Hemólise e deficiência de ferro (falsa elevação) ÁCIDO FÓLICO, DOSAGEM SÉRICA DE INTERPRETAÇÃO Os valores podem estar diminuídos em ◗ Fármacos − Anticoncepcionais orais − Diuréticos poupadores de potássio − Anticonvulsivantes (barbitúricos, fenitoína, carbamazepina, priidona, valproato) − Corticosteroides − Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) − Bloqueadores H2 − Metotrexato − Biguanidas − Sulfas ◗ Deficiência nutricional: alcoolismo, anorexia, doenças crônicas, hemodiálise, idosos e crianças ◗ Aumento das necessidades − Neoplasias − Gravidez − Hipertireoidismo − Anemias hemolíticas − Dermatites exfoliativas e psoríase extensa ◗ Síndromes de má absorção: doença celíaca, doença inflamatória intestinal, doenças intestinais infiltrativas, síndrome do intestino curto 11 LEMBRETES Acurácia do teste ◗ O ácido fólico pode ser medido no plasma ou nas hemácias. Os níveis séricos refletem somente a concentração transitória da vitamina entre a absorção e o depósito. Já a dosagem de folato nas hemácias é uma medida mais acurada e não reflete apenas flutuações a curto prazo, mas não é facilmente realizada. Portanto, sugere-se que a dosagem sérica deva ser obtida como teste inicial. − Estratégia diagnóstica: deve-se suspeitar de deficiência da vitamina B12 e ácido fólico na presenca de um ou mais dos seguintes achados: macrocitose com ou sem anemia, neutrófilos hipersegmentados no sangue periférico, pancitopenia de causa inexplicada, sinais e sintomas neurológicos, populações de risco, como idosos, etilistas e desnutridos. ◗ Uma vez que as deficiências de cobalamina e ácido fólico não são facilmente diferenciáveis clinicamente, o primeiro passo deve ser a obtenção dos níveis séricos das duas vitaminas. Se os níveis de folato e de vitamina B12 forem 4 ng/mL e 300 pg/mL respectivamente, deficiências são improváveis, e uma testagem adicional não será necessária. ◗ Se, no entanto, os valores encontrados estiverem abaixo dos citados ou houver dificuldade de interpretar os resultados, o próximo passo será a dosagem dos metabólitos ácido metilmalônico e homocisteína: se os dois estiverem normais, a deficiência das vitaminas pode ser excluída; se os dois metabólitos estiverem aumentados, deficiência de vitamina B12 é confirmada, com sensibilidade de 94% e especificidade de 99% (nesse caso, a deficiência de ácido fólico não pode ser excluída); se o ácido metilmalônico estiver normal e a homocisteína estiver aumentada, a deficiência de folato é provável, com sensibilidade de 86% e especificidade de 99%. ◗ Terapia empírica para deficiência de ácido fólico: como o valor clínico da dosagem de ácido fólico sérico é incerto e sujeito a muitas limitações, alguns estudos sugerem que, na suspeita de deficiência de ácido fólico, a estratégia de tratar empiricamente é mais custo-efetiva do que a realização da investigação diagnóstica. Soares_Parte01__001-043.indd 11 08/02/12 08:48 ÁCIDO METILMALÔNICO, DOSAGEM SÉRICA DE − O folato está presente em vegetais verdes, frutas, cereais, grãos, nozes e carnes. O ácido fólico, a forma vitamínica incluída em suplementos, tem os mesmos efeitos biológicos do folato, mas é mais biodisponível e mais efetiva nas mesmas doses. − Nas mulheres em idade reprodutiva, a suplementação de ácido fólico reduz o risco de defeitos do tubo neural durante a gestação, provavelmente porque o ácido fólico é necessário para a divisão celular normal. − Existem evidências observacionais de que uma grande ingesta diária de folato previne neoplasia de cólon e mama, principalmente entre consumidores moderados de álcool. − Tanto a deficiência de vitamina B12 quanto a de ácido fólico podem causar anemia megaloblástica, mas somente a carência de B12 produz sintomas neurológicos. − A reposição de ácido fólico pode reverter parcialmente algumas anormalidades hematológicas causadas pela deficiência de vitamina B12, embora os danos neurológicos continuem progredindo. Então, é importante excluir deficiência de cobalamina antes de tratar os pacientes com anemia megaloblástica com reposição de ácido fólico. − Pacientes com abuso de álcool apresentam queda no folato sérico em 2-4 dias, pela diminuição no ciclo êntero-hepático e pela inibição da absorção. Se o uso é crônico e as reservas existentes são baixas, anemia megaloblástica pode se desenvolver em 5-10 semanas. LEITURAS SUGERIDAS LEE, G. R. et al. Wintrobe’s clinical hematology. 10th ed. Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins, 1999. ROBINSON, A. R.; MLADENOVIC, J. Lack of clinical utility of folate levels in the evaluation of macrocytosis or anemia. Am J Med, v. 110, n. 2, p. 88-90, 2001. SAVAGE, D. G. et al. Sensitivity of serum methylmalonic acid and total homocysteine determinations for diagnosing cobalamin and folate deficiencies. Am J Med, v. 96, n. 3, p. 239-246, 1994. WALLACH, J. Interpretation of diagnostic tests. 8th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007. 12 Ácido metilmalônico, dosagem sérica de LENISE VALLER JOSÉ LUIZ MÖLLER FLÔRES SOARES INDICAÇÃO ◗ Investigação de deficiência de vitamina B12 MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro Metodologia ◗ Cromatografia líquida/espectrometria de massa em tandem (LC/MS-MS) INTERPRETAÇÃO Valores normais ◗ 70-270 nM ◗ Acurácia do teste: níveis séricos de ácido metilmalônico estão elevados em mais de 95% dos pacientes com deficiência de vitamina B12 clinicamente confirmada (valores médios de 3.500 nM) Os valores podem estar aumentados em ◗ Desidratação e outros estados de hemoconcentração ◗ Gestação ◗ Insuficiência renal Soares_Parte01__001-043.indd 12 08/02/12 08:48 LEMBRETES ◗ Os valores aumentam proporcionalmente à gravidade da doença. ◗ O ácido metilmalônico é um indicador mais sensível para diagnosticar deficiência de vitamina B12 intracelular do que a dosagem de vitamina B12 sérica e, entre os metabólitos, é considerado superior à homocisteína, por ser mais específico e menos suscetível a erros pré-analíticos. ◗ Havendo ácido metilmalônico normal e homocisteína elevada, deficiência de folato é mais provável ( 5% podem ter deficiência de vitamina B12). Embora esses metabólitos possam ser usados para distinguir deficiência de folato ou B12, um aumento de ambos não pode diferenciar entre deficiência de vitamina B12 isolada e deficiência de vitamina B12 combinada com deficiência de folato. ◗ O ácido metilmalônico é mais estável na urina do que no soro e está 40 vezes mais concentrado. A excreção urinária, no entanto, aumenta significativamente após a ingesta de alimentos e em condições citadas de aumento do nível sérico. Dessa forma, o emprego de dosagens urinárias ainda não é recomendado. ÁCIDO ÚRICO, DOSAGEM SÉRICA DE ◗ Doenças da tireoide ◗ Aumento intestinal de bactérias produtoras de ácido propiônico LEITURAS SUGERIDAS LEE, G. R. et al. Wintrobe’s clinical hematology. 10th ed. Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins, 1999. PANIZ, C. et al. Fisiopatologia da deficiência de vitamina B12 e seu diagnóstico laboratorial. Bras Patol Med Lab, v. 41, n. 5, p. 323-334, 2005. SAVAGE, D. G. et al. Sensitivity of serum methylmalonic acid and total homocysteine determinations for diagnosing cobalamin and folate deficiencies. Am J Med, v. 96, n. 3, p. 239-246, 1994. 13 Ácido úrico, dosagem sérica de LISANGELA PREISSLER INDICAÇÕES ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ Avaliação de artrite gotosa (gota) Nefropatias Neoplasias hematológicas Policitemia Anemia perniciosa Obesidade Hipertensão arterial sistêmica (HAS) Diabetes melito Consumo de álcool Hipoparatireoidismo Acromegalia Doença de Wilson Síndrome de Fanconi Monitoração pré e pós-realização de quimioterapia, quando indicado – em função do risco existente de deposição renal de urato e consequente insuficiência renal ◗ Suspeita e prevenção da síndrome de lise tumoral MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro, após jejum de 4 h (idealmente, de 4-8 h) Soares_Parte01__001-043.indd 13 08/02/12 08:48 ÁCIDO ÚRICO, DOSAGEM SÉRICA DE Metodologia ◗ Enzimático ◗ Uricase ◗ Colorimétrico enzimático INTERPRETAÇÃO Valores normais ◗ Em homens − 3,4-7,0 mg/dL ◗ Em mulheres − 3,0-5,8 mg/dL Os valores podem estar elevados em ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ 14 ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ Soares_Parte01__001-043.indd 14 Insuficiência renal Gota Familiares (mesmo assintomáticos) de pacientes com gota (cerca de 25%) Aumento da destruição de nucleoproteínas, como em − Leucemias − Mieloma múltiplo − Policitemia − Linfomas − Quimioterapia − Pneumonias em resolução − Anemias hemolíticas − Anemia falciforme − Toxemia da gestação − Psoríase Fatores dietéticos − Dieta hipocalórica hiperproteica − Dieta rica em nucleoproteínas Acidose metabólica Alcoolismo Diabetes melito Hipoparatireoidismo Hiperparatireoidismo primário Envenenamento por chumbo Nefrolitíase Neoplasia disseminada Pneumonia em resolução Hipertensão Hipotireoidismo Sarcoidose Aterosclerose Jejum prolongado Desidratação Doença cardíaca congênita, cianótica Uso de medicamentos e outras substâncias − Ingesta abusiva de álcool − Ácido ascórbico − Ácido acetilsalicílico (doses 4 g) − Cafeína − Cisplatina − Diazóxido − Diuréticos − Adrenalina − Etambutol − Levodopa − Metildopa 08/02/12 08:48 Ácido nicotínico Fenotiazínicos Ribavirina e interferon Teofilina Tacrolimo Teriparatide Os valores podem estar diminuídos em ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ Síndrome de Fanconi Doença de Wilson Acromegalia Doença celíaca Recidiva de anemia perniciosa Síndrome da secreção inapropriada de hormônio antidiurético (SIADH) Dieta pobre em purinas Diabetes melito Uremia Doenças mieloproliferativas Em pacientes hospitalizados (5%), sendo mais comum em pós-operatório (revascularização miocárdica e cirurgias de trato gastrintestinal) Pacientes com acidose Pacientes urêmicos Doenças mieloproliferativas Uso de medicamentos − Alopurinol − Benzobromarona − Salicilatos (altas doses) − Azatioprina − Calcitonina − Clofibrato − Corticosteroides − Estrogênios − Glicose − Losartano − Manitol − Probenecida − Varfarina − Diuréticos ÁCIDO ÚRICO, DOSAGEM SÉRICA DE − − − − − − 15 LEMBRETES ◗ Hiperurecemia tem sido relatada em 90% de crianças com diagnóstico novo de HAS não tratadas, e a concentração de ácido úrico foi diretamente relacionada aos níveis de pressão sistólica e diastólica nesses pacientes. ◗ Hiperurecemia com frequência precede o desenvolvimento de diabetes, obesidade e hiperinsulinemia. ◗ Valores elevados podem estar presentes por produção excessiva ou por excreção insuficiente (várias nefropatias, medicações incluindo os diuréticos, ácido acetilsalicílico e outros salicilatos, álcool e esteroides). ◗ O ácido úrico está elevado em 80% dos pacientes que apresentam hipertrigliceridemia. ◗ Três tipos de doenças renais associam-se à hiperuricemia: − Nefropatia hiperuricêmica aguda − Nefrolitíase − Nefropatia gotosa ◗ O ácido úrico tem sido implicado como fator significativo, específico e independente associado a morte cardiovascular; essa associação parece ser maior em mulheres, entre 45-54 anos, e em negros. ◗ Um grande número de medicamentos podem interferir na dosagem sérica do ácido úrico – a necessidade da suspensão deles, previamente à dosagem, é uma decisão de juízo médico. Soares_Parte01__001-043.indd 15 08/02/12 08:48 ÁCIDO ÚRICO, DOSAGEM URINÁRIA DE LEITURAS SUGERIDAS FANG, J.; ALDERMAN, M. H. Serum uric acid and cardiovascular mortality: the NHANES I epidemiologic follow-up study, 1971-1992. JAMA, v. 283, n. 18, p. 2404-2410, 2000. RICHETTE, P.; BARDIN, T. Seminar: gout. Lancet, v. 375, p. 318-328, 2010. TERKELTAUB, R. Crystal deposition diseases. In: GOLDMAN, L.; AUSIELLO, D. (Ed.). Cecil medicine. 23rd ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2008. cap. 294. Ácido úrico, dosagem urinária de LISANGELA PREISSLER INDICAÇÕES ◗ Diagnóstico e tratamento da gota ◗ Investigação de nefropatias MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Urina de 24 h ◗ No dia inicial da coleta, a primeira amostra de urina deve ser desprezada. No dia seguinte, ao completar 24 h do teste, a primeira amostra da manhã deve ser incluída ◗ A amostra é mantida com conservante alcalino (5 g de bicarbonato de sódio por litro de urina) 16 Metodologia ◗ Enzimático ◗ Uricase INTERPRETAÇÃO Valores normais ◗ Em homens − 800 mg/24 h ◗ Em mulheres − 750 mg/24 h ◗ Excreção de 12 h: 75-425 mg/12 h Os valores podem estar elevados em ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ Leucemias Gota Dieta rica em purinas Doenças hepáticas Policitemia vera Os valores podem estar diminuídos em ◗ ◗ ◗ ◗ Uso crônico de álcool Glomerulopatias Envenenamento por chumbo Obstrução urinária LEMBRETES ◗ A uricosúria de 24 h é importante para orientar a terapêutica em pacientes com gota, diferenciando pacientes hiper e hipoexcretores. Soares_Parte01__001-043.indd 16 08/02/12 08:48 LEITURAS SUGERIDAS FANG, J.; ALDERMAN, M. H. Serum uric acid and cardiovascular mortality: the NHANES I epidemiologic follow-up study, 1971-1992. JAMA, v. 283, n. 18, p. 2404-2410, 2000. RICHETTE, P.; BARDIN, T. Seminar: gout. Lancet, v. 375, p. 318-328, 2010. ÁCIDO VALPROICO, DOSAGEM PLASMÁTICA DE ◗ Há fatores interferentes nos resultados do exame, como os altos níveis séricos de ácido ascórbico (vitamina C), contrastes iodados utilizados em exames radiológicos e drogas, como o álcool, os anti-inflamatórios não esteroides, os salicilatos, os diuréticos tiazídicos e a varfarina. ◗ Cristais de ácido úrico e urato amorfo são achados normais na análise do sedimento urinário. ◗ Quando a excreção urinária de ácido úrico for 11 mg/kg/dia, pode haver formação de cálculos, principalmente se associada a um baixo volume urinário ou à urina persistentemente ácida. A persistência de pH urinário baixo é o mecanismo patogênico mais importante para a formação de cálculo de urato, pois favorece a excreção de ácido úrico. TERKELTAUB, R. Crystal deposition diseases. In: GOLDMAN, L.; AUSIELLO, D. (Ed.). Cecil medicine. 23rd ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2008. cap. 294. Ácido valproico, dosagem plasmática de BRISA S. FERNANDES TATIANA VALVERDE DA CONCEIÇÃO MARIA PAZ HIDALGO INDICAÇÕES ◗ Suspeita de interações medicamentosas com ácido valproico, má absorção ou má adesão ao tratamento ◗ Resposta clínica inadequada apesar de dose correta ◗ Suspeita de intoxicação medicamentosa 17 MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Plasma, devendo ser coletado 12 h após a última dose e imediatamente antes da próxima dose Metodologia ◗ Cromatografia líquida de alto desempenho (high-performance liquid chromatography – HPLC), com ou sem detecção por fluorescência INTERPRETAÇÃO ◗ Nível sérico terapêutico: 50-110 g/mL (verificar os valores de referências do laboratório) ◗ Toxicidade costuma ocorrer com níveis 110 g/mL, embora possa ocorrer mesmo com níveis terapêuticos, principalmente em pacientes desidratados e desnutridos Os valores podem estar aumentados em ◗ Uso concomitante de outras medicações que diminuem a metabolização do ácido valproico, como aspirina, bupropiona, guanfacina e clobazam ◗ Idosos ◗ Hepatopatia ou insuficiência renal Os valores podem estar diminuídos em ◗ Uso concomitante de outras medicações que aumentam a metabolização do ácido valproico, como antibióticos carbapenêmicos (casos descritos com meropenem), terapia antirretroviral, Ginkgo biloba, anticoncepcionais orais e metosuximida. ◗ Coleta do material em período superior a 12 h da última ingesta de medicação. Soares_Parte01__001-043.indd 17 08/02/12 08:48 ÁCIDO VANILMANDÉLICO, DOSAGEM URINÁRIA DE LEMBRETES ◗ A faixa terapêutica do ácido valproico deve ser atingida antes de se considerar esse fármaco ineficaz para o tratamento de um transtorno de humor. Níveis séricos ⬎ 50 g/mL estão relacionados com maior eficácia no tratamento agudo da mania. ◗ A determinação plasmática deve ser feita no mínimo 5-7 dias após a última mudança de dose. ◗ Os metabólitos do ácido valproico podem ocasionar resultado falso-positivo para cetonúria. O uso de ácido valproico pode também elevar falsamente os valores de triglicérides. LEITURAS SUGERIDAS AFFOLTER, N.; KRÄHENBÜHL, S.; SCHLIENGER, R. G. Appropriateness of serum level determinations of antiepileptic drugs. Swiss Med Wkly, v. 133, n. 43-44, p. 591-597, 2003. SADOCK, B. J.; SADOCK, V. A.; SUSSMAN, N. Manual de farmacologia psiquiátrica de Kaplan & Sadock. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. Ácido vanilmandélico, dosagem urinária de BRUNO SCHMIDT DELLAMÉA GUILHERME ROLLIN ALICE GALLO DE MORAES INDICAÇÃO ◗ Suspeita de feocromocitoma 18 MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Urina de 24 h, com conservante ácido e refrigerada Metodologia ◗ Cromatografia líquida de alto desempenho INTERPRETAÇÃO ◗ Feita de acordo com o método utilizado, fornecido pelo laboratório Os valores podem estar elevados em ◗ Feocromocitoma ◗ Tumores da crista neural (neuroblastoma, ganglioneuroma e ganglioblastoma) Os valores podem estar diminuídos em ◗ Síndrome de Riley-Day LEMBRETES ◗ É o metabólito urinário da epinefrina e da norepinefrina. ◗ Tem sensibilidade de 64% e especificidade de 95%. ◗ Deve-se realizar dieta apropriada nos 3 dias anteriores e durante as 24 h de coleta da urina, sendo preconizado abster-se de café, chá, chocolate, frutas, verduras, baunilha (ou qualquer alimento que contenha), banana; devendo-se alimentar de pão, manteiga, ovos, leite integral, açúcar, arroz, carne e água à vontade. ◗ É influenciado pelo uso de medicamentos: − Pode estar aumentado com o uso de: ácido acetilsalicílico, clorpromazina, guaiacolato gliceril, mefesina, metocarbol, ácido nalidíxico, oxitetraciclina, ácido para-aminossalicílico, Soares_Parte01__001-043.indd 18 17/02/12 15:55 LEITURAS SUGERIDAS LARSEN, P. R. et al. Williams textbook of endocrinology. 