CAPITALISMO, HEGEMONIA FINANCEIRA E A DIMENSÃO TÉCNICA SOBRE AS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Bruno Bonsanto Dias1 Sandra Lúcia Videira2 Introdução Propomos neste estudo trazer algumas considerações a respeito do sistema financeiro e sua importância para o funcionamento da economia capitalista. O que será apresentado neste ensaio, é um recorte temático de uma pesquisa mais ampla, na qual temos uma instituição bancária como objeto de estudo. Realizamos uma breve exposição sobre o surgimento do sistema financeiro e seus reflexos para o dinamismo da economia capitalista, tentando verificar quais foram as condições que permitiram a este sistema se tornar hegemônico perante outros sistemas técnicos e institucionais. Por fim, faremos uma correlação do sistema financeiro com o modo de funcionamento das instituições bancárias, apresentando circunstâncias que permitem esclarecer como estas instituições, foram fortemente beneficiadas por um suporte técnico criado por este sistema. Objetivos Os bancos são fundamentalmente grandes agentes organizadores e reprodutores do espaço global contemporâneo, neste sentido, temos o objetivo de trazer uma contextualização do sistema técnico que os torna tão relevantes para o mundo capitalista. Portanto, daremos enfoque à importância atribuída ao sistema financeiro, sistema esse que cria as condições, a estrutura e dá a forma para um cenário altamente favorável e que vai ao encontro com os princípios de funcionamento das instituições bancárias. Metodologia 1 Acadêmico do 4º ano de Geografia Licenciatura UNICENTRO – PR Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET Geografia [email protected] Professora do Dpto. de Geografia da UNICENTRO – PR Coordenadora do GEDE (Grupo de Estudos de Dinâmica Econômica) [email protected] 2 Na tentativa de apresentar um embasamento teórico compatível com os objetivos deste trabalho, recorremos a algumas fontes bibliográficas que nos deram o alicerce para discutir o tema. Autores como Dias (2005), Santos (1999), Corrêa (1993), Videira (2006), entre outros, nos trazem um referencial bastante rico para este estudo. Resultados e discussão Ao longo da história de nossa sociedade as relações de soberania e poder sempre estiveram entrelaçadas e relacionadas a posse de bens, sejam eles morais, materiais ou imateriais. Aqueles que detêm bens, exercem fundamentalmente poder coercitivo sobre aqueles que não os detêm. Os modelos imperialistas anteriores, possuíram como pano de fundo a apropriação de determinado bem; sendo assim, hoje, podemos afirmar que vivemos num certo imperialismo financeiro, onde se sobressaem as grandes corporações financeiras, mascaradas pelas grandes empresas e instituições transnacionais. Elas tornam-se hegemônicas perante a economia mundial por dominarem as iniciativas voltadas ao universo das aplicações financeiras. São essas instituições que “ditam as regras” para o atual mecanismo de relações políticas e econômicas entre os países. Neste sentido, vamos tentar compreender quais seriam as condições que permitem à essas instituições obterem uma posição privilegiada dentro da economia capitalista. Como nos fala Singer (2000), o papel das finanças na economia capitalista é o de antecipar as transações para ganhar tempo, ou seja, para minimizar o tempo de imobilização estéril de valores. As finanças envolvem perspectivas, projetos e negócios que podem vir a dar certo e, que para isso, precisam de um estímulo monetário numa determinada escala de tempo. Temos que considerar nessa concepção de finança, a presença da incerteza, dos riscos e, por outro lado, da compensação, dos retornos esperados. Desta forma podemos compreender o expressivo dinamismo que possui o funcionamento do sistema financeiro. Camargo (2009, p.11) relata sobre o surgimento do sistema financeiro, quando diz que: Esse sistema de regulação e supervisão, implantado nos anos 1930, após, portanto, vários dos efeitos da crise de 1929, visava prevenir a ocorrência de crises sistêmicas, diminuindo, assim, o risco de colapso dos sistemas de pagamentos baseados no uso de depósitos à vista. Ou seja, a partir da constituição do sistema financeiro, tornou-se possível uma intensa integração econômica mundial, a qual deu as bases para que emergisse uma gama de processos econômicos vinculados ao dinheiro e ao crédito. Junta-se a este fato, as inúmeras alternativas de uso do dinheiro que permitem intensa flexibilidade ao sistema financeiro. Quando o dinheiro aparece na história da sociedade, ele surge em decorrência de uma vida econômica tornada complexa. Sua complexificação é fruto das novas possibilidades destinadas ao seu uso e sua eficácia (SANTOS, 1999). Outra característica muito evidente do sistema financeiro está baseada na desregulamentação do Estado Nação, tirando deste, a autonomia de regulação interna. Santos (1999, p.06) afirma que “antes o território continha o dinheiro, regulado pelo território usado, enquanto hoje o conteúdo do território escapa a toda regulação interna.” O mundo, nos séculos XX e XXI, nos tem mostrado uma concepção diferente em relação aos séculos passados quando pensamos na soberania de um Estado Nação. O Estado Nação nasce dentro de um contexto histórico onde se tornava necessário o controle e o regimento de todas as manifestações econômicas e sociais existentes dentro de um território. Dava-se então a ele, a função de regular e dar estabilidade às trocas materiais e imaterias entre os países. Com o processo de internacionalização dos serviços financeiros e de desregulamentação constante dos mercados, o Estado atua hoje mais como uma válvula de regulação que, ora permite, ora bloqueia a entrada de investimentos financeiros. De certa forma, o que oportunizou ao sistema financeiro tornar-se tão integrado e altamente determinante para a economia mundial foi sem dúvidas o suporte técnico que esteve por trás de suas ações. O