10th ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2003. LENDERS, J. W. et al. Phaeochromocytoma. Lancet, v. 366, n. 9486, p. 665-675, 2005. VILAR, L. Endocrinologia clínica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. ALBUMINA, DOSAGEM SÉRICA DE penicilina, fenazopiridina, isoproterenol, fármacos à base de sulfa, levodopa, broncodilatadores e lítio. − Pode estar diminuído com o uso de: clofibrato, metildopa, dissulfiram, imipramina, IMAOs, levodopa, reserpina e etanol. Albumina, dosagem sérica de RAFAELA KOMOROWSKI DAL MOLIN MÁRIO REIS ÁLVARES-DA-SILVA INDICAÇÕES ◗ ◗ ◗ ◗ Deficiências nutricionais Distúrbios do metabolismo proteico Redução da síntese de proteínas Perda proteica acentuada MÉTODO DO EXAME Material biológico 19 ◗ Soro; necessário jejum mínimo de 3 h. ◗ A coleta deve ser feita preferencialmente pela manhã, devido ao efeito circadiano. ◗ A amostra mantém-se estável por 6 dias em temperatura entre 2-8ºC. Metodologia ◗ Verde de bromocresol (colorimétrico) INTERPRETAÇÃO Valores normais ◗ Adultos: 3,5-5,0 g/dL (35-50 g/L) ◗ Neonatos: 3,8-4,2 g/dL (38-42 g/L) ◗ Os valores podem variar de acordo com o laboratório. Os valores podem estar elevados em (elevações são infrequentes, mas podem ocorrer) ◗ ◗ ◗ ◗ Desidratação (diminuição relativa) Administração intravenosa de albumina Choque (estado de hemoconcentração) Administração exógena de − Esteroides anabolizantes − Hormônio do crescimento − Insulina Os valores podem estar diminuídos em ◗ Ingesta inadequada/desnutrição ◗ Absorção diminuída − Síndromes de má absorção ◗ Síntese diminuída − Disfunção hepática (cirrose hepática) Soares_Parte01__001-043.indd 19 08/02/12 08:48 ALBUMINA, DOSAGEM SÉRICA DE − Infecções crônicas ◗ Perdas − Edema − Ascite − Enteropatia perdedora de proteína − Doença inflamatória intestinal − Síndrome nefrótica − Grandes queimaduras − Hemorragias graves ◗ Necessidade aumentada − Hipertireoidismo − Gravidez ◗ Destruição aumentada − Infecções − Neoplasias − Traumas ◗ Hemodiluição − Por administração de fluidos intravenosos − SIADH (secreção inapropriada de hormônio antidiurético) − Diabetes psicogênico/intoxicação por água livre ◗ Outros − Deficiência congênita de albumina − Estados de hipercalcemia resultantes de malignidade − Colite pseudomembranosa − Tuberculose intestinal − Colagenoses LEMBRETES 20 ◗ Sintetizada pelo fígado, é a proteína mais abundante no plasma, constituindo mais de dois terços do total de proteínas. ◗ Constitui um marcador importante da capacidade funcional do fígado e consequente gravidade da hepatopatia; contudo não é um bom indicador de lesão hepática aguda ou leve, já que sua meia-vida é prolongada (14-20 dias). ◗ Atua como proteína carreadora de diversas substâncias (cálcio, magnésio, tiroxina, bilirrubina, penicilina, cortisol, estrogênio, ácidos graxos livres, varfarina); alterações em seu nível sérico, portanto, podem se refletir nas dosagens de tais elementos. ◗ Pode ser denominada de “reagente de fase aguda negativo”, pois sua redução em diversas condições clínicas mostra-se sensível, porém inespecífica. ◗ Em alguns estados de doença e na desnutrição crônica, a concentração sérica de albumina pode se manter dentro da faixa de normalidade, sendo compensada parcialmente pela redução da sua degradação, pela sua transferência do compartimento extravascular para o intravascular e pelo aumento na síntese de outras proteínas a fim de se manter a pressão oncótica (na cirrose, há aumento na produção de gamaglobulinas, e na síndrome nefrótica de, -2-macroglobulina). ◗ A utilização de garrote/torniquete para venopunção por tempo prolongado, em geral por mais de 3 minutos, pode elevar falsamente os níveis de albumina (o aumento da pressão hidrostática concentra proteínas e outros elementos celulares no espaço intravascular). ◗ Sua presença na urina é geralmente considerada anormal, embora possa se elevar após intensa atividade física. LEITURAS SUGERIDAS AMERICAN Association for Clinical Chemistry. Washington: AACC, c2008. Disponível em: <http://www.aacc. org>. Acesso em: 4 mar. 2011. FELDMAN, M.; FRIEDMAN, L. S.; BRANDT, L. J. (Ed.). Sleisenger & Fordtran’s gastrointestinal and liver disease: pathophysiology, diagnosis, management. 8th ed. Philadelphia: Saunders, 2006. FLEURY: medicina e saúde. São Paulo: Fleury, c2011. Disponível em: <http://www.fleury.com.br>. Acesso em: 4 mar. 2011. MCPHERSON, R. A.; PINCUS, M. R. Henry’s clinical diagnosis and management by laboratory methods. 21st ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2006. Soares_Parte01__001-043.indd 20 08/02/12 08:48 JOSÉ LUIZ MÖLLER FLÔRES SOARES GABRIEL SCALCO INDICAÇÃO ◗ Investigação de doenças neuromusculares ALDOLASE, DOSAGEM SÉRICA DE Aldolase, dosagem sérica de MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro Metodologia ◗ Cinético UV (atividade enzimática) INTERPRETAÇÃO Valores normais ◗ Neonatos: 32 U/L ◗ Crianças: 16 U/L ◗ Adultos: 1-8 U/L Os valores podem estar elevados em ◗ Miopatias inflamatórias − Dermatomiosite e polimiosite − Miosite por corpúsculo de inclusão − Miosite associada a outras colagenoses − Miosite associada a vasculites − Sarcoidose ◗ Miopatias infecciosas ◗ Distrofias musculares − Distrofia muscular de Duchenne − Distrofia muscular de Becker − Distrofia muscular fáscio-escápulo-umeral − Distrofia muscular de cinturas − Distrofia miotônica ◗ Rabdomiólise − Trauma e/ou lesão por esmagamento e/ou queimaduras − Oclusão arterial aguda − Crise convulsiva − Delirium tremens − Hipofosfatemia ou hipocalemia graves ◗ Miopatia induzida por fármacos ou drogas − Estatinas − Fibratos − Colchicina − Penicilamina − Antimaláricos (cloroquina, hidroxicloroquina) − Zidovudina (AZT) − Álcool − Cocaína ◗ Síndrome neuroléptica maligna ◗ Hipertermia maligna ◗ Hipotireoidismo ◗ Acromegalia ◗ Esclerose lateral amiotrófica ◗ Miopatia iatrogênica Soares_Parte01__001-043.indd 21 21 08/02/12 08:48 ALDOSTERONA, DOSAGEM SÉRICA DE ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ − Injeção intramuscular − Eletroneuromiografia − Cardioversão elétrica − Cirurgia Exercício físico vigoroso Infarto agudo do miocárdio Miocardite Infarto cerebral Trauma craniencefálico Hepatopatias LEMBRETES ◗ A aldolase é uma enzima da via glicolítica, encontrada em todos os tecidos, mas predominantemente no músculo esquelético, fígado e cérebro. ◗ A creatinoquinase (CK) é mais sensível e específica do que a aldolase, embora eventualmente a aldolase possa estar aumentada em certas miopatias com CK normal. LEITURAS SUGERIDAS FIRESTEIN, G. S. et al. Kelley’s textbook of rheumatology. 8th ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2008. WALLACH, J. Interpretation of diagnostic tests. 8th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007. Aldosterona, dosagem sérica de 22 VINÍCIUS DAUDT MORAIS LEO SEKINE INDICAÇÕES ◗ Investigação de hipertensão arterial sistêmica secundária, em particular quando há suspeita de hiperaldosteronismo primário. ◗ Diagnóstico diferencial de distúrbios hidreletrolíticos. ◗ Avaliação da produção suprarrenal de aldosterona, em especial na suspeita de hipoaldosteronismo, síndrome de Bartter ou pseudo-hipoaldosteronismo. MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro (jejum mínimo de 3 h) Metodologia ◗ Radioimunoensaio ◗ A coleta deve ser realizada preferencialmente pela manhã, entre 7 e 10 h. Recomenda-se permanecer 2 h em pé antes da coleta, parado ou andando. INTERPRETAÇÃO Observar os valores de referência do laboratório no qual o exame for realizado. Valores normais ◗ Dieta normal – 100-200 mEq/dia − Decúbito: 3-9 ng/dL − Ortostatismo: 4-30 ng/dL − Amostra da veia suprarrenal: 200-400 mg/dL ◗ Dieta hipossódica Soares_Parte01__001-043.indd 22 08/02/12 08:48 Os valores podem estar elevados em ◗ Hiperaldosteronismo primário − Adenoma produtor de aldosterona (35%) − Hiperplasia bilateral idiopática (60%) − Hiperplasia suprarrenal primária ou unilateral (2%) − Carcinoma adrenocortical produtor de aldosterona (⬍ 1%) − Hiperaldosteronismo familiar (tipo I e II) (⬍ 2%) − Adenoma ou carcinoma ectópico produtor de aldosterona (⬍ 0,1%) ◗ Hiperaldosteronismo secundário − Doença renovascular − Uso de diuréticos − Insuficiência cardíaca − Cirrose − Doença renal − Neoplasia secretora de renina − Toxemia da gravidez − Hipertensão maligna − Uso de contraceptivos hormonais − Síndrome de Bartter − Dieta com restrição salina significativa ALDOSTERONA, DOSAGEM SÉRICA DE − Decúbito: 12-36 ng/dL − Ortostatismo: 17-137 ng/dL Os valores podem estar diminuídos em ◗ Doença de Addison ◗ Hipoplasia suprarrenal ◗ Hiperplasia suprarrenal congênita (deficiência de 21-hidroxilase e 3-beta-hidroxiesteroide desidrogenase) ◗ Pseudo-hipoaldosteronismo tipos I e II ◗ Hipoaldosteronismo hiporreninêmico ◗ Deficiência congênita de aldosterona sintase ◗ Dieta hipersódica ◗ Indução por fármacos (p. ex., uso prolongado de heparina) ◗ Disfunção do sistema nervoso autônomo ◗ Hiporreninismo idiopático ◗ Associação à insuficiência renal leve (especialmente nefropatia diabética e algumas nefropatias intersticiais) 23 LEMBRETES ◗ É o principal mineralocorticoide secretado pela zona glomerular do córtex suprarrenal. Estimula o túbulo distal na reabsorção renal de sódio e excreção de potássio. ◗ A quantidade de sal ingerida na dieta ou em medicações, como anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), diuréticos, betabloqueadores, esteroides, inibidores da IECA e anticoncepcionais orais, pode afetar os resultados do teste (suspender, se possível, essas substâncias por 2-4 semanas antes da coleta). ◗ Os pacientes não devem estar hipocalêmicos no momento da coleta do exame, sob pena de resultado falso-negativo. ◗ A expansão do volume plasmático (alta ingesta de sal, infusão de 2 litros de solução salina em 4 horas ou deoxicorticosterona) suprime os níveis de aldosterona em 50-80% do valor basal em pacientes hipertensos sem hiperaldosteronismo, mas não naqueles com hiperaldosteronismo primário. ◗ Os valores de referência diminuem de 30-50% com o aumento da idade. A aldosterona plasmática é normal em pacientes hipertensos em decúbito e em indivíduos não hipertensos sem hiperaldosteronismo e aumenta de 2-4 vezes após 4 horas de ortostatismo; eleva-se mais de 33% no hiperaldosteronismo devido à hiperplasia suprarrenal, diferentemente do adenoma, no qual não há essa elevação postural. ◗ O teste de rastreamento para HAS secundária deve ser realizado com uma coleta matinal (preferencialmente às 8 h) da concentração plasmática de aldosterona (CPA), associada à da atividade da renina plasmática (ARP). O uso dos antagonistas dos receptores da aldosterona (espironolactona e eplerenona) impossibilita a correta interpretação dos dados e não deve ser iniciado antes Soares_Parte01__001-043.indd 23 17/02/12 15:56 ALUMÍNIO, DOSAGEM DE ◗ ◗ ◗ ◗ da definição do diagnóstico. Se o paciente já estiver em uso de tais medicações, elas devem ser suspensas, e a coleta, realizada em 6 semanas. Os níveis de aldosterona diminuem significativamente em pacientes críticos, portanto sua dosagem não deve ser realizada nessas circunstâncias. Estresse e exercício extenuante podem elevar seus níveis. O uso de IECA e bloqueadores dos receptores da angiotensina podem falsamente elevar a ARP em pacientes com aldosteronismo primário. Portanto, em pacientes em uso de tais medicações, a relação CPA/ARP normal não excluirá esse diagnóstico. O valor médio da CPA/ARP, em indivíduos normais e em pacientes com hipertensão essencial, é de 4-10, comparado a valores superiores a 30 no hiperaldosteronismo primário. A combinação de CPA 20 mg/dL (555 pmol/L) e relação CPA/ARP 30 tem sensibilidade e especificidade de 90% para o diagnóstico de adenoma produtor de aldosterona. Em uma população selecionada, o valor preditivo positivo e negativo desses achados foi de 70 e 90% respectivamente. LEITURAS SUGERIDAS GALLAY, B. J. et al. Screening for primary aldosteronism without discontinuing hypertensive medications: plasma aldosterone-renin ratio. Am J Kidney Dis, v. 37, n. 4, p. 699-705, 2001. KRONENBERG, H. M. et al. Williams textbook of endocrinology. 11th ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2008. MCPHERSON, R. A.; PINCUS, M. R. Henry’s clinical diagnosis and management by laboratory methods. 21st ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2006. WALLACH, J. Interpretation of diagnostic tests. 8th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007. WEINBERGER, M. H.; FINEBERG, N. S. The diagnosis of primary aldosteronism and separation of two major subtypes. Arch Intern Med, v. 153, n. 18, p. 2125-2129, 1993. 24 Alumínio, dosagem de EMELINE MOREIRA MARÍLIA DUARTE DALMOLIN INDICAÇÃO ◗ Suspeita de intoxicação por alumínio MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro ◗ Urina ◗ Líquido de diálise Metodologia ◗ Espectroscopia/espectrometria INTERPRETAÇÃO Dosagem sanguínea ◗ Valores normais: 10 g/L Dosagem urinária ◗ Valores normais: 200 g/L A relação entre os níveis urinários e os desfechos clínicos não está bem estabelecida. Soares_Parte01__001-043.indd 24 08/02/12 08:48 AMICACINA, DOSAGEM SÉRICA DE LEMBRETES ◗ Pessoas empregadas em tarefas de soldagem, processamento ou fabricação de alumínio, de cerâmica ou de explosivos podem ser expostas a aerossóis de alumínio, sendo suscetíveis ao desenvolvimento de pneumoconiose característica. ◗ Visto que a excreção de alumínio é predominantemente renal, a intoxicação é um risco para as pessoas com insuficiência renal que tomam antiácidos contendo alumínio, e crianças que não tenham falência renal podem ter seus níveis plasmáticos elevados após a administração desses antiácidos. ◗ Encefalopatia e osteodistrofia associada à hemodiálise são atribuídas ao acúmulo de alumínio no líquido de diálise. Essas doenças têm desaparecido largamente desde que o alumínio foi removido da água utilizada para preparar o dialisado. ◗ Níveis plasmáticos de alumínio têm sido avaliados como preditores de doença óssea em pacientes com insuficiência renal crônica. Concentração acima de 40 g/L tem sensibildade de 65,2% e especificidade de 76,5% para doença óssea associada ao alumínio. ◗ A toxicidade do alumínio é caracterizada por encefalopatia, anemia microcítica e osteomalacia. Suspeita-se que um longo tempo de exposição possa resultar em um aumento na incidência de sintomas neuropsiquiátricos. LEITURAS SUGERIDAS GOLDMAN, L.; AUSIELLO, D. (Ed.). Cecil medicine. 23rd ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2008. SHANNON, M. W.; BORRON, S. W.; BURNS, M. J. (Ed.). Haddad and Winchester’s clinical management of poisoning and drug overdose. 4th ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2007. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Environmental health criteria 118: inorganic mercury. Geneva: WHO, 1991. Amicacina, dosagem sérica de 25 VINÍCIUS DAUDT MORAIS INDICAÇÃO ◗ Monitoração de nível terapêutico MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro; jejum mínimo de 3 h Metodologia ◗ Imunoensaio de polarização fluorescente. ◗ Recomenda-se que a 1a dosagem seja realizada após administração de, no mínimo, 3 doses de amicacina. ◗ Duas coletas devem ser realizadas: uma no vale, 30 min antes da próxima dose ou imediatamente antes da administração do antibiótico; outra no pico, precisamente após 1 h da aplicação do medicamento por via intramuscular ou, então, depois de meia hora do término da administração intravenosa da amicacina (infusão com duração de 30 min). INTERPRETAÇÃO Nível terapêutico ◗ Concentração mínima (Cmin – concentração sérica 30 min antes da dose seguinte da medicação): 5-10 g/mL ◗ Concentração máxima ou de pico (Cmax – concentração sérica 30-45 min após a última dose intravenosa ou 60 min após última dose intramuscular da medicação): 20-25 g/mL Soares_Parte01__001-043.indd 25 08/02/12 08:48 AMILASE E ISOENZIMAS, DOSAGEM DE Nível tóxico ◗ Concentração mínima: 10 g/mL ◗ Concentração máxima: 30 g/mL LEITURAS SUGERIDAS BRUNTON, L. L.; LAZO, J. S.; PARKER, K. L. Goodman & Gilman: as bases farmacológicas da terapêutica. 11. ed. Rio de Janeiro: McGraw Hill, 2007. WALLACH, J. Interpretation of diagnostic tests. 8th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007. Amilase e isoenzimas, dosagem de ALICE GALLO DE MORAES RAFAELA KOMOROWSKI DAL MOLIN CARLOS FERNANDO FRANCESCONI INDICAÇÕES ◗ Diagnóstico de pancreatite aguda ou de pancreatite crônica em momento de agudização; também é útil na avaliação de possível comprometimento do pâncreas causado por trauma fechado ou cirurgia abdominal. MÉTODO DO EXAME Material biológico 26 ◗ Soro refrigerado, sem anticoagulante; jejum de 4 h ◗ Urina de 24 h − Amilase em amostra sérica e urinária é estável por uma semana em temperatura ambiente e por pelo menos seis meses sob refrigeração; amostras com heparina não interferem na análise. Metodologia ◗ Cinético colorimétrico (urina e soro – isoenzimas) INTERPRETAÇÃO Valores ◗ Soro (isoenzimas) − Amilase salivar: 53-102 UI/L − Amilase pancreática: 8-53 UI/L − Amilase total: até 110 UI/L ◗ Urina: − Até 450 UI/L (ou até 280 UI/L em urina de 2 h) − 1,2-3,8% (clearance de amilase/clearance de creatinina) Os valores podem estar aumentados em ◗ Pancreatite aguda de etiologia − Biliar − Alcoólica ◗ Pancreatite aguda induzida por medicamentos − Ácido aminossalicílico − Enalapril − Antirretrovirais (DDI e lamivudina) − Azatioprina − Corticosteroides − Ácido etacrínico Soares_Parte01__001-043.indd 26 08/02/12 08:48 ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ Soares_Parte01__001-043.indd 27 AMILASE E ISOENZIMAS, DOSAGEM DE ◗ − Furosemida − Tiazídicos − Mercaptopurina − Sulfonamidas − Sulfassalazina,mesalazina − Tetraciclina − Estrogênios − Ácido valproico (especialmente em crianças) Pancreatite como complicação de infecção − Bacteriana: micoplasma, legionela, leptospira e salmonela − Viral: varicela-zóster, citomegalovírus (CMV), Coxsackie, herpes − Parasitária: toxoplasma, Cryptosporidium, áscaris Pancreatite crônica agudizada (alcoólica ou de outra etiologia) Complicações de pancreatite − Pseudocisto − Abscesso − Ascite Colecistite aguda Coledocolitíase (elevação da amilase sérica e urinária) Trauma pancreático − Após trauma abdominal − Consequente à colangiopancreatografia retrógrada endoscópica Obstrução do ducto pancreático por − Cálculo − Carcinoma − Parasitas (Ascaris lumbricoides) − Pancreas divisum − Espasmo do esfincter de Oddi funcional ou induzido por fármacos: opioides, metilcolina, colinérgicos (elevações de 2-15 vezes o limite superior da normalidade – LSN) Hepatite fulminante Trauma hepático (vascular, laceração, hematoma) Doenças das glândulas salivares − Parotidite (caxumba) − Inflamação supurativa − Obstrução ductal por cálculos ou radiação Neoplasias malignas − Pâncreas (~ 10% dos pacientes) − Pulmão − Ovário − Esôfago − Mama − Cólon − Mieloma múltiplo Isquemia mesentérica Perfuração gastrintestinal Úlcera péptica perfurada Ruptura esofágica Pós-operatório de gastrectomia ( 2 o normal em 1/3 dos pacientes) Apendicite Peritonite Ingestão alcoólica excessiva aguda Insuficiência renal (raramente 3 o normal) Cetoacidose diabética (~ 60% dos casos) Gestação ectópica rota Salpingite Hipotensão grave Hipoparatireoidismo Síndrome de Sjögren Grandes queimados Hiperamilasemia pancreática familiar 27 08/02/12 08:48 AMILASE E ISOENZIMAS, DOSAGEM DE Os valores podem estar diminuídos em ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ Pancreatite fulminante Pancreatite crônica avançada Fibrose cística avançada Lesão hepática grave − Hepatite − Pré-eclâmpsia − Eclâmpsia Etilismo Hipertrigliceridemia Câncer de pâncreas Insuficiência cardíaca congestiva Tireotoxicose grave Os níveis podem ser normais em ◗ Pancreatite crônica recidivante ◗ Pancreatite devido à hipertrigliceridemia ◗ Pancreatite aguda de etiologia alcoólica (frequentemente) LEMBRETES ◗ A amilase sérica é composta dos tipos pancreático (~ 40%) e salivar (~ 60%) – as chamadas isoenzimas. O conteúdo de amilase na saliva é cerca de 700 maior do que o sérico. ◗ A elevação da amilase na pancreatite aguda começa em 3-6 h, aumenta rapidamente dentro de 8 h em 75% dos pacientes e alcança o pico em 20-30 h, podendo persistir por 48-72 h. ◗ Na pancreatite aguda, a amilase sérica estará 4-6 acima de seu nível normal; na pancreatite crônica, estará moderadamente elevada, cerca de 2 seus níveis normais (embora 25% dos pacientes com pancreatite crônica se apresentem com amilase normal). 28 Tabela 1 VALORES DE AMILASE PARA DIAGNÓSTICO DE PANCREATITE AGUDA* Sensibilidade 85% Especificidade 91% Valor preditivo positivo 100% * Quando elevação é 4 o LSN. ◗ Para diagnóstico de pancreatite aguda, nas primeiras 12-24 h da inflamação pancreática, a sensibilidade pode chegar a mais de 95%. ◗ A intensidade do aumento da amilase sérica não se correlaciona com a gravidade do dano pancreático, nem ao prognóstico do paciente. ◗ Os níveis de amilase são normais ou quase normais em aproximadamente 20% dos pacientes com pancreatite aguda. ◗ Por haver mais lipase que amilase no pâncreas, o índice lipase/amilase é capaz de predizer se a pancreatite foi induzida por álcool utilizando-se múltiplos dos limites superiores da normalidade: índice 3 é preditivo, 5, diagnóstico. ◗ Elevação marcada da amilase ( 2.000 UI/L) também favorece origem do trato biliar. ◗ Em pacientes com pancreatite e hiperlipidemia, níveis normais de amilase sérica e urinária são frequentemente encontrados, talvez por efeito supressor dos triglicérides na mensuração laboratorial da amilase. ◗ Elevações da amilase em líquido de ascite podem corresponder a: pancreatite, ruptura de pseudocisto pancreático, ruptura de ducto pancreático, câncer pancreático, tumores abdominais que secretam amilase, perfuração intestinal e perfuração de víscera oca. Elevações da amilase em líquido pleural sugerem: perfuração de esôfago, pancreatite com formação de fístula. Nos líquidos cavitários, o valor deve ser pelo menos 3 vezes superior ao do soro para ter significado diagnóstico. ◗ Nos pacientes com insuficiência renal crônica, tanto a amilase sérica quanto a urinária podem estar falsamente elevadas, por diminuição de sua depuração. Soares_Parte01__001-043.indd 28 08/02/12 08:48 AMIODARONA, DOSAGEM SÉRICA DE ◗ Macroamilasemia: aumento da amilase sérica, sem amilasúria. A amilase sérica está normal, porém ligada à proteína não filtrável pelo glomérulo. Não tem implicação clínica, mas deve ser diagnosticada por meio do índice clearence de amilase/clearance de creatinina, para que a macroamilasemia não comprometa o diagnóstico de doenças que, efetivamente, aumentem a amilase sérica. Deve ser lembrada em casos de pacientes com níveis séricos de amilase aumentados, porém sem quadro clínico compatível com doença pancreática que os justifique. ◗ A dosagem de amilase na urina é utilizada para monitorar a evolução de pacientes submetidos a transplante de pâncreas, nos quais é realizada a drenagem para vias urinárias; esperam-se valores muito elevados com indicativos de boa evolução. Os níveis urinários refletem as mudanças séricas com um atraso de cerca de 6-10 h. ◗ No câncer pancreático, os níveis podem estar diminuídos por não existirem mais células não cancerosas ainda capazes de produzir amilase. LEITURAS SUGERIDAS FELDMAN, M.; FRIEDMAN, L. S.; BRANDT, L. J. (Ed.). Sleisenger & Fordtran’s gastrointestinal and liver disease: pathophysiology, diagnosis, management. 8th ed. Philadelphia: Saunders, 2006. FROSSARD, J. L.; STEER, M. L.; PASTOR, C. M. Acute pancreatitis. Lancet, v. 371, n. 9607, p. 143-152, 2008. GOLDMAN, L.; AUSIELLO, D. (Ed.). Cecil medicine. 23rd ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2008. MCPHERSON, R. A.; PINCUS, M. R. Henry’s clinical diagnosis and management by laboratory methods. 21st ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2006. PACHECO, R. C.; OLIVEIRA, L. C. M. de. Relação lipase/amilase nas pancreatites agudas de causa biliar e nas pancreatites agudas/crônicas agudizadas de causa alcoólica. Arq Gastroenterol, v. 44, n. 1, p. 35-38, 2007. PAPACHRISTOU, G. I.; WHITCOMB, D. C. Predictors of severity and necrosis in acute pancreatitis. Gastroenterol Clin North Am, v. 33, n. 4, p. 871-890, 2004. 29 Amiodarona, dosagem sérica de GABRIEL SCALCO INDICAÇÃO ◗ Monitorar nível terapêutico de amiodarona MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro Obs.: Paciente recebendo fármacos por infusão intravenosa deve fazer coleta no braço oposto. Metodologia ◗ ◗ ◗ ◗ Cromatografia líquida de alto desempenho – HPLC Informar uso de medicamentos e horário da última dose. O paciente deve estar com, pelo menos, 2 dias de dosagem estável da medicação. Caso o medicamento seja usado apenas 1 vez ao dia, a coleta deve ser feita de 12–24 h após a tomada. ◗ Caso o medicamento seja usado 2 ou mais vezes ao dia, a coleta deve ser feita dentro do período de 1 h antes da hora habitual. ◗ Em caso de suspeita de intoxicação, pode ser coletada a qualquer momento (anotar o horário da tomada). INTERPRETAÇÃO ◗ Nível terapêutico: 1,5-2,5 g/mL ◗ Nível tóxico: 2,5 g/mL Soares_Parte01__001-043.indd 29 08/02/12 08:48 AMNIOCENTESE LEMBRETES ◗ A amiodarona tem meia-vida de 100 dias. ◗ O hipertireoidismo induzido por esse fármaco pode ocorrer de 4 meses a 3 anos após o início do tratamento. ◗ A amiodarona pode induzir a toxicidade que leve à tireoidite destrutiva, causando hipertireoidismo, que, após um período de tempo, pode ser seguido de hipotireoidismo. LEITURAS SUGERIDAS MCPHEE, S. J.; PAPADAKIS, M. A.; RABOW, M. W. Current medical diagnosis and treatment 2011. New York: McGraw-Hill, 2010. UPTODATE. Waltham: UpToDate, c2011. Disponível em: http://www.uptodateonline.com/online/about/ index.html. Acesso em: 4 fev. 2011. WALLACH, J. Interpretation of diagnostic tests. 8th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007. Amniocentese FABÍOLA ZOPPAS FRIDMAN FERNANDA N. URATANI INDICAÇÕES 30 ◗ Determinação do cariótipo fetal ◗ História familiar ou antecedente de criança com anormalidade cromossômica, defeito do tubo neural, anomalias congênitas ◗ Anormalidades anatômicas na ultrassonografia fetal ◗ Idade materna 35/40 anos ◗ Ansiedade materna ◗ Doença hemolítica fetal para determinar bilirrubina no líquido amniótico ◗ Investigação de paternidade ◗ Diagnóstico de infecções congênitas e infecção ovular ◗ Diagnóstico de erros inatos do metabolismo ◗ Determinação de maturidade pulmonar fetal CONTRAINDICAÇÕES ◗ Relativa: Isoimunização Rh. MÉTODO DO EXAME ◗ Realização de ultrassonografia prévia para avaliar vitalidade fetal, idade gestacional, placenta e quantidade de líquido amniótico (LA). ◗ A idade gestacional mais apropriada é a partir de 15/16 semanas. ◗ A paciente deve ser orientada e assinar termo de consentimento prévio ao procedimento (risco de perda fetal de 0,5-1,0%, sem significância estatística). ◗ Coleta de LA por punção via abdominal, preferencialmente orientada por ultrassonografia. ◗ Realizam-se antissepsia da pele e colocação de campo estéril; o transdutor é envolto em saco plástico estéril, e aplica-se gel estéril na pele da paciente; emprega-se seringa de 20 mL com agulha 20 ou 22 g para punção e coletam-se cerca de 20 mL de líquido; o líquido é enviado ao laboratório na própria seringa após seu fechamento com agulha e, muitas vezes, envolto em papel fotoprotetor conforme o tipo de exame a ser realizado. ◗ Realizam-se curativo e solicita-se à paciente repouso por 24 h e analgésicos, se necessário, como hioscina ou paracetamol. Soares_Parte01__001-043.indd 30 08/02/12 08:48 AMÔNIA, DOSAGEM DE INTERPRETAÇÃO ◗ O cariótipo fetal estará pronto entre 14-21 dias. ◗ Para pesquisa de infecção fetal, solicita-se teste de reação em cadeia da polimerase (PCR) no LA, podendo-se investigar toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes simples, parvovírus, adenovírus e Coxsackie. ◗ Para dosagem de bilirrubinas no LA, o resultado é rápido, bem como para avaliar maturidade pulmonar fetal, onde se verifica relação lecitina/esfingomielina, pesquisa de fosfadilglicerol e teste de Clements. ◗ Em suspeita de infecção ovular, solicitam-se Gram e cultural e dosagem de glicose no LA (diminuída em casos de infecção), com resultados que variam entre 1 e 3 dias. LEMBRETES ◗ Complicações do método − Risco de abortamento e perda fetal − Vazamento de LA − Dor ou desconforto abdominal − Infecção intra-amniótica − Sangramento − Doença hemolítica perinatal − Transmissão vertical do HIV ◗ Não esquecer de solicitar o tipo de exame do LA: cariótipo, testes de PCR, Gram e cultural. ◗ Em pacientes Rh-negativo, deve-se administrar uma ampola de imunoglobulina anti-Rh-D humana após o procedimento. ◗ Em gestantes infectadas com HIV, preconiza-se antibioticoprofilaxia prévia à amniocentese. ◗ A quantidade de líquido retirada com a amniocentese é reposta naturalmente em 24 h, por meio da diurese fetal. ◗ O vazamento de LA pode ocorrer em até 1% dos casos, mas, na maioria das vezes, é pequeno e apresenta bom prognóstico, com autorresolução em alguns dias. LEITURAS SUGERIDAS 31 ALFIREVIC, Z.; SUNDBERG, K.; BRIGHAM, S. Amniocentesis and chorionic villus sampling for prenatal diagnosis. Cochrane Database Syst Rev, n. 3, 2003. CD003252. ISFER, E. V.; SANCHEZ, R. de C.; SAITO, M. Medicina fetal: diagnóstico pré-natal e conduta. Rio de Janeiro: Revinter, 1996. ISFER, E. V.; SANCHEZ, R. de C.; SAITO, M. Ultra-som e sua importância em medicina fetal. In: ISFER, E. V.; SANCHEZ, R. de C.; SAITO, M. Medicina fetal: diagnóstico pré-natal e conduta. Rio de Janeiro: Revinter, 1996. cap. 5. MAGALHÃES, J. A. de A. Amniocentese ou BVC em gestações múltiplas. In: GOLLOP, T. R.; MORON, A. F.; MONTENEGRO, C. A. B. (Org.). Tópicos recentes em medicina fetal. São Paulo: Frôntis, 2000. p. 151-153. PAPICH, H.; MAGALHÃES, J. A. A. Amniocentese. In: ISFER, E. V.; SANCHEZ, R. de C.; SAITO, M. Medicina fetal: diagnóstico pré-natal e conduta. Rio de Janeiro: Revinter, 1996. cap. 19. Amônia, dosagem de VINÍCIUS BUAES DAL´MASO CARLOS FERNANDO FRANCESCONI INDICAÇÕES ◗ Suspeita de encefalopatia hepática ◗ Diagnóstico diferencial de pacientes com letargia, vômitos ou alteração do estado mental sem etiologia definida ◗ Deterioração neurológica inexplicada em recém-nascido Soares_Parte01__001-043.indd 31 08/02/12 08:48 AMÔNIA, DOSAGEM DE MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ ◗ ◗ ◗ Soro/plasma Líquido cerebrospinal Urina Fezes Metodologia ◗ Fotometria, difusão isotérmica, indofenol, enzimático, resina, Berthelot, titulometria. ◗ Comparada à amostra venosa, a concentração arterial de amônia define com maior acurácia a sua quantidade na barreira hematencefálica. Entretanto, não se mostrou clinicamente mais útil do que a concentração venosa. ◗ O plasma é preferido ao soro, visto que a amônia pode ser gerada durante a coagulação; o plasma é heparinizado após jejum de 4 h. ◗ Separar imediatamente as células sanguíneas do plasma; a hemólise pode alterar os resultados (os eritrócitos contêm 3 vezes mais amônia que o plasma). ◗ Resultados falso-positivos podem ocorrer se a amostra for armazenada em frasco previamente limpo com detergentes contendo amônia e com o uso de torniquete para a coleta. ◗ Não se deve comer, beber (exceto água) ou fumar nas 8 a 12 h que antecedem a coleta, bem como se deve evitar atividade física intensa. ◗ Se houver necessidade de transporte, deve-se conservar a amostra no gelo; a amostra mantém-se estável por, no máximo, 3 h em refrigeração e 24 h em condições de congelamento. INTERPRETAÇÃO Valores normais 32 ◗ Plasma: 17-31 mol/L ◗ Observar os valores de referência oferecidos pelo laboratório. Pode também ser expresso em g/dL (10-80 g/dL) e variar com a idade. Os valores podem estar elevados em ◗ Alguns erros inatos do metabolismo (p. ex., defeitos no ciclo da ureia, nos aminoácidos, nos ácidos orgânicos e na oxidação de ácidos graxos) − Síndrome HHH: hiperornitinemia, hiperamonemia e homocitrulinúria ◗ Hiperamonemia transitória no recém-nascido ◗ Infecção do trato geniturinário com distensão vesical e estase ◗ Ureterossigmoidostomia ◗ Doenças hematológicas: leucemia aguda e após transplante de medula óssea ◗ Após quimioterapia em altas doses ◗ Hepatopatia grave − Falência hepática − Encefalopatia hepática (porém não há boa correlação com o grau da encefalopatia) − Síndrome de Reye − Cirrose terminal − Anastomose porto-cava: cirúrgica ou após colocação de TIPS – (transjugular intrahepatic porto-systemic shunt) ◗ Insuficiência renal ◗ Nutrição parenteral total (NPT) ◗ Exercícios vigorosos ◗ Tabagismo ◗ Hipotireoidismo ◗ Produção aumentada pela microbiota intestinal − Elevada ingesta proteica − Sangramento gastrintestinal ◗ Uso de fármacos − Diuréticos − Ácido valproico − Acetazolamida − Barbitúricos Soares_Parte01__001-043.indd 32 08/02/12 08:48 Os valores podem estar diminuídos em ◗ Produção diminuída pelas bactérias intestinais pelo uso de − Canamicina − Neomicina − Tetraciclina − Lactulose ◗ Absorção intestinal diminuída ANAERÓBIOS, DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO POR − Álcool − Heparina − Narcóticos − Asparaginase − Polimixina B − 5-Fluorouracil (transitório) ◗ Intoxicação por salicilato LEMBRETES ◗ A maior parte da amônia corporal é produzida por bactérias intestinais a partir da degradação de aminoácidos junto com a hidrólise da glutamina nos rins. Ela é rapidamente absorvida pelo intestino e transformada no fígado em ureia (ou glutamina), em um ciclo que envolve seis diferentes enzimas (ciclo da ureia), sendo, então, eliminada pelos rins. ◗ Potencialmente tóxica para o sistema nervoso central. ◗ O grau de correlação entre a dosagem de amônia e a gravidade da encefalopatia hepática continua controversa. Aproximadamente 10% desses pacientes apresentam níveis normais de amônia no sangue. Há evidências de que a dosagem normal de amônia não excluía encefalopatia hepática, e a dosagem seriada pode não se correlacionar com a evolução clínica. ◗ Hiperamonemia pode ser um preditor de mau prognóstico em pacientes submetidos a transplante de pulmão ortotópico e com insuficiência hepática aguda. ◗ O teste respiratório da amônia também pode ser mensurado, porém a infecção por Helicobacter pylori parece interferir nos resultados (aumento da produção de amônia no estômago). ◗ Pode ocorrer elevação transitória em 0,5-3 h e novamente em 3,5-6 h após ingesta hiperproteica em pessoas normais, sendo esse efeito maior em hepatopatas. O exercício físico pode induzir a liberação de amônia pelo tecido esquelético. 33 LEITURAS SUGERIDAS ARORA, S.; MARTIN, C. L.; HERBERT, M. Myth: interpretation of a single ammonia level in patients with chronic liver disease can confirm or rule out hepatic encephalopathy. CJEM, v. 8, n. 6, p. 433-435, 2006. FISCHBACH, F. T. A manual of laboratory and diagnostic tests. 7th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2004. JOHNSTON, D. E. Special considerations in interpreting liver function tests. Am Fam Physician, v. 59, n. 8, p. 2223-2230, 1999. WALLACH, J. Interpretation of diagnostic tests. 8th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007. Anaeróbios, diagnóstico da infecção por SILVANA V. SUPERTI ALEXANDRE P. ZAVASCKI DESCRIÇÃO DO AGENTE ◗ Bactérias anaeróbias são um vasto grupo de microrganismos que demonstram melhor crescimento quando incubadas em meio sem oxigênio (Quadro 1). Soares_Parte01__001-043.indd 33 08/02/12 08:48 ANAERÓBIOS, DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO POR PRINCIPAIS SÍNDROMES CLÍNICAS ◗ ◗ ◗ ◗ Infecções intra-abdominais Infecções pélvicas Infecções de pele e partes moles Abscessos (p. ex., pulmonar, cerebral) IDENTIFICAÇÃO ◗ Exames bacteriológicos de rotina geralmente não contemplam a pesquisa de bactérias anaeróbias, devendo-se, portanto, adicionar a solicitação quando essa for uma hipótese diagnóstica. ◗ O uso de meios seletivos, seguido de pronta incubação em anaerobiose, pode fornecer identificação rápida e presuntiva de importantes grupos de anaeróbios, baseado em características distintivas, como resistência à bile, pigmentação das colônias, dupla zona de beta-hemólise ou presença, ao Gram, de células fusiformes. COLORAÇÕES ◗ A microscopia direta da amostra evidenciando a presença de uma microbiota mista e pleomórfica sugere a presença de bactérias anaeróbias. CULTURA 34 ◗ Amostras coletadas por punção e biópsias devem ser rapidamente inoculadas em meios de transporte anaeróbios para envio imediato ao laboratório. Incubar a amostra por 24-72 h em estufa a 35 1ºC, em condições de anaerobiose. ◗ Quando culturas para anaeróbios forem solicitadas em infecções intra-abdominais, ao menos 0,5 mL de fluido ou 0,5 g de tecido devem ser enviados ao laboratório para cultivo, em tubo de transporte para anaeróbios. ◗ Anaeróbios causam 2-5% dos casos de bacteremia clinicamente relevantes; em geral pertencem ao grupo Bacteroides fragilis, Clostridium spp. e Peptostreptococcus spp. A relação custo-benefício da pesquisa de anaeróbios como rotina em hemoculturas deve ser avaliada em cada instituição. Frascos específicos podem ser empregados para esse fim (1-10 mL), utilizando-se métodos automatizados. ◗ A recuperação de anaeróbios no líquido de ascite é acelerada quando o fluido for inoculado em frascos de hemocultura para anaeróbios; essa inoculação não é recomendada quando houver pus no abdome. BIOLOGIA MOLECULAR ◗ Testes pouco aplicáveis à clínica; úteis para a identificação dos microrganismos em nível de espécie. LEMBRETES ◗ O envio da amostra clínica ao laboratório em condições de anaerobiose é fator crucial para o rendimento das culturas para germes anaeróbios estritos, uma vez que a maioria dessas bactérias não tolera a presença de oxigênio. ◗ Infecções por bactérias anaeróbias são, na maioria das vezes, polimicrobianas, havendo a participação de bactérias anaeróbias facultativas (aeróbias). ◗ Um resultado de cultura positivo para bactérias anaeróbias de qualquer sítio não estéril do corpo humano deve ser criteriosamente avaliado, uma vez que elas são predominantes na microbiota normal. Alguns critérios que podem auxiliar na interpretação: presença de gás nos tecidos, odor pútrido, localização da infecção próxima a superfícies mucosas, necrose tecidual, formação de abscessos e associação a neoplasias malignas (intestinais, especialmente). ◗ A maioria das infecções por anaeróbios são tratadas empiricamente, devido às dificuldades em se isolar esses agentes. ◗ A maioria dos laboratórios não realiza teste de sensibilidade in vitro de bactérias anaeróbias para fármacos antimicrobianos. Soares_Parte01__001-043.indd 34 08/02/12 08:48 PRINCIPAIS BACTÉRIAS ANAERÓBIAS ENVOLVIDAS EM INFECÇÕES Bacilos gram-positivos Bacilos gram-negativos Cocos gram-positivos Cocos gram-negativos Esporulados Clostridium botulinum C. tetani C. difficile C. septicum C. ramosum Peptococcus niger Bacteroides fragilis Veilonella spp. Prevotella melaninogenica Porphyromonas spp. Peptostreptococcus spp. Fusobacterium nucleatum Prevotella melaninogenica Não esporulados Propionibacterium spp. Lactobacillus spp. Actinomyces spp. Bifidobacterium spp. ANDROSTENEDIONA, DOSAGEM SÉRICA DE Quadro 1 LEITURAS SUGERIDAS JAMES, P. A.; AL-SHAFI, K. M. Clinical value of anaerobic blood culture: a retrospective analysis of positive patient episodes. J Clin Pathol, v. 53, n. 3, p. 231-233, 2000. SONG, Y.; FINEGOLD, S. M. Peptostreptococcus, finegoldia, anaerococcus, peptoniphilus, veillonella, and other anaerobic cocci. In: MURRAY, P. R. et al. Manual of clinical microbiology. 9th ed. Washington: ASM, 2007. THOMPSON JR, R. B. Specimen collection, transport, and processing: bacteriology. In: MURRAY, P. R. et al. Manual of clinical microbiology. 