desenvolvimento da indústria tecnológica trouxe inovações tão eficientes nas técnicas de processamento de informação e comunicação que, possibilitaram ao mundo dos negócios, um novo patamar de percepção da relação espaço/tempo3 e que foi altamente favorável ao setor financeiro. Foi este paradigma tecnológico, como nos fala Videira (2006) o aparato fundamental que caracterizou fortemente o chamado processo de globalização e do qual o sistema financeiro pôde se beneficiar. Por meio dessas condições o sistema financeiro rapidamente se integra em escala mundial, sendo comandado por instituições supranacionais que passam a ser determinantes para a formação socioeconômica de muitas sociedades do mundo, pois: a finança tornada internacional como norma, contraria as estruturas vigentes e impõe outras. E quando tem uma existência autônoma, isto é, não necessita consultar ninguém para se instalar (...) (SANTOS, 1999, p.07) 3 Harvey (2008, p.189) entende a percepção das dimensões de espaço e tempo sob uma perspectiva materialista, afirmando que “as concepções de tempo e espaço são criadas necessariamente através de práticas e processos materiais que servem à reprodução da vida social”. Tomando as contribuições de Santos e Silveira (2001, p.185), citamos dois importantes processos originados dentro do sistema financeiro e que são responsáveis para mantê-lo numa condição hegemônica perante outros sistemas: o processo de interligação das bolsas, dos bancos e das praças financeiras, possibilitou uma circulação verdadeiramente frenética de diferentes tipos de dinheiro. E o processo de desregulação, que está baseado em uma condição política, facilitou os fluxos de dinheiro além das fronteiras nacionais e com eles, impôs normas mundiais aos territórios nacionais. Fazendo uma junção desses fatos citados, que são, uma característica técnica (representada pelo processo de interligação financeira) e, uma característica política (representada pela desregulação da ação do Estado), temos a resposta para o porquê do sistema financeiro consolidar-se como hegemônico, formando a partir disso redes de integração financeira e possibilitando, o que afirmamos anteriormente, um processo de imperialismo financeiro. Tornando-se hegemônico, Dias (2005, p.29) considera que: a organização de redes financeiras constituem hoje fonte de poder e controle para instituições bancárias porque representa o domínio do espaço por meio de articulações entre as escalas geográficas. Portanto, “o sistema financeiro faz com que seus subsistemas, o geográfico e o econômico, se reorganizem” (DIAS, 2005) e, a partir de determinantes internos de cada país, a finança internacionalizada exige que se organizem sistemas financeiros dentro de cada nação. Conclusões Verificamos que neste contexto de mundo financeiro, os bancos são instituições altamente favorecidas por este sistema. Atualmente, a retração da relação espaço/tempo e a ampliação das transações financeiras, as quais são intermediadas pelos bancos, serviram como grande alavanca para o crescimento em escala mundial da atuação dessas instituições do sistema financeiro. Desta forma, tem-se um cenário propício para o surgimento do chamado mercado financeiro: os mercados financeiros tornam-se oligopólicos, dominados por grandes bancos varejistas, com milhares de agências e milhões de depositantes. A alta finança, formada por enormes bancos atacadistas, passa a financiar também a grande indústria (SINGER, 2000, p.75). O mercado financeiro, comandado principalmente pelos bancos varejistas e atacadistas, oferece diversos serviços financeiros e consolida-se pelo território, atingindo grandes parcelas da população e diferentes níveis sociais. Disseminam-se também os chamados espaços financeiros, que segundo Corrêa (1993, p.163), são caracterizados como: o conjunto de lugares no qual se verifica o processo de circulação de capital relativo aos depósitos, empréstimos, descontos, cobranças, juros, lucros e rendas, assim como salários, investimentos e serviços, que envolvem pelo menos uma unidade do setor financeiro, até mesmo uma única agência bancária. Enfim, são sob essas condições apresentadas acima, referentes à importância do sistema financeiro para a economia capitalista que tentamos esclarecer como os bancos tornaram-se hoje fundamentais dentro da dinâmica capitalista. E com um sistema financeiro consolidado e mundialmente integrado, surgem em diversos países, sistemas bancários e instituições bancárias. Através do desenvolvimento de tecnologias de comunicação e informação cada vez mais sofisticadas, criam-se as condições as quais estabelecem um suporte técnico que integra o sistema financeiro e bancário, em complexas redes de funcionamento de alcance global. Referências CAMARGO, Patrícia. O. A evolução recente do setor bancário no Brasil. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. CORRÊA, Roberto. L. C. Dinâmica do espaço financeiro brasileiro 1961-1985. In: SCARLATO, Francisco C. et al (org) Globalização e espaço latino-americano. São Paulo: Hucitec/Anpur, 1993. DIAS, Leila C. D. Por que os bancos são o melhor negócio no país? Hegemonia financeira e geografia das redes bancárias. In: ALBUQUERQUE, Edu S. de (Org). Que país é esse? Pensando o Brasil contemporâneo. São Paulo: Globo, 2006. HARVEY, D. Condição pós-moderna São Paulo: Edições Loyola, 2008. SANTOS, Milton. O dinheiro e o território. IN: SANTOS, Milton (et al.) Território, Territórios – ensaios sobre o ordenamento territorial. 2.ed.Rio de Janeiro: DP&A, 2006 SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria L. Brasil: território e sociedade no início do século XXI. São Paulo: Hucitec, 2001. SINGER, Paul. Para entender o mundo financeiro. São Paulo: Contexto, 2000. VIDEIRA, Sandra L. A territorialização dos bancos estrangeiros no Brasil: o caso da rede do Santander. UNESP: Tese de Doutorado em Geografia. Presidente Prudente, 2006.