9th ed. Washington: ASM, 2007. Androstenediona, dosagem sérica de 35 GABRIEL SCALCO GUILHERME ROLLIN INDICAÇÃO ◗ Investigação de hirsutismo ou virilização MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro Metodologia ◗ Cromatografia líquida e espectrometria de massa (LC-MS) INTERPRETAÇÃO Valores normais ◗ Crianças: 5-50 ng/dL ◗ Adultos: 50-250 ng/dL Os valores podem estar aumentados em ◗ Carcinoma suprarrenal secretor de androgênios (os valores podem ser bastante elevados) ◗ Síndrome de Cushing, especialmente quando houver hiperplasia suprarrenal bilateral, como na doença de Cushing e na síndrome do ACTH ectópico, e de forma menos importante quando associado a suprarrenal secretor de cortisol Soares_Parte01__001-043.indd 35 08/02/12 08:48 ANION GAP SÉRICO, DETERMINAÇÃO DO ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ Hiperplasia suprarrenal congênita por deficiência de 21-hidroxilase ou 11-hidroxilase Tumores ovarianos secretores de androgênios: pode ter valores bastante elevados Adrenarca prematura Hiperprolactinemia Síndrome dos ovários policísticos (SOP), apresenta valores elevados em mais de 50% dos casos Administração exógena de DHEA Os valores podem estar diminuídos em ◗ Insuficiência suprarrenal ◗ Hiperplasia suprarrenal congênita por deficiência de 17-hidroxilase e 3-hidroxiesteroide desidrogenase LEMBRETES ◗ Androstenediona, deidroepiandrostenediona (DHEA) e sulfato de deidroepiandrostenediona (S-DHEA) constituem os principais androgênios suprarrenais. ◗ A androstenediona é produzida pelo córtex suprarrenal e pelos ovários e testículos. É o precursor imediato para a conversão periférica em testosterona. ◗ Embora a atividade biológica direta dos androgênios suprarrenais seja mínima, eles são convertidos perifericamente em testosterona e diidrotestosterona, que são androgênios de ação potente. ◗ Em homens pós-púberes, os androgênios suprarrenais contribuem com apenas 5% dos androgênios ativos, sendo seu efeito fisiológico negligenciável; em homens pré-púberes, o seu excesso pode determinar aumento peniano e surgimento precoce de caracteres sexuais secundários masculinos. ◗ Em mulheres na menacma, os androgênios suprarrenais contribuem de forma substancial no total de androgênios ativos produzidos, variando entre 40-65% ao longo do ciclo mestrual, sendo, portanto, suas alterações clinicamente relevantes. ◗ Na investigação de hirsutismo e virilização, o nível sérico de androstenediona quando comparados aos de DHEA e S-DHEA não agrega informações adicionais, por isso é pouco utilizado nesse contexto clínico. 36 LEITURAS SUGERIDAS KRONENBERG, H. M. et al. Williams textbook of endocrinology. 11th ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2008. LAVIN, N. (Ed.). Manual of endocrinology and metabolism. 4th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins Health, 2009. WALLACH, J. Interpretation of diagnostic tests. 8th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007. Anion gap sérico, determinação do ALBERTO AUGUSTO ALVES ROSA ANDRÉ ANJOS DA SILVA LUCIANE MARIA FABIAN RESTELATTO INDICAÇÕES ◗ Análise dos distúrbios acidobásicos ◗ Diagnóstico de − Mieloma múltiplo − Intoxicações por lítio, brometo ou iodeto MÉTODO DO EXAME ◗ É calculado pela seguinte fórmula: AGS (anion gap sérico) = Na+ – (Cl– + HCO3–) Soares_Parte01__001-043.indd 36 08/02/12 08:48 Quadro 1 ALTERAÇÕES NO VALOR DO ANION GAP Aumento do anion gap Diminuição do anion gap Acidose metabólica Ceoacidose, acidose lática Envenenamento por tolueno Intoxicação por etanol ou etilenoglicol Insuficiência renal crônica Alteração laboratorial Hiponatremia por soro viscoso Hipercloremia na intoxicação por brometo Subestimação do sódio sérico Hipernatremia grave Hipertrigliceridemia Alteração laboratorial Sódio elevado Cloreto ou bicarbonato reduzidos Superestimação do cloreto sérico Superestimação do bicarbonato sérico Hiperalbuminemia Hipoalbuminemia Alcalose metabólica Gamopatia monoclonal IgG Alcalose respiratória Gamopatia policlonal Intoxicação por brometo Hiperfosfatemia grave Intoxicação por lítio Aumento de paraproteínas aniônicas Hipercalcemia Hiperparatireoidismo primário Diminuição de cátions não mensuráveis Hipocalcemia Hipocalemia Hipomagnesemia Hipermagnesemia Polimixina B Intoxicação por iodeto Mieloma múltiplo ANION GAP SÉRICO, DETERMINAÇÃO DO INTERPRETAÇÃO ◗ Valor normal: 8-16 mEq/L 37 LEMBRETES ◗ O valor normal do AG pode variar amplamente, refletindo tanto diferenças nos métodos utilizados para medir seus componentes, como variabilidade interindividual considerável. ◗ Uma diminuição do AG sérico é relativamente rara, sendo frequentemente resultado de erro laboratorial ou severa hipoalbuminemia. ◗ Na acidose lática, o aumento do AG costuma ser superior à diminuição do bicarbonato, enquanto na cetoacidose diabética o aumento do AG é igual à diminuição do bicarbonato. ◗ Em muitos casos, a identidade dos ânions que contribuem para o AG elevado pode ser determinada. Isso é particularmente verdadeiro quando o AG sérico é de 30 mEq/L, caso em que os ânions mais comuns encontrados são de lactato (acidose lática), -hidroxibutirato e acetoacetato (cetoacidose). ◗ AG de 20-29 mEq/L pode ocorrer na ausência de acidose orgânica em 25% dos pacientes. Limitações ◗ O AG é pouco eficaz em identificar pequenas mudanças nas concentrações dos íons, especialmente do lactato, mesmo quando elas seriam consideradas clinicamente significativas. ◗ Alterações iônicas simultâneas podem se anular, deixando o AG inalterado. ◗ Quando a acidose metabólica é de início bastante lento e a função renal está normal, o paciente pode ser capaz de excretar ânions suficientes para que o AG permaneça normal. ◗ Acidose mista: é possível resolver esse dilema de diagnóstico por meio do cálculo da variação do hiato aniônico dividida pela variação na concentração de bicarbonato. ◗ Ânions não identificáveis. ◗ Erro laboratorial. LEITURAS SUGERIDAS BARROS, E. et al. Nefrologia: rotinas, diagnóstico e tratamento. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1999. BRENNER, B. M. (Ed.). Brenner & Rector’s the kidney. 8th ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2008. Soares_Parte01__001-043.indd 37 08/02/12 08:48 ANION GAP URINÁRIO, DETERMINAÇÃO DO RIELLA, M. C. Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. ROSE, B. D.; POST, T. W. Clinical physiology of acid-base and electrolyte disorders. 5th ed. New York: McGraw-Hill, 2001. WALLACH, J. Interpretation of diagnostic tests. 7th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2000. Anion gap urinário, determinação do ALBERTO AUGUSTO ALVES ROSA ANDRÉ ANJOS DA SILVA LUCIANE MARIA FABIAN RESTELATTO INDICAÇÕES ◗ Diagnóstico diferencial das acidoses hiperclorêmicas ◗ Diagnóstico diferencial entre acidose tubular renal e perda extrarrenal de bicarbonato MÉTODO DO EXAME ◗ É calculado pela seguinte fórmula: AGU (anion gap urinário) = (Na+ urinário + K+ urinário) – Cl– urinário INTERPRETAÇÃO 38 ◗ Valor normal: -8 a -12 mEq/L Resultado negativo ◗ O valor normal do AGU é negativo, pois, na urina, há um maior número de cátions não medidos, sendo o principal o amônio (NH4), que não entra na fórmula do AGU. ◗ Perda gastrintestinal de bicarbonato (diarreias e fístulas entéricas): o rim normal aumenta a eliminação de hidrogênio (H+) na tentativa de corrigir a acidose (AGU: -20 a -50 mEq/L). Resultado positivo ◗ Doenças renais em que há falha da amoniogênese ou falha da excreção de sódio, potássio e bicarbonato (p. ex., insuficiência renal). ◗ Acidose tubular renal distal (tipo I). ◗ Hipoaldosteronismo (acidose tubular renal tipo IV). LEMBRETES ◗ É um teste que fornece um índice aproximado da excreção urinária de amônio, baseando-se na diferença entre os principais ânions e cátions medidos. ◗ Esse teste é superior à determinação do pH urinário, visto que o suprimento diminuído de sódio (Na+) no néfron distal, no estado de avidez de Na+ (p. ex., na diarreia) pode comprometer a acidificação urinária, de modo que o pH não irá apresentar um valor ácido máximo. Limitações ◗ Concentração de sódio urinário 25 mEq/L. ◗ Presença de ânions não medidos na urina, como cetoácidos e lactato. ◗ Recém-nascidos (a acidificação renal não está totalmente desenvolvida). LEITURAS SUGERIDAS GOLDMAN, L.; AUSIELLO, D. (Ed.). Cecil medicine. 23rd ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2008. Soares_Parte01__001-043.indd 38 08/02/12 08:48 MALONEY, D. G.; APPADURAI, I. R.; VAUGHAN, R. S. Anions and the anaesthetist. Anaesthesia, v. 57, n. 2, p. 140-154, 2002. WALLACH, J. Interpretation of diagnostic tests. 8th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007. Anomalias cromossômicas em dismorfologia TÊMIS MARIA FÉLIX CAMILA MATZENBACHER BITTAR JÚLIO CÉSAR L. LEITE SHARBEL WEIDNER MALUF ANOMALIAS CROMOSSÔMICAS EM DISMORFOLOGIA KRAUT, J. A.; MADIAS, N. E. Serum anion gap: its uses and limitations in clinical medicine. Clin J Am Soc Nephrol, v. 2, n. 1, p. 162-174, 2007. INDICAÇÕES ◗ Investigação de causa de deficiência mental, malformações congênitas, baixa estatura, alteração do desenvolvimento e determinação sexual MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Sangue em heparina sem necessidade de jejum Metodologia ◗ Uma amostra de sangue ou camada de leucócitos é colocada em meio de cultura RPMI 1640, com 20% de soro bovino fetal e 2% fito-hemaglutinina por 72 h a 37ºC. Aproximadamente 1 h antes do término da cultura, é acrescentado colchicina, cuja função é bloquear a mitose celular em metáfase. É realizado o procedimento de hipotonização utilizando KCl (0,075 M) seguido de fixação com metanol e ácido acético (3:1). As células fixadas são colocadas em lâminas de vidro. As lâminas são submetidas à digestão com tripsina e coradas com Giemsa para visualização dos cromossomos em bandeamento G, ao microscópio óptico a 1.000 . ◗ Na maioria dos casos, 15 células são analisadas quanto ao número e à estrutura dos cromossomos. Para suspeita de síndrome de Turner, é necessária a análise de 50 células para descartar a possibilidade de haver mais de uma linhagem celular (mosaicismo), muito frequente nessa síndrome. Nos casos de síndromes de instabilidade cromossômica, analisa-se a frequência de quebras cromossômicas induzidas por agentes clastogênicos específicos (dependente da síndrome), comparando-se essa frequência com a frequência encontrada em cultura celular com o mesmo tipo de indução em uma amostra-controle – nesse caso, o número mínimo de metáfases a serem analisadas é de 50. ◗ Em caso de suspeita de mosaicismo cromossômico inespecífico, o número de células analisado deve ser ampliado para pelo menos 30. ◗ Nos casos no qual o diagnóstico inicial a partir das bandas G demonstra uma alteração envolvendo um dos braços curtos dos cromossomos acrocêntricos (13, 14, 15, 21 ou 22), pode-se aplicar a técnica de bandeamento NOR, que marca as regiões organizadoras de nucléolo, presentes nos braços curtos desses cromossomos. ◗ Nos casos no qual o diagnóstico inicial a partir das bandas G demonstra uma alteração envolvendo a região centromérica de um cromossomo ou as regiões de heterocromatina dos cromossomos 1, 9, 16 ou Y, pode-se aplicar a técnica de bandeamento C, que marca essas regiões cromossômicas. 39 INTERPRETAÇÃO ◗ Número de cromossomos normal: 46 ◗ Complemento sexual: XX (sexo feminino), XY (sexo masculino) ◗ Mosaicismo: presença de duas ou mais populações celulares com diferentes complementos cromossômicos. Cada população cromossômica é considerada um clone, que é definida como ao menos duas células com a mesma anomalia cromossômica estrutural ou no mínimo três células com a mesma anomalia cromossômica numérica. Soares_Parte01__001-043.indd 39 08/02/12 08:48 ANOMALIAS CROMOSSÔMICAS EM DISMORFOLOGIA Tabela 1 NOMENCLATURA DAS ANOMALIAS CROMOSSÔMICAS MAIS UTILIZADAS Nomenclatura Interpretação + Trissomia cromossômica p Braço curto q Braço longo i Isocromossomo r Cromossomo em anel mar Cromossomo marcador del Deleção de parte do cromossomo dup Duplicação de parte do cromossomo t Translocação cromossômica der Cromossomo derivado LEMBRETES 40 ◗ Anomalias cromossômicas numéricas são decorrentes de alteração meiótica ou mitótica apresentando em geral baixo risco de recorrência. ◗ Anomalias cromossômicas numéricas em autossomos estão relacionadas à idade materna avançada. ◗ Quando a alteração cromossômica é estrutural, há necessidade de investigação dos pais para descartar anomalia cromossômica herdada balanceada. Somente após o exame dos pais é possível determinar o risco de recorrência. ◗ O diagnóstico de anomalias cromossômicas numéricas ou estruturais é realizado por meio do cariótipo. 1 2 3 6 7 8 13 14 15 19 20 9 21 4 5 10 11 12 16 17 18 22 X Y Figura 1 Exemplo de cariótipo masculino normal. Soares_Parte01__001-043.indd 40 08/02/12 08:48 ANOMALIAS CROMOSSÔMICAS COMUNS Nome Anomalia cromossômica* Frequência populacional Síndrome de Down 47, XX+ 21 1:650 Síndrome de Turner 45,X 1:2.500 Síndrome de Edwards 47,XX+18 1:8.000 Síndrome de Patau 47, XX+13 1:5.000 Síndrome de Wolf- Hirschhorn 46, XXdel4p 1:50.000 ANTIBIOGRAMA Tabela 2 * XX em caso de sexo feminino e XY em caso de sexo masculino. LEITURAS SUGERIDAS GARDNER, R. J. M.; SUTHERLAND, G. R. Chromosome abnormalities and genetic counseling. 2nd ed. New York: Oxford University, 1996. VERMA, R. S.; BABU, A. Human chromosomes: principles and techniques. 2nd ed. New York: McGraw-Hill, 1995. Antibiograma SILVANA V. SUPERTI ALEXANDRE P. ZAVASCKI 41 INDICAÇÕES ◗ A realização do antibiograma é indicada em isolados bacterianos clinicamente significativos (considerando-se: o sítio de isolamento e a qualidade da amostra clínica), sempre que se tratar de uma bactéria para a qual a sensibilidade aos antibióticos não é previsível e/ou a resistência a algum antimicrobiano já tenha sido relatada, desde que exista padronização do teste por órgãos (comitês) competentes (ver Interpretação). MÉTODO DO EXAME O antibiograma consiste na observação da capacidade de os antimicrobianos utilizados no tratamento das infecções inibirem in vitro o crescimento da bactéria. Pode ser realizado por método qualitativo, quantitativo ou por método automatizado. ◗ Método qualitativo − Resultados expressos de modo qualitativo. Para cada combinação (fármaco/microrganismo) testada, corresponde um resultado, que será S (sensível), I (intermediário) ou R (resistente). − Teste de difusão em ágar ou Kirby-Bauer: é o teste mais empregado pelos laboratórios clínicos, em função de apresentar boa reprodutibilidade, ser de fácil execução e relativo menor custo. − Uma suspensão do microrganismo a ser testado é inoculada em placa de ágar, onde discos de papel-filtro impregnados com concentração-padrão dos antimicrobianos a serem testados são depositados. Após incubação em estufa, por tempo e temperatura variáveis conforme o grupo de microrganismos, a medida do diâmetro do halo de inibição ao redor de cada disco permite a categorização em S, I ou R. ◗ Métodos quantitativos − Os resultados são expressos de modo quantitativo. Para cada combinação (fármaco/microrganismo) testada, além do resultado S (sensível), I (intermediário) ou R (resistente), é também determinado o valor da concentração inibitória mínima (CIM) ou a concentração de cada antimicrobiano, que, sob condições experimentais definidas, inibe o crescimento do microrganismo. O valor da CIM é o critério de referência para definir a sensibilidade de determinado microrganismo, sendo expresso em g/mL. Soares_Parte01__001-043.indd 41 08/02/12 08:48 ANTIBIOGRAMA − Os métodos quantitativos são • Etest® − Método comercial, que une os princípios da difusão em ágar e da diluição. Uma suspensão do microrganismo a ser testado é inoculada em placa de ágar, onde tiras impregnadas com concentrações crescentes do antimicrobiano são depositadas. O gradiente reflete uma faixa contínua de concentração, que varia de 0,016-256 g/mL ou 0,002-32 g/mL, dependendo do antimicrobiano. Após incubação em estufa, uma elipse simétrica é visualizada ao redor da tira. O ponto de intersecção entre a tira e o halo de inibição corresponde à CIM. • Métodos dilucionais diluição em ágar e diluição em caldo − A uma série de placas contendo ágar ou tubos contendo caldo são adicionadas concentrações crescentes de cada antimicrobiano a ser testado (geralmente são realizadas diluições sequenciais múltiplas de 2). Uma suspensão contendo o microrganismo a ser testado é então inoculada, e as placas ou tubos são incubados em estufa. A leitura é feita observando-se a turbidez no caldo ou o crescimento de colônias na superfície do ágar. • Diluição em caldo ◗ Métodos automatizados − Diferentes sistemas automatizados estão disponíveis comercialmente no Brasil. Com algumas diferenças metodológicas, sendo todos variações dos métodos de referência, esses equipamentos utilizam painéis com concentrações preestabelecidas de antibióticos e se propõem a fornecer uma CIM aproximada para cada combinação fármaco/microrganismo testada. Os principais equipamentos utilizados na realização do antibiograma são: Vitek® e Vitek 2® (BioMérieux), Phoenix® (Beckton e Dickinson) e o sistema MicroScan® (Dade MicroScan). INTERPRETAÇÃO 42 ◗ Alguns comitês, como o EUCAST (The European Committee on Antimicrobial Susceptibility Testing) e o CLSI (Clinical Laboratory Standard Institute) propõem-se a padronizar a execução e a interpretação do antibiograma. Em nosso meio, o protocolo americano CLSI é o mais amplamente utilizado. Baseado em estudos clinicoepidemiológicos, esse protocolo apresenta tabelas com os diâmetros dos halos e os valores de CIMs para cada combinação fármaco/microrganismo, permitindo a interpretação do teste. ◗ De acordo com o CLSI (2008), o antibiograma é a classificação baseada na resposta in vitro de um organismo a um agente antimicrobiano nas concentrações séricas ou teciduais que esse agente pode alcançar quando as doses habitualmente prescritas desse agente são utilizadas. Categorias de interpretação do teste de sensibilidade antimicrobiana ◗ Categoria de interpretação “sensível” do teste de sensibilidade antimicrobiana − Essa categoria implica que a infecção causada por esse microrganismo pode ser tratada apropriadamente com a dosagem de um agente antimicrobiano recomendado para esse tipo de infecção e patógeno, salvo quando for indicado de outra forma. ◗ Categoria de interpretação “intermediária” do teste de sensibilidade antimicrobiana − Categoria que implica em uma infecção causada por esse microrganismo isolado pode ser tratada apropriadamente em locais do corpo onde as substâncias se concentram fisiologicamente ou quando for possível a prescrição de uma dosagem mais alta do fármaco que a habitual; também indica uma “zona tampão” (buffer zone), que deveria impedir que pequenos fatores técnicos e fora de controle causem grandes discrepâncias na interpretação dos testes. ◗ Categoria de interpretação “resistente” do teste de sensibilidade antimicrobiana − Os isolados considerados resistentes não são inibidos pelas concentrações do agente antimicrobiano normalmente prescritas em tratamentos habituais (frequência e dosagem) e/ou caem na faixa em que a ocorrência de mecanismos de resistência antimicrobiana específicos são mais prováveis (p. ex., -lactamases), e a eficácia clínica não tem sido demonstrada em estudos clínicos. LEMBRETES ◗ Diferentes mecanismos de resistência aos antibióticos com importantes implicações terapêuticas podem estar presentes sem, no entanto, serem expressos e, portanto, detectados no antibiogra- Soares_Parte01__001-043.indd 42 08/02/12 08:48 ANTICORPO ANTIADRENAL, DETECÇÃO DE ma de rotina. Testes fenotípicos adicionais e pesquisa do determinante genético de resistência por método de biologia molecular poderão ser necessários. São exemplos: − ESBL (Extended-spectrum beta-lactamase – -lactamase de espectro estendido): -lactamases de classe A, capazes de degradar todos os antibióticos -lactâmicos, com exceção dos antibióticos carbapenêmicos. Isolados apresentando essas enzimas podem apresentar halos de inibição ou CIMs dentro da faixa de sensibilidade conforme critérios do CLSI (2011). O CLSI padroniza testes de triagem e confirmatórios para essas enzimas somente em Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli e isolados sanguíneos de Proteus mirabilis. − Carbapenemases: -lactamases capazes de degradar todos os antibióticos -lactâmicos, incluindo os antibióticos carbapenêmicos. Inicialmente descritas em Klebsiella pneumoniae, as carbapenemases do tipo KPC têm sido relatadas em Enterobacter spp., Escherichia coli, Klebsiella oxytoca, Salmonella sp., Serratia sp. e Pseudomonas aeruginosa. No antibiograma, nem sempre bactérias apresentando essas enzimas apresentam-se resistentes aos antibióticos carbapenêmicos. O CLSI padroniza apenas um teste de triagem (Teste de Hodge modificado). O padrão-ouro para detecção dessas enzimas é a pesquisa por biologia molecular (PCR para blaKPC). − Embora os protocolos forneçam sugestões de combinações de agentes antimicrobianos a serem testados, cada laboratório de microbiologia deve selecionar os mais apropriados, em conjunto com especialistas em doenças infecciosas e o farmacêutico, assim como com os comitês de farmácia, terapêuticos e controle de infecção hospitalar. Devem ser considerados: a eficácia clínica, a prevalência de resistência, a minimização do surgimento de resistência, o custo e as indicações. REFERÊNCIAS CLSI: CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE. Methods for dilution antimicrobial susceptibility tests for bacteria that grow aerobically; approved standard. 7th ed. Wayne: CLSI, 2008. Document M7-A7. CLSI: CLINICAL AND LABORATORY STANDARD INSTITUTE. Performance standards for antimicrobial susceptibility testing. Twentieth informational supplement. Wayne: CLSI, 2011. M100-S21. LEITURAS SUGERIDAS CLSI: CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE. Performance standards for antimicrobial disk susceptibility tests; approved standard. 9th ed. Wayne: CLSI, 2008. Document M2-A9. 43 EUCAST: EUROPEAN COMMITTEE ON ANTIMICROBIAL SUSCEPTIBILITY TESTING. EUCAST disk diffusion test for routine antimicrobial susceptibility testing. Växjö: EUCAST, c2011. Disponível em: http://www.eucast.org/eucast_disk_ diffusion_test. Acesso em: 12 ago. 2011. Anticorpo antiadrenal, detecção de BRUNO SCHMIDT DELLAMÉA GUILHERME ROLLIN INDICAÇÃO ◗ Insuficiência suprarrenal primária autoimune MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro; após jejum de 4 h Metodologia ◗ Imunofluorescência indireta INTERPRETAÇÃO ◗ A insuficiência suprarrenal primária é causada, na maioria das vezes, por adrenalite autoimune, diagnosticada por anticorpos circulantes em 60-75% dos casos, tipicamente associada a outras Soares_Parte01__001-043.indd 43 08/02/12 08:48 ANTICORPO ANTICÉLULA DAS ILHOTAS PANCREÁTICAS (ICA), DETECÇÃO DE doenças autoimunes. São mais comuns em mulheres, principalmente em casos de síndrome poliglandular autoimune. Naqueles com SPG1, a presença de anticorpo antiadrenal tem valor preditivo de 92% para desenvolvimento de insuficiência suprarrenal. LEMBRETES ◗ É necessário mais de 90% de comprometimento bilateral das glândulas suprarrenais para haver sintomas. ◗ Anticorpos são dirigidos contra as enzimas P450scc (CYP11A1), P450c17(CYP17, 17 -hidroxilase) e P450c21 (CYP21A2, 21-hidroxilase), reagindo, assim, com as três zonas do córtex suprarrenal. Anticorpos detectados por imunofluorescência na patologia são principalmente dirigidos contra CYP17 e CYP21A2. ◗ Há incidência aumentada de anticorpos suprarrenais em outras doenças autoimunes, como hipertireoidismo, tireoidite autoimune, diabetes melito e anemia perniciosa e, principalmente, hipoparatireoidismo, assim como há aumento de outros anticorpos em indivíduos com insuficiência suprarrenal autoimune, como anti-PTH, anti-ilhota, anticorpo da célula parietal e fator intrínseco, anticorpos gonadais e, principalmente, anti-TPO. LEITURAS SUGERIDAS BETTERLE, C. et al. Autoimmune adrenal insufficiency and autoimmune polyendocrine syndromes: autoantibodies, autoantigens, and their applicability in diagnosis and disease prediction. Endocr Rev, v. 23, n. 3, p. 327-364, 2002. COCO, G. et al. Estimated risk for developing autoimmune Addison’s disease in patients with adrenal cortex autoantibodies. J Clin Endocrinol Metab, v. 91, n. 5, p. 1637-1645, 2006. FALORNI, A. et al. Italian addison network study: update of diagnostic criteria for the etiological classification of primary adrenal insufficiency. J Clin Endocrinol Metab, v. 89, n. 4, p. 1598-1604, 2004. 44 LAURETI, S. et al. Levels of adrenocortical autoantibodies correlate with the degree of adrenal dysfunction in subjects with preclinical Addison’s disease. J Clin Endocrinol Metab, v. 83, n. 10, p. 3507-3511, 1998. WALLACH, J. Interpretation of diagnostic tests. 8th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007. Anticorpo anticélula das ilhotas pancreáticas (ICA), detecção de BRUNO SCHMIDT DELLAMÉA MARIA AMÉLIA ALVES DE CAMPOS INDICAÇÕES ◗ Diagnóstico de diabetes melito (DM) tipo 1 e predição de desenvolvimento futuro de DM1. ◗ Triagem de familiares sem diabetes que desejem doar um rim ou parte do seu pâncreas para transplante. ◗ Não é recomendado como rotina no diagnóstico de diabetes, mas pode ser utilizado para classificá-lo. Entretanto, até que estratégias custo-efetivas sejam desenvolvidas e intervenções para prevenir o início clínico da doença estejam disponíveis, esses testes não devem ser recomendados fora do âmbito da pesquisa. MÉTODO DO EXAME Metodologia ◗ Radioimunoensaio – método atual ◗ Imunoprecipitação e imunofluorescência indireta Soares_Parte01__001-043.indd 44 08/02/12 08:48 ◗ Soro INTERPRETAÇÃO ◗ Anticorpo anti-ilhota tem sensibilidade mediana de 81% (44-100%) e especificidade mediana de 96% (64-100%) para o diagnóstico de DM1. Apresenta sensibilidade de 70-90% para predizer DM1 em indivíduos jovens saudáveis, associado a outros marcadores genéticos e metabólicos, mas dados sustentam que a presença de múltiplos anticorpos foram mais preditivos que a presença de anticorpo único. A maioria dos indivíduos com apenas um anticorpo positivo talvez nunca desenvolva diabetes (Tab. 1). Tabela 1 RISCO DE DESENVOLVIMENTO DE DM1 EM PARENTES DE PRIMEIRO GRAU DE PACIENTES PORTADORES DE DM1 DE ACORDO COM A PRESENÇA DE AUTOANTICORPOS ANTI-INSULINA, ANTI-GAD E/OU ANTI-ILHOTA Número de autoanticorpos Risco de DM1 após 3 anos Risco de DM1 após 5 anos Risco de DM1 após 10 anos 0 1% 1% 1% 1 8% 15% 23% 72% 2 30% 43% 3 49% 95% ANTICORPO ANTICÉLULA DAS ILHOTAS PANCREÁTICAS (ICA), DETECÇÃO DE Material biológico Fonte: Adaptada de Verge e colaboradores (1996). LEMBRETES ◗ Foram isolados, até o momento, 12 autoantígenos associados a DM1, porém o interesse tem sido direcionado para quatro anticorpos: anti-ilhota, anti-insulina, anti-glutamic acid decarboxylse (GAD) e Anti-IA2A. Os anticorpos surgem precocemente na vida (9-18 meses de idade). ◗ Anticorpo anti-ilhotas são anticorpos policlonais que reagem com todas as células da ilhota (alfa, beta, sigma e polipeptídeo pancreático). Sozinho, está associado a baixo risco de desenvolvimento de diabetes melito. Anti-ilhota foi o primeiro anticorpo descoberto, com dificuldade para padronização e reprodutibilidade, não sendo recomendado por algumas referências atualmente. ◗ O estudo Diabetes Prevent Trial (DPT) mostrou que indivíduos com dois ou mais anticorpos tinham 68% de risco de desenvolver DM1 em 5 anos e que aqueles que apresentavam três anticorpos tinham 100% de risco em 5 anos. O DPT falhou em demonstrar o efeito protetor do uso precoce de insulina. ◗ A utilidade do teste nos pacientes com DM2 é limitada, porque a instituição da insulinoterapia é baseada no controle glicêmico. 45 REFERÊNCIA VERGE, C. F. et al. Prediction of type I diabetes in first-degree relatives using a combination of insulin, GAD, and ICA512bdc/IA-2 autoantibodies. Diabetes, v. 45, n. 7, p. 926-933, 1996. LEITURAS SUGERIDAS AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. Diagnosis and classification of diabetes mellitus. Diabetes Care, v. 30, suppl. 1, p. S42-S47, 2007. KAHN, C. R. et al. Joslin’s diabetes mellitus. 14th ed. Philadelphia: Lippincot Williams & Wilkins, 2004. PIHOKER, C. et al. Autoantibodies in diabetes. Diabetes, v. 54, suppl. 2, p. S52-S61, 2005. WASSERFALL, C. H.; ATKINSON, M. A. Autoantibody markers for the diagnosis and prediction of type 1 diabetes. Autoimmunity Reviews, v. 5, n. 6, p. 424-428, 2006. Soares_Parte01__001-043.indd 45 08/02/12 08:48 ANTICORPO ANTICÉLULAS PARIETAIS GÁSTRICAS, DETECÇÃO DE Anticorpo anticélulas parietais gástricas, detecção de RAFAELA KOMOROWSKI DAL MOLIN GUSTAVO FAULHABER INDICAÇÕES ◗ Investigação diagnóstica de anemia perniciosa e gastrite tipo A MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro; não é necessário jejum. A amostra mantém-se estável por até 7 dias, se refrigerada entre 2-8 ºC. Metodologia ◗ Imunofluorescência indireta ◗ ELISA INTERPRETAÇÃO Valores normais ◗ Soro não reagente (negativo) Os anticorpos podem estar presentes em 46 ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ Doença de Graves Diabetes tipo 1 Síndrome de Sjögren Gastrite crônica Gastrite atrófica Gastrite positiva para Helicobacter pylori Úlcera gástrica Carcinoma gástrico Tireoidite/mixedema Aproximadamente em 30% dos parentes de primeiro grau sem anemia de indivíduos afetados 4% dos indivíduos saudáveis (na terceira década de vida) e em 16% dos indivíduos assintomáticos com mais de 60 anos de idade ◗ 20-30% dos pacientes com diferentes doenças autoimunes órgão-específicas LEMBRETES ◗ A anemia perniciosa (AP) é a causa mais comum de deficiência de vitamina B12 em adultos; seu curso clínico geralmente se caracteriza por início insidioso de sintomas neurológicos e/ou psiquiátricos e desenvolvimento de anemia megaloblástica. ◗ Existe associação da AP com outras doenças autoimunes: síndrome poliglandular autoimune, doença de Graves (30%), tireoidite de Hashimoto (11%), vitiligo (8%), doença de Addison, hipoparatireoidismo idiopático, insuficiência ovariana primária, miastenia grave, diabetes insulino-dependente e hipogamaglobulinemia. ◗ As células parietais gástricas secretam fator intrínseco (FI), uma glicoproteína que se liga à vitamina B12 (cobalamina), auxiliando-a em sua absorção no íleo. ◗ Os anticorpos anticélulas parietais gástricas (anti-CP) podem ser encontrados em 90% dos adultos com AP e em mais de 60% dos indivíduos com gastrite atrófica; cerca de 60-75% dos pacientes com AP apresentam anticorpos circulantes contra o FI (anti-FI). Os anticorpos anti-FI detêm maior especificidade para o diagnóstico de AP que os anticorpos anti-CP. A combinação dos dois testes pode aumentar significativamente o poder diagnóstico da AP, alcançando uma sensibilidade de até 73%, conforme alguns estudos. ◗ Com o tempo, o título de anticorpos anti-CP pode declinar em alguns pacientes com anemia perniciosa, evento possivelmente relacionado à destruição e consequente diminuição ou ausência de células parietais, enquanto os anticorpos contra o FI persistem. Soares_Parte01__001-043.indd 46 08/02/12 08:48 LEITURAS SUGERIDAS LAHNER, E. et al. Reassessment of intrinsic factor and parietal cell autoantibodies in atrophic gastritis with respect to cobalamin deficiency. Am J Gastroenterol, v. 104, n. 8, p. 2071-2079, 2009. MCPHERSON, R. A.; PINCUS, M. R. Henry’s clinical diagnosis and management by laboratory methods. 21st ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2006. RUFENACHT, P.; MACH-PASCUAL, S.; ITEN, A. Vitamin B12 deficiency: a challenging diagnosis and treatment. Rev Med Suisse, v. 4, n. 175, p. 2212-2214, 2216-2217, 2008. SUGIU, K. et al. Anti-parietal cell antibody and serum pepsinogen assessment in screening for gastric carcinoma. Dig Liver Dis, v. 38, n. 5, p. 303-307, 2006. ANTICORPO ANTICENTRÔMERO, DETECÇÃO DE ◗ É descrita a coexistência de anticorpos anti-CP e anticorpos antitireoide em pacientes com tireoidites e anemia perniciosa. WALLACH, J. Interpretation of diagnostic tests. 8th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007. Anticorpo anticentrômero, detecção de TAMARA MUCENIC INDICAÇÃO ◗ Investigação de esclerose sistêmica, forma limitada (CREST) MÉTODO DO EXAME 47 Material biológico ◗ Soro, após jejum de 4 h Metodologia ◗ Imunofluorescência indireta INTERPRETAÇÃO Valores normais ◗ Ausência de anticorpos Os anticorpos podem estar presentes em ◗ Esclerose sistêmica de forma limitada (sensibilidade de 30%) ◗ Apenas 5% dos pacientes com a forma difusa da doença LEMBRETES ◗ Há associação com hipertensão pulmonar, dismotilidade esofágica. ◗ Há associação negativa com doença pulmonar intersticial e crise renal esclerodérmica. ◗ Pode predizer o desenvolvimento de esclerose sistêmica em pacientes com doença de Raynaud sem uma doença do tecido conjuntivo estabelecida. LEITURAS SUGERIDAS HOCHBERG, M. C. et al. Rheumatology. 4th ed. Philadelphia: Mosby/Elsevier, 2008. INGEGNOLI, F. et al. Distinct immune profiles characterize patients with diffuse or limited systemic sclerosis. Clin Immunol, v. 108, n. 1, p. 21-28, 2003. Soares_Parte01__001-043.indd 47 17/02/12 15:56 ANTICORPO ANTICITOPLASMA DE NEUTRÓFILOS (ANCA), DETECÇÃO DE 48 Anticorpo anticitoplasma de neutrófilos (ANCA), detecção de IZABELA LUCCHESE GAVIOLI INDICAÇÕES ◗ Os anticorpos anticitoplasma de neutrófilos são dirigidos contra enzimas encontradas nos grânulos dos leucócitos polimofonucleares. ◗ O ANCA* foi primeiramente descrito em 1982 e, desde 1985, tem sido fortemente associado a vasculites sistêmicas necrotizantes primárias e glomerulonefrites, incluindo granulomatose de Wegener (GW), poliangeíte microscópica (PAM) e síndrome de Churg-Strauss (SCS). ◗ Está firmemente estabelecido como teste diagnóstico, porém há controvérsias sobre seu valor no monitoramento da atividade da doença. ◗ Provavelmente atua na fisiopatogenia das vasculites, induzindo ou aumentando a inflamação vascular. Sua ligação aos alvos antigênicos nos neutrófilos aumentam a degranulação e respiração celular, a produção de óxido nítrico, a quimiotaxia, a expressão de moléculas de adesão e a ligação a células endoteliais em cultura. CONTRAINDICAÇÕES ◗ Não estão descritas na literatura, guardadas as devidas considerações sobre a correta interpretação do teste. O ANCA, como qualquer teste laboratorial, é de grande valor diagnóstico somente quando aplicado coerentemente ao contexto semiológico. Os resultados são utilizados como auxiliares no diagnóstico em conjunção com outras informações clínicas e laboratoriais. ◗ A valorização incorreta do teste pode levar a erros diagnósticos com prejuízo ao paciente. O ANCA pode estar presente em doenças infecciosas, como endocardite subaguda, por exemplo, onde a terapêutica imunossupressora equivocada pode piorar drasticamente a evolução clínica. MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro; não necessita de jejum nem preparo. Metodologia ◗ Imunofluorescência indireta (IFI) realizada em neutrófilos fixados em etanol. O uso de outros fixadores, como formalina e metanol, permite a diferenciação entre p-ANCA e anticorpos antinucleares (ANA ou FAN, p. 203, 284). INTERPRETAÇÃO ◗ O resultado é expresso como “reagente” ou “não reagente” com indicação do título. ◗ Baseado no padrão de imunofluorescência, os padrões de ANCA foram divididos em: − Citoplasmático (c-ANCA): dirigido contra a proteinase 3 (PR3) em 90% dos casos, ou a outros antígenos, como BPI (proteína bactericida de aumento de permeabilidade). Mais comumente associado à GW. − Perinuclear (p-ANCA): principalmente dirigido contra a mieloperoxidase (MPO), ou a outros antígenos, como elastase, azurocidina, catepsina G lisossômica e lactoferrina. Mais comumente associado à PAM. Também chamado p-ANNA (perinuclear anti-neutrophil nuclear antibodies). − Atípico (a-ANCA). * Antineutrophil Cytoplasmic Antibodies Soares_Parte01__001-043.indd 48 08/02/12 08:48 ANTICORPO ANTICITOPLASMA DE NEUTRÓFILOS (ANCA), DETECÇÃO DE ◗ A sensibilidade do ANCA varia de 50-90% nas diversas vasculites. A especificidade depende de fatores técnicos e da natureza dos controles na população testada. Quando a imunofluorescência é complementada com ensaios específicos de fase sólida (ELISA, imunodot, multiplex) para os antígenos-alvo, a especificidade é extremamente alta. ◗ Um resultado negativo não exclui o diagnóstico em pacientes com alta probabilidade pré-teste da doença. Resultados positivos devem ser interpretados de acordo com os achados clínicos e histológicos. ◗ O ANCA pode ser encontrado em diversas situações que mimetizam vasculites sistêmicas, porém, na grande maioria desses casos, os antígenos-alvo não são PR3 nem MPO, e sim outras proteínas de menor especificidade, como catepsina G, lactoferrina, lisozima elastase, BPI e várias ainda não identificadas. ◗ Condições clínicas relatadas que podem mimetizar vasculites sistêmicas apresentando positividade para ANCA são: − Doenças do tecido conjuntivo (artrite reumatoide, síndrome de Felty, lúpus eritematoso sistêmico, lúpus induzido por fármacos, miosites) − Fibrose cística com infecções associadas − Gamopatias monoclonais − Tuberculose − Endocardite infecciosa subaguda − Infecção por HIV − Doença inflamatória intestinal (mais frequente na colite ulcerativa que na doença de Crohn) − Colangite esclerosante − Hepatite autoimune ◗ Estão relatados falsos-positivos para ANCA com uso de hidralazina, propiltiouracil, D-penicilamina, tetraciclinas e sulfonamidas. LEMBRETES ◗ A presença de anticorpos antinucleares (anti-DNA) em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico interfere na identificação de p-ANCA por IFI. Nesses casos, a determinação de anticorpos específicos por teste imunoenzimático pode auxiliar na distinção entre esses anticorpos. ◗ Para evitar a falta de correlação entre os padrões de imunofluorescência e os antígenos de interesse (PR3 e MPO), assim como a variabilidade de leitura entre observadores inerente ao método, devem ser solicitados ensaios específicos para cada antígeno. ◗ Ao solicitar o exame, considerar a experiência do laboratório que realiza o teste, e verificar se são disponibilizados ensaios antígeno-específicos (ELISA). ◗ A presença do ANCA em concomitância com certas manifestações de grande morbidade, como síndrome pulmão-rim com hemorragia pulmonar maciça, justifica a disponibilização do teste no contexto de emergência. 49 LEITURAS SUGERIDAS BEAUVILLAIN, C. et al. Antineutrophil cytoplasmic autoantibodies: how should the biologist manage them? Clin Rev Allergy Immunol, v. 35, n. 1-2, p. 47-58, 2008. BOGDANOS, D. P. et al. Autoimmune liver serology: current diagnosis and clinical challenges. World J Gastroenterol, v. 14, n. 21, p. 3374-3387, 2008. FIRESTEIN, G. S. et al. Kelley’s textbook of rheumatology. 8th ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2008. SINCLAIR, D.; STEVENS, J. M. Role of antineutrophil cytoplasmic antibodies and glomerular basement membrane antibodies in the diagnosis and monitoring of systemic vasculitides. Ann Clin Biochem, v. 44, pt. 5, p. 432-442, 2007. TERVAERT, J. W.; DAMOISEAUX, J. Fifty years of antineutrophil cytoplasmic antibodies (ANCA) testing: do we need to revise the international consensus statement on testing and reporting on ANCA? APMIS Suppl, n. 127, p. 55-59, 2009. Soares_Parte01__001-043.indd 49 08/02/12 08:48 ANTICORPO ANTICITOSOL HEPÁTICO (ANTI-LC-1), DETECÇÃO DE Anticorpo anticitosol hepático (ANTI-LC-1), detecção de RAFAELA KOMOROWSKI DAL MOLIN MÁRIO REIS ÁLVARES-DA-SILVA INDICAÇÕES ◗ Investigação diagnóstica de hepatite autoimune (HAI) tipo 2 MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro; não é necessário jejum Metodologia ◗ Triagem: imunofluorescência indireta (II) utilizando cortes de fígado e rim de rato como substrato ◗ Confirmação: imunodifusão dupla contra extrato de citosol hepático humano − Obs: A técnica de II não permite identificar o anti-LC-1 quando coexiste anti-LKM-1; logo, a identificação em si do anti-LC-1 é feita pela técnica de imunodifusão dupla INTERPRETAÇÃO Valores normais ◗ Soro não reagente Os anticorpos podem estar presentes em 50 ◗ HAI tipo 2 ◗ Hepatite C crônica (raramente, e em baixos títulos) LEMBRETES ◗ A HAI tipo 2 é caracterizada pela detecção de anticorpos antimicrossomais do fígado e rim (anti-LKM-1) e/ou anticorpos anticitosol hepático (anti-liver cytosol 1 antibody – anti-LC-1), na ausência de anticorpos antinuclear (ANA ou FAN) ou anticorpos antimúsculo liso (SMA). Para o diagnóstico, esses anticorpos devem estar presentes em títulos de pelo menos 1:80 em adultos e 1:20 em crianças; títulos 1:40 em adultos e 1:10 em crianças tornam o diagnóstico provável. ◗ O anti-LC-1 é encontrado em cerca de um terço dos pacientes com HAI tipo 2, geralmente em associação ao anti-LKM-1, embora em cerca de 10% dos casos possa cursar isoladamente para o diagnóstico da doença. O anti-LC-1 não é visto na HAI tipo 1 (clássica). ◗ O anti-LKM-1 deve ser solicitado apenas quando ANA/FAN e SMA forem negativos, e o anti-LC-1 apenas quando anti-LKM-1 for negativo. ◗ Ainda não está claro se os títulos de anti-LC-1 e/ou anti-LKM-1 refletem a atividade da doença. ◗ Nenhum dos autoanticorpos (SMA, ANA/FAN, LKM-1, LC-1, antiantígeno hepático solúvel, antirreceptor da asialoglicoproteína) disponíveis para o diagnóstico de HAI é específico para a doença, e qualquer um deles pode ser encontrado no soro de indivíduos com hepatite C crônica, em baixos títulos. ◗ A HAI tipo 2 acomete mais mulheres jovens e meninas (enquanto a HAI tipo 1 ocorre em todas as faixas etárias), podendo associar-se a uma variedade de condições autoimunes, como tireoidite, doença de Graves, colite ulcerativa, artrite reumatoide, uveíte, anemia perniciosa, síndrome de Sjögren, doença mista do tecido conjuntivo, síndrome CREST e vitiligo. ◗ O antígeno reconhecido pelo anti-LC-1 é a formiminotransferase ciclodeaminase, uma enzima específica do fígado. ◗ Segundo o escore de diagnóstico de HAI elaborado pelo International Autoimmune Hepatitis Group (Alvarez et. al, 1999), a presença de anti-LC-1 conta 2 pontos para o diagnóstico de HAI tipo 2. REFERÊNCIA ALVAREZ, F. et al. International Autoimmune Hepatitis Group Report: review of criteria for diagnosis of autoimmune hepatitis. J Hepatol, v. 31, n. 5, p. 929-938, 1999. Soares_Parte01__001-043.indd 50 08/02/12 08:48 ALVAREZ, F. Autoimmune hepatitis and primary sclerosing cholangitis. Clin Liver Dis, v. 10, n. 1, p. 89-107, 2006. BRIDOUX-HENNO, L. et al. Features and outcome of autoimmune hepatitis type 2 presenting with isolated positivity for anti-liver cytosol antibody. Clin Gastroenterol Hepatol, v. 2, n. 9, p. 825-830, 2004. CZAJA, A. J.; SHUMS, Z.; NORMAN, G. L. Nonstandard antibodies as prognostic markers in autoimmune hepatitis. Autoimmunity, v. 37, n. 3, p. 195-201, 2004. KRAWITT, E. L. Clinical features and management of autoimmune hepatitis. World J Gastroenterol, v. 14, n. 21, p. 3301-3305, 2008. RIGOPOULOU, E. I. et al. Autoimmune hepatitis-specific antibodies against soluble liver antigen and liver cytosol type 1 in patients with chronic viral hepatitis. J Autoimmune Dis, v. 4, p. 2, 2007. ANTICORPO ANTICITRULINA, DETECÇÃO DE LEITURAS SUGERIDAS Anticorpo anticitrulina, detecção de IZABELA LUCCHESE GAVIOLI INDICAÇÃO ◗ Diagnóstico e prognóstico de artrite reumatoide (AR) MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro ou plasma; não necessita jejum nem preparo 51 Metodologia ◗ ELISA (enzimaimunoensaio) ◗ Considerado reprodutível, de fácil realização e amplamente disponível. Determina-se a presença de anticorpos contra a filagrina, que contém grandes quantidades de citrulina. O substrato antigênico é representado por coleções de peptídeos citrulinados pré-adsorvidos a placas de poliestireno. ◗ Procedimento: coletar amostras de sangue venoso e deixar coagular completamente. Armazenar as amostras durante, no máximo, 48 h, a uma temperatura de 4-8 ºC. Em caso de armazenamento prolongado, congelar a –20ºC. Diluir a amostra do paciente a 1:50. Misturar 10 L da amostra em um tubo com 490 L de tampão de diluição. Empregar 100 L no teste. ◗ O kit ELISA de anticorpos anti-CCP utiliza uma placa crivada, com micro-orifícios de titulação revestidos com peptídeos sintéticos citrulinados (antígeno). Aplica-se o soro ou plasma do paciente aos orifícios e incuba-se. Havendo anticorpos específicos, os mesmos ligam-se ao antígeno nos orifícios. O material não ligado é eliminado na lavagem, e todos os anticorpos ligados são detectados pela adição de um anticorpo anti-IgG humano marcado com peroxidase de rábano (HRP), seguindo-se uma segunda etapa de lavagem e uma incubação com substrato. A presença de anticorpos em reação resultará no desenvolvimento de uma cor cuja intensidade é proporcional à quantidade de anticorpo ligado. A reação é medida com um fotômetro. ◗ Os testes iniciais eram focados na reatividade a um peptídeo cíclico baseado na citrulinação da filagrina; esses testes foram substituídos por uma segunda geração (CCP2 ELISA) que utiliza peptídeos citrulinados de um grande banco patenteado, mostrando um melhor desempenho com a padronização dos reagentes. Mais recentemente, uma terceira geração (CCP3 ELISA) foi desenvolvida, aumentando a sensibilidade do teste, porém perdendo em especificidade; o teste demonstrou considerável reatividade em pacientes com a síndrome CREST (calcinose, fenômeno de Raynaud, dismotilidade esofágica, esclerodactilia e telangectasias). ◗ Instruções de fabricantes enfatizam que o kit do teste só deve ser utilizado por profissionais de laboratório com a devida formação, e apenas para diagnósticos in vitro. ◗ O kit inclui ácido sulfúrico a 0,5 M (solução de paragem), tetrametilbenzidina e azida sódica 0,09%, considerados potenciais intoxicantes dos profissionais que o utilizam, além da presença de material biológico potencialmente contaminante. Deve-se trabalhar de luvas e evitar pipetagem com a boca. Soares_Parte01__001-043.indd 51 08/02/12 08:48 ANTICORPO ANTICITRULINA, DETECÇÃO DE INTERPRETAÇÃO ◗ Os resultados são expressos em unidades: − < 20 U: não reagente − 20-39 U: fracamente reagente − 40-59 U: moderadamente reagente − > 59 U: fortemente reagente ◗ O teste tem cerca de 96% de especificidade e pelo menos 60-75% de sensibilidade para o diagnóstico de AR. ◗ Apresenta-se reagente em cerca de 54% dos pacientes com fator reumatoide positivo, e em 14% dos pacientes com fator reumatoide negativo. ◗ A reatividade simultânea para anti-CCP e fator reumatoide IgM está correlacionada a doença de progressão mais rápida e evolução radiológica desfavorável (por meio de índices como Sharp e Larsen). Dos pacientes com ambos os autoanticorpos, 83% apresentaram erosões articulares precoces, 76% demonstraram evolução agressiva da doença, e 60% apresentaram altos escores radiológicos correspondentes à doença destrutiva. ◗ Apresenta uma taxa de concordância de 77% com o fator antiperinuclear e com o anticorpo antiqueratina. LEMBRETES 52 ◗ A artrite reumatoide é uma doença autoimune caracterizada por uma poliartrite crônica, erosiva e progressiva. O diagnóstico precoce possibilita o tratamento nos primeiros anos da doença, evitando danos irreversíveis às articulações. Contudo, a inespecificidade do quadro clínico inicial e a ausência de alterações radiológicas características no início da doença pode atrasar o diagnóstico. O fator reumatoide IgM, tradicional marcador e critério diagnóstico da doença, apresenta baixa especificidade (cerca de 60%), podendo ser detectado em diversas condições inflamatórias sistêmicas, como outras doenças autoimunes, infecções, neoplasias, etc. Sua sensibilidade nas fases iniciais da doença também é baixa: cerca de 50%. ◗ Novos marcadores imunológicos mais sensíveis e específicos foram descritos para possibilitar uma abordagem mais eficiente das formas iniciais da doença. Entre os diversos anticorpos identificados no soro de pacientes com AR, encontram-se três importantes marcadores denominados anticorpos contra peptídeos ou proteínas citrulinadas: os anticorpos antiqueratina (AKA – antikeratin antibodies) e o fator antiperinuclear (APF – antiperinuclear factor), também chamados de anticorpos antifilagrina (AFA); e os anticorpos anticitrulina cíclica (CCP – cyclic citrullinated peptide). Os dois primeiros são abordados em capítulos específicos desta obra, enquanto este capítulo se refere ao anticorpo anticitrulina como sinônimo de anti-CCP. ◗ Os anticorpos anticitrulina são proteínas ou peptídeos dirigidos contra um aminoácido produzido a partir da arginina. Apesar de não ser diretamente codificada pelo DNA, a citrulina está presente em várias proteínas como resultado de modificação pós-translacional. Esses resíduos de citrulina são gerados por um grupo de enzimas denominadas peptidilarginina deiminases (PADs), que convertem a arginina em citrulina em um processo chamado citrulinação ou deiminação. Proteínas que normalmente contêm resíduos de citrulina incluem a proteína básica da mielina, a fibrina, a alfaenolase, peptídeos do colágeno I e II, filagrina e várias outras histonas. Outras proteínas, como a fibrina e a vimentina, são suscetíveis à citrulinação durante o processo de morte celular e inflamação tecidual. ◗ O anti-CCP pode ser detectado em 25% dos indivíduos em 1,5-9 anos do aparecimento dos primeiros sintomas, e, no ano que antecede os sintomas, sua sensibilidade aumenta para 52%, indicando a eficiência desse teste em predizer o desenvolvimento futuro da AR. ◗ Na prática clínica atual, há somente duas classes de autoanticorpos sensíveis e específicos o suficiente para serem considerados úteis: o fator reumatoide e os anticorpos anticitrulina (incluindo o anti-CCP, APF e AKA). Os demais autoanticorpos descritos na artrite reumatoide permanecem em investigação. ◗ Portadores de AR que apresentam positividade para ambas as classes estão mais predispostos a apresentar características extra-articulares da doença. ◗ Na AR, os autoanticorpos não estão correlacionados com a atividade da doença, mas com seu prognóstico. ◗ Ainda que se refiram a um mesmo grupo de autoanticorpos, os testes anti-CCP, AKA e APF podem apresentar desempenhos diagnósticos distintos, devido à diversificação de anticorpos contra proteínas citrulinadas presentes no soro de cada paciente e na variação de antígenos citrulinados contidos no substrato de cada teste. Nesse contexto, um paciente com artrite reumatoide pode apresentar resultado reagente em apenas um, dois ou nos três testes. Soares_Parte01__001-043.indd 52 08/02/12 08:48 LEITURAS SUGERIDAS ALARCON, R. T.; ANDRADE, L. E. C. Anticorpos antiproteínas citrulinadas e a artrite reumatóide. Rev Bras Reumatol, v. 47, n. 3, p. 180-187, 2007. FIRESTEIN, G. S. et al. Kelley’s textbook of rheumatology. 8th ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2008. MEYER, O. et al. Anticitrullinated protein/peptide antibody assays in early rheumatoid arthritis for predicting five year radiographic damage. Ann Rheum Dis, v. 62, n. 2, p. 120-126, 2003. TEIXEIRA, R. C. de A. et al. Marcadores de ativação endotelial e auto-anticorpos na artrite reumatóide. Rev Bras Reumatol, v. 47, n. 6, p. 411-417, 2007. ANTICORPO ANTICOLINESTERASE, DETECÇÃO DE ◗ O anticorpo anti-CCP, assim como o fator reumatoide, não apresentam correlação estatística com sexo ou idade dos pacientes portadores de AR, porém exibem grande correlação entre eles. Quando um aumenta, o outro também aumenta, na maioria dos pacientes. ◗ Apesar da grande especificidade apontada para os anticorpos anticitrulina, recomendam-se cautela na interpretação dos testes e atenção à literatura científica futura. VENCOVSKY, J. et al. Autoantibodies can be prognostic markers of an erosive disease in early rheumatoid arthritis. Ann Rheum Dis, v. 62, n. 5, p. 427-430, 2003. Anticorpo anticolinesterase, detecção de LENISE VALLER PEDRO SCHESTATSKY INDICAÇÃO ◗ Suspeita clínica de miastenia grave (MG) 53 MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro Metodologia ◗ Radioimunoensaio INTERPRETAÇÃO ◗ Há 3 anticorpos que podem ser solicitados: a) anticorpos ligantes: os mais sensiveis. São anticorpos contra outros locais de ligação no receptor além daqueles usados pela acetilcolina e bungarotoxina; b) anticorpos bloqueadores: ligam-se nos locais usados pela acetil colina; e c) anticorpos moduladores: ligam-se nos locais usados pela acetilcolina e causam a remoção dela da superficie muscular. Valores normais ◗ Anticorpos ligantes: 0,03-0,5 nmol/L (variáveis de acordo com o laboratório) ◗ Anticorpos bloqueadores: 25% dos receptores de acetilcolina bloqueados ◗ Anticorpos moduladores: 20% dos receptores de acetilcolina perdidos LEMBRETES Acurácia do teste ◗ Um ou mais dos anticorpos são encontrados em pelo menos 80-85% dos pacientes com MG da forma generalizada Soares_Parte01__001-043.indd 53 08/02/12 08:48 ANTICORPO ANTICROMATINA, DETECÇÃO DE ◗ ◗ ◗ ◗ − Anticorpos ligantes: presentes em 88% dos pacientes com MG generalizada, 70% daqueles com MG ocular e em aproximadamente 80% dos casos de MG em remissão. Em geral, são os únicos solicitados. − Anticorpos bloqueadores: presentes em 50% dos pacientes com MG, aproximadamente 30% daqueles com MG ocular e 20% daqueles com MG em remissão. − Anticorpos moduladores: presentes em mais de 90% dos casos de MG e ocasionalmente são os únicos detectados em casos leves, de início recente ou restritos a envolvimento ocular. Resultados falso-positivos podem ser encontrados em populações saudáveis e em baixos títulos nos casos de síndrome mastênica de Eaton-Lambert (5%), doenças do neurônio motor superior (3-5%), e polimiosite ( 1%). A concentração plasmática dos anticorpos não se correlaciona com a gravidade da doença. MG ocular: a sensibilidade dos anticorpos é de 45-60%. MG soronegativa: também chamada MG anticorpos-negativo, presentes em cerca de 15-20% dos pacientes com MG. Anticorpos contra receptor tirosinoquinase específico de músculo (anti-Musk) são positivos em 40-50% desses pacientes. LEITURAS SUGERIDAS DRACHMAN, D. B. Myasthenia gravis. N Engl J Med, v. 330, p. 1797-1810, 1994. GRAUS, Y. M.; DE BAETS, M. H. Myasthenia gravis: an autoimmune response against the acetylcholine receptor. Immunol Res, v. 12, n. 1, p. 78-100, 1993. OHTA, M. et al. Anti-skeletal muscle and anti-acetylcholine receptor antibodies in patients with thymoma without myasthenia gravis: relation to the onset of myasthenia gravis. Clin Chim Acta, v. 201, n. 3, p. 201-205, 1991. STEENKAMP, K. J. et al. Measurement of anti-acetylcholine receptor auto-antibodies in myasthenia gravis. S Afr Med J, v. 85, n. 12, p. 1293-1294, 1995. VINCENT, A. Acetylcholine receptor autoantibodies. In: PETER, J. B.; SHOENFELD, Y. (Ed.). Autoantibodies. Amsterdam: Elsevier, 1996. p. 1-9. 54 Anticorpo anticromatina, detecção de MARCIANE ROVER RAFAEL HISSÉ GOMES INDICAÇÕES ◗ Lúpus eritematoso sistêmico (LES), especialmente para avaliar potencial comprometimento renal (nefrite lúpica) ◗ Suspeita de esclerose sistêmica (ES), síndrome de Sjögren (SS) e síndrome antifosfolipídeo (SAF) MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro; não requer jejum Metodologia ◗ ELISA INTEPRETAÇÃO ◗ Valores positivos: acima de 20 U ◗ Quanto maiores os níveis de nefropatia lúpica, maior a sua prevalência (pacientes com nefropatia tem, em média, 70 U ao passo que os sem nefropatia têm, em média, 40 U) ◗ Podem ser detectados em − LES (69% dos casos) – SS, ES e SAF (7-10% dos casos) Soares_Parte01__001-043.indd 54 08/02/12 08:48 LEMBRETES ◗ Cromatina refere-se ao complexo de histonas e DNA que se encontram no núcleo das células. Anticorpos para o complexo H2A-H2B-DNA (nucleossomo) constituem anticorpos anticromatina, que podem também ser denominados anticorpos antinucleossomo. ◗ A presença de anticorpos anticromatina é sensível e específica para o diagnóstico de LES. ◗ Anticorpos anticromatina estão fortemente ligados à presença de nefrite lúpica, com sensibilidade de até 81%, havendo correlação entre a presença do anticorpo e a atividade da doença renal. ◗ Anticorpos anticromatina podem ser utilizados como auxiliares no tratamento e prognóstico dos pacientes com LES, podendo estar presente precocemente no soro, muito antes dos sintomas aparecerem e dos exames renais se tornarem alterados. ◗ Estudos demonstram graus variados de acurácia em função do kit utilizado para reação do exame. LEITURAS SUGERIDAS ANTI-CHROMATIN antibodies are a useful marker for lupus nephropathy. J Clin Pathol, v. 56, n. 11, p. 820, 2003. CERVERA, R. et al. Anti-chromatin antibodies in systemic lupus erythematosus: a useful marker of lupus nephropathy. Ann Rheum Dis, v. 62, n. 5, p. 431-434, 2003. KRAMERS, C. et al. Anti-nucleosome antibodies complexed to nucleosomal antigens show anti-DNA reactivity and bind to rat glomerular-basement-membrane in-vivo. J Clin Invest, v. 94, p. 568-577, 1994. ANTICORPO ANTIDESCARBOXILASE DO ÁCIDO GLUTÂMICO (ANTI-GAD), DETECÇÃO DE − Hepatite autoimune tipo 1 (40-50%) − Cirrose biliar primária (13%) − Hepatite crônica B e C (5%) LI, L. et al. Frequency and significance of antibodies to chromatin in autoimmune hepatitis type I. J Gastroenterol Hepatol, v. 15, n. 10, p. 1176-1182, 2000. WALLACE, D. J. et al. Antibodies to histone (H2A-H2B)-DNA complexes in the absence of antibodies to double-stranded DNA or to (H2A-H2B) complexes are more sensitive and specific for scleroderma-related disorders than for lupus. Arthritis Rheum, v. 37, n. 12, p. 1795-1797, 1994. 55 Anticorpo antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD), detecção de MARCIANE ROVER MARIA AMÉLIA ALVES DE CAMPOS INDICAÇÕES ◗ Triagem de familiares sem diabetes que desejam doar um rim ou parte do seu pâncreas para transplante. ◗ Não é recomendado como rotina no diagnóstico de diabetes. Pode ser usado para classificação de diabetes. Entretanto, até que estratégias custo-efetivas sejam desenvolvidas e intervenções efetivas para prevenir o início clínico da doença estejam disponíveis, esses testes não devem ser recomendados fora do âmbito da pesquisa. MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro (2 mL) congelado ◗ Coletar em tubo sem anticoagulante, separar o soro e congelar Metodologia ◗ Radioimunoensaio Soares_Parte01__001-043.indd 55 08/02/12 08:48 ANTICORPO ANTI-DNA, DETECÇÃO DE INTERPRETAÇÃO ◗ Valor de referência (normal): até 1,0 U/mL. ◗ A sensibilidade para o diagnóstico de diabetes melito (DM) tipo 1 é de 75-84%, variando com o gênero e a idade em que o diagnóstico é feito. No sexo feminino, a sensibilidade fica em torno de 80%, sem variações com a idade; já no sexo masculino, é de 50-60% em idade 10 anos e de 75-90% em homens acima dessa faixa etária. Sua especificidade chega a 98,8% ◗ Entre os pacientes que desenvolvem diabetes, 98% apresentam um ou mais desses anticorpos positivos (o anticorpo anti-insulina, o anticorpo anti-GAD e o anticorpo anti-ilhota). Os anticorpos anti-GAD são encontrados em 70% dos DM tipo 1 no momento do diagnóstico. ◗ Parentes de primeiro grau com os três testes positivos (diferentes autoanticorpos) têm mais de 95% de chance de desenvolverem diabetes em 5 anos. ◗ A presença desses anticorpos após o início de terapia insulínica pode estar associada à reação imune com a insulina exógena, seja de fonte animal ou até recombinante. LEMBRETES ◗ A causa autoimune é cada vez mais confirmada por diferentes pesquisadores, e diferentes marcadores sorológicos têm sido apontados como marcadores da condição pré-diabética (esses marcadores não são considerados causais, e sim fenômenos de um evento imunológico celular). Além dos anticorpos anti-insulina, existem os anticorpos anti-ilhota, os GAD e outros. ◗ O anticorpo anti-GAD foi inicialmente descrito como uma proteína de 64 quilodáltons, mas, atualmente, sabe-se que existem duas isoformas: GAD 65 (expressa em células ) e GAD 67 (no cérebro). ◗ O anti-GAD tem seu melhor desempenho nos indivíduos com início da doença acima dos 20 anos de idade e é o que permanece positivo por mais tempo, sendo de escolha para o diagnóstico do DM do tipo LADA. ◗ Nenhum tratamento aceitável demonstrou prevenir o início do diabetes em pessoas com anticorpos positivos. ◗ A utilidade do teste nos pacientes com DM tipo 2 é limitada, porque a instituição da insulinoterapia é baseada no controle glicêmico. 56 LEITURAS SUGERIDAS BÁROVÁ, H. et al. Anti-GAD-positive patients with type 1 diabetes mellitus have higher prevalence of autoimmune thyroiditis than anti-GAD-negative patients with type 1 and type 2 diabetes mellitus. Physiol Res, v. 53, n. 3, p. 279-286, 2004. RÖMKENS, T. E. et al. Prevalence and clinical characteristics of insulin-treated, anti-GAD-positive, type 2 diabetic subjects in an outpatient clinical department of a Dutch teaching hospital. Neth J Med, v. 64, n. 4, p. 114-118, 2006. SACKS, D. B. et al. Laboratory Medicine Practice Guidelines: Guidelines and recommendations for laboratory analysis in the diagnosis and management of diabetes mellitus. Washington: AACC, 2011. Disponível em: http://www.aacc.org/members/ nacb/LMPG/OnlineGuide/PublishedGuidelines/diabetes_update/Documents/DiabetesEntireLMPG.pdf. Acesso em: 31 ago. 2011. TUOMI, T. Type 1 and type 2 diabetes: what do they have in common? Diabetes, v. 54, suppl. 2, p. S40-S45, 2005. VERGE, C. F. et al. Combined use of autoantibodies (IA-2 autoantibody, GAD autoantibody, insulin autoantibody, cytoplasmic islet cell antibodies) in type 1 diabetes: Combinatorial Islet Autoantibody Workshop. Diabetes, v. 47, n. 12, p. 1857-1866, 1998. Anticorpo anti-DNA, detecção de TAMARA MUCENIC INDICAÇÕES ◗ Utilizado como um dos critérios diagnósticos do lúpus eritematoso sistêmico (LES) ◗ Utilizado para o controle de atividade de LES Soares_Parte01__001-043.indd 56 08/02/12 08:48 Material biológico ◗ Soro, após jejum de 4 h Metodologia ◗ Imunofluorescência indireta com substrato de Crithidia luciliae ◗ Enzimaimunoensaio (ELISA) ◗ Método de Farr INTERPRETAÇÃO Valores normais ◗ Ausência de anticorpos ANTICORPO ANTIENDOMÍSIO, DETECÇÃO DE MÉTODO DO EXAME Os anticorpos podem estar presentes em ◗ LES (97% de especificidade) ◗ Em outras doenças autoimunes, como artrite reumatoide, síndrome de Sjögren, esclerose sistêmica, hepatite autoimune, doença de Graves, etc. – em todas, frequência 5%. LEMBRETES ◗ A testagem do anti-DNA deve ser reservada para pacientes com fator antinuclear (FAN) positivo. ◗ Os títulos do anti-DNA costumam flutuar com a atividade da doença, sendo usado no acompanhamento dos pacientes. ◗ Positivação do anti-DNA, associado à hipocomplementenemia, normalmente correlaciona-se com atividade inflamatória renal. LEITURAS SUGERIDAS HOCHBERG, M. C. et al. Rheumatology. 4th ed. Philadelphia: Mosby/Elsevier, 2008. 57 ISENBERG, D. A. et al. Fifty years of anti-ds DNA antibodies: are we approaching journey’s end? Rheumatology (Oxford), v. 46, n. 7, p. 1052-1056, 2007. KAVANAUGH, A. F.; SOLOMON, D. H. Guidelines for immunologic laboratory testing in the rheumatic diseases: anti-DNA antibody tests. Arthritis Rheum, v. 47, n. 5, p. 546-555, 2002. Anticorpo antiendomísio, detecção de IZABELA LUCCHESE GAVIOLI INDICAÇÕES ◗ Diagnóstico de doença celíaca (espru celíaco, enteropatia glúten-induzida, espru não tropical, esteatorreia idiopática, alergia à farinha). ◗ A doença celíaca representa, na atualidade, a doença intestinal mais comum em populações brancas e apresenta prevalência de 8-18% nos familiares dos pacientes. ◗ A pesquisa de anticorpos antiendomísio-EMA (descrito em 1983) constitui importante recurso não invasivo e sensível de triagem e diagnóstico. Outros autoanticorpos também encontrados na doença celíaca, e que podem contribuir para o raciocínio diagnóstico, são os anticorpos antitransglutaminase tecidual (anti-tTG), antigliadina (AGA) e antirreticulina (ARA). ◗ A triagem sorológica é recomendada para todos os familiares em primeiro grau de pacientes (podendo-se acrescentar a tipagem HLA). A prevalência da doença é de 21% entre irmãos e 14-17% em filhos de celíacos. A testagem de autoanticorpos mostrou 38% de positividade em mães de pacientes, 22-40% em pais, 16-24% em irmãos e 22% em filhos, com títulos 1:2,5 até 1:80, e predominância no sexo feminino. Soares_Parte01__001-043.indd 57 08/02/12 08:48 ANTICORPO ANTIENDOMÍSIO, DETECÇÃO DE MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro; não exige jejum nem preparo prévio. Metodologia ◗ Imunofluorescência indireta. ◗ Procedimento: o substrato utilizado são cortes do esôfago distal de macacos, ou cordão umbilical humano, ou jejuno e apêndice humanos, criopreparados. O material é fixado na lâmina com acetona gelada por 10 min e clorofórmio por 30 min à temperatura ambiente. A seguir, as lâminas são lavadas 3 vezes com infusão fosfatada alcalina tamponada (PBS-pH 7,2), 5 min em cada vez. O soro a ser testado é diluído a 1:2,5 ou 1:5 e aplicado às lâminas por 90 min. É acrescentado conjugado fluorescente FITC (isômero misto de isotiocianato de fluoresceína) 1:80, específico contra IgA humana, por 30 min. Nova lavagem com PBS e tampão alcalino de glicerina (pH 9,5) finalizam o processo. A leitura é realizada em microscópio de fluorescência, sendo positivas as amostras que caracterizam coloração típica no tecido de endomísio (substância intermiofibrilar) que contorna as fibras do músculo liso na parede dos vasos. ◗ O cordão umbilical humano é considerado um excelente substituto para o esôfago de macaco como substrato do teste, além de haver implicações éticas para a utilização desse substrato em protocolos de larga escala. A sensibilidade e especificidade dos testes é semelhante em ambos os substratos. INTERPRETAÇÃO 58 ◗ Os resultados são expressos como “reagente” ( 1:2,5) ou “não reagente”. ◗ O endomísio é uma bainha de fibrilas reticulares que circundam as fibras musculares. Os anticorpos antiendomísio e antirreticulina resultam de interações entre a gliadina e os componentes da matriz extracelular (p. ex., a enzima transglutaminase). Comportando-se como autoantígenos, proteínas do tecido conjuntivo iniciariam danos à mucosa. ◗ EMA e anti-tTG são considerados patognomônicos de doença celíaca, apresentam semelhante sensibilidade e especificidade e coincidem completamente, uma vez que o autoantígeno endomisial foi recentemente identificado como uma transglutaminase tecidual. ◗ Os anticorpos da classe IgA contra o endomísio têm sensibilidade 85-100% e especificidade 95-99% para o diagnóstico, desde que haja atrofia de vilos intestinais. Nessa circunstância, sua sensibilidade é comparável à do anticorpo antitransglutaminase. ◗ Há controvérsias sobre sua indicação para triagem de populações de risco; nas formas leves ou assintomáticas da doença, sua sensibilidade foi de 46%. Nesse caso, o anticorpo antitransglutaminase pode estar melhor indicado para o diagnóstico da doença. A concordância de resultados entre EMA e anti-tTG-IgA foi de 83 até 100% em alguns trabalhos; a especificidade dos testes é semelhante. Para triagem de populações, recomenda-se o uso de ambos, evitando falso-negativos para o diagnóstico, podendo-se aliar a tipagem HLA. Entretanto, os estudos comparativos entre os ensaios são escassos e, em geral, não esclarecem ao clínico qual seria o teste mais adequado. ◗ A concordância com o anticorpo antirreticulina foi de 60%. ◗ Embora o EMA-IgA seja amplamente utilizado, dificuldades técnicas no preparo do substrato, diferenças entre observadores na leitura e custo relativamente alto têm levado alguns laboratórios à preferência do uso do anti-tTG-IgA, por ELISA, para diagnóstico de doença celíaca. ◗ A testagem de IgG-EMA apresenta dificuldades técnicas, pois anticorpos secundários contra IgG humana frequentemente ligam-se às fibras do tecido conjuntivo de maneira não específica. A reação positiva é de fácil reconhecimento, enquanto até 50% das amostras negativas coram o endomísio quando se utiliza substrato de esôfago de macacos. Por esse motivo, poucos laboratórios oferecem a realização desse teste. LEMBRETES ◗ O critério definitivo para diagnóstico de doença celíaca é a resolução dos sintomas e o desaparecimento de autoanticorpos na vigência de dieta com restrição de glúten. Portanto, esses testes imunológicos não devem ser realizados para diagnóstico em pacientes que já estejam em dieta com restrição de glúten, pois podem resultar negativos. Aproximadamente 3 meses após o início de dieta livre de glúten, a EMA desaparece; reiniciando a ingesta de glúten, esse autoanticorpo reaparece mais rápido do que os anticorpos antigliadina ou antirreticulina. Com menos de 6 meses de uso de dieta contendo glúten, a positividade do teste foi de 83%; com mais de 6 meses, Soares_Parte01__001-043.indd 58 08/02/12 08:48 LEITURAS SUGERIDAS CATALDO, F. et al. IgG1 antiendomysium and IgG antitissue transglutaminase (anti-tTG) antibodies in coeliac patients with selective IgA deficiency. Gut, v. 47, n. 3, p. 366-369, 2000. EL ALAOUI, S.; GRESTI, C. Development of an immunocapture method for measuring IgA antibodies to tissue transglutaminase in the sera pacients with coeliac disease. Clin Exp Immunol, v. 144, n. 1, p. 101-109, 2006. KORPONAY-SZABÓ, I. R. et al. Elevation of IgG antibodies against tissue transglutaminase as a diagnstic tool for coeliac disease in selective IgA deficiency. Gut, v. 52, n. 11, p. 1567-1571, 2003. ANTICORPO ANTIESTREPTOLISINA O (ASLO), DETECÇÃO DE foi de 100%. Em 1-27 anos de seguimento de dieta livre de glúten, 100% dos testados foram negativos, e 100% dos que não aderiram à dieta foram positivos para EMA. ◗ Pacientes em terapia imunossupressora podem apresentar resultado falso-negativo. ◗ A sensibilidade de EMA é idade-dependente, e esse autoanticorpo só é detectado após os 2 anos de idade. Abaixo dessa idade, sugere-se que o anticorpo antigliadina IgA seja melhor marcador clínico. ◗ Na doença celíaca, 10-12% dos pacientes podem apresentar deficiência de IgA; nesse caso, deve-se testar IgG (particularmente o subtipo 1) para antiendomísio. Certificar-se também de que o paciente não esteja em dieta livre de glúten, pois a IgG também pode resultar negativa; os títulos variaram de 1:640 em dieta habitual até 1:10 em dieta livre de glúten. KOTZE, L. M. S. et al. Antiendomysium antibodies in Brazilian pacients with celiac disease and their first-degree relatives. Arq Gastroenterol, v. 38, n. 2, p. 94-103, 2001. KOTZE, L. M. S. et al. Comparação dos anticorpos anti reticulina e antiendomíseo classe IgA para diagnóstico e controle da dieta na doença celíaca. Arq Gastroenterol, v. 36, n. 4, p. 177-184, 1999. MARINÉ, M. et al. Impact of mass screening for gluten-sensitive enteropathy in working population. World J Gastroenterol, v. 15, n. 11, p. 1331-1338, 2009. VERBEKE, S. et al. Basement membrane and connective tissue proteins in intestinal mucosa of patients with coeliac disease. J Clin Pathol, v. 55, n. 6, p. 440-445, 2002. 59 Anticorpo antiestreptolisina O (ASLO), detecção de ALICE GALLO DE MORAES MICHELE PACHECO BANDEIRA TIAGO SANTINI MACHADO INDICAÇÕES ◗ Detecção de infecções causadas por estreptococos do grupo A (febre escarlatina, erisipela, faringite, tonsilite) e de suas complicações, como febre reumática e glomerulonefrite. ◗ Auxílio no diagnóstico diferencial de dores articulares entre febre reumática e artrite reumatoide (na qual os títulos de ASLO não estão elevados). ◗ Avaliação da atividade da doença de Behçet e suas manifestações clínicas. MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro, após jejum de 4-8 h Metodologia ◗ Nefelometria ◗ ELISA INTERPRETAÇÃO ◗ A elevação dos títulos de antiestreptolisina O indica infecção recente por estreptococos do grupo A (geralmente nos últimos 2 meses). Soares_Parte01__001-043.indd 59 08/02/12 08:48 ANTICORPO ANTIESTREPTOLISINA O (ASLO), DETECÇÃO DE ◗ Os títulos começam a aumentar a partir da primeira semana após uma infecção estreptocócica, atingindo o pico entre a 3a e a 6a semanas. Títulos elevados podem persistir por vários meses, mesmo após infecção não complicada. Em geral, o declínio ocorre nos próximos 4-6 meses, podendo levar até um ano para normalização. ◗ O exame pode ser repetido a cada 10-14 dias para confirmar a ascensão dos títulos. ◗ Quando o exame é repetido, um aumento de quatro vezes na titulação confirma a resposta imunológica a uma infecção estreptocócica, mesmo quando as culturas não são positivas. Valores normais ◗ 12-166 UI/mL (observar a idade do paciente e os valores de referência do laboratório). Em geral: − Até 200 Ul/mL em adultos − Até 150 Ul/mL em crianças ◗ Efeito prozone pode acontecer se valores 1.500 UI/mL. ◗ Valores 500 UI/mL são incomuns em indivíduos sadios. Os valores podem estar elevados em ◗ Endocardite estreptocócica aguda, glomerulonefrite pós-estreptocócica aguda, doenças neuropsiquiátricas associadas a infecção estreptocócica, artrite reativa, febre reumática, febre escarlatina, coreia de Sydenham, síndrome de Tourette. ◗ Resultados falso-positivos podem estar associados a hemólise e/ou contaminação bacteriana da amostra, hipercolesterolemia, tuberculose e doença hepática. Os valores podem estar diminuídos em ◗ Antibioticoterapia (penicilinas podem inibir elevação de títulos), deficiências imunológicas ou uso de corticoide. Valores esperados 60 ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ Febre reumática aguda: 500-5.000 UI Febre reumática inativa: 12-250 UI Artrite reumatoide: 12-250 UI Glomerulonefrite pós-estreptocócica: 500-5.000 UI Infecção estreptocócica de vias aéreas superiores: 100-333 UI Doenças do colágeno: 12-250 UI LEMBRETES ◗ Os títulos estão aumentados em cerca de 80% dos casos de febre reumática aguda (na faixa entre 500-5.000 UI). ◗ A magnitude do aumento dos títulos de ASLO, após faringite estreptocócica, está relacionada com a chance de desenvolvimento de febre reumática e sua posterior recorrência. ◗ Nos pacientes cuja manifestação de febre reumática seja unicamente coreia de Sydenham, os níveis de ASLO já podem ter retornado ao normal devido ao longo período de latência entre a infecção estreptocócica e a manifestação clínica da doença. ◗ Nos pacientes com hiperlipoproteinemia (hipercolesterolemia familiar), pode ocorrer quadro clínico de artrite sugestivo de febre reumática, com VSG elevado e ASLO falsamente elevado. ◗ Mais de 95% dos pacientes com glomerulonefrite pós-estreptocócica secundária à faringite e 80-85% dos pacientes com glomerulonefrite pós-infecção estreptocócica cutânea têm anticorpos positivos. ◗ ASLO deve ser usado apenas quando há evidência clínica para sugerir um diagnóstico em pacientes com sintomas articulares, pois apresenta baixo valor preditivo quando usado para rastreamento, especialmente quando a probabilidade pré-teste é baixa. LEITURAS SUGERIDAS FAUCI, A. S. et al. Harrison’s principles of internal medicine. 17th ed. New York: McGraw-Hill Medical, 2008. GERBER, M. A. et al. Prevention of rheumatic fever and diagnosis and treatment of acute streptococcal pharyngitis: a scientific statement from the American Heart Association Rheumatic Fever, Endocarditis, and Kawasaki Disease Committee of the Council on Cardiovascular Disease in the Young, the Interdisciplinary Council on Functional Genomics and Translational Biology, and the Interdisciplinary Council on Quality of Care and Soares_Parte01__001-043.indd 60 08/02/12 08:48 GOLDMAN, L.; AUSIELLO, D. (Ed.). Cecil medicine. 23rd ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2008. OH, S. H. et al. Clinical manifestations associated with high titer of anti-streptolysin O in Behcet’s disease. Clin Rheumatol, v. 27, n. 8, p. 999-1003, 2008. WALLACH, J. Interpretation of diagnostic tests. 8th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007. Anticorpo antifator intrínseco, detecção de RAFAELA KOMOROWSKI DAL MOLIN GUSTAVO FAULHABER ANTICORPO ANTIFATOR INTRÍNSECO, DETECÇÃO DE Outcomes Research: endorsed by the American Academy of Pediatrics. Circulation, v. 119, n. 11, p. 15411551, 2009. INDICAÇÃO ◗ Investigação diagnóstica de anemia perniciosa MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro; não é necessário jejum. A amostra é estável por 48 h, se refrigerada. Metodologia ◗ Radioimunoensaio − Obs.: nos 7 dias anteriores ao exame, não deve ter havido administração de vitamina B12 (cobalamina) intravenosa ou intramuscular, nem a realização de exames que utilizem radioisótopos. 61 INTERPRETAÇÃO Valores normais ◗ Soro não reagente (negativo) Os anticorpos também podem estar presentes em pequena porcentagem dos indivíduos com ◗ Doença de Graves ◗ Diabetes insulino-dependente LEMBRETES ◗ A anemia perniciosa (AP) é a causa mais comum de deficiência de vitamina B12 em adultos; seu curso clínico geralmente se caracteriza por início insidioso de sintomas neurológicos e/ou psiquiátricos e desenvolvimento de anemia megaloblástica. ◗ Existe associação da AP com outras doenças autoimunes: síndrome poliglandular autoimune, doença de Graves (30%), tireoidite de Hashimoto (11%), vitiligo (8%), doença de Addison, hipoparatireoidismo idiopático, insuficiência ovariana primária, miastenia grave, diabetes insulino-dependente e hipogamaglobulinemia. ◗ O fator intrínseco (FI) é uma glicoproteína de 50 quilodáltons secretada pelas células parietais e, em menor grau, pelas células principais gástricas e pelas células endócrinas; o FI liga-se à vitamina B12 (cobalamina), auxiliando-a em sua absorção no íleo. ◗ Os autoanticorpos contra as células parietais (anti-CP) podem ser encontrados em 90% dos adultos com AP e em mais de 60% dos indivíduos com gastrite atrófica; cerca de 60-75% dos pacientes com AP apresentam anticorpos antifator intrínseco (anti-FI). Os anticorpos anti-FI detêm maior especificidade para o diagnóstico de AP que os anticorpos anti-CP. A combinação dos dois testes pode aumentar significativamente o poder diagnóstico da AP, alcançando uma sensibilidade de até 73%, conforme alguns estudos. Soares_Parte01__001-043.indd 61 08/02/12 08:48 ANTICORPO ANTIFOSFOLIPÍDEO, DETECÇÃO DE ◗ Os anticorpos anti-FI podem ser utilizados na caracterização da anemia perniciosa. Há dois tipos de anticorpo anti-FI: a) tipo 1 (autoanticorpo bloqueador) – impede a ligação do FI à vitamina B12, sendo geralmente da subclasse IgG no soro e IgG ou IgA secretora nas secreções gástricas; b) tipo 2 (autoanticorpo ligante) – reage tanto com o FI livre quanto com o ligado à vitamina B12, impedindo a ligação aos receptores do complexo no íleo. ◗ O autoanticorpo anti-FI tipo 1 detém maior sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de AP. O anticorpo anti-FI tipo 2 geralmente não é visto na ausência dos anticorpos tipo 1, sendo encontrado em cerca de 35% dos pacientes com AP. LEITURAS SUGERIDAS DE PAZ, R.; HERNÁNDEZ-NAVARRO, F. Management, prevention and control of pernicious anemia. Nutr Hosp, v. 20, n. 6, p. 433-435, 2005. FELDMAN, M.; FRIEDMAN, L. S.; BRANDT, L. J. (Ed.). Sleisenger & Fordtran’s gastrointestinal and liver disease: pathophysiology, diagnosis, management. 8th ed. Philadelphia: Saunders, 2006. FLEURY: medicina e saúde. São Paulo: Fleury, c2011. Disponível em: http://www.fleury.com.br. Acesso em: 4 mar. 2011. HOFFMAN, R. et al. Hematology: basic principles and practice. 5th ed. Philadelphia: Churchill Livingstone/ Elsevier, 2009. MCPHERSON, R. A.; PINCUS, M. R. Henry’s clinical diagnosis and management by laboratory methods. 21st ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier, 2006. RUFENACHT, P.; MACH-PASCUAL, S.; ITEN, A. Vitamin B12 deficiency: a challenging diagnosis and treatment. Rev Med Suisse, v. 4, n. 175, p. 2212-2214, 2216-2217, 2008. 62 Anticorpo antifosfolipídeo, detecção de ALESSANDRA PAZ CRISTIANE SEGANFREDO WEBER INDICAÇÕES ◗ Diagnóstico da síndrome do anticorpo antifosfolipídeo (primária ou secundária) ◗ Avaliação de trombofilias, abortos de repetição, investigação de trombocitopenia, TTPa alargado e VDRL falso-positivo MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ ◗ ◗ ◗ Anticoagulante lúpico: plasma Anticorpos anticardiolipina: soro Anticorpos anti-2-glicoproteína I: soro Necessário jejum de 4 h Metodologia ◗ Anticoagulante lúpico: coagulométrico. Teste realizado em 2 etapas − Teste de triagem: dRVVT (teste fosfolipídeo dependente utilizando reagente com baixa concentração de fosfolipídeos) − Teste confirmatório: RVVT confirmatório (confirmação da presença do inibidor inespecífico – anticoagulante lúpico – utilizando reagente com alta concentração de fosfolipídeos). Também é realizado o teste da mistura para excluir deficiência de fatores da coagulação, o que prolongaria o tempo de coagulação dos testes de triagem e confirmatório ◗ Anticorpos anticardiolipina: ELISA − IgG, IgM e IgA ◗ Anticorpos anti-2-glicoproteína I: ELISA Soares_Parte01__001-043.indd 62 08/02/12 08:48 ANTICORPO ANTIFOSFOLIPÍDEO, DETECÇÃO DE INTERPRETAÇÃO ◗ Anticoagulante lúpico − Teste de triagem – dRVVT menor que 1,15: ausência de inibidor − Teste confirmatório – RVVT confirmatório menor que 1,21: ausência de inibidor inespecífico (anticoagulante lúpico) ◗ Anticorpos anticardiolipina IgG − Até 10 unidades GPL: não reagente ◗ Anticorpos anticardiolipina IgM − Até 10 unidades MPL: não reagente ◗ Critérios laboratoriais para diagnóstico da síndrome do anticorpo antifosfolipídeo (SAAF): presença de anticorpos antifosfolipídeo em duas ou mais ocasiões, com pelo menos 12 semanas de diferença e não mais do que 5 anos depois das manifestações clínicas, como demonstrado por uma das alterações a seguir − Anticoagulante lúpico detectado de acordo com a recomendação dos guidelines da Sociedade Internacional de Hemostasia e Trombose. − Anticorpos anticardiolipina IgG ou IgM em títulos moderados ou altos ( 40 unidades GPL ou MPL ou acima do percentil 99 para os valores de referência do laboratório). − Anticorpos anti-2-glicoproteína I IgG ou IgM em títulos acima do percentil 99 para os valores de referência do laboratório quando testados de acordo com o recomendado. LEMBRETES ◗ Anticorpos antifosfolipídeos são anticorpos adquiridos contra os complexos fosfolipídeo-proteína. A presença desses anticorpos está associada a um aumento no risco de trombose venosa e arterial, trombocitopenia e aborto. ◗ Os principais tipos de anticorpos antifosfolipídeos são o anticoagulante lúpico (AL), os anticorpos anticardiolipina (ACA) e os anticorpos anti-2-glicoproteína I. ◗ A presença de inibidores do fator VIII pode levar a um resultado falso-positivo do teste de AL. ◗ O uso de anticoagulantes, principalmente heparina, pode alterar o resultado da pesquisa para AL. ◗ A presença de infecções (virais, bacterianas ou parasitárias) ou o uso de medicamentos (p. ex., hidralazina, clorpromazina, fenitoína) pode levar a um resultado falso-positivo do teste de anticorpos antifosfolipídeos. ◗ Na SAAF, ocorre positividade do teste de anticorpos anticardiolipina em 80% dos pacientes, do AL em 20% e de ambos os testes em 60% dos casos. ◗ A validade da dosagem de anticorpos anticardiolipina IgA para o diagnóstico de SAAF ainda não está bem estabelecida. ◗ Os anticorpos são 5 vezes mais frequentes que os AL. ◗ Os anticorpos antifosfolipídeos podem ser secundários ao lúpus, geralmente associados à síndrome clínica. 63 LEITURAS SUGERIDAS BERTOLACCINI, M. L.; KHAMASHTA, M. A. Laboratory diagnosis and management challenges in the antiphospholipid syndrome. Lupus, v.15, n.3, p.172-178, 2006. BRANDT, J. T.; BARNA, L. K.; TRIPLETT, D. A. Laboratory identification of lupus anticoagulants: results of the Second International Workshop for Identification of Lupus Anticoagulants. On behalf of the Subcommittee on Lupus Anticoagulants/ Antiphospholipid Antibodies of the ISTH. Thromb Haemost, v. 74, n. 6, p. 15971603, 1995. JACOBS, D. S.; OXLEY, D. K.; DEMOTT, W. R. Jacobs & DeMott laboratory test handbook. 5th ed. Hudson: Lexi-Comp., 2001. LIM, W. Antiphospholipid antibody syndrome. Hematology Am Soc Hematol Educ Program, p. 233-239, 2009. PIERANGELI, S. S.; HARRIS, E. N. Clinical laboratory testing for the antiphospholipid syndrome. Clin Chim Acta, v. 357, n. 1, p. 17-33, 2005. Soares_Parte01__001-043.indd 63 08/02/12 08:48 ANTICORPO ANTIGANGLIOSÍDEO (ANTI-GM1), DETECÇÃO DE Anticorpo antigangliosídeo (anti-GM1), detecção de FERNANDO KOWACS ALAN CHRISTMANN FRÖHLICH INDICAÇÕES ◗ A titulação seriada do anticorpo anti-GM1 pode auxiliar na adequação da imunossupressão no tratamento das polineuropatias autoimunes, podendo ser observada uma redução de até 60% durante o tratamento com ciclofosfamida ◗ Outras situações descritas como associadas aos anticorpos antigangliosídeos (o anticorpo associado está entre parênteses) − Mielite transversa pós-infecção por Campylobacter jejuni (anti-GM1) − Neuropatias paraproteinêmicas (anti-GM1) − Síndrome de Guillain-Barré com reflexos tendinosos profundos preservados e testagem negativa para anti-GM1 (anti-GM1b) MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro (1 mL) Metodologia ◗ Enzimaimunoensaio INTERPRETAÇÃO 64 ◗ Valores de referência: a listagem dos valores de referência de cada laboratório deve ser consultada ◗ Polineuropatias imunomediadas agudas incluem: − polirradiculoneuropatia inflamatória desmielinizante aguda (AIDP), síndrome de Guillain-Barré (SGB), síndrome de Miller-Fisher (variante da SGB que cursa com ataxia, oftalmoparesia e arreflexia) e neuropatia axonal motora aguda (AMAN, síndrome paralítica chinesa) − títulos aumentados de anticorpos antigangliosídeos IgG e IgM anti-GM1 ou anti-GD1a têm sido associados à SGB e à AMAN; elevação do anti-GQ1b IgG é associado de forma estrita com a síndrome de Miller-Fisher, com alta especificidade e sensibilidade de 80%; encefalite de Bickerstaff (distúrbio da consciência, hiper-reflexia, ataxia e oftalmoplegia) − o anticorpo anti-GQ1b também pode estar presente ◗ Polineuropatias imunomediadas crônicas: anticorpos antigangliosídeos anti-GM1 (apenas IgM) estão associados à neuropatia motora multifocal (NMM), com baixa especificidade mas com sensibilidade de até 80%; além disso, a NMM também pode estar associada eventualmente a anticorpos anti-GM2 ou anti-GD1a; os anticorpos anti-GD1b e anti-GM2 associam-se a polineuropatias sensitivas imunomediadas ◗ Títulos muito elevados – 1:2.000 – parecem ocorrer exclusivamente na vigência de NMM LEMBRETES ◗ Os gangliosídeos são esfingolipídeos e estão presentes tanto no axônio como na mielina dos nervos periféricos. Anticorpos antigangliosídeos foram demonstrados no soro de pacientes acometidos por algumas polineuropatias imunomediadas agudas e crônicas. ◗ A probabilidade de um teste positivo está aumentada quando existe perda de força assimétrica, bloqueio da condução motora à testagem neurofisiológica ou ausência de sinais de comprometimento sensitivo ou de neurônio motor superior. ◗ Resultados positivos para anti-GM1 ou anti-GD1a afastam o diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica. Soares_Parte01__001-043.indd 64 08/02/12 08:48 DITRAPANI-STEPHENSON, T. Acute motor axonal neuropathy. San Diego: MedLink Corporation, c2010-2011. Disponível em: http://www.medlink.com. Acesso em: 28 fev. 2010. ZIVKOVIĆ, S. A.; LACOMIS, D.; LENTZSCH, S. Paraproteinemic neuropathy. Leuk Lymphoma, v. 50, n. 9, p. 1422-1433, 2009. Anticorpo antigliadina (AAG), detecção de MARCIANE ROVER ANTICORPO ANTIGLIADINA (AAG), DETECÇÃO DE LEITURAS SUGERIDAS INDICAÇÃO ◗ No diagnóstico de doença celíaca MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro Metodologia ◗ Métodos para a detecção de anticorpos, como a imunofluorescência, o radioimunoensaio e os ensaios imunoenzimáticos ◗ O método ELISA é amplamente utilizado na prática, mas há falta de padronização entre os laboratórios 65 INTERPRETAÇÃO ◗ O resultado é determinado como positivo para qualquer título – sem ponto de corte estabelecido, porém níveis mais elevados têm demonstrado maior especificidade no diagnóstico de doença celíaca. Os valores podem estar elevados em ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ Enteropatias não celíacas, como alergia à proteína do leite de vaca Síndrome pós-enterite Doença de Crohn Síndrome de Sjögren Artrite reumatoide Fibrose cística Valores falso-negativos ◗ Deficiência de IgA (AAG-IgA) ◗ Pacientes em uso de imunosupressores LEMBRETES ◗ Os AAG são predominantemente das classes IgA e IgG e detectados no soro da maioria dos celíacos não tratados e também naqueles assintomáticos. Após a introdução da dieta isenta de glúten, observa-se declínio gradual de seus níveis séricos. ◗ Estudos mostram queda dos títulos dos anticorpos IgA após 3 meses de restrição de glúten, queda que se mantém até que, com um ano de adesão ao tratamento, praticamente todos os títulos estejam negativos, isto é, dentro dos parâmetros dos indivíduos normais. Os anticorpos IgG podem persistir elevados por período mais longo. ◗ De modo geral, há consenso entre os autores que o AAG-IgA é mais específico para a doença celíaca, e o da classe IgG mostra maior sensibilidade. Soares_Parte01__001-043.indd 65 08/02/12 08:48 ANTICORPO ANTI-HISTONA, DETECÇÃO DE ◗ Constitui-se em um exame importante para o rastreamento da doença celíaca, principalmente quando utilizado em conjunto com o anticorpo antiendomísio e o antitransglutaminase. Os de maior sensibilidade e especificidade são os IgAs antiendomísio e antitranglutaminase. ◗ Vários estudos mostram que a sensibilidade do ELISA na determinação do AAG-IgA varia de 42-100%, e a especificidade, de 65-100%. ◗ Em relação ao AAG-IgG, a sensibilidade varia de 88-100%, e a especificidade, de 52-95%. LEITURAS SUGERIDAS NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH. U.S. Department of Health and Human Services. NIH Consensus Development Conference on Celiac Disease. Kensington: NIH, 2004. Disponível em: http://consensus.nih.gov/200 4/2004celiacdisease118html. htm. Acesso em: 20 abr. 2011. REEVES, G. E. et al. Diagnostic accuracy of coeliac serological tests: a prospective study. Eur J Gastroenterol Hepatol, v. 18, n. 5, p. 493-501, 2006. ROMALDINI, C. C.; BARBIERI, D. Anticorpos séricos na doença celíaca. Arq Gastroenterol, v. 36, n. 4, p. 258264, 1999. Anticorpo anti-histona, detecção de GABRIEL SCALCO INDICAÇÃO ◗ Investigação de lúpus induzido por medicamentos 66 MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro Metodologia ◗ Imunofluorescência indireta ◗ Enzimaimunoensaio (ELISA) INTERPRETAÇÃO Valores normais ◗ Ausência de anticorpos Os anticorpos podem estar presentes em ◗ Lúpus induzido por medicamentos ( 95%) ◗ Associação definitiva − Antagonistas do fator de necrose tumoral (anti-TNF): etanercepte, infliximabe e adalimumabe − Clorpromazina − Diltiazem − Hidralazina (24-50%) − Interferon-alfa − Isoniazida (15%) − Metildopa − Minociclina − Penicilamina − Procainamida (15-100%) ◗ Associação provável − Amiodarona − Betabloqueadores Soares_Parte01__001-043.indd 66 08/02/12 08:48 ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ ANTICORPO ANTI-HU, DETECÇÃO DE − Captopril − Carbamazepina − Docetaxel − Fenitoína − Glibenclamida − Hidroclorotiazida − Interferon-gama − Lítio − Nitrofurantoína − Propiltiouracil − Quinidina − Rifampicina − Sulfassalazina − Terbinafina − Ticlopidina Lúpus eritematoso sistêmico (80%) Esclerose localizada (42%) Síndrome de Felty (65-83%) Esclerose sistêmica Artrite reumatoide Artrite reumatoide juvenil LEMBRETES ◗ Hemólise e lipemia excessiva podem interferir nos resultados. ◗ Após dois anos de uso, praticamente todos os usuários de procainamida terão anticorpos anti-histona no soro, embora apenas um terço desenvolva sintomas após um ano de uso. ◗ Em pacientes com esclerose localizada, a presença de anticorpos anti-histona se correlaciona com manifestações cutâneas mais extensas, principalmente morfeia generalizada. ◗ Em pacientes com esclerose sistêmica, a presença de anticorpos anti-histona identifica aqueles com alto risco para desenvolver doença pulmonar intersticial. ◗ A presença de anticorpos anti-histona em pacientes com artrite reumatoide juvenil está associada positivamente à ocorrência de uveíte. 67 LEITURAS SUGERIDAS VON MÜHLEN, C. A.; TAN, E. Autoantibodies in the diagnosis of systemic rheumatic diseases. Seminars in Arthritis and Rheumatism, v. 24, p. 323-358, 1995. WALLACH, J. Interpretation of diagnostic tests. 8th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2007. Anticorpo anti-HU, detecção de ALAN CHRISTMANN FRÖHLICH FERNANDO KOWACS INDICAÇÕES ◗ ◗ ◗ ◗ ◗ Encefalomielites paraneoplásicas (incluindo a encefalite límbica e a encefalite bulbar) Degeneração cerebelar paraneoplásica Neuronopatia sensitiva Pseudo-obstrução gastrintestinal crônica Polineuropatia periférica (PNP) sensitivo-motora e/ou autonômica (a PNP está presente em 7080% dos pacientes anti-Hu-positivo) ◗ A encefalite límbica paraneoplásica pode manifestar-se inicialmente como epilepsia partialis continua, estado parcial complexo refratário ou epilepsia orgástica Soares_Parte01__001-043.indd 67 08/02/12 08:48 ANTICORPO ANTI-HU, DETECÇÃO DE MÉTODO DO EXAME Material biológico ◗ Soro: amostra refrigerada, mínimo 200 L ◗ Líquido cerebrospinal: amostra refrigerada, mínimo 1,5 mL Metodologia ◗ Imunoblot e imunocitoquímica INTERPRETAÇÃO Valores normais ◗ Soro: negativo ◗ Líquido cerebrospinal: negativo LEMBRETES 68 ◗ Dentre os anticorpos associados às síndromes neurológicas paraneoplásicas (SNPN), o anticorpo anti-Hu é o mais frequentemente detectado, estando presente em 58% dos pacientes (91% no caso específico das encefalomielites paraneoplásicas). ◗ O anticorpo anti-Hu liga-se a uma família de proteínas nucleares neuronais de 35-40 kDa, que também estão presentes em alguns tipos de tumores, principalmente no carcinoma pulmonar de pequenas células (CPPC). É encontrado no soro e no líquido cerebrospinal de 5-10% dos pacientes com CPPC e de alguns raros pacientes com câncer de mama, próstata ou outros. Considerado um dos anticorpos onconeurais bem caracterizados, junto com os anticorpos anti-Yo, anti-CV2, anti-Ri, anti-Ma2 e antianfifisina, sua presença torna possível o diagnóstico de síndrome paraneoplásica definida, mesmo na ausência de síndrome neurológica clássica e/ou tumor diagnosticado. ◗ A dosagem do anticorpo anti-Hu não é recomendada como teste de rastreamento para câncer de pulmão; além disso, a sua ausência não exclui o diagnóstico de síndrome neurológica paraneoplásica ou câncer. ◗ Muitos pacientes com CPPC apresentam anticorpos anti-Hu sem que exista SNPN concomitante. Portanto, outras possíveis causas de comprometimento neurológico (p.ex., efeitos adversos de quimioterápicos) devem ser afastadas, mesmo que esse anticorpo seja detectado em um paciente sintomático. ◗ Apesar de sua presença sinalizar um pior prognóstico para os pacientes com encefalite límbica associada a carcinoma pulmonar de pequenas células, determinações seriadas do anticorpo anti-Hu não são úteis para monitorar o desfecho clínico de pacientes com síndromes neurológicas paraneoplásicas. ◗ Em um período de seguimento de três anos, apenas 2% dos pacientes anti-Hu-positivos não recebem o diagnóstico de câncer. Logo, a pesquisa de neoplasia oculta, nesses casos, deve ser exaustiva. LEITURAS SUGERIDAS DALMAU, J.; ROSENFELD, M. R. Paraneoplastic syndromes of the CNS. Lancet Neurol, v. 7, n. 4, p. 327-340, 2008. GRAUS, F.; SAIZ, A.; DALMAU, J. Antibodies and neuronal autoimmune disorders of the CNS. J Neurol, v. 257, n. 4, p. 509-517, 2010. LLADÓ, A. et al. Value of Hu antibody determinations in the follow-up of paraneoplastic neurologic syndromes. Neurology, v. 63, n. 10, p. 1947-1949, 2004. PSIMARAS, D.; CARPENTIER, A. F.; ROSSI, C. Cerebrospinal fluid study in paraneoplastic syndromes. J Neurol Neurosurg Psychiatry, v. 81, n. 1, p. 42-45, 2010. SAIZ, A. et al. Anti-Hu-associated brainstem encephalitis. J Neurol Neurosurg Psychiatry, v. 80, n. 4, p. 404407, 2009. VERNINO, S. Antibody testing as a diagnostic tool in autonomic disorders. Clin Auton Res, v. 19, n. 1, p. 1319, 2009. Soares_Parte01__001-043.indd 68 17/02/12 